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Título original: SPANISH MAGNATE, RED-HOT REVENGE 4 страница



Era muito improvável que encontrasse Alexandre Cabral, Isabel argumentou quando sua tia levantou a hipótese. O Rio era uma cidade enorme, com uma população de mais de seis milhões de habitantes. Quais eram as chances de ela encontrar o pai de sua filha de novo? As probabilidades eram quase nulas.

Ao mesmo tempo, Isabel não podia negar que queria ver o lugar onde Alexandre nasceu e onde morava quando a conheceu.

Fora um contato tão breve para resultar em consequências tão duradouras, ela pensou com um pouco de amargura. Contudo, não imaginava viver sem Emma. A filha dera um significado real à sua vida.

Mas agora o Rio já estava bem longe dela. Quando chegou na cidade dois dias antes, Ben Goodman, um amigo de seu tio que iria hospedá-la, informou que a sra. Silveira tinha se retirado para sua casa no litoral norte do Estado do Rio. Aparentemente, ela preferia a brisa fresca do mar de Porto Verde ao calor de verão da cidade.

Isabel não a culpava por isso. Quando saiu de Londres em pleno janeiro frio e úmido, não estava preparada para o calor e a umidade que a atingiram assim que chegou no aeroporto. Sua blusa de algodão estava grudada no corpo e foi um alívio chegar à casa de Goodman, no bairro de Santa Teresa, e descobrir que tinha ar-condicionado.

Entretanto, a beleza da cidade não lhe passou despercebida. Apesar da pobreza das favelas, havia muitas coisas que ela gostaria de conhecer: visitar os museus e as galerias de arte, caminhar na praia de Ipanema e conhecer a vida noturna da cidade.

Mas não viera como turista, lembrou a si mesma quando o avião para Porto Verde sobrevoou um planalto antes de descer a uma velocidade perturbadora em direção à costa. A pequena pista de pouso margeava o oceano. Dunas de areia dourada ondulavam entre palmeiras. Ao longe, algumas montanhas pareciam pequenas e misteriosas. Mais próximos, os penhascos do planalto resplandeciam sob a luz do sol.

Embora Ben Goodman nunca tivesse visitado a casa da sra. Silveira, ele falou para Isabel que diziam ser muito bonita. E acrescentou, sem nenhuma inveja, que ela era uma mulher muito rica. Talvez um pouco arrogante, de acordo com relatos que ouvira, mas também um pouco digna de pena, já que sua única filha morrera com apenas 22 anos.

Não que seu tio esperasse que Isabel a interrogasse sobre sua vida pessoal. Era muito raro Anita Silveira dar entrevistas, e só concordou dessa vez porque Sam Armstrong fora muito gentil com ela quando publicou seu primeiro livro, muitos anos antes. Ela não buscava publicidade ultimamente. Era uma pessoa muito reservada. Isabel sabia que era privilegiada por ter recebido esta oportunidade de entrevistá-la.

A aeromoça atravessou o corredor para informar aos passageiros que logo iriam aterrissar, e poucos minutos depois o pequeno avião tocou o solo. Ele percorreu a pista de pouso até o aglomerado de edifícios do terminal.

Havia apenas cerca de doze passageiros no voo. Essa era uma região turística, e a julgar pelas bermudas e mochilas, e pelas máquinas fotográficas penduradas em seus pescoços, seus companheiros de viagem estavam em férias. De acordo com seu guia de viagem, podia-se fazer trekking[4] e escalada na região, enquanto que o lago São Francisco também servia à prática de vários esportes aquáticos.

Mais uma vez, se deparou com o calor ao descer os degraus do avião. Não havia nenhum daqueles tubos que levam direto do avião ao aeroporto, apenas uma curta caminhada até o hall da recepção. E então uma longa espera pela bagagem. Enfim pegou sua mala e saiu à luz do sol novamente.

Havia táxis, e ela estava com o endereço de Anita, mas naquela noite iria se hospedar em um hotel e descansar da viagem. Tomaria providências para ver sua entrevistada no dia seguinte, depois de uma noite decente de sono.

