Хелпикс

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Capítulo III 7 страница



— Parece pálida, srta. Stewart — disse. — Já jantou?

— Ainda não.

— Então vista o casaco. Eu a convido para jantar.

— Oh, mas... não... eu... — Melanie procurou desesperadamente uma desculpa.

— Por que não? Eu também não jantei ainda. Não vai deixar que as coisas que aconteceram em Monkshood afetem sua decisão. Afinal, viajei toda essa distância e o mínimo que pode fazer é sair comigo para jantar. — Sean Bothwell apertou os olhos cinzentos. — Não precisa se preocupar. Não pretendo repetir aquele incidente de Monkshood. Você não é o meu tipo de mulher e eu faço questão de não guardar rancores.

Melanie se ofendeu com aquela amargura e o brilho frio do olhar dele. No fundo, uma pontinha de perversidade levava-a a sentir vontade de provar a ele que não era o tipo de mulher que ele imaginava. Na verdade, Sean não tinha em que basear sua opinião, a não ser naquele breve instante na cozinha da velha casa. E aquilo não se repetiria, ele mesmo tinha dito. Mesmo assim, era incrível que ousasse convidá-la para sair com tamanha insolência. Ela tinha de recusar e botá-lo para fora do apartamento. Mas talvez fosse exatamente isso que ele estivesse esperando acontecer. Era difícil saber, quando se tratava de Sean Bothwell.

Mas havia também outra razão que tomava o convite dele atraente. Ia gostar de contar depois a Michael que tinha saído com Sean Bothwell. Seria uma maneira de revidar a maneira altiva e autoritária com que o noivo tratava de seus assuntos.

— Muito bem. Vamos jantar! — Melanie resolveu, criando coragem,

— Espere um minuto, enquanto vou me trocar.

Se sua aceitação surpreendeu Bothwell, ele conseguiu disfarçar muito bem a surpresa.

Mas enquanto trocava de roupa, Melanie se perguntava por que ele a teria convidado a sair. Afinal, ele não devia ter dificuldade nenhuma parai encontrar companhia feminina. Sabia que aquelas feições um tanto toscas e aquele ar selvagem eram muito atraentes para algumas mulheres, portanto não era solidão. E havia também Jennifer. Qual seria o verdadeiro papel dela na vida dele? Será que iam se casar? E, se casassem, será que ela saberia satisfazê-lo?

Melanie mordeu o lábio enquanto aplicava mais rímel aos cílios já escuros. Esses assuntos não eram problema dela. Tinha de parar de se preocupar. Mas por que continuava insistindo em se relacionar com aquele homem? Por que a mera presença dele era capaz de despertar nela as mais confusas emoções? Ao voltar da Escócia e reencontrar Michael, tinha achado que Sean Bothwell desapareceria para sempre de sua mente, mas, agora que ele estava ali, ela sabia que não o tinha esquecido.

Escolheu um vestido de lã vermelho, curto, leve e muito apropriado a seu corpo. E, por cima, seu casaco comprido de veludo preto, debruado em pele.

Ao sair do quarto observou a expressão dele, mas não conseguiu descobrir se ele tinha gostado ou não de sua aparência. Bothwell se pôs de pé educadamente, mas mantinha uma certa altivez enigmática e impenetrável. Melanie admitiu para si mesma que o programa daquela noite a estimulava muito, apesar de não ser nada aconselhável naquelas circunstâncias.

Ele abotoou o casaco e, muito à vontade, cruzou a sala para abrir a porta para ela. Desceram os dois lances de escada em silêncio e saíram para o ar frio da noite. Melanie estava de botas altas de camurça e levantou a barra do casaco para cruzar a praça até a rua principal, onde tomariam um táxi. Pensou em onde estaria aquele jipe enorme, mas concluiu que Sean dexia ter vindo de trem.

Entraram no táxi e, depois de dar instruções ao motorista, ele se sentou ao lado dela.

— Vamos para o Roscani's.

Melanie olhou para ele, muito surpresa. O Roscani's era um restaurante relativamente novo e ela não pensou que ele já o conhecesse.

— Eu venho a Londres algumas vezes, srta. Stewart —- esclareceu ele, como se sentisse a perplexidade dela. — E, além disso, Cairnside não é o fim do mundo.

— Não pensei que gostasse disto aqui — observou ela, maldosa. — Gente da cidade parece não merecer muito da sua consideração.

— Eu disse isso?

— Sabe que sim. — Melanie suspirou,

— É mesmo? Que grosseria a minha.

