Хелпикс

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Capítulo III 9 страница



Ao voltarem para a casa, de táxi, Melanie enfiou o braço no de Michael e reclinou a cabeça no ombro dele. Michael hesitou um momento, antes de curvar-se e beijá-la muito de leve nos cabelos.

— Michael... — Melanie murmurou. — Já pensou alguma vez em comprar uma casa de campo?

Michael endureceu todo o corpo imediatamente. Tentando preservar o momento, Melanie chegou mais junto dele.

— Perto de Londres... — comentou ela.

— Por que está me perguntando isso?

— Eu estava pensando...

— Desmond lhe disse alguma coisa?

— Desmond? Não, porquê?

— Estranho que você me pergunte isso justamente hoje.

— Olhe, Michael... — Melanie mordeu o lábio. — Foi Lydia. Lydia me contou.

— Da casa dos Bradbury?

— É. Ela sabia que não era hora de contar ainda, mas...

— Sei. — Michael estalou a língua, impaciente.

— Ah, mas não tem importância. — Melanie acariciou de leve o rosto dele. — Eu acho uma idéia maravilhosa. Sinto muito ter estragado as coisas com a minha insistência sobre Monkshood.

— Quer dizer... então... que você mudou de idéia? — Michael pegou a mão dela.

— Mudar de idéia? — repetiu Melanie, franzindo a testa.

— É. Sobre Monkshood.

— Ah, sei. É bobagem ficar com duas casas, não é? — Melanie suspirou.

— Não vamos poder ter duas casas — observou Michael, muito prático. — Além disso, as dez mil libras da venda de Monkshood vão quase inteiras na compra da casa dos Bradbury...

— Quer dizer que sou eu que vou comprar a casa dos Bradbury! — exclamou Melanie, sentindo todos os seus nervos tensos e afastando-se de Michael, horrorizada.

— Pelo amor de Deus, Melanie, o que é que você pensou?

— Você não pode estar falando sério! — Melanie encolheu-se no banco, a cabeça funcionando depressa, com incrível clareza. — Então foi por isso que escreveu a Sean Bothwefl? Foi por isso que entrou em contato com ele sem o meu conhecimento? Foi a casa de campo dos Bradbury que despertou seu interesse?

— Melanie, por favor, não vá fazer uma cena aqui. — Michael tentava pegar as mãos dela. — O motorista pode ouvir o que está dizendo!

— Eu não me importo! Acha que vou me importar com o que os outros pensam? Oh, Michael, eu tinha ficado brava com você antes, mas não foi nada em comparação com o que estou sentindo agora. Como pôde fazer isso? Como pôde?

— Melanie, está sendo melodramática!   Quando nos casarmos, Monkshood vai pertencer a mim também, lembre-se disso!

— Mas nós não vamos nos casar, Michael! — Respirando com dificuldade, Melanie tirou o anel de noivado e atirou-o entre as mãos de Michael. — Tome o seu anel! Empenhe-o! Talvez lhe dê o suficiente para dar de entrada na casa dos Bradbury!

O rosto de Michael ficou muito vermelho. Melanie viu manchas escuras se formarem sobre a pele. Abriu a divisão de vidro do táxi e mandou o motorista parar. Antes que Michael tivesse tempo de se recompor, ela já estava na rua, indicando ao motorista que seguisse em frente. Quando Michael mandou parar o carro de novo, Melanie já tinha desaparecido numa ruazinha e ele não a encontrou.

Mais tarde, o telefone tocou insistentemente, mas Melanie recusou-se a atender. Estava de bruços na cama, chorando como nunca em sua vida.

De manhã tinha os olhos inchados e estava muito cansada, mas foi trabalhar assim mesmo. Desmond logo percebeu que algo não ia bem, chegou à mesa dela e delicadamente baixou os óculos escuros detrás dos quais ela tinha se escondido.

— Venha até a minha sala. Quero falar com você.

Melanie não estava a fim de conversa, mas não podia dizer não a Desmond.