Entretanto, antes que pudesse alcançar um dos táxis, um senhor vestido com uma camisa branca, colete preto e calça de piegas[5] veio em sua direção.

— Sra. Jameson? — ele perguntou, mostrando uma fileira de dentes tortos manchados de tabaco.

— Sim — ela respondeu, surpresa.

Pegou sua mala e falou algo em português que Isabel deduziu que devia significar prazer em conhecê-la. Ele a levou até uma limusine antiga.

Entre, por favor.

Isabel hesitou. Embora soubesse algumas palavras em português, não tinha como conversar com ele. E, apesar de ele saber seu nome, ninguém a avisou para esperar um acompanhante até o hotel. N-

— Humm... Quem é você? — perguntou de modo polido na esperança de que ele entendesse. E os dentes cor de tabaco apareceram de novo.

— Mano, senhora — ele respondeu de imediato, com o dedo apontado para o próprio peito. — Eu trabalho para a senhora. Sra. Silveira.

— Ah — Isabel estava um pouco aliviada. — E você vai me levar para o hotel?

— Hotel? — Mano deu uma pronúncia brasileira à palavra. — Não, senhora. Você fica com a sra. Silveira, sim?

Isabel ficou meio sem reação.

— Mas eu pensei...

Franziu a testa. O que ela pensara? Seu tio dissera que a sra. Silveira arranjaria acomodação para ela, e ela presumira que iria ficar na cidadezinha. Mordeu os lábios.

Queria ficar com uma completa estranha, por mais generosa que sua oferta fosse? Ela sempre preferira manter a independência nessas ocasiões. Achava que tornava tudo mais fácil.

Mas se não tinha hotel...

— Eu... Eu não sei o que dizer — murmurou para si mesma, mas evidentemente Mano a ouviu e entendeu.

Por favor. — Ele indicou o carro com um gesto. Abriu o bagageiro e colocou sua mala dentro. — Não é longe, senhora. Eu dirijo muito bem.

Isabel balançou a cabeça. Ela não conseguiria explicar que o problema não era como ele dirigia, não sem começar uma conversa que nenhum dos dois iria entender.

Por fim, fez o que ele pediu e entrou na limusine. Se encolheu quando sua saia deixou suas coxas expostas ao calor do assento de couro.

Fora do aeroporto, a estrada serpenteava ao longo do mar. O carro pesadão era surpreendentemente confortável. Ainda bem, pois em alguns pontos a estrada era acidentada. Já era quase noite, mas o calor ainda estava forte e o carro antigo não tinha nenhum aparelho para controlar a umidade.

— É muito longe? — ela perguntou enquanto passavam por um pequeno povoado, em que casas coloridas cobertas com telhas agrupavam-se em torno de uma praça. Crianças descalças e cachorros magros interromperam o que faziam para olhar a limusine passar, e Isabel se perguntou se Anita Silveira apreciava a superioridade que o carro lhe conferia.

Não é muito longe — Mano respondeu. Seus olhos escuros cruzaram com os dela no espelho retrovisor. — Não é longe, senhora. Relaxe, sim!

Isabel não se sentia muito relaxada. Ainda se recuperava do longo voo, e até tio Sam ficara surpreso quando ela lhe telefonou na noite anterior para contar que tinha que ir para Porto Verde. A perspectiva de passar vários dias na casa de uma desconhecida não parecia atraente, e ela quase desejou não ter aceito a tarefa e estar segura em casa com sua filhinha.

Notou que acontecia um óbvio desenvolvimento no litoral. Imaginou que se tivesse adiado a viagem por alguns meses, já haveria um hotel em que poderia ficar. Todavia, ela também era uma estranha para a sra. Silveira, e ela fora muito gentil em oferecer sua hospitalidade. Devia parar de se lamentar e aguardar para conhecê-la.