Melanie sentiu um toque de humor na voz dele e virou-se para olhá-lo, mas Bothwell estava olhando pela janela e ela não pôde ver sua expressão.

Tentava entender por que ele a tinha convidado a sair. Evidentemente não era por apreciar a companhia dela. Talvez estivesse pretendendo conversar sobre Monkshood, para tentar convencê-la de que era perda de tempo insistir em não vender.

Não podia saber quais as razões do convite e não devia ter aceitado, mas... lá no fundo, não tinha sentido a menor vontade de recusar.

Ele não puxou conversa no táxi e, quando pararam, ajudou-a a descer, muito gentilmente, apoiando o cotovelo dela até que atravessassem a rua para a entrada do restaurante.

No hall acarpetado de vermelho, foram recebidos por um empregado muito solícito, que pegou os casacos e indicou uma das duas portas de vidro, que davam para o bar.

A sala era bonita e não estava cheia demais. Melanie aceitou mais um xerez, achando que seria arriscado tomar qualquer coisa mais forte, e Bothwell tomou seu uísque de sempre.

À volta deles as pessoas riam, conversavam e se divertiam, mas Melanie se sentia tensa, incapaz de relaxar. Desejou ter tido forças para recusar o convite, afinal. Mas agora era tarde demais e ia ter de aguentar. Esperava não encontrar conhecidos. Mas não havia nada a temer. Bothwell evidentemente ia querer encontrar Michael para esclarecer o assunto e o noivo ia ter de saber que tinham saído juntos. Só esperava que isso não criasse problemas entre eles.

— Está muito calada — observou ele, acendendo um cigarro. — É sempre assim ou é a minha presença que a emudece?

— Estava esperando que você falasse primeiro. Estava pensando se você não teria se arrependido de ter me convidado para jantar.

— Por quê?

Melanie sacudiu a cabeça e não respondeu. Aquela proximidade dele a perturbava. Podia estudar cada milímetro de seu rosto, os cílios longos, o lábio inferior grosso e sensual, os cabelos grossos. Ele tinha um magnetismo que a atraía no que tinha de mais primitivo. Sentia um desejo irresistível de tocá-lo. Lembrava-se da paixão exigente dos lábios dele colados à sua boca, da força daquele corpo colado ao seu e da firmeza daquelas mãos pressionando sua carne. Desviou os olhos, tentando acalmar os sentidos que se acendiam, o coração pulsando forte. Sean Bothwell pareceu perceber a perturbação dela e tirou vantagem disso.

— Pare de tentar me analisar, srta. Stewart — murmurou ele, insinuante, próximo ao rosto dela. — Aceite esta noite pelo que ela é apenas. Certamente seu inestimável noivo não vai objetar, não é?

— Não teria razões para isso. — Melanie percebeu que tinha falado incisiva demais, revelando toda a tensão que sentia.

— Então! Vamos relaxar e nos divertir. Somos apenas um homem e uma mulher sentados num lugar público. Deve haver centenas de assuntos que poderíamos discutir sem pular um na garganta do outro.

— Acho que sim.

— Bom — disse ele, inclinando a cabeça. — Fale-me do seu trabalho. Ele me interessa, apesar de eu não entender muito de arte.

Surpreendentemente, Melanie sentiu-se relaxar. Falar sobre seutrabalho sempre a entusiasmava e aquilo a tranquilizou temporariamente. Descobriu que ele era um ouvinte excelente e chegou mesmo a fazer algumas observações que revelaram que sabia apreciar a arte. Na verdade depois de algum tempo, Melanie chegou a se esquecer de tudo e enveredaram pelos campos de música e literatura. Sean lera muito e podiam falar de alguns autores de que ambos gostavam. Em música, noentanto, seus gostos diferiam bastante. Mas Melanie achava que ele acabaria gostando das obras contemporâneas que eram as suas preferidas.

Bothwell escolheu os pratos do jantar. A comida era deliciosa! Evidentemente ele já tinha comido ali antes, e conhecia as especialidades da casa, mas Melanie nunca tinha provado lagosta ao vinho. Tomaram licor junto com o café e Melanie se recostou na cadeira, satisfeita.

— Tenho de começar a cuidar do meu peso — disse ela, rindo. — A comida no seu hotel era ótima. E agora isto aqui...

Sean Bothwell deu um meio sorriso. Ele não tinha rido muito durante toda a noite, mas quando o fazia Melanie sempre se surpreendia com a transformação da expressão dele.

