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Capítulo III 1 страница



 

       A febre da paixão

               Anne Mather

                       “Moonkshood”

                                                                       (1972)                                  

                                        

 

 

                                  CAPÍTULO I

 

 

Estava nevando quando Melanie deixou Fort William. Os flocos miúdos e irrequietos de neve se grudavam ao vidro do carro, mantendo o limpador de pára-brisa muito ocupado. Mas agora os flocos eram grandes e macios, aparentemente imunes à ação dos limpadores, cobrindo o vidro do carro sem se derreterem, quase impedindo a visão.

Melanie procurava dominar a sensação de pânico que a situação provocava nela, consolando-se com a idéia de que não devia estar longe de seu destino. Afinal, tinha passado há algum tempo a placa indicando o lago Cairnross e já devia ter rodado alguns quilômetros, apesar de só poder avançar muito devagar. Mas estava ficando escuro e, apesar de ainda ser muito cedo, Melanie achava tudo muito enervante. Mesmo assim recusava-se a admitir que Michael tivesse razão ao dizer que era uma bobagem irresponsável tentar ir sozinha de carro desde Londres até Cairnside, bem no meio de dezembro.

Olhava agora atentamente para a tempestade de neve lá fora, tentando distinguir algum sinal de civilização naquela desolação. Devia haver alguma habitação por ali. Alguém haveria de viver naquele lugar distante e isolado, mesmo que fosse apenas um pastor ou camponês. Lembrou-se das histórias que tinha lido sobre as montanhas escocesas, as descrições da vida solitária dos trabalhadores daqueles vales isolados entre as encostas. Lembrou-se também dos casos de motoristas e alpinistas presos em seus carros por causa da neve e que acabavam sendo encontrados só muitos dias depois mortos de frio e de fome...

Respirou fundo. Estava se deixando levar pela imaginação, pois não havia razão para pensar que ia ficar presa na tempestade de neve, uma vez que o carro continuava rodando em segurança.

Mas uma outra idéia surgiu em sua mente, fazendo com que reduzisse a marcha quase involuntariamente. Depois que escurecesse havia o enorme perigo de sair da estrada sem perceber e acabar se enfiando pelos pântanos, podendo até cair dentro de algum dos lagos. Como poderia distinguir os limites da estrada na escuridão, se tudo estava coberto de neve?

Um minuto depois de ter pensado nisso, as rodas começaram a derrapar. Era inútil continuar acelerando, pois isso apenas afundaria mais as rodas na neve.

Fechou o casaco até o queixo e enfiou o gorro de peies que eslava no banco a seu lado, desde que saíra de Londres no dia anterior. Abriu a porta e saiu do carro aquecido para a fúria gelada da nevasca. Por um momento aquele vento tão frio a deixou sem ar, mas ela não perdeu tempo tentando olhar ã sua volta, uma vez que a visibilidade se reduzia a poucos metros. Curvou-se e olhou as rodas de trás do carro. Os pneus estavam cobertos com uma grossa camada de neve e não se agarravam mais na superfície escorregadia. Endireitou o corpo, suspirando e arranjando o cabelo que caía no rosto por debaixo do gorro. Os flocos de neve derretiam assim que tocavam seu rosto. Que haveria de fazer? Não tinha idéia de onde estava. Era a primeira vez que vinha à Escócia, e o fato de estar sozinha tomava tudo pior.

Resolveu,que era mais razoável continuar seca enquanto pensava no que fazer e voltou para dentro do carro. Olhou o relógio. Passava um pouco das três e meia da tarde, mas parecia já estar anoitecendo naquela desolação gelada. Olhou em torno de si, tremendo. Havia as malas.. Lá dentro tinha apenas roupas, mas podiam servir. Se pegasse alguma peça velha, limpasse, o pneu e depois a estendesse no chão, talvez conseguisse fazer o carro rodar novamente. Pelo menos até chegar a alguma casa.

