Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





Título original: SPANISH MAGNATE, RED-HOT REVENGE 2 страница



— Procura pela sra. Jameson? — ela perguntou. E Alexandre, que não estava acostumado que falassem com ele daquela maneira, sentiu um arrepio. — Ela não está. — Ela prosseguiu com espalhafato, sem se preocupar se estaria sendo mal-educada. — Ela saiu logo cedo, mas não imagino como vá conseguir trabalhar o dia inteiro, já que nenhum de nós dormiu ontem à noite.

— Ah. —Alexandre começava a entender sua reação.

— Você estava na festa? — ela perguntou para em seguida responder por si própria. — Não, suponho que não, se estivesse não acharia que ela já estaria de pé tão cedo.

Alexandre não se incomodou em corrigi-la.

— Disse sra. Jameson? Eu pensei que a moça fosse divorciada, não?

Ela o olhou desconfiada, como se tivesse acabado de perceber que ele não era inglês, mas respondeu assim mesmo.

— Ela é. — confirmou. — Pelo menos foi o que disse ao proprietário quando se mudou.

— Entendo. — Alexandre não deixou transparecer seu alívio. — Muito, bem, talvez volte mais tarde, quando a sra. Jameson estiver em casa.

Ela franziu os olhos por detrás das grossas lentes do óculos.

— Você é amigo dela? — perguntou. Mais uma vez ele teve que reprimir sua impaciência. Ela franziu os lábios. — Quem devo dizer que esteve aqui?

Alexandre tinha quase certeza de que a pergunta era só por curiosidade, e teve vontade de não responder. Mas a última coisa que queria era que Isabel pensasse que ele andara bisbilhotando.

— Meu nome é Cabral — E depois perguntou: — Obrigado por sua atenção, sra... Srta..?

— Lytton-Smythe — ela respondeu sem titubear. Fez uma pausa e depois se atreveu a perguntar:

— Você também trabalha pro tio dela? Alexandre hesitou.

— Tio? — ele repetiu sem querer.

— Samuel Armstrong. Ele publica revistas ou algo parecido. A sra. Jameson está sempre atarefada entrevistando gente famosa e escrevendo artigos para ele.

— É? —Alexandre estava impressionado.

— Sim — respondeu com relutância, como se estivesse arrependida de ter sido tão franca. — Suponho que ela deva ser muito inteligente, apesar de só trabalhar para o tio.

Alexandre duvidou que aquilo fosse um elogio, mas de qualquer modo estava grato pela informação. Pelo menos tinha uma outra opção de contato para pegar sua jaqueta de volta. Mas isso não alterava o fato de querer ver Isabel de novo.

Isabel estava exausta quando voltou para casa. Conseguira terminar o artigo sobre o maquiador depois que a festa acabou, mas só umas duas horas depois de Alexandre sair ela acompanhou o último convidado até a porta. Júlia fora embora cerca de uma hora e meia antes aos risinhos com seu acompanhante barbudo, e sem demonstrar remorso por deixá-la limpar tudo sozinha.

Por isso, quando Isabel chegou em casa naquela tarde, ainda leve que arrumar a bagunça. Despejou os restos de comida no triturador da pia antes de ir dormir, mas estava muito cansada para arrumar o que ainda faltava.

A primeira coisa que fez ao chegar em casa foi abrir as janelas. O cheiro de cigarro e de cerveja estava nojento e ela se debruçou por um momento no parapeito para respirar ar fresco.

O chão estava cheio de marcas de sapato e o braço de uma das poltronas estava com uma queimadura de cigarro. Mas não houve nenhum dano irremediável. Poderia ter sido muito pior, consolou a si própria.

De qualquer modo, levou pelo menos meia hora para catar todas as latinhas e garrafas vazias e colocá-las no saco de lixo. Só então decidiu que merecia um café fresco.

