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Título original: SPANISH MAGNATE, RED-HOT REVENGE 5 страница



Estava com a boca seca. Recorreu a um gole de vinho. Mas tudo que conseguiu foi engasgar e teve que ficar ali de pé, sem parar de tossir, enquanto Alexandre veio tirar a taça de sua mão trêmula.

—Acho que nossa convidada está muito cansada para responder a suas perguntas essa noite, Alex. — Anita veio em seu socorro e Isabel estava grata por isso, embora tenha sido impossível deixar de pensar que talvez só tivesse ressentido que Alexandre desse atenção a outra pessoa, não a ela. Ela virou-se, estalou os dedos para o garçom, deu algumas instruções com clareza e autoridade, e ele saiu depressa da sala. Então, com um sorriso seco, disse para Isabel:

— Eu disse a Rui para providenciar com Aparecida que seu jantar seja servido em seu quarto, senhora. Tenho certeza de que prefere assim essa noite, não?

O suspiro de alívio de Isabel foi sincero.

— Oh, sim. Obrigada, senhora — respondeu. Evitou cruzar os olhos com os de Alexandre. — Estou bastante cansada. Foi uma longa viagem. Se me derem licença, vou dormir cedo.

— Vou acompanhar a sra. Jameson até sua suíte — Alexandre disse de imediato. Mas para o alívio de Isabel, Anita se opôs.

— Acho que a sra. Jameson preferiria que um dos empregados a auxiliasse — disse de modo reprovador. — Ela mal te conhece, querido. — Deu um sorriso familiar para ele. — Você pode ser um pouco intimidador algumas vezes.

Alexandre contraiu os lábios e disse algo a Anita em sua própria língua que apagou o sorriso do rosto dela. Ele virou-se para Isabel e disse de modo frio:

— Desculpe se a intimidei, senhora. Não era minha intenção. Continuamos nossa conversa depois, não?

Isabel quis dizer que não tinha nada para conversar com ele, mas não era o momento de começar uma discussão, e deu um sorriso polido.

— Vou esperar por isso, senhor. — respondeu sem permitir que ele percebesse que a desconcertara. Ficou muitíssimo aliviada quando a empregada que a acompanhara até seu quarto apareceu para levá-la de volta.

Quando a comida chegou não despertou seu interesse. Isabel se sentia indisposta, desorientada e confusa quanto a por que estava ali.

Queriam mesmo que escrevesse um artigo sobre Anita? Ou aquilo era só um ardil para levá-la até ali? Mas, se fosse assim, o que Alexandre esperava conseguir com isso? Tudo levava até Emma, e ela sentia medo.

Ainda estava escuro quando Alexandre estacionou seu SUV atrás da vila de Anita. Ele voltara para casa após o tenso jantar com sua sogra. Recusara sua oferta de passar a noite lá. Mas também não foi para a cama. Não conseguia dormir bem nos últimos dias, de qualquer modo, e após o fiasco da noite anterior nem tentou trocar de roupa. Estava determinado a ver Isabel, a falar com ela. Mesmo que para isso tivesse que passar por cima da vontade de Anita. Passou a mão sobre a barba por fazer, empurrou a porta e desceu do carro. Apesar da hora, ainda estava quente, embora houvesse uma brisa fresca que vinha do mar. O cheiro da maresia era estimulante e ele pensou que, em outras circunstâncias, talvez saísse para velejar.

A villa parecia estar às escuras. Anita ainda devia estar dormindo, era raro que levantasse antes das 1 h. Algumas vezes já era meio-dia quando ela chamava Aparecida para servir o forte café preto que bebia em excesso. Seu café da manhã se resumia a isso e a um charuto.

Por isso Alexandre algumas vezes escolhia esse horário para caminhar na praia. Sua propriedade ficava a uns 20 km dali, em uma estrada sinuosa nas montanhas acima da villa. Ele nunca visitava a villa todas as vezes em que descia até ali, mas assim que soube que Isabel viria, começou a frequentar o lugar.

