Хелпикс

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Capítulo III 6 страница



Era delicioso estar de volta ao lar, entre coisas já familiares, e ela andou pelo apartamento examinando tudo com nova perspectiva. Não era um apartamento particularmente grande, contando apenas com uma sala, cozinha minúscula, quarto e banheiro pequenos, mas era o seu lar. Serviu-se de um cálice de xerez e afundou-se preguiçosamente no sofá, pegando o telefone.

— Estava pensando em você — disse Michael, felicíssimo de ouvir a voz dela. — Queria que você já estivesse aqui comigo. Vista o casaco de novoe venha já. Vou ligar para o Luigi's e pedir para mandarem o jantar.

— Querido, me dê um minuto para tomar fôlego — respondeu Melanie, esticando as pernas. — Cheguei não faz nem quinze minutos. Ainda nem tive tempo de tomar banho e me trocar. Nada.

— Não importa — insistiu ele, impaciente. — Quero ver você. Já percebeu que faz mais de uma semana que não nos vemos?

— Está bem. — Ela conteve um bocejo. — Vou tomar um banho e me trocar. Tenho de me recompor um pouco. Estou exausta.

— Ótimo — concordou Michael.

— E a gripe? Melhorou?

— Bastante. — Ele deu uma tossida e continuou: — Depressa, querida. Estou louco para vê-la.

Melanie desligou e ficou olhando o telefone durante alguns minutos. Michael estava soando bastante saudável e ela começou a suspeitar se seu retorno a Londres não teria sido planejado por ele e pela mãe. Sabia que a sra. Croxley estava louca para eles se casarem logo. Como Michael, ela também não tinha aprovado aquela viagem de Melanie para o norte.

Incapaz de resolver o problema, Melanie foi tomar banho. Mergulhou na água perfumada por sais, pensando que naquele momento já estaria se sentando à mesa para jantar no hotel de Cairnside. Desde que partira de lá tinha tirado decididamente da cabeça tudo o que se referia a Monkshood, o Hotel Black Bull, Jennifer e sobretudo Sean Bothwell. Mas agora que a viagem já terminara e podia relaxar, ficava difícil não se lembrar das coisas. Além disso, talvez esquecer não fosse a melhor coisa. As situações tendem a parecer mais graves do que são na verdade quando a gente se recusa a enfrentá-las.

E, afinal de contas, o que é que havia de tão grave para enfrentar? Tudo o que tinha acontecido fora resultado de um conjunto de circunstâncias pelas quais ninguém era diretamente responsável. Tinha de esquecer os sentimentos negativos que Sean tinha demonstrado por ela e pensar apenas nos aspectos positivos da visita. Assim que Monkshood estivesse de novo em condições de ser habitada, não havia por que manter qualquer envolvimento com Sean. Arranjaria alguém para cuidar da casa em sua ausência. Pagaria um bom salário. Aliás, os advogados podiam ajudá-la.

Decisão tomada, saiu da água perfumada e pegou a toalha amarela e macia para se enxugar.

Vestiu-se com esmero. Queria que Michael a visse bem bonita. Além disso, precisava recobrar um pouco da segurança que Sean Bothwell parecia abalar com tanta facilidade. Vestiu uma blusa branca de renda veneziana, saia preta fina e pesada, caindo mole até os tornozelos, um xale verde-escuro, de lã, com bordas de pele preta. Estava bonita e o motorista do táxi que tomou para ir ao apartamento de Michael cumprimentou-a, visivelmente admirado.

O apartamento dele ficava num prédio alto, perto do Embankment. Era um lugar luxuoso, grande demais para um homem solteiro, mas Melanie iria morar com ele assim que se casassem. Até então ele mantinha uma diarista que cuidava do trabalho doméstico. Michael só usava o apartamento à noite e pela manhã, antes de ir trabalhar. Melanie achava uma pena desperdiçar uma cozinha tão grande e bonita, mas tudo mudaria quando fosse morar lá.

