Хелпикс

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This side of paradise 7 страница



— Parece que você não foi o único a tirar conclusões rápidas.

Deixou-me cheia de suspeitas.

— Acredito. Tentei tirar vantagens de você por motivos ridículos e depois a insultei, acreditando que tinha algo com Neil. — Pegou a mão dela. — Amigos?

— Amigos — respondeu, depois de hesitar um momento. Seu coração disparou, ao contato da mão dele.

— Ótimo. E o jantar?

Se recusasse agora, Gina estaria admitindo que ainda significava alguma coisa especial para ela. Chris não se importaria. Não, se nunca soubesse do que havia acontecido entre ela e Ryan.

— Está bem. Já que estou aqui...

— Então, vamos tomar um drinque. — Ele se dirigiu a uma mesa baixa, cheia de garrafas e copos. O que quer?

— Um cherry, por favor. Meio seco.

Sentou-se e o observou servindo os drinques. Tinha uma postura soberba, vestido com elegância. Sem que pudesse evitar, lembrou-se dele nu, de pé, contra a enseada enluarada. Agora, era difícil acreditar que tudo aquilo tinha realmente acontecido.

— Você passa mais tempo nos Estados Unidos do que na Europa? — perguntou Gina, sem muito interesse.

— Quase sempre. Por quê?

— Por nada. É a sua maneira de falar. Não é muito inglesa.

— Foi um hábito que adquiri, quando morei na Austrália. No tempo em que fazia pesquisas para "Mais Puro do que Água". Sempre construo as frases do jeito australiano. Meu pai não gostaria de ouvir!

— Ele era um inglês fanático?

— Completamente. Nunca saiu da Inglaterra. Tratava os estrangeiros como gente não-civilizada. Era um dos mágicos da Bolsa de Valores. Seu nome até hoje é lembrado. Morreu atrás de sua mesa de trabalho, com um charuto na mão e uma lista de ações na outra.

— E sua mãe? — Gina perguntou, tentando não parecer interessada demais.

— Morreu num acidente de carro, quando eu tinha doze anos.

— Foi assim que o meu pai morreu — ela disse. — Só que eu era bem mais nova que você. Quase não me lembro dele.

— Deve ter sido difícil, para sua mãe, criá-la sozinha.

— Acho que ela não ficou em má situação financeira. Parece que ele tinha um grande seguro.

— Devia ser bem jovem. Não pensou em se casar outra vez?

— Acho que era mulher de um homem só — Gina explicou, sorrindo — Algumas vezes, pensei que ela fosse se casar, mas sempre terminava não dando certo.

— Talvez, por sua causa.

— Oh, não. Eu adoraria ter um pai. Então, seria igual a todas as garotas da escola.

— E era assim tão importante, ser igual às outras?

— Para uma criança, geralmente, isso é o mais importante. Uma vez, cheguei até a contar para uma coleguinha que, na verdade, meu pai não havia morrido: que era um espião em missão secreta. Só que ela contou para a mãe, que falou para a minha, e a história terminou aí.

— Parece que você tinha uma imaginação muito fértil — Ryan comentou, sorrindo. — Nunca pensou em escrever livros?

— Uma vez, cheguei a escrever duas páginas — disse, entusiasmada. — Era uma aventura juvenil, chamada "O Mistério do Anel". Mas as idéias acabaram, depois que as duas meninas acharam o anel e descobriram que o antigo dono tinha morrido misteriosamente.

— Se tudo isso aconteceu em apenas duas páginas, não é de admirar que as idéias acabassem.

— Bem, aos nove anos, você ainda não sabe como construir um suspense. E a sua carreira de escritor? Como começou?

— Naturalmente. Minha primeira novela foi aceita imediatamente.

— Era uma que se passava na Jamaica?

— Exatamente. Morei lá durante um ano e tive idéia para o enredo. Tive que colocá-lo no papel, para me livrar dele.

Conversaram, animadamente, durante mais quinze minutos, antes que Ryan olhasse o relógio.

— Acho melhor irmos andando. Gosta de comida grega?