— Acho que ainda não tem com que se preocupar. — Bothwell a estudou com os olhos apertados. — Não gosto de mulheres que são só pele e ossos.

— Jennifer é bem magrinha — disse Melanie sem perceber, corando violentamentelogo em seguida.

— Jennifer esteve muito doente — respondeu ele rudemente, o bom humor desaparecendo tão depressa quanto tinha surgido. — Ela nem sempre foi tão magra.

— Eu sei. Desculpe, não era minha intenção soar tão grosseira. — Melanie mordeu o lábio. — Foi só um pensamento que cruzou minha mente e eu deixei escapar em voz alta. Não tinha nenhuma intenção de

ofender.

— Tudo bem, srta. Stewart — disse ele, apagando o cigarro. — Não me ofendeu. As qualidade de Jennifer não são superficiais. São profundas e inatas. Algo que você talvez não admire.

— O quê?

— Nada, absolutamente nada.

Sean se pôs de pé e Melanie entendeu que ele estava dando a noite por encerrada. Suspirou e levantou-se também. Estava deprimida como se de repente tivesse atingido um anticlímax. Mas perguntava-se ao mesmo tempo o que é que esperava de tudo aquilo. Afinal de contas, sabia que era apenas alguém com quem ele tinha resolvido passar umas horas agradáveis. Sentia nele uma certa tolerância para com ela, mas também uma grande impaciência.

Saíram do restaurante e ele chamou outro táxi. Melanie esperava que ele a colocasse no carro e depois seguisse para o hotel onde estava hospedado, mas em vez disso Sean subiu no carro com ela.

A corrida era curta e, quando chegaram à praça, ele dispensou o táxi e foi com ela até a entrada do prédio.

— Muito obrigada pelo jantar — disse ela, dirigindo a ele o que imaginou ser um grande sorriso. — Foi ótimo e tão inesperado! Só posso dizer que lamento que lenha perdido sua viagem...

— Não vai me convidar para tomar café com você? — ele perguntou, enigmático.

— Mas... mas acabamos de tomar café! — exclamou, surpresa.

— Isso foi há quase uma hora. Eu aceitaria mais um pouco, você não?

— Está um pouco tarde...

— São dez e meia. Sempre achei que as moças em Londres dormiam tarde.

— Não quando têm de trabalhar na manhã seguinte — respondeu ela, corando ligeiramente.

— Entendo.

Com um gesto impotente Melanie se voltou, sem conseguir entender exatamente por que relutava em convidá-lo a entrar. Ele agarrou o pulso dela.

— Está com medo de mim, srta. Stewart? É isso?

— Claro que não — respondeu, respirando fundo.

Talvezdevesse estar.

— Por quê? — ela perguntou, tensa, quase com raiva. — Porque você [me beijou uma vez? Deixe-me lhe dizer uma coisa, sr. Bothwell. Nós, moças da cidade, sabemos enfrentar mais que um mero abraço furtivo numa casa deserta!

Você é...

Ele interrompeu o que ia dizer quando Melanie se soltou de sua mão e correu para dentro do prédio. Subiu correndo os degraus, esperando a todo momento ouvir os passos dele atrás. Mas o casaco comprido e a bolsa na mão impediam seus movimentos e ela tropeçou e caiu.

Foi um tombo horrível e tudo o que havia dentro de sua bolsa se espalhou pelos degraus. Bateu apenas a base da espinha, ligeiramente, mas podia ter quebrado a cabeça ou um braço. Era a gota d'água e Melanie sentiu vontade de chorar de ódio efrustração. Bothwell chegou até ela, mas não se curvou, humilhando-a com sua altura.

— Machucou-se? — ele perguntou. E so então abaixou-se e apanhou as coisas do chão, colocando-as de novo dentro da bolsa.

— Não. Acho que não — respondeu Melanie, levantando-se cuidadosamente.

— Que loucura! — disse ele, levantando-se também e olhando para ela intensamente. — Podia ter se machucado.

— Eu sei.

Melanie pegou a bolsa da mão dele e subiu os degraus que faltavam. A espinha doía quando ela caminhava, mas conseguiu disfarçar a expressão de dor. Bothwell subia a seu lado e, quando chegaram diante da porta, ela começou a procurar a chave na bolsa.

— Estão comigo — disse ele, suspendendo o chaveiro diante dos olhos dela e abrindo a porta em seguida, sem nada dizer.

Melanie estava perturbada demais para discutir e, quando entrou, ele a acompanhou. Era inútil protestar, parecia inevitável que ele estivesse ali de novo. Bothwell pegou o casaco dos ombros dela e tirou o sobretudo também.