Pegou o elevador até o sétimo andar e caminhou pelo corredor até a porta de Michael. Tocou a campanhia e depois de uma pequena pausa ele próprio abriu a porta.

Michael Croxley era alto e magro e tinha trinta e dois anos. Seu porte convencional era ainda mais enfatizado pela meticulosa atenção com que se vestia. Mandava fazer os ternos sob medida e todas as suas camisas eram feitas à mão. Nunca seguia as modas, mas conseguia manter sempre uma elegância discreta, escolhendo cada detalhe de acordo com a seriedade de sua profissão. O cabelo castanho tinha alguns fios prateados, dando-lhe um toque de distinção.

Melanie admirava-o muito. Tinham-se conhecido através do editor dos livros que ela ilustrava e já estavam juntos há três anos. Desde que ela tinha vinte e um. Estavam oficialmente noivos há apenas seis meses, mas Melanie soubera desde o início que ele tinha sérias intenções com ela. Na verdade, tudo naquele jovem era sério.

— Melanie! — exclamou ele, iluminando um pouco as feições sérias. — Querida! Como estou contente!

Melanie deixou que ele a puxasse para dentro, examinando-a com uma cara muito séria. Apesar de estar com o nariz um pouquinho vermelho de tanto usar o lenço, ele não parecia nem de longe o inválido que ela esperava encontrar. Sentiu-se um pouco irritada com aquilo.

— Como vai, Michael? — perguntou, enquanto despia o xale. — Parece muito melhor.

— E estou. Muito melhor! — Ele suspirou. — Aqueles antibióticos que o médico me deu fizeram um verdadeiro milagre. Nem imagina como passei mal nos últimos dias. Mas valeu a pena, se isso a trouxe de volta para mim. — Ele se aproximou e a beijou muito de leve nos lábios.

Melanie caminhou até a sala grande e confortável, controlando a vontade que estava sentindo de brigar com ele.

— Não vá me dizer que tudo isso foi uma história inventada só para me trazer de volta a Londres?

— É claro que não! — disse Michael, fechando a porta e entendendo perfeitamente a ironia que havia na voz dela. — Quando telefonei para você, estava me sentindo realmente mal. Nem sabia como é que ia me arrumar depois que mamãe fosse embora.

Melanie suspirou. Era inútil ficar tão impaciente só porque Michael tinha recorrido a ela numa hora de necessidade. Afinal, sua maior preocupação devia ser com ele, e não com uma casa velha encravada nas montanhas da Escócia. Tinha de parar de dar tanta importância a coisas materiais!

— Bem, não importa — disse, forçando um sorriso. — Não vai me oferecer um drinque? Eu gostaria muito.

Michael hesitou, olhando para ela intensamente. Quando Melanie já começava a sentir uma pontada de culpa, ele se afastou e foi até o bar servir as bebidas. Era como se ele pudesse sentir um vago descontentamento na atitude dela e Melanie se perguntava por que, de repente, aquela figura esguia, de traços bonitos, lhe parecia tão distante.

Irritada, afastou esses pensamentos com decisão e se afundou numa das poltronas estofadas de veludo azul que faziam a sala do apartamento de Michael parecer tão elegante e bonita. Ela não via defeitos no gosto dele para móveis e pretendia mudar muito pouca coisa quando se casassem.

— E então? — perguntou ele, entregando a ela um gim-tõnica. — Como foi?

— A Escócia? — Melanie perguntou depois de tomar um gole.

— Que mais podia ser? Você foi muito confusa nas explicações pelo telefone.

— É que é difícil falar dessas coisas pelo telefone — respondeu Melanie, apertando os lábios. — Nem tudo saiu tão... tão direitinho quanto eu esperava.

— O que quer dizer? Monkshood estava lá, não estava? — perguntou Michael, levantando as sobrancelhas finas.

— Claro, claro, estava lá em seu lugar. Simplesmente havia lá outro pretendente a herdeiro.