Levou sua xícara para a sala de estar e deu uma última olhada crítica ao redor. O piso precisava ser encerado e os tapetes aspirados, mas o pior já tinha sido feito. Por enquanto, só queria sentar-se no sofá e fechar os olhos. A verdade era que não estava acostumada com essas noitadas.

Quando a campainha tocou ela pensou em ignorar. Suspeitou que poderia ser a sra. Lytton-Smythe para reclamar de novo sobre o incômodo da noite anterior. Isabel já pedira desculpas aos dois médicos do andar de baixo, que encontrou quando saíam para o trabalho. Por sorte, eles foram compreensivos, mas a vizinha do lado era outra história.

Colocou a xícara na mesinha ao lado do sofá e levantou-se, cansada. Tirara os sapatos ao entrar e não se importou em procurá-los. Foi abrir a porta descalça.

Não era a sra. Lytton-Smythe.

Mas não teve nenhuma dificuldade em identificar o homem que estava em pé do lado de fora com o ombro apoiado na parede. Ele ainda era alto, moreno e lindo como ela lembrava, mesmo com a barba por fazer. Um calafrio percorreu sua espinha.

— Oh — ela disse, momentaneamente perturbada pela aparência dele. Seu coração disparou e ela levou uma das mãos ao peito para tentar controlar suas emoções. — Olá.

Olá — ele a cumprimentou afetuoso. Sua voz era sombria e sensual, com aquele sotaque que fazia com que tudo que dizia parecesse uma carícia. — Estou incomodando? — perguntou ao ver que ela parecia confusa.

Completamente, Isabel pensou ao dar um suspiro para aliviar o nó na garganta.

— Humm... Não. Na verdade, acabei de chegar. — Ela olhou para a sala bagunçada atrás de si. Não podia convidá-lo para entrar. Não podia mesmo. — Quer entrar?

Alexandre duvidava que ela apreciaria o que ele estava sentindo naquele momento. Entrar no apartamento dela tinha um certo atrativo, mas pegá-la pelos ombros, grudar aquela boca provocante na sua, apertá-la contra seu corpo excitado e fazê-la sentir a reação que ele era incapaz de controlar era muito mais tentador.

Ele balançou a cabeça. Não era para acontecer aquilo. Tudo bem, ele se sentira atraído por ela na noite anterior, mas não pretendia prosseguir com isso. Ele quis vê-la de novo, sim, mas não sentir essa necessidade incontrolável de tocá-la. Pelo amor de Deus, o que tinha de errado com ele? Sua família ficaria horrorizada se visse o que estava fazendo.

Isabel, entretanto, levou aquela sacudida de cabeça ao pé da letra.

— Tudo bem, então — disse em um modo um pouco brusco. Tinha confundido tudo. — Em que posso ajudar?

Não! — Alexandre não pôde se controlar. Ergueu as mãos para se desculpar. — Não foi isso que quis dizer, isto é, gostaria muito de entrar.

— Oh! — Ela estava desconcertada, mas era muito bem-educada para recusar. — Tudo bem. — Chegou para o lado para deixá-lo passar e com a mão trêmula indicou a direção da sala.

— Estou certa de que lembra o caminho.

Alexandre passou para o hall, que de imediato pareceu ficar ainda menor em comparação com seu tamanho. O que deu nela para fazer isso, Isabel se perguntava. Depois do que acontecera na noite anterior, só podia estar maluca. Naquele hall estreito, ela ficava ainda mais ciente de sua presença. Além de seu tamanho, que era intimidante, sua masculinidade também era perturbadora.

Quando ele a olhou, Isabel perdeu o ar. O que ele iria fazer? Mas então, ele disse em português:

— Você primeiro. — As palavras soavam muito sensuais. - Você primeiro — repetiu em inglês.

E ela percebeu que sua imaginação acabaria por liquidar com todo seu bom senso.

De algum modo encontrou forças para fechar a porta e conduzi-lo até a sala. Mas o estado em que o apartamento se encontrava era a última de suas preocupações naquele momento. Sabia que ele a observava e desejou estar vestindo algo mais feminino que uma t-shirt curta preta e jeans.

