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Título original: THIS SIDE OF PARADISE



 

Publicado originalmente em 1979 pela

Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

 

Tradução: LUZIA ROXO PIMENTEL

 

Copyright para a língua portuguesa: 1981

EDITORA EDIBOLSO LTDA. — São Paulo

Uma empresa do GRUPO ABRIL

 

Composto e impresso nas oficinas da

ABRIL S.A. CULTURAL E INDUSTRIAL

 

Foto da capa: TRANSWORLD

 

CAPÍTULO I

 

A loira de biquíni amarelo chamou a atenção de um senhor gordo, vestindo bermudas. Ele lhe deu um sorriso convidativo. Sem se mexer da cadeira ou mudar a expressão, o homem levantou um dedo, chamando a moça e indicando o lugar vazio a seu lado. Ela fingiu não ver, e ele disfarçou, chamando o garçom.

Observando a cena, da sacada do seu quarto, no terceiro andar, Gina viu que Marie tinha acertado em cheio: aquele era mesmo o melhor lugar para uma garota bonita caçar um milionário. Primeiro, tinha achado que era brincadeira da amiga, quando esta lhe anunciou suas intenções para aquela viagem. Mas, agora, não estava tão certa. Não sabia nada sobre Marie Gregory, a não ser que era sozinha no mundo, como ela própria. Trabalhavam juntas, mas isso não tinha sido suficiente para se conhecerem bem. Talvez, Marie estivesse realmente decidida a encontrar um marido rico naquelas férias. Afinal, havia feito muita economia para chegar até lá.

Ela havia dito que passara dois longos anos, poupando todos os tostões, antes de ter o bastante para umas férias de três semanas. Gina sabia que nunca teria força de vontade para fazer nada parecido. Sua presença ali se devia unicamente a um computador amável, chamado Ernie.

Quando o computador lhe deu o prêmio, surgiram várias discussões e sugestões no escritório. Todos queriam ensiná-la a gastar o dinheiro. A de Marie foi a mais sedutora. Alguns acharam bobagem gastar tudo de uma só vez, mas a maioria a invejava. Não lhe tinha ocorrido a idéia de perguntar a Marie por que precisava de uma companheira.

Pelo menos, não até o momento em que entraram no avião. Aí era tarde demais para voltar.

Agora, ali de pé, quase oito horas depois, ela se lembrou do sorrisinho da outra.

— Preciso de cobertura — Marie disse, como se aquilo explicasse tudo.

Gina achou que, sendo loira, causaria um certo contraste com o tipo moreno e alegre da outra. Haviam atraído a atenção de muita gente desde o aeroporto. Não apenas pela diferença de tipo físico, mas também porque eram as únicas jovens em um lugar povoado de homens idosos e mulheres de cabelos azulados. O hotel não estava cheio: a estação de turismo mal começara.

Olhou a piscina lá embaixo e observou as cabanas na praia de areia muito branca. Ao longe, o mar se tornava opaco, à luz do entardecer. Amanhã, teriam tempo de nadar em águas mornas, muito diferentes das européias. Ficariam estendidas ao sol, sob um céu sem nuvens, sem fazer nada. Para hoje, o programa era o jantar no luxuoso restaurante. Entretanto, seu organismo lhe dizia que ainda estava na hora do almoço. Sem dúvida, levaria algum tempo para se adaptar às diferenças de horário. Uma boa noite de sono ajudaria muito.

— Não vai terminar de desarrumar a mala? — Marie chamou de dentro do quarto. — Preciso saber quanto espaço terei nestes armários.

— Pode usar o espaço que quiser. Não trouxe muita coisa — Gina respondeu, relutando em sair da sacada. Depois, entrou no quarto muito bem decorado e suspirou de prazer. — Não é fabuloso? Sinto-me uma milionária!

— Não é mau — Marie admitiu —, e nem podia ser, pelo preço que estamos pagando! Graças a Deus, conseguimos as passagens de avião mais baratas!

Gina concordou. Sabia que, se não fosse aquilo, seu prêmio de mil libras não seria suficiente. Mesmo assim, as diárias do hotel iriam fazer um grande rombo em seu orçamento. Só esperava ter cheques de viagem suficientes-até o fim das três semanas. Precisariam pagar as refeições e os divertimentos. Mas, naquela noite, não se preocuparia com dinheiro.

Marie tinha um corpo perfeito e vestia-se de modo a salientá-lo ainda mais. Gina admirava-a, sem inveja. Ela própria era magra. Não tinha aquele porte espetacular, nem a personalidade necessária para acompanhá-lo. Bem, pelo menos ninguém nunca a tomara por um rapaz, pensou bem-humorada, olhando-se no espelho.

— A que horas será o jantar?

— Vamos descer às nove — Marie disse.

— Gostaria que fosse agora. Estou faminta.

— Por sua própria culpa. Devia ter almoçado no avião.

— Mas tinha acabado de tomar o café da manhã!

Aquela discussão era uma bobagem. Dividir o quarto com Marie ia ser difícil, principalmente porque a conhecia muito pouco. A amizade entre as duas tinha começado exatamente há três semanas, quando a outra a convidara para acompanhá-la naquela viagem. Amizade? Talvez fosse melhor descrever a convivência como um relacionamento superficial. Marie não se esforçava para conhecer ninguém que não fosse de seu grande interesse.

Terminou de desarrumar a mala, deixando bastante espaço para as coisas da companheira. Depois, olhou os vestidos, indecisa.

— Usaremos vestidos longos ou curtos?

— Longos, claro. Este é o lugar certo para eles. — Marie escolheu um de crepe, com alcinhas de pedrarias. — Use este: combina com seus olhos. Pena que não fez uma rinsagem antes de viajarmos. Loiras platinadas ficam muito bonitas com a pele bronzeada. — O olhar dela dizia: você não liga muito para si mesma, não é?

— Não sou eu que estou atrás de um marido — Gina respondeu alegre, recusando-se a ficar ofendida.

Entretanto, havia ironia na voz da outra, quando disse:

— E você ficaria satisfeita com algum bancário e uma porção de filhos gritando em volta, não é?

— Você fala de um modo que faz parecer horrível — Gina sorriu. — Não precisa necessariamente ser assim.

— Será. Você é deste tipo.

Fez uma pausa e se afastou. Gina foi a primeira a falar, depois de um momento de silêncio:

— Marie, por que me convidou para vir com você?

— Porque uma mulher sozinha, num lugar como este, dá má impressão... atrai o tipo errado — respondeu, dando de ombros.

— Então, ficaremos juntas só na aparência, mas cada uma pode escolher o seu caminho, não?

— Claro. — Fez uma careta. — Certas pessoas, não dá mesmo para ajudar!

Passaria muito bem sem aquele tipo de ajuda, Gina pensou. Não queria ficar triste por ter vindo. Era uma viagem que só se faz uma vez na vida e pretendia aproveitá-la ao máximo, do seu jeito. Que Marie fizesse o que quisesse, contanto que não a envolvesse.

Saíram juntas para jantar. Uma usando azul e a outra um tom alaranjado forte. Marie causou sensação, quando entrou no restaurante. Gina viu várias pessoas se virarem para olhá-la.

