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Título original: SPANISH MAGNATE, RED-HOT REVENGE 10 страница



Isabel fechou mais seu casaco. Desde que voltara do Brasil, sentia mais o frio, e ainda se recuperava de uma tosse horrível. Emma estava aconchegada com seu macacão de lã, enquanto Olivia vestia seu jeans costumeiro com um suéter e um casaco Barbour. Só quando contornaram o celeiro e entraram na plantação de arbustos foi que Isabel viu o Audi preto estacionado na entrada. Um 4x4 enorme que ofuscava seu pequeno Mazda, com que viera de Londres no dia anterior.

— Quem será? — sua tia perguntou com certa impaciência. — Se Sam tem convidados para o almoço, deveria ter me avisado. Duvido que eu tenha algo apropriado para oferecê-los.

— Você sempre tem alguma coisa — Isabel respondeu em tom de brincadeira. — A sra. Collins sempre fala que você compra comida demais.

— A sra. Collins é uma diarista, não uma dona de casa — Olivia replicou enquanto abria seu casaco ao entrarem no vestíbulo, junto à cozinha. Em geral era ela mesma quem preparava todas as refeições da família. Então ela estalou a língua. — Ah, sei quem deve ser... Tony Aitken. Soube que ele voltou da viagem, estava esquiando. E eu disse a Nora que você ficaria feliz em vê-lo.

— Está brincando! — Isabel resmungou enquanto ajudava Emma a tirar o macacão. — Deus do céu, tia Olivia, por que diria uma coisa dessas?

— Porque desde que voltou do Brasil você não faz mais nada a não ser vagar pela casa — Olivia afirmou com vivacidade.

Isabel olhou para ela indignada.

— Eu não estive bem desde que cheguei! — exclamou. — Fiquei gripada e com tosse, sabe disso.

— Desde quando uma gripe com tosse coloca você para baixo? — sua tia perguntou com frieza. — Não sei o que aconteceu, Isabel. Você parece não querer falar sobre isso, mas eu acho que se você e o Alexandre não vão se ver mais...

— Eu não disse isso.

— É como se tivesse dito — sua tia continuou resoluta. — De qualquer modo, acho que a companhia de outro homem vai te fazer bem. Alguém que não tem a vida complicada, como você diz.

Isabel suspirou.

— Você não entende.

— Então você dormiu com ele — Olivia disse com um ar travesso. E então franziu a testa: — Espero que dessa vez tenha tomado alguma precaução.

Felizmente, Emma escolheu aquele momento para tropeçar e cair no chão. Ela chorou, claro, e Isabel pôde esconder seu rosto ruborizado nos cabelos da menina.

— Está tudo bem — ela disse enquanto a abraçava. Adorava seu cheiro de criança. —Venha. Vamos ver se a sra. Collins tem chocolate na gaveta.

Seja lá o que fosse que tia Olivia ia dizer foi deixado de lado. Isabel levantou Emma no colo, abriu a porta e entrou no calor da cozinha. O fogão aquecia o amplo espaço e luzes embutidas nos armários davam ao cômodo uma aparência acolhedora.

A sra. Collins, que preparava um café, virou-se e disse:

— O sr. Armstrong tem um convidado — ela se explicou.

— Perguntei se ele queria que eu fizesse café e ele disse que sim.

— Ah, obrigada, Hilda. — Olivia deu uma olhada curiosa por sobre seus ombros. — Humm, o cheiro está bom. Quer que eu leve?

— Se puder, sra. Armstrong. — A sra. Collins se afastou aliviada da bandeja que preparara. — Minha artrite anda se comportando mal e não gostaria de confiar no meu ombro. Tem certeza de que consegue? Talvez seja melhor Isabel ajudar.

— Assim que eu limpar essas mãozinhas — Isabel disse enquanto mostrava os dedinhos sujos de Emma. Qualquer coisa servia para adiar juntar-se a seu tio e Tony. Talvez conseguisse se safar se inventasse uma dor de cabeça.