Como aquilo tudo era patético...

— Então... — ela disse quando ele se deteve à entrada. Olhava-o com nítido interesse. — Como pode ver, ainda não tive tempo de consertar os estragos.

Alexandre deu de ombros. Vestia um black jeans e um casaco de lã verde-escuro com o logotipo de algum time de futebol na frente.

— Eu não vim examinar o apartamento — ele respondeu. Seus olhos dourados pairavam sobre a boca de Isabel. Ele ergueu as sobrancelhas. — Você parece cansada, pequena. Não dormiu?

— Ah, obrigada — disse sarcástica. — Isso faz tão bem para o meu ego...

Alexandre contraiu os lábios.

— Não foi uma crítica — ele disse enquanto se aproximava dela. E antes que ela pudesse se afastar, ele levantou a mão e colocou o dedo no círculo roxo sob seu olho. Ela piscava de nervosismo, aflita com a intimidade de seu toque. Ele sorriu.

— Relaxa, pequena. É culpa minha se até a sua vizinha... Sra. Smith...?

— Lytton-Smythe — Isabel o corrigiu meio sem fôlego.

Sim... A boa sra. Smith — ele ignorou sua intervenção e continuou. — Ela reclamou que ninguém conseguiu dormir, não?

Isabel não pôde deixar de sorrir por ele mudar de propósito o nome da velha senhora.

— Como sabe o nome de minha vizinha? — perguntou, recuando a uma distância segura. — Ela falou com você agora?

— Hoje de manhã — Alexandre corrigiu. E para seu alívio, ele voltou a olhar ao redor. — É uma linda sala. — Ele calou-se e mais uma vez seus olhos se fixaram em seu rosto ansioso.

— Seu marido... Ex-marido... Deve ter lamentado ter que sair.

— Ele nunca morou aqui — Isabel respondeu depressa. Nós morávamos... Em outro lugar.

— Não quer me dizer onde era? — Alexandre foi astuto em perguntar. Isabel suspirou. — Acho que a lembrança ainda é dolorosa, não?

— Não mais. — Isabel pôde responder com certeza. Algumas vezes ela achava que seu orgulho fora muito mais ferido que suas emoções.

— Houve outra mulher?

Ele era persistente e Isabel se retraiu por causa das lembranças que suas palavras evocaram.

— Não — disse de modo lacônico. — Olha, podemos mudar de assunto? Isso tudo aconteceu há muito tempo.

Alexandre andou em sua direção e, dessa vez, quando ela recuou sentiu a parede fria atrás de si.

— E então... — ele falou em um modo um pouco rude. — Você ainda vê esse homem?

— Que homem? — Isabel o olhou sem entender.

— Se não havia nenhuma mulher, devia haver um outro homem — ele explicou de modo áspero enquanto levantava uma das mãos para apoiá-la na parede, atrás de sua cabeça.

— Eu quero saber se você ainda... Como é que se diz aqui... Está com ele.

— Não — Isabel ergueu uma das mãos, como que para afastá-lo. — Isso é... Verdade, sim. Havia outro homem. Agora será que podemos falar de outra coisa?

— Você não me respondeu — ele insistiu. Seus curiosos olhos felinos a inquiriam com uma intensidade severa. — Onde está o homem que te persuadiu a pôr um fim em seu casamento?

— Que me persuadiu? — Ela não poderia permitir que ele descobrisse que ela fora a responsável pelo rompimento — Eu não estava com outro homem. David, meu marido, estava. Mas isso aconteceu há muito tempo. Gostaria que esquecesse tudo.

A reação de Alexandre ao saber que outro homem a magoara dessa maneira foi incrível. Ele queria achar esse homem e dar-lhe a surra que merecia.

Mesmo se a relação dela com o ex-marido não tinha nada a ver com ele, recordou a si mesmo. Eles mal se conheciam. Ele tinha o direito de se importar.                 

