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This side of paradise 2 страницаPararam perto dos elevadores. Ele disse, irônico: — Bem, acho que aqui nos despedimos. Não posso dizer que foi uma noite agradável, porque não foi. Se encontrar Neil, diga que eu já fui embora para o barco. — Estou indo direto para o quarto. Portanto, não vou vê-lo. — Nunca se sabe — ele sorriu, cínico. — Tente lembrar o que eu lhe disse. Não está treinada para este tipo de jogo. Gina não respondeu. Não valia a pena. Virou-se e entrou no elevador. O quarto estava vazio. Claro que Marie não ia ser tão rápida assim. Gina tentou se convencer de que a amiga não deixaria as coisas irem longe demais, mas não conseguiu. Ryan estava certo sobre Marie. Só não sabia que ela planejava ficar mais três semanas. Bem, havia a chance de Neil Davids ajudá-la. Ainda sentia os lábios inchados. Olhou-se no espelho. Estava com olheiras. No momento, só sentia vontade de fazer as malas e ir embora para sempre. Só que não podia. Tinha escolhido um vôo charter, por ser mais barato, e a passagem estava marcada para dali a três semanas. Teria que ficar ali, gostasse ou não. Ia aproveitar, disse, fervorosamente, a si mesma. Ia esquecer aquela noite e Ryan Barras. Ia se divertir muito! Deitou-se, mas ainda estava acordada quando Marie chegou. Acendeu as luzes sem se importar com Gina e olhou-a, surpresa. — Ora, pensei que tivesse saído com aquele escritor. Há quanto tempo está na cama? — Há mais ou menos uma hora. — Gina continuou deitada, olhando para o teto. — E como foram as coisas? — Bem. Ele é um ótimo cara! — Vai vê-lo outra vez? — Não, na próxima semana. Felizmente, ele tem negócios em algum lugar. Mas voltará. — Parecia muito confiante. — E você? Vai ver Ryan outra vez? — Não. — Muito mal. Pareciam estar indo tão bem! Tem certeza de que ele não vai voltar? — Certeza absoluta. E não quero falar nisso. — Oh, compreendo. Gostou dele, hein? — Marie riu. — Atraente como um demônio, para quem gosta do tipo. Pessoalmente, acho-o másculo demais. Homens assim, só em doses pequenas. São mandões e querem que se faça tudo ao modo deles. Neil é um cavalheiro, não apressa a gente. Posso até me apaixonar um pouquinho por ele. — Faça isso — disse Gina, virando de bruços. — E me deixe em paz. — Não se preocupe, vou fazer. Não esperava ter tanta sorte na primeira noite. — Marie fez uma pausa e continuou, num tom de quem procura consolar — Anime-se, amanhã tudo será diferente. Poderá nadar e tomar sol. Não é o que mais quer? Sim, era verdade, Gina pensou, afundando a cabeça no travesseiro. As férias tinham apenas começado. CAPÍTULO II Durante os dias seguintes, Gina achou que não tinha desperdiçado sua viagem às Bahamas. O clina estava ótimo, o cenário lindo e y ela estava encantada. Passearam por Nassau e ficaram um dia inteiro fazendo compras. Ela gostou dos cavalos usando chapéu de palha, puxando as char-retes; dos cafés nas calçadas e de beber rum com coca-cola. Marie até que era uma boa companhia, quando não estava de olho no futuro. Parecia contente em esperar a volta de Neil Davids e não tentou novos conhecimentos. Só se recusava a tomar banho de mar. Ficava o tempo todo na piscina, com o menor dos biquínis, e chamando a atenção de todo mundo. O hotel tinha professor de esqui-aquático, e Gina teria adorado aprender, se o preço não fosse tão alto. Sua reserva de dinheiro diminuía assustadoramente. Mas recusava-se a deixar que este problema a preocupasse. Iria conseguir pagar tudo... e não seria do jeito de Marie. No terceiro dia, queimada de sol e com