Хелпикс

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Capítulo III 3 страница



Continuou sua exploração, descobrindo que o andar superior era muito parecido com o de baixo. A casa eslava inteiramente mobiliada, mas se resolvesse morar ali ia ter de fazer muitas modificações. Parou um momento para pensar por que é que Bothwell estava dentro da casa. Sacudiu a cabeça: afinal, ele tinha presumido que a casa era dele, portanto podia estar ali quando quisesse.

Era meio-dia e meia quando saiu de Monkshood para ir almoçar no hotel. Nevava ainda pesadamente. Surpresa, tinha encontrado um molho de chaves sobre a mesa da cozinha. Eram sem dúvida as chaves de Bothwell. Mas teria preferido que ele tivesse ficado com elas. Parecia tão definitivo entregá-las assim. Não conseguia evitar a sensação de culpa que a invadia naquele momento.

Caminhando sobre a neve macia, surpreendeu-se ao ver um carro esporte ultra-modemo parado em frente ao hotel, todo sujo de lama gelada. Parecia tão inadequado ao lado do enorme jipe! De quem seria? Talvez de algum outro hóspede.

O almoço era servido à uma, portanto teria tempo de ir até seu quarto para lavar o rosto e trocar de roupa. Não havia ninguém na recepção, mas ouviu vozes vindas do bar. Devia ser o dono do carro, tomando um drinque.

Quando tomou a descer foi diretamente para a sala de jantar e encontrou as irmãs Sullivan conversando com o outro senhor, perto do fogo. Elas a cumprimentaram muito sorridentes e apresentaram-na ao outro hóspede. O nome dele era Ian Macdonald e perguntou logo onde é que ela tinha ido para estar tão corada.

— Fui visitar Monkshood — disse, sorrindo para Jane. — A senhora disse que ficava perto da aldeia e consegui achá-la com facilidade.

— Ah, é? — Jane Sullivan disse, levantando as sobrancelhas em pretensa indiferença.

— Monkshood — ponderou Macdonald. — Por que uma moça como você estaria interessada num lugar velho daqueles? Foi posta à venda, afinal? Sean não falou que ia vender!

Melanie percebeu o olhar significativo que Elizabeth lançou para o homem, mas ele não se importou.   

— Ora, Elizabeth — protestou — todo mundo sabe que Sean é o dono de Monkshood. Pois não foi só isso que ele herdou do velho Angus. Ele é esperto demais.

Melanie abaixou a cabeça. Diante de tudo aquilo não podia revelar que Monkshood era dela. Ficou aliviada quando viu a criada entrar com as primeiras bandejas de almoço, e todo mundo se acomodou, cada um em sua mesa. Alaister sentou-se com Ian Macdonald e as irmãs Sullivan falavam sem parar. Melanie ficou contente por não ter de dizer mais nada.

A comida estava ótima. Uma sopa grossa seguida de um filé apetitoso, com torta de rins. A sobremesa era uma torta de maçã com creme. O menu podia não ser muito inspirado, mas era muito bem preparado c saboroso. Se continuasse comendo assim, ia acabar engordando.

Depois do almoço os outros hóspedes foram para seus quartos, mas Melanie sentou-se diante do fogo com sua segunda xícara de café.

Agora que já tinha visto a casa e feito sua própria avaliação, nada mais a detinha em Cairnside. Podia retornar a Londres como tinha planejado. Era boa a sugestão de Bothwell. Podia arrumar alguém para cuidar do prédio. O único problema que restava era apanhar seu carro, ainda na estrada. Claro que podia ir de trem e mandar buscar o carro depois, quando o tempo estivesse melhor, mas não queria isso, sem saber bem por quê. Talvez dentro de uns dois dias conseguisse encontrar alguma oficina que pudesse desencalhar o carro e, enquanto isso, podia se divertir tirando medidas para cortinas, tapetes, essas coisas.

