Хелпикс

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Capítulo III 5 страница



— Mas por que ele não disse isso? Ou ela? Por que é que ela não me contou? — Mordeu o lábio. — Meu Deus, eu não podia imaginar... Pensei que ela era pálida daquele jeito por natureza...

— Bom, ela é pálida mesmo. Como eu já disse, ela não é muito forte, e no momento tem de se cuidar. Imagino que Sean deve ter ficado furioso de encontrá-la em Monkshood.

— É. Foi muito estranho.

— Acho que você está no seu direito de estranhar as coisas. Sean não está sendo muito razoável nessa questão da casa, desde que você chegou. — Jeffrey suspirou. — É uma situação difícil.

— Eu sei — concordou Melanie, arranjando melhor o cabelo debaixo do gorro. — Mas não fui eu que a criei.

— Você não está querendo vender a casa, não é?

— Não, não estou — respondeu Melanie. — Nunca tive uma casa minha mesmo, sabe?

— Entendo. — Jeffrey coçou a orelha um minuto. — E então? Quer a minha ajuda ou não?

— Não — disse Melanie lentamente, depois de pensar um instante.__

Hoje não, Jeffrey. Muito obrigada de qualquer forma, mas eu sinto que Sean não ia gostar.

— Eu não faço só as coisas que ele aprova, sabia? — protestou Jeffrey.

Melanie sorriu e afastou-se, abanando a mão para o rapaz. Monkshood estava coberta de neve. As paredes de pedra tinham grandes volumes brancos, formando desenhos, e o vento gelado continuava atirando mais flocos contra elas. Parecia ainda mais abandonada e isolada com aquele escudo de neve separando-a do resto do mundo. Melanie se pôs a pensar em por que estava se prendendo tanto àquela casa. Não era por causa do charme ou da beleza da construção, por certo. Mas a idéia de vendê-la e nunca mais voltar ficava cada dia mais e mais difícil de aceitar.

Viu diante de si o rosto de Sean Bothwell, à medida que caminhava pela rampa da entrada. Se vendesse Monkshood a ele teria sua eterna gratidão, além da satisfação de saber que a velha casa estaria nas mãos de seu mais legítimo dono. Mas a idéia de que ele traria a esposa para viver ali não lhe era tão aceitável. Tudo o que podia pensar era que resistia porque Sean era muito arrogante.

A casa não lhe pareceu mais tão fria quanto no dia anterior. Talvez o fogão tivesse conseguido vencer um pouco da umidade. Ao entrar na cozinha, descobriu que o fogão ainda eslava aceso, com bastante carvão, deixando o ambiente bem quentinho.

Melanie olhou em tomo, tentando descobrir quem poderia ter mantido o fogão aceso, mas só havia algumas pegadas tímidas no chão. Suspirou, sacudiu a cabeça e tirou o casaco, um tanto relutante. Era muito inquietante não conseguir resolver aquele mistério. Talvez devesse- ter aceitado a companhia de Jeffrey, no fim das contas.

Apesar de a neve iá fora refletir bastante luz através da janela aberta, sabia que não ia poder trabalhar até muito tarde, pois a eletricidade tinha sido cortada depois da morte do tio-avô. Jennifer tinha-lhe contado que a água também havia sido cortada. As duas juntas tinham conseguido abrir o registro de água, mas a eletricidade era mais complicada e precisava de alguém especializado. E, evidentemente, ninguém viria com um tempo daqueles.

O teto da cozinha já estava muito mais limpo e Melanie pensou se não podia já dar uma demão de tinta antes de qualquer outra coisa. Agora, que estava tudo limpo e o fogão funcionava, a cozinha parecia muito gostosa e ela não sentia nenhuma vontade de sair dali. O silêncio era quase assustador e dava uma certa sensação de segurança saber que a porta de saída dos fundos estava bem pertinho.