— Me dê ela aqui! — exclamou a sra. Collins abrindo os braços de modo convidativo. — Tenho um sabão especial para isso, Emma, e talvez até um chocolate para uma menina boazinha. O que me diz?

Emma fez que sim com a cabeça, saiu do colo da mãe e deixou que a sra. Collins a levasse para o lavabo.

— Tchau, mamãe — falou já sem chorar. E Isabel não teve escolha a não ser acompanhar sua tia.

— Alegre-se — Olivia disse ao notar a expressão de Isabel.

— Pelo amor de Deus, você consegue pelo menos ser bem-educada, não? Não estou pedindo para que se case com ele!

— Ainda bem — Isabel resmungou quase inaudível. Ela precisava de tempo para refletir o que faria em relação a Alexandre, não de perder tempo em conversa fiada com Tony Aitken.

Os dois homens estavam sentados um em cada lado da lareira, onde uma tora de madeira queimava. Apesar da casa ter aquecimento central, seus tios gostavam do fogo aceso. Isabel foi em direção a eles de modo automático, sem prestar atenção nos ocupantes das duas poltronas.

Olivia levou a bandeja e a colocou na mesinha entre eles. Ao fazê-lo os dois homens se levantaram e, quase subconscientemente, Isabel percebeu que sua tia teve um sobressalto.

— Santo Deus! — disse com evidente embaraço. — Você me assustou.

Isabel se virava quando ouviu a resposta dele.

— Lamentavelmente eu faço isso com as pessoas — ele se desculpou.

Mas sua tia emendou o que disse:

— Não, quero dizer... Você é tão grande! — ela exclamou com uma risadinha nervosa que Isabel nunca a vira dar. — Eu esperava encontrar Tony... Tony Aitken. Um amigo de Isabel. E ele não é alto como você.

Alexandre cerrou os lábios com a menção do nome de outro homem, mas conseguiu forçar um sorriso.

—A senhora deve ser Olivia, tia de Isabel. Como vai, senhora? É um prazer conhecê-la.

— Conhecê-lo também... Humm... Alexandre, não é? — Olivia estava entusiasmada. Isabel ficou ali parada como se seus ossos tivessem virado geleia. O sorriso de Olivia era afetuoso. — Acho que mais ninguém chama minha sobrinha de Isabela.

Alexandre fez um ar travesso.

— É um... Como se diz?... Descuido meu, senhora. O nome de minha avó também era Isabela.

— Verdade?

Isabel podia ver que sua tia estava totalmente fascinada por ele. Longe de se intimidar pela visão de sua cicatriz, estava lisonjeada com a atenção exclusiva por parte dele.

Isabel olhava para ele como se não pudesse acreditar no que via. De black jeans, casaco cinza e camisa preta de seda aberta no pescoço, ele parecia dolorosamente familiar. Por que estaria ali? Não só para ver sua filha, ela esperava.

Foi só quando seu tio falou que ela olhou para sua própria aparência. Ainda estava com o casaco com as marcas dos dedos de Emma. E, embora o casaco estivesse aberto, sua camiseta listrada de verde e azul e a saia jeans desbotada não eram lá grande coisa.

Seus olhos se voltaram para Alexandre. Seu tio o fazia se sentar. E dessa vez seus olhares se cruzaram. Seus olhos cor de âmbar eram intensos. Seu olhar a deixou sem ar e com a garganta seca. Em que ele estaria pensando? O que teria conversado com seu tio antes delas chegarem?

A porta se escancarou de novo e uma menininha entrou a toda velocidade na sala. De suéter de lã e macacão, ela era adorável. Alexandre, que desviou o olhar de Isabel com sua chegada, agora olhava para a criança fascinado.

Emma, ele pensou. Sua filha. Sua filha e de Isabel. Meu Deus, como é bonita. De cabelos escuros como os dele, mas com a pele rosada da mãe.