Suspirou, olhando a neve que caía ainda pesadamente nas. janelas da sala de jantar. Se Michael soubesse de tudo ia exigir que ela voltasse imediatamente, mas ela não tinha nenhuma pressa. A não ser por suas discussões com Bothwell, estava se divertindo ali, e a neve, apesar de tudo, era uma novidade. Só voltaria a Londres quando se sentisse absolutamente pronta para isso.

De repente ouviu ruído de vozes e a porta se abriu. Bothwell entrou, acompanhado de uma moça que Melanie nunca tinha visto antes. Era tão alta quanto Melanie, mas mais magra. A tal ponto que o rosto era quase encovado. Os cabelos eram quase brancos de tão loiros e acentuavam ainda mais a palidez de sua pele. Apesar de não ser feia, suas roupas eram tão deselegantes que ela chamava atenção. Estava dependurada no braço de Bothwell, olhando-o com um ar de adoração.

Melanie sentiu de repente que não devia estar ali testemunhando a cena. E Bothwell a fez sentir ainda mais inadequada quando pousou nela os olhos frios. Melanie pensou em se levantar e sair, mas isso chamaria a atenção deles para ela. Em vez disso, encolheu mais as pernas e voltou o rosto para os troncos que queimavam perfumados na lareira.

Bothwell soltou-se da menina e pegou-a pela mão, arrastando-a até onde Melanie estava.

— Jennie, quero apresentá-la a uma nova hóspede do Black Bull. A srta. Stewart.

Melanie viu-se forçada a voltar-se e encará-los, pondo-se de pé, consciente do olhar com que Sean a examinava dos pés à cabeça.

— Como vai? — disse a moça, apertando calorosamente a mão de Melanie. — Meu nome é Jennifer Craig.

Melanie apenas sorriu.

— Eu moro perto daqui, depois da aldeia, às margens do lago — prosseguiu a moça. — Vai ficar muito tempo?

— Não. Creio que não — respondeu Melanie, surpresa com a franqueza da menina. — A menos que o tempo me prenda aqui.

— É. Está ruim mesmo, não é? — Jennifer riu. — Eu estava dizendo para Sean que a gente devia fazer uma festa sobre patins, se o lago congelar. Mas, sabe, a gente já está acostumado com esse tempo. Não é, Sean?

— É. É verdade — confirmou Bothwell, olhando para Jennifer com uma expressão tão doce que Melanie sentiu um aperto na garganta.

Ele nunca olharia para mim com tamanha ternura, pensou. E imediatamente tomou consciência do que tinha pensado, sentindo-se incômoda.

— Está de férias, srta. Stewart?

— Não exatamente... — Melanie disfarçou.

— A srta. Stewart veio para ver Monkshood — disse Bothweil, pousando novamente os olhos frios em Melanie.

— Monkshood? — perguntou Jennifer, surpresa. — Está interessada em casas antigas, é?

Mas antes que Melanie pudesse responder, Bothwell tomou a iniciativa.

— A srta. Stewart é a nova proprietária de Monkshood — informou ele, frio e cortante.

— Quer dizer... quer dizer que Angus, afinal de contas, tinha parentes? — perguntou Jennifer.

__ Um — acrescentou ele, sem nenhuma expressão.

— Oh, Sean! —exclamou Jennifer, olhando-o preocupada.

— Não fique tão abalada, Jennie — ordenou Bothwell, passando o braço pelos ombros magros da mocinha. — A srta. Stewart ainda pode resolver me vender a casa.

Jennifer suspirou e voltou-se para Melanie.

— Oh, faria isso, srta. Stewart? Nós... quer dizer, Sean queria tanto aquela casa.

— Eu... ainda não decidi o que vou fazer com a casa — disse Melanie, sincera, apertando as mãos juntas.

— O sr. Cairney sempre dizia que a casa ia ser de Sean um dia — contou Jennifer, emocionada.

— A srta. Stewart não está interessada nas razões por que queremos a casa — interrompeu ele rudemente. E, voltando-se para Melanie, concluiu; — Acho que vai partir logo, agora que já viu a casa, não?