um biquíni preto, Marie era o maior sucesso. Gina usava um biquíni azul e se sentia quase nua. Compraram bebidas para tomar na praia e sentaram-se à sombra das palmeiras. O sol era quente demais naquela hora. — Vem vindo um lindo barco — Marie murmurou, preguiçosa, observando o mar através dos óculos escuros. — Nunca o vi antes por aqui. — Deve ser um dos barcos do hotel — Gina disse, olhando na direção indicada. — Nossa, hoje está mais quente do que nunca! A amiga não respondeu. Sentou-se, interessada na lancha que chegava. Dois homens, vestindo jeans e camiseta, desceram. Ambos usavam óculos escuros e caminharam para o bar. Marie chamava muito a atenção. Logo que eles pegaram seus drinques, vieram na direção dela. — Oi, parece gostoso aqui. Podemos nos sentar? — Fique à vontade — Marie convidou. — Bonito barco o seu. — Bonito mesmo. — Ele se sentou ao lado dela, tirando os óculos e revelando dois olhos azuis muito confiantes. — Linda a vista, não? O outro ocupou a espreguiçadeira ao lado de Guia. Ambos pareciam beirar os trinta anos e ter sangue americano nas veias. — Eu sou Sven, e ele é Rafe. Vocês duas são inglesas? — Sim. Sven? Deve ser sueco, não? — Acertou — o sotaque era quase imperceptível. Sorriu, mostrando dentes muito brancos. — Mas não sou gelado, docinho. — Prometo não chamá-lo de Sueco — ela riu —, se você parar com essa história de docinho. — Feito. E como devo chamá-la? Ela se apresentou, ficando mais calma com o jeito informal deles. Rafe chamou um dos garotos do bar: — Encha nossos copos. Rum, está bem? — Prefiro um refrigerante — Gina interrompeu, e ele lhe deu uma piscada bem-humorada. — Uma gota de rum não vai machucar você. — Eu sei, mas prefiro refrigerantes durante o dia. — Beba menos durante o dia e manterá a cirrose a distância — Sven comentou, preguiçoso. — Talvez, a gente devesse fazer isso, hein, Rafe? — Faça você. Eu prefiro escolher o meu próprio caminho para a ruína. — O americano olhou Marie, franzindo as sobrancelhas. — Você não é da turma do refrigerante... ou é? — Nem um pouco — ela sorria, satisfeita com a nova amizade. — Quero um duplo. — Qual dos dois é o dono do barco? — Gina perguntou. — Podemos dizer que somos sócios — Rafe respondeu. — Quer dar uma volta? — Oh, não estava pedindo! — Bem, se você não vai, eu vou — Marie disse, impaciente. — Ótimo. — Rafe olhou para Sven e continuou. — Estávamos indo a uma festa. Não querem vir junto? Marie riu: — Assim, sem mais nem menos? Com essa roupa? — Claro. É uma festa na praia. Todos estarão vestidos assim. Não é, Sven? — Certo. Boa idéia. Vão recebê-las de braços abertos. — É perto? — Gina perguntou. — Pertíssimo. Podemos voltar a tempo para o jantar, se quiserem. Haverá muita gente lá. Vão gostar de vocês. — Coquetéis na praia — Marie disse, olhando para Gina. — Parece muito bom... — Eu não acho... — Gina começou, insegura, e recebeu logo um olhar de irritação. — Não seja boba! Só passaremos uma ou duas horas lá. Será divertido — Marie disse. E, virando-se para Rafe: — Bem, eu vou. Sven colocou o copo vazio sobre a areia: — E você, Gina, não vai? — O tom era agradável e persuasivo — Não se divertirá ficando aqui sozinha. Estava certo. Marie poderia também decidir não voltar para o jantar e deixá-la só a noite toda. Pelo menos, se fosse, podia insistir para que voltassem logo. E também, uma festa na praia parecia divertido. Gostaria de encontrar outros jovens e ver como viviam as pessoas que moravam ali. — Está bem, desde que não seja muito longe. Os dois homens trocaram um olhar. — Vamos agora — Rafe disse. — Quanto