Não que Isabel tivesse alguma cor no rosto naquele momento. Ele percebeu seu sobressalto quando Emma entrou, e entendeu sua preocupação. Honestamente, aquele não era o modo que teria escolhido para conhecer sua filha. Mas era tarde demais para se lamentar.

Emma prestava atenção nele, e veio em sua direção sem relutar.

— Quem é você? — ela perguntou com um olhar de curiosidade.

Alexandre estava apreensivo.

— Meu nome é Alexandre — ele disse. Ele levantara quando ela entrou, mas abaixou-se para ficar ao alcance dela. — E você quem é?

— Sou Emma — respondeu. Apontou para o rosto dele. — O que foi isso? Você caiu?

— Mais ou menos isso — ele concordou.

— Dói?

— Emma!

Isabel e sua tia falaram ao mesmo tempo, mas Alexandre fez sinal para que não interferissem.

— Não — falou com gentileza. — Não dói. Já faz tempo que aconteceu.

Emma franziu a testa e então colocou a mão no queixo dele.

— Emma!

Isabel resolveu intervir, mas antes que puxasse o braço da menina, Alexandre inclinou a cabeça em sua direção.

— É dura! — Emma exclamou surpresa ao passar seus dedinhos na cicatriz. — Sente, mamãe, é dura mesmo.

Alexandre olhou para o rosto pálido de Isabel e se levantou.

— Me desculpe — ele disse. — Não vim aqui para te chatear. Isabel deu um suspiro trêmulo. E como não conseguiu pensar em outra coisa para dizer, sussurrou:

— Eu te disse que Emma não se assusta com facilidade.

— E você estava certa — Alexandre murmurou. — Talvez um dia você possa dizer a ela quem eu sou.


CAPÍTULO CATORZE

 

 

— Não pode estar indo!

Havia um certo pânico na voz de Isabel e, embora Emma quisesse sua atenção, pela primeira vez na vida Isabel não colocou a necessidade da filha em primeiro lugar.

— Ainda não — respondeu enquanto deixava que Emma o puxasse pela mão.

— Colo — ordenou. E ele a levantou nos braços.

— Mamãe está falando, Emma — Isabel a repreendeu. Sentiu que perdia o controle da situação.

— Também estou — Emma respondeu. Olhava para o rosto de Alexandre com curiosidade. — Você caiu do cavalo?

— Acho que o sr. Cabral não quer falar sobre isso agora, Emma. — Sam Armstrong interferiu, com um olhar pesaroso para seu convidado. Segurou-a pelos braços. —Venha, coração. Vamos deixar a mamãe conversar.

Emma se pendurou no casaco de Alexandre.

— Não quero ir. — Ela fez beicinho, mas Olivia controlou a situação.

— É hora do almoço — disse com firmeza. Pediu desculpas a Alexandre e tirou-a dos braços dele. —Almoça conosco? Não prometo nada de especial, mas é muito bem-vindo.

— Obrigado.

Alexandre inclinou a cabeça, mas Isabel não entendeu se aceitara o convite ou se só agradecia. Mas ficou contente quando os outros saíram, apesar de ficar sozinha com ele ser um pouco intimidador.

— Não quer se sentar de novo? — ela sugeriu enquanto indicava a poltrona atrás dele. Tinha certeza de que devia estar com dor na perna.

— Não sou inválido — respondeu sem fazer o que ela pedia. Olhou-a atentamente. — Você está bem?

— Estou gripada, só isso. — Isabel não queria falar de si própria. Como suas pernas estavam trêmulas, sentou-se na poltrona que seu tio ocupara. — Quando chegou aqui?

—Aqui? —Alexandre apontou para onde estava. — Ou quer dizer na Inglaterra?

— Os dois. — Assustou-se ao perceber que estava com lágrimas nos olhos e piscou para escondê-las. — Você deveria ter avisado que vinha.

— Por quê? Para você dar um jeito de não estar aqui?

— Não! Eu queria te ver. — Ela hesitou. — Nem que fosse para... Te dizer porque voltei para a Inglaterra.