— Também não resolvi isso ainda — exclamou, surpresa com a

expressão do rosto dele.

— Pois devia resolver logo — disse ele, duro. — O tempo está piorando e a previsão não é nada boa.

— Você deve ter esquecido que o meu carro ainda está lá na estrada —

respondeu, irritada.

— Não, não está — disse Bothwell, pegando um cigarro. — A oficina de Rossmore localizou o carro hoje de manhã. Deve estar sendo rebocado para cá agora.

— Mas... mas a moça do balcão disse que eles não iam poder... — Melanie estava desapontada.

— Falei com o gerente — explicou ele com um olhar pesado — e disse que você queria partir logo por causa do estado das estradas.                      

— Não me lembro de ter-lhe comunicado quanto tempo eu pretendia ficar aqui — disse, sentindo vontade de bater o pé no chão de tanta raiva. — Acho que devo lhe agradecer por ter cuidado do carro, mas ainda não sei quando é que vou partir.

Jennifer assistia à discussão com um ar muito preocupado. Melanie caminhou para a porta. Não tinha por que ficar discutindo algo que dizia respeito exclusivamente a si mesma.

Mas Bothwell chegou à porta antes, apoiando a mão na madeira escura, impedindo-a de sair.

— Se está preocupada com o estado da casa durante a sua ausência, não precisa ficar — aconselhou-a friamente. — Cuidei do lugar durante estes três meses, desde que Angus morreu, e posso continuar cuidando até que você resolva o que vai fazer.

— Obrigada, sr. Bothwell, mas há algumas coisas que quero fazer pessoalmente antes de partir.

— O quê, por exemplo?

— Não acho que tenha de lhe dar satisfações, mas, se quer saber, pretendo fazer uma limpeza na casa! — Não era verdade, mas Melanie não estava disposta a permitir que ele a mandasse embora de Cairnside a seu bel-prazer.

— Mas, srta. Stewart — interrompeu Jennifer. — Não pode fazer isso sozinha. A casa precisa de uma faxina completa. Está imunda!

— Isso não me assusta — disse Melanie, conseguindo sorrir. — Não fujo de trabalho pesado, srta. Craig. Na verdade, vou até achar divertido. Agora, se me dão licença...

Lançou um olhar provocante a Bothwell. Ele tirou a mão da porta, mas um lampejo brilhou em seus olhos diante da recusa de Melanie. Ela sorriu mais uma vez para Jennifer, saiu e fechou a porta.

Só quando estava subindo as escadas foi que percebeu quanto tremia. Entrou no quarto, mas não foi capaz de sentar-se. Caminhou de um lado para o outro. Por que é que Bothwell queria tanto que ela fosse embora logo? Que mal podia lhe fazer se ficasse ali? É claro que sentia por ele ter perdido a casa que dava como certa, mas ele não acreditaria nunca em seus sentimentos. E Melanie nada podia fazer contra aquele frio ressentimento dele. Era evidentemente um homem orgulhoso e arrogante, que não aceitaria nada de alguém como ela.

Desde o começo a atitude dele tinha sido de impaciência não disfarçada e deixava sempre claro que considerava-a irresponsável por não seguir os seus conselhos. Mas na verdade nunca tinha dado conselhos. Tinha dado ordens e era por isso que ela reagia tão violentamente contra ele. Bothwell não tinha nenhum direito de dizer a ela o que devia ou não fazer. E não tinha também o direito de considerá-la tola e sentimental só porque tinha confiado a ele quanto desejava uma casa própria.

Caminhou até a janela. A melhor coisa a fazer seria retornar a Londres imediatamente, como ele havia dito. Agora que já tinha garantido que a casa ia ser bem cuidada, podia deixar seus planos para a primavera, quando seria bem mais fácil convencer Michael de que a casa era linda. Além disso, ele poderia vir com ela da próxima vez. Seria muito animador.