— Na verdade, só conheço moussaka feita em casa.

— Duvido que Stavros goste de saber disso. Vamos saborear a verdadeira comida grega. Depois, você me conta se gostou.

Gina estava completamente à vontade, quando chegaram ao restaurante. Ryan era uma ótima companhia. Procurou ignorar a ligeira depressão que tentava invadir seus pensamentos, de vez em quando. Ter um amigo como Ryan Barras era realmente muito bom. Chris não podia fazer objeções àquilo. Afinal, ele próprio não estava levando uma vida de monge.

Já tinha ouvido falar naquele restaurante, mas não o conhecia, por ser caro demais. Olhando em volta, Gina admirou as paredes forradas com lambris e a decoração luxuosa, porém discreta.

Escolheu kebabs e apreciou o sabor delicado do churrasco de carneiro, entremeado de cebolas, cogumelos, pimentões e servido com arroz. A sobremesa foi salada de frutas com creme. Depois, pediram café turco, mas ela o achou muito forte e doce demais.

— Quem não arrisca... — disse, diante do olhar penalizado de Ryan. — Se eu voltar aqui novamente, escolho os mesmos pratos deliciosos, mas fico com o café tradicional. Tudo estava muito bom!

— Direi isso a Stavros. Ele ficará contente. Nunca havia provado kebabs antes?

— Não tão deliciosos como este.

— Aqui, eles são feitos segundo uma receita especial. Quer um licor?

— Não, obrigada. Mais nada — eles se encararam e ela sentiu uma ligeira tensão. A atração não morria com facilidade, pensou. Devia ter permanecido nela, durante todo aquele tempo em que evitara pensar nele — Foi uma noite deliciosa.

— Precisa terminar já? — ele perguntou, percebendo que ela também não desejava que a noite terminasse ali.

Gina hesitou, relutando em aceitar, e lutando contra a própria vontade:

— Acho que devo ir para casa.

— Por causa do seu noivo? Acho que ele não está ancorando no porto a esta hora.

— Deve estar entrando de serviço, na torre, à meia-noite — Gina respondeu, defensiva. — Não tem muita oportunidade de conviver com os passageiros.

— Eu sugeri que ele estaria fazendo isso? — Ryan perguntou, curioso.

— Não... mas...

—... mas pensei. Você precisa aprender a confiar mais nas pessoas. Se vai se casar com este homem, precisa confiar mais nele; a não ser que ele pretenda desistir do emprego e ficar em casa com você.

— Confio nele.

— Então não precisa se preocupar. Nem ele. Já que acertamos isso, vamos a algum lugar, antes que seja tarde demais.

Não, Gina pensou. Chris não precisava se preocupar, mas a sra. Robinson ouviria, quando chegasse em casa, e não pretendia lhe explicar o que estivera fazendo, até de madrugada, num jantar de negócios. Vivendo na casa deles, não podia evitar certas intromissões. Chris, porém, não ia entender, se ela quisesse se mudar. E conseguiria um aluguel barato como aquele? Morar com outras moças estava fora de cogitação: já tentara e não dera certo.

A noite estava quente. Na rua, Ryan sugeriu que caminhassem.

— Vamos a um lugar aqui perto. Se ficar cansada, pegaremos um táxi.

Pegou-a pela mão e atravessaram a rua. Seus dedos seguravam levemente os dela, num gesto de pura amizade. Para mostrar que não o estava interpretando mal, não tentou escapar, mas sentiu que a atração por ele tomara conta de todo seu corpo.

Chegaram a uma casa simples, cercada por grades de ferro. Entraram por uma porta enfeitada de bronze e foram dar numa sala com uma enorme mesa de mogno, onde um homem estava sentado. Ele usava smoking.

— Sr. Barras! Geralmente não o vemos por aqui, nesta época do ano.

— Resolvi variar um pouco. Gina, este é Charles. A srta. Tierson nunca veio aqui, Charles.