— Outro herdeiro? — Michael sentou-se na poltrona diante dela, jogando a perna por sobre o braço estofado de azul. — Pensei que o velho Cairney fosse um tipo solitário.

— E era... — Melanie estava achando terrivelmente difícil contar a Michael sobre Sean Bothwell. Sentia-se mal de ter de expor aquele relacionamento aos olhos agudos de Michael.

— Ah, vamos lá, conte! — exclamou, impaciente. — O que foi que aconteceu? Algum malandro?

— Não, nada disso. — Melanie tomou um gole.

— Talvez seja melhor começar do começo — disse Michael secamente, num tom oficial. — Parece-me que essa coisa toda a perturbou muito. Senti uma certa... uma certa reserva em você, assim que entrou aqui.

— Oh, Michael, pare de me tratar como se eu fosse um cliente. — Melanie mordeu o lábio. — Estou tentando explicar, mas é uma coisa tão particular.

— Particular? Para quem?

— Para Sean Bothwell!

— Sean Bothwell... — Michael pegou seus cigarros. — Quem é Sean Bothwell?

—  O homem que esperava herdar Monkshood.

— Sei. E ele... quem é?

— Dono do Black Bull. O hotel onde me hospedei.

— Sei — repetiu Michael, tentando compreender aqueles comentários desconexos que ela estava fazendo. — E ele também era algum parente do seu falecido tio-avô?

— É. — Melanie terminou a bebida. — Parente bem próximo. Na verdade, era filho dele.

— Filho?! — Michael se endireitou na cadeira. — O velho Angus tinha um filho? Velho danado. E não contou para ninguém. Então a casa pode não ser sua no final das contas? É isso? Mas por que os sobrenomes deles são diferentes?

— Michael, por favor. Está indo depressa demais. — Melanie se pôs em pé. — Eu estou tentando explicar. Monkshood é minha. Bothwell não

era filho legítimo.

— Meu Deus! Agora começo a entender!

— Ele achava que Angus não tinha parentes e o velho levou-o a pensar que a casa seria dele quando morresse. O testamento nunca entrou em discussão.

— Que situação! Pobre Bothwell! Como é que ele é? Você discutiu com ele?

— Discutimos, sim — concordou Melanie secamente. Foi até o bar servir-se de mais bebida, para que Michael não pudesse ver a expressão de seu rosto. — Ele... ele é jovem. Uma... uma personalidade muito forte!

— É mesmo? — Michael estava sério. — É casado?

— Não! Pelo menos, acho que não. — Estava preocupada, a mão tremia ao servir o drinque. Na verdade, não tinha nenhuma certeza sobre Bothwell.

Antes que Michael suspeitasse de sua demora no bar, voltou para a poltrona. Tomou um gole para esconder no copo sua expressão.

— E ele quer muito a casa? — Michael perguntou.

— Quer, sim.

— Sei. — Michael parecia aliviado, mas Melanie só entendeu por que quando ele continuou falando: — Acho bom. Honestamente, eu não vejo futuro para nós dois naquele lugar. Quer dizer, é longe demais para os fins de semana e nós dois trabalhamos aqui. Em Londres.

— Então você quer que eu venda? — Melanie arregalou os olhos.

— Claro. Você não quer?

— Francamente, não. Não quero.

— Mas por quê? Não é de nenhuma valia para você e esse sujeito parece ter certa prioridade. É o melhor que você tem a fazer!

— Não. Não é! — Melanie aprumou o corpo. — Olhe, Michael, ainda não tivemos tempo de conversar sobre essa casa, sobre os meus planos. Vamos esperar até depois do jantar e daí você me pergunta tudo o que quiser saber.

— Muito bem. — concordou Michael diante do sorriso de Melanie. — Não vejo por que discutirmos isso. Eu já tinha lhe dito antes mesmo de você viajar que era uma bobagem.

— Mas não é, Michael. E uma casa com enormes possibilidades. Eu... eu podia trabalhar lá.