— Sente-se que eu faço café — ofereceu ele.

— Não... isto é... você não sabe onde estão as coisas.

— Eu encontro. Sente-se aí e descanse.

Melanie se atirou no sofá; não tinha forças para discutir. Quando ele voltou uns dez minutos depois, com uma xícara de café, ela já estava quase dormindo. Tinha tido um dia duro no trabalho e a noite tinha sido também bastante enervante. Consequentemente, o calor do apartamento, junto com todo o vinho que tinha bebido no jantar, a faziam relaxar.

— Então? — perguntou Bothwell depois de pousar a bandeja na mesinha. — Está melhor?

— Melhor — murmurou Melanie, abaixando a saia para cobrir as pernas. — Encontrou tudo?

— Por que fez isso? — ele perguntou, olhando intensamente para ela. — Estava mesmo com medo de mim?

— Você disse que eu devia tomar cuidado — respondeu, apoiando-se no cotovelo.

— Eu disse?                                                            

— Disse, — Melanie sentiu faltar-lhe o ar. A presença dele a dominava com tanta força que ela não pôde evitar de esticar o braço e tocar a mão dele. Bothwell deslizou os dedos entre os dela.

— Sean — ela murmurou, olhando para ele, apreensiva, sem perceber que estava pedindo muito mais que um mero toque de mãos.

— Quer que eu faça amor com você? — ele perguntou num tom estranhamente doce.

— Sean — ela protestou, achando que aquelas palavras tomavam tudo grosseiro —, não diga nada...

— Por quê? — perguntou, rouco. — Destrói o clima romântico? Melanie tentou retirar seus dedos da mão dele, mas Sean não soltou sua mão.

— Então eu estava certo, não é? — falou, duro. — O mistério todo era só esse... Você quer um caso na Escócia! O incidente que você pretende descartar tão displicentemente não foi nada furtivo para você. Foi uma pequena vitória. Deu-lhe uma sensação de poder, porque você sabe que eu a beijei contra a minha vontade. E agora está tentanto despertar esse desejo de novo, não é? Deve estar satisfeita com a riqueza e a posição social do seu noivinho, mas ele não satisfaz essas necessidades físicas que a corroem por dentro...

— Cale a boca! Como ousa falar assim comigo? — Melanie quase gritou, pondo-se de pé e encarando-o, furiosa.

— A verdade dói, não é? — Ele sorriu, insolente.

— Isso não é a verdade. Saia imediatamente!

— Com todo prazer, srta. Stewart!

Sean Bothwell inclinou a cabeça provocadoramente e, sem dizer mais nem uma palavra, cruzou a sala, jogou o sobretudo sobre o ombro e saiu do apartamento, batendo a porta com força.

 

 

                                      CAPÍTULO VIII

 

 

Melanie dormiu mal. Virou e revirou na cama até de manhã, c sentia-se muito mal quando se levantou. Ao chegar ao trabalho, Desmond Graham comentou as olheiras escuras.

— Boêmia — disse ele, ralhando de brincadeira. — Não combina com você, filha.

— Não. Eu até que fui para a cama bem cedo — respondeu Melanie, mostrando logo alguns esboços para fugir ao assunto, — Gosta destes?

— Não precisa se ofender tanto — continuou o velho, levantando sobrancelhas grisalhas. — Eu só estava brincando.

— Desculpe. Estou um pouco nervosa. Só isso.

— Por quê? Brigou com Michael?

— Não!                                                                                            

— Então, o que foi? Não está com nenhum problema, está? Seu trabalho é excelente e não tem com que se preocupar. Esses desenhos estão ótimos e você sabe disso.

— Não estou com nenhum problema, não, Desmond. Pare de falar tanto disso. As coisas nem sempre têm motivos claros.

— Não sei, não — insistiu Desmond, — É que não é do seu estilo ficar irritada assim. Você é sempre calma, direta.

— Como é que sabe como eu sou? — Melanie reagiu, sabendo que estava usando Desmond como bode expiatório. Mas não conseguia evitar.  

Ele acendeu um cigarro, recusando-se a levar a sério o mau humor dela.

— Está bom, está bom. Não digo mais nada. Esqueça. E se pisei nos seus calos, me desculpo. — Ele respirou fundo. — Bem, sobre aquele livro novo de Agnes Bowman: precisa do texto ou só as chamadas que Vincent escreveu bastam para você?