Ajoelhou-se no banco e abriu uma das malas. Examinou as malhas e roupas de baixo, pensando que, o que quer que usasse para tentar dcsatolar o carro, ficaria permanentemente danificado. Além disso nem poderia parar e descer para pegar de volta a roupa da estrada. Mordeu os lábios. Não, esse pensamento não era nada construtivo. De que lhe valeriam todas aquelas roupas se morresse gelada ali?

Decidida, puxou dois suéteres de lã que achou, que podiam servir de calço. Desceu do carro de novo e se curvou para enfiar as malhas debaixo dos pneus de trás, O vento uivava nos pinheiros da beira da estrada e os flocos de neve picavam suas faces. Tentava desesperadamente manter a calma quando tudo à sua volta parecia conspirar para que entrasse em pânico. Tão concentrada estava na atividade que não percebeu o brilho de dois faróis que se aproximavam através da cortina de neve.

De repente se deu conta do barulho do motor e levantou a cabeça, a tempo apenas de saltar de lado para não ser atropelada por um enorme jipe, já estacionando a seu lado na estrada estreita. Borrifada pela lama gelada, tremendo e quase sem ar, tanto pelo susto quanto pelo frio. Melanie viu um homem descer e caminhar pesadamente até ela. Era impossível distinguir as feições dele, mas era evidentemente grande e másculo. Um enorme alívio inundou-a.

Já estava para fazer um agradecimento qualquer quando ele parou diante dela, parecendo ameaçador.

— Está querendo se matar? — perguntou em tom áspero e irritado.

— Desculpe... — disse ela, olhando-o com olhos arregalados.

— Ah, é inglesa! — resmungou ele, impaciente, olhando os pneus do carro e os suéteres estendidos na neve. — Que é que estava fazendo?

Ele tinha apenas um ligeiro sotaque, mas era distintamente celta em sua maneira rude e nos cabelos muito pretos e grossos.

— Meu carro atolou, como pode ver — explicou Melanie, tentando ignorar a grosseria dele.

— Não é bem o tipo de carro para esta parte do país, não acha? — comentou secamente.

— É, não é, não — concordou, cautelosa, tentando manter a calma. — Devo admitir que é mais próprio para estradas... civilizadas.

— Isso mesmo — disse o homem com um ligeiro sorriso. — Para onde é que está indo?

— Cairnside. Ainda está muito longe?

— Nem um pouco. Uns três quilómetros. Só que, indo nessa direção, você só vai chegar lá amanhã durante o dia.

— O que quer dizer? — perguntou, apertando os lábios.

— O que acha que quero dizer?

— Que estou indo na direção errada?

— Exatamente. — Ele se abaixou e apalpou as malhas de lã debaixo das rodas. — Melhor tirar isso daqui. Acho que não vão servir para nada.

— O que quer dizer? — Melanie já não se importava em ser gentil. — Onde é que eu errei?

— Acho que você sabe a resposta melhor do que eu — disse ele, sorrindo ironicamente. — Você saiu da estrada para Cairnside há um quilômetro mais ou menos.

— O quê? — exclamou, horrorizada.

— É isso aí. — Ele encolheu os ombros e acrescentou em tom menos irónico: — Isso acontece muito com este tempo. Eu vi as marcas do pneu e vim atrás. Se  você continuasse em linha reta ia acabar no lago Cairnross.

— O quê?! — exclamou, perplexa, percebendo que quase tinha sofrido um desastre. Sentiu as pernas fracas e se apoiou no capo do carro. — Acho... acho que devo agradecer...

— Não precisa — disse ele, sacudindo a cabeça morena. — Eu teria feito a mesma coisa para qualquer um. Mas vai ter de deixar o carro aqui esta noite. Não adianta nem tentar desatolá-lo com isso. Se quiser, podemos pôr a sua bagagem no jipe e ir para o hotel. Pode cuidar do carro quando o tempo melhorar.