— Ah. — A expressão de Alexandre era irônica. — Isso Anita me disse.

— Disse? Duvido — Isabel declarou em tom amargo. — Ela cancelou a entrevista, não eu.

— Ela te disse o porquê?

— Bem, ela disse que nunca teria concordado se não fosse por você. Mas disso eu já sabia.

— Foi tudo o que disse?

— Não — Isabel respirou fundo. — Ela disse que não gosta da ideia de ter uma "serpente traidora" em sua casa. Foram as palavras que usou. Acho que nunca aceitou bem o fato de termos nos conhecido antes, em Londres. Me acusou de só ter aceitado o trabalho para te ver.

Alexandre estava pensativo.

— Então ela não mencionou que sabia da minha visita ao teu quarto na noite anterior? Que um de seus empregados nos olhava pela janela?

— Não! — Isabel estava horrorizada. — Quer dizer que ela?...

— Sabia que ficamos juntos? Bem, talvez não em detalhes, mas sabia o suficiente.

— Meu Deus!

Sim, meu Deus!

Isabel balançou a cabeça.

— Mas que importância isso teria para ela? Só se ela...

— Não começa — Alexandre a advertiu. Cedeu ao cansaço das pernas e sentou-se. — Anita nunca foi nada além de uma sogra para mim. Se ela tem ciúme é por causa da filha. Ela não consegue suportar a ideia de que eu possa ser feliz com outra.

O casaco de Isabel caiu no chão e ela colocou as mãos subitamente úmidas nos joelhos.

— Comigo? — ela sussurrou de modo quase inaudível.

— Com quem mais? Até nos reencontrarmos, ela sabia que eu não tinha intenção de me envolver com ninguém.

— Ela sabe sobre Emma?

— Agora sabe.

— Você contou?

— Claro — ele disse com indiferença. — Ela já tinha deduzido tudo sozinha.

— Não me admira que quisesse que eu fosse embora. Alexandre fez uma expressão zombeteira.

— Não mesmo. Mas se você quisesse ficar poderia ter dado um jeito.

— Que jeito?

— Podia ter falado comigo — ele disse com ar severo. — Ou será que sou tão insignificante que isso nem passou pela sua cabeça?

Isabel levantou-se em um pulo.

— Isso é ridículo, sabe muito bem.

— Sei?

— Deveria saber — ela disse com vontade chorar. — Como eu poderia falar com você? Ia pedir seu número de telefone para Anita? Com certeza ela teria dado!

— Não pensou em alugar um carro com motorista e ir até minha fazenda?

— Não podia fazer isso! — Isabel olhou para ele estupefata. — O que eu faria se chegasse lá e você também me virasse as costas?

Alexandre levantou-se com determinação.

— Eu não teria te ignorado — disse em modo áspero. — Como pode pensar isso? Você é mãe da minha filha, provavelmente a única filha que vou ter na vida.

— O que quer dizer?

— O que acha que quero dizer? — Alexandre estava impaciente. — O acidente não me prejudicou só externamente, por dentro também.

— Oh, Alexandre! — Isabel achou que começava a entender. — Então era por isso que você estava tão ansioso para retomar nossa relação?

— O que quer dizer? — ele perguntou, como ela fizera um instante antes.

— Não é comigo que se importa, é? — Começou a chorar de modo descontrolado. —Você quer Emma. Quer sua filha. E está disposto a fazer qualquer coisa para tê-la.

Alexandre recuou e olhava para ela incrédulo.

— Você realmente acredita nisso? — perguntou horrorizado.

Isabel não sabia no que acreditar. Ela o acusara no calor do momento, mas por dentro rezava para que não fosse verdade.

— Bem, isso... Corresponde aos fatos, não? — ela balbuciou enquanto secava as lágrimas com as mãos. — Você sabia tudo sobre Emma antes de eu ir ao Brasil. Você me acusou de esconder a existência dela.

— O que fez mesmo. Mas, não posso te culpar inteiramente por isso.