Era difícil, incrivelmente difícil, manter a calma quando tudo o que queria era gritar sua indignação contra a injustiça do destino. Nunca pensou que seria tão difícil ver Isabel de novo. E enquanto a vida dele mudara de modo tão dramático, era irritante ver como ela parecia a mesma de sempre.

Exceto por ter tido uma filha...

As sombras ficaram mais claras e pôde ver um pedaço de madeira em seu caminho. Chutou-o para o lado, feliz por evitá-lo. Teria sido fácil confundi-lo com um punhado de algas trazido pela maré.

Então ele a viu. A luz ainda era pouca, mas não havia dúvida que a figura delgada que o sol delineava contra um limoeiro era ela. Cerrou os dentes e por um instante se perguntou se era só um produto de sua imaginação. Mas não, ela estava lá, com a água do mar pelos joelhos.

Ela não viu que não estava mais sozinha. Ele deixou que o SUV deslizasse alguns metros desde onde estacionara, e as dunas abafaram tudo, exceto o barulho do mar. De short e camiseta, via-se que ela não esperava encontrar alguém. Perfeito, pensou, queria pegá-la de surpresa.

— Oi — ele disse quando já estava perto o suficiente para falar sem ter que levantar a voz. Mas ela se assustou mesmo assim. — Pensando em ir nadar?

Isabel colocou as mãos na cintura.

— Não — respondeu de imediato e olhou em direção à vila. Então, como se o pensamento tivesse acabado de lhe ocorrer, perguntou: — Você mora aqui?

— Não.

— Então passou a noite?

— Oh, por favor. — Ele passou a mão pelo cabelo enquanto a olhava com incredulidade. —Anita é minha sogra, não minha amante.

— Tem certeza que ela acha o mesmo? — Isabel não conseguiu evitar que as palavras saíssem de sua boca, e sentiu um pânico momentâneo quando ele cerrou os punhos e os colocou na cintura. O que sabia na realidade sobre esse homem? Apesar do que viveram, ele era tão desconhecido para ela quanto Anita.

E ainda assim...

— Isso importa? — ele interrompeu seus pensamentos. Os olhos cor de âmbar ficaram escuros. — Está com ciúme? — Sua boca fez uma curva sensual. — Tenho que admitir que não tinha considerado essa possibilidade.

— Nem sonhando! — O rosto de Isabel ficou vermelho e seus olhos faiscavam de indignação. E Alexandre sentiu uma pontada de remorso por brincar com ela daquele jeito.

0 sol despontava no horizonte e ele pensou o quanto ela parecia inocente com o rosto sem maquiagem, trêmula e com os lábios entreabertos. Estava vestida de rosa e a camiseta colada realçava seus mamilos. Ele duvidou que ela estivesse de sutiã. Na verdade, tinha certeza de que não estava. E contra sua vontade, muito contra sua vontade, pensou consigo mesmo, sentiu algo ficar volumoso entre suas pernas.

Ela virou-se, numa tentativa evidente de se afastar dele. Mas ele não a deixaria sair assim.

— Espere — pediu e segurou-a pelo braço para que não fugisse. — Precisamos conversar, Isabel. Ou vai continuar fingindo que nunca nos vimos antes?

— Não fui eu que comecei a fingir. Foi você. — Isabel o desmentiu sem tirar o olho da mão que segurava seu braço. E depois olhou para o rosto dele.

Alexandre franziu a testa. Tinha que admitir que ela estava certa. Nem tentou contar para Anita sobre aquele caso do passado e, embora tivesse se preparado para o encontro da noite anterior, não levara em conta como se sentiria de fato quando a visse de novo.

— Está bem — concordou. — Mas você teria trazido à tona a questão da paternidade de sua filha na frente de Anita? Acho que não. Acho que você estava... Como se diz em inglês... Chocada por me ver. E não só por minha aparência ter mudado.