— Tenho certeza disso. Caso contrário, eu me lembraria dela. Bem-vinda ao Conley Club, srta. Tierson. — Enquanto falava, estendeu para ambos um grande livro e uma caneta. — Espero que esta seja a primeira de muitas visitas.

Gina agradeceu e viu Ryan assinar e colocar o nome dela na coluna de convidados. Aquilo era um clube?

— Não fique com este ar preocupado — Ryan aconselhou, divertido, enquanto desciam uma escada de onde vinha música. — Não encontrará nenhuma orgia por aqui. Ronald Conley cuida muito bem deste lugar. As garotas só estão aqui para dançar e conversar com os solitários. Mais nada. Não há nem show de striptease.

— Então qual é a grande atração? E por que é preciso ser sócio? — perguntou, envergonhada por ele ter lido seus pensamentos.

— Salas de jogo. — Cumprimentou a garota da chapelaria: — Alô, Liz. Ainda está por aqui?

— Há empregos piores, sr. Barras.

Era uma morena de quase trinta anos, não muito bonita, mas bem simpática.

— É bom vê-lo de novo. — Olhou para Gina e, por alguns momentos, demonstrou inveja. Depois, voltou a atenção ao trabalho. — Aqui dentro é bem quente, senhorita, pode deixar seu casaco comigo, se quiser.

— Sim, obrigada — Teve pena daquela moça que ficava a noite toda atrás daquele balcão, enquanto todo mundo se divertia.

Ryan ajudou-a a tirar o casaco. O toque dos dedos dele na pele de seus ombros fez com que sentisse uma chama percorrendo seu corpo. Sabia que a outra moça estudava a expressão de seu rosto; sorriu e pegou o talão que ela lhe deu.

Entraram numa sala grande, enfumaçada e pouco iluminada. Havia algumas pessoas na pista de dança e outras nas mesas, ao redor. Um garçom lhes indicou uma mesa e desapareceu nas sombras. Depois, voltou com um cardápio.

— Champanhe — Ryan pediu.

— O que estamos comemorando? — Gina perguntou, depois que o garçom se afastou.

— O fim das hostilidades — o tom de voz dele foi alegre e descontraído. Acenou para um homem que passava.

O outro veio até a mesa, parecendo muito surpreso.

— O que está fazendo aqui, nesta época do ano? Só esperava encontrá-lo em janeiro!

— Resolvi mudar minha rotina — Ryan respondeu, secamente. — Gina, este é Peter Moffat... Gina Tierson.

— Oi! É inglesa ou americana?

— Inglesa — ela respondeu, rindo —, muito inglesa.

— Ótimo. Já era hora de você deixar aquelas americanas em paz, Ryan. — Piscou para os dois e perguntou: — Vai jogar esta noite?

— Acho que não. Talvez, mais tarde, eu dê uma olhada.

— Depois de Leila cantar, não é? — perguntou, com um aceno de cabeça em direção ao pequeno palco. — Ela deve entrar em cena a qualquer momento. Vejo vocês mais tarde.

A expressão de Ryan não demonstrava nenhuma emoção. O que aquele homem queria dizer com "deixar as americanas em paz"? Quantas mulheres ele tentaria conquistar de cada vez? Bem, agora o relacionamento entre eles era completamente platônico. O convite daquela noite era apenas um pedido de desculpas e nada mais.

O champanhe chegou. Gina ainda sentia uma leve depressão a rondá-la. Não devia ter aceito o convite para ir ao clube. Seria melhor ter voltado para casa, logo depois do jantar. Mas não sabia onde estavam indo. Só sabia que não gostava daquele ambiente. Não se sentia à vontade em clubes particulares.

A luz diminuiu, iluminando apenas o pequenino palco, onde apareceu uma mulher vestida de prateado. A platéia explodiu em aplausos. Ela era alta, elegante, cheia de curvas que a roupa acentuava ainda mais. Durante um momento, agradeceu os aplausos; depois, começou a cantar.

Sua voz tinha um timbre maravilhoso. Gina sentiu-se enlevada, esquecendo onde estava e seus problemas. Passou a apreciar apenas o talento da artista. Era uma ótima intérprete e tinha muita técnica. Ficaria ali, ouvindo, a noite toda.

