Хелпикс

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Capítulo III 4 страница



Largou o copo pela metade em cima do balcão e subiu para o quarto. Atirou-se na cama. Sempre que falava com Bothwell sentia-se mole depois. Ele tinha a capacidade de reduzir todos os argumentos dela a uma tentativa infantil de ser adulta. E isso ninguém, nem mesmo Michael, com aquela cabeça treinada para os tribunais, jamais tinha conseguido fazer com ela.

Apagou a luz e caminhou até a janela. Abriu as cortinas. As estrelas brilhavam no céu negro. Na escuridão, a neve reverberava, revelando as formas das montanhas que dominavam tudo. Era sorte não se afetar nos espaços fechados, pois as montanhas, naquela noite, pareciam muito opressivas. Mas talvez fosse apenas a lembrança do que tinha acontecido que a fazia sentir-se assim. Fosse o que fosse, estava a ponto de chorar e em sua cabeça não via nenhuma razão plausível para isso.

Na manhã seguinte, as coisas pareciam melhores. A neve não estava derretendo e o ar estava frio e fino. Depois de tomar o café da manhã, Melanie vestiu roupas quentes e saiu para examinar seu carro. Tinha dado uma olhada no dia anterior, assim que o tinham trazido, mas agora queria ligar o motor e certificar-se de que ainda andava.

Não conseguia fazer o motor pegar, quando Jeffrey Bothwell saiu do hotel. Vestia um suéter vermelho e uma calça preta, os cabelos negros meio agitados pelo vento e por um momento ela pensou que fosse Sean. Quando chegou mais perto, viu que não era ele e saltou do carro.

— Entende de motores?

— Algum problema? — perguntou, chegando até ela.

— Acho que sim.

— Abra o capô. Vou dar uma olhada.

Melanie voltou para dentro do carro, puxou a alavanca e Jeffrey abriu o capô. Olhou lá dentro com um ar de sabichão. Melanie, de pé a seu lado, mexia-se sem parar para não sentir frio, esperando, impaciente, o veredicto,

— As velas estão molhadas — disse ele, afinal. — Sean disse que o carro ficou fora durante a noite, não é?

— É

— Então. A umidade invadiu o motor. Vai ter de esperar um pouco de sol para a coisa secar. Talvez amanhã já esteja tudo bem. Mas se ficar dando partida assim, vai acabar com a bateria.

— Muito obrigada — disse Melanie, batendo a tampa do capô e mordendo o lábio, nervosa.

— Qual é o problema? Está precisando do carro?

— Claro — respondeu, dando uma olhada no jipe. — Quero ir até a aldeia comprar umas coisas.

— Bom, não olhe para mim — disse Jeffrey, encolhendo os ombros. — Eu não tenho carro.

— Não? Melanie suspirou. — Sabe dirigir?

— É claro. Mas se está pensando em pedir o jipe emprestado é bobagem sua. Sean não ia emprestá-lo para mim.

— Sei. Acha que para mim ele empresta?

— Ninguém pega o jipe dele — declarou Jeffrey, definitivo. — Dá para ir andando. Não é longe.

— Não é a distância o problema — ela explicou. — São as coisas que vou comprar. Vai ser pesado para trazer de volta.

— Por quê? O que é que vai comprar?

— Tinta — revelou. — E equipamento de limpeza.

— Tinta? Equipamento de limpeza? — Jeffrey estava perplexo, sem entender nada.

De repente Melanie viu o carro esporte de Jennifer Craig subindo a estrada em direção ao hotel. A moça parou ao lado deles e desceu, sorridente.

— Oi. Vocês dois estão com uma cara! O que foi que aconteceu?

— Meu carro não quer pegar — disse Melanie, conseguindo sorrir. — O sr. Bothwell disse que as velas estão úmidas.

— Sr. Bothwell! Chame-me de Jeffrey, por favor — exclamou ele rindo. — Você entende de mecânica, Jennie?

— Não. Nada! —Jennifer riu.