Olhou em volta, examinando o quarto. Um enorme ressentimento crescia dentro dela. Não queria partir. Queria ficar e limpar a casa, exatamente como tinha inventado há pouco lá embaixo. Queria abrir as janelas para arejar as salas, queria ver fumaça saindo das chaminés e tudo limpo, brilhando.

Sua cabeça funcionava a todo vapor. O editor esperava que voltasse até o fim da semana, mas os rascunhos das ilustrações já estavam quase prontos e podiam esperar mais um ou dois dias. Considerando o número de quartos da casa, uma semana havia de ser suficiente para uma faxina completa. Conseguiria aplacar Michael por esse tempo. Além disso, ele estava muito ocupado e não ia sentir muito a falta dela.

Enfiou as mãos nos bolsos da calça. Sentia-se a cada momento mais animada com aqueles planos. Queria começar agora mesmo.

Desceu, decidida, e tocou a campainha da recepção. A moça loira surgiu da porta e sorriu ao ver que era Melanie.

— Quer a sua conta? — perguntou, já procurando entre os papéis do balcão.

— Não — respondeu com firmeza. — Quero apenas comunicar que vou ficar mais uma semana.

— Uma semana, srta. Stewart? — perguntou a moça. surpresa. — Mas seu carro acaba de ser trazido. Está aí fora. Sean tinha dito que a senhora ia embora amanhã de manhã.

— Acho que o sr. Bothwell se enganou — disse claramente, comprimindo os lábios, controlando a raiva. — Resolvi ficar.

— Bom, então vou ter de perguntar a Sean se não tem problema — disse a moça, confusa.

— Então pergunte — disse Melanie, respirando fundo. — E diga também a ele que, caso se recuse a me receber aqui no hotel, eu terei de ir morar em Monkshood!

 

 

                                        CAPITULO IV

 

Melanie se vestiu com cuidado para o jantar daquela noite. Por alguma razão sentia vontade de demonstrar a Sean Bothwell que sua irritabilidade não a afetava em nada. Pretendia manter seu ar de indiferença quando se encontrasse de novo com ele.

Escolheu um vestido de veludo cor de vinho. Era longo e reto, moldando seus seios de forma a realçá-los e caindo depois em dobras fartas até os tornozelos. O cabelo, repartido no meio, caía macio em volta do rosto, dando-lhe um ar bastante descontraído, uma vez que a única maquilagem que usava era uma sombra violeta enfatizando os olhos.

Satisfeita com a própria aparência, desceu os degraus até a sala de jantar. Foi saudada com alegria pelos dois velhos, que a olharam com visível admiração.

— Helen nos disse que você vai ficar mais uns dias — disse Ian Macdonald, levantando-se à entrada dela.

— Helen? — perguntou Melanie. — Ah, sim, a recepcionista. É. Vou ficar mais uma semana.

— Que foi que a fez mudar de idéia? — perguntou Elizabeth Sullivan, interessada. — O sr. Bothwell tinha dito que ia ficar só uns dois dias...

— Acho que gostei daqui — conseguiu dizer, sem demonstrar emoção. — Ainda está nevando?

Não estava. O céu estava claro, brilhante, pela primeira vez desde que ela deixara Fort William, no dia anterior. Sua pergunta teve exatamente o efeito que ela esperava — mudar o rumo da conversa —, e quando Alaister começou a dizer que achava que o lago logo ia congelar, todo mundo se esqueceu das razoes que poderiam ter provocado a permanência de Melanie em Cairnside.

Depois do jantar Melanie resolveu chegar até o bar. A coisa mais forte que tinha tomado desde que saíra de Londres fora café, e de repente sentiu vontade de tomar algo alcoólico.

O bar estava quase vazio quando ela entrou. Havia um rapaz bastante jovem atrás do balcão curvo, de madeira polida, cheio de luzes coloridas. Era um alívio ver alguém jovem por ali e Melanie sorriu para ele, pedindo um licor.

— Você é a srta. Stewart, não? — perguntou ele, servindo a bebida.