— E então? — perguntou ele, acomodando-a numa poltrona e trazendo para ela uma xícara de café. — O que foi que aconteceu? Lydia me disse que tinha lhe contado tudo.

— Graças a Deus ela contou! — disse Melanie, ardente. — Ah, é melhor eu dizer tudo de uma vez. Michael chamou Bothwell porque queria o dinheiro de Monkshood para comprar a casa de campo dos Bradbury.

— O quê?

— Isso mesmo que você ouviu. Michael queria o dinheiro para um negócio dele, pessoal. Quando Lydia me contou, eu fiquei encantada! — Melanie riu tristemente. — Achei de início que ele queria comprar a casa para me  fazer uma surpresa. Eu já estava até resolvendo vender Monkshood por causa disso. Podia guardar o dinheiro para emergências, essas coisas. Eu mal podia imaginar... — Melanie sacudiu a cabeça, incapaz de continuar.

— Entendo. — Desmond   suspirou pesadamente, acendendo um cigarro. — Mas mesmo assim, Melanie...

— Mesmo assim, nada! Não quero nem falar no assunto.

— Está sem o seu anel.

— Eu rompi o noivado.

— Oh, não! — Desmond passou a mão pelos cabelos. — Olhe, Melanie, eu não consigo deixar de sentir que, de certa forma, isso tudo é culpa minha. Afinal, se eu não tivesse contado a Lydia que tinha visto Michael almoçando com Virgínia...

— Ora, Desmond, não fique se culpando. Eu até fiquei contente. Claro que não devo estar parecendo nada contente neste momento, mas... É que as coisas não têm ido muito bem entre Michael e eu desde que recebi Monkshood de herança. Nunca nos entendemos a respeito daquela casa.

— Mas Michael me disse ontem à noite que já tinham resolvido tudo em relação à casa...

— Não, não resolvemos. — Melanie tomou um gole de café. — Na verdade, eu... Bom, eu estava pensando em ir passar uns tempos lá.

— Moraria?

— Digamos... umas férias — explicou Melanie baixinho. — Olhe, Desmond, você entende, não é? Quer dizer... se eu ficar em Londres,

Michael vai tentar entrar em contato comigo. Ele não vai aceitar nunca que eu tenha desistido dele...

— E você desistiu?

— Está acabado — afirmou Melanie com firmeza. — Eu não pretendo voltar atrás.

— Mas, Melanie, se você ama Michael...

— É esse justamente o problema — interrompeu Melanie, com uma aguda percepção de si mesma. — Eu não o amo. Acho que nunca o amei. Acho que o usei, por assim dizer. E que ele me usou. Foi só isso o que houve...

— Oh, Melanie, você não pode estar falando sério! Eu os vi juntos tantas vezes. Formam um lindo casal!

— Talvez — Melanie sorriu, um tanto cínica. — Mas a gente não casa com alguém só porque fica bonita ao lado dele...

— Sei disso. O que eu queria dizer...

— Eu entendo o que queria dizer, Desmond. Sinto muito. Não vou voltar atrás. Acabou. E, sabe de uma coisa? No fundo, estou contente!

 

 

                                            CAPÍTULO X

 

Melanie foi para a Escócia uma semana depois.

Tencionava partir antes, mas havia tanta coisa a fazer para poder ficar fora da cidade por um período indefinido, que ela nem conseguia imaginar. Estava grata a Desmond pela compreensão que demonstrara. Sabia que ele ainda se sentia culpado por tudo e que não conseguia aceitar que ela e Michael terminassem. Desmond esperava que, depois de algumas semanas na Escócia, ela voltasse correndo para retomar o noivado.

Mas Melanie não tinha nenhuma dúvida a respeito. Por momentos, chegava mesmo a sentir um grande alívio por ser de novo uma mulher independente. E quando voltasse a Londres um dia, não seria para rever Michael.

