Хелпикс

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This side of paradise 4 страница



— A tentativa de me violentarem também é grave.

— Mostre-me as provas — ele pediu, inclinando a cabeça para olhá-la nos olhos. — Só estou tentando lhe mostrar os argumentos que a polícia vai usar. Marie pode ser sua testemunha?

— Duvido.

— É a vida. Farei o que puder para ajudar.

— Conhece as autoridades? — Gina perguntou, esperançosa.

— Tenho meus contatos... Neil tem outros. Passe-me aquela toalha. Quero enxugar Pal. Ele se molhou, nadando em volta do barco.

Saíram para a varanda. O mundo parecia começar a brilhar novamente. Ele esfregou o cachorro. De onde ela estava, não dava para ver os estragos provocados pela tempestade, a não ser algumas folhas de palmeira caídas na praia. A umidade era sufocante.

— Qual o tamanho desta ilha?

— Não é grande.

— Só tem esta casa?

— Sim. Os antigos donos também gostavam de solidão... apesar de seus motivos serem diferentes dos meus.

— Quer dizer que é dono da ilha inteira?

— Sim — ele respondeu, terminando de enxugar o cachorro e caminhando para o lado dela. Pegou um cigarro e lhe ofereceu o maço.

Gina aceitou. A cigarreira dele era de ouro. O isqueiro também. Parecia ouro maciço. Observou suas mãos e sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha. Tinha sentido o toque daquelas mãos em seu corpo. Ele a perturbava, e ela não conseguiu controlar a insegurança que sentia.

— Gostaria de estar em casa — disse, com a voz rouca. — Na Inglaterra. Nunca devia ter saído de lá.

— Agora é tarde demais. Mas, sempre é bom ter novas experiências. Pelo menos, não fará o mesmo erro duas vezes. — Ele esperou um momento, aproximou-se e tirou o cigarro da mão dela. — Não estava realmente querendo fumar, não é? Pare de tentar parecer o que não é, está bem?

Gina não disse nada. Ficou olhando-o atirar longe o próprio cigarro. Antes que ele se aproximasse, ela já sabia o que ia acontecer. Ele a tomou nos braços, e seus lábios se encontraram. Desesperada, ela viu-se retribuindo o beijo, acariciando-lhe o pescoço e o cabelo escuro, apertando o corpo contra o dele. Sentiu a pressão firme de suas mãos a lhe percorrerem as costas. Nada mais importava. Queria continuar aquele beijo para sempre.

Um rosnado alto os interrompeu. Pal avançou nos dois. Ficou de pé, olhando para eles, furioso.

Ryan segurou o cachorro, parecendo curioso, por um momento, depois, largou Gina e pronunciou suavemente o nome do animal, abanou o rabo e obedeceu a voz de comando do dono. Foi se deitar num canto afastado.

— Está com ciúme — ele comentou, divertido. — Mas não sei qual de nós dois. — Depois, ríspido, ordenou: — Pare com isso, Pal!

Desta vez, o cão desistiu. Afundou o focinho entre as patas e abanou o rabo. Ryan se aproximou dele e o acariciou.

— Calma, rapaz. Não vamos estragar a nossa bela amizade!

Tudo aquilo tinha dado tempo a Gina de se recompor. Quando se encararam novamente, ela não piscou nem disse nada. Ele falou pelos dois.

— Acho que isso é o suficiente, por enquanto.

— Não apenas por enquanto. Não se aproxime de mim outra vez, Ryan. Não... assim.

— Não está falando sério — ele disse, sorrindo. — Você queria tanto quanto eu. Certamente, não é a primeira vez que a beijam.

— Claro que não.

— Sabe que é preciso duas pessoas quererem, para irem mais longe. Duas pessoas com os mesmos pensamentos.

