Хелпикс

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Capítulo III 8 страница



— O que exatamente é necessário?

— Acender o fogo, comprar lenha, essas coisas... —Sean respondeu.

— Havia bastante carvão no deposito atrás da casa — disse Melanie, encarando Bothwell.

— Nada dura eternamente. Comprei meia tonelada de carvão de pedra na semana passada.

— Melanie — exclamou Michael diante da expressão irritada dela —, já imaginou quanto vai ter de gastar para manter aquela casa?

— A casa não gastaria nada se fosse usada — disse com força, cerrando os punhos.

— Usada, como? — O bom humor de Michael estava acabando e suas preocupações com Melanie estavam desaparecendo debaixo de uma onda de impaciência. Dinheiro era sempre a coisa mais importante para ele, e Michael devia estar furioso ao saber que ela estava gastando seu magro salário num edifício que, para ele, não passava de um elefante branco.

— Podíamos morar lá — disse Melanie. Sabia que estava soando ridícula. Era impossível esperar que Michael fosse jogar fora sua excelente sociedade em Londres para mudar para uma área remota da Escócia. Era bobagem sugerir aquilo, mas não sabia o que dizer e daria qualquer coisa no mundo para apagar das caras dos dois aquela expressão de superioridade.

— Mudar para a Escócia! — disse Michael com sarcasmo exagerado. — Oh, Melanie, você não sabe o que está dizendo. O que é isso? Está se recusando a ser razoável.

Melanie olhou para ele mais um minuto, depois disparou um olhar

furioso a Bothwell, levantou-se e marchou para fora do restaurante. Ouviu Michael chamá-la, mas não se voltou e saiu para o ar frio da rua, respirando fundo.

Ouviu as portas do restaurante se abrirem e passos que a seguiram. Caminhou depressa, mas em um minuto Michael estava a seu lado, pegando o braço dela.

— Melanie, querida. Que bobagem, Olhe, eu sei que não devia ter escrito a Bothwell sem o seu conhecimento, mas como é que eu podia adivinhar que ele vinha até Londres? Fiquei numa posição difícil e, quando ele sugeriu que almoçássemos todos juntos, não pude recusar.

— Ele sugeriu?

— Claro. Não acha que eu imporia isso a você assim, não é?

Melanie hesitou. Realmente, aquilo não parecia coisa de Michael. Ele jscolhia sempre o momento adequado e, quando o momento chegava, introduzia o assunto sempre tão cuidadosamente que ela acabava invariavelmente concordando com ele. Era típico de Bothwell colocá-la diante de um fato consumado, na esperança de conseguir dominá-la.

— Devia ter me consultado antes de escrever para os advogados — disse ela, ainda incapaz de perdoar Michael. — Eu tinha o direito de saber. Só porque estamos noivos isso não quer dizer... — Ela suspirou. — Bom, isso não muda nada agora. O que quer que eu faça?

— Querida, não espero que faça nada. Pensei... quer dizer, depois da nossa conversa, achei que você queria vender Monkshood. Agi assim apenas para  poupá-la de todas as complicações legais. Pretendia explicar-lhe tudo quando tivesse a proposta de Bodhwell por escrito. Dá para entender, não?

— Mas agora, no restaurante...

— Esqueça o que eu disse no restaurante! — Michael falou, gentil. — O que é que eu podia dizer? Não podia ficar do seu lado diante de um homem que está tão envolvido nisso. Isto é, a situação altera o caso. Quanto a mudarmos para a Escócia, isto está fora de cogitação e você

sabe disso.

— Mas eu não quero vender Monkshood — disse Melanie, torcendo a

alça da bolsa entre os dedos. — Conversei comDesmond...

— Ah, Desmond! — exclamou Michael, irritado.

— É, Desmond. Ele é um bom amigo e concorda comigo que não há nenhuma urgência em resolver.

— E se Bothwell mudar de idéia? — Michael tentava manter a calma.

— Não tem importância. Tem mais gente que compraria a casa.

— Mas não por dez mil libras, não é?

Dez mil libras!

— Quer dizer que Bothwell... — Melanie não conseguia acreditar.

— Exatamente — disse Michael, triunfante.

— Mas de onde é que ele vai tirar esse dinheiro? — perguntou Melanie arqueando as sobrancelhas, preocupada.                                                   

— O que quer dizer? — Michael ficou preocupado.

— Isso mesmo que eu disse. Sean Bothwell não é rico. Tem um hotel em Cairnside, mas não deve render muito. É negócio de família. O irmão e a irmã ajudam na administração. De onde é que ele vai tirar dez mil libras esterlinas? — Uma idéia surgiu em sua mente e ela olhou para Michael, desconfiada. — Quem foi que sugeriu essa quantia? Monkshood não vale tanto assim.

Michael passou um dedo por dentro do colarinho.

— Isso não é problema seu, Melanie. Quando se vende uma propriedade não se questionam os méritos ou o valor real daquilo que se pede. Sobretudo se o comprador concorda com o preço...

— Isso não é bem verdade. Lembre-se de que esta história não é nada simples. — Melanie apertou os lábios. Sentia-se deprimida, lembrando que Sean Bothwell tinha dito a ela que conseguiria a casa a qualquer custo. Na atual circunstância, devia ser grata a Michael por conseguir uma soma tão alta, mas no fim das contas ele também tinha interesse no assunto, uma vez que iam se casar logo.

— No que tange a você a questão é simples — afirmou Michael com um pouco de ênfase excessiva, como se a incerteza de Melanie o irritasse.

— Eu não quero vender a casa, Michael — ela insistiu, balançando a cabeça.

— Mas por quê? Por quê? — Michael suspirou. — Não podemos ir morar lá. E vai consumir o seu salário. Que uso teria para nós uma casa naquele lugar?

— Olhe, Michael, se eu não ficar com Monkshood para mim, prefiro dá-la de presente.

— Dar de presente! — Michael quase caiu para trás.

— É — Melanie. disse, pensando cuidadosamente. — Eu não gosto de Bothwell e sei que ele não gosta de mim, mas isso não altera o fato de ele ser filho de um parente meu distante e portanto ter direito à propriedade...

— Nunca ouvi bobagem maior! — Michael estava furioso. — Melanie, você deve estar louca! Não pode dar uma propriedade tão valiosa de presente!

— Ela é minha, Michael — afirmou calma e segura.

— Vamos nos casar dentro de dois meses! Acho que posso lhe dar um  conselho!

— Pode sim, Michael. Mas neste caso vou ter de resolver sozinha.

— Sem se importar se vai magoar as pessoas?

— Claro que não! — Melanie mordeu o lábio. — Michael, você disse  que não estou sendo razoável, mas se recusa a ir até a Escócia comigo para ver a casa pessoalmente. Isso não é nada razoável também.

— Mas de que adiantaria eu ir? — Michael enfiou as mãos nos bolsos. A neve começava a cair de novo, mansamente, e estava ficando cada vez mais frio conversar ali na rua. — Olhe, vamos voltar para o restaurante.

— Não! — Melanie foi definitiva. Não ia voltar para enfrentar Sean Bothwell de novo.

— Bom, eu tenho de voltar, pelo menos. O que é que digo a Bothwell?

— Resolva você. Vai ter de contar a ele que não vou vender Monkshood. — Ela suspirou. — Quanto a lhe dar a casa de presente... é cedo demais para mencionar isso. Tenho de voltar lá e dar mais uma olhada no lugar.

Michael voltou-se. Era evidente que estava achando difícil manter a calma e Melanie pensou que o estava fazendo de bobo. Mas pensou no que ele tinha feito a ela, agindo à sua revelia. Entendeu que Michael pretendia não falar mais no assunto, no momento. Talvez voltasse a tratar daquilo quando sentisse que a situação estivesse mais favorável ao ponto de vista dele.

— Muito bem — disse ele, olhando para ela de novo. — Vou dizer a ele que você não está interessada. Bothwell vai achar que você está louca, sem falar que, provavelmente, vai me cobrar as despesas da viagem.

— Tenho de ir — disse Melanie, calçando as luvas. — Está ficando tarde.

— Vamos nos ver à noite?

— Se você quiser — Melanie respondeu, indiferente.

— Passo depois do jantar. Acho que não vai querer sair, não é?

— Não. Hoje não. — Melanie conseguiu dar um sorriso. — Até logo. Michael hesitou um instante, depois inclinou-se e beijou-a de leve nos lábios.

— Não se preocupe — disse —, eu dou um jeito.

Melanie começou a andar depressa. Estava sentindo muito frio. Nada mais era igual. Seu trabalho, Michael, a vida. Num curto espaço de apenas algumas semanas tudo tinha mudado tanto que ela nem conseguia mais pensar direito no que era possível ou não, financeiramente.

Antes do Natal, antes de ter ido visitar Monkshood, se lhe oferecessem para escolher entre uma casa velha na Escócia e dez mil libras, ela teria hesitado um segundo e escolhia o dinheiro. Mas agora o dinheiro valia menos que sua paz de espírito e, apesar de ter dito a Michael sem pensar que seria capaz de dar Monkshood de presente, essa idéia começava a criar raízes em sua mente. Certamente resolveria uma série de problemas, mas criaria uns tantos outros. Serviria pelo menos para acabar com aquela sensação de culpa e demonstraria a Bothwell que ela não era tão monstruosa quanto ele supunha. Mas por que é que tinha de se preocupar com o que Bothwell pensava dela? Ele nada significava para ela, além de tê-la tratado de maneira abominável.

Parou um táxi e se encolheu num canto do assento, tentando examinar suas emoções. Estava sendo tola e tinha de se controlar. Como Michael tinha dito, iam se casar logo. A mãe dele já tinha cuidado de tudo. Logo começaria a fazer as provas do vestido, as damas de honra já estavam sendo escolhidas... Por que estava comprometendo o próprio futuro daquela forma? Michael não era homem para aguentar por muito tempo mais a indiferença com que o estava tratando. Não era convencido, mas tinha consciência de que era atraente e, se continuasse assim, não demoraria muito a substituir Melanie por alguma beleza da sociedade.

Se ele a amava ou não, parecia-lhe de pouca importância. O aspecto físico da relação deles nunca tinha sido apaixonado e Melanie respeitava aquela contenção de Michael. Mas seria contenção? Ou será que ele achava a parte sexual do casamento algo desagradável? Evidentemente não conseguia imaginar Michael se entregando ao êxtase de uma ligação apaixonada e sensual com mulher alguma. Mas, até conhecer Bothwell e experimentar o contato físico dele, Melanie nunca se sentira insatisfeita.

É tudo culpa de Bothwell, dizia a si mesma, amarga. Se ele não tivesse interferido, ela provavelmente venderia Monkshood e nunca se veria naquela complicação toda.

Olhou pela janela do táxi, percebendo que já estava quase chegando. Queria tanto ter alguém que não estivesse envolvido naquilo tudo para poder conversar. Mas não havia ninguém. Ia ter de decidir sozinha se Michael estava certo. E se devia romper para sempre as ligações com aquela casa.

 

 

                               CAPITULO IX

 

 

Melanie estava lavando os pratos que tinha usado no jantar quando a campainha tocou. Enxugou as mãos, tirou o avental e cruzou a sala para abrir a porta. Como estava esperando Michael, tinha vestido uma calça de veludo preto e uma bata estampada.

No entanto, ao abrir a porta, não era Michael que estava displicentemente encostado ao batente. Era Sean Bothwell.

— Oh, boa noite, sr.  Bothwell! — Ela estava muito surpresa, mas conseguiu controlar a expressão. — É uma surpresa!

— Você já disse isso na noite passada. Posso entrar?

— Não vejo nenhuma razão para convidá-lo a entrar — disse Melanie, hesitando. — Michael já deve ter lhe explicado...

— Seu noivo foi bastante claro — respondeu Bothwell. — Poderia mesmo dizer que foi eloquente. Ele sabe que, se pressioná-la demais, você pode acabar fazendo uma besteira. E ele não arriscaria isso.

— Bom, então... — Melanie suspirou.

— Temos alguns assuntos a discutir, se é que vai continuar com a casa.

— Como o quê, por exemplo?

— Como alugá-la para mim, por exemplo.

— Mas você disse que não estava interessado em nenhum acordo, sr. Bothwell!

— Disse, sim. Mas isso foi quando achava que ainda conseguiria convencê-la a vender.

— Melhor,entrar, então — disse Melanie, preocupada.

Bothwell entrou logo depois dela e fechou a porta atrás de si. Desabotoou o sobretudo. Melanie indicou uma cadeira, mas ele preferiu ficar em pé e ela ficou também.

— Bem — disse ela, tentando um tom de negócios —, o que tem em mente?

— Quero alugar, com contrato anual.

— Mas... mas se eu concordar, não vou poder usar a casa nunca.

— E pretende usá-la? — Os olhos cinzentos dele eram já um pouco irônicos.

— Como?

— Nada. Nada — disse ele, levantando a mão num gesto conciliador.

— Meu noivo deve ter-lhe explicado que não pretendo abandonar Monkshood completamente. O que quero é tentar convencê-lo, quando o tempo estiver melhor...

— Oh, por favor! — Sean Bothwell passou a mão, nervoso, pelos cabelos escuros. — Não estou interessado no que pretende fazer com o sr. Croxley. O que quero é garantir a minha posíção.

— Tudo bem, sr. Bothwell, mas Michael deve ter explicado...

— Seu noivo e eu tivemos uma discussão bastante clara sobre tudo isso! — declarou Bothwell. —No entanto, não sei o que você vai achar...

— Se o meu noivo o enganou... se ele o levou a pensar que...

— Sei muito bem o que o seu noivo pensa do assunto. — Ele interrompeu Melanie de novo. — Na verdade, posso até dizer que concordo com as objeções dele. Mas, no momento, estou preparado para não resistir. Afinal...

— Um momento! — Foi a vez de Melanie interromper. — Está tentando me dizer que Michael lhe fez uma proposta?

— Não! Nada disso. — Os olhos de Bothwell faiscaram. — Eu disse isso, por acaso?

— Não, mas está insinuando! Olhe, acho que seria melhor deixar para discutirmos depois que eu tiver inspecionado a casa novamente.

— Inspecionar a casa! — repetiu Bothwll, incrédulo. — Não vá me dizer que pretende voltar lá?!

— Claro.

— Entendo. Então está mesmo inabalável em sua decisão? Eu gostaria de saber por quê.

— Isso importa?

— É claro que importa, droga! — Ele estava furioso. — Eu lhe ofereci um preço mais do que generoso por Monkshood! Cheguei a fazer toda essa viagem para tentar um acordo e poupá-la de mais uma viagem para o norte. E você insiste em se comportar como uma criança malcriada com um brinquedo novo!

— Talvez, se parasse de me tratar como uma criança malcriada ou como uma mulher irresponsável, você descobrisse que não sou assim tão difícil de lidar — respondeu, magoada e com raiva.

— E o que quer dizer isso agora? — perguntou Bothwell, avançando um passo, a respiração alterada. — Como quer que a trate? Eu estava certo aquela noite, não estava? Está desapontada porque recusei sua generosa oferta de me levar para a cama...

— Seu porco!

Melanie o fuzilava com os olhos atormentados. Mas, antes que pudesse dar um passo, ele a agarrou, apertando-a contra si. Segurando a cabeça dela com ambas as mãos, forçou-a a voltar os lábios para ele. Depois de um momento de resistência, Melanie se viu de repente correspondendo inteiramente ao beijo. Era degradante, mas Bothwell tinha razão, era isso o que ela queria; quase sem querer, deslizou os braços em torno da cintura dele, por baixo do casaco. Apenas a seda fina da camisa estava entre os seus dedos e a carne quente dele. Os lábios de Bothwell queimavam sua pele, famintos. Ela sentia-se derreter por dentro. — Ame-me... que eu a amarei... — disse ele baixinho, era voz grave, íntima.

Melanie sentiu a garganta apertar. O que estava fazendo? Tinha perdido a cabeça? Por que permitia que aquele homem a tocasse de uma maneira que nunca permitiria a Michael, mesmo na remota possibilidade de o noivo vir a tentar isso? Por que seu corpo se derretia de desejo assim que Bothwell a tocava? Por que a firmeza do corpo dele, pressionado ao seu, destruía imediatamente todas as suas inibições?

Sentiu a mão dele deslizar por seu cabelo e inclinou a cabeça para trás, para que ele beijasse seu pescoço. Aqueles lábios queimavam sua carne enquanto Bothwell deslizava os dedos, afastando a blusa de seu ombro branco. E então... a campainha soou!

Melanie sentiu aquele ruído como uma ducha de água fria em suas emoções incendiadas. Afastou-se dele, meio tonta. Bothwell ficou olhando para ela, os olhos inflamados pela intensidade de sua emoção, apesar do cinismo que havia neles.

— Deve... deve ser Michael! — informou ela, abotoando a blusa com dedos trêmulos, enquanto ajeitava os cabelos com a outra mão.

— Parece preocupada, srta. Stewart — ele brincou. — Perdeu a coragem?

Ela queria bater nele, para feri-lo como ele a feria, mas não tinha

tempo para isso. A campainha tocou de novo.

— Vá atender, srta. Stewart. — Sean tirou o sobretudo e jogou-o numa cadeira. — As razões de eu estar aqui são bastante honestas, não são?

— Mas... mas...

— Não se apavore. Não vou incomodar seu noivo contando a ele as suas peraltices. Suas atitudes não me interessam em nada. Exceto no que tange a Monkshood.

— Ah, Monkshood, Monkshood! Já estou cheia desse nome! — Melanie estava quase chorando.

— Melhor abrir a porta logo — observou Sean Bothwell, arranjando a gravata —, ou seu noivo vai começar a pensar o pior mesmo!

Melanie lançou-lhe um olhar furioso e foi até a porta, relutando.  Enquanto virava a chave a campainha soou de novo e, assim que ela abriu, Michael entrou, furioso.

— Onde é que estava? — perguntou, impaciente, quando então viu Bothwell. — Você? O que é que está fazendo aqui?

Sean Bothwell não parecia nada perturbado e Melanie mal podia acreditar que, menos de cinco minutos antes, ele a estava agarrando, apaixonadamente. Tinha endireitado o cabelo e as roupas estavam compostas. Comparadas às roupas de Bothwell, o terno de corte perfeito e a camisa rosa de Michael pareciam algo efeminados. Michael era mais alto que o outro, mas não tão corpulento.

— Vim conversar com a srta. Stewart sobre a possibilidade de alugar Monkshood — explicou Sean, oferecendo cigarros a Michael. — Diante das circunstâncias, achei que ela preferiria alugar.

Michael hesitou, tentando entender se Bothwell estava gozando dele ou falando sério realmente.

— Vai alugar a casa, Melanie? — Michael perguntou.

— Não sei — disse Melanie, por entre os dentes, farta de tudo aquilo. — Mas se pensam que vou discutir Monkshood a noite inteira, estão muito enganados.

— Faz tempo que chegou? — Michael perguntou a Sean.

— Alguns minutos — respondeu Sean. — Que tempo horrível, não?

— É verdade — concordou Michael, achando difícil ser natural. — Melanie... que tal um drinque?

— Eu já estou de saída — disse Sean, pegando o sobretudo com desenvoltura. — Podemos discutir isso depois, srta. Stewart.

— É

— Podem   continuar agora mesmo — sugeriu Michael, olhando desconfiado para Melanie.

— Não. Agora não — respondeu, tentando parecer calma. — Preciso de tempo para pensar.

Bothwell estendeu a mão para Michael e, enquanto eles se despediam. ela ficou olhando. Como é que Sean Bothwell conseguia ser tão falso? Desejava profundamente achar uma maneira de deixá-lo tão desconcertado quanto ele a deixava.

— Até logo, srta. Stewart! — Bothwell estendeu a mão e Melanie teve de pegá-la. Mas tirou a mão assim que sentiu o calor dele. Odiava-o e não entendia o porquê daquilo.

Acompanhou-o até a porta, mas evitou olhá-lo nos olhos. Não havia maneira dele poder se comunicar com ela sem que Michael visse.

— Estou certo de que tomaremos a nos encontrar, srta. Stewan — ele disse, insinuante e irônico.

Melanie fechou a porta tremendo. Voltou para a sala. Michael estava  de pé, junto ao aquecedor elétrico. Olhou para Melanie e ela entendeu que ele esperava uma explicação.

— E então? — disse, pomposo. — Que ousadia a desse sujeito vir aqui assim! Por que é que o deixou entrar? Devia ter dito que sou eu quem cuida dos seus negócios.

— Ele já sabe, Michael — respondeu ela, juntando as mãos. — E eu não podia recebê-lo no corredor, não é? Ah, vamos mudar de assunto. Já estou cheia disso tudo.

— Ainda não — Michael insistia. — Vocês se conhecem bem? Ele parecia muito à vontade aqui.

— Nada disso, — Melanie cerrou os punhos. — É o jeito dele. Está sempre à vontade em qualquer lugar. Você já deve ter percebido isso também.

— É, mas não gostei de encontrá-lo aqui. — Michael estava incomodado. — E gostaria que isso não se repetisse. Se têm negócios a discutir, eu devo estar presente e seu apartamento não é o lugar adequado para isso. Eu tenho um escritório exatamente para tratar de negócios,

— Foi você quem começou essa história! — disse ela, irritada. — Não fui eu que escrevi a ele! Tudo o que eu queria era deixar o assunto esfriar por enquanto.

— Não quero mais falar disso, Melanie, — Michael batia a mão na perna, impaciente. — Vamos mudar de assunto, mas saiba que não gostei nada disso.

Melanie arranjou o cabelo displicentemente, tentando não imaginar o que poderia acontecer se Michael não desse tanta importância às aparências. O que é que estava havendo com ela? Nunca tinha se considerado irresponsável. Sabia sempre o que queria. Mas nos últimos dias via-se constantemente tentando entender os motivos que a levavam a agir como agia. E a conclusão a que chegava não era nada confortadora.

O restante da noite demorou a passar e Melanie sentiu-se muito aliviada quando Michael finalmente foi embora. Ele não disse nada sobre a preocupação dela, mas isso certamente se devia ao fato dele também estar preocupado. O que é que estava acontecendo com eles? As coisas nunca tinham sido assim. Como podiam pensar em se casar, se estavam tão tensos um com o outro por causa de uma coisa sem importância?

Para sua surpresa, não ouviu falar de Sean Bothwell nos dias que se seguiram. De certa forma esperava que ele entrasse em contato com ela, mas, como não o fez, Melanie supôs que tivesse retornado a Cairnside. A vida retomou uma aparente normalidade e Melanie mergulhou nas ilustrações para o livro novo, usando o trabalho como antídoto para seu desespero.

Desmond ficou muito satisfeito com os desenhos e convidou Melanie e Michael para jantar fora uma noite. Era como retomar a normalidade da vida anterior a Monkshood e Melanie ficou contente de saber que Lydia, a mulher de Desmond, viria também.

Jantaram no Savoy e em seguida foram a uma boate. Michae! parecia relaxado e à vontade e, enquanto dançavam, Melanie começou a pensar que suas ansiedades eram resultado de sua imaginação.

Desmond e Michael encontraram um produtor de filmes, amigo de Desmond, e ficaram conversando. Lydia e Melanie ficaram sozinhas na mesa.

— Quanto falta para o casamento? — perguntou Lydia, interessada. Ela era miúda, alegre, com o cabelo ruivo começando a embranquecer. Melanie adorava aquela mulher calorosa e gentil.

— Um mês e meio, Lydia. Neste fim de semana vou até a casa dos pais de Michael para experimentar o vestido de noiva.

— Que maravilha! — Lydia suspirou — Eu queria voltar a esse momento da minha vida. Parece incrível que Desmond e eu já estejamos casados há quinze anos!

— Anos felizes, não? —perguntou Melanie, inclinando a cabeça.

— Ah, sim, muito felizes.

— Pois é! Eu não sei que tipo de esposa vou ser. Nem que tipo de mãe — disse Melanie, pensativa.

— Ah, essas coisas vêm naturalmente. Nem se preocupe — Lydia a tranquilizou. — Onde é que vão morar? Na cidade ou no campo?

— Na cidade, claro. — Melanie estava um pouco surpresa. — Não temos outro lugar para morar.

— Não? — Lydia fazia mistério. — Eu ouvi dizer que Michael estava pensando em comprar a casa de campo dos Bradbury. Aquela que fica perto de Meddleham, perto da nossa. Você conhece.

— A casa de campo dos Bradbury? — Melanie estava perplexa. — Owen Bradbury? O colecionador de antiguidades que morreu no ano passado?

— Isso mesmo. — Lydia sacudiu a cabeça. — Ah, meu Deus, ele não tinha contado nada? Então acho que estou estragando uma bela surpresa.

— Que nada! Conte mais — pediu Melanie, interessada, debruçando-se na mesa.

— Ah, não, acho que não devo... — Lydia hesitou.

— Que bobagem, Lydia. Agora que já começou, conte tudo de uma vez, vamos! — Melanie conseguiu manter o tom casual de conversa bem-numorada, mas já começava a temer pelo que viria.

— Bom, foi Desmond quem me contou — disse Lydia, incapaz de resistir à oportunidade de contar um bom caso. — Ele encontrou Michael almoçando com Virgínia Bradbury há algum tempo.

— Virgínia Bradbury?

— É. A viúva de Owen Bradbury. Ela é muito mais moça que ele. Era sua terceira mulher e tem trinta e poucos anos. Parece até mais jovem, sabe? Quando Desmond os viu juntos, até foi falar com Michael, porque Desmond adora você e... bem, você sabe o que ele imaginou, nãoé?

— O que foi que Michael disse? — Melanie apressou a amiga.

— Bem, Michael explicou que estava cuidando dos negócios dos Bradbury e que tinha aconselhado Virgínia a vender a casa de campo. É claro que ele não contou a Desmond que ia comprar a casa ele mesmo. Isso eu descobri depois. — Lydia curvou-se em direção a Melanie. — Uns amigos nossos estiveram com Virgínia lá na casa de campo e ela contou a eles que pretendia vender a propriedade a Michael.

— Entendo. — Melanie reclinou-se na cadeira, a cabeça zunindo com o que tinha acabado de ouvir. Então era por isso que Michael não queria que ela ficasse com Monkshood. Porque ele já estava comprando uma casa de campo para eles. A expressão de Melanie se abrandou momentaneamente. Então era por isso que ele insistia tanto para que ela vendesse a casa. Realmente tinha julgado Michael muito mal.

Ela sorriu. De repente as coisas pareciam muito mais leves. Isso alterava tudo. Se Michael queria dar a ela uma casa de campo como presente de casamento, devia ter ficado muito chateado com a insistência dela em manter Monkshood.



  

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