— É... é muita gentileza sua... — gaguejou ela. — Mas nem sei o seu nome.

Ele fez uma carranca, passou por ela e abriu a porta do carro para pegar as malas. Bateu a tampa da que estava aberta sem nem olhar o que continha.

— Agora não é hora de pensar nessas formalidades — disse ao passar por ela —, mas, se acha necessário, meu nome é Bothwell.

— Bothwell — repetiu Melanie. — Eu sou Melanie Stewart. Bothwell pareceu nem ouvir. Ou então não prestou atenção. Atirou as

malas na parte de trás do jipe e voltou-se para ela.

— Melhor entrar de uma vez, senão vai congelar aí — aconselhou rudemente. — Deixe que eu fecho o seu carro. As chaves estão dentro?

Melanie fez que sim com a cabeça e entrou no jipe. Lá dentro estava quentinho e só então sentiu quanto estava gelada. Os dedos das mãos e dos pés estavam adormecidos e um fiozinho gelado de água derretida da neve desceu por seu pescoço ao longo da espinha, por dentro da roupa.

Bothwell fechou o carro e veio para o jipe, atirando as chaves para ela. Antes de entrar chutou os pneus com força para livrá-los da neve grudada. Entrou, bateu a porta e acendeu a luz interior, encarando-a então sem a cortina de flocos de neve.

Melanie sentiu aquele olhar um tanto incômodo e perturbou-se ao perceber que o sangue afluía a seu rosto e pescoço. Ele demonstrou ter gostado do que via, mas ela não retribuiu aquele exame insolente, concluindo que não tinha gostado nem um pouco daqueles traços grosseiros. Ele não era bonito. Na verdade, devia ter quebrado o nariz em alguma época; os olhos eram fundos demais e as maçãs do rosto muito salientes.                                                  

 Mas a sensualidade da boca e os olhos cinzentos debaixo de sobrancelhas pretas e espessas deviam ser atraentes para algumas mulheres. Já tinha notado que ele era só alguns centímetros mais alto que ela e que tinha os ombros largos e devia ser musculoso. Era, de fato, tão masculino, que chegava a ser provocante. Concluiu que ele era um exemplo típico daqueles homens que aterrorizaram a fronteira da Escócia com a Inglaterra durante os reinados de Elizabeth I e Mary da Escócia. Estava tão absorta nesses pensamentos que se assustou quando ele falou:

— Precisamente, o que uma moça como você veio fazer por aqui em pleno inverno?

Melanie mordeu o lábio. A franqueza rude da pergunta combinava bem com as maneiras dele. Sentiu-se tentada a dizer que não era da conta dele, mas, ao lembrar que ele era a única chance que tinha no momento para voltar à civilização, achou melhor se controlar. Afinal de contas, era apenas um desconhecido e o tipo de homem com quem ela absolutamente e não estava acostumada a lidar. Pensou que era primitivo e grosseiro e não gostava daquela pretensa intimidade que ele demonstrava, só porque a estava ajudando.

— Estou indo para o Black Bull, em Cairnside — respondeu finalmente.

— É mesmo? — comentou ele, levantando as sobrancelhas. — Lugar estranho para ir nesta época do ano. Não dá para esquiar perto do lago Cairnross, não há nada para fazer lá.

— Não tem importância, sr. Bothwell — respondeu ela, umedecendo os lábios. — Não venho a passeio.

"Ele apertou os olhos, deu de ombros, apagou a luz interna e ligou o motor. Fez uma curva fechadíssima em alta velocidade e começou a voltar pela estrada. O jipe rodava com firmeza sobre a neve e, ao virarem de novo, Melanie adivinhou que deviam estar retornando à estrada.