Não havia muita gente no salão. Todo o ambiente era rodeado de terraços que davam para o mar, prateado pela lua cheia. Numa das extremidades do restaurante, um conjunto tocava os últimos sucessos. Ali, a nota principal era o luxo, aparente desde as cortinas de seda, até as cadeiras forradas de veludo e os talheres de prata.

Sentaram-se longe da pista de dança. Gina sabia que seu vestido nem se comparava com as roupas caras das outras mulheres. Nem o de Marie. Mas a amiga parecia não se importar. Tinha suficiente confiança em si, para não se incomodar com os outros. Gina gostaria de ser menos tímida.

Havia mais alguns jovens, mas não do tipo que faz amizades fácil" mente. Todos pareciam entediados demais, como se aquela noite não lhes oferecesse nada de especial. Ela e Marie eram as únicas mulheres desacompanhadas, o que não as ajudava muito. Pela primeira vez, começou a achar que não deviam ter ido para aquele hotel e, sim, para um menor, mais informal.

Marie disse ao garçom que fariam o pedido mais tarde e pediu dois martinis.

— Pare de se preocupar — disse, quando Gina lhe contou seus temores. — Se fizer o jogo direito, não precisará pagar mais nenhum jantar.

— Quer dizer que encontraremos alguém que pague?

— Exatamente. À sua esquerda há um homem que não parou de olhar para você, desde que entramos.

Involuntariamente, Gina virou-se e deu com o mesmo senhor que havia visto na piscina, chamando a loira de biquíni amarelo. Pouco depois, a loira chegou e sentou-se ao lado dele, que pareceu não lhe prestar nenhuma atenção. Acendeu um enorme charuto, sem se importar com o fato de não terem ainda terminado a refeição. O terno a rigor dele só servia para lhe salientar ainda mais a gordura.

— Não, obrigada — ela disse, olhando depressa para o outro lado. — Ele já tem uma acompanhante.

— Ela já passou dos trinta. O sujeito não está dando a mínima. Acho que logo vai se livrar dela.

— Então, por que você não tenta lhe chamar a atenção? — Gina murmurou, furiosa, e viu a outra sorrir.

— Não é o meu tipo. Há dois homens no terraço que parecem muito melhores. Não sei se estão hospedados aqui, ou vieram apenas jantar.

— Vá lá e pergunte — Gina já estava aborrecida. Tudo parecia se transformar rapidamente em um grande fiasco. Se soubesse a verdade antes, jamais teria feito aquela viagem. Não poderia nunca imaginar a finalidade da amiga.

— Não há pressa — Marie afirmou. — Se não estiverem hospedados, não adianta nada conhecê-los. Bem, saberemos amanhã.

Gina ficou imaginando se Marie se divertia mesmo com aquela tarefa. De onde estava, não via os dois homens, nem pretendia olhá-los. Se estivessem hospedados ali, Marie daria um jeito de se insinuar. Só queria ficar afastada ao máximo daquilo tudo. Procuraria controlar melhor o dinheiro. Os banhos de mar e de sol eram grátis. Encontraria um lugar barato, onde comer.

Quando finalmente fizeram o pedido, ela escolheu os pratos mais baratos, percebendo que, mesmo assim, a conta seria imensa. Marie não fez economia e ainda quis uma garrafa de vinho.

— Deixe comigo — disse, quando Gina protestou. — Pare de ser tão pão-dura!

— Sinto muito, mas estou com o dinheiro contado para me sustentar. Não dá para gastar tanto assim.

— Eu também não tenho muito — Marie respondeu, calmamente —, e não pretendo gastar mais do que já gastei. Se não bancar a boba, não terá que se preocupar também.

— Posso ser uma boba, mas não vou me vender por uma refeição!

— Nem eu — Marie parecia imperturbável. — Você sabe o que procuro. Mas, enquanto isso, tenho que viver.

— Nunca encontrará um marido aqui — Gina disse, com um olhar furioso. — Duvido que algum desses homens aqui pense em casamento.

— Pode ser que esteja certa. Mas casamento não é tudo — Marie viu a expressão de Gina mudando. Ela ergueu as sobrancelhas, espantada. — Já deve ter percebido que não pretendo voltar, a não ser que seja absolutamente necessário. Se não conseguir um marido que me sustente, como quero, vou me ajeitando com jó que aparecer. Só peço que ele seja rico.

Gina a olhava como se nunca a tivesse visto antes.

— Não está falando sério!

— Claro que estou. Não economizei, durante dois anos, para nada.

— E por que me trouxe junto?

— Já lhe disse. Achei que parecia bom, no começo.

— Aquela mulher lá, com o homem que me mostrou, não estava aborrecida por ter vindo sozinha. Ela o conheceu esta tarde, na piscina.

— Obviamente, ela está caçando. E não quero parecer com ela. Até" o momento, somos duas amigas passando as férias juntas. Claro que, quando lhe der um sinal, espero que desapareça e encontre outra companhia.

Gina sacudiu a cabeça, procurando ficar calma:

— A vida é sua e tem todo o direito de fazer com ela o que quiser. Mas não me peça que a ajude. Como já disse, cada uma seguirá o seu caminho.

— Você vai ficar muito sozinha — Marie disse, sorrindo.

Era verdade, e a idéia não lhe agradava. Entretanto, a outra alternativa também não lhe atraía. Gina disse a si mesma: estou nas Bahamas por causa do sol, do mar e da areia, e vou tratar de aproveitar tudo isso.

Não gostou da comida. Marie bebeu sozinha quase todo o vinho, 10

o que lhe deu um brilho maior aos olhos. Pediu creme de menta depois do café e ficou saboreando-o, enquanto acompanhava o ritmo da música com o pé.

— Acho que, no auge da estação de turismo, haverá três vezes mais hóspedes.

— Imagino que sim — Gina concordou, cansada. — Por que não esperou para vir na estação?

— Por que não poderia pagar os preços mais altos. — Marie olhou em direção ao terraço e mudou de expressão. — Lembra dos dois homens de que lhe falei? Um deles está vindo para cá. Não vá estragar tudo.

Gina sentiu-se tensa, quando o homem se inclinou sobre a mesa. Ele só tinha olhos para Marie. Era de estatura mediana, um pouco gordo, mas simpático. Parecia ter por volta de quarenta anos.

— Desculpe a intromissão. Meu amigo e eu gostaríamos de convidá-las para um drinque no terraço. Estamos nos sentindo solitários esta noite.

Marie lhe deu um sorriso provocante.

— É muito gentil, mas realmente não acho... —fingiu uma hesitação que estava longe de sentir.

— Por favor, venham — ele disse, sorrindo de um modo encantador. — Assim, conseguiremos melhorar a situação. Convidei meu amigo para jantar e ele detestou a comida. — Olhou para Gina e perguntou: — São inglesas?

— Como sabe? — ela disse, contra a própria vontade.

— A gente aprende a reconhecer os patrícios. Sou Neil Davids.

Marie fez as apresentações, ignorando o olhar de Gina, que lhe implorava para não levar aquilo mais longe.

— Chegamos agora à tarde e estamos sentindo a diferença de horário. Acho que não poderemos ficar muito tempo — ela disse, como se estivesse indecisa.

— Está bem. Fiquem o tempo que quiserem.