E então um muro de árvores floridas em um dos lados da rua deu lugar a um portão de ferro. A entrada era coberta por uma pequena cúpula e, para além dela, um caminho de cascalho se curvava abruptamente e ficava fora de vista. Mano passou com o carro pelo portão com mais entusiasmo do que mostrara até então e acelerou em direção ao alto do caminho.

Isabel viu um gramado bem cuidado à direita e à esquerda, antes que uma cortina de árvores de folhas vermelhas revelasse as colunas que circundavam a casa. Janelas em arco no andar superior davam uma aparência graciosa à residência. Arbustos cheios de flores contornavam o pátio, onde uma fonte de pedra despejava água em um tanque cheio de orquídeas.

As colunas eram sombreadas, seria um local ideal para passear nas tardes quentes. Degraus baixos levavam ao pátio onde Mano estacionara o carro.

Quando chegaram, dois homens vestidos de modo parecido com o de Mano, mas mais jovens, desceram os degraus. Um deles abriu a porta para Isabel, enquanto o outro foi pegar a mala no bagageiro.

Isabel não estava habituada a esse tipo de tratamento, mas era evidente que Anita Silveira vivia com estilo, mesmo em sua casa de praia. Ao descer do carro, percebeu como estava cansada e desejou ter ficado em um hotel para não ter que cumprimentar a anfitriã naquela mesma noite.

Então uma mulher apareceu na entrada da casa, Era alta, de proporções avantajadas e com cabelos lisos e escuros na altura dos ombros. Ela observava enquanto Mano supervisionava o desembarque da bagagem de Isabel, mas não fez nenhum movimento em direção a eles, e Isabel se perguntou quem seria.

Mano estava a seu lado e fez um gesto para que seguisse em frente.

— A senhora está esperando — disse, aflito. E Isabel se deu conta de que aquela deveria ser a anfitriã. Sem ter escolha a não ser subir os degraus, Isabel foi obrigada a continuar. E quanto mais se aproximava, mais percebia como aquela mulher era bonita, com as maçãs do rosto brilhantes, um nariz proeminente e os lábios carnudos.

Por um momento Isabel pensou que ela não a receberia, que entraria de volta na casa e deixaria Isabel cuidar de si mesma. Mas então, como se esse momento nunca tivesse existido, ela veio cumprimentá-la. Estendeu-lhe a mão com a segurança de uma rainha.

— Sra. Jameson? — perguntou como se pudesse haver alguma dúvida. — Seja bem-vinda à Villa Formosa, sra. Jameson. Sou Anita Silveira, é claro. Entre, por favor. Deve estar cansada da viagem.

Isabel suspirou aliviada. Temia que Anita esperasse que falasse português.

— Estou, bastante — admitiu ao acompanhá-la através das colunas até um hall de entrada. — Obrigada por me receber.

Anita fez um gesto despreocupado, como se não considerasse seu comentário digno de resposta. Isabel olhava em volta com interesse. Paredes escuras, piso de mosaico de pedras e móveis escuros iluminados por um lustre central. A luz natural que entrava por janelas no alto da parede iluminavam nichos esculpidos e estátuas de mármore.

O efeito era bastante intimidador, mas um vaso de orquídeas brancas sobre uma cômoda que ficava embaixo da escada circular dava um toque colorido. Portas em arco davam para cômodos com pesados móveis em carvalho e mogno. Tinha um certo ar barroco em tudo aquilo, bem diferente da casa de Ben Goodman no Rio.

Uma velha senhora entrou no hall, toda vestida de preto e com o cabelo grisalho preso por um coque austero. A governanta, Isabel deduziu, ao notar seu avental branco. Mais um dos empregados da senhora. Isabel se perguntou quantos ainda veria.

Depois de falar algo em voz baixa com a empregada, Anita olhou para Isabel de novo.

— Essa é Aparecida — apresentou-lhe de modo casual. — Aparecida cuida de mim e da casa, onde quer que eu esteja.

Ela sorriu. — Ela é a dona da casa. Se precisar de alguma coisa enquanto estiver aqui, por favor peça a ela.