Melanie fez um esforço para se concentrar. Olhou para Desmond e sentiu remorsos. Afinal, não era culpa dele se tinha passado mal a noite Ela era a única culpada por ter permitido que Sean Bothwell percebesse que despertava nela uma atração física quase irresistível. Tinha de se cuidar para que isso nunca mais tornasse a acontecer.

— Desmond, desculpe — ela disse depressa. — Eu... aconteceu algo que eu não estava esperando. É isso.

Desmond sorriu. Tinha um lindo sorriso. É um homem adorável, pensou Melanie. Casado, com duas filhas e uma esposa que todo mundo adorava instantaneamente, ele ainda achava tempo para se interessar pelos problemas pessoais de seus funcionários, e por causa disso era adorado

por todos.

— Não pense nisso, filha — ele disse, calmo. — Você está certa em

reclamar. Não posso me intrometer.

— É que Michael tentou vender Monkshood sem me comunicar —

contou ela, apertando os lábios.

— O quê? — Desmond estava surpreso. — Como é que ele pôde fazer uma coisa dessas? Achei que você tinha deixado para resolver depois.

— Eu tinha. Mas ele não.

— Ele não lhe disse nada?

— Só no começo. Mas eu estava muito indecisa. Não me lembro de ter dito nunca que queria vender, mas não deixei nada muito claro. O fato é que Michael acha que eu devo vender e com o dinheiro comprar alguma coisa mais perto de Londres.

— Bom, até que não é má idéia — ponderou Desmond. — Afinal, vai ter de pensar um pouco nele depois que estiverem casados. Só porque você pode trabalhar onde quiser, isso não quer dizer que...

— Eu sei — interrompeu Melanie,  impaciente. — Isso não devia importar, não é? Quer dizer, eu não devia me importar com o lugar onde morar, desde que seja junto com Michael.

— É isso. — Desmond riu. — O amor resolve tudo. Você vai ver que, depois de casada, Monkshood de repente não vai mais significar coisa alguma, contanto que estejam sempre juntos.

— É... —Melanie murmurou, incerta, — Bom, mas os desenhos...

O trabalho a absorveu durante o resto da manhã e nem mesmo os flocos de neve que voavam pela janela lhe chamaram a atenção. Quase na hora do almoço, recebeu um telefonema. Era Michael.

— Alô, Michael — atendeu, decidida a não falar de Monkshood pelo telefone. — Vai me convidar para almoçar se eu estiver livre?

— Foi isso o que pensei — respondeu ele, rindo de maneira que Melanie sentiu um pouco forçada. — Que tal à uma hora na churrascaria do Embassy?

— Ótimo — concordou.

O Embassy era um hotel novo e o restaurante tinha mesas isoladas por treliças cheias de trepadeiras, o lugar ideal para uma conversa particular.

— Combinado, então!

Michael parecia satisfeito e Melanie se pôs a pensar se as razões de ele ter entrado em contato tinham algo a ver com a chegada de Sean Bothwell. Estava curiosa, mas não queria puxar o assunto pelo telefone.

— Comprou os ingressos para o conceito de Dorlini? — ela perguntou.

— Comprei, sim. É para quinta à noite. Está bom para você?

— Quinta? Acho que sim — respondeu ela, preocupada. — Mas quando é que vamos jantar com os Allison?

— Sexta.

— Então está bom. Tenho de desligar, querido, estou no meio de um desenho.

— OK. Nos vemos à uma.

— Isso. Até lá.

Melanie desligou e ficou concentrada, olhando o telefone durante um longo tempo, até que ouviu a voz de Desmond. Respondeu o que ele perguntou, mas não conseguiu mais se concentrar no trabalho. Estava preocupada com a maneira de enfrentar Michael, sabendo o que ele tinha feito. Sabia que o melhor meio de defesa era o ataque, e pretendia atacar antes de contar que tinha saído com Sean Bothwell.

Entrou no Embassy poucos minutos depois da uma e um funcionário de branco levou-a até a mesa de Michael. Devido às divisões, era impossível enxergar a mesa antes de chegar nela. De repente, Melanie sentiu faltar-lhe o ar. Michael já tinha chegado e, sentado a seu lado, estava Sean Bothwell!

Michael se levantou, atencioso, à chegada dela e dispensou o garçom. Melanie estava perplexa. Todos os planos que tinha feito para conduzir a conversa iam por água abaixo. Olhou sem expressão para o outro homem, que também se levantara, e sentiu o sangue colorir seu rosto violentamente, diante daqueles cínicos olhos cinzentos.