Marie levantou-se, não deixando a Gina outra alternativa, a não ser segui-la. Não queria ir com eles, mas também não conseguiria atravessar sozinha aquele imenso restaurante.

As portas do terraço estavam próximas. Na mesa que os dois ocupavam, o outro homem parecia aborrecido. Tinha ombros largos e cabelos escuros. Seu olhar era de resignação. O rosto ossudo era familiar e lhe trouxe aos lábios, involuntariamente, o nome dele:

— Ryan Barras!

— A sua fama o persegue — disse o outro, olhando-a, admirado.

— É o que parece. — Ele tinha olhos cinzentos e frios. Levantou-se. — Estou encantado, senhorita...?

Não estava encantado coisa nenhuma. Pior: ele sabia que ela sabia disso.

— Tierson — falou, tensa. — Gina Tierson.

— E esta é Marie — Neil Davids apresentou, preocupado em não cometer gafes. — Elas chegaram há poucas horas. — Ofereceu-lhe cadeiras, colocando Gina perto do amigo, enquanto ficava de frente para Marie.

O garçom apareceu e pediram drinques.

— Lê muito, srta. Tierson? — Ryan Barras perguntou, sem tirar os olhos do rosto de Gina.

— Todos nós, britânicos, temos fama de grandes leitores — Neil interrompeu. — Vamos deixar de formalidades, sim?

— Está bem — disse o outro, dando de ombros. — Lê muito... Gina?

— Sim — disse e se forçou a encará-lo. — Acho que está cansado de pessoas lhe dizendo que gostam dos seus livros.

— Nem um pouco. Sou muito narcisista, quando se trata do meu trabalho. — A voz dele era irônica.

— A sua fotografia saiu nos últimos dois livros, e eu o vi na televisão, há alguns meses.

— É boa fisionomista.

Ele era difícil de esquecer, Gina pensou. Lembrou de como, com poucas palavras, havia colocado o entrevistador em seu devido lugar, recusando-se a responder perguntas de caráter pessoal, principalmente as que se referiam a sua acompanhante do momento. Era solteiro e parecia pretender continuar assim.

Os outros conversavam sobre assuntos gerais. Ela desejou estar a quilômetros dali, longe daquele homem cujo olhar era tão difícil de sustentar. Sentia-se embaraçada, como se fosse uma mulher vulgar. Ao mesmo tempo, sabia que merecia aquilo.

— Então? Não vai me dizer de qual dos meus livros gostou mais?

— "Os Caçadores".

Viu que ele franzia a testa.

— Não pensei que uma mulher fosse gostar desse.

— Escreve só para homens? — perguntou, em tom de desafio.

— Conscientemente, não; mas acho que alguns assuntos são orientados para o gosto masculino.

— Só na superfície. A maioria dos problemas atinge ambos os sexos.

— É verdade. — Agora, tinha um ar de interesse. — Importa-se em me dizer quantos anos tem?

— Vinte e três. Velha o bastante para entender o que você queria dizer com aquela novela.

— Há anos que "Os Caçadores" foi publicado — ele sorriu.

— Só o descobri há poucos meses — confessou. — Veio junto com outros livros que trouxe da biblioteca pública.

— Ah, e eu aqui, pensando que tinha encontrado uma compradora!

— Pelo preço que estão? — disse, e se arrependeu imediatamente. A falta de dinheiro não era assunto para se discutir em lugares como aquele. Sentiu-se corar.

— Ache um jeito de cortar as despesas da impressão e terá todos os editores aos seus pés — ele respondeu, secamente. — Meu próximo livro sairá quase pelo dobro do preço dos atuais.

— Quando?

— Na metade do mês que vem. Gostaria de receber uma cópia antecipada?

— Oh, não! — Corou mais ainda e mordeu os lábios. — Acho que seria maravilhoso demais, claro, mas não espero...

— Está tudo bem. Preciso cultivar minhas fãs. — Pegou uma caneta de ouro e uma maleta, de onde tirou um bloco. — Para onde devo mandar?

Deu o endereço, relutante.

— Estará em casa, mês que vem?

— Sim.

— Então, veio aqui só passar umas férias?

— É — respondeu, sem jeito. Sabia que Marie estava ouvindo e que não gostava do rumo daquela conversa. Mas não podia fazer nada.

Ryan observou-a.

— É um lugar muito distante para se vir passar só duas semanas.

— Três — ela corrigiu e imediatamente sentiu-se ridícula. — Sim, acho que é, mas vale a pena. É uma linda parte do mundo. Também veio passear?

— Não. Eu moro aqui. Pelo menos, durante três meses no ano.

— Enquanto escreve?

— Sim. Preciso de sossego e isolamento.

— Pensei que fosse difícil encontrar isso em Nassau — ela disse forçando um sorriso.

— Não fico em Nassau.

Ele não procurou explicar mais; recostou-se na cadeira, observando o garçom que chegava com os drinques.

— Ao que brindaremos? — Neil perguntou, e Marie riu.

— Já que somos todos ingleses, que tal brindarmos à rainha e à Inglaterra?

— Muito distantes. Que acha de brindarmos às amizades... velhas e novas?

Ela ergueu o copo dizendo:

— Eu o acompanho..

Ryan não tocou em seu cálice. Gina também não. Um cheiro de charuto Havana misturado com perfume francês pairava sobre eles. A noite estava linda, iluminada por uma imensa hia e estrelas. Nenhuma poluição ofuscava seu brilho. Há uma semana, ela apenas sonhava com aquilo. Seria real?

— Quer dar um passeio pela praia? — Ryan perguntou, num tom casual. — Acho que não temos tempo para ir muito longe.

Outros casais passeavam na areia. Gina concordou: qualquer coisa era melhor do que ficar assistindo às encenações de Marie.

— Sim, gostaria muito.

— E vocês dois? — ele falou, virando-se para Neil e Marie.

— Nós vamos dançar. — Ryan puxou a cadeira de Gina e piscou para o amigo:

— Voltamos logo.

Desceram os degraus que levavam à praia. Ele era alto, atlético, de ombros largos e quadris estreitos. Sentiu-se tensa, como se ele lhe perturbasse os nervos... Talvez fosse a atração que ele emanava. Bem, tinha certeza de que não era a primeira, nem seria a última mulher a achá-lo atraente. Sem saber por quê, aquele pensamento a deixou deprimida.

Ryan não fez nenhuma tentativa para continuar a conversa. Parecia contente em andar pela areia, com as mãos nos bolsos.

— Devia ter trazido um xale — ele disse, depois de alguns mi-, nutos.

Gina riu.

— Não numa noite como esta!

— Está frio para Nassau. Estamos no inverno, sabia?

— Sei. A estação dos furacões, de acordo com os folhetos que li.

— Não podia vir mais tarde?

— Seria caro demais. Eu tenho... — parou de repente, percebendo ter falado demais. Afinal, que importava? Não tinha nenhum sentido querer aparentar o que não era.

Dirigiram-se a um caminho entre as palmeiras. Pareciam estar sozinhos.

— Você está fazendo um jogo perigoso — ele disse, ríspido. — Atrevo-me até a afirmar que sabe disso.

— Eu... não sei o que quer dizer...

— Não pense que sou bobo. Você está passando férias num lugar que não pode pagar. O único jeito é conseguir alguém que lhe pague a conta.