— Mas eu não — disse ele pesadamente, pondo-se de pé. — Bom, vamos esperar até depois do jantar. Deixei Luigi avisado de que telefonaria quando quisesse a comida.

A refeição foi deliciosa. Melanie tomou vários cálices de vinho para aliviar a tensão e, enquanto tomavam licor junto com o café, ela começou a se sentir mais à vontade. Afinal, era àquilo que pertencia. Esta era a sua vida. Com Michael, naquele apartamento maravilhoso, com ar condicionado, satisfeita e preguiçosa depois de uma lauta refeição.

Sentaram-se juntinhos no sofá, Michael com o braço em torno dela. Melanie pensou, divertida, que estavam parecendo um daqueles casais de anúncios sobre o conforto moderno. Uma vida inteiramente diferente da casa isolada entre as montanhas, onde o aquecimento era absolutamente inseguro e nunca se tinha sequer ouvido falar de ar condicionado.

Quando Michael voltou a fazer perguntas sobre Monkshood, Melanie começou a se questionar por que estava sendo tão teimosa a respeito da questão de manter ou não a casa. Afinai, com que frequência poderia usar aquela vasta propriedade? Seria mesmo capaz de deixar Michael, depois que estivessem casados, para ir trabalhar lá na Escócia? Parecia tudo muito duvidoso.

Além do mais, Michael exigia conforto, e, quando já estivesse acostumado a tê-la ao seu lado, não renunciaria a isso tão facilmente. Já sabia que seu trabalho viria sempre depois do dele e dizia a si mesma que era assim que devia ser. Nunca tinha sentido antes nenhuma vontade de escapar à proteção dele e não havia nenhuma razão para que o fizesse agora.

— Se vendesse a casa — Michael dizia agora, suave e persuasivo —, podia usar o dinheiro da maneira que quisesse. Podia comprar uma casinha de campo para nós. Em Kent, ou em Sussex, talvez, um lugar para a gente ir e ficar absolutamente a sós.

Melanie inclinou a cabeça de lado para olhar para ele. É realmente o homem mais lindo que já conheci na vida, pensou, satisfeita. O cabelo meio ondulado caía um pouco na testa e os olhos azuis, muito grandes, eram quase infantis naquele brilho ardente que tinham. Mas...

— Dentro de onze semanas estaremos casados... — disse ela, olhando para o aquecedor elétrico que simulava as chamas de uma lareira.

— Exatamente. Menos de três meses — concordou Michael. — E o Natal e o Ano Novo estão a menos de quinze dias. Na verdade, não temos muito tempo a perder com casas em ruínas.

— Acho que tem razão — disse Metanie devagar, tentando apagar qualquer dúvida que ainda restasse. — Acho que a idéia de possuir uma casa me deixou meio tonta. Sobretudo sabendo que o dono tinha sido meu parente distante... Sabe, Michael, faz tempo que não tenho parentes.

— Logo, logo isso vai mudar! — Michael beijou-a na testa, murmurando suavemente: — Terá um marido, uma sogra e um sogro.

— E filhos — completou, contente.

— Pode ser — disse Michael, tolerante. — Mas não vamos querer um bebê assim tão depressa, não é, meu bem?

— Nem sempre dá para decidir isso, Michael.

— Mas é claro que podemos tomar providências, querida — disse ele, estalando os dedos de maneira irritante.

Ele se inclinou para pegar os cigarros, tirando o braço dos ombros de Melanie, e ela viu toda aquela satisfação que estava sentindo se evaporar de repente. Tornou a ter dúvidas.

Será que estava se deixando levar por Michael sem perceber? Estaria ele dirigindo a vida dela inteira, sem que ela tivesse o direito de resolver por si mesma? Por que é que volta e meia tinha aquela sensação de estar sendo treinada num curso de autodestruição?