— Você está enganado!

Isabel podia sentir o pânico crescer dentro dela. E não sabia bem o porquê. A não ser pelo fato de que as palavras de Alexandre ameaçavam expor o que temia. Mas Emma era sua filha, não dele.

— Estou? — Era visível que não acreditava nela. É natural que estivesse surpresa em vê-lo. - Não fazia a menor ideia de que você e a sra. Silveira fossem parentes.

Alexandre contraiu os lábios.

— Nisso eu posso acreditar.

— É verdade.

Isabel respirou fundo. Não estava lidando bem com tudo aquilo, e o fato de aqueles dedos escuros na pele branca de seu braço causarem arrepios em sua espinha não ajudava muito.

Se pelo menos ela não sentisse atração por ele. Se pelo menos ficar ao lado dele não despertasse as memórias que ela lutara tanto para esquecer. Ele não se importou com ela três anos antes, lembrou a si mesma. Foi para o Rio e ela nunca mais teve notícias dele.

Respirou fundo outra vez e disse de modo rígido:

— Eu vim aqui fazer um trabalho. Só isso. Meu tio ficou encantado quando o agente da sra. Silveira o procurou e ofereceu a entrevista à revista. Parece que ele a entrevistou há muitos anos, quando seu primeiro livro foi publicado.

— Então por que ele não está aqui?

— Porque... — A explicação a espantou. — Porque a sra. Silveira teria lido alguns trabalhos meus. Oh, Deus! — Ela arregalou os olhos sem poder acreditar. — Você arranjou isso tudo, não foi?

O olhar zombeteiro de Alexandre nem confirmava nem desmentia. Em vez disso, ele falou:

—Nunca ocorreu a nenhum de vocês dois questionar a decisão de Anita? Ela é uma pessoa muito reservada, como seu tio deve saber. E por que, entre todas as publicações de qualidade do mundo, ela escolheria a revista de seu tio para quebrar o silêncio?

Isabel suspirou. Tentava raciocinar sobre o que ele dizia.

— Humm, tio Sam pensou que ela deve ter gostado do texto que fez sobre ela — disse categórica.

Que nada! — A exclamação áspera de Alexandre revelava seu desdém. — Duvido que Anita se lembre do que seu tio escreveu sobre ela. — Ele balançou a cabeça. — Ninguém na posição dele poderia ser tão ingênuo.

— Ele não é ingênuo. — Isabel estava indignada. — É íntegro demais, talvez — corrigiu. — Algo que duvido que você saiba o que é.

— E por quê, então? — Alexandre apertou mais ainda seu braço, e ela teve que se esforçar para não demonstrar nenhuma reação. Será que ele sabia que a estava machucando? De certo modo ela duvidada que soubesse.

— Você arranja um contrato falso e me pede para explicar? — Isabel escolheu com cuidado as palavras. — Eu não sei do que isso tudo se trata, mas vou tomar providências para voltar para Londres hoje.

— Não. — A resposta de Alexandre foi muito decisiva e ele estava apreensivo. Ele era um homem muito grande, forte e poderoso. E, por causa de sua atração por ele, representava um perigo para ela de muitas maneiras.

Apesar da cicatriz, e do ferimento que fez com que arrastasse a perna ao andar, ainda era um homem atraente ao extremo. Não só por sua aparência, embora os músculos que saltavam sob a camiseta preta e o comprimento de suas pernas naquela calça cargo preta fossem impressionantes. Era a sólida masculinidade que transmitia ao falar. Ele sabia o que fazia, e estava em seu próprio ambiente.

Sem querer, seus olhos abaixaram-se mais do que ela pretendia e ela se lembrou das nádegas firmes que uma vez apertara com seus dedos.

Não era o momento de pensar nesse tipo de coisa, repreendeu a si mesma, enquanto se recusava a reparar no inegável volume entre as pernas dele. Mas algumas coisas não poderiam ser deixadas de lado. Não quando a realidade estava na frente dela.