Mas se importava.

Ao olhar para seu rosto envergonhado quis muito beijá-la. Mas a lembrança do calor sensual que sua boca provocara na noite anterior, e da falta de controle em que ficou, o detiveram.

Mesmo assim, não pôde refrear sua vontade de tocá-la e ergueu uma das mãos para passar um dedo em seu rosto. Sentiu que ela ficou tensa com aquele toque, e também percebeu uma pulsação irregular sob sua orelha. Ele queria sentir a origem daquela palpitação, colocar a mão sob o tecido da blusa e acariciar-lhe os seios.

— Por favor... — Foi como se ela tivesse percebido sua intenção e quisesse desviá-la. — Não sei por que veio aqui, sr. Cabral, mas acho que deveria ir embora.

—Não está falando sério. —Apesar da óbvia expulsão, ele não se incomodou. — Estamos só começando a nos conhecer, não?

— Então por que não se senta um pouco? — disse num impulso. Tinha que fazê-lo ficar longe dela. — Quer um café ou uma bebida gelada?

— Não quero beber nada — respondeu com certa impaciência. Esforçou-se para resistir à vontade de mostrar o que queria. Colocou a mão em seus ombros. Seus dedos invadiram a gola de sua blusa e passaram de leve sobre os ossos que encontrou sob o tecido. — Você é tão contraditória, querida. Disse que se casou e se divorciou, não Admite que seu marido a enganou e, ainda assim, parece não se alterar. — Ele torceu a boca. — Que tipo de mulher é você?

Naquele momento, uma mulher desesperada, Isabel pensou. Ele achava que ela parecia impassível. Ela deu um suspiro. Bem, talvez fosse mesmo. Nas raras ocasiões em que David fez sexo com ela, teve que esconder que não sentia nada. Com certeza nada parecido com o que sentia naquele instante. Teria sido por isso que nunca suspeitou que David tinha um caso? Que até se divorciar nunca soubera da verdade?

Mas Alexandre esperava pela resposta e ela conseguiu dizer:

— Uma mulher muito confusa, receio. — Ela mordeu os lábios. — Tenho certeza de que é muito mais experiente que eu, sr. Cabral. É isso que quer provar?

Não! — Alexandre parecia contrariado. — Eu queria te ver de novo, Isabel. Isso é tão difícil de acreditar?

— Na verdade, é — ela confirmou, ansiosa por mantê-lo falando. — Não sou o tipo de mulher com que passa seu tempo, tenho certeza.

Alexandre cerrou a boca. Tinha que admitir que ela estava certa. No entanto, ela o intrigava, e isso era novo para ele.

Acompanhou com os olhos o movimento de seus seios ao respirar e sentiu de imediato um volume sob o jeans. Seus seios eram empinados e redondos e irrompiam contra o tecido de sua blusa. Estaria excitada ou apreensiva? Era por isso que o repelia?

— Eu assusto você? — ele perguntou de repente, sem saber de onde viera aquela pergunta.

Ela arregalou os olhos com a insinuação.

— Não — negou com veemência. — Mas ainda quero saber por que veio aqui. Ontem à noite eu lhe disse que não estava interessada em... em..

— Sexo casual — ele a interrompeu. Inclinou a cabeça e sussurrou em seu ouvido: — E eu disse que era o que queria? — Esboçou um sorriso. — Ah. sra. Jameson, receio que esteja obcecada com isso.

Isabel decidiu que já era o bastante. Ele podia estar certo sobre ela ser contraditória, mas não podia saber o quanto era inexperiente sexualmente.

Ergueu as duas mãos e empurrou seu peito, o que o fez perder o equilíbrio. Ela então mergulhou para trás do sofá.

Mas não foi rápida o suficiente.

Ele a pegou pela cintura e a catapultou de volta até ele. O recuo involuntário a fez cair sobre seu peito, com seus seios esmagados entre eles.