mais cedo sairmos, mais cedo chegaremos. — Jogou algum dinheiro para o garoto que chegava com os drinques. — Pode tomar esses, são seus e estão pagos. O garoto sorriu e agradeceu. As duas moças vestiram as saídas-de-praia e dirigiram-se ao barco. Gina parecia ainda um pouco relutante. Tudo estava acontecendo depressa demais para o seu gosto. Mas será que amizades de férias, em lugares como aquele, não eram sempre assim? A lancha era linda, muito limpa e nova. Tudo brilhava à luz do sol. Havia um lugar especial para banhos de sol, e as duas se acomodaram. Gina tentou relaxar, mas não conseguiu. Havia qualquer coisa naqueles dois homens que não a deixava muito à vontade. Barcos como aquele deviam custar muito dinheiro. Estavam em pleno meio da semana, o que indicava que nenhum dos dois tinha algum trabalho. Entretanto, naquela parte do mundo, era comum pessoas com renda própria e sem compromissos com patrões. Porém, algo parecia não encaixar no quebra-cabeças. Foi Marie quem fez a pergunta que estava na cabeça dela: — Sem querer ser indiscreta: o que vocês fazem, exatamente, para viver? Novamente os dois trocaram olhares. Rafe sorriu, antes de responder: — Muito pouco, não é, Sven? Marie não se perturbou: — Devem ter muito lucro, percorrendo as praias. Sven sentou-se a seu lado: — Depende do que encontramos. Quer um cigarro? Ela aceitou e ele olhou para Gina: — Fuma? Raramente ela fumava, mas decidiu aceitar para não parecer puritana demais. Ele lhe estendeu um isqueiro. O mar fazia um barulho enorme. Estavam indo para alto-mar. Sem dúvida, logo virariam e seguiriam a costa. — A que distância fica esta praia onde vamos? — ela perguntou, quando viu quê a lancha não mudava de direção. — Parece que já nos afastamos muito. — Fica a mais ou menos cinqüenta quilômetros daqui. — Sven explicou. — Na ilha de um amigo nosso. O lugar ideal para festas. Não há vizinhos reclamando do barulho. — Você disse que era aqui perto — ela falou aborrecida e já cheia de suspeitas. — E é. Chegaremos lá dentro de uma hora. — Parecia não ter se perturbado com a agitação dela. — Quer um drinque? — Quero voltar — Sua voz saiu com uma nota de terror —, Marie... — Marie não quer voltar, não é? — Sven sorriu, olhando a outra moça. — Marie quer ir à festa. — Bem, agora que já estamos a caminho... — ela sacudiu os ombros bonitos. — As praias são todas iguais, por aqui. — Assim que chegarmos lá, teremos de começar a voltar, se quisermos pegar o jantar do hotel — Gina protestou. — Acho que não vale a pena... — a voz dela se perdeu diante da completa falta de interesse dos outros. Nada ia fazê-los mudar de idéia. — E se vocês não chegarem para o jantar? — Sven perguntou. — Podem comer à vontade, na festa. Relaxe, querida. Fique tranqüila como a sua amiga, e vai se divertir muito. Nós as traremos de volta. Quando quiserem, Gina pensou, desesperada. Então, achou que teria que se conformar. Sempre poderiam pedir carona a alguém, na festa. Marie fumava, calmamente. Não gostava do jeito dela. Mas teriam ainda que passar muito tempo juntas. Era melhor se adaptar; afinal, tinha concordado em fazer aquela viagem. Bem, se não aparecessem no jantar, alguém notaria a falta delas. Muitas pessoas viram quando tomaram a lancha. Diriam em que direção tinham ido. Sven e Rafe deviam saber que isso aconteceria. Precisavam traze-las de volta, antes que notassem sua ausência. — Parece que não tenho muita escolha — disse, furiosa. — Só que não gosto de ser enganada. Sven fez uma cara divertida: — Você viria, se soubesse onde era a festa? — Não, mas... — Então, pode