— Não é verdade! — Parou de caminhar e virou-se para ele, furiosa. — Você não...

— Eu compreendo... e muito bem..Acontece o tempo todo. Não estou dizendo que não vai dar certo. Você é jovem, atraente... e inteligente — ele riu.— Inteligente demais, eu diria, para se envolver em algo deste tipo. Como conheceu aquela outra?

— Se está falando de Marie, por favor, não se refira a ela desse modo.

— Ela está caçando um homem rico. É tão claro como a luz do sol.

— O seu amigo não parece pensar assim.

Ele riu, um riso curto, sem alegria.

— Neil conhece uma pechincha de longe. Já está preparado para isso. Tem muita prática. Ela pode conseguir ficar aqui de graça, as três semanas, se fizer o jogo certo.

Gina estava furiosa. Ergueu a mão para atingir o rosto dele. Seu punho foi agarrado com força e ela deu um grito.

— Não pense que vou virar a outra face — ele disse. — Não será a primeira vez que bato numa mulher.

— Isto não me surpreende! — ela arrancou a mão e esfregou o pulso machucado. — O que lhe dá direito de julgar os outros?

— Não estou julgando. Estou só avisando. O que a sua amiga quer é só da conta dela. Acho que é capaz de cuidar de si mesma.

— E acha que não sou?

— Tenho certeza disso. Você vai se colocar numa situação sem saída. — Fez uma pausa. — A não ser que pague seu próprio jantar e esteja acostumada a dormir em uma cama estranha. Talvez, eu esteja pregando por uma causa perdida.

— Porco! — Lágrimas de humilhação surgiram em seus olhos. Virou-se para voltar. Tropeçou e ia cair, quando ele a segurou. — Não me toque! Não preciso da sua ajuda! — gritou.

— Você precisa de alguma coisa — ele disse, aborrecido —, mas não sei o que é. — Encarou-a, e sua expressão suavizou-se. — Talvez isso a ensine.

Ela ficou tensa e ele a puxou. Gina sentiu aquele corpo forte de encontro ao seu. Seus lábios se uniram. Os dele eram rudes, fortes, separando os dela; suas mãos a acariciavam. Nunca tinha sido beijada com tanta brutalidade. Quando ele a soltou, não conseguiu olhá-lo. Esfregou os lábios machucados.

— Isto é só um exemplo — ele disse. — Vai ficar tudo muito pior, se tentar brincar com as pessoas sem caráter, que geralmente se encontram em lugares como este. Acha que conseguirá se sair bem?

— Eu nunca disse que me sairia bem. — Estava trêmula, os lábios queimando, o corpo todo parecendo vibrar com o toque dos dedos dele. — Você não tinha nenhum direito de fazer isso!

— Você precisava disso. Se tem algum bom-senso, vai desistir dessa loucura. Quanto dinheiro ainda tem?

— O suficiente para provar que você está errado!

— Espero que sim.

— E por que deveria se incomodar? — perguntou, sentindo uma enorme vontade de chorar. — Nem ao menos me conhece.

— Talvez, porque eu seja um cavalheiro à antiga. Está pronta para voltar?

— Voltarei sozinha.

— Não. Tenho de ir lá pegar um táxi.

— E o seu amigo? Pensei que tivessem vindo juntos.

— Viemos. Mas isso não significa que vá interrompê-lo. Sei lá o que ele já conseguiu. Não vou levá-lo de volta à cidade.

— Eu lhe disse...

— Já sei o que me disse. Mas não me convenceu. Já vi muitas do tipo dela e não costumo me enganar.

Gina engoliu o insulto. Não se arriscaria a repetir a cena dos últimos minutos. A atração que sentira por Ryan tinha desaparecido. Agora, ela o detestava. O modo como a beijara... como a tocara... não precisava ter feito aquilo. Ele a havia degradado, tratando-a como uma prostituta.

Chegaram ao terraço em silêncio. Não havia sinal dos outros. Ryan pegou a bolsa de Gina e lhe estendeu. Caminharam em direção à entrada do hotel. Se Marie e Neil estavam dançando, ela não viu. Não se atreveu a procurar, pois sentia sobre ela o pesado olhar de Ryan.

Pararam perto dos elevadores. Ele disse, irônico:

— Bem, acho que aqui nos despedimos. Não posso dizer que foi uma noite agradável, porque não foi. Se encontrar Neil, diga que eu já fui embora para o barco.

— Estou indo direto para o quarto. Portanto, não vou vê-lo.

— Nunca se sabe — ele sorriu, cínico. — Tente lembrar o que eu lhe disse. Não está treinada para este tipo de jogo.

Gina não respondeu. Não valia a pena. Virou-se e entrou no elevador.

O quarto estava vazio. Claro que Marie não ia ser tão rápida assim. Gina tentou se convencer de que a amiga não deixaria as coisas irem longe demais, mas não conseguiu. Ryan estava certo sobre Marie. Só não sabia que ela planejava ficar mais três semanas. Bem, havia a chance de Neil Davids ajudá-la.

Ainda sentia os lábios inchados. Olhou-se no espelho. Estava com olheiras. No momento, só sentia vontade de fazer as malas e ir embora para sempre. Só que não podia. Tinha escolhido um vôo charter, por ser mais barato, e a passagem estava marcada para dali a três semanas. Teria que ficar ali, gostasse ou não.

Ia aproveitar, disse, fervorosamente, a si mesma. Ia esquecer aquela noite e Ryan Barras. Ia se divertir muito!

Deitou-se, mas ainda estava acordada quando Marie chegou. Acendeu as luzes sem se importar com Gina e olhou-a, surpresa.

— Ora, pensei que tivesse saído com aquele escritor. Há quanto tempo está na cama?

— Há mais ou menos uma hora. — Gina continuou deitada, olhando para o teto. — E como foram as coisas?

— Bem. Ele é um ótimo cara!

— Vai vê-lo outra vez?

— Não, na próxima semana. Felizmente, ele tem negócios em algum lugar. Mas voltará. — Parecia muito confiante. — E você? Vai ver Ryan outra vez?

— Não.

— Muito mal. Pareciam estar indo tão bem! Tem certeza de que ele não vai voltar?

— Certeza absoluta. E não quero falar nisso.

— Oh, compreendo. Gostou dele, hein? — Marie riu. — Atraente como um demônio, para quem gosta do tipo. Pessoalmente, acho-o másculo demais. Homens assim, só em doses pequenas. São mandões e querem que se faça tudo ao modo deles. Neil é um cavalheiro, não apressa a gente. Posso até me apaixonar um pouquinho por ele.

— Faça isso — disse Gina, virando de bruços. — E me deixe em paz.

— Não se preocupe, vou fazer. Não esperava ter tanta sorte na primeira noite. — Marie fez uma pausa e continuou, num tom de quem procura consolar — Anime-se, amanhã tudo será diferente. Poderá nadar e tomar sol. Não é o que mais quer?

Sim, era verdade, Gina pensou, afundando a cabeça no travesseiro. As férias tinham apenas começado.

CAPÍTULO II

Durante os dias seguintes, Gina achou que não tinha desperdiçado sua viagem às Bahamas. O clina estava ótimo, o cenário lindo e y ela estava encantada.