Aparentemente, todos se sentiam assim. Os aplausos soaram altos e prolongados, quando terminou, Leila sorriu e jogou um beijo, saindo do palco.

Gina voltou-se para Ryan, para elogiar a cantora. Mas emudeceu,. ao ver a expressão dele, observando a moça sair do palco. Sem desviar os olhos dela, ele pegou uma caderneta, arrancou uma página, escreveu algo e chamou o garçom.

— Entregue isso para Leila, por favor — pediu.

Quando, finalmente, encarou Gina, foi um olhar rápido, voltando a se concentrar na caderneta, que fechou e guardou.

— Você não me mandou aquele livro que prometeu — ela disse, sabendo que ele estava distraído. — Acho que perdeu o endereço.

— Não. — Pegou novamente a caderneta, procurou em algumas páginas e mostrou a ela a anotação que fizera naquela primeira noite em que tinham se encontrado. — Não me pareceu uma boa idéia mandar o livro, depois do jeito como você partiu. Achei que o jogaria no lixo.

— Jamais faria isso.

— Mesmo detestando o homem que o enviou?

— Nunca. De jeito nenhum. Eu já havia superado a raiva.

— Tem sorte em possuir emoções tão passageiras. — Por um momento, ele pareceu sorrir, mas depois voltou à expressão fechada do homem que ela conhecera há alguns meses. — Acho que isso é uma vantagem, nos dias de hoje.

Então, algo prateado brilhou ao lado da mesa: Leila sentou-se junto de Ryan, sem ser convidada.

— Champanhe? — disse, curiosa. — O que estão comemorando?

— A mudança de hábitos — Ryan respondeu, imperturbável. Chamou o garçom e pediu mais uma taça. — Você está linda — comentou.

— Vamos ao que interessa: gostou das músicas?

— Pergunte a Gina. A opinião dela é que vale. Nunca a ouviu antes.

A outra estudou o rosto de Gina, com uma grande calma.

— Achei que canta bem demais para um lugar como este. Por que não é mais divulgada?

— Gostei dela, Ryan!

— Então responda — ele falou. — Por que não é mais divulgada?

Ela deu de ombros.

— Talvez, eu precise de um agente melhor. Ao sucesso! — brindou. Depois de um momento, perguntou: — O que aconteceu com você em janeiro, que não apareceu?

— Já lhe disse: mudei de hábitos. Além disso, Londres em janeiro não é tão agradável como agora.

— Mas serviu, durante cinco anos — disse a cantora, maliciosamente.

Trocaram um longo e íntimo olhar, cheio de compreensão mútua. Leila foi a primeira a quebrar o silêncio. Virou-se para Gina.

— Como consegue agüentar este sujeito?

— Eu nem tento.

Sua voz saiu rouca. Havia ou tinha existido algo entre aqueles dois. Sentia que Ryan ainda desejava estar ligado àquela mulher. Vista de perto Leila parecia mais velha. Talvez tivesse a idade dele. Mas, que diferença isto fazia, numa mulher muito bonita e com um talento tão grande? Tentou continuar a conversa:

— Somos apenas bons amigos — disse Gina.

— Oh! Acho que já ouvi isso antes...

— Gina vai se casar com um oficial da marinha — Ryan disse, calmamente.

— Mesmo? E ele não se importa que você saia com outros homens, quando está viajando? Pelo que entendi, ele está viajando no momento, não?

Gina deu de ombros, procurando aparentar um ar à vontade, que estava longe de sentir.

— Não é bem assim. Ryan e eu somos...

— Ela quer dizer que não somos amantes — ele interrompeu, enquanto ela hesitava, procurando a palavra. — Está aqui esta noite apenas por um gesto de boa vontade.

— Compreendo. — Leila pareceu não ter nenhuma convicção do que falava. Tomou o resto do champanha e colocou o copo na mesa. — Acho que já vou indo trocar de roupa. Tenho mais um número e, depois, Ronald vai me levar para casa. — Levantou-se e cumprimentou Gina. — Se não a encontrar novamente, felicidades no casamento.