— Sou, sim — respondeu, apoiando o rosto na mão. — E você, quem é?

— Sou Jeffrey Bothwell. Irmão de Sean.

— Ah! — ela disse, meio surpresa. — Não sabia que ele tinha um irmão.

— Nem podia mesmo. Você só chegou ontem, não foi? E eu estava de folga. Passei a noite com uns amigos e só voltei hoje de manhã.

— Não vim ao bar ontem à noite — disse Melanie, virando o cálice entre os dedos. Queria saber mais. — Você gosta de trabalhar aqui no hotel?

— É bom. Trabalho só meio período. Estou numa escola de Glasgow, mas como estou de férias vim dar uma mãozinha. O hotel é negócio de família. Você deve ter conhecido minha irmã também.

— Irmã?

— É, a Helen. Ela fica sempre na recepção.

— Ah, claro — respondeu Melanie, surpresa.

— Nós todos ajudamos — disse o rapaz, polindo os copos. — Mas o hotel é de Sean agora. Ele é o filho mais velho.

O filho mais velho!

Essas palavras ecoaram na mente de Melanie. Intrigada, ela repetia a frase para si mesma quando percebeu que não estavam mais sozinhos. Havia entrado um homem alto. muito moreno, parecendo muito elegante e imaculado num smoking impecável e camisa branca brilhante. Era Sean Bothwell.

— Boa noite, srta. Stewart — disse polidamente, parando ao lado dela. — Creio que deixou um recado para mim com Helen.

Melanie teve de fazer um esforço para se controlar, pois todos os seus sentidos exigiam que colocasse a maior distância possível entre eles. Era-lhe impossível ficar insensível à presença perturbadora dele, sobretudo quando a olhava tão intensamente, com aqueles olhos cinzentos, estranhos, avaliando insolentemente a qualidade de seu vestido, detendo-se por um longo momento na alvura de seu colo e pescoço. Ela se viu encarando-o, numa tentativa de enfrentar aquela segurança com igual força. Mas aqueles ombros largos e a potência dos músculos que apareciam debaixo do tecido caro da roupa a excitavam, fazendo com que corasse involuntariamente.

Confusa e apressada, pegou o copo e tomou um gole grande, quase engasgando. Ele apenas esperou que ela ficasse mais controlada.

— Helen me disse que pretende ficar mais uma semana.

— É verdade — concordou, olhando novamente para ele. — Se isso não o incomoda.

— Por que incomodaria? — perguntou, sentando-se no banquinho ao lado dela e apertando os olhos num sorriso provocador.

Por alguma razão ele estava decidido a desconcertá-la. Ela, no entanto, preferia a arrogância dele do que aquela faceta nova, que lhe parecia mais perigosa. Talvez ele tivesse percebido que brigando com ela não conseguiria o que queria, tendo, portanto, optado por outros métodos para forçá-la a ir embora.

Jeffrey se afastou para atender outros clientes, deixando-os a sós. Melanie suspirou. Tomou mais um gole e se concentrou nas luzes coloridas do bar. Mas era inútil porque podia sentir o olhar dele o tempo todo. Tudo o que queria era que a deixasse e fosse atender aos outros clientes.

— O que é que está esperando, sr. Bothwell? — perguntou, irritada, voltando-se para ele. — Já confirmei o que tinha dito a Helen. Isto encerra o assunto.

— Achei que podíamos conversar — disse, inclinando a cabeça de lado e olhando-a ainda mais intensamente.

— Sobre o quê?

— Sobre o nosso relacionamento, talvez. Ou quem sabe sobre Monkshood.

— O senhor não quis falar disso antes, por que é que mudou de idéia de repente?

— Talvez eu esteja começando a perceber quanto você é decidida, srta. Stewart — disse ele, apertando os olhos de novo, com aqueles cílios enormes. — E então? O que me diz?