Será? Gina estava confusa. Os pensamentos dele eram mais do que suficientes para os dois. Sabia por que ele a beijara. Estava entediado, e ela era a única diversão disponível. Se rejeitasse seus avanços, provavelmente ele daria de ombros e se afastaria. Ela correspondera imediatamente, e aquilo lhe dera certas idéias.

Pai Vou trabalhar — ele disse. — Agradeço, se fizer um café e me levar uma xícara.

— Está certo — ela lhe evitou o olhar. — Onde vai estar?

— Na minha mesa, na sala. Onde mais?

— Levo a xícara, quando o café estiver pronto.

— Obrigado.

Ele entrou, deixando-a sozinha. Pal a observava, quieto. Virou-se para o cachorro:

— Não fique contra mim — disse, muito baixinho. — Não estou tentando roubá-lo de você.

Gina foi fazer o café.

Da cozinha, ouvia a máquina de escrever. Quando levou o café, ele estudava uma página datilografada.

— Como está indo?

— Dentro das previsões. Sempre que começo a ler, tenho vontade de rasgar tudo e começar de novo.

— Mas não faz isso,

— Não. Não tenho tempo. Tenho um prazo de duas semanas.

— Você leva o livro pessoalmente ao editor?

— Claro que não. Mando pelo correio. E parto para qualquer lugar desconhecido.

— Para descansar?

— Não exatamente — ele riu. — Se não tenho uma idéia para o próximo livro, começo a procurar.

— De onde vêm as idéias? — Gina perguntou, fascinada.

— Oh!... alguma coisa que se ouve, algo que se vê. Não sei ao certo o onde e o quando. A idéia de "Mais Puro do que a Água" veio quando encontrei um jovem em Alice Springs. Ele tinha doze anos e era um completo desajustado na vida. Estava desesperado.

— E se transformou em Sam, que foi sozinho para a costa e, aos dezesseis anos, fundava um grande império comercial — Gina disse, procurando se lembrar. — Adorei esse livro... só não gostei do final. Por que tinha que matá-lo?

— Por que foi assim que a história aconteceu — ele comentou, irônico. — A vida nem sempre é bonitinha, como nós desejamos.

— Eu sei, mas você é o escritor. Pode fazer com que os personagens façam tudo o que quer.

— Não acredite nisso. Eu não sabia que Sam ia morrer, quando comecei a escrever o livro. Sabia... — ele parou, sua expressão se fechou, como se tivesse dito algo além do que desejava. — Não tem importância. Foi há muito tempo.

Aquela novela tinha liderado a lista de best-sellers durante nove meses, e os direitos foram comprados para um filme, Gina lembrou.

— Desculpe. Não quis criticá-lo.

— Tudo bem. Acho que estou ficando muito sensível.

— Só por que eu fui um pouco indiscreta?

Ele ficou em silêncio alguns minutos, estudando o rosto dela:

— Vou terminar isso, logo depois do almoço. Se o tempo continuar melhorando, levo você para passear pela ilha. Não é grande, mas tem muita coisa para ver.

Ela estava encantada com a proposta. Queria estar com ele. Talvez, nunca mais tivesse outra chance.

Foi até a praia e ficou pensando nos últimos acontecimentos. Será que tinha chegado ali ontem mesmo? Parecia ter sido há tanto tempo!

O barco semidestruído estava lá. Sentiu-se contente por ter o apoio de Ryan. Pelo menos, ele saberia como lidar com aquele problema.

Precisava admitir uma coisa, para si mesma. Estava se apaixonando por ele. Mas nunca acreditara em amor à primeira vista. Bem, não tinha sido realmente à primeira vista. Será que ele sentia alguma coisa por ela? Com o passar do tempo, poderia usá-la como personagem de um dos seus livros.

O céu já estava quase claro, quando voltou. Ryan a esperava na varanda, com Pal.

— Foi olhar o barco? Ficou horrível, não é? Más pode ser consertado. A fibra de vidro requer alguns equipamentos especiais.