Inclinou-se, pegou o copo de conhaque que Michael tinha servido para ela e tomou um gole, procurando desesperadamente aquela branda aceitação do destino que tinha sentido momentos antes. Tinha de parar com aquela consciência de si mesma. Michael tinha sido sempre maravilhoso com ela. Era um homem que muitas mulheres admiravam, não apenas porque era bonito e rico, mas também por sua posição social.

Era ingratidão imaginar que a estaria moldando para ser como ele queria. Só porque era sempre ele quem decidia? Será que gostaria de um homem que aceitasse prontamente tudo o que ela resolvesse? Ou preferia Michael, que só fazia aquilo que julgava ser o melhor para ela? Afinal, era o trabalho dele que era importante, não o dela. Teria de encontrar satisfação em outras esferas, não na arte. Como esposa de Michael, estaria sempre cheia de compromissos sociais, e aos poucos todos os planos de transformar Monkshood numa moradia confortável estariam esquecidos...

 

 

                                    CAPÍTULO VII

 

 

Incrível como Melanie se readaptou depressa à vida em Londres. Tinha muita coisa com que se ocupar por causa das festas de fim de ano e, além disso, o editor tinha uma nova série de ilustrações para ela. Ele estava muito contente com o trabalho dela e demonstrou mais interesse em Monkshood que Michael tinha demonstrado. Talvez sua mentalidade mais voltada para os negócios visse possibilidades naquilo. Ao discutir o assunto com ela, não insistiu para que vendesse a propriedade.

— Deixe estar — aconselhou, gentil. — Afinal de contas, a casa é sua. E, se mantiver os impostos em dia, não tem por que vender antes de explorar todas as possibilidades.

Melanie o ouvia com atenção, Desmond Granam não era tipo de dar conselhos sem sentido e ela concordava com ele. Não havia pressa.

Deixou portanto de lado todas as preocupações com Monkshood e concentrou suas atenções no futuro mais imediato. Michael não lhe fez mais perguntas e, como estava também cheio de trabalho, não tinha muito tempo para se preocupar com os assuntos dela.

Melanie passou o Natal com a família de Michael. Além do pai e da mãe, vieram também Lucy, a irmã mais velha, com o marido e três filhos. Foi uma festa familiar. Melanie adorou aquela atmosfera descontraída. Era a primeira vez que participava de atividades familiares em sua vida. E isso lhe tinha sido proporcionado pela família de Michael.

Sentia-se grata.

No primeiro dia do ano nevou bastante e, durante a tarde, eles se juntaram às crianças no jardim para uma batalha de bolas de neve. Era uma brincadeira agitada e Melanie notou que Michael tinha dificuldades em se livrar de seu permanente ar de dignidade. Mas ele pareceu se divertir. Depois, sentaram-se em torno do fogo tomando vinho quente e comendo doces. Foram uns dias deliciosos e Melanie sentiu quando

tiveram de voltar à cidade.

Londres com neve não era muito divertida. Os carros amassavam os flocos macios, transformando-os numa lama gelada e preta. Melanie usava suas botas altas praticamente todos os dias. Enquanto caminhava para o escritório, e depois de volta para casa, ia sempre pensando na diferença entre aquele ambiente urbano e aquela pureza dos grandes espaços nevados de Cairnside. Mais de uma vez sentiu-se tentada a convencer Michael a ir com ela visitar Monkshood. Sem dúvidas, depois que estivessem lá, gozando daquela liberdade que só a vida no campo dá, ele entenderia melhor por que ela relutava tanto em vender a propriedade.

Mas, apesar dessas vagas esperanças, não falou no assunto com Michael. Achava que seria mais conveniente esperar até que o tempo melhorasse, para convidá-lo a fazer uma visita. Como não havia nenhum problema imediato a resolver lá, deixou o assunto de lado. Mergulhou no trabalho. E Michael, por sua vez, estava ocupadíssimo, colocando em dia uma enxurrada de casos meio paralisados pelas festas de fim de ano.

Uma noite, lá pelo fim de janeiro, Melanie voltou para casa mais tarde que de costume. Tinha havido uma reunião inesperada na editora, que a tinha atrasado, mas como não tinha planos para sair à noite não se importou.