dizer que lhe fizemos um favor, arrancando-a daquele hotel por algumas horas. Não veio até aqui para ficar sentada na areia, esperando as coisas acontecerem. — Certo — disse Marie, irônica. Levantou-se e foi para o lado de Rafe. — Posso dirigir um pouquinho? — Tem um preço... — ele falou, cheio de insinuações. Marie pegou o volante, e ele ficou por trás dela, acariciando-lhe os quadris. Ela sorria, satisfeita. — Sempre sonhei em dirigir uma lancha destas. É melhor do que um carro veloz! — É melhor do que qualquer carro. E você não corre o risco de sair da estrada, por mais rápido que ande. Gina tentou rir da brincadeira, mas não conseguiu. Sentiu-se aliviada, quando, a sua frente, apareceu a silhueta de uma ilha. Logo estariam de volta, foi a única coisa que conseguiu pensar. A ilha era rodeada por recifes de coral. Parecia completamente inacessível. Mas, com muita perícia, Rafe procurou uma abertura entre os corais e passou, indo em direção a um ancoradouro. Mais além, havia uma casa imensa, térrea, com uma grande varanda. Outros barcos já estavam ancorados. O americano desligou o motor, e flutuaram até o pequeno cais. Ouviram música. — Será que somos os últimos a chegar? — Marie perguntou. — Talvez sim, talvez não. Aqui, as pessoas vão e vêm, quando querem. Sven desceu e estendeu a mão para Gina. Ela olhava a praia, curiosa. — Há quanto tempo terá começado a festa? Quanto tempo vai durar? — Ninguém sabe. Acho que começou ontem à noite. A última festa, aqui, durou três dias. — Três dias! Quer dizer que estas pessoas podem ter vindo passar o fim de semana? — Alguns sim, outros não. Como Rafe disse, as pessoas vêm e vão, quando querem. — Passou um braço pelo ombro dela, apertando-a. — Não comece a ficar aborrecida. Venha, divirta-se. Andaram em direção a um grupo de convidados. Estava detestando a proximidade do corpo dele. Bem, havia esperança de sair logo dali. Se as pessoas iam e vinham quando queriam, poderia pedir uma carona até a ilha de New Providence, onde ficava o hotel. Pararam muitas vezes para cumprimentar convidados, mas Sven não a apresentou a ninguém. Marie e Rafe logo desapareceram na multidão. Alguém colocou um copo na mão de Gina. Cheirou a bebida. — Não gosto do gim. — Está bem. Vou lhe arranjar um refrigerante com rum. Fique aqui e me espere. O bar é lá no fundo. Depois de ele se afastar, um homem olhou-a, curioso. Tinha uns cinqüenta anos, era gordo, de rosto cansado e pouco cabelo. Sua camisa estava manchada de suor debaixo dos braços e, pelo jeito de segurar o copo, quase derramando tudo, Gina deduziu que já bebera muito. Procurou ficar de costas, rezando para que ele não se aproximasse. Procurou Marie, mas não a viu. Só percebeu uma coisa: ali, quase todos os homens eram bem mais velhos do que as garotas. Todos pareciam cinqüentões, enquanto que elas dificilmente teriam mais de vinte e cinco. Uma raiva linda usando uma túnica de crochê e calcinhas cor da pele, estava abraçada com um homem que tinha idade suficiente para ser seu avô, beijando-o. Sven voltou com um drinque. Estava corado e descabelado, com uma mancha de batom no canto da boca. — Não fique aí parada. Beba e solte o cabelo. A sua amiga está se divertindo muito. Gina levou o copo aos lábios e quase engasgou. Aquilo era rum puro com algumas gotas de refrigerante. — Está forte demais. Não posso beber assim. — Apesar do calor, sentiu um arrepio ao ver a expressão dos olhos dele. — Sven, quero ir embora. Não devia ter vindo. Não é o tipo de festa que eu gosto. — Como sabe, se nem tentou se enturmar? — O tom de voz