Isabel esperava que Aparecida também lhe apertasse a mão, mas a velha senhora continuou a olhar para baixo.

— Aparecida vai lhe mostrar seu quarto —Anita acrescentou após outra conversa com a governanta. — Ela também vai providenciar algo para beber. Os homens vão levar sua bagagem. Obrigada.

Isabel estava grata pelo descanso. Teria oportunidade de se acostumar ao ambiente.

— O jantar é servido às 21h — Anita informou, caso Isabel pensasse que estaria livre à noite. — Chame um dos empregados quando estiver pronta. Eles lhe mostrarão onde é o terraço.

— Obrigada — Isabel disse mais uma vez.

Anita ergueu a mão em aceitação antes de desaparecer sob um arco à sua direita. Os saltos de madeira de suas sandálias ressoaram no chão até que o barulho de uma porta se fechando foi o último som a ser ouvido.

Depois do frescor do hall, o calor e a umidade eram intensos, e Isabel se perguntou onde Aparecida a levava. A uma casinha lá fora? Talvez empregados de qualquer tipo não ficassem no luxo da villa. Ela ficou um pouco desanimada. Só esperava que tivesse ar-condicionado. Suas roupas estavam emplastradas no corpo.

Na verdade, o quarto se abria para a varanda. Portas duplas davam para uma agradável sala de estar com um piso de madeira, sofás de couro e várias paisagens coloridas nas paredes. Havia uma lareira de mármore, embora Isabel não conseguisse imaginar a que poderia servir, e uma mesa redonda de vidro com quatro cadeiras. Tinha até uma televisão, algo que Isabel não esperara.

O quarto tinha um toque muito mais leve que o resto da villa, e Isabel virou-se para a governanta com um sorriso agradecido.

— É lindo — disse. — Obrigada, Aparecida. Tenho certeza de que vou ficar bem acomodada aqui.

O quarto é aqui —Aparecida falou enquanto atravessava a sala e abria a porta do quarto adjacente. Então, com um esforço evidente, perguntou:

— É bom?

— Muito bom. Humm, muito bom — Isabel respondeu na esperança de lhe arrancar um sorriso.

Mas Aparecida só concordou com a cabeça, como se a resposta já fosse esperada. Ela saiu do quarto enquanto os homens traziam a bagagem de Isabel e sua pasta com o laptop.

Ela agradeceu aos homens e pensava em ir tomar um banho quando uma empregada trouxe uma bandeja com bebidas. Chá gelado, café quente e uma jarra de suco de frutas, assim como pequenos sanduíches de frutos do mar e canapés de cream cheese e caviar.

Apesar de não estar com fome, Isabel não conseguiu resistir e teve que provar aquelas delícias. Como tudo na villa, eram abundantes e luxuosas. Ela podia se habituar com isso, pensou cora ironia. Ou talvez não. Naquele momento estava muito cansada para pensar direito.

Mas não para telefonar para seus tios e lhes avisar que checara a salvo. Também queria saber de Emma. Sentiu muita falta da filha quando partiu.

— Ela está bem — tia Olivia a assegurou. — Me ajudou a alimentar os cavalos e depois fomos passear com os cachorros. Está dormindo profundamente agora, deve estar sonhando com os filhotes no celeiro. — Ela deu uma gargalhada — Ela perguntou várias vezes onde você está e quando vai voltar.

Isabel ficou com um nó na garganta.

— Vocês vão cuidar dela, não vão? — disse com a voz embargada.

— Claro que vamos — seu tio Sam respondeu por sobre o ombro da esposa. —A propósito, como é o hotel?

— Oh, não estou no hotel. O homem que me pegou no aeroporto me falou que a sra. Silveira esperava que eu ficasse em sua villa, e aqui estou eu.

Sua tia estava um pouco preocupada por Isabel não estar em um hotel, onde eles poderiam entrar em contato com mais facilidade, mas seu tio não estava alarmado.

— E então, como é a Villa Formosa? — ele perguntou — Já teve oportunidade de conversar com Anita?