— Oh, obrigada!

— Não banque a engraçada. Sabe que há muito mais entre nós dois do que a existência de nossa filha.

— Sei? — Isabel passou a mão no nariz. Queria poder se controlar.

— Deveria saber. Quer que eu prove? Acho que seus tios não aprovariam se eu te jogasse no tapete e fizesse amor loucamente com você.

— Você está caçoando de mim.

— Não estou, não.

Isabel virou-se, incapaz de aguentar aquele confronto desigual.

— Sei que você consegue que eu faça tudo o quer — murmurou com a voz débil. — Sei que você sabe que basta me beijar e eu viro uma geleia nas tuas mãos.

— Sei é? — A voz de Alexandre ficou mais profunda e colocou a mão em seus ombros. — Você nunca me disse... O que exatamente eu significo para você?

— Você sabe — ela insistiu. — Sempre soube.

— Não — ele disse com voz rouca no ouvido dela. — Não, eu não sei. Me diz. Por que chora? Porque gosta de mim ou por medo que eu tire Emma de você?

Isabel olhou-o por cima do ombro.

— Você faria isso? — perguntou ansiosa. Alexandre sacudiu a cabeça.

— Se me pergunta isso, não me conhece nem um pouco. — Ele deu um passo para trás. — Relaxa. Emma está segura. Eu não faria nada para prejudicar o futuro dela. Ou o seu.

Ele virou-se para pegar seu casaco pendurado nas costas da cadeira.

— Por favor, diga à sua tia que não posso aceitar...

— Não vá!

Isabel segurou-lhe o braço antes que ele o pusesse dentro da manga do casaco. Tomou o casaco dele e o jogou nas costas da poltrona.

— Por favor... — ela disse enquanto ele a olhava ali parado.

— Me desculpe, sei que nunca me faria mal. Não sei por que te perguntei isso. — Ela fungou de novo. — Só por ciúme, eu acho.

— Ciúme? — ele franziu as sobrancelhas.

— Sim. — Ela apertou os lábios por um instante e continuou:

— De Emma. Porque você a ama. Por gostar dela de um modo que nunca gostou de mim.

— Como pode saber disso?

— Bem, isso é óbvio, não é? Quero dizer... — ela escolheu as palavras com cuidado. — Mesmo depois de sair do hospital você não veio à Inglaterra. — Ela fez uma pausa e acrescentou, entristecida: — Você se casou com a Miranda, lembra?

— Como se pudesse esquecer — murmurou ressentido. — Meu Deus, Isabela, você acha mesmo que eu não queria te ver de novo?

— Então por quê?

— Precisa perguntar? — Alexandre fez uma careta. — Quando saí do hospital achei que nenhuma mulher em seu juízo perfeito iria querer passar o resto da vida comigo.

— Mas isso é loucura!

— É? Agora pode parecer, mas na época eu não conseguia pensar direito. Além disso, apesar da intimidade que tivemos, não nos conhecíamos direito. Como eu poderia esperar que carregasse esse fardo? Sobretudo quando nos despedimos daquela maneira.

— Está se referindo ao telefonema de seu pai?

— Sim. — Alexandre respirou fundo. — Eu disse a você que era sobre a empresa, mas na verdade era sobre Miranda. Minha falecida esposa era viciada, Isabela. Passou a vida entrando e saindo de clínicas para tentar deixar o vício. Mas nunca conseguiu.

Isabel ficou um momento em silêncio e depois disse:

— Eu não sabia disso.

— Como saberia? Anita fez tudo para esconder. Nem minha própria família aceitaria que não havia esperanças de cura.

— E Anita estava envolvida nisso?

— Oh, sim. Nossas famílias eram amigas desde que eu e Miranda éramos crianças. Foi Anita quem persuadiu meu pai a me ligar naquela noite para implorar que eu voltasse para casa. Ela achava que eu podia fazer Miranda mudar, quando ninguém conseguira.

— E você conseguiu?