 E não só os seios, ela se deu conta, ao sentir a súbita pressão de sua pélvis contra a dele. E também de sua impressionante ereção que pulsava contra sua barriga.

Mas isso tudo acontecia sem que tivesse muita consciência. Sua atenção estava voltada para o fogo em seus olhos. Um fogo devastador que se espalhava por todo seu corpo. A sensação era de estar sendo consumida, corpo e alma.

Querida... — a palavra em português escapou dos lábios de Alexandre. Segurou-a pela nuca e virou seu rosto para ele.

— Não me diga que não quer um beijo. Quer tanto quanto eu. E então sua boca colou-se à dela em um beijo que a deixou sem fôlego. Ela lhe oferecia sua boca entreaberta enquanto ele lhe acariciava os cabelos. Um desejo quente e eletrizante dominou seus sentidos. Era como uma chama que percorria suas veias. A língua dele forçava passagem entre seus dentes para possuir sua boca.

Os sentidos de Alexandre transbordavam. Não era para acontecer, ele dizia para si mesmo. Mas seu cheiro, seu gosto e sua pele o faziam apertá-la ainda mais em seus braços.

A mão dele percorreu suas costas até embaixo para erguer seu quadril e puxá-la ainda mais contra si. Quase contra sua vontade, ele se rendeu a um desejo maior que suas forças.

E então a campainha tocou...

Droga!—Alexandre vociferou irritado. Enterrou seu rosto na boca de Isabel. Sua barba por fazer arranhava a pele dela.

— Não saia daqui — ele resmungou, sem se importar com a interrupção. — Por favor, Isabel, não vá ver quem é.

— Tenho que ver. — Isabel já tinha se esgueirado dele. Endireitou a blusa e com a mão trêmula jogou o cabelo despenteado para trás. Sua voz também estava trêmula, mas determinada. Gostasse ou não, ia abrir a porta.

 

 


CAPÍTULO TRÊS

 

 

—E então, como foi a festa?

Era a manhã seguinte quando o telefone tocou. Isabel tinha alguma expectativa de que fosse Alexandre. Mas não muita, para ser honesta, já que ele não tinha seu número de telefone. Mas ela encontrara a jaqueta de couro depois de ele ir embora no dia anterior e, embora suspeitasse que esse fosse o verdadeiro motivo de ele ter ido até ali, queria com todas as suas forças vê-lo de novo.

Mas era sua tia Olívia.

Os tios de Isabel ficaram com sua guarda quando seus pais morreram em um acidente de esqui, na Áustria, quando ela estava com 5 anos. E ela os amava como se fossem seus pais.

— Humm, foi boa — disse em um tom despreocupado. Mas Olívia percebeu a falta de entusiasmo em sua voz.

— Eu te avisei, Bela — disse com pesar. —As pessoas com as quais Júlia sai não são como você. O que aconteceu? Levaram drogas?

 — Não! — Pelo menos esperava que não, Isabel corrigiu a si mesma. — Não, só foi até muito tarde, é isso.

 — Humm. — Sua tia não parecia muito convencida. — Bem, agora já está feito. E pelo que você diz, acho que não causaram nenhum estrago.

 — Não. Nenhum estrago — Isabel concordou, estava se perguntando o que sua tia diria se lhe contasse o que quase acontecera na tarde anterior. Se não fosse pela sra. Lytton-Smythe...

— Quando vamos te ver? — Isabel forçou seus pensamentos a se voltarem para o que sua tia dizia. — Faz muito tempo que você não passa um final de semana em Villiers.

Seus tios tinham uma pequena propriedade em Wiltshire. Seu tio, que era dono de uma cadeia de revistas, viajava para Londres aproximadamente duas vezes por semana para conferir o trabalho de seus editores, enquanto sua tia criava cavalos e cachorros da raça Golden retriever[3].

Villiers foi onde Isabel morou até ir para a universidade em Warwick e conhecer David Taylor, com quem se casou assim que se formou.