Passearam por Nassau e ficaram um dia inteiro fazendo compras. Ela gostou dos cavalos usando chapéu de palha, puxando as char-retes; dos cafés nas calçadas e de beber rum com coca-cola. Marie até que era uma boa companhia, quando não estava de olho no futuro. Parecia contente em esperar a volta de Neil Davids e não tentou novos conhecimentos. Só se recusava a tomar banho de mar. Ficava o tempo todo na piscina, com o menor dos biquínis, e chamando a atenção de todo mundo.

O hotel tinha professor de esqui-aquático, e Gina teria adorado aprender, se o preço não fosse tão alto. Sua reserva de dinheiro diminuía assustadoramente. Mas recusava-se a deixar que este problema a preocupasse. Iria conseguir pagar tudo... e não seria do jeito de Marie.

No terceiro dia, queimada de sol e com um biquíni preto, Marie era o maior sucesso. Gina usava um biquíni azul e se sentia quase nua. Compraram bebidas para tomar na praia e sentaram-se à sombra das palmeiras. O sol era quente demais naquela hora.

— Vem vindo um lindo barco — Marie murmurou, preguiçosa, observando o mar através dos óculos escuros. — Nunca o vi antes por aqui.

— Deve ser um dos barcos do hotel — Gina disse, olhando na direção indicada. — Nossa, hoje está mais quente do que nunca!

A amiga não respondeu. Sentou-se, interessada na lancha que chegava.

Dois homens, vestindo jeans e camiseta, desceram. Ambos usavam óculos escuros e caminharam para o bar. Marie chamava muito a atenção. Logo que eles pegaram seus drinques, vieram na direção dela.

— Oi, parece gostoso aqui. Podemos nos sentar?

— Fique à vontade — Marie convidou. — Bonito barco o seu.

— Bonito mesmo. — Ele se sentou ao lado dela, tirando os óculos e revelando dois olhos azuis muito confiantes. — Linda a vista, não?

O outro ocupou a espreguiçadeira ao lado de Guia. Ambos pareciam beirar os trinta anos e ter sangue americano nas veias.

— Eu sou Sven, e ele é Rafe. Vocês duas são inglesas?

— Sim. Sven? Deve ser sueco, não?

— Acertou — o sotaque era quase imperceptível. Sorriu, mostrando dentes muito brancos. — Mas não sou gelado, docinho.

— Prometo não chamá-lo de Sueco — ela riu —, se você parar com essa história de docinho.

— Feito. E como devo chamá-la?

Ela se apresentou, ficando mais calma com o jeito informal deles.

Rafe chamou um dos garotos do bar:

— Encha nossos copos. Rum, está bem?

— Prefiro um refrigerante — Gina interrompeu, e ele lhe deu uma piscada bem-humorada.

— Uma gota de rum não vai machucar você.

— Eu sei, mas prefiro refrigerantes durante o dia.

— Beba menos durante o dia e manterá a cirrose a distância — Sven comentou, preguiçoso. — Talvez, a gente devesse fazer isso, hein, Rafe?

— Faça você. Eu prefiro escolher o meu próprio caminho para a ruína. — O americano olhou Marie, franzindo as sobrancelhas. — Você não é da turma do refrigerante... ou é?

— Nem um pouco — ela sorria, satisfeita com a nova amizade. — Quero um duplo.

— Qual dos dois é o dono do barco? — Gina perguntou.

— Podemos dizer que somos sócios — Rafe respondeu. — Quer dar uma volta?

— Oh, não estava pedindo!

— Bem, se você não vai, eu vou — Marie disse, impaciente.

— Ótimo. — Rafe olhou para Sven e continuou. — Estávamos indo a uma festa. Não querem vir junto?

Marie riu:

— Assim, sem mais nem menos? Com essa roupa?

— Claro. É uma festa na praia. Todos estarão vestidos assim. Não é, Sven?

— Certo. Boa idéia. Vão recebê-las de braços abertos.

— É perto? — Gina perguntou.

— Pertíssimo. Podemos voltar a tempo para o jantar, se quiserem. Haverá muita gente lá. Vão gostar de vocês.

— Coquetéis na praia — Marie disse, olhando para Gina. — Parece muito bom...

— Eu não acho... — Gina começou, insegura, e recebeu logo um olhar de irritação.

— Não seja boba! Só passaremos uma ou duas horas lá. Será divertido — Marie disse. E, virando-se para Rafe: — Bem, eu vou.

Sven colocou o copo vazio sobre a areia:

— E você, Gina, não vai? — O tom era agradável e persuasivo — Não se divertirá ficando aqui sozinha.

Estava certo. Marie poderia também decidir não voltar para o jantar e deixá-la só a noite toda. Pelo menos, se fosse, podia insistir para que voltassem logo. E também, uma festa na praia parecia divertido. Gostaria de encontrar outros jovens e ver como viviam as pessoas que moravam ali.

— Está bem, desde que não seja muito longe. Os dois homens trocaram um olhar.

— Vamos agora — Rafe disse. — Quanto mais cedo sairmos, mais cedo chegaremos. — Jogou algum dinheiro para o garoto que chegava com os drinques. — Pode tomar esses, são seus e estão pagos.

O garoto sorriu e agradeceu.

As duas moças vestiram as saídas-de-praia e dirigiram-se ao barco. Gina parecia ainda um pouco relutante. Tudo estava acontecendo depressa demais para o seu gosto. Mas será que amizades de férias, em lugares como aquele, não eram sempre assim?

A lancha era linda, muito limpa e nova. Tudo brilhava à luz do sol. Havia um lugar especial para banhos de sol, e as duas se acomodaram.

Gina tentou relaxar, mas não conseguiu. Havia qualquer coisa naqueles dois homens que não a deixava muito à vontade. Barcos como aquele deviam custar muito dinheiro. Estavam em pleno meio da semana, o que indicava que nenhum dos dois tinha algum trabalho. Entretanto, naquela parte do mundo, era comum pessoas com renda própria e sem compromissos com patrões. Porém, algo parecia não encaixar no quebra-cabeças.

Foi Marie quem fez a pergunta que estava na cabeça dela:

— Sem querer ser indiscreta: o que vocês fazem, exatamente, para viver?

Novamente os dois trocaram olhares. Rafe sorriu, antes de responder:

— Muito pouco, não é, Sven?

Marie não se perturbou:

— Devem ter muito lucro, percorrendo as praias.

Sven sentou-se a seu lado:

— Depende do que encontramos. Quer um cigarro?

Ela aceitou e ele olhou para Gina:

— Fuma?

Raramente ela fumava, mas decidiu aceitar para não parecer puritana demais. Ele lhe estendeu um isqueiro. O mar fazia um barulho enorme. Estavam indo para alto-mar. Sem dúvida, logo virariam e seguiriam a costa.

— A que distância fica esta praia onde vamos? — ela perguntou, quando viu quê a lancha não mudava de direção. — Parece que já nos afastamos muito.

— Fica a mais ou menos cinqüenta quilômetros daqui. — Sven explicou. — Na ilha de um amigo nosso. O lugar ideal para festas. Não há vizinhos reclamando do barulho.

— Você disse que era aqui perto — ela falou aborrecida e já cheia de suspeitas.

— E é. Chegaremos lá dentro de uma hora. — Parecia não ter se perturbado com a agitação dela. — Quer um drinque?

— Quero voltar — Sua voz saiu com uma nota de terror —, Marie...

— Marie não quer voltar, não é? — Sven sorriu, olhando a outra moça. — Marie quer ir à festa.

— Bem, agora que já estamos a caminho... — ela sacudiu os ombros bonitos. — As praias são todas iguais, por aqui.

— Assim que chegarmos lá, teremos de começar a voltar, se quisermos pegar o jantar do hotel — Gina protestou. — Acho que não vale a pena... — a voz dela se perdeu diante da completa falta de interesse dos outros. Nada ia fazê-los mudar de idéia.

— E se vocês não chegarem para o jantar? — Sven perguntou. — Podem comer à vontade, na festa. Relaxe, querida. Fique tranqüila como a sua amiga, e vai se divertir muito. Nós as traremos de volta.

Quando quiserem, Gina pensou, desesperada. Então, achou que teria que se conformar. Sempre poderiam pedir carona a alguém, na festa.

Marie fumava, calmamente. Não gostava do jeito dela. Mas teriam ainda que passar muito tempo juntas. Era melhor se adaptar; afinal, tinha concordado em fazer aquela viagem. Bem, se não aparecessem no jantar, alguém notaria a falta delas. Muitas pessoas viram quando tomaram a lancha. Diriam em que direção tinham ido. Sven e Rafe deviam saber que isso aconteceria. Precisavam traze-las de volta, antes que notassem sua ausência.

— Parece que não tenho muita escolha — disse, furiosa. — Só que não gosto de ser enganada.

Sven fez uma cara divertida:

— Você viria, se soubesse onde era a festa?

— Não, mas...

— Então, pode dizer que lhe fizemos um favor, arrancando-a daquele hotel por algumas horas. Não veio até aqui para ficar sentada na areia, esperando as coisas acontecerem.

— Certo — disse Marie, irônica. Levantou-se e foi para o lado de Rafe. — Posso dirigir um pouquinho?

— Tem um preço... — ele falou, cheio de insinuações.

Marie pegou o volante, e ele ficou por trás dela, acariciando-lhe os quadris. Ela sorria, satisfeita.

— Sempre sonhei em dirigir uma lancha destas. É melhor do que um carro veloz!

— É melhor do que qualquer carro. E você não corre o risco de sair da estrada, por mais rápido que ande.

Gina tentou rir da brincadeira, mas não conseguiu. Sentiu-se aliviada, quando, a sua frente, apareceu a silhueta de uma ilha. Logo estariam de volta, foi a única coisa que conseguiu pensar.

A ilha era rodeada por recifes de coral. Parecia completamente inacessível. Mas, com muita perícia, Rafe procurou uma abertura entre os corais e passou, indo em direção a um ancoradouro.

Mais além, havia uma casa imensa, térrea, com uma grande varanda. Outros barcos já estavam ancorados. O americano desligou o motor, e flutuaram até o pequeno cais. Ouviram música.

— Será que somos os últimos a chegar? — Marie perguntou.

— Talvez sim, talvez não. Aqui, as pessoas vão e vêm, quando querem.

Sven desceu e estendeu a mão para Gina. Ela olhava a praia, curiosa.

— Há quanto tempo terá começado a festa? Quanto tempo vai durar?

— Ninguém sabe. Acho que começou ontem à noite. A última festa, aqui, durou três dias.

— Três dias! Quer dizer que estas pessoas podem ter vindo passar o fim de semana?

— Alguns sim, outros não. Como Rafe disse, as pessoas vêm e vão, quando querem. — Passou um braço pelo ombro dela, apertando-a. — Não comece a ficar aborrecida. Venha, divirta-se.

Andaram em direção a um grupo de convidados. Estava detestando a proximidade do corpo dele. Bem, havia esperança de sair logo dali. Se as pessoas iam e vinham quando queriam, poderia pedir uma carona até a ilha de New Providence, onde ficava o hotel.

Pararam muitas vezes para cumprimentar convidados, mas Sven não a apresentou a ninguém. Marie e Rafe logo desapareceram na multidão.

Alguém colocou um copo na mão de Gina. Cheirou a bebida.

— Não gosto do gim.

— Está bem. Vou lhe arranjar um refrigerante com rum. Fique aqui e me espere. O bar é lá no fundo.

Depois de ele se afastar, um homem olhou-a, curioso. Tinha uns cinqüenta anos, era gordo, de rosto cansado e pouco cabelo. Sua camisa estava manchada de suor debaixo dos braços e, pelo jeito de segurar o copo, quase derramando tudo, Gina deduziu que já bebera muito.

Procurou ficar de costas, rezando para que ele não se aproximasse. Procurou Marie, mas não a viu. Só percebeu uma coisa: ali, quase todos os homens eram bem mais velhos do que as garotas. Todos pareciam cinqüentões, enquanto que elas dificilmente teriam mais de vinte e cinco. Uma raiva linda usando uma túnica de crochê e calcinhas cor da pele, estava abraçada com um homem que tinha idade suficiente para ser seu avô, beijando-o.

Sven voltou com um drinque. Estava corado e descabelado, com uma mancha de batom no canto da boca.

— Não fique aí parada. Beba e solte o cabelo. A sua amiga está se divertindo muito.

Gina levou o copo aos lábios e quase engasgou. Aquilo era rum puro com algumas gotas de refrigerante.

— Está forte demais. Não posso beber assim. — Apesar do calor, sentiu um arrepio ao ver a expressão dos olhos dele. — Sven, quero ir embora. Não devia ter vindo. Não é o tipo de festa que eu gosto.

— Como sabe, se nem tentou se enturmar? — O tom de voz dele era de total indiferença. — Vamos, docinho, não é assim tão imatura. Veio a esta parte do mundo porque quer aproveitar a vida, não é?

— O sol, a paisagem... a viagem, eu acho — a voz dela se perdeu no barulho.

— A sua amiga tem outras idéias.

— Sim, mas eu não sabia, antes de chegarmos aqui. Não nos conhecemos muito bem... só trabalhamos juntas... e quando ganhei... — ela se interrompeu. Não tinha que explicar nada a ninguém, muito menos a ele. — É, foi tudo um engano. Somos muito diferentes.

— Talvez, não tanto quanto você quer acreditar. — Colocou a mão no ombro dela. A palma estava úmida. — Você está aqui porque quer. É uma garota bonita. Não é um espetáculo, como a sua amiga, mas gosto de mulheres mais discretas. — A mão dele subiu até o queixo dela e os olhos percorreram a curva dos seios. — Vou mostrar como nos divertiremos...

— Não! — Ela se afastou, bruscamente. — Não gosto deste tipo de diversão, obrigada! Se não quiser me levar de volta, vou tentar encontrar alguém que leve!

— Quer apostar como não encontra? Vá tentar o tempo que quiser. Posso esperar.

Gina saiu, deixando-o lá. Dentro da casa, a decoração era linda; o dono devia ser muito rico.

Tudo estava quieto, com fumaça pairando no ar. Às vezes, alguma conversa chegava, misturada à música suave. Marie dançava nos braços de Rafe. Não adiantaria falar coro eles. Pareciam completamente entretidos um com o outro.