— Eu sei, mas não tive outra escolha. A não ser que pense o contrário. Acha que eu devia ter ficado lá e agüentado "aquilo que fui procurar"?

— Descobriria que o seu amigo tarado estaria bem mais calmo, depois de uma noite de sono — ele deu de ombros. — Ou então, procuraria outra companhia. Geralmente, companhia é o que não falta, por aqui, para este tipo de diversão.

— Já esteve numa festa destas? — Gina perguntou, ríspida.

— Não. Não faz o meu gênero. Mas são festas famosas por aqui.

— Por que as autoridades não fazem alguma coisa? Certamente...

— Trata-se de uma ilha particular e uma festa particular. Ninguém reclama; portanto, ninguém vai investigar.

— Quem é o dono da ilha?

— Alguém de quem é melhor se manter afastado. Slade Harley. Ele dirige grandes negócios, envolvendo mulheres, nestas ilhas.

— E a polícia não faz nada?

— Não tem provas. Para prender Slade, precisam de alguém que testemunhe. Todos os empregados dele, que tentaram fazer isso, desapareceram, misteriosamente.

— Estas coisas acontecem, realmente?

— No mundo inteiro. Não se incomode. Você está fora disso.

— Mas me preocupo. Marie ficou na ilha.

— Tenho certeza de que ela sabe se cuidar muito bem. Que tal salada com presunto frio, para o almoço?

— Sim, ótimo. Você é muito organizado.

— Passar fome não é meu passatempo favorito. Acho bom ficar estes meses aqui, fazendo uma dieta saudável, longe dos excessos... vinho, mulheres e música!

— Música? Vi seu aparelho de som e muitos discos.

— Sabe que você é a primeira mulher que põe os pés aqui?

— Primeira sem ser convidada, é isso que quer dizer.

— Não, a primeira, mesmo. Este lugar era sagrado para mim. Só Neil vem aqui, quando estou trabalhando.

— E agora, estraguei tudo.

— Há sempre uma primeira vez para tudo. — Levantou-se. — Vamos almoçar.

Depois das duas horas, saíram para conhecer a ilha. Ryan lhe deu um velho chapéu de palha e começaram a caminhar.

A ilha era pequenina e linda. O barco dele estava abrigado numa enseada quase escondida. Parecia uma ilustração de folheto de turismo.

— Eu teria construído a casa aqui — Gina comentou. — Não sei por que não escolheram este lugar.

— Também já pensei nisso. Se viesse morar definitivamente aqui, escolheria este lugar. Mas, para passar três meses do ano, acho que não vale a pena... principalmente, porque passo quase o tempo todo na máquina de escrever.

— Há quantos anos você começou a vir aqui, para escrever?

— Quatro. Já escrevo há dez.

— E o que fazia antes?

— Diversas coisas. Era uma espécie de viajante. — Sorriu. — Os antigos novelistas diriam que eu estava coletando material. Meu pai me deixou uma boa herança e não tive que trabalhar para viver. E você? Ainda tem pais vivos?

— Não. Papai morreu, quando eu era bem pequena; e mamãe, há dois anos.

— Então, está sozinha no mundo?

— Completamente. — Procurou parecer alegre. — Sou a última Tierson.

— E este nome desaparecerá, quando se casar.

— Se casar.

— Acho que, quanto a isso, não há muita dúvida: é a ambição de todas as mulheres.

— Não somos todas iguais. Não generalize!

— Tentarei me lembrar disso. Vamos por aqui. Há uma outra praia lá atrás, com uma grande variedade de conchas. Talvez você se interesse por esse tipo de coisas.

A raiva dele desaparecia com a mesma facilidade com que surgia.

— Parece que estou gastando todo o meu tempo lhe pedindo desculpas.

— Acho melhor assim, do que o modo como agiu outro dia — ele riu. Seu bom humor parecia ter voltado. Colocou a mão no ombro dela, lhe indicando o caminho. Depois, assobiou para Pal, que veio correndo.