Ao chegar ao prédio onde morava estava começando a sentir um vazio no estômago e subiu os degraus pensando no que haveria dentro da geladeira. De repente, notou a figura de um homem no alto dos degraus.

Imediatamente lhe veio à mente o episódio de Monkshood e ela hesitou um momento antes de continuar subindo.

— Boa noite, srta. Stewart. Eu já estava achando que você não morava mais aqui.

Melanie olhou, incerta, para o rosto forte de Sean Bothwell. Por um momento chegou a pensar que a fome estava lhe provocando alucinações. Mas aqueles ombros largos pareciam bastante reais e a expressão irônica do rosto era inesquecível.

— Boa noite, sr. Bothwell — disse ela, conseguindo disfarçar a própria perturbação. — É uma surpresa...

— É mesmo? Não vejo por quê. Eu sempre preferi tratar de negócios pessoalmente. Não gosto de entregar essas coisas para advogados.

Melanie olhou para ele um instante e sacudiu a cabeça. Ou ela era muito burra ou o que ele estava dizendo não fazia nenhum sentido..De qualquer forma, não podiam continuar ali na escada indefinidamente, expostos aos comentários dos vizinhos.

— Entre, por favor — convidou, abrindo a porta.

Bothwell passou, ela entrou em seguida, fechou a porta e acendeu as luzes. Ali, na intimidade de seu apartamento, Bothwell parecia extremamente poderoso e dominador. Ela ainda não conhecia a razão daquela visita, mas sabia que depois que ele se fosse algo de sua personalidade permaneceria ali, na casa dela. Era uma idéia perturbadora. Preferia nem pensar nisso.

Bothwell caminhou até o centro da sala e olhou em volta, aparentemente interessado. Vestia um sobretudo escuro, forrado de pele, sobre o temo também escuro. Parecia extremamente grande e forte, tomando a sala menor. Usava os cabelos um tanto mais longos que os de Michael e aquelas costeletas tão compridas davam-lhe um ar estranho. Melanie se perguntou por que aquele homem de traços tão rudes, de maneiras bruscas, impunha tamanha virilidade, quando Michael, que era infinitamente mais bonito e seguramente muito mais sofisticado, parecia menos... eficiente.

Melanie afastou esses pensamentos e tirou o casaco. Agora que via Bothwell em sua sala, quase se arrependeu de não ter falado com ele na escada mesmo. Sentia como se ele estivesse invadindo sua intimidade. E não conseguia atinar com as razões daquela visita.

— Aceita um drinque? — perguntou, mais para romper o pesado silêncio.

— Aceito, sim, obrigado. Uísque?

— Claro.

Melanie foi até o barzinho. Serviu uma dose generosa para ele, mas não ousou tomar nada além de xerez, com o estômago vazio como estava.

Ele ignorou a sugestão dela para que se sentasse e Melanie resolveu ficar em pé também. Mas sentia-se fraca e apoiou-se no braço de uma poltrona.

— Não sabia que vinha sempre a Londres, sr. Bothwell.

— Mas não venho mesmo — respondeu ele, tragando metade do uísque num só gole. — Mas achei que neste caso era importante vir pessoalmente.

— E o que o traz a Londres, sr. Bothwell? — perguntou Melanie, sem esconder sua curiosidade.

— Sabe perfeitamente bem por que estou aqui — respondeu ele, um tanto irritado —, e não vejo razão para começar esse jogo de esconde-esconde.

— Não faço a menor idéia, sr. Bothwell... — Melanie estava surpresa, mas falou com firmeza. — Além do mais, acho que está sendo grosseiro. Pode ter dominado a situação enquanto eu fui hóspede de seu hotel, mas agora está em minha casa, e...

— Srta. Stewart — interrompeu ele, caminhando para a janela que dava para a praça de Bayswater —, vai me dizer agora que se esqueceu da carta que me escreveu propondo a venda de Monkshood? A preço baixo?

Melanie engasgou e ele se voltou para ela, evidentemente irritado. Caminhou até Melanie e parou perto dela. Por um instante encararam-se em silêncio.

— E então? Nega ter me escrito essa carta?

— Mas é claro. Não escrevi carta nenhuma. Nem mesmo para os advogados.

— Então quem foi? — perguntou ele, rude e impaciente.

— Nem... nem imagino. — Melanie passou a mão pelo rosto, olhando para ele. — Tem de me acreditar. Não sei de carta nenhuma. Estava... estava assinada por mim?

— Não, Foi mandada por McDougall e Price. Os advogados de Fort William.

— Mas quem poderia fazer isso sem a minha permissão? — Melanie sacudiu a cabeça, deixando a pergunta no ar.

Só podia ler sido Michael! Ele era a única pessoa com quem tinha falado da possibilidade de vender a casa. Devia ter achado que ela tinha acabado concordando com a venda naquela noite em que conversaram. Melanie tinha dado como certo que estava tudo esquecido e arquivado, mas ele tinha tratado do assunto por ela.

Sentiu-se ultrajada. Ele nunca tinha mencionado nem uma palavra sobre o assunto. Não devia ter ido tão longe sem consultá-la antes. Mas ao mesmo tempo, Michael supunha estar fazendo o que ela queria. E agora, ali estava Bothwell, diante dela, preparado para pagar quanto ela pedisse. Que devia fazer?

— Acho que agora já sabe quem foi que fez a proposta de venda — disse ele, depois de assistir ao jogo de expressões do rosto dela por alguns instantes.

— Sim... Quer dizer, acho que foi Michael.

— Michael?

— Meu noivo.

— Ah, entendo. Suponho que ele quer vender a casa, então? Não deve partilhar das suas aspirações sentimentais àquele lugar.

— É verdade — Melanie admitiu, sentindo o sangue afluir às faces, — Mas ele ainda não conhece a casa.

— Ainda não? O que quer dizer com isso?

— Exatamente o que disse. Estou planejando ir com ele assim que o tempo melhorar.

— Meu Deus! — Bothwell parecia sombrio, irritado, agitando as mãos ameaçadoramente. — Quer dizer que ainda não desistiu dessa idéia maluca?

— Claro... claro que não. — Ela saiu do braço da poltrona e caminhou nervosa pela sala. — Sinto muito que tenha perdido a viagem, mas não pode, honestamente, me culpar por isso. Eu não escrevi nenhuma carta. Não posso ser responsabilizada pelas ações de meu noivo.

— Ele é também seu advogado, não é?

— Isso mesmo.

— Entendo.

Bothwell fixou os olhos num ponto. Tirou os cigarros e acendeu um. Jogou o fósforo usado na lareira, sem nem perceber que o aquecedor de Melanie era elétrico. Parecia estar concentrado, tentando manter a calma.

— E seu noivo não lhe disse nada a respeito da carta... Por que será? Será que ele achou que você mudaria de idéia?

— Ainda não resolvi nada — Melanie respondeu e suspirou. — Na verdade, achei que o problema tinha sido arquivado por algum tempo. É como eu já disse. Sinto muito.

— Eu também! — Concentrado como estava, bateu a cinza na lareira também. Depois, muito à vontade, sentou-se numa das poltronas. — Tenho de ter uma conversa com esse... com esse senhor.

— Eu... não vamos nos encontrar hoje — disse Melanie, apertando os lábios.

— Não? — Eíe levantou as sobrancelhas escuras.

— Não! — Melanie suspirou mais uma vez e fez um gesto meio perdido. — É só isso?

Bothwell encolheu os ombros largos. Não estava mais tão carrancudo, mas ainda não sorria, nem demonstrava nenhum sinal de bom humor. Na verdade, Melanie desconfiava daquela expressão calculista que via nos olhos dele e imaginava o que é que ele pretendia fazer em seguida.



  

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