— Michael...

— Olhe, Melanie — interrompeu ele —, sei que isto é uma grande surpresa para você e sei que vai ficar chocada por eu ter trabalhado por trás do pano, por assim dizer, mas isso é passageiro. O sr. Bothwell, que você conhece, é claro, está aqui para completar a transação da venda de Monkshood.

— É? — fez Melanie, voltando os olhos interrogativos para o noivo.

— É, sim. — Michael suspirou, tomando a mão dela entre as suas. — Querida, eu sei que não tínhamos decidido nada sobre a casa, mas como você estava hesitando...

— Eu estava? — Melanie tentava a todo o custo se compor. — Michael, não estou entendendo bem...

— O que o seu noivo está tentando explicar, srta. Stewart — interrompeu Sean Bothwell —, é que ele quer que venda Monkshood e por isso entrou um contato comigo para que fizesse a primeira oferta.

Os olhos dele a desafiavam. Desafiavam a contar que já sabia disso, que tinham se encontrado na noite anterior e que tudo já tinha sido resolvido! Mas ela nada podia revelar sem correr o risco de criar uma situação

desagradável.

— É claro que eu não esperava que o sr. Bothwell viesse pessoalmente — continuou Michael —, mas uma vez que está aqui vamos ter de

resolver essa questão.

— Está querendo me dizer, Michael — Melanie começava a sentir-se mais calma agora —, que entrou em contato com McDougall e Price sem

me consultar?

— Sim. Tomei a iniciativa, Melanie — respondeu ele, um tanto incomodado. — Sabia que você iria concordar que era a única coisa a fazer, e como vamos nos casar logo...

— Mas eu queria que você visse a casa! — exclamou Melanie. — Como é que pode se desfazer de Monkshood sem nem ter conhecido a

propriedade?

— Não creio que o sr. Croxley tenha quaiquer interesse em manter uma propriedade que não lhe trará nenhum benefício — interrompeu Sean Bothwell, acendendo um cigarro. — Pelo que entendi, ele quer que venda Monkshood para comprar uma casa mais perto de Londres.

— Monkshood pertence a mim, sr. Bothwell! — Melanie falava de dentes cerrados. — E, apesar de estar a par do que o sr. Croxley acha melhor, a decisão final é exclusivamente minha.

— Melanie, por favor! — Michael estava chateado. — Ninguém está colocando em duvida a sua posse da casa. Tudo o que queremos é chegar a uma decisão final. Como osr. Bothwell disse, não vejo razão para...

— Você não está nem tentando me entender, não é? — Melanie sentia enorme frustração. Que Michael tivesse agido por baixo do pano já era horrível, mas além disso ter o testemunho atento do cínico sr. Bothwell era demais. Por que Michael não tinha lhe comunicado que ele ia estar presente? Se ele a tivesse preparado, não se sentiria tão sem saída. Piscou os olhos nervosamente para Bothwell. Seria culpa dele? Talvez tivesse sido idéia dele aquela grosseira surpresa. Mais uma tentativa de humilhá-la.

O garçom serviu os aperitivos e Melanie tomou um gole grande de seu xerez. Foi servido o primeiro prato e, durante algum tempo, a conversa morreu. Michael olhava sempre para ela, revelando sua preocupação com o resultado daquela conversa. Melanie apertou os lábios. Queria agradar  ao noivo, mas pela sua maneira de agir ele demonstrava que considerava  muito pouco a participação dela.

Já no fim do almoço, Bothwell foi o primeiro a falar:                            

— Diga-me uma coisa, srta. Stewart. Se pretende manter Monkshood, quando é que pensa voltar lá?

— Isso importa? — respondeu ela, empurrando o prato de sobremesa.

— Gostaria de saber por quanto tempo mais vou ter de cuidar da casa.

— Foi você quem se ofereceu! — acusou Melanie.

— Eu sei. Não estou tirando o corpo. Tento apenas compreender quais são os seus planos.

— Está tentando é mostrar a meu noivo que Monkshood é um desperdício de dinheiro, isso sim!

— Estou? — perguntou ele, cínico, com um brilho perigoso no olhar. Melanie curvou a cabeça. Que é que aquele homem estava tentando

fazer? Por que insistia em tratá-la como se fosse uma colegial? Por que fazia tão pouco dela?

— Quer dizer que está pagando ao sr. Bothwell para cuidar da casa? — perguntou Michael, depois de ouvir cuidadosamente a conversa.

— Muito pouco — respondeu Melanie.



  

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