Michael via a situação de maneira diferente. Achava que a briga devia-se apenas aos desentendimentos a respeito de Monkshood. Recusava-se a admitir que tinha agido mal. Mas, para Melanie, a atitude de Michael tinha servido para lhe abrir os olhos ao egoísmo dele. As pequenas dúvidas que a perturbavam antes tinham se transformado agora num profundo ressentimento.

Ele tinha telefonado regularmente, sobretudo para o escritório, uma vez que Melanie não respondia mais ao telefone em seu apartamento. Depois de uma tentativa frustrada de falar com ela em casa, Michael tinha ido até o escritório, mas Desmond esteve presente todo o tempo e Michael não era o tipo de homem de fazer uma cena em público.

Uma outra vez ele a esperou na saída do trabalho e foi impossível evitá-lo. Mas então Melanie já tinha compreendido que a única maneira de fazê-lo entender que estava perdendo tempo era conversar com ele.

Foram a um bar e, apesar de Melanie tomar apenas um suco de fruta, Michael tomou vários uísques e ficou bem alto. Ela sentiu pena dele, principalmente por ver aquela enorme segurança de sempre absolutamente

abalada.

Depois desse dia não tinha mais tentado encontrá-la e Melanie imaginava o que ele iria pensar quando soubesse que ela tinha saído de Londres. Talvez ficasse com Virgínia Bradbury, se ela estivesse

interessada nele. Segundo todo mundo, ela era muito bonita e tinha muitas ligações com o tipo de gente que interessaria aos negócios de Michael.

Não foi difícil dirigir na estrada desta vez, como tinha sido antes do Natal. A maior parte da neve tinha derretido e a estrada estava inundada em alguns pontos por causa disso. Melanie passou a noite em Glasgow e foi para Cairnside na manhã seguinte, sentindo-se cada vez mais animada.

Chegou ao Black Bull no fim da tarde. Parecia tudo diferente agora. As árvores tinham perdido aquela capa de neve e se recortavam, verdes, escuras, contra as montanhas ainda nevadas.

Teve de encher-se de coragem para estacionar o carro e entrar no hotel, sobretudo porque sabia que, se lhe recusassem acomodação, não teria outro lugar para ir. Monkshood não tinha eletricidade, nem aquecimento. E, além disso, onde iria dormir? Na cama de Angus Cairney?

O balcão de recepção estava vazio e, um pouco trêmula, tocou a campainha. Depois de alguns minutos a porta se abriu e Helen Bothwell apareceu. Arregalou os olhos assim que viu quem era que tocava e foi com relutância que chegou ao balcão.

— Sim?

— Preciso de um quarto... o meu quarto de novo — disse Melanie, apertando os lábios.

— Sei. Pretende ficar muito tempo?

— Ainda não sei. Depende. Qual é o problema?

— Talvez não tenha vaga — respondeu Helen secamente, folheando o livro de registro.

— Mas da última vez...

— Isso foi antes do Natal —- respondeu a moça. — Vou ter de dar uma olhada.

— Muito bem! — Melanie tentava controlar a própria impaciência. — Então vou até o bar beber alguma coisa. Posso?

— Claro — Helen respondeu, indiferente.

Melanie atravessou o hall e entrou pelas portas de vaivém. Jeffrey ainda estava em seu posto, polindo copos, e ficou absolutamente perplexo ao vê-la de novo.

— Olá! — exclamou, alegre e risonho. — Que colírio para os olhos!

— Obrigada. Fico contente. — Melanie subiu no banquinho e pediu um uísque com soda. Quando ele a serviu, perguntou: — Mas por que está ainda aqui? Pensei que a escola começasse de novo no fim de janeiro.

— E começou mesmo. Mas as coisas por aqui não vão muito bem e me ofereci para ficar.

— Entendo — disse Melanie, tomando um gole. — Mas o que é que aconteceu? Nada grave, espero.

— Lembra-se de Jennie? Jennifer Craig?

— Claro. O que foi que aconteceu?

— Bom, você sabe que ela não é muito forte. Quer dizer, nunca foi muito saudável. Sempre gripada, resfriada, essas coisas. Há umas três semanas ela ficou com bronquite. E a crise afetou o coração dela. Está de cama agora e não passa bem.