— Bem, eu a conheci — ela afirmou enquanto limpava as lágrimas causadas por ter falado da filha. — Ela parece... Bem agradável.

— Percebo uma certa reserva? — A voz do tio estava mais nítida agora, e ela adivinhou que ele tomara o telefone de sua esposa.

— Dificilmente — Isabel protestou. — Te digo quanto tiver tempo de conhecê-la. É melhor eu ir. O telefone precisa ser recarregado e não quero esgotar a bateria.

Ela desligou e tomou uma xícara de café e um sanduíche de frutos do mar. O chá parecia bom, mas ela precisava da energia da cafeína.

Alguns instantes depois, uma empregada entrou e perguntou num inglês falho se Isabel queria que desfizesse as malas. Mas, apesar da tentação, Isabel assegurou-lhe que poderia fazer sozinha.

Descansou um pouco depois do banho, na cama King size que era tão confortável quanto previra. Mas agora estava muito agitada para dormir. O que era bom, já que ainda tinha que desfazer as malas e decidir o que vestiria no jantar.

Um minuto depois se levantou e foi para a sala de estar. As cortinas estavam abertas e ela foi olhar pela janela. Acendeu as luzes ao atravessar a sala. Já estava escuro, mas os terrenos da vila estavam iluminados. O brilho de água indicava que havia uma piscina, mas estava muito escuro para poder ter certeza.

Foi quando uma sombra atravessou a varanda lá fora. Era um homem, ela estava certa disso. A espiava? Ela olhou assustada na direção das portas duplas. Meu Deus, ela nem mesmo as trancara antes de entrar no banho.

Pensou em abrir a porta e olhar lá fora, mas parecia insensato. Além disso, quando uma das palmeiras balançou com o vento, ela ficou em dúvida se não foi isso que viu antes. Estava nervosa, pensou, ansiosa por sua filha e com a entrevista iminente. Assim que tivesse uma boa noite de sono, veria tudo com outros olhos.

De volta ao quarto, guardou com rapidez suas roupas íntimas nas prateleiras do armário. As poucas blusas e vestidos que levara mal ocupavam o cabideiro. Colocou os shorts e as camisetas dobradas nas gavetas da penteadeira, enquanto o pouco de maquiagem que levou parecia perdido na prateleira de vidro.

Após várias tentativas, Isabel decidiu colocar um vestido preto de alcinha. Era formal sem ser muito tradicional, e era mais fresco do que uma blusa com mangas. As sandálias, também pretas, a tornaram mais alta e mais confiante. Mas olhar para os quilos a mais que ganhara desde que Emma nasceu não era algo que desse autoconfiança.

A empregada veio tão rápido quando ela chamou que fez com que pensasse que a garota estivera o tempo todo esperando ali fora. Talvez tenha sido quem ela viu mais cedo, pensou. Não linha certeza de que fosse um homem, ou de que fosse alguém, para ser exata.

Ao botar os pés lá fora, Isabel ficou feliz por ter colocado o vestido de seda, mas a brisa que vinha do oceano era ótima. Era a primeira vez que percebia o cheiro do mar.

Mais uma vez, entraram na casa principal, atravessaram o hall e uma das salas impecáveis que Isabel vira na chegada. Ao lado da sala, um terraço de paredes de vidro funcionava como sala de estar. E foi ali que ela encontrou Anita Silveira, reclinada em uma espreguiçadeira acolchoada.

Ela ficou de pé ao ver Isabel chegar, entretanto, seu olhar crítico fez com que Isabel se sentisse inadequada. Anita estava vestida com um vestido largo colorido, cujo decote pronunciado na cintura alta acentuava sua silhueta voluptuosa.

— Ah, sra. Jameson — ela falou enquanto colocava o coquetel sobre a mesa e olhava para sua convidada com cautela. - Como está encantadora. Tão inglesa, não?

Isabel não diria isso, mas supôs que em comparação com o visual colorido de Anita, ela parecia monótona.