A tempestade de neve estava abrandando agora e o céu já estava mais claro, iluminando a estrada melhor que os faróis. O vento ainda soprava, uivando, mas pelo menos dava para enxergar o caminho. Bothwelf era um excelente motorista e ela se sentia segura com ele, percebendo que teria tido enorme dificuldade com seu carro se tivesse conseguido chegar até ali. Bothwell não tomou a falar e ela pensou que. ele devia ter entendido que não queria conversa. Fosse por que fosse, era melhor assim. Ele a perturbava quando a encarava. Melanie pensou em Michael. Tentava imaginar o que ele acharia daquele homem a seu lado e concluiu que Michael haveria de taxar aquela poderosa masculinidade de mera grosseria e mau gosto.

A estrada começou subitamente a descer e Melanie teve de se agarrar no assento para não escorregar. De ambos os lados havia florestas de pinheiros com os galhos cobertos de neve e, além delas, as altas montanhas daquela zona. Queria perguntar que montanhas eram aquelas, mas hesitou em quebrar o silêncio. Logo a estrada tornou-se plana outra vez e viu que atravessavam um vale.

Adiante brilhavam algumas luzes e ela se inclinou, animada, para a frente. Ao chegarem mais perto pôde ver para onde iam. O hotel estava aninhado ao sopé de uma montanha alta, cujo pico, envolto em nuvens, descia em encostas cobertas de pinheiros. O Black Bull era pequeno, compacto e agradável. De suas várias chaminés subiam rolos de fumaça clara e os latidos dos cães saudaram a chegada deles. Melanie recostou-se no assento, aliviada. Tinha conseguido chegar e, no momento, isso era tudo o que importava.

Bothwell parou o jipe diante do hotel e, desligando o motor, desceu sem falar com ela. Melanie pegou as luvas e a bolsa e tentou abrir a porta.

Mas antes que o conseguisse, ele a abriu subitamente para ela, voltou-se e entrou no hotel.

Quando ela desceu e bateu a porta, ele já tinha desaparecido lá dentro. Teria de entrar sozinha e isso era um pouco enervante. Será que teriam vagas? E se o hotel estivesse fechado naquela época do ano?

Ao passar a pesada porta de carvalho, teve uma agradável surpresa: um pequeno hall e uma área de recepção acarpetada, com móveis antigos mas muito polidos. Havia um balcão de registro com livro e campainha. A iluminação era fraca, mas pelo menos era elétrica.

Animada com essas provas de conforto, Melanie chegou ao balcão e tocou a campainha, perguntando-se para onde teria ido Bothwell. Não havia sinal dele.

Uma porta se abriu detrás do balcão e uma jovem apareceu. Era baixa, muito loira, as formas arredondadas realçadas pelo vestido justo de lã.

— Sim? Em que posso servi-la? — perguntou, sorrindo gentilmente, com um inconfundível sotaque escocês.

— Claro que é um pouco repentina a minha chegada, mas será que teria um quarto para mim por umas duas noites? — perguntou Melanie, retribuindo o sorriso.

— Sem dúvida, srta. ...—respondeu a moça, surpresa.

— Stewart. Melanie Stewart. Oh, graças a Deus. Eu temia que estivesse lotado.

— Não. Nesta época do ano sempre sobram vagas. Temos um ou dois hóspedes fixos, mas eles não vão incomodá-la. Umas duas noites?

— No mínimo — respondeu Melanie, mordendo o lábio. — Tenho negócios a tratar por aqui e não sei bem quanto vou demorar. A cidade fica longe?

— É só uma vila, srta. Stewart, e fica a um quilômetro. — Ela esperou, olhando para Melanie, evidentemente curiosa por ela estar interessada na vila, mas Melanie achou melhor não revelar nada naquele momento.

— Ahn... meu carro... está atolado a alguns quilômetros daqui — disse ela. — Vou precisar de um mecânico...

— Sei. Olhe, a oficina mais próxima é em Rossmore, a uns seis quilômetros. Se o tempo melhorar pode telefonar para eles amanhã.

— Sim, muito obrigada — disse Melanie. olhando em torno. — O sr. ... o sr. Bothwell me deu uma carona. Vi que entrou no hotel. Saberia onde é que ele está? Eu queria agradecer. Além disso, as minhas malas ainda estão no jipe dele.