Ryan conservou a mão levemente no ombro de Gina. Ela sentia que aquele toque era terno e íntimo. Não queria que ele se afastasse;.mas, poucos minutos depois, ele a largou.

Depois de vinte minutos, chegaram à outra praia. Do topo de uma elevação, Gina viu a faixa de areia branca e imaginou se não teria tido muita sorte, vindo até aquela ilha.

— Por que escolhe esta época do ano para trabalhar? — perguntou, enquanto desciam em direção ao mar. — Deve ser um tanto perigoso, algumas vezes.

— Eu não escolho nenhuma época do ano. Depende do material que tenho para começar um novo livro. Desta vez, coincidiu ser na temporada das chuvas. O único perigo real é estar no caminho de um furacão. Mas tenho um rádio de pilha e fico sabendo das notícias essenciais sobre furacões.

— Não se sente sozinho?

— Não, quando estou escrevendo... às vezes sim... quando não estou fazendo nada. Mas, como já disse, vou a Nassau uma vez por semana e encontro Neil.

— Ele é bem mais velho do que você, não é?

— Nove anos. Eu o conheci nos Estados Unidos, há cinco anos. Foi ele que me falou sobre esta ilha. Antes, eu escrevia em qualquer lugar que estivesse... mas nem sempre era fácil.

— Por causa das interrupções.

— Sim. As pessoas não entendem que escrever é como outro trabalho qualquer. Pensam que você está à disposição para um bate-papo ou um drinque, a qualquer hora que passam por sua casa. Conheço um escritor casado, que alugou um escritório no centro da cidade e vai para lá todos os dias, das oito da manhã às cinco da tarde. Foi o único jeito que conseguiu para terminar o trabalho. Sei como ele se sente.

— É por isso que continua solteiro?

— Não. Acho que não encontrei a mulher com quem queira passar o resto da minha vida. Não pretendo me aborrecer com divórcios. Tem que ser muito diferente, para concordar em passar três meses sozinha, todos os anos.

— Ela poderia ficar em Nassau — Gina comentou, com o mesmo tom superficial com que ele falava do assunto.

— Não adiantaria. Acho que, à noite, é quando me sinto mais solitário.

— Em outras palavras, ela teria que ser um ratinho durante o dia e uma esposa à noite. Você quer tudo do seu jeito.

— É verdade. E como sei que não encontrarei o que quero, não pretendo nem procurar.

— É um fatalista.

— Não, sou prático. Chegamos.

A praia não era tão bonita como a enseada, mas parecia que o mar atirava ali todo tipo de coisas estranhas. Gina a achou fascinante.

— Há uma forte corrente marítima aqui — ele explicou —, que traz para cá tudo que é recusado pelo mar. Se você não tivesse encalhado lá na frente, sem dúvida teria vindo parar aqui. Mas não sei se a teria visto.

— Tive muita sorte. Tive sorte o tempo todo. Não conheço nada sobre o mar nem sobre barcos.

— Nem sobre homens? — ele se aproximou tanto que ela sentiu sua respiração no cabelo. Quando a abraçou por trás, Gina não fugiu. Deixou-o puxá-la contra o corpo e suspirou fundo. Só quando ele começou a acariciá-la, tocando-lhe os seios, fez um leve protesto. Mesmo assim, soou fraco e sem convicção.

— Não, Ryan... por favor!

— Você está falando isso só por falar. Na verdade, quer que eu a acaricie assim — e começou a passar a mão suavemente sobre os bicos dos seios dela, que enrijeceram. — Mesmo que não diga nada, eles falam por você. Estão me tentando o tempo todo. Observei você o dia inteiro, andando pela casa, sabendo que não estava usando nada mais, além destas minhas roupas velhas. Isso é suficiente para deixar um homem louco!

— Não! — ela exclamou, mais como uma súplica. Seu corpo inteiro desejava as carícias dele. Suas mãos trêmulas agarraram os pulsos dele e tentaram afastá-lo.