Melanie mordeu o lábio. Estava dividida entre a vontade de se afastar o mais que pudesse daquele homem perturbador e o desejo igualmente forte de tentar explicar a ele o que realmente sentia a respeito de Monkshood. Nb fim das contas, não deviam ser inimigos, pois não havia absolutamente razão para isso.

— Muito bem, então falemos sobre Monkshood — disse ela finalmente, ainda cheia de dúvidas. — Talvez a gente possa chegar a alguma espécie de acordo.

— Não aqui — disse ele, pondo-se de pé. — Prefiro conversar em particular.

— Oh, mas... acho que... não... — disse, confusa, arregalando os olhos.

— Vamos, srta. Stewart, não vai me dizer que tem medo de tomar um drinque sozinha comigo. — Ele deu a volta e entrou no balcão. — O que é que gosta mais? Uísque? Rum? Conhaque? Gim?

— Não quero nada, não, obrigada. — Melanie sentia-se inquieta.

— Ora, vamos, você deve gostar de alguma coisa. — Ele sorriu. — Uisque e gelo, não?

— Eu estou cansada, sr. Bothwell. — Melanie suspirou. — Talvez devêssemos deixar nossa conversa para outra hora.

Bothwell parou diante dela com uma garrafa de uísque e dois copos na mão, olhando-a intensamente.

— Está com medo de mim, srta. Stewart?

— É claro que não — disse Melanie, tomando o último gole de seu licor.

— Ótimo. Então vamos?

Ele indicou com um gesto que ela devia ir na frente e saíram ambos para a recepção. Alguém tinha deixado a porta da frente aberta e um vento gelado soprava de fora. Bothwell pousou a garrafa e os copos no balcão de recepção e foi fechar a porta, enquanto Melanie cruzava os braços sobre o peito, tremendo tanto de frio quanto de apreensão.

— Pensei que ia fugir de mim — disse, sardônico, ao voltar para o lado dela.

— Oh, por favor, sr. Bothwell, pare de querer brincar de gato e rato comigo. Estou certa de que o senhor deve ser um adversário bastante experiente, mas não gosto de jogos!

— E mesmo, srta. Stewart? Que pena. Pensei que todas as jovens emancipadas gostassem de se aventurar, verbalmente, pelo menos, em território masculino.

— Para onde vamos? — perguntou, olhando em torno, recusando-se a se deixar intimidar.

Bothwell deu a volta ao balcão, pegou as garrafas e abriu a porta.

— Aqui, srta. Stewart. Quer entrar?

Ele ficou no batente, esperando que ela passasse e entrasse na sala iluminada apenas pela lareira. Ela olhou em volta, nervosa, quando ele fechou a porta, mas Bothwell não fez nada demais. Apenas colocou a garrafa e os copos na mesa e acendeu um abajur que encheu o ambiente de uma luz dourada.

Era uma sala confortável, pequena e bem arrumada, com o equipamento de um escritório misturado a coisas mais caseiras. Além da grande escrivaninha e de dois arquivos, havia duas grandes poltronas de couro vermelho-escuro, ligeiramente gastas, mas muito confortáveis, e um divã antiquado acolchoado em veludo verde-musgo. A mesa estava cheia de papéis, numa espécie de bagunça organizada. A única coisa que parecia deslocada naquele ambiente era o telefone.

Melanie circulou lentamente pela sala, sentindo o calorzinho gostoso do fogo da lareira, enquanto Sean enchia os copos. Aceitou o seu copo e ficou parada, incerta, ao lado do fogo que crepitava, cheirando a resina.

— Sente-se — convidou ele, indicando uma das poltronas vermelhas e tragando metade do drinque num gole só.

Melanie hesitou um pouco, depois obedeceu, deixando o copo sobre a lareira. Não ia beber nada.

— Diga-me uma coisa — disse ele depois de terminar o uísque, enquanto se servia de outro. — Que preço acha que pode conseguir por Monkshood?

— Não sei — respondeu, surpresa. — Imagino que não seria muito alto.

— Cinco mil libras?

— Talvez. Mas acho um pouco demais. Quatro mil é mais possível.