A moça hesitou, depois voltou-se e foi até a porta atrás do balcão. Abriu-a e gritou para dentro:

— Sean!

Bothwell apareceu, agora já sem o pesado casaco de pele que usava antes. Parecia ainda mais moreno e musculoso na calça justa e no suéter colante de gola rulê azul-marinho. Melanie sentiu-se mal por ter mandado chamá-lo. Tentava não pensar em quais seriam as relações dele com aquela moça.

Por causa disso foi muito rápida em seu agradecimento e ele limitou-se a inclinar a cabeça às palavras dela.

— Não foi nada — disse ele depois de um momento, com uma expressão irónica que parecia demonstrar que percebia claramente a falta de jeito dela. — Estou acostumado a procurar ovelhas desgarradas e o seu problema não foi muito diferente disso.

— Vou pegar as malas, então — respondeu, forçando um sorriso.

— Eu pego — disse Bothwell, saindo detrás do balcão, num tom que não admitia recusas.

Melanie agradeceu enquanto a moça loira examinava-a, curiosa, deixando-a pouco à vontade. Que olhar!, pensava. Parece que eu sou um bicho raro.

— Quarto 7. Subindo a escada, é a terceira porta à direita — disse a moça, estendendo as chaves assim que Bothwell entrou com uma mala em cada mão.

— Obrigada.

— A arrumadeira sobe daqui a pouco para fazer a sua cama — continuou a moça, lançando um olhar para Bothwell.

Melanie hesitou um momento e subiu as escadas. Os degraus faziam uma curva no alto, desembocando num corredor. Quando estava passando, uma outra porta se abriu, um velho apareceu no batente e ficou olhando, curioso. Bothwell o cumprimentou.

— Quem é, Sean? — perguntou, direto.

— É a srta. Stewart, Alaister — respondeu ele, colocando as malas no chão diante da porta do quarto 7. — Outra hóspede.

— Ah, é? — disse o velho, examinando Melanie abertamente. — Você não disse que estavam esperando mais gente.

— A gente não sabia que ela ia chegar — disse Bothwell, enquanto Melanie levantava as sobrancelhas, surpresa. — Está querendo o seu chá?

— É, é — respondeu o velho, caminhando tropegamente para  os degraus.

— Bom, acho que pode entrar agora — disse a Melanie com um sorriso.

Ela se atrapalhou com as chaves, mas ele se curvou e abriu a porta.

— Não está trancada. A gente não liga muito para a segurança. Melanie apertou os lábios e entrou no quarto enquanto ele acendia as

luzes.

Tinha de admitir que era um quarto bonito. Cortinas estampadas em cores vivas, colcha da cama com franjas longas, mobília de madeira de carvalho também antiga, mas muito bem cuidada. Bothwell abriu as cortinas e voltou-se para ela. Tentando evitar aqueles olhos brilhantes, Melanie se voltou para pegar as malas que estavam na porta.

— Não tem banheiro particular — explicou ele —, mas no fim do corredor tem dois. Se não for das que levantam cedo, vai tê-los quase só para si.

— Acha que durmo até tarde? — perguntou, reagindo à ironia da voz dele.

— Gente da cidade nunca levanta cedo.

— Tem certeza de que eu sou "gente da cidade"?

— Tenho — disse ele, caminhando para a porta sem esperar outra resposta. — O jantar é servido às seis e meia. Eu sei que é muito cedo, mas o cozinheiro tem de ir embora antes das nove.

— O senhor parece saber de tudo, sr. Bothwell! — disse Melanie, fechando os punhos, indignada.

— Tenho de saber. O hotel é meu — respondeu, calmo, fechando a porta ao sair.