— Ela é simpática — Gina comentou, enquanto a outra se afastava. E, como não conseguisse se controlar, perguntou: — Ela e Ronald são...

— Casados. Há doze anos. Ele é o motivo pelo qual ela não fez uma carreira e preferiu ficar cantando aqui.

— Eles devem ter feito um acordo... — ela comentou, hesitando, percebendo que pisava em terreno perigoso.

— Ela não o deixaria, se é isso que quis dizer. Depois do casamento, achou que a carreira viria em segundo plano.

— Isso não é comum nos dias de hoje.

— Nem há doze anos. Mas foi a escolha de Leila. Ela sabe que poderia ser uma cantora famosa, mas isso não altera nada.

— Talvez, o marido seja uma pessoa muito egoísta.

— Isto é um assunto aberto ao debate — ele disse, distraído. — Compreendo o ponto de vista dele. Para que ter uma esposa, se não se pode estar com ela?

— Tenho certeza de que não seria assim tão ruim.

— Acha que ela conseguiria fazer carreira e ser uma boa esposa, ao mesmo tempo? De qualquer modo, isso não importa: Leila é muito feliz, cantando aqui.

Seria mesmo? Será que, com todo aquele talento, Leila se sentiria satisfeita, ali? E Ryan, onde se encaixava naquela história? Pensou que, talvez, Leila fosse o motivo dele nunca ter se casado. O modo como se olharam... Estava apaixonado por uma mulher casada e que não pretendia abandonar o marido. Por isso, procurava outras aventuras. Agora entendia muitas coisas sobre ele.

Só não sabia por que ele a levara ali, naquela noite. Não era para provar nada a Leila; caso contrário, não teria contado a ela sobre o seu próximo casamento com Chris. Estaria querendo apenas mostrar uma conquista antiga? Só podia ser. Gina começou a se sentir muito infeliz.

— Acho que está na hora de voltarmos — ela disse. — Já passa da meia-noite.

— Está bem, Cinderela. Vou levá-la em casa.

Quando saíram, Charles não estava na portaria. Caminharam pela rua, tentando achar um táxi. Não se tocaram nem conversaram. Ela sabia que os pensamentos dele estavam com Leila. Ryan chamou um táxi, que parou logo adiante.

— Não precisa vir comigo — ela disse, rapidamente, enquanto ele lhe abria a porta. — É longe demais para você ter que voltar sozinho, a esta hora da noite.

Ele não tentou discutir. Concordou logo e entregou algum dinheiro ao motorista, antes de se voltar para ela.

— Boa-noite, Gina.

Resistiu à tentação de se virar e olhar para trás, enquanto o carro se afastava. Queria vê-lo, mas, ao mesmo tempo, não queria que ele a visse olhando.

Sentiu que o coração batia com muita força. Talvez aquilo fosse o fim. Talvez não o encontrasse nunca mais.

Recusou-se a admitir que aquele pensamento a deixava magoada e infeliz.

CAPÍTULO VIII

O fim de semana se arrastou. Gina ficou contente, quando chegou a segunda-feira e voltou ao trabalho. Hugh Fisher lhe deu um olhar estranho, quando entrou, mas não fez perguntas. Nem ela lhe deu nenhuma explicação. Foi como se todo aquele incidente não tivesse acontecido. Mas, só a lembrança de que Ryan ainda estava em Londres, era suficiente para atormentá-la.

A sra. Robinson tinha se comportado de modo um tanto indiferente com ela, durante o fim de semana. Acha que seus compromissos se estendiam a horários impróprios. Claro que mencionaria a Chris o ocorrido. Gina se adiantou e lhe escreveu uma carta, mas omitiu o fato de ter encontrado Ryan Barras nas Bahamas. Nunca havia lhe contado o que acontecera naquelas férias.