— Sei — disse Bothwell, tragando de novo o uísque num gole só. — Quatro mil, é? Então, se alguém oferecesse oito mil, você acharia essa uma oferta generosa?

— Oito mil?! — exclamou, incrédula, encarando-o. — Ninguém ofereceria oito mil libras por Monkshood!

— Eu ofereço.

— O quê?! Você está brincando!

— Não. Não estou, não — respondeu, olhando-a muito intensamente. — Foi por isso que a chamei aqui. Queria fazer a proposta.

Melanie, que tinha se levantado, caminhou até a lareira e pegou o copo de uísque. Precisava de um gole, agora, para reanimá-la do susto. Não podia acreditar. Bothwell eslava oferecendo oito mil libras por uma propriedade que não valia nem a metade.

Esvaziou o copo e ele veio até ela, pegando-o de sua mão para enchê-lo de novo. Ela aceitou o novo drinque automaticamente, mas não bebeu logo.

— Por que faz tanta questão de Monkshood? — perguntou depois de longos momentos de silêncio. — Na certa deve haver outras casas por aqui. Por que Monkshood?

— Tenho as minhas razoes — respondeu ele secamente, servindo-se de mais um drinque. — Monkshood é conveniente, além de ser a única casa grande por aqui. Pelo menos é a única que está desocupada.

— Está me colocando um problema difícil, sr, Bothwell.

— Por quê?

— Porque eu não quero vender Monkshood.

— Pelo amor de Deus! — disse ele, batendo a mão na testa. — Por quê? Com oito mil libras você pode comprar uma casa de campo perto de Londres, que seria muito mais conveniente para você do que Monkshood.

— Não está entendendo, sr. Bothwell — respondeu ela, depois de tomar um gole. — Gosto da casa. Gosto desta área. Já lhe disse antes, não quero viver perto de Londres.

— Você está louca! — disse, violento, virando mais um gole da bebida. — O que é que essa casa pode significar para você?

— Significa algo que posso chamar de meu pela primeira vez em toda a minha vida! — respondeu ferozmente,

— Mas qualquer outra casa serviria — interrompeu ele, impaciente. — Você não tem nenhum vínculo especial com este lugar. Se eu tivesse lhe dito que aquela casa não era Monkshood e tivesse lhe mostrado qualquer outra casa, você nem teria notado a diferença.

— Teria, sim — respondeu depressa. — Olhe, você tem uma família com você. Irmãos, irmãs. Eu não tenho ninguém. Meus pais já morreram e eu era filha única. Para mim, Monkshood representa uma ligação com o passado, com minha mãe. Pelo menos pertencia a alguém que tinha o meu sangue, ainda que remotamente.

— Baboseira sentimental! Nunca ouvi tamanha bobagem em toda a minha vida. E você está pensando que o seu inestimável noivo, com a sua clientela elegante em Londres, vai acabar concordando em viver numa casa no meio das montanhas, a quilômetros de distância de qualquer sofisticação civilizada?

— Michael pode não concordar em viver na Escócia — respondeu, tremendo. — Estou preparada para enfrentar esse fato, mas isso não quer dizer que eu tenha de vender a casa. Podíamos mantê-la para passar férias e coisas assim...

— E ficaria absolutamente vazia durante o resto do ano todo!

— Isso. E era sobre isso que eu queria falar com você. Queria sugerir que fizéssemos um acordo para que ambos...

— Ah, pare com isso, por favor! — disse ele, selvagem. — Eu não quero nenhum acordo. Quero Monkshood e, juro por Deus, farei o impossível para conseguir aquela casa!

Com as pernas trêmulas, Melanie não esperou mais nada. Passou por ele, abriu a porte e saiu para a recepção. Estava muito mais frio ali fora, mas ela nem notou. Suas faces e todo o seu corpo estavam queimando. Como tinha podido imaginar que seria possível conversar com aquele homem? Ele era impossível, absolutamente intolerável.



  

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