Mexeu a tinta na lata e empurrou a mesa para junto da parede. Não tinha trazido nenhuma roupa de trabalho, mas a tinta era grossa e sujava apenas os seus dedos. Inconscientemente estava o tempo todo alerta. Sentiu vontade de cantar para não se sentir tão só, mas o som de sua voz poderia impedi-la de ouvir se alguém se aproximasse.

A luz já estava caindo quando terminou o trabaho. Desceu da mesa e deu uma olhada, de longe. Estava satisfeita com o resultado de seu esforço; com uma segunda camada de branco o teto estaria perfeito.

Lavou os pincéis e arrumou as coisas todas. Limpou as mãos e pegou o casaco. Sorria para si mesma, lembrando dos horrores que tinha imaginado enquanto trabalhava. Aquele lugar não tinha nada sobrenatural. Alguém devia ter acendido o fogão e cuidado para que não se apagasse desde o dia anterior. E ela tinha quase certeza de que tinha sido Sean Bothwell. Na verdade, devia sentir-se grata e não apreensiva.    

Porém, um súbito ruído a assustou e sua mente entrou em alerta. O barulho tinha vindo do andar de cima. E não havia razão para haver qualquer ruído no andar de cima!

Ficou parada no meio da cozinha, casaco na mão, um arrepio percorrendo a espinha de alto a baixo, os ouvidos alerta para o menor ruído. Teria sido impressão sua? Podia ser só a água da caixa. Ou uma tábua do assoalho que estalou.

Mas ouviu então o inconfundível ruído de passos cruzando a sala que ficava acima de sua cabeça. As pernas de Melanie pareceram virar geléia. Seu primeiro instinto foi sair correndo da casa sem esperar mais nada, mas algo lhe dizia que era bobagem fazer isso. Se fugisse agora, nunca mais teria coragem de ficar sozinha ali. E, além disso, fantasmas não faziam tanto barulho ao caminhar.

Tentou pensar com lógica. Alguém tinha entrado no andar de cima, alguém que não tinha absolulamente o direito de estar ali. Respirou fundo, abriu a porta da cozinha e saiu para o hall. Os degraus subiam. escuros e soturnos, Melanie olhou para cima, preocupada.

— Quem está aí? — grilou numa voz que mesmo a seus próprios ouvidos soou fraca e assustada.

Ninguém respondeu e ela engoliu em seco, hesitando em subir a escada.

— Desça imediatamente, seja quem for! — gritou, colocando o pé no primeiro degrau. — Se não descer já eu chamo a polícia!

Houve um momento de silêncio e depois o barulho de passos fortes se aproximando do topo da escada. Uma figura escura surgiu lá no alto. Na penumbra era impossível perceber se era um homem ou uma mulher e Melanie apenas recuou, tapando a boca com a mão.

— Quem... quem é? — perguntou num fio de voz.

Mas não houve resposta. Melanie soltou um gemido e sua coragem fraquejou. Voltou-se e correu para a cozinha. Voou para a porta dos fundos. Só então se lembrou de que tinha entrado pela frente e que aquela porta ainda estava trancada.

Procurou desesperada nos bolsos pelo molho de chaves. Podia ouvir os passos descendo os degraus e olhou em torno, aflita, procurando alguma coisa com que se defender. Estava em absoluto pânico quando levantou uma das cadeiras de madeira e atirou-a no vulto que surgiu na porta. O homem teve de cobrir a cabeça com os braços, mas a cadeira não o atingiu, estatelando-se na parede.

— Seu... seu porco! — gritou ela ao ver a expressão divertida de Sean Bothwell. — Monstro!

Agarrou uma caixa de sabão em pó e ia atirar nele também, mas Sean foi mais rápido e contornou a mesa, agarrando os pulsos dela, dominando-a.           

— Calma aí — disse, agora com uma expressão impaciente.

— Não quero me acalmar coisa nenhuma — gritou Melanie, debatendo-se para escapar dos braços dele. — Você fez isso de propósito! Veio aqui com o objetivo de me assustar! Você é desprezível! Isso foi baixo demais, mesmo para você, seu...

— Cale a boca! — Os olhos dele brilharam, frios como o aço. Melanie estava tão tensa, magoada e assustada, que não se deu conta de

estar indo longe demais.

— Não calo a boca nada! — gritou, sem se importar com ele, — Não vai conseguir me assustar, sr. Bothwell! Falo quanto quiser.

Um músculo se contraía espasmodicamente no rosto dele. Melanie percebeu então como estavam próximos um do outro. Sentia a presença dele em cada fibra de seu ser. Aquela expressão firme, os músculos duros de seu corpo, a força das mãos que seguravam seus pulsos. Nunca tinha sentido a presença de Michael com tanta intensidade. Ou talvez Michael fosse mais atraente ã sua mente que ao seu corpo, enquanto a personalidade daquele homem colado a ela era mais envolvente, mais dominadora. Sabia que o tinha desafiado ao máximo e os olhos dele brilhavam sem nenhum resquício de paciência, mas isso a excitava em vez de atemorizar.

Como se estivesse lendo os pensamentos dela, ele examinou o rosto vermelho de Melanie, detendo-se demoradamente em sua boca; então, com uma exclamação de desprezo, afastou-a bruscamente.

Melanie o encarava, confusa, esfregando os pulsos doloridos.

— Não vim até aqui com a intenção de assustá-la — disse ele duramente. — Pensei que você já tinha saído. Mas admito que quando a vi ao pé da escada, achando que estava correndo perigo de ser atacada, não me identifiquei de propósito. E devia controlar melhor suas emoções, para não cair nessas fantasias bobas — completou, apertando os olhos de maneira significativa.

— Não sei do que é que está falando, sr. Bothwell — respondeu Melanie, piscando os olhos diante do insulto.

— Não sabe mesmo? Ah, eu acho que sabe muito bem, srta. Stewart.

Não é o tipo de mulher que não tenha consciência dos próprios atrativos mas para os meus valores um noivado é coisa que tem de ser respeitada.

— O que é que está insinuando?

— Insinuando? Achei que estava sendo perfeitamente claro. Você gosta de ser admirada pelos homens, srta. Stewart. E agora há pouca achou que ia conseguir me conquistar...

— Como ousa dizer isso? Como ousa... — Melanie não conseguia encontrar palavras para expressar sua indignação.

— Um homem só ousa até o ponto em que a mulher permite — interrompeu ele, cínico. — E sei muito bem que ficou desapontada por nada ter acontecido.

— Não sei... como tem coragem de me olhar no rosto enquanto diz... essas coisas — gaguejou, tremendo de raiva. — Está se auto-afirmando.

Calou-se bruscamente quando ele avançou de repente e puxou-a para si, rudemente. Os olhos dele queimavam os dela com uma ferocidade não disfarçada e, quando colou os lábios aos dela, Melanie estranhou a sensação de posse, tão distinta da delicadeza que estava acostumada a receber de Michael. Sean Bothwell chegou a ferir os lábios dela com uma violência que a aterrorizava e excitava ao mesmo tempo. Ele machucava, os músculos fortes de suas coxas pressionando as dela, forçando-a a agarrar-se a ele, tentando desesperadamente não corresponder.

Mas era difícil permanecer indiferente à fome dos lábios dele. E aquelas mãos em seus cabelos eram estranhamente sedutoras. Era como se a fusão de suas bocas tivesse provocado uma reação química na relação deles. A rudeza do beijo transformou-se numa ternura apaixonada que a desarmou por completo. Melanie deslizou as mãos pelo peito dele envolvendo seu pescoço. A pele de Sean era macia e quente debaixo dos dedos dela. Os cabelos grossos e macios. Ela tentou resistir ainda por um momento, mas depois envolveu o pescoço de Sean com ambos os braços e, durante alguns segundos enlouquecedores, correspondeu ao beijo sentindo a pressão urgente do desejo dele.

E então, como se tomasse consciência da situação, Sean a afastou violentamente, os traços contorcidos.

— Sua vaca! — xingou, violento. — Não se importa de ferir os outros, não é?

— E você? — perguntou Melanie, sentindo-se tonta e tendo de se apoiar na mesa.

Ele passou a mão pelos cabelos desfeitos, olhando-a em silêncio por um momento.

— Não — murmurou ele, subindo gradualmente o tom de voz. — Não. Por um momento permiti que me dominasse, mas isso não vai tornar a acontecer! Fique longe de mim, srta. Stewart, ou não me responsabilizo por meus atos da próxima vez! Virou-se subitamente e saiu da casa.

 

 

                                     CAPÍTULO VI

 

 

Foi um verdadeiro suplício para Melanie descer para o jantar naquela noite. Apesar de saber que não havia nenhuma razão para não querer encontrar Sean Bothwell, sabia que teria dificuldades para encará-lo. Detestava saber que leria desprezo nos olhos dele quando a visse. Não adiantava repetir para si mesma que o que tinha acontecido tinha sido culpa tanto dele quanto dela. Não se convencia. Por que é que ela o tinha provocado daquela forma? Por que se sentia tão consciente da presença dele? E pior de tudo: como tinha se permitido corresponder a um ataque tão brutal?

De início tinha achado difícil acreditar que tudo aquilo acontecera de fato. mas depois, em seu quarto, ao sentir os lábios feridos, tinha sido forçada a enfrentar a realidade. Ainda agora, enquanto virava a comida no prato, podia sentir a pressão do corpo dele contra o seu, lembrando-se da explosão sensual que o contato tinha-lhe provocado. Empurrou o prato confusa com aquelas emoções que nunca tinha sentido antes.

— Telefone para a senhorita — disse a criada, chegando à sua mesa. — É de Londres.

Londres!

— Onde atendo? — perguntou, confusa.

— Na cabine do hall, senhorita. Sabe onde é?

— Oh, sei. Sei, sim.

Melanie se levantou depressa, a mente confusa. Só podia ser Michael. Mas por que estaria telefonando? Especialmente nessa noite, quando se sentia tão despreparada para falar com ele?

Conseguiu caminhar com calma maior do que sentia de fato. Entrou na cabine e pegou o telefone.

— Melanie! Melanie, é você?

Mal podia reconhecer a voz dele. Sua entonação sempre calma e contida tinha dado lugar a um tom áspero, rouco. Ficou imediatamente preocupada.

— Michael! Michael, o que foi que aconteceu?

— Não se aflija, Melanie — respondeu ele, rindo. — Não vou morrer, pelo menos, não ainda. Peguei uma gripe muito forte e não estou me sentindo muito bem. Estava pensando se você ia voltar Jogo.

— Oh, Michael — exclamou Melanie, apertando os lábios. — Como é que pegou essa gripe? Não está se cuidando direito? Está trabalhando demais?

— Acho que estou trabalhando demais — disse ele, tossindo, rouco. — O velho Madison não veio trabalhar estes três dias por causa do reumatismo e eu tentei manter as coisas em dia. Mas não adiantou muito.

— Sabe que tem de se cuidar quando o tempo está muito úmido — disse, preocupada. — Por que não fez só a sua parte?

— Bom, é o que vou ter de fazer agora, não é? Mamãe tem sido ótima. Veio aqui para o apartamento desde ontem e está cuidando de mim. Mas não pode deixar o papai sozinho indefinidamente, por isso resolvi telefonar para saber se você ia voltar logo.

— Sei. — Melanie mordeu o lábio inferior.

— Acho que ela ia ficar mais sossegada se você estivesse aqui para cuidar das compras, da comida, essas coisas. Além disso, não acha que já ficou bastante por aí?

— Bom — suspirou Melanie —, as coisas não são tão simples como eu tinha pensado.

— O que é que aconteceu? — perguntou Michael, tossindo de novo. Melanie encolheu os ombros num gesto involuntário. Como explicar

todas as complicações pelo telefone? Não podia esperar que ele compreendesse, passando tão mal como estava.

— Ainda não consegui fazer tudo o que queria — disse sem conseguir mentir. — Quando é que sua mãe volta para a casa dela?

— Amanhã, acho — disse ele, fungando do outro lado da linha. — Escute, Melanie, se a minha doença atrapalha seus planos, não se preocupe. Vou ter de me arranjar sozinho da melhor maneira possível.

— Ora, Michael — respondeu ela, exasperada —, não precisa entender tudo ao pé da letra. Ainda não completei os detalhes, mas isso não quer dizer que eu não possa voltar imediatamente. Se você está precisando de mim...

— Claro que estou precisando. Mas isso não quer dizer que você deva vir correndo. Eu consigo me virar sozinho.

— Ora, Michael, por favor! — disse ela, ansiosa. — Eu... eu volto amanhã. Pelo menos posso começar a viagem amanhã. Mas talvez só chegue aí depois de amanhã.

— Bom, se você não se importa...

— Claro que não... — Melanie tinha de controlar o desespero que crescia dentro dela. — Na verdade, acho que talvez seja melhor deixar as coisas aqui para depois do Natal.

— Também acho — concordou Michael, rouco. — Estou morrendo de saudades, Melanie.

Melanie sentiu o rosto esquentar a essas palavras e ficou contente por ele não poder vê-la. Sentia-se desleal, quase infiel, e talvez o fato de Michael precisar dela de repente fosse a melhor coisa que podia acontecer naquelas circunstâncias. Dava-lhe um bom motivo para sair de Cairnside e escapar das complicadas relações surgidas naquela tarde...

— Espero que não tenham sido más notícias — disse Ian Macdonald assim que ela entrou de volta na sala de jantar.

— Não. — Melanie sorriu. — Mas vou ter de partir imediatamente. Houve um coro de gentis lamentações e ela teve de inventar desculpas

para uma partida tão súbita. Terminado o jantar, foi até o balcão de recepção. Helen, a irmã de Sean Bothwell, estava de plantão e olhou-a um tanto surpresa.

— Pode fechar a minha conta, por favor? — pediu Melanie.

— Vai embora, srta. Stewart? — perguntou a moça, conseguindo disfarçar perfeitamente qualquer reação.

— Sim, amanhã de manhã. Você poderia chamar um dos mecânicos da oficina para dar uma olhada no carro, amanhã bem cedo? Sei que é meio precipitado, mas... é uma emergência.

— Entendo — respondeu Helen. — Acho que não vai haver problema. Vai partir antes do almoço, srta. Stewart?

— É o que pretendo.

— Muito bem. Vou cuidar do mecânico. E faço sua conta para o café da manhã, amanhã. Certo?

— Obrigada.

Melanie conseguiu dar um sorrizinho, mas quando se virou para subir a escada sentiu o vento frio entrar pela porta aberta. Jennifer entrou da rua, sorridente.

— Melanie! — exclamou a garota. — É com você mesma que eu queria falar.

— Olá, Jennie.

— Vamos tomar alguma coisa no bar — disse a mocinha, tomando o braço de Melanie. — Quero falar com você.

— Eu já estava indo para a cama... — Melanie hesitou em aceitar o convite.

— O quê? Às nove horas, já dormindo? Ainda bem que eu cheguei antes. Vamos!

Não podia recusar sem parecer rude. Deixou que Jennie a arrastasse até o bar. Como na noite anterior, havia pouca gente e Jeffrey estava lá em seu posto atrás do balcão. Jennifer acenou animada para ele, mas levou Melanie para uma mesa perto da lareira e foi buscar os drinques.

— Olhe aí — disse, estendendo a Melanie um gim-tônica e colocando seu suco de abacaxi na mesa. — Eu não bebo, sabe?

Melanie agradeceu, olhando ansiosamente para a porta. Se Helen contasse ao irmão que Jennifer tinha chegado, ele devia vir procurá-la logo, logo. Sentiu enorme dificuldade em se concentrar no que Jennifer estava dizendo, pois tinha os nervos extremamente tensos.

— Bom — disse a moça afinal, tomando um gole de suco —, eu queria me desculpar.

— Se desculpar?

— Claro. Por causa de ontem à noite. Eu vim até aqui ontem à noite, mas Helen disse que você estava com enxaqueca.

— É verdade — respondeu Melanie, brincando com o copo. — Mas não precisa se desculpar.

— Preciso, sim. Eu me senti muito mal com a atitude de Sean e acho que a culpa foi minha. Afinal de contas, você não sabia que eu tinha estado doente e nem que Sean é incrivelmente protetor comigo.

— Tudo bem, Jennie. Eu não fiquei chateada com você — insistiu Melanie, controlando a expressão de seu rosto.

— Não. Mas dá para entender como é que eu me senti? Quer dizer, Sean pode ser bastante grosseiro às vezes, e se não fosse por minha culpa...

— Esqueça — pediu Melanie, um tanto tensa. Então se lembrou: — Olhe, você... você sabe se o sr. Bothwell foi acender o fogão depois?

— Acender o fogão? — perguntou Jennifer com uma careta. — Não. Não que eu saiba.

— Alguém acendeu aquele bendito fogão.

— O quê?!

— Lembra que você foi até a aldeia buscar um pouco de lenha?

— Lembro.

— E você trouxe a lenha?

— Trouxe, sim. — Jennifer estava intrigada. — Achei que Sean devia ter dado para você.

— Não. Não me deu. Bom, depois que vocês saíram, vi que ia precisar de lenha para acender o fogo e esquentar a água, Então dei uma corrida até a aldeia. Quando voltei para a casa, o fogão estava aceso.

— Entendo. Bom, eu não sei nada a respeito — disse, preocupada. — Mas vou perguntar para Sean.

— Não, não precisa — Melanie se precipitou a dizer. — Não tem importância.

— O que é que não tem importância? — perguntou uma voz grave e cínica.

Jennifer olhou para cima, surpresa com a interrupção, mas Melanie não precisou olhar para reconhecer a ironia de Sean Bothwell. Sentiu o pulso se acelerar e o coração disparar. Sentia-se absolutamente inadequada ali. Tomou um gole de bebida, mas viu, horrorizada, Jennie indicar o assento a seu lado e ele se sentar com elas.

Melanie não levantou a cabeça, sentindo fortemente a presença daquele homem. Podia ver apenas os músculos da perna dele debaixo do tecido cor de creme da calça justa e a mão bronzeada pousada no joelho.

— Oh, Sean — perguntou Jennifer ingenuamente —, Melanie estava querendo saber se você tinha acendido o fogão ontem, depois que a gente saiu.

Melanie percebeu que estava agarrando o copo com tanta força que podia até quebrar o cristal entre os dedos.

— Não, não acendi, não — respondeu ele calmamente para Jennifer. — Foi Jeffrey.

Melanie levantou o olhar subitamente, dando de cara com os olhos cinzentos dele, absolutamente calmos. Por que ele não tinha contado isso de uma vez em lugar de inventar aquela história de forças sobrenaturais? Ele devia saber que o medo dela ao encontrar-se com ele na casa, depois, era resultado exclusivamente daquela insinuação maldosa.

— Pronto, Melanie — Jennifer disse, contente. — Você devia ter perguntado. Sean teria contado quem foi.

Melanie apertou os lábios. Queria acabar com aquele ar de cinismo do rosto de Sean, mas não sabia como. De qualquer forma, não podia deixar que ele levasse a melhor.                                                                       

— Mas eu perguntei! — Seus olhos brilhavam, desafiantes, para Sean. — Não perguntei, sr. Bothwell?

— Perguntou mesmo? — Jennifer olhava de um para o outro, curiosa.

— O sr. Bothwell me contou uma história estranha. Disse que Angus Cairney tinha levantado do túmulo para vir acender o fogão de sua própria casa...

Jennifer estava perplexa e Melanie ficou satisfeita, sentindo que o tinha deixado desconcertado.                                                                          —  Verdade, Sean? — Jennifer perguntou a ele.

— O quê? Que eu contei para a srta. Stewart as histórias da fumaça saindo da chaminé depois que o velho morreu? É. é verdade. Eu contei a ela.

— Quer dizer que existem mesmo essas histórias? — Melanie estava impaciente.

— Ah, existem, sim — esclareceu Jennie. — Mas quando morre alguém num lugar isolado, sempre inventam essas histórias. Sean! Você não devia ter assustado Melanie...                                                             

— Não é minha culpa se a srta. Stewart é medrosa — disse ele, colocando um cigarro entre os dentes.

Melanie tornou a baixar a cabeça. Não tinha conseguido nada. Pelo contrário, eles agora tinham material para contar uma anedota divertida a respeito dela; podia ver isso no sorriso que bailava nos olhos de Jennifer. Terminou a bebida e pôs-se de pé.

— Com licença. Eu vou partir amanhã cedo e quero dormir bem...

— Vai embora amanhã? — perguntou Sean, pondo-se de pé também e ficando muito próximo dela. — Não sabia.

— Não? — Melanie torcia as mãos nervosamente atrás das costas. — Pensei que sua irmã tivesse lhe comunicado.

— Helen? Não, não estive com ela agora. — Sean apertou os olhos, sombreando-os com os cílios extremamente longos. — Pensei que ia ficar até amimar tudo em Monkshood.

— Vai voltar, Melanie? — Jennifer também tinha se levantado e estava ao lado deles. Era evidente que lamentava a partida da amiga recente.

— Vou. Vou, sim. — Melanie suspirou. — Mas acho que demora um pouco. Tem o Natal, sabe, todas as festas. Talvez na primavera...

— Então vai querer que eu continue cuidando da propriedade? — perguntou Sean, agora com o olhar muito sério.

— Ah, é claro, tinha me esquecido deste detalhe. Poderia fazer isso?

— Se quiser...

— Você deve ter espantado Melanie com essas histórias de horror — Jennifer brincou, enfiando o braço no dele.

Melanie conseguiu sorrir. Era isso que esperavam dela naquele momento. A pobre Jennifer devia estar sentindo a tensão no ar e tentava tornar as coisas mais leves.

— Não — Melanie respondeu, ainda sorrindo. — A historinha do sr. Bothwelt não me assustou, não.

Falou com bastante firmeza, percebendo satisfeita que ele apertava os olhos ao ouvi-la. Mas aquela satisfação durou pouco. Agora que se aproximava o momento da partida, não queria ir. Era muito desagradável perceber isso.

— Meu noivo está doente. Telefonou pedindo que eu voltasse — informou, decidida.

Jennifer consolou-a, mas Sean não disse nada e Melanie sentiu os olhos queimando. Sabia que linha de sair dali antes que dissesse ou fizesse alguma coisa de que se arrependeria depois. Deu boa-noite e foi para a porta.

— Nós nos veremos quando você voltar! — gritou Jennie.

Melanie deu um breve olhar por cima do ombro e viu a mocinha passar o braço pelo de Sean. olhando-o com enorme calor.

 

 

Londres estava na mesma. Melanie chegou dois dias depois, bem na hora do rush, e levou mais de uma hora para ir até seu apartamento em Bayswater. Mas mesmo assim era confortador saber que ali podia andar na rua sem ser reconhecida, nem ser bombardeada com perguntas.



  

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