— Vou considerar isso um elogio — disse na tentativa de fazer piada. Olhou em volta. Notou um garçom parado próximo a um minibar no canto. — É agradável. Menos formal que...

— Acha minha casa formal, sra. Jameson? — Anita antecipou-se a ela.

E Isabel decidiu que deveria pensar melhor antes de falar.

— Humm, tradicional — disse por fim. — Me faz lembrar algumas casas que vi em Portugal. — Umedeceu os lábios e continuou. — Na verdade, a senhora tem uma bela casa.

Anita pareceu tranquilizar-se, e como se houvesse decidido que não valia a pena continuar o assunto, disse:

— Deixe que Rui sirva-lhe uma bebida, senhora. O que vai querer? Vinho? Ou coquetel?

— Vinho branco, por favor — Isabel pediu. A última coisa que precisava era de algo muito alcoólico para confundir seu cérebro já cansado.

Muito bem. — Anita estalou os dedos. — Vinho para a senhora, Rui, por favor.

Sim, senhora.

Rui entrou em ação e um minuto depois Isabel estava com uma taça em sua mão.

— Obrigada — disse enquanto ele retomava sua posição ao lado do bar. — Está ótimo.

Rui fez uma reverência com a cabeça e logo depois Isabel ouviu passos na sala ao lado. Eram passos lentos e irregulares, mas Anita virou-se em direção à porta com evidente satisfação.

— Ah, meu genro está aqui — ela explicou. Isabel ficou surpresa. Não sabia que sua filha era casada. —Venha cumprimentar nossa convidada, Alex. Estávamos esperando por você.

Isabel suspirou. Se perguntara se Anita pretendia começar a entrevista naquela noite e agora, ao ver que não, não sabia se ficava feliz ou triste. Apesar da hospitalidade com que fora recebida, não podia negar que ficaria feliz quando aquele trabalho terminasse. E conhecer membros da família de Anita não fazia parte do acordo.

E então suas pernas fraquejaram. O homem que se juntou a elas a olhava de modo irônico e calmo. Anita podia conhecê-lo como Alex, mas Isabel o conhecia como Alexandre. Fazia três anos e só Deus sabe quantos mil quilômetros desde a última vez em que se viram, mas o homem que entrou no terraço era sem dúvida o pai de sua filha.


CAPÍTULO SEIS

 

 

Isabel queria muito se sentar, mas não conseguiria. Não sem chamar atenção para sua expressão chocada, e essa era a última coisa que queria. Em vez disso, teve que ficar de pé ali com um sorriso estúpido congelado nos lábios, enquanto Alexandre ia até Anita.

Ela percebeu que ele arrastava uma perna, e quando ele se inclinou para dar um beijo em cada bochecha de Anita, ficou assustada ao ver a cicatriz que ia da sua sobrancelha direita até a boca.

Se Alexandre percebeu seu sobressalto, não deu nenhum sinal disso ao cumprimentar a sogra.

— Olá — ele disse com a voz perturbadora que Isabel conhecia. —Vejo que nossa convidada chegou.

Nossa convidada?

Isabel deu um suspiro. O que diria agora? Devia mencionar que já se conheciam? Em circunstâncias normais não teria hesitado. Mas sabia que não era uma circunstância normal. Havia Emma a ser levada em conta. Será que ele sabia sobre o bebê?

Aquela era só uma terrível coincidência, tão inesperada para ele quanto para ela?

Anita falava algo, e Isabel lutou para entender o que ela dizia.

Sim, essa é a sra. Jameson — ouviu-a dizer. — Quero que conheça meu genro, sra. Jameson... Alex Cabral. Ele vai jantar conosco.

Antes que Isabel pudesse dizer algo, Alexandre estendeu-lhe a mão.

Bem-vinda ao Brasil, sra. Jameson — ele disse. Ela entendeu que ele a desejava boas-vindas, pois lera aquela expressão em seu guia de conversação. — É um prazer conhecê-la, senhora.