Oh, Deus!

Ele esperava uma resposta e ela sabia que tinha que manter seus pensamentos ali. Ele pensava que tinha todas as cartas na mão, mas ela ainda possuía uma.

— Me pergunto o que sua esposa, ou noiva, teria pensado se descobrisse o que fez quando esteve em Londres — ela deixou escapar de modo defensivo. — Duvido que você tenha contado a ela, ou à sua sogra, que dormiu com outra pessoa.

— Eu não tinha que contar. — O rosto de Alexandre ficou mais escuro. — Mas não estamos falando de Miranda, querida. A questão aqui é sua filha. A filha que eu não sabia que tinha.

— Como sabe que é sua filha?

As palavras saíram de sua boca antes que Isabel pudesse impedir e, por um instante, ela viu que o tinha surpreendido também. Seus dedos se afrouxaram e, aproveitando o momento, ela se libertou dele. E então escapuliu e correu feito louca para a villa.

Só quando alcançou, já sem fôlego, o jardim da casa, onde um lago com flores aquáticas repousava em meio ao gramado recém-regado, foi que olhou apreensiva para trás.

Suas pernas estavam trêmulas, não só pelo esforço a que não estava habituada, mas também por saber que se ele a seguisse ela não teria forças para fugir de novo.

Mas para sua surpresa, e alívio, Alexandre ainda estava de pé no mesmo lugar. E ela presumiu que a razão pela qual não a seguira era porque não conseguia...


CAPÍTULO SETE

 

 

Mesmo após uma chuveirada Isabel não se sentia muito melhor.

O que iria fazer?

Na verdade era irônico. Passara metade da noite a se perguntar o que Alexandre fazia ali, e agora essa parecia ser a última de suas preocupações.

No entanto, quando o conheceu, se é que algum dia o conheceu, ele disse que morava no Rio, não disse? Talvez tenha sido Júlia quem contou quando a preveniu que Alexandre só estava visitando os pobres na festa.

Deveria ter escutado a amiga, ponderou com tristeza. Mia sempre fora mais descolada que ela. Mia nunca teria deixado que um homem fizesse amor com ela sem proteção. Mesmo que Alexandre possa ter presumido que, como ela já fora casada, devia saber tomar conta de si mesma.

Mas isso era encontrar pretextos para ele, o que já fizera quando descobriu que estava grávida. Ou só queria encontrar razões para ter o bebê? Mesmo sem a oferta de apoio de seus tios, sabia que daria um jeito de manter a criança.

E agora, pelo jeito, ele morava em Porto Verde. Ou se não era ali, não era muito longe. Próximo o suficiente para explicar o encontro com ela naquela manhã. Ela deveria ter lhe perguntado onde era sua casa, pensou arrependida. Mas já tinha coisas demais na cabeça naquele instante.

Uma delas era o que iria dizer a seu tio. Ele ficaria desapontado ao saber que não haveria entrevista nenhuma. Receava ter que lhe contar. Ele ficara muito empolgado com a perspectiva de um possível furo.

 

Vestiu o roupão de banho branco que estava pendurado atrás da porta do banheiro e voltou para a sala. Descobriu que em sua ausência alguém deixara uma bandeja com café, frutas e pãezinhos. A mesa estava posta com serviço de porcelana e talheres de prata, e um cesto forrado com um guardanapo mantinha o pão aquecido.

Apesar do aroma apetitoso do café, Isabel olhou ao redor apreensiva. Tinha certeza de que trancara a porta antes de entrar no banho. Mas era evidente que alguns empregados da sra. Silveira deviam ter a chave. Será que Alexandre tinha a chave? Não queria nem imaginar isso.

Assustou-se quando bateram à porta. O que seria agora? Seria a governanta de Anita para perguntar se precisava de mais alguma coisa? Mas o medo de que a pessoa que batia pudesse ter a chave a fez ir ver quem era. Colocou sua xícara sobre a mesa e foi relutante até a porta.

Para sua surpresa, era um rapaz que estava de pé ali fora. De estatura mediana e uma típica beleza latina, parecia muito seguro de si. E, ao contrário dos outros empregados, vestia um terno cinza de ótimo corte, com camisa e gravata combinando.

— Sra. Jameson? — perguntou. E Isabel se perguntou quem mais ela poderia ser. Mas lembrou-se que ainda estava só de roupão de banho, e seu rosto empalideceu ao perceber que ele a observava. — Sou Ricardo Vicente, senhora. Assistente pessoal da sra. Silveira.

— Oh. — Isabel estava um pouco desconcertada quando ele estendeu a mão para cumprimentá-la. — Como vai? — disse com hesitação. Deu uma olhada no relógio de pulso dele. Ainda não eram nem 8h. — O que você... Quero dizer, o que posso fazer por você? Ela ia perguntar "o que você quer", mas conseguiu refrear as palavras. No entanto, após seu encontro com Alexandre não tinha mais ilusões sobre o porquê de estar ali.

— Vou acompanhá-la em um tour pela villa, senhora — ele disse com um sorriso um pouco condescendente. — As áreas públicas, é claro. As dependências da sra. Silveira são privativas, naturalmente.

Naturalmente.

Isabel umedeceu os lábios.

— E a sra. Silveira? — ela arriscou-se a perguntar. Esperava não ter que explicar a pergunta.

Não foi preciso.

— A sra. Silveira não recebe visitas antes do meio-dia. - disse com indiferença. Então, ao olhar para sua aparência, perguntou:

— Deseja que eu volte mais tarde?

Que remédio, Isabel pensou um pouco irritada. Já que era provável que não acontecesse entrevista nenhuma, que diferença fazia? É claro que Ricardo não devia saber o que se passava. Será que Alexandre explicou a situação à sogra depois que Isabel foi se deitar? Ou essa era outra coisa para a qual devia se preparar? Ser humilhada na frente de uma mulher que parecia não gostar dela. Mas...

— Sim — respondeu, sem poder escapar daquilo. Seria obrigada a encontrar sua anfitriã de novo. — Se puder me dar meia hora. Ainda é bem cedo.

Ricardo levantou as sobrancelhas escuras. - Mas é a melhor hora do dia, senhora — ele a garantiu. - Antes que fique quente demais — Ele olhou para o relógio. - Volto em trinta minutos. Até já.

— Até já — Isabel respondeu.

Ficou muito aliviada quando ele virou as costas e ela pôde ir a porta. O café que acabara de tomar embrulhou seu estômago e ela se perguntava quando Alexandre iria dar o próximo passo. Deveria ter dado ouvidos a seus tios e deixado que outra pessoa fizesse o trabalho.

Mas suspeitava que isso não aconteceria. Se Alexandre planejava seu envolvimento, arranjaria outra maneira de alcançar seu objetivo. Duvidava que Anita estivesse a par da situação. Ao menos até que chegasse ali. O que poderia dar a Isabel um pouco de poder. Alexandre iria querer expor sua traição para a mãe da mulher que ele amou?

Quem poderia saber?

Alexandre era um enigma. Ela não tinha a menor ideia do que ele pensava, ou do que faria. Ele mudara. Não era mais o homem de que ela se lembrava. Isso teria algo a ver com o acidente? Será que ele fora responsável pela morte de Miranda?

Pensou em ligar para seu tio e contar o que aconteceu. Sabia que ele seria solidário a ela. Assim que sua tia descobrisse o que se passava, iria querer que voltasse para casa. Mas talvez ela esperasse um pouco mais para ver o que aconteceria. Se Alexandre planejou tudo, ela suspeitava que não teria escolha.

Alexandre tomou um voo para o Rio no final da tarde.