dele era de total indiferença. — Vamos, docinho, não é assim tão imatura. Veio a esta parte do mundo porque quer aproveitar a vida, não é? — O sol, a paisagem... a viagem, eu acho — a voz dela se perdeu no barulho. — A sua amiga tem outras idéias. — Sim, mas eu não sabia, antes de chegarmos aqui. Não nos conhecemos muito bem... só trabalhamos juntas... e quando ganhei... — ela se interrompeu. Não tinha que explicar nada a ninguém, muito menos a ele. — É, foi tudo um engano. Somos muito diferentes. — Talvez, não tanto quanto você quer acreditar. — Colocou a mão no ombro dela. A palma estava úmida. — Você está aqui porque quer. É uma garota bonita. Não é um espetáculo, como a sua amiga, mas gosto de mulheres mais discretas. — A mão dele subiu até o queixo dela e os olhos percorreram a curva dos seios. — Vou mostrar como nos divertiremos... — Não! — Ela se afastou, bruscamente. — Não gosto deste tipo de diversão, obrigada! Se não quiser me levar de volta, vou tentar encontrar alguém que leve! — Quer apostar como não encontra? Vá tentar o tempo que quiser. Posso esperar. Gina saiu, deixando-o lá. Dentro da casa, a decoração era linda; o dono devia ser muito rico. Tudo estava quieto, com fumaça pairando no ar. Às vezes, alguma conversa chegava, misturada à música suave. Marie dançava nos braços de Rafe. Não adiantaria falar coro eles. Pareciam completamente entretidos um com o outro. Gina dirigiu-se à praia, tentando encontrar um rosto amigável. Mas não encontrou. Alguém tentou pegá-la, quando passou junto de um banco. Era um velho bêbado. — Procurando por mim, queridinha? Ela se afastou dele, que ficou rindo alto. Finalmente, encontrou-se num corredor, que levava ao interior da casa. Foi dar num quarto: a porta estava aberta e as luzes apagadas. Parecia vazio. Pensou em se trancar lá dentro, mas não encontrou nenhuma chave. Acomodou-se na cama, procurando pensar no que faria em seguida. Ia ficar ali, até que a festa desse sinal de estar acabando. Então, Marie concordaria em voltar para o hotel. Não podia passar a noite ali, sem que dessem pela sua falta. Será que ninguém se importava, no hotel, quando duas garotas não apareciam, à noite, para pegar as chaves? Bem, devia acontecer tantas vezes... Sua própria inexperiência a havia colocado naquela situação. Pela primeira vez em muito tempo, permitiu-se pensar em Ryan Barras e no que ele dissera naquela primeira noite. Era uma idiota, ele estava certo. Nunca se sairia bem com aquele tipo de gente. A noite caiu. Ela se enroscou na cama e pensou em ameaçar Sven de chamar a polícia. Mas, como faria aquilo? Cochilou. Acordou sobressaltada, quando alguém abriu a porta e acendeu a luz. Era Sven, parado ali, sorrindo. — Então, veio se esconder aqui! — As palavras pareciam estar sendo cuspidas. — Ótimo, economiza tempo. Temos que recuperar muito do nosso tempo perdido. Fechou a porta e se aproximou da cama. Parecia bêbado e respirava com dificuldade. Gina se levantou, depressa, e ele tentou agarrá-la, mas perdeu o equilíbrio e caiu deitado na cama. Ela saiu correndo, sem saber onde ia. Só queria colocar a maior distância possível entre ela e aquele homem. Caminhou novamente pelo corredor, na direção oposta à festa, e foi dar na entrada da casa. Lá, o terreno tinha unia leve elevação e um jardim todo plantado com flores. Gina correu, tropeçando por causa das sandálias leves, que afundavam na terra. Não queria que ninguém a visse, da casa. Escondeu-se entre um grupo de palmeiras. A areia era fofa, e sentiu-se abrigada. Acomodou-se e dormiu. No dia seguinte, procuraria Marie e voltariam a New Providence. O calor já era intenso quando acordou, muito cedo. De onde estava, olhou a casa. Viu algumas pessoas deitadas na praia, mas ninguém se mexia. Bem, depois daquela festa, iam demorar muito a acordar. Esperou um pouco e começou a caminhar, cuidadosamente, em direção à praia. Não sabia o que ia fazer. Sentia-se dolorida e suja. Só não podia ir até a casa, onde encontraria Sven, antes de encontrar Marie. Alguns barcos tinham partido, mas o dos rapazes continuava lá. Isso lhe deu uma idéia. Havia observado Rafe e Marie dirigindo-o e vira como era fácil. Quase igual a um carro. Para dar a partida, era só ligar a chave. Lembrava, também, do caminho que fizeram. Se ficasse de olho na bússola e seguisse a direção sul, logo chegaria ao hotel. Quanto a Marie... Bem, ela não teria dificuldade para achar alguém que a levasse de volta, quando os convidados começassem a acordar. Sem que ninguém a visse, desamarrou o barco e começou a se afastar do ancoradouro. Balançava muito. Quando conseguiu se equilibrar, foi dar a partida. Conseguiu e logo ganhou velocidade. Só então, Gina se lembrou dos recifes de coral. Rafe havia escolhido um lugar especial para se aproximar da praia. Conseguiria encontrar novamente a passagem? Achava que era logo mais adiante. Precisava manter a calma e a direção em linha reta. Não demoraria a alcançar águas calmas. Não contava com as correntes marítimas, que lhe tiravam o controle a todo instante. Não tinha idéia completa do que estava fazendo, mas procurou manter a direção firme. Uma ponta de coral raspou a popa, mas conseguiu passar. Depois, o barco foi sacudido por ondas pequenas, que lhe embrulharam o estômago. Não podia enjoar agora. Olhou o horizonte. Estava completamente escuro. Não se preocupe, disse a si mesma, tentando se convencer de que chegaria ao hotel, antes que a tempestade desabasse. Colocou o barco na direção do sul e viu que precisava de muito esforço para controlá-lo. Pela primeira vez, lhe ocorreu que talvez New Providence fosse uma ilha muito pequena, que nem conseguisse distinguir. Bem, ancoraria em outra ilha qualquer, alguém a encontraria e a levaria de volta... vestida daquele jeito... podia ser embaraçoso. Ia se preocupar com aquele problema, quando chegasse a hora. Por enquanto, só queria pisar em terra firme. Logo percebeu que a tempestade ia desabar mais cedo do que pensava. O barco não parecia seguir o curso desejado. O céu estava cheio de nuvens pesadas, que a amedrontavam. Então, a chuva começou a cair, com tanta violência, que a deixou sem fôlego e encharcada, em poucos segundos. Quase cega, percebeu que a direção do barco lhe escapava das mãos. As ondas eram enormes, balançando tanto o barco, que ela caiu de joelhos. Se o dia fosse ensolarado, com sorte, chegaria a New Providence. Agora, não tinha a menor chance. Cometera um gesto idiota, desde o começo. Não sabia nada sobre barcos nem navegação. Engatinhou até os controles e desligou o motor. Depois encontrou um colete salva-vidas e o vestiu. A cabine lhe daria alguma proteção. Encolheu-se lá dentro, molhada, com frio e enjoada. Não saberia dizer quantas horas se passaram, antes que a chuva terminasse. Parecia ter durado dias. Enjoara muitas vezes, ajoelhada na borda do barco, sentindo uma grande vontade de morrer. Agora, levada pelas ondas e pelo vento, a lancha parecia um tronco de madeira boiando. Não tinha direção. Poderia dar em qualquer parte. Começou a sentir que aquilo era só o começo do perigo. O céu estava negro, e o ar cheio de sons... Parecia estar chegando ao inferno. De repente, ouviu o barulho de arrebentação mais adiante. Àquilo provava que estava se aproximando de uma praia. Significava também que haveria recifes de coral por toda volta. E havia mesmo. Olhando a distância, viu a ponta cortante de vários deles. Rezou para que conseguisse passar. Mas a ilha a sua frente era completamente rodeada por recifes. Se o barco batesse, estaria perdida. Levantou-se e decidiu dar a partida. Com uma boa' velocidade, talvez tivesse a sorte de passar. Mas já era tarde demais. Ouviu um barulho parecido com tecido sendo rasgado. O barco batera, e os recifes arrancaram parte do casco. Agarrou-se ao corrimão de metal e ficou esperando. O barco encalhou e ficou balançando na ponta de um recife, ameaçando virar. O coração de Gina batia, descompassado. O que lhe aconteceria? Logo, a água começaria a entrar na lancha e esta afundaria. Mas nada disso aconteceu. Uma onda mais alta ergueu o barco por cima do recife, jogando-o do outro lado, a salvo. Sem perder tempo, agradecendo sua boa sorte, Gina desceu, ficando com água pelos joelhos. Ali não era New Providence, ela sabia. Mas não tinha importância. Ia procurar alguém e pedir ajuda. Entretanto, a ilha não parecia habitada. Talvez houvesse alguma casa longe da praia. Pelo menos, no momento, estava em terra firme, e era o que importava. Viu alguém saindo do meio das árvores. Achou que estava sonhando. Tentou levantar-se da areia onde tinha caído, mas o vento a derrubou novamente, rasgando sua túnica fina e jogando o cabelo nos olhos. Ainda tentando se levantar, sentiu duas mãos fortes erguendo-a e um corpo de homem contra o seu. O rosto dele lhe causou um choque imenso. Ficou completamente sem fôlego e muda, olhando dentro daqueles olhos cinzentos, já conhecidos, com aquela expressão um tanto familiar. Sentia-se fraca, mas amparada. Então, pela primeira vez em toda sua vida, desmaiou. CAPÍTULO III Voltou a si, deitada na praia. Por um momento, acreditou que tinha sonhado. Então, Ryan voltou e se ajoelhou a seu lado, levantando-lhe a cabeça. — Desculpe deixá-la sozinha, mas tive de ir até o barco, ver se havia mais alguém. Ela fechou os olhos e ele a tomou nos braços. Gina não conseguia confiar inteiramente em seus sentidos. Aquilo não podia ser real! — O barco — murmurou — não é meu! — Está bem ancorado na praia. O fundo foi completamente arrebentado, e acho que ficará lá por muito tempo. Pare de se preocupar com isso. Teve muita sorte em conseguir chegar até aqui, sem se ferir. — A tempestade me pegou — sussurrou e viu que ele se inclinava, para poder ouvir suas palavras. — A tempestade me pegou! — É óbvio. Você quase morreu — olhou-a, aborrecido. — Fique quieta, até chegarmos lá dentro. Então, poderemos conversar. Gina achava aquilo totalmente irreal. Entretanto, os braços que a carregavam eram bem reais. Já não estava com o colete salva-vidas. Ryan devia ter tirado, antes de ela voltar a si. A casa ficava a alguma distância da praia. Ryan subiu alguns degraus, abriu a porta e foi recebido por um cachorro que abanava alegremente o rabo. — Não se preocupe: Pal não vai morder você — disse, colocando Gina de pé, mas mantendo o braço em volta da cintura dela. O cão cheirou-a, curioso. — Precisa de um banho quente e roupas secas. Depois, faço as perguntas. Está bem? Fez que sim. Sentia-se trêmula. Tudo era um choque muito grande. Para ele também. Tinha visto sua expressão, ao encontrá-la na praia. — Foi bom eu ter ligado o gerador. Devia estar adivinhando que você ia chegar.
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