— Não. — Ele fez uma pausa. — E depois do acidente... — Ele deu de ombros com desgosto. — Tinha outras coisas com que me preocupar.

— Mas por que casou com ela?

— Ah... — Alexandre fez uma careta. — Já me perguntei isso mil vezes. Porque meu pai teve outro infarto depois do meu acidente. Porque era o esperado. Porque meu pai queria netos e não o dei nenhum.

— Mas não podia simplesmente dizer...?

— Que eu não podia mais ter filhos? — Ele deu um sorriso amargo. — Foi algo que escondi até depois do casamento.

— Você amava Miranda?

— Tinha carinho por ela. — Alexandre confessou. — Como disse, nos conhecíamos desde a escola. Ela queria que sua mãe ficasse orgulhosa dela. Além disso, isso fazia com que parassem de sentir pena das minhas cicatrizes.

— Oh, Alexandre...

Alexandre se derretia todo com o som de seu nome em sua boca. Segurou-lhe o queixo e acariciou seu lábio inferior sem disfarçar sua impaciência.

Mas ainda havia muito a ser dito.

— Mesmo assim, eu me pergunto como você reagiria se eu batesse à sua porta com a aparência monstruosa que estava quando saí do hospital. Seja o que for que diga agora, você teria me rejeitado.

— Não!

— Não? Ah, sim, você estava com um filho meu na barriga. Isso podia fazer diferença.

— Alexandre, estar grávida não faria a menor diferença. — Isabel suspirou de frustração. — Eu não gosto de você só pela sua aparência.

— Então acha mesmo que tivemos algo especial?

— Você não? — Um calafrio percorreu seu corpo, e ela de repente se deu conta de como perdera peso nas semanas em que ficaram separados. — Pensava assim na primeira vez e também na noite na villa. Mas você não disse nada, e quando Anita me pediu para ir embora...

— É mesmo? — Alexandre colocou o dedo em sua boca e sua língua foi logo ao encontro dele. — Perdemos muito tempo. E agora soube que tem outro homem em sua vida.

— Não. — Isabel entendeu mal. — David morreu! — ela exclamou.

— Não falo de seu marido. Ele era um idiota. E, mesmo que lamente por sua morte, ele não me interessa em nada. — Envolveu seu pescoço com a outra mão. — Qual o nome que sua tia disse? Tony, não? Devo ter ciúme?

— Acho que sabe a resposta — Isabel disse sem fôlego. Quando ele a tocava era difícil pensar. — Mas você demorou tanto para decidir vir até aqui — ela disse enquanto passava a mão em seus cabelos macios. — Tem certeza que não há nada que queira me dizer?

Alexandre riu e levou a mão dela à boca.

— Acredite em mim, querida, se eu soubesse que queria me rever, nem todos os cavalos de Carlos me manteriam distante.

Roçou seus lábios nos dela, mas quando ela ia prolongar o beijo ele colocou um dedo na frente.

— Um pouco de compaixão, por favor — ele pediu. — Sabe que te quero muito. Mas não é minha casa, é sua.

— E de Emma — o lembrou com doçura. Alexandre a envolveu com seus braços.

— Nossa filha — disse emocionado. — Acha que ela vai me perdoar por me intrometer na vida dela?

— Acho que ela consegue lidar com isso. Fico feliz que tenha mudado de ideia e resolvido conhecê-la.

— Não tive escolha. Percebi que não conseguia viver sem a mãe dela. — Ele segurou seu rosto. — Eu te amo, querida. Talvez isso me redima aos olhos dela.


EPÍLOGO

 

 

Seis meses depois, Isabel sentia o sol bater em sua pele na sacada da fazenda. A vista dali sempre a encantara. Montanhas ao longe, campos, um rio e muito espaço.

Passou a mão do pescoço até a barriga. Apesar de sentir um pouco de náusea todas as manhãs, nunca estivera tão saudável. Felicidade fazia bem, ela pensou, satisfeita. E nunca fora tão feliz em toda sua vida.

Ouviu um barulho e ao olhar para trás viu Alexandre chegar. Ele sorriu ao vê-la e sua expressão encheu-se de contentamento ao pensar que agora ela era sua esposa e nada os separaria mais.

— Senti tua falta — ele disse enquanto lhe acariciava o ombro. Ele a abraçou por trás. — Ainda está cedo. Por que não volta para cama?

Isabel ergueu o ombro para acomodar os lábios dele e disse com suavidade:

— Não acha que deveria colocar alguma roupa?

— Seria perda de tempo. Eu teria que tirá-la de novo, querida. Isabel sorriu.

— Ainda bem que não sigo seu exemplo — ela murmurou enquanto Alexandre afastava a seda de seu ombro para sentir o cheiro bom da pele dela.

—Ah, sim. Mas você é bonita, não quero despertar ciúme em meus empregados.

— Você não tem vergonha — ela sussurrou com voz trêmula. Alexandre gargalhou deliciado.

— Vergonha? Quando estou com você, não me importo se me olham. Você faz isso comigo. Você e Emma.

Isabel suspirou de satisfação.

— Espero que ela esteja bem — disse pensativa. Emma estava com os pais de Alexandre, no Rio, contente em ser o centro das atenções de seus novos avós.

— Ela e Catarina parecem se dar bem — Alexandre respondeu. — Acho que ficam intrigadas por serem tão parecidas.

— Lembra como fiquei zangada quando me mostrou a foto de Catarina?

Alexandre deu uma risadinha.

— Como poderia esquecer?

— Deve ter sido um choque descobrir que tinha uma filha. — Isabel ponderou. Passou os braços em volta do pescoço dele e o puxou para si. — Já me perdoou por esconder de você a existência dela?

Alexandre fez uma careta.

— Ah, moça, eu te perdoaria por qualquer coisa. Ainda não se deu conta disso? — Ele mordeu sua orelha causando uma dorzinha prazerosa. — Às vezes nem acredito que tive uma segunda chance com você.

— Oh, querido!

Isabel falou em português de propósito. Sabia que ele gostava quando ela falava na língua dele. E ela estava aprendendo. Ainda não falava muito bem, mas já entendia muito do que era dito.

Alexandre deu-lhe beijo quente e ela flutuava no prazer que ele causava. Por um instante ficou tão concentrada nas reações de seu corpo que esqueceu de quando ele se uniu a ela. Mas quando sentiu a ereção dele contra seu ventre, conseguiu recuperar o raciocínio.

— Alguém pode ver — disse sem fôlego. Alexandre ignorou seu temor.

— Que vejam — ele disse ao escorregar a mão para dentro de sua roupa e a apertar contra si. — Nunca pensei ser possível amar alguém tanto assim, meu amor.

Isabel sorriu e passou a mão em seus cabelos.

— Que bom — disse provocativa. — Porque, sabe de uma coisa? Eu também te amo. — Franziu a testa. — Talvez só um pouquinho.

— Só um pouquinho? — ele protestou.

Ela ficou na ponta dos pés e lhe deu um beijo no cantinho da boca.

— Na verdade, muito — ela admitiu. — Mas não quero que fique convencido.

— Como se isso pudesse acontecer — Alexandre disse num tom seco.

— Não sei, não. — Isabel estava pensativa. — Eu vi o modo como a mulher do Carlos te olha. Estou certa de que te acha sexy!

— Tenho certeza que ela não acha. Mas, em todo caso, não há segredos entre nós.

— Não? — Isabel arqueou as sobrancelhas com um ar perplexo.

— Não.

— Humm. — Isabel pensava sobre a resposta. — Não me disse que era Miranda que dirigia o carro na hora do acidente.

— Suponho que Carlos tenha contado. Isso importa?

— Para mim importa. — Isabel respondeu um pouco emocionada.

— Eu deveria ter impedido que ela dirigisse meu carro naquela noite.

— E por que não impediu?

Ele respirou fundo e segurou seu queixo.



  

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