Quando voltou da praia havia uma mensagem para ele. Seu pai convocara uma reunião para aquela tarde.

Ultimamente, Alexandre administrava a Cabral Leisure quase sozinho. Seu pai sofrera um infarto há uns oito meses e foi recomendado que repousasse mais, desde então.

Não que Roberto Cabral tivesse obedecido a seu médico. Apesar do sucesso de Alexandre em criar novos mercados para a companhia, Roberto insistia em comparecer a todas as reuniões. Fazer com que sua opinião valesse quando não concordava com o filho mais velho.

A reunião extraordinária de hoje era para questionar a decisão de Alexandre de instalar spa’s em todos seus hotéis da América Latina. Os hotéis dos Estados Unidos e da Europa já ofereciam essa comodidade, e era intenção de Alexandre dar a todos seus hóspedes a oportunidade de desfrutar de um estilo de vida mais saudável.

Desnecessário dizer que seu pai não aprovava a ideia. Até o irmão de Alexandre, José, que nem sempre via as coisas do mesmo modo que o irmão mais velho, concordara que era uma despesa necessária nesses dias de clientes preocupados com aboa forma. Mas a reunião afastou Alexandre de Porto Verde em um momento em que tinha outras preocupações na cabeça.

Agora, enquanto seu jato particular começava a descer em direção à pista de sua fazenda em Montevista, Alexandre percebeu que passara as últimas oito horas atormentado com o que Isabel faria em sua ausência.

Depois do que se passara na praia, naquela manhã, não lhe restava nenhuma ilusão de que seria fácil lidar com ela. E ele também não esperava achá-la tão atraente.

Apesar da lembrança do que viveram em Londres, com o passar dos anos ele conseguira se convencer de que sua atração pela garota inglesa fora tão efêmera quanto sua relação. E depois de sua volta para o Rio, e os acontecimentos subsequentes, não esperava vê-la de novo.

Se o acidente não tivesse acontecido, teria dado prosseguimento à relação? Quando saiu de Londres não tinha dúvidas de que voltaria dentro de alguns meses.

Mas, dois meses depois, ele lutava por sua vida em uma UTI de um hospital particular do Rio. Com o rosto ferido, as costelas quebradas, o pulmão perfurado e a possibilidade de ter que amputar uma perna, não estava em condições de se ocupar com nenhum tipo de relacionamento.

E quando saiu do hospital e viu por si próprio seus ferimentos...

O caminho estava parcialmente iluminado pelos faróis de um carro off-road. Carlos Ferreira, seu amigo e gerente do estábulo, esperava por ele quando desceu do avião. Os dois possuíam cavalos para reprodução e venda, animais de puro sangue que eram procurados pelos corredores mais famosos.

O avô de Alexandre construíra a fazenda há muitos anos, e depois do acidente passara muitas semanas ali para se recuperar no ar fresco das montanhas. Atualmente, era onde se refugiava das preocupações de seu trabalho na cidade. Desde que assumira a companhia passava tempo demais no Rio. E como sempre gostara de cavalgar, achava que não deveria desistir do esporte. Desde que ele e Carlos começaram a criar cavalos, a fazenda tornou-se um negócio bem-sucedido.

Amigos desde a universidade, os dois tinham plena confiança um no outro, e Alexandre ficava feliz em deixar todas as decisões nas mãos competentes de Carlos.

Foi um alívio entrar no confortável Lexus com que Carlos foi buscá-lo, embora a notícia de que uma de suas éguas premiadas abortara seus potrinhos gêmeos tenha sido um baque. Alexandre sabia que só dois por cento dos potros gêmeos vingavam, mas nesse caso ele tinha esperança de conseguir.