— É porque tio Sam me mantém ocupada — ela respondeu, feliz por falar de seu trabalho. Ela gostava de entrevistar as pessoas. Apesar de não ser o que desejava fazer quando escolheu aquela profissão, apreciava a confiança que seu tio depositava nela.

Quando entrou para a universidade, queria se formar em jornalismo e então tentar trabalhar em algum jornal diário. Via-se como uma futura correspondente de guerra que enviaria notícias sobre campos de batalha do mundo inteiro.

Mas conhecer David, que foi um de seus professores, fez com que tudo mudasse. Ela instalou-se com ele em Leamington Spa e se convenceu de que seria feliz em seu trabalho de assistente de pesquisa, até terem sua própria família.

Claro que isso não aconteceu. Em vez disso, dois anos após seu esplendoroso casamento, ela se sentia só e perdida. Depois encontrou um trabalho como jornalista, mas não era como imaginara.

Agora sua tia parecia impaciente.

— Então devo dizer ao Sam que pare de te dar todas essas tarefas — Olivia disse com firmeza. — Já era hora de você arrumar alguém para cuidar de você e sossegar.

— Já fiz isso uma vez. Não, muito obrigada! — Isabel exclamou.

Mesmo já sendo divorciada há seis anos, não tinha vontade de se envolver com ninguém. Gostava de sua vida, de sua independência. E só porque tinha sucumbido a um momento de loucura na tarde anterior...

— Tem certeza de que não conheceu ninguém? — Olivia insistiu.

Isabel deu um suspiro. Às vezes sua tia podia ser muito perspicaz. Mas a última coisa que queria era começar uma conversa sobre o sexo oposto, sobretudo quando seus pensamentos estavam tão caóticos.

— Ninguém. — Deixou-se afundar no sofá e esperava não ter parecido muito inflexível.— E... Como vão as coisas? Villette pariu o potrinho?

— Sabe de uma coisa... Suspeito que esteja tentando mudar de assunto, Bela, mas eu perdoo você. — O tom de Olívia era seco. — De qualquer modo, por que não vem nesse fim de semana? Os Aitken vão dar um jantar para comemorar os 21 anos de Lucinda e sei que adorariam que viesse.

Isabel mordeu os lábios. Além de ela e Lucinda não terem nada em comum, o irmão de Lucinda, Tony, estaria lá. E ela sabia que seus tios sempre tiveram esperanças de uni-la a ele.

— Posso responder depois, tia Olivia? — ela perguntou. Tentou não deixar transparecer sua relutância. — Talvez eu vá no domingo, tá? Só para a comemoração.

Olivia suspirou desapontada.

— Suponho que pedintes não possam escolher — disse desconsolada. — Por que não pensa melhor, querida? Me liga amanhã, tá? Ainda é quinta-feira. Pode ser que você consiga vir, no final das contas.

Isabel se sentiu mesquinha, mas não poderia ficar frente a frente com Tony naquele final de semana. Não poderia mesmo. Mas...

— Tudo bem — disse por fim. — Vou fazer isso.

— Que bom. — Olívia parecia estar muito mais alegre. — Sei que vai fazer o máximo, Bela. Ah, e para sua informação, Villette teve um lindo potrinho preto. Por enquanto demos a ele o nome de Rio, mas pode escolher outro nome quando o vir.

 

Rio! Será que não tinha como escapar das coisas brasileiras? Isabel sentiu um sorriso relutante surgir em seus lábios. - Estou ansiosa para vê-lo. — E, assim que desligou o telefone, percebeu que aquilo fora uma confissão tácita.

Alexandre fez uma careta ao ver que chovia quando saiu da reunião. E como era hora do rush, não tinha nenhum táxi livre.

Sugou uma lufada de ar frio e úmido, levantou a gola de sua jaqueta e rumou para a estação de metrô mais próxima. Podia ter conseguido um carro da empresa para trazê-lo, mas não sabia quanto tempo a reunião duraria e pensou que uma caminhada até o hotel seria bem agradável.