Ryan riu e a beijou no pescoço, de leve, fazendo uma ligeira caricia com a ponta da língua. Ela parecia queimar.

— Quer mesmo que eu pare?

— Quero... — era quase um murmúrio.

— Está bem — largou-a. — Está melhor assim?

— Sim.

Queria encará-lo, mas não tinha autocontrole suficiente para se arriscar. A facilidade com que ele concordara em largá-la a magoara mais do que tudo. Parecia um gato brincando com um rato.

— Não pode me deixar em paz? — perguntou, furiosa. — Tem sempre que provar a todas as mulheres que encontra que é um homem viril?

— Não. Só para as que me atraem. Não vou violentar você, Gina. Nunca precisei usar a força com uma mulher e não vou começar agora.

Ela acreditou. Se realmente estivesse resolvido a conquistá-la, sem dúvida superaria toda sua resistência. Só que ela não queria lhe dar nenhuma chance de fazer isso. Para sua própria segurança, era melhor se afastar dele.

— Vou voltar — ele disse, num tom frio, que a fez desejar lhe dar um soco. — Vem também?

Virou-se, mas não precisou encará-lo: já estava alguns passos a sua frente, caminhando em direção a casa. Aqueles últimos minutos não tinham significado nada para ele. Sentiu nascer dentro dela um enorme desejo de vingança. Queria fazê-lo sofrer. E se o fizesse desejá-la realmente? Então, viraria as costas e iria embora. Não ia ser fácil, mas conseguiria, custasse o que custasse!

CAPÍTULO V

Gina apressou o passo e o alcançou.

— Resolveu perdoar meus avanços? — ele perguntou, brincalhão.

— Você me pegou de surpresa — disse ela, mantendo a cabeça baixa, observando o caminho. — Não estou acostumada com homens do seu tipo.

— Não está acostumada com homem nenhum. O que esteve fazendo até hoje? Indo ao cinema de mãos dadas? Dando alguns beijos dentro de um carro estacionado?

— Coisas do gênero, acho. Mas não é minha culpa. Não encontrei pessoas com o seu estilo de vida.

— Então, agora está curiosa. O que acharia de fazer amor com um homem experiente?

— Não brinque comigo — sorriu, sem graça.

— Eu estava brincando comigo mesmo. Ainda há pouco, tirei vantagem de um momento de distração seu. Pode-se dizer que a tentação foi mais forte.

— Comigo também. Não é porque eu antes não tenha feito nada, que não queira fazer — falou ela, encarando-o.

— Moralismo?

— Acho que sim. Fui educada num colégio de freiras. Isso faz muita diferença.

— Mas não está esperando o casamento para se livrar disso, está?

— Não sei. — Fez uma pausa, tímida. — Quero você.

Ele parou, surpreso. Virou-se, com os olhos cinzentos curiosos:

— Sabe o que está dizendo?

— Sei — o coração batia, acelerado. Mas o desejo era mais forte do que qualquer outra coisa. — Sim, eu sei. Não posso evitar.

— Vamos esclarecer as coisas. Quer que eu faça amor com você?

— Quero.

— Por quê? — perguntou ele, um pouco surpreso.

— Porque ninguém nunca me excitou tanto quanto você. Porque acho que vai ser algo realmente bom e porque é assim que desejo que a primeira vez seja.

— Não foi a impressão que me deu, lá na praia.

— Já disse: fiquei com um pouco de medo.

— Mas não está com medo de mim, agora?

— Não, Ryan, não estou.

— Então, prove.

— Aqui? — perguntou, com vontade de fugir.

— Por que não? Acho que não seremos interrompidos.

— Sim, seremos — viu Pal chegando. Sentiu-se aliviada. — Você esqueceu que seu amigo é ciumento.

— É uma pena. — Acariciou o cachorro. Depois, virou-se para ela. — Ficarei contente em satisfazê-la, em momento mais oportuno. Que tal hoje à noite, por exemplo? Vamos marcar um encontro?