Melanie ficou olhando a porta fechada, perplexa. Então ele era o dono do hotel. Por isso o velho havia comentado com ele a súbita chegada dela. De início, tinha pensado que Bothwell também era hóspede, mas agora entendia por que é que ele estava atrás do balcão de recepção. E a loira devia ser mulher dele. Só podia ser, pois aquele lugar não devia ter nenhum atrativo para alguém tão jovem continuar vivendo ali.

Bem, pensou Melanie, encolhendo os ombros, isso não é importante. Importante era a razão que a havia trazido ali. Amanhã de manhã tinha de começar a se informar sobre Monkshood.

Enquanto tirava da mala o pijama e os objetos de toalete, pensava se devia dar um telefonema a Michael. Ficaria mais tranquilo se soubesse que ela tinha chegado bem. Devia a ele essa consideração. Tinha feito o possível para vir com ela, mas estava cuidando de algumas causas importantes que o tinham impedido. Michael tinha insistido que ela esperasse para ir quando ele pudesse acompanhá-la, mas Melanie sentia que desta vez ia ter de cuidar das coisas sozinha.

Talvez o fato de que iam se casar em março a tivesse levado a um último lance de independência. Ou talvez fosse apenas a excitação de ter herdado uma casa como Monkshood que a tivesse estimulado tanto, a ponto de esquecer todo o resto.

 

 

                                       CAPITULO II

 

 

Na manhã seguinte Melanie acordou com uma enorme sensação de expectativa. Havia algo de muito estimulante em estar viajando sozinha, sem ter de pensar em mais ninguém. Apesar dessa satisfação provocar uma vaga sensação de culpa, ela conseguiu afastar isso. Afinal de contas, tinha o direito de demonstrar independência algumas vezes. Michael era sempre muito solícito, tentando fazer tudo para ela, tornando sua vida tão calma e sossegada quanto possível. Mas às vezes ela desejava que ele a deixasse agir sozinha, mesmo que errasse. Talvez o fato de ele ser advogado fosse a causa daquele ar oficial que ele às vezes tinha na vida particular. De qualquer modo, Melanie estava gostando de se sentir um pouco livre daquela solicitude dele e esfregou os pés debaixo das cobertas quentinhas.

Deu uma olhada no relógio. Passava das oito e ela saltou da cama com um arrepio de frio. Foi até a janela e abriu as cortinas. Não pôde conter uma exclamação de surpresa diante do que viu. A tempestade de neve, que tinha amainado tanto na noite passada, começara de novo com força total. Fora da vidraça só dava para ver uma cortina branca de flocos dançando no ar.

Tomou a fechar as cortinas e foi até a cama pegar o penhoar. Nossa, quanto tempo vai durar essa tempestade, pensou, inquieta, começando a se preocupar. Se tivesse nevado a noite toda ia ser impossível ir buscar o carro.

Abriu a porta e deu uma olhada no corredor. Não havia ninguém; pegou seus objetos de toalete e passou depressa. Entrou no banheiro e abriu as torneiras para encher a banheira enquanto escovava os dentes na pia. Estava tão preocupada com o mau tempo que nem percebeu que a banheira não soltava a fumaça que era de se esperar. Quando pôs o pé para entrar na água, recuou, assustada. Ela estava tão fria que seu pé chegou a doer pelo contato.

Com uma exclamação de impaciência, tirou a tampa e deixou a água escoar enquanto lavava o rosto na pia. Irritada, abriu a porta para sair e deu de cara com o homem que tinha encontrado na noite anterior e que Bothwell chamara de Alaister.

O velho não se importou com a surpresa dela, limitando-se a cumprimentá-la com ar azedo.

— Bom dia — resmungou.

— Bom dia — respondeu, tentando sorrir polidamente. — A água está gelada.

— Ah, é? É mesmo? — disse ele com um olhar provocador. — O aquecedor deve ter quebrado de novo.

— Acontece sempre? — perguntou, passando pelo velho.

— Às vezes — chiou ele. — Mas não precisa ter medo. Sean acende a lareira na sala de jantar. Não vai morrer de frio, não, está ouvindo?

— Que bom — comentou Melanie, meio seca, começando a sentir

frio.

— Se queria luxo não devia ter vindo para Cairnside, não — rosnou o velho, entrando no banheiro e batendo a porta.

Melanie estava chocada com aquela grosseria. Que velho mais desagradável, pensou, irritada, marchando de volta a seu quarto. Será que querer água quente para um banho, num frio daqueles, era demais?

Vestiu uma calça quente e um suéter bem grosso antes de pentear os cabelos. Às vezes os prendia para cima, mas resolveu deixá-los soltos, seguros apenas por uma fivela. Antes de sair pegou a bolsa e deu uma olhada na janela. Ainda nevava.

O andar de baixo era mais quente. Na noite anterior tinha jantado na sala que dava para o hall, junto com os outros hóspedes. Eram quatro ao todo. O velho Alaister, duas velhotas que pareciam professoras aposentadas e um outro homem que parecia mais alegre. Mas como tinha saído logo depois da refeição para ligar para Londres, não chegara a saber seus nomes. Também não tinha visto mais nem a moça loira, nem Bothwell.

Um homem de meia-idade, que parecia ser o faz tudo do hotel, havia mostrado onde ficava a cabine telefônica do hall e a criada que tinha arrumado a cama era a mesma mulher que servia as mesas. Não deviam precisar de muitos funcionários ali. Havia poucos hóspedes e, mesmo levando em conta os fregueses do bar que ficava na outra ponta do prédio, os empregados ali não deviam ganhar muito.

Depois do telefonema, tinha ido direto para a cama. Lembrando-se agora desse telefonema, Melanie suspirou. Talvez Michael tivesse razão em censurá-la por ter ido até ali sozinha naquela época do ano. Evidentemente não contara a ele do seu quase desastre na estrada, mas mesmo sem saber disso ele tinha insistido para que esquecesse tudo aquilo e voltasse para Londres imediatamente.

Melanie tornou a suspirar. Tudo podia ter corrido tão bem, más no fim... Deu de ombros. Afinal, quem podia saber o que estava para acontecer? Se ficasse detida ali, por causa da neve, o que é que ia fazer?

A lareira brilhava com chamas altas na sala de jantar vazia. Além do calor gostoso, o fogo de lenha exalava um cheiro bom de resina de pinho. Estava parada diante do fogo, fruindo aquele conforto, quando a porta se abriu e Bothwell entrou.

Calçava botas até os joelhos sobre uma calça preta, tão justa que moldava os músculos de suas coxas, e um casaco de couro curto sobre a camisa cor de bronze. Parecia tão poderoso e perturbador que Melanie tremeu com o olhar que ele lhe lançou. A idéia de ficar retida ali, em companhia daquele homem, era mais perturbadora do que queria admitir.

— Bom dia, srta. Stewart. Espero que tenha dormido bem.

— Muito bem, obrigada, sr. Bothwell — respondeu, afastando-se do fogo.

— É, era de se esperar. Nossas camas aqui são famosas.

— Foi muito interessante usar bolsas de água quente depois de tanto tempo — respondeu, mordendo o lábio. — Já estou tão acostumada a cobertores elétricos que esqueci que elas existiam.

Por que é que tinha dito isso? perguntou-se, impaciente. Tinha mesmo gostado do calorzinho das bolsas de água quente. Talvez fosse aquela segurança excessiva dele que despertasse nela. esses laivos de perversidade. Mas nem precisava se preocupar, Bothwell não tinha se abalado.

— Pena as pessoas terem se esquecido de que o corpo é para ser usado e não abusado. Eu acho que cobertores elétricos destroem a capacidade natural do corpo de esquentar a si mesmo.

— Tem razão — respondeu Melanie, levantando a cabeça. — Mas nem todos têm a sua força de vontade, talvez. Eu sempre me rendo ao conforto.



  

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