Não sabia ao certo como resolveria seu namoro com Chris. Ainda não tinha certeza sobre os sentimentos que a ligavam a ele. Entretanto, Ryan a afetava muito. Não adiantava saber que não o veria mais. Devia a Chris uma certa lealdade.

Na manhã de quarta-feira, o telefone tocou cedo. Alguém a chamou e ela atendeu.

— Gina? — Ryan perguntou. Assustada, não conseguiu responder, — Você está ouvindo, Gina?

— Sim, sim, estou. Quer falar com Hugh?

— Se quisesse falar com Hugh, teria ligado para a sala dele. Quero lhe pedir um favor.

— O que é?

— Não me parece muito... generosa. Talvez seja melhor esquecermos isso.

Ela lutou entre a cautela e a tentação, e a última ganhou. Poderia ser uma bobagem, mas não queria que ele desligasse antes de dizer qual o favor que desejava.

— Desculpe, não esperava ouvi-lo outra vez. Pode pedir o favor.

— Bem, já que eu comecei... Preciso de alguém que datilografe algumas anotações que fiz. Claro que pagarei muito bem.

— Por que não liga para uma agência de empregos temporários? — respondeu, depois de um momento em silêncio.

— Já liguei para uma, que sempre uso, mas não tem ninguém disponível, no momento.

— Nem mesmo para um cliente antigo?

— Não me classificam assim. Usei os serviços deles apenas algumas vezes. Não vão contratar ninguém, só para me servir, com a urgência de que preciso.

— Por que com urgência? Pensei que fosse ficar ainda mais algumas semanas na Inglaterra.

— Quando eu disse isso?

— Não sei. Acho que foi só impressão minha.

— Deve ter sido. Estou partindo para Nassau no próximo dia cinco.

— Na semana que vem! — ela disse, sentindo que o chão sumia sob seus pés.

— Daqui a seis dias. Ia desistir de ver este trabalho realizado, mas agora acho melhor cuidar dele. Depois, vou direto para a ilha, começar o novo livro.

A ilha. As recordações vieram, rápidas: o céu azul e o mar; as palmeiras verdes, balançando ao vento...

— Não faz nem seis meses que terminou o último livro! — ela se ouviu dizendo.

— Eu lhe falei que algumas vezes trabalho mais de uma vez por ano. Vai me ajudar?

— Quando?

— Gostaria que começasse esta noite, se possível. Há muito para fazer. Providenciarei uma máquina de escrever e mandarei colocar na saleta da suíte. Você pode pedir o jantar pelo serviço de quartos do hotel. Vou sair. Você não será perturbada.

Ela havia prometido passar a noite com os Robinson. Mas, agora, tinha um bom motivo para evitar o jantar em família.

— Está bem. Até a noite.

— A que horas você sai? Cinco e meia?

— Posso sair às cinco.

— Ótimo. Haverá um táxi esperando por você. Estarei aqui, quando chegar, para lhe mostrar o que tem a fazer. Depois, ficará sozinha. — A voz dele se tornou mais alegre. — Obrigado, Gina, resolveu o meu problema. Agora, não preciso mais perder uma semana, transcrevendo minhas anotações. Até mais tarde.

Ela sentou-se, durante alguns minutos, olhando a parede a sua frente. Não tinha feito nenhum bem a si mesma, aceitando aquele trabalho. Só serviria para piorar tudo. Entretanto, algo continuava a atraí-la para Ryan. Tinha que superar aquilo. Bem, dentro de seis dias ele já teria partido. E agora, para sempre. Pelo menos, era o que pensava. E ela ia se casar com Chris.

O táxi a esperava no horário combinado. Passaram pelo trânsito congestionado e chegaram ao Hilton. Daquela vez, não precisou se dirigir ao balcão da recepção. Lembrava-se do número do quarto dele.

Ryan abriu a porta. Vestia um terno azul escuro, camisa clara e gravata colorida.