Vestindo saia de tweed, jaqueta de pele e botas grossas, a mocinha estava mais deselegante que nunca, mas era agradável e Melanie concluiu que gostava dela.

— Mas talvez eu possa dar uma mão — continuou Jennie. — Onde é que quer ir?

— É muita gentileza sua — disse Melanie, mordendo o lábio. — Quero comprar umas coisas na aldeia, só isso.

— Está bem. Entre. Eu a levo.

— Ei, e eu? — exclamou Jeffrey, fazendo Melanie supor que ele devia ter algum encontro com Jennifer.

— Só tem dois lugares, Jeffrey — respondeu Jennifer. — E você não está querendo ir até a aldeia, está?

— Não — respondeu, encolhendo os ombros.

— Então. A gente volta logo. Entre e vá pedir para Josie lhe fazer um café. Ela vai adorar.

Jeffrey ameaçou dar um soco nela de brincadeira e, soltando um gritinho, Jennifer entrou no carro, abrindo a outra porta para Melanie.

Ela deu uma olhada para Jeffrey e entrou. Em um segundo estavam rodando.

Jennifer dirige bem, no estilo de Sean Bothwell, pensou Melanie, tentando achar alguma coisa para dizer.

— Está precisando de muitas coisas? — perguntou Jennifer, salvando a situação. — Devo avisar que as lojas aqui são muito simples. Só têm o essencial.

— Mas devem ter o que eu quero, sem problemas — respondeu, sorrindo. — Preciso de líquidos para limpeza, panos, essas coisas. E um pouco de tinta também.

— Desculpe a curiosidade — Jennifer olhou-a com o rabo dos olhos —, mas essas coisas são para Monkshood?

— São.

— Ótimo.

Melanie arregalou os olhos, surpresa, e voltou-se para a moça.

— Você não se importa? Quer dizer... eu achei que...

— Achou que só porque Sean quer a casa eu ia ficar chateada por você arrumá-la, não é? Mas não é assim, não. Eu mesma já tentei mil vezes fazer uma limpeza lá, mas Sean não deixa. Acho uma idéia maravilhosa.

— Ainda bem! — Melanie suspirou, relaxando. — Achei que estaria sendo meio desonesta aceitando a carona.

— Que bobagem. Estou até gostando de poder ajudar. Seu carro deve estar funcionando de novo amanhã. Já resolveu até quando vai ficar?

— Bom, eu pretendo ficar até Monkshood estar habitável de novo — explicou Melanie. —Talvez uma semana...

— Sei.

Estavam chegando à aldeia e Melanie viu que era bem pequena. Havia uma rua principal, de casas estreitas, uma pequena escola, a igreja e as duas ou três lojas que Jennifer tinha mencionado. A esquerda da rua, por entre as casas, Melanie viu pela primeira vez o lago Cairnross e olhou interessada quando Jennifer apontou sua própria casa, na outra margem do

lago.

— Você devia ter vindo no verão — comentou Jennifer, suspirando. — A gente nada, faz esqui aquático. Sean tem um bote.

Melanie apertou os lábios. Gostaria de dizer que estaria sempre em Monkshood, de agora em diante, mas não teria sido gentil, apesar das coisas que Jennifer tinha dito.

A mulher que cuidava da loja maior era muito atenciosa e, apesar de estar obviamente curiosa para saber quem era Melanie e por que queria todos aqueles pós, líquidos de limpeza e a tinta, a presença de Jennifer parecia intimidá-la, impedindo-a de fazer muitas perguntas.

Voltaram carregadas de pacotes para o carro.

— Não sei o que teria feito sem a sua ajuda. — Melanie riu por cima de uma caixa de detergente. — Obrigada mais uma vez.

— Esqueça — respondeu Jennifer. — Eu até que estou me divertindo. Acho gozadíssimo quando a sra. MacPherson fica tentando descobrir as coisas com meias palavras. Ela estava morrendo de vontade de saber o que é que uma turista como você pode fazer com coisas de limpeza. Aposto que vai espalhar pela aldeia inteira que o hotel de Sean está tão sujo que os hóspedes agora têm de limpar seus próprios quartos.

— Você está brincando! — exclamou Melanie.

— Talvez não — disse Jennifer, rindo enquanto abria a porta do carro. — Jogue tudo aí atrás. A gente arruma quando chegar na casa.

— Na casa? — perguntou Melanie, incerta, sentando-se em seu lugar.

— Claro. A gente já pode deixar tudo em Monkshood. Você não vai querer carregar tudo para lá depois, vai?

— Bom, não... — Melanie mordeu o lábio. — Mas será que... o sr. Bothwell não vai ficar bravo?

— E daí? Que fique! — Jennifer deu de ombros, ligando o motor. — Ele não manda em mim, sabia?

Melanie sentiu-se tentada a perguntar qual era exatamente a relação de Jennifer com Sean Bothwell, mas sentiu-se igual à sra. MacPherson, reprimindo-se por causa da atitude de Jennie.

Os portões estavam abertos e Jennifer entrou direto, indo parar diante da porta da frente.

— Tem as chaves? — perguntou.

— As chaves? — Melanie procurou nos bolsos o molho que Sean Bothwell tinha deixado para ela. — Aqui. Sabe qual é a da porta da frente?

— Deixe ver. — Jennifer saiu do carro, levando as chaves, e Melanie foi atrás. A mocinha descobriu logo qual era a chave certa e a porta se abriu rangendo.

— Meio impressionante, não? — comentou Jennifer enquanto ajudava Melanie a descarregar os pacotes. — O velho Angus não gastava nem um tostão que não fosse absolutamente indispensável na casa. Tinha de estar tudo caindo aos pedaços para ele cuidar de arranjar alguém para uma faxina. Mas também, coitado, ficou preso na cama durante os dois últimos anos de vida.                      

— É mesmo? — Melanie estava intrigada. — Continue. Conte-me mais sobre ele. Na verdade eu sei muito pouco.

Enquanto levavam todos os pacotes para a mesa da cozinha, Jennifer foi contando o que sabia sobre o parente da mãe de Melanie. Explicou que ele tinha nascido em Monkshood e vivido ali toda a sua vida, a não ser por um breve intervalo durante a Segunda Grande Guerra, quando tinha se alistado na Marinha.

— Parece que ele era muito atraente — continuou Jennie. — Papai diz que era maravilhoso de uniforme. Acho que deve ter sido mesmo, porque...

— Por quê? — insistiu Melanie quando a moça se interrompeu. Jennifer apertou os lábios e deu de ombros.

— Nada. Bom, isto é tudo?

— Acho que sim. — Melanie suspirou. — Acabei de trazer os últimos três.

— Por onde vai começar? — perguntou Jennifer, olhando para o teto,

pensativa.

— Acho que pela cozinha mesmo — respondeu Melanie, voltando os pensamentos para o trabalho que tinha a enfrentar. — A mim me parece o lugar mais lógico para arrumar primeiro. Acho que qualquer faxineira começaria pelo andar de cima, descendo aos poucos, mas quero arrumar a cozinha logo para poder fazer funcionar o aquecimento. Sabe acender esse fogão?

— Ah, sei, sim — respondeu Jennifer, olhando o enorme fogão de lenha. — A gente tinha um desses em casa há alguns anos. Acho que consigo acender sem problema. — Deu um suspiro. Depois, parecendo ter uma súbita idéia, perguntou: — Olhe, será que você não quer que eu ajude? Quer dizer, com duas trabalhando as coisas andam mais depressa, e posso fazer as coisas que não daria tempo para você fazer sozinha...

— Nossa — disse Melanie, encarando a mocinha —, acho que os seus pais ou... ou Bothwell não haveriam de deixar você me ajudar aqui. É um trabalho pesado.

— Eu não tenho medo de trabalho pesado, não. — Jennifer riu. — Da mesma forma que você, eu ia ficar muito satisfeita de botar esta casa brilhando.

— Mas... mas... — Melanie abriu os braços sem saber o que dizer.

— Nada de mas! — disse Jennifer, rindo bem-humorada. — Quer que eu ajude ou não?

— É claro que eu quero. Mesmo que não fosse para trabalhar, adoraria ter companhia. Esta lugar é solitário e, como você disse, meio impressionante.

— Então, tudo bem. Deixe que eu me encarrego de Sean e dos meus pais. — Ela olhou no relógio. — Passa um pouco das dez. Por que não começamos agora mesmo? E, olhe, meu nome é Jennie e sei que o seu é Melanie. Bobagem a gente ficar se chamando pelos sobrenomes. É meio antiquado, não acha?

— Nem sei o que dizer! — Melanie estava perplexa.

— Então não diga nada — aconselhou Jennifer. — Vamos começar de uma vez!

Era incrível o que tinha acontecido em tão pouco tempo. Enquanto Jennifer limpava o fogão, Melanie escarafunchou os armários e encontrou dois baldes grandes, que lavou antes de usar. Tirou o casaco mais pesado, afastou a mesa para um canto e começou a lavar o teto com detergente. Era cansativo ficar com os braços levantados o tempo todo e Jennífer a observava de quando em quando, lavando as paredes externas do fogão.

— Acho que fiquei com o trabalho mais fácil — disse ao terminar sua tarefa. — Quer que eu ajude? Ou prefere que acenda o fogão?

— Posso terminar sozinha — disse, baixando um pouco os braços. — Mas se você conseguir achar alguma coisa para acender o aquecedor, acho que seria bom. Eu agora estou suando por causa do exercício, mas o frio aqui deve estar forte.

— Não sei onde é que vou encontrar varetas secas — disse Jennifer, olhando em torno, pensativa. — A lenha que a gente encontrar por aqui vai fatalmente estar úmida, por causa da neve. Olhe, vou dar uma chegada na aldeia e comprar um pouco de lenha seca.

— Que chato! — Melanie mordeu o lábio. — Não tinha pensado nisso.                          ,

— Não tem importância — respondeu Jennifer, sem perder seu sorriso. — Eu vou. É só lavar as mãos.

Enquanto Jennifer estava fora, Melanie desceu da mesa para pegar água limpa. Enquanto o balde enchia, olhou o que já tinha feito. A parte limpa estava com um aspecto melhor, e quando tivesse recebido uma mão de tinta branca estaria melhor ainda. Era difícil limpar tudo aquilo com água fria, seus dedos estavam gelados, mas assim que Jennie acendesse o fogão poderiam esquentar a água.

Ouviu o ruído do carro chegando e foi até o hall esperar a moça. Mas assim que Jennie abriu a porta, Melanie viu por sua expressão que havia problemas.

— Que foi? — perguntou, ansiosa. Mas, antes que Jennie pudesse responder, uma outra figura surgiu por trás dela.

— Sean estava me procurando — esclareceu Jennifer, sentindo-se incômoda. — Nós nos encontramos na aldeia.

— Sei — respondeu Melanie, umedecendo os lábios subitamente ressecados. — Como está, sr. Bothwell? Veio ver como é que vai o trabalho?

— Não estou interessado no que está fazendo, srta. Stewart — rugiu ele, passando por Jennifer e avançando ferozmente para Melanie. — Mas não gostei nada da forma como envolveu Jennifer.

— Sean, eu já expliquei que... — Jennifer tentou dizer, agarrando o braço dele, desesperada.

— Deixe comigo, Jennifer! — gritou ele, sacudindo o braço com violência para se libertar da mão dela. — Muito bem, srta. Stewart. A senhorita sabia que eu não concordava com a sua tentativa de arrumar a casa e assim pensou que, se envolvesse Jennie, poderia dispor de um mediador, não é isso?

— Não preciso de. nenhum mediador, sr. Bothwell. Monkshood é minha. E se eu resolver reformá-la inteira, isso é problema meu. Não preciso de sua aprovação.

— Estou avisando, srta. Stewart...

— Sean, pelo amor de Deus! — Jennifer colocou-se entre os dois. — Isto é ridículo! Se está preocupado comigo, fale de uma vez, não fique inventando outras razões...

— E claro que estou preocupado com você — disse, baixando as sobrancelhas negras sobre os olhos cinzentos. — Mas, além disso, não aprovo os métodos da srta. Stewart!

— Querido, não seja bobo! — Jennifer enganchou o braço no dele. — A casa só tem a ganhar com as coisas que Melanie está fazendo. Então, posso acender o fogão?

— Não! — rugiu Sean, definitivo.

Jennifer apertou os lábios, com raiva, mas incapaz de afrontá-lo.

— Desculpe, Melanie — disse, sorrindo tristemente. — Eu bem que queria ajudar.

— Tudo bem, Jennie — respondeu, fechando os punhos, controlando com enorme esforço a sensação de injustiça que crescia dentro de si. — Eu compreendo.

— Duvido! — comentou Sean Bothwell, azedo.

E, empurrando Jennifer, saiu da casa, batendo com força a velha porta de madeira pesada.

 

 

                                         CAPITULO V

 

 

Melanie achou incrivelmente difícil trabalhar depois que eles se foram. Sentia frio. Antes, movida pelo entusiasmo da atividade, sentira-se aquecida, mas agora, subitamente, tudo parecia sem graça. Largou o pano que estava usando para limpar e vestiu o casaco de pele de carneiro. Antes de mais nada ia fazer funcionar aquele aquecedor e nada haveria de detê-la.

Mas era mais fácil falar do que fazer. Não sabia se Jennifer tinha ou não comprado alguma lenha. O fato é que não tinha na casa nada com que acender o fogo.

Decidida, Melanie saiu e caminhou o mais depressa que podia até a aldeia. O que tinha sido tão rápido de carro era uma caminhada bastante dura, sobretudo naquela superfície escorregadia. A melhora do tempo tinha trazido consigo uma queda de temperatura.

A mulher da loja estranhou quando ela pediu varetas para o fogo.

— A srta. ... srta. Craig esteve aqui agora há pouco comprando isso mesmo — contou ela, com óbvia curiosidade. — Pensei que fosse para a senhora.

— É. Mas preciso de mais algumas. — Melanie sorriu fingindo uma calma que não sentia. — Não se importa, não é?

— Aí está — disse a mulher, colocando diante dela um saco de plástico.

— Muito obrigada.

Melanie pagou, pegou o saco e saiu sem dizer mais nada. Estava tentando não pensar nas razões que teriam levado Sean Bothwell a impedir com tanta veemência que Jennifer a ajudasse, mas era difícil esquecer a cara dele, possesso como estava. Achava a solicitude dele com a mocinha ao mesmo tempo compreensível e perturbadora. Qual seria o envolvimento deles? Será que ele a amava? Por sua maneira de agir dava essa impressão. E se a amasse será que tencionava levar a noiva para viver em Monkshood?

Sacudiu a cabeça, confusa. Se assim fosse, poderia compreender a frustração dele. Mas não podia se deixar levar pela emoção.

Passou os portões e começou a subir em direção a casa. De repente uma lufada de fumaça a envolveu, seguida de outra e mais outra. Arregalou os olhos e olhou para a casa. De uma das chaminés elevava-se uma coluna de fumaça. Excitada, correu para a porta.

— Jennie! Jennie! Já voltei — gritou, ainda no hall.

Mas a casa estava vazia. Voltou para fechar a porta e encostou-se nela, confusa por um momento antes de voltar lentamente para a cozinha. Na sua ausência alguém tinha acendido o fogão e um brilho vermelho e quente inundava a cozinha. Melanie ficou olhando as chamas através da grade, sacudiu a cabeça, largou o saco plástico em cima da mesa e se encostou nela, sentindo-se fraca.

Havia algo de muito enervante em tudo aquilo e sentia vontade de sair da casa imediatamente. Mas nunca se abandonaria a atitudes tão intempestivas. Não era desse tipo. Em vez disso, tirou o casaco e voltou a limpar o forro.

Porém, já estava na hora do almoço e passou só mais quinze minutos trabalhando antes de descer da mesa e limpar as mãos num pano novo. Por precaução abriu a tampa do fogão para olhar. A chama inicial tinha diminuído e precisava de mais combustível. Descobriu que a porta de trás não estava fechada. Portanto, quem quer que tivesse vindo acender o fogão, devia ter entrado por ali. A carvoeira ficava ao lado da porta de trás e ela pegou uma boa quantidade de carvão que colocou sobre as chamas. Feito isso, bem satisfeita consigo mesma, trancou a porta dos fundos e atravessou a casa para sair pela frente.

Assim que chegou à porta da frente, viu, através dos vidros, a silhueta de um homem se aproximando.

Melanie não pôde conter um suspiro de susto e recuou um passo, para não ser vista. Não podia imaginar quem seria, a menos que Jeffrey tivesse vindo procurá-la.

Reunindo toda a sua coragem avançou novamente, mas antes que chegasse à porta ela se abriu subitamente. Para seu grande alívio, reconheceu imediatamente o visitante. Sean Bothwell olhava-a do batente com uma expressão impaciente.

— Está pálida, srta. Stewart — disse ele. — Trabalhar em temperaturas abaixo de zero não deve lhe fazer muito bem, Sobretudo estando tão acostumada aos confortos da vida moderna, como você mesma disse.

— Não estou trabalhando em temperaturas abaixo de zero, sr. Bothwell — respondeu, abotoando o casaco com dedos trêmulos. — Alguém acendeu o fogão para mim.

— Mesmo assim — disse ele, levantando as sobrancelhas —, vai levar um bom tempo para esquentar todo este mausoléu.

— É verdade. — Melanie sorriu docemente. — Por isso mesmo eu já cuidei de botar lenha suficiente no fogão para durar a tarde inteira.

— Pretende voltar à tarde? — perguntou Sean.

— Por que não?

— Vem vindo uma tempestade das montanhas. A previsão é de mau tempo. Eu ficaria no hotel, se fosse você.

— Mas você não é eu, sr. Bothwell — disse ela, impaciente. — Dificilmente poderei ficar detida aqui por causa da neve, não acha? Estamos a menos de cem metros do hotel.

— Como quiser, srta. Stewart.

Melanie fez um movimento em direção à porta e ele recuou um passo para dar passagem. Mas ela hesitou antes de sair. Estava muito consciente daquele corpo forte e daqueles olhos extremamente cinzentos.

— Diga-me uma coisa: por que deixou Jennifer voltar e acender o fogão, afinal?

— Acha que deixei?

— Que quer dizer? — perguntou Melanie, quase sem ar.

— Exatamente o que disse. Jennifer não acendeu aquele fogão. — Os olhos cinzentos eram intensos.

— Então, quem foi? — Ela o encarou um momento, depois desviou o olhar, sentindo o coração bater mais rápido, — Claro. Eu devia ter adivinhado. Foi você.

— Fui? — perguntou ele, encolhendo os ombros largos. — E por que deveria fazer uma coisa dessas? Sobretudo depois de você ter me contrariado vindo até aqui.

— Você está me gozando — disse ela, arranjando o cabelo atrás da orelha num gesto distraído. — Se me dá licença, o almoço deve estar pronto e tenho de voltar para o hotel.

— Talvez o velho Angus tenha acendido o fogão para você — disse ele, encostando-se na porta aberta. — Algumas pessoas da aldeia juram de pés juntos terem visto fumaça saindo das chaminés mesmo depois que ele morreu.

— Oh, sr. Bothwell — disse Melanie, encarando-o ferozmente —, está decidido a me impedir de vir aqui. não é? Pois fique sabendo de uma coisa: não tenho medo de coisas sobrenaturais e também não acredito que o fogão tenha sido aceso por algum fantasma. O senhor acendeu aquele fogão, sr. Bothwell. E nada que possa me dizer vai me convencer do contrário.

— Eu não acendi o fogão, srta. Stewart. — Bothwell endireitou o corpo. — Dou-lhe minha palavra de honra.

Melanie olhou-o por mais um momento, depois mordeu o lábio e caminhou rapidamente para o portão. Não ia permitir que ele a intimidasse dessa forma. Ele gritou o nome dela, mas Melanie não se virou para olhar.

Em vez disso andou mais depressa, quase correndo para o hotel. Só quando a empregada colocou sobre a mesa um molho de chaves, dizendo que vinham com os cumprimentos do sr. Bothwell, foi que ela se lembrou de que não tinha trancado a porta de Monkshood.

Por causa de tudo o que tinha acontecido, Melanie não voltou a Monkshood naquele dia. Depois do almoço, começou a sentir uma terrível enxaqueca, causada sem dúvida pelo esforço de limpar o teto da cozinha naquela manhã. Teve de ir para a cama em vez de voltar à velha casa. Dizia a si mesma que lamentava não poder voltar lá, mas no fundo sabia que não era verdade. Tinha tido já problemas suficientes para um único dia.

Como não sentia fome, não desceu para jantar e a jovem criada veio bater à sua porta, para saber se precisava de. alguma coisa. Melanie aceitou um pouco de café e foi para a cama pouco depois das oito horas.

Na manhã seguinte a tempestade de neve que estava prevista chegou finalmente. Quando desceu para o café da manhã, Melanie percebeu que o vento uivava em torno do hotel. Era impossível evitar as correntes de ar. Comeu pouco, pensando se devia tentar chegar a Monkshood mesmo no pico do temporal, mas resolveu esperar. Passou a manhã inteira na saleta de estar, jogando cartas com Alaister e Ian Macdonald, diante do fogo aceso na lareira. Alaister parecia ter perdido aquela agressividade com ela. Talvez porque estivesse curioso, assim como Ian devia estar, para saber qual era sua ligação com Monkshood.

Ambos lhe fizeram perguntas sobre seus planos imediatos e Melanie se viu em dificuldades para responder sem mentir. Mas, aparentemente, deram-se por satisfeitos com suas respostas e a conversa terminou caindo sobre o falecido proprietário de Monkshood. Alaister conhecia Angus Cairney desde muitos anos atrás. Na verdade, desde a Segunda Guerra Mundial. Falava bastante sobre sua amizade com o velho solitário e contou que costumavam jogar xadrez uma vez por semana.

— Sean era a única alegria do velho — revelou Ian.

Melanie pensou que estranha amizade devia ser aquela, mas não fez perguntas. Os assuntos de Sean Bothwell não eram da conta dela. Evitaria a todo custo dar a Sean a oportunidade de pensar que ela estava tentando colher informações sobre a vida particular dele. Ou do velho Angus.

Depois do almoço, os hóspedes mais velhos se retiraram aos seus quartos para descansar e Melanie ficou diante da janela da saia de jantar, olhando pensativa lá para fora. Ainda nevava, mas não tão pesado quanto antes. Aquela inatividade forçada estava começando a irritá-la, pois tinha muita coisa para fazer em pouquíssimo tempo.

Resolveu ir até Monkshood. Subiu, vestiu roupas quentes e desceu de novo. Ao sair do hotel encontrou Jeffrey Bothwell e ele estranhou que ela estivesse saindo com aquele tempo.

— Não vai tentar dirigir com um tempo desses, não é? — exclamou ele.

— Não. Vou só até Monkshood. Dá para ir a pé.

— Ah, sei. Monkshood — repetiu o rapaz. — Quer companhia?

— Não... melhor não — disse ela depois de pensar um momento, encarando o jovem. — Seu irmão podia não gostar. Ele não quer que eu faça a limpeza lá e ontem, quando descobriu que Jennie estava comigo, me ajudando, ficou uma fera!

— Ah, mas isso é diferente.

— Porquê?                                                             

— Jennie não lhe contou que ainda está se recuperando de um ataque muito forte de pleurite? Ela não é muito forte e acho que Sean estava preocupado por causa disso...



  

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