Ficou óbvio que ele não tinha intenção de demonstrar que já a conhecia. Esperava conseguir ser tão blasé[6] em relação àquela situação quanto ele. A menos que não lembrasse dela, claro. Ela poderia estar iludida ao achar que a relação deles fora memorável. Talvez ele tenha dormido com várias garotas inglesas em suas viagens a Londres. Lembrar-se de sua reação depois que fizeram amor não a encorajava a acreditar que tivesse tido alguma importância.

E, pelo jeito, ele voltou para o Brasil e se casou logo. Seus dedos se apertaram mais em volta da taça. Então não foi nada memorável. Mas era mais um dado para o artigo que ia escrever, lembrou a si mesma. Embora soubesse que a filha de Anita tinha morrido aos 20 anos, tinha quase certeza de que seu tio nunca mencionara que era casada.

Contudo, Alexandre havia mudado. Parecia muito mais velho do que lembrava, mas perder a esposa deve ter contribuído para isso.

Ela sentiu um aperto no coração, mas ignorou e se concentrou em observá-lo. Algo causara aqueles fios brancos em seu cabelo preto e aquelas linhas profundas em volta dos olhos e da boca.

Mas ele ainda possuía o mesmo magnetismo que uma vez a atraíra para ele. Até mesmo a feia cicatriz acrescentou força a seu rosto, que sempre fora sensual e masculino.

Não era só sua aparência que fazia sua pulsação aumentar. Era a consciência de que, se não tomasse cuidado, seu poder penetrante poderia vencer sua resistência outra vez.

Será que ele percebia isso? Ao olhar para aqueles olhos, não tinha como saber. Seu rosto era determinado, perspicaz, mas também enigmático. Não conseguia nem imaginar o que ele pensava naquele momento. O leve sorriso que curvava os cantos de sua boca era perturbador. Ela suspeitou que ele se divertia... Mas à custa dela ou de Anita?

Com um esforço disse:

— Como vai, senhor? — Tentou não se retrair quando aqueles dedos se fecharam em torno de sua mão. Mas não pôde evitar um recuo instintivo causado pelo calor que subiu por seu braço quando a palma da mão dele pressionou de modo breve e íntimo a sua.

Oh, não, ela pensou, ao cruzarem os olhos de novo e perceber o desprezo que ele demonstrou por sua reação. Ele pensou que ela sentia repulsa por sua aparência. Deus, ele não podia estar mais enganado!

E parecia que Anita não estava indiferente à batalha silenciosa que se travava entre o genro e sua convidada. Interviu ao dizer:

— Seu tio deve ter contado que minha filha, Miranda, morreu há pouco mais de um ano. — Voltou os olhos para seu genro e passou um dos braços em volta dele. — Desde então, Alex e eu ficamos muito próximos. Não é, querido! Sobrevivemos juntos a essa perda.

Isabel arregalou os olhos. Não se dera conta de que fazia tão pouco tempo que a filha de Anita morrera. Tudo acontecera rápido por ali, ela pensou. Tentava não se sentir amargurada.

Se perguntava durante quanto tempo Miranda e Alexandre foram casados antes de... O quê? Um acidente os separou? Já seria casado quando esteve em Londres?

É claro — Alexandre disse. Se ele se opunha à possessividade de Anita, não demonstrou. Então, se dirigiu à Isabel de novo, e com a voz bem mais tranquila. — Eu soube que também tem uma filha, sra. Jameson. É uma pena que não a tenha trazido.

De repente Isabel teve a sensação de que a sala refrigerada tinha ficado sem ar. Não conseguia respirar e teve certeza de que seu rosto perdeu totalmente a cor. Ele sabia, pensou, ele sabia sobre Emma. Mas o que ele sabia? Que era filha dele? Mas como descobrira?

— Eu... Eu... —As palavras não saíam. Se deu conta de que ele não ficara surpreso em vê-la. Ela ficara tão perplexa que não percebera o aspecto mais importante daquele encontro. Ele sabia que ela viria. E por alguma razão não tentou impedi-la. Por quê? Queria vê-la de novo? A menos que Emma fosse o motivo.



  

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