— Sim — concordou ela, sentindo a garganta seca.

— Então, estamos combinados. Vamos embora.

Cheia de dúvidas, Gina o seguiu. Será que não estava procurando mais problemas? Saberia lidar com ele? Entretanto, ele tinha garantido que não usaria a força. Confiava nisso.

Gina daria tudo por uma xícara de chá quente. Mas não havia, e ela se contentou com suco de laranja. Sentou-se na varanda, com Ryan e Pal, vendo o pôr-do-sol. Desde que chegara às ilhas, adorava aquela hora do dia, quando o céu fica de todas as cores, antes de escurecer.

Poderia ficar ali para sempre, sentindo o ar fresco da noite chegando e acalmando seu corpo, depois do calor do dia.

— Vou nadar — Ryan disse, de repente. — Você vem?

— O mar não está perigoso demais?

— Não na enseada. Nado sempre lá, à noite. É bem raso.

— Acho que prefiro ficar aqui — disse, depois de hesitar alguns momentos.

Ele ergueu a sobrancelha e ia dizer alguma coisa, mas mudou de idéia. Chamou Pal.

— Está bem. Encontro-a mais tarde. Vou pegar uma lagosta no viveiro, para o nosso jantar. Gosta de lagosta?

— Adoro!

— Ótimo. Coloque então uma garrafa de vinho na geladeira... e não fuja!

Não havia para onde fugir. Ela começou a desejar que houvesse. Suas intenções, no fim da tarde, estavam mudando. Sentia um certo arrependimento. Agora, tudo que tinha planejado lhe parecia perigoso demais.

O bom senso lhe dizia que desistisse, enquanto era tempo. Poderia dizer a Ryan que mudara de idéia. Será que ele a deixaria ir embora, se o rejeitasse? O que ele dizia e o que fazia podiam não ser a mesma coisa. Será que era melhor se arriscar, para não ter o orgulho ferido?

Ainda em dúvida, colocou o vinho na geladeira. Não entendia nada de vinhos. Aquilo lhe parecia um desperdício. Apreciava mais os brancos e roses, mas achava que todos tinham mais ou menos o mesmo gosto.

A lua já estava alta, quando resolveu ir até a enseada. Ryan estava entre a praia e os recifes de coral. Só a cabeça aparecia, sobre a superfície prateada da água. Nadava junto com Pal. Enquanto o observava, ele fez meia volta e começou a vir em direção à praia. Pouco antes de sair da água, deu um mergulho, demorou um pouquinho submerso e reapareceu com uma lagosta na mão.

Ele e o cão saíram da água. Pal se sacudiu todo e Ryan, rindo, lhe atirou um graveto. O cachorro foi correndo buscar e o trouxe de volta ao dono. De onde estava escondida, Gina percebeu que Ryan costumava tomar banho de sol nu. Estava bronzeado por igual e não usava nada. Era bonito. Contra o céu enluarado, parecia Adão, de volta ao paraíso.

Pal correu para ela. Gina procurou se esconder melhor, atrás de alguns arbustos. Esperava que os dois passassem por ali, sem vê-la. Aquela ilha lhe parecia um paraíso para os amantes, um lugar secreto, onde nada mais importava, a não ser estar sempre junto com a pessoa amada. Como seria maravilhoso entrar correndo naquele mar, sem nada sobre a pele, deixando de lado todas as inibições. Se ao menos...

Prendeu a respiração. Os dois passaram por ela. Mas Pal a farejou e voltou. Ryan veio atrás, ver o que estava chamando a atenção do animal.

— Sinto muito — ela disse, em voz baixa —, não sabia que você...

— Nadava nu? — ele terminou, sem se perturbar. — Por que não me acompanhou?

— Assim?

— Por que não? A água estava ótima. Teria gostado.

— E você não se incomodaria nem um pouco, claro!

Ele demorou um momento para responder. Parecia muito grande e poderoso, ali na escuridão, debaixo das árvores.

— Claro que não — disse, calmo —, mas nada teria acontecido aqui, porque não quero que seja assim. Vou levá-la para a cama, Gina... esta noite, depois do jantar. Vamos fazer amor com todo conforto, sem pressa, do jeito que deve ser. É como você deseja, não é?

Era hora de ela lhe dizer que tinha mudado de idéia, mas não encontrou as palavras. Ouviu seu próprio coração batendo com força, muito alto. Ele tomou seu silêncio como um sim e guiou-a de volta.

— Cuidado com esta sujeitinha traiçoeira: ela não gosta que se aproximem — Ryan falou, indicando a lagosta.

Gina caminhou a certa distância, mordendo o lábio. Precisava encontrar um jeito de lhe dizer que não queria mais aquilo. Só esperava que não reagisse de modo violento. Uma coisa era certa: tinha que lhe dizer, antes de terminarem o jantar.

— Gina, quando chegarmos em casa, vista o biquíni e a túnica. Estas roupas não fazem justiça ao seu corpo.

Ela não encontrou palavras para responder. Precisava de tempo para pensar.

Às oito horas, sentaram-se diante de um magnífico jantar de lagosta com salada e molho especial.

— A cozinha é um dos meus passatempos — ele disse, quando Gina o cumprimentou pela refeição. Tornou a encher o copo dela, que brilhou à luz das velas. Seu sorriso era quente e cheio de intimidade.

— Gostou?

Ela fez que sim. O vinho lhe causava um efeito perturbador. Ia precisar de muita coragem para lhe dizer o que tinha que dizer. Se ele a abraçasse novamente, seria tarde demais.

— Está muito quieta. Pensando no quê?

— Nada de especial. — Tentou sorrir.

— Está procurando imaginar como vai ser? Está bem: vou lhe dizer. Daqui a pouco, vou tomá-la nos braços e levá-la até o quarto. Não haverá pressa, porque temos todo o tempo do mundo... a noite toda a nossa frente. Primeiro, vou apenas abraçá-la e beijá-la um pouquinho. E acariciá-la. Depois, despi-la, pouco a pouco, uma peça de cada vez até que, finalmente, possa ter todo o seu lindo corpo nos meus braços. E você fará o mesmo comigo, querida. Não porque tem que fazer; mas porque vai querer. Precisará me conhecer, do mesmo modo que vou conhecê-la... todas as curvas, todas as linhas, todos os segredos.

A voz dele, baixa e cheia de intimidade, a excitava cada vez mais. Ela o ouvia, como em transe. Será que todos os homens agiam daquela forma? Ou seria um talento especial dele? Sim, claro que era. Ele sabia tudo para fazer uma mulher desejá-lo. E ela o desejava tanto! O amanhã não tinha mais importância. Só se importava com aquela noite... aquela noite.

Como através de um nevoeiro, viu-o levantar e se aproximar. Então, ele a abraçou e seus lábios se uniram. Sentiu que a pegava no colo.

Carregou-a, e ela o abraçou pelo pescoço, deitando a cabeça em seu ombro, sentindo seu perfume másculo. Uma das sandálias caiu e depois a outra. Entraram no quarto dela e ele fechou a porta, deitando-a na cama.

Gina fechou os olhos. Ele se deitou a seu lado. Começou a beijá-la no queixo, indo até os lábios. Primeiro, parecia apenas brincar com os lábios dela, fazendo-a relaxar e corresponder. Mesmo se quisesse, não conseguiria resistir: ele a dominava completamente.

Suas mãos eram ternas sobre a pele dela, acariciando todas as curvas, dos seios às coxas, fazendo com que todos os nervos se tornassem mais sensíveis. Quando lhe tirou a túnica leve e começou a beijá-la no pescoço, desistiu de procurar as palavras para impedi-lo de continuar.



  

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