— Oh, não! — Melanie estava realmente surpresa. — Que pena! Seu irmão deve estar muito preocupado!

— Todos nós estamos. — Jeffrey suspirou. — Mas Sean está mais baqueado que os outros. Ele é muito ligado nela.

— É

Melanie sentiu uma pontada no estômago. Estava inquieta. Durante todo o trajeto, desde Londres, tinha sentido uma certa excitação e, apesar de não ter ligado isso diretamente a Sean Bothwell, sabia que tinha algo a ver com ele. Era bobagem tentar se iludir dizendo que Monkshood era a única razão de sua vinda a Caimside, mas agora estava decepcionada.

— Mas, diga lá — perguntou Jeffrey —, o que é que você veio fazer aqui de novo? Veio para ficar?

— Vou ficar uns tempos. — Melanie suspirou. — Pelo menos, são esses os meus planos. Pensei em ficar aqui até que Monkshood esteja habitável de novo e daí...

— Mas eu pensei que... — Jeffrey se interrompeu de repente e Melanie ouviu passos que chegavam até ela.

Voltou-se e deparou com o olhar firme de Sean Bothwell. Sentiu o sangue afluir às faces. Ele vestia uma calça escura muito justa e uma camisa azul-marinho, colarinho aberto revelando o seu pescoço forte e musculoso. Parecia muito irritado e ela tremeu diante da expressão daqueles olhos.

— O que é que está fazendo aqui?

Melanie apenas sacudiu a cabeça, incapaz de responder àquelas palavras amargas e grosseiras.

— Não vá me dizer que veio inspecionar sua propriedade novamente! Não depois de tudo o que conversamos em Londres!

— Na verdade, vim para morar aqui! — respondeu Melanie, descendo do banco.

— Morar aqui! — De pernas afastadas e mãos na cintura, a figura dele era dominadora. Levantou as sobrancelhas. — Que bobagem é essa? O seu noivo...

— Deixe o meu noivo fora disso — interrompeu Melanie, tensa. — O que eu faço é assunto meu. E só meu!

— Não quando envolve outras pessoas! — ele respondeu, irritado, tentando manter-se calmo. — OJhe, se quer ficar no hotel, muito bem, isso pode ser arranjado. Mas vamos deixar Monkshood de lado até você resolver por uma das minhas duas propostas.

— Pensei que, num momento como este, você não ia querer brigar — disse Melanie, encarando-o com toda a segurança que lhe restava. — Jeffrey me contou de Jennie. Eu sinto muito. Como é que ela está?

— Jennifer está muito doente — respondeu, frio, depois de lançar um olhar a Jeffrey. — Mas não deixe que isso altere os seus planos.

— Será que posso vê-la? — insistiu, a despeito da amargura que sentia na voz dele. — Eu gostaria...

— Talvez — respondeu Sean, depois de respirar fundo. — Helen me disse que você quer ficar no mesmo quarto.

— Se for possível.

— Dá-se um jeito. Claro que você já sabe o horário das refeições. — Sean recostou-se ao balcão e ficou olhando para ela.

Melanie não tinha terminado seu drinque, mas não tinha mais vontade de beber. Olhou para Jeffrey, insegura, e atravessou o bar em direção à porta, sentindo os olhos de Sean sobre ela o tempo todo.

Na manhã seguinte Melanie despertou com uma estranha sensação pairando sobre sua cabeça. Não conseguia definir o que era logo ao despertar, mas lentamente entendeu tudo com enorme clareza. Estava em Cairnside, no Black Buli, e sua depressão provinha do fato de, na noite passada, ter admitido a si mesma pela primeira vez que, apesar de tudo, estava apaixonada por Sean Bothwell.

Virando-se de bruços, afundou a cabeça no iravesseiro, tentando deter os pensamentos. Como tinha permitido que isso acontecesse? Como podia ter se apaixonado por um homem que a tratava continuamente sem um mínimo de decência ou respeito? Um homem que, além disso, via-a apenas como um obstáculo aos próprios planos?

Sentou-se na cama e afundou o rosto nas mãos. Tinha de se dominar. Não podia deixar que ele percebesse nada, senão se sentiria completamente degradada.

Levantou-se e caminhou até a penteadeira. O espelho lhe devolvia a imagem de dois grandes olhos um pouco desesperados. Deslizou a mão pelo ombro, baixando a camisola, e examinou a si mesma criticamente. O que é que havia nela que fazia com que Sean Bothwell a desprezasse tanto? Que é que tinha feito para que ele a odiasse a tal ponto? Afinal, era óbvio que ele gostava de Jennifer de uma maneira que nunca gostaria de nenhuma outra mulher. Por que então persistia em tratá-la de maneira ião rude e insensível?

Estava tão absorta em seus pensamentos que não ouviu quando bateram na porta de leve. Quando a porta se abriu, ela se voltou, surpresa, esperando encontrar Josie, a criada.

Mas não foi Josie quem entrou, fechando a porta atrás de si. Foi Sean Bothwell.

Melanie ficou paralisada um momento, enquanto os olhos cinzentos dele passeavam por seu corpo, coberto apenas pela camisola transparente. Perturbada, Melanie pegou o penhoar.

— Eu bati — disse ele, enquanto ela se vestia.

— O que é que você quer? — perguntou, nervosa, incapaz de dominar a indignação que sentia.

— Não precisa me tratar mal. Não há razão para isso.

— Não? — Melanie torceu as mãos. — Por que está aqui em meu quarto? Veio cobrar seus direitos de senhor? Será algum tipo de costume escocês?

— Pare de ser maldosa — ordenou Sean. — E não fale tão alto. Não quero que todo o hotel fique sabendo que estou aqui.

— É, acho que não, mesmo!

— Melanie, ouça primeiro, que droga! Eu não tenho muito tempo. Mas queria falar com você em particular antes de ver Jennie.

— Vou vê-la hoje?

— Vai. Estive lá ontem à noite e, quando contei que você estava aqui, ela ficou muito contente. Gosta muito de você.

— Sei. — Melanie voltou-se de novo para ele. — E você está com medo de que eu conte sobre o que aconteceu em Londres, é isso?

— Não. Não creio que você seja tão cruel. Apenas não quero que você diga a ela sobre nenhuma decisão final a respeito de Monkshood.

— Monkshood! — Melanie engoliu em seco. Claro. Então era para isso que Sean queria a casa. Para se casar com Jennie e ir morar lá,

— É — explicou Sean. — Se ela perguntar o que você veio fazer aqui, diga somente que veio inspecionar a casa. Não creio que ela vá insistir. Está muito fraca.

— Entendo — concordou Melanie. — Às vezes... às vezes chego a lamentar o fato de ter herdado esse lugar...

— Eu também — murmurou Sean pesadamente.

— Por que você desgosta tanto de mim? — perguntou Melanie, ferida pelas palavras dele.

— Desgostar de você? Desgostar? Meu Deus! Eu não desgosto de você — disse ele, os olhos ensombrecidos pela emoção. — Poderia usar outras expressões mais fortes, mas desgostar não é uma delas!

— O que é que eu devo entender disso? Não acha que é uma violência beijar e acariciar uma mulher que você obviamente... odeia?

— Fisicamente... — Sean avançou um passo e então se conteve. — Fisicamente eu a desejo. Ah, sim, eu admito isso. Todos os meus instintos me ordenam agora mesmo que eu tome  aquilo que me é oferecido. Não acha que, quando a vi parada ali, envolta nesse pano transparente, senti vontade de possuí-la? Senti. Senti, não! Sinto. É por isso que a quero longe de Cairnside, longe de Monksnood, longe de mim!

— Por causa de... Jennifer! — Melanie falou docemente, cheia de sentimento.

— Por causa de Jennifer, sim! E porque você joga um jogo que não tem regras!

— O que quer dizer com isso? — Melanie encarou-o.

— Quero dizer aquele arremedo de noivado que mantém com Michael Croxley!

— Michael e eu não somos mais noivos! — respondeu com os lábios trêmulos.

— Não é verdade! — Os olhos dele se apertaram, incrédulos.

— É verdade. E você está certo. Era um mero arremedo.

— Oh, Melanie! — disse ele, atormentado. — Pelo amor de Deus, venda Monkshood para mim! Desfaça-se desse lugar de uma vez, para

sempre!

— Quer tanto que eu vá embora? — Melanie perguntou, apertando os braços junto ao peito.

Sean fechou os olhos por um momento, como se tentasse apagar de dentro deles a imagem de Melanie. Avançou até ela, tomou sua mão e levou-a aos lábios com a palma voltada para cima. A boca de Sean era quente e mais doce que nunca, e Melanie tremeu.

Com uma calma segurança, ele deslizou a mão pelo braço dela, por dentro da manga larga de sua roupa, acariciando-lhe a pele em movimentos rítmicos. Melanie abriu os olhos para olhar para ele. Os olhos cinzentos deslizaram por todo o corpo dela, vindo pousar finalmente em sua boca com uma intensidade tão grande que ela quase se sentiu beijada.

— Sabe — disse ele, baixinho e grave —, eu nem sempre sou um bruto. Tem medo de mim?

— De mim mesma, talvez — sussurrou ela.

— Você me assusta! — disse ele em voz mais dura. — É, Melanie, você me assusta! Quando estou com você, quero esquecer os meus deveres, esquecer o que se espera de mim. Sinto vontade de acreditar na minha alma imortal! — Tomado de emoção ele a empurrou, continuando rudemente enquanto caminhava para a porta: — Ouça o meu conselho! Vá embora daqui! Antes que aconteça alguma coisa de que vamos ambos lamentar depois!

— O que quer dizer com isso? — Melanie estava magoada e queria vingar-se, feri-lo também. — Tem medo de que a história se repita? Que eu saia daqui grávida, como Angus fez com sua mãe?

Ele voltou-se e encarou-a durante um longo momento de amargura. Depois, sem dizer mais nem uma palavra, saiu, batendo a porta.

Melanie caiu sentada na cama, afundando o rosto nas mãos. Por que tinha dito aquilo? Era imperdoável e Sean não iria se esquecer nunca. E muito menos perdoar. Limpou as lágrimas com dedos trêmulos. Tinha fugido de Londres por causa de uma situação que não conseguia sustentar. Como poderia fugir agora de Cairnside pelas mesmas razões? Teria de fugir para sempre?

Depois do café da manhã encontrou-se com Jeffrey no hall,

— Oi — disse ele. — Estava procurando você! Está pronta? — Pronta para quê? — perguntou Melanie.

— Para ir a Lochside, claro — disse Jeffrey, tocando-lhe o ombro numa palmada amigável.

— Lochside? — Melanie não compreendia.

— A casa de Jennifer. Lá do outro lado da aldeia. Sean me pediu para levá-la. Você quer ver Jennifer, não é?

Jennífer!

— É claro — disse, forçando um sorriso. — É que eu não sabia o nome da casa. Vamos agora?

— Pode ser. Tenho de estar de volta às onze e meia para abrir o bar.

— Está bem. Espere por mim.

Melanie correu ao seu quarto e vestiu o casaco. Não colocou nenhuma maquilagem e estava um tanto pálida. Mas Jeffrey pareceu nada notar e subiram no carro de Melanie para irem até a casa dos Craig.

Lochside era uma casa mais ou menos do mesmo tamanho de Monkshood, mas infinitamente mais confortável. Haviam instalado um aquecimento central e coberto todas as salas com carpetes. Ao entrarem no hall de madeira clara, uma mulher surgiu imediatamente para saudá-los. Melanie julgou que devia ter seus sessenta anos, mas o rosto parecia muito mais jovem.

Deve ser a mãe de Jennie, pensou, mas Jeffrey a surpreendeu ao

saudá-ta.

— Oi, mãe — disse ele. — Esta é Melanie Stewart.

 

 

                                         CAPITULO XI

 

 

Melanie ficou perplexa. Olhou a mulher de longos cabelos presos em coque na nuca, como se não pudesse acreditar nos próprios olhos.

— Então você é Melanie — disse a sra. Bothwell com um suave sorri­so. — Jennifer falou muito de você.

— Desculpe... sim, sim, eu sou Melanie — gaguejou, absolutamente perdida. — Desculpe se pareço tão surpresa, mas pensei que fosse a mãe de Jennifer.

— A mãe de Jennifer morreu há muitos anos — respondeu a sra. Bothwell. — Jeffrey, o sr. Craig está lá embaixo no ancoradouro. Está es­perando você.

— Está bem. Até mais, Melanie! — Jeffrey enfiou as mãos nos bolsos e retirou-se.

A mulher levou-a até um estúdio cujas paredes eram cobertas de estantes de livros.

— Acho que gostaria de um café antes de ver Jennifer — disse ela cal­mamente. — Com licença um instante, vou buscar a bandeja.

Melanie tornou a sorrir e a mulher saiu. Só então foi que pôde respirar de novo. Nunca tinha pensado que a mãe de Sean ainda estivesse viva. Ele nunca a tinha mencionado. Encontrá-la ali, na casa dos Craig, era mui­to desconcertante. Que faria ela ali?

O retorno da mulher interrompeu seus pensamentos. Melanie abriu espa­ço entre os papéis que cobriam a mesa e a sra. Bothwell pousou a bandeja com um bule de café e duas xícaras.

— Creme, açúcar? — ela perguntou.   

— Só creme, por favor.

Melanie pegou a xícara e sentou-se. Pelas maneiras da sra. Bothwell, começou a desconfiar que aquele encontro era algo mais que uma mera gentileza.

— Sean me disse que pretende reabrir Monkshood,

— Sim — respondeu Melanie com cuidado, a xícara trepidando sobre o pires. — Eu escrevo, sabe. Na verdade, minha ocupação no momento não é a literatura, mas é isso que ambiciono fazer. Tenho a sorte de poder trabalhar em qualquer lugar.

— Entendo. — A sra. Bothwell estava pensativa. — E vai usar Monks­hood para isso?

— Sim.

— Tem certeza de que vai gostar de morar lá sozinha? É uma casa enorme para uma jovem como você.

— A solidão não me assusta. Será a minha primeira casa na vida. Es­tou ansiosa para me mudar.

— Não conheceu seu tio-avô, não?

— Não, não conheci.

— Mas descobriu algumas coisas a respeito dele desde que veio aqui

da última vez, não?

— Ah, sim. — Melanie estava inquieta na cadeira. — Esta sala é ado­rável. É aqui que o sr. Craig trabalha?

— É. Éo escritório dele. Ele cuida dos negócios dos moradores. O sr. Craig possui muitas casas — a sra. Bothwell respondeu mecanicamente e Melanie percebeu que os pensamentos daquela velha senhora não estavam no que dizia.

— Estava ótimo, sra. Bothwell — disse Melanie, terminando o café e pondo-se de pé. — Posso ver Jennifer agora?

— Acho... acho que sim — respondeu ela, pousando a xícara e pondo-se de pé também. — Por aqui, por favor.

Subiram a escada que saía do hall, chegando até um quarto no segundo andar. Lá dentro havia uma atmosfera que parecia de hospital, cheirando a anti-séptico. Havia muitos vidros de remédio na mesa-de-cabeceira ao la­do da grande cama onde, meio perdida entre os lençóis brancos, estava Jennifer.

Melanie achou que, desde a última vez que a vira, Jennifer parecia ter envelhecido muito, e aquela fragilidade que tinha notado antes havia au­mentado incrivelmente.



  

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