— E a sra. Silveira ligou um monte de vezes — Carlos continuou, ao virar na trilha acidentada que beirava um riacho. Com a iluminação do farol dianteiro, Alexandre pôde ver um punhado de bois de chifres longos avançarem com dificuldade entre os bambus que cresciam à beira da água. — Acho que ela não acreditou quando eu disse que estava no Rio. Ela quer que você jante com ela essa noite. Diz que não está feliz com a entrevista.

Alexandre disse um palavrão e Carlos deu um sorriso pesaroso.

— Ela é persistente — ele concordou. — Talvez essa moça de quem me falou não esteja disposta a aturar as encenações de Anita. — Ele deu uma risadinha. — Eu disse a ela que você só volta amanhã. Alegre-se, meu amigo. Maria preparou um frango ao molho pardo para o jantar. E você está convidado.

Alexandre fez uma careta.

— Obrigado. — Ele rangeu os dentes e disse quase para si mesmo: —Acho que é muito tarde para dirigir até lá.

— Pode acreditar nisso. — Carlos confirmou.

A estrada para Porto Verde podia ser perigosa, sobretudo à noite. Uma série de curvas fechadas, e a descida da serra em que a fazenda ficava, eram perigosas. E quando chovia alguns pedaços da estrada desabavam.

— De qualquer modo, ela não vai morrer se esperar até amanhã — Carlos afirmou ao avistarem a cerca branca. Um portão separava o campo viçoso em que os cavalos pastavam da horta. Além de cavalos, também criavam gado de raça. Os que tinham visto mais cedo no riacho faziam parte de seu rebanho.

— Suponho que não — Alexandre enfim concordou ao impedir que Carlos descesse do carro para abrir o portão. — Posso fazer isso. Preciso de exercício.

Entretanto, sentiu uma pontada na perna ao descer do Lexus, o que o fez fazer outra careta ao abrir o portão para que Carlos pudesse entrar com o carro.

Ao mesmo tempo, pensou após fechar o portão e voltar para o carro, se Anita estava reclamando, isso queria dizer que Isabel ainda estava lá. Ele estivera preocupado que ela aproveitasse sua ausência para ir embora. Mas, a não ser que Anita tivesse lhe contado, ela não tinha como saber onde ele estava.

Ele soltou o ar preso em seu peito. Sabia que a filha era sua. Simplesmente sabia. Além de tudo, as datas coincidiam. E ele linha certeza de que Isabel carregava uma semente sua quando ele partiu da Inglaterra.

Se pelo menos ela tivesse lhe contado. Se pelo menos, assim que soube o que aconteceu, tivesse entrado em contato com ele. Poderia tê-lo achado através do website da empresa. Estava certo de que sua amiga, era Júlia o nome dela, poderia ter dito como achá-lo.

Tudo bem, talvez ele não tenha se comportado de modo muito responsável naquela ocasião. Não sentia muito orgulho de como agira. E o telefonema de seu pai criou uma situação difícil. Depois daquilo, ela não escutou mais nada do que ele dizia.

Eles não se separaram muito bem um com o outro, e ele saiu do apartamento arrasado. Durante o longo voo de volta para o Rio, ele se atormentou pensando o que poderia ter feito de modo diferente. Mas garantiu a si mesmo que as coisas seriam diferentes quando a visse de novo. Faria com que o escutasse. Mas o destino brutal mudou tudo.

Ainda achava que ela poderia ter tentado contatá-lo. Ele tinha o direito de saber, quisesse ela que ele se envolvesse ou não. O bebê era tão seu filho quanto dela. O único filho que ele poderia ter, segundo os médicos que lhe deram alta no hospital.

 

Um longo caminho cercado de acácias conduzia até a casa principal. Mesmo sob a luz dos faróis a casa parecia elegante e impressionante, com dois andares, paredes brancas e uma escada na frente. Ao todo, a casa ocupava mais de meio acre de terra. Uma varanda coberta de trepadeiras floridas dava uma elegância alegre à casa.

Carlos parou o carro no pátio pavimentado de pedras. Alexandre hesitou por um momento antes de descer do carro.



  

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