Gina dirigiu-se à praia, tentando encontrar um rosto amigável. Mas não encontrou. Alguém tentou pegá-la, quando passou junto de um banco. Era um velho bêbado.

— Procurando por mim, queridinha?

Ela se afastou dele, que ficou rindo alto.

Finalmente, encontrou-se num corredor, que levava ao interior da casa. Foi dar num quarto: a porta estava aberta e as luzes apagadas. Parecia vazio. Pensou em se trancar lá dentro, mas não encontrou nenhuma chave. Acomodou-se na cama, procurando pensar no que faria em seguida. Ia ficar ali, até que a festa desse sinal de estar acabando. Então, Marie concordaria em voltar para o hotel.

Não podia passar a noite ali, sem que dessem pela sua falta. Será que ninguém se importava, no hotel, quando duas garotas não apareciam, à noite, para pegar as chaves? Bem, devia acontecer tantas vezes... Sua própria inexperiência a havia colocado naquela situação. Pela primeira vez em muito tempo, permitiu-se pensar em Ryan Barras e no que ele dissera naquela primeira noite. Era uma idiota, ele estava certo. Nunca se sairia bem com aquele tipo de gente.

A noite caiu. Ela se enroscou na cama e pensou em ameaçar Sven de chamar a polícia. Mas, como faria aquilo?

Cochilou. Acordou sobressaltada, quando alguém abriu a porta e acendeu a luz. Era Sven, parado ali, sorrindo.

— Então, veio se esconder aqui! — As palavras pareciam estar sendo cuspidas. — Ótimo, economiza tempo. Temos que recuperar muito do nosso tempo perdido.

Fechou a porta e se aproximou da cama. Parecia bêbado e respirava com dificuldade. Gina se levantou, depressa, e ele tentou agarrá-la, mas perdeu o equilíbrio e caiu deitado na cama. Ela saiu correndo, sem saber onde ia. Só queria colocar a maior distância possível entre ela e aquele homem.

Caminhou novamente pelo corredor, na direção oposta à festa, e foi dar na entrada da casa. Lá, o terreno tinha unia leve elevação e um jardim todo plantado com flores. Gina correu, tropeçando por causa das sandálias leves, que afundavam na terra. Não queria que ninguém a visse, da casa.

Escondeu-se entre um grupo de palmeiras. A areia era fofa, e sentiu-se abrigada. Acomodou-se e dormiu. No dia seguinte, procuraria Marie e voltariam a New Providence.

O calor já era intenso quando acordou, muito cedo. De onde estava, olhou a casa. Viu algumas pessoas deitadas na praia, mas ninguém se mexia. Bem, depois daquela festa, iam demorar muito a acordar.

Esperou um pouco e começou a caminhar, cuidadosamente, em direção à praia. Não sabia o que ia fazer. Sentia-se dolorida e suja. Só não podia ir até a casa, onde encontraria Sven, antes de encontrar Marie.

Alguns barcos tinham partido, mas o dos rapazes continuava lá. Isso lhe deu uma idéia. Havia observado Rafe e Marie dirigindo-o e vira como era fácil. Quase igual a um carro. Para dar a partida, era só ligar a chave. Lembrava, também, do caminho que fizeram. Se ficasse de olho na bússola e seguisse a direção sul, logo chegaria ao hotel.

Quanto a Marie... Bem, ela não teria dificuldade para achar alguém que a levasse de volta, quando os convidados começassem a acordar.

Sem que ninguém a visse, desamarrou o barco e começou a se afastar do ancoradouro. Balançava muito. Quando conseguiu se equilibrar, foi dar a partida. Conseguiu e logo ganhou velocidade. Só então, Gina se lembrou dos recifes de coral. Rafe havia escolhido um lugar especial para se aproximar da praia. Conseguiria encontrar novamente a passagem? Achava que era logo mais adiante. Precisava manter a calma e a direção em linha reta. Não demoraria a alcançar águas calmas.

Não contava com as correntes marítimas, que lhe tiravam o controle a todo instante. Não tinha idéia completa do que estava fazendo, mas procurou manter a direção firme. Uma ponta de coral raspou a popa, mas conseguiu passar. Depois, o barco foi sacudido por ondas pequenas, que lhe embrulharam o estômago.

Não podia enjoar agora. Olhou o horizonte. Estava completamente escuro. Não se preocupe, disse a si mesma, tentando se convencer de que chegaria ao hotel, antes que a tempestade desabasse. Colocou o barco na direção do sul e viu que precisava de muito esforço para controlá-lo. Pela primeira vez, lhe ocorreu que talvez New Providence fosse uma ilha muito pequena, que nem conseguisse distinguir. Bem, ancoraria em outra ilha qualquer, alguém a encontraria e a levaria de volta... vestida daquele jeito... podia ser embaraçoso. Ia se preocupar com aquele problema, quando chegasse a hora. Por enquanto, só queria pisar em terra firme.

Logo percebeu que a tempestade ia desabar mais cedo do que pensava. O barco não parecia seguir o curso desejado. O céu estava cheio de nuvens pesadas, que a amedrontavam. Então, a chuva começou a cair, com tanta violência, que a deixou sem fôlego e encharcada, em poucos segundos. Quase cega, percebeu que a direção do barco lhe escapava das mãos. As ondas eram enormes, balançando tanto o barco, que ela caiu de joelhos. Se o dia fosse ensolarado, com sorte, chegaria a New Providence. Agora, não tinha a menor chance. Cometera um gesto idiota, desde o começo. Não sabia nada sobre barcos nem navegação.

Engatinhou até os controles e desligou o motor. Depois encontrou um colete salva-vidas e o vestiu. A cabine lhe daria alguma proteção. Encolheu-se lá dentro, molhada, com frio e enjoada.

Não saberia dizer quantas horas se passaram, antes que a chuva terminasse. Parecia ter durado dias. Enjoara muitas vezes, ajoelhada na borda do barco, sentindo uma grande vontade de morrer.

Agora, levada pelas ondas e pelo vento, a lancha parecia um tronco de madeira boiando. Não tinha direção. Poderia dar em qualquer parte. Começou a sentir que aquilo era só o começo do perigo. O céu estava negro, e o ar cheio de sons... Parecia estar chegando ao inferno.

De repente, ouviu o barulho de arrebentação mais adiante. Àquilo provava que estava se aproximando de uma praia. Significava também que haveria recifes de coral por toda volta.

E havia mesmo. Olhando a distância, viu a ponta cortante de vários deles. Rezou para que conseguisse passar. Mas a ilha a sua frente era completamente rodeada por recifes. Se o barco batesse, estaria perdida. Levantou-se e decidiu dar a partida. Com uma boa' velocidade, talvez tivesse a sorte de passar.

Mas já era tarde demais. Ouviu um barulho parecido com tecido sendo rasgado. O barco batera, e os recifes arrancaram parte do casco.

Agarrou-se ao corrimão de metal e ficou esperando. O barco encalhou e ficou balançando na ponta de um recife, ameaçando virar.

O coração de Gina batia, descompassado. O que lhe aconteceria? Logo, a água começaria a entrar na lancha e esta afundaria.

Mas nada disso aconteceu. Uma onda mais alta ergueu o barco por cima do recife, jogando-o do outro lado, a salvo.

Sem perder tempo, agradecendo sua boa sorte, Gina desceu, ficando com água pelos joelhos. Ali não era New Providence, ela sabia. Mas não tinha importância. Ia procurar alguém e pedir ajuda. Entretanto, a ilha não parecia habitada. Talvez houvesse alguma casa longe da praia. Pelo menos, no momento, estava em terra firme, e era o que importava.

Viu alguém saindo do meio das árvores. Achou que estava sonhando. Tentou levantar-se da areia onde tinha caído, mas o vento a derrubou novamente, rasgando sua túnica fina e jogando o cabelo nos olhos.

Ainda tentando se levantar, sentiu duas mãos fortes erguendo-a e um corpo de homem contra o seu.

O rosto dele lhe causou um choque imenso. Ficou completamente sem fôlego e muda, olhando dentro daqueles olhos cinzentos, já conhecidos, com aquela expressão um tanto familiar. Sentia-se fraca, mas amparada.

Então, pela primeira vez em toda sua vida, desmaiou.

CAPÍTULO III

Voltou a si, deitada na praia. Por um momento, acreditou que tinha sonhado. Então, Ryan voltou e se ajoelhou a seu lado, levantando-lhe a cabeça.

— Desculpe deixá-la sozinha, mas tive de ir até o barco, ver se havia mais alguém.

Ela fechou os olhos e ele a tomou nos braços. Gina não conseguia confiar inteiramente em seus sentidos. Aquilo não podia ser real!

— O barco — murmurou — não é meu!

— Está bem ancorado na praia. O fundo foi completamente arrebentado, e acho que ficará lá por muito tempo. Pare de se preocupar com isso. Teve muita sorte em conseguir chegar até aqui, sem se ferir.

— A tempestade me pegou — sussurrou e viu que ele se inclinava, para poder ouvir suas palavras. — A tempestade me pegou!

— É óbvio. Você quase morreu — olhou-a, aborrecido. — Fique quieta, até chegarmos lá dentro. Então, poderemos conversar.

Gina achava aquilo totalmente irreal. Entretanto, os braços que a carregavam eram bem reais. Já não estava com o colete salva-vidas. Ryan devia ter tirado, antes de ela voltar a si.

A casa ficava a alguma distância da praia. Ryan subiu alguns degraus, abriu a porta e foi recebido por um cachorro que abanava alegremente o rabo.

— Não se preocupe: Pal não vai morder você — disse, colocando Gina de pé, mas mantendo o braço em volta da cintura dela. O cão cheirou-a, curioso. — Precisa de um banho quente e roupas secas. Depois, faço as perguntas. Está bem?

Fez que sim. Sentia-se trêmula. Tudo era um choque muito grande. Para ele também. Tinha visto sua expressão, ao encontrá-la na praia.

— Foi bom eu ter ligado o gerador. Devia estar adivinhando que você ia chegar.

Ela não respondeu.

— Vou procurar algumas roupas secas. — Ryan saiu da sala.

Gina fez um esforço para se recompor. O que ele estava fazendo ali, naquela ilha, naquela casa e, aparentemente, sozinho? Tinha dito que precisava de solidão, quando escrevia. Então, devia estar escrevendo. Foi uma coincidência incrível, encalhar justamente na ilha que era o refúgio dele.

Agora, teria que lhe dar uma porção de explicações. Entre outras coisas, precisaria admitir que era mesmo a tola que ele havia pensado.

Deitou-se na banheira cheia de água quente. Ficou feliz ao sentir novamente os pés e as pernas. De repente, a porta se abriu e ele entrou, sem nenhum aviso. Sentou-se, apressada, tentando cobrir os seios com os braços. Olhou-o, com os olhos arregalados.

— Estas roupas ficarão um pouquinho grandes — ele disse, atirando algumas peças sobre a cadeira —, mas é o melhor que posso fazer. — Com um ar cínico, sorriu. — Tudo bem! Já vi muitas mulheres nuas na minha vida... e mulheres com muito mais para esconder do que você. Enxugue-se e esfregue bem os braços e as pernas para restabelecer a circulação. Vou procurar alguma coisa para você comer.

Só depois de alguns momentos, Gina conseguiu relaxar. Sentia o rosto queimar. Ele tinha feito aquilo de propósito, para mostrar que sua gentileza ia apenas até certo ponto. Imaginou o que diria, quando soubesse que seus avisos não tinham sido seguidos.

Vestiu a camisa e o short, amarrando bem na cintura. Não tinha nada para calçar: perdera as sandálias no mar.

Lavou o biquíni e pendurou-o no porta-toalhas. Depois, saiu em busca de seu anfitrião.

Encontrou-o, entrando na sala com uma bandeja e algumas travessas. A sala tinha chão de madeira lixada, forrado por tapetes. No centro, havia uma imensa lareira de pedra, que estava acesa. Não viu sinal do cachorro.

Ryan colocou a bandeja numa mesa, perto da lareira, e lhe indicou uma cadeira:

— Sente-se e coma alguma coisa. Não está muito frio para um fogo, mas acho que a lareira acesa cria um clima aconchegante. Sente-se melhor?

Gina estendeu a mão para as chamas.

— Sim, mas, onde eu moro, as pessoas não costumam entrar em banheiros ocupados, sem antes bater na porta.

Ele deu de ombros, sem mostrar a menor intenção de se desculpar.

— Preferia que eu jogasse as roupas no chão? Estava molhado. Ou não se lembra?

— Não importa — ela disse. — A casa é sua, e você faz o que quer.

— É assim que pretende ver as coisas? Está bem. — Estendeu-lhe uma tigela de sopa e carne cozida. — Coma isso e me conte o que estava fazendo sozinha naquele barco.

— Tudo ao mesmo tempo? — perguntou, olhando-o e examinando a sopa.

— Sim. Não precisamos fazer cerimônia. Vá engolindo.

Ela não sabia o que dizer. Tinha imaginado uma história que disfarçasse seus erros. Depois, preferiu ser honesta. Que importava que ele soubesse a verdade? Por que se incomodaria com ela?

Ryan ouviu tudo sem comentários, sem revelar nenhuma simpatia ou censura. Só quando ela terminou, deixou claro o que pensava:

— Ou você é a mulher mais imatura que já vi, ou a mais mentirosa. Ainda não me decidi.

— Não sou mentirosa.

— Então, é imatura. Claro que não ouviu meus avisos, na outra noite.

— Ouvi, mas não tive muita escolha. A situação era... diferente.

— Como?

— Bem, no começo, pensei que eles só quisessem fazer amizade.

— E por isso se meteu num barco, com dois rapazes que nunca tinha visto antes. Pessoalmente, só tenho a dizer que procurou todos esses problemas... e muitos mais!

— Obrigada! Sendo homem, você, naturalmente, compreende o ponto de vista deles!

— Por achar que as mulheres só existem para nosso divertimento? — Sacudiu a cabeça. — Depende da mulher. Tipos como você são muito raros e dificilmente aparecem por aqui. Acho que eles a julgaram pela aparência da sua amiga e a interpretaram mal, quando concordou em ir à festa.

Gina esvaziou o prato e sentou-se, procurando aparentar muita dignidade.

— Tenho vinte e três anos. Acho que n



  

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