Mas não debaixo de chuva.

Mesmo assim, não estava acostumado com tanto sedentarismo. Em casa, no Brasil, ele caminhava, nadava e velejava com regularidade. E, quando queria se afastar da cidade, ia para a fazenda que sua família possuía na região norte do Estado do Rio de Janeiro. Muitas vezes ele preferia passar seus dias ali, em vez de trancafiado em alguma enfadonha sala de reuniões.

Mas, como filho mais velho, teve que assumir o controle da Cabral Leisure quando seu pai se aposentou. Roberto Cabral foi forçado a antecipar sua aposentadoria por conta de problemas cardíacos e contava com seus dois filhos para continuar o crescimento da empresa.

Sua careta ficou pior. Não estava com o melhor dos humores. Para ser honesto estava mal-humorado desde que saiu do apartamento de Isabel pela segunda vez com um sentimento de frustração.

Poderia ter voltado lá na mesma noite, mas seu orgulho não permitiu. Consolou-se com o pensamento de que as mulheres com que estava acostumado a se relacionar jamais convidariam um homem para ir a seu apartamento no primeiro encontro, pelo menos não a sós. Sobretudo depois do modo como ele se comportara no primeiro dia em que se viram. Mas ela convidou, e ele aceitou, e agora pagava um preço por isso.

Ele balançou a cabeça, impaciente consigo mesmo e com o clima. Ao descer os degraus da estação do metrô, endireitou a gola da jaqueta e passou a mão pelo cabelo molhado. Queria voltar o mais rápido possível para o Rio de Janeiro.

De volta para Miranda, ele pensou, embora tal perspectiva não o agradasse tanto. Ele gostava dela, claro que sim. Eles praticamente cresceram juntos, droga, mas a turma com que ela andava agora não era de seu agrado. Mesmo assim, os pais dela esperavam muito mais do que era só uma amizade. Eles aguardavam um anúncio de noivado, mas se desapontariam.

Ele se esforçou para se concentrar nas estações do painel informativo. Sim, havia Green Park na linha Piccadilly, a estação mais próxima de seu hotel. Mas se ele pegasse a Central Line, estaria só a algumas estações do apartamento de Isabel.

Por que não aproveitar aquela oportunidade de pegar sua jaqueta? Voltaria para casa dentro de alguns dias. Poderia ser a última chance de pegá-la.

Certo.

Ele acreditava mesmo que era esse o motivo de ir até lá? Ela já mostrara como se sentia em duas ocasiões. Estaria pronto para ser expulso de novo?

Escolheu comprar dois bilhetes. Decidiu que pegaria o trem que chegasse primeiro. Isso significou que meia hora depois subia as escadas do apartamento de Isabel, com a jaqueta ensopada e seus sapatos caros cheios de água.

Era melhor ela estar em casa, ele pensou com raiva ao tocar a campainha. Eram 17h30. O horário de trabalho já havia terminado. Ele só esperava que ela não tivesse combinado de sair para um drinque ou um jantar.

Pareceu demorar uma eternidade até que Isabel atendesse. Diferente da vez em que a sra. Lytton-Smythe tocou, lembrou irritado. Mas enfim ouviu a tranca ser aberta e a chave girar na fechadura. E então vislumbrou um vulto vestido de robe de linho que se protegia atrás da porta.

Era uma desculpa para sua demora, ele pensou, ao ver que acabara de sair do banho. Seu rosto estava corado e seu cabelo molhado caía despenteado sobre os ombros.

Pelo menos era o que conseguia ver. Ela não abria a porta nem um centímetro a mais.

Por alguns momentos, Isabel só conseguiu olhar para ele, muito constrangida com a própria aparência para poder dizer alguma coisa. Só estava consciente do fato de estar nua sob o roupão. Minúsculas gotas de água caíam de seu cabelo e escorriam por seu pescoço.



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.