— Entre — ele disse, olhando-a, com um ar distraído. — Acho que vou ter que sair logo. As coisas estão se complicando. Minhas anotações estão ali, em cima da mesa. Espero que compreenda o que escrevi. É para o próximo livro. Apenas algumas idéias que tive. Gostaria que selecionasse os assuntos, depois de datilografá-los. Pode fazer isso?

— Posso tentar — disse, num tom impessoal. Agora, estava trabalhando para ele. Isso fazia muita diferença.

— Ótimo. Pode pedir o que quiser para o jantar. Acho que não voltarei antes de você sair. Tome um táxi e coloque na minha conta.

Claro que ela ia sair antes de ele chegar, Gina pensou quando a porta se fechou atrás de Ryan. Até que horas estava pensando que ela ia ficar ali? Até as oito e meia, no máximo.

Pediu sanduíches e café. Antes de começar a trabalhar, deu uma olhada em todas as anotações, observando a letra dele. Um calígrafo diria que Ryan era agressivo, um homem de paixões fortes... mas também capaz de admitir seus erros. Queria compreendê-lo melhor. Entretanto, talvez fosse mais aconselhável esquecer.

Logo, Gina compreendeu que aquelas anotações formavam uma história completa. Ali estava toda a estrutura da nova novela. Interessada no enredo, esqueceu o tempo. Esqueceu de tudo, prestando atenção só nos personagens. Já podia imaginar os diálogos vivos e rápidos, nos diversos capítulos. Ryan era muito bom naquilo. Seus personagens conversavam como gente de verdade.

Passava um pouco das oito, quando o telefone tocou. Deu um pulo de susto. Pensou em não atender, mas parecia que a pessoa sabia que alguém estava no quarto, pois não parava de insistir.

— Quarto do sr. Barras — ela disse.

Houve uma pausa, antes que a inconfundível voz rouca perguntasse:

— Quero falar com o sr. Barras. Ele está?

— Não. Ele saiu. Posso dar o recado, sra. Conley.

A outra riu, divertida.

— Você não é a moça que foi com ele ao clube, na outra noite?

— Sim. — Sentiu que devia explicar: — Estou fazendo um trabalho para ele.

— Sobre o novo livro.

— Sim, estou copiando as anotações — Gina continuou, rapidamente, e ouviu Leila rir.

— Desculpe a interrupção. Por favor, diga a ele que preciso vê-lo, o mais depressa possível. É... muito importante.

A hesitação dela parecia estranha. Será que Leila chegara ao fim da lealdade para com o marido? Será que Ryan a ajudaria a escapar? Não. Estava tirando conclusões apressadas.

— Deixarei o recado para ele, pois, quando voltar, já terei ido embora.

— Ele realmente a deixa indiferente, não? — Leila perguntou, com um estranho tom de voz. — Deve ser uma experiência nova para Ryan. Onde vocês dois se conheceram?

— Há algum tempo, e muito rapidamente. Pergunte, e ele lhe dirá. — Gina não estava conseguindo ser amigável. — Desculpe, sra. Conley, mas tenho muito a fazer. Até logo.

Tremia, quando desligou o telefone. Tinha sido muito rude, mas não se arrependia. Estava com ciúme e não havia como disfarçar. Ryan não a deixava indiferente. Nunca acontecera isso. Mas ele não era dela; quanto mais cedo admitisse, melhor.

Gina escreveu o bilhete e deixou na máquina de escrever. Depois, juntou suas coisas e saiu daquela suíte luxuosa, sem olhar para trás. Não voltaria mais ali. Ele que procurasse outra pessoa para pedir seus favores.

Passava das nove, quando chegou em casa. A televisão estava ligada, na sala dos Robinson. Seria natural, se parasse e conversasse com a mãe de Chris, explicando por que não comparecera ao jantar combinado... Diria que precisara trabalhar até tarde, no escritório. Mas a sra. Robinson era a última pessoa que desejava ver naquele momento. Tinha que pensar seriamente sobre seu futuro com Chris. Quando Ryan saísse da sua vida para sempre, iria esquecê-lo. Talvez seus sentimentos se estabilizassem em relação ao noivo. As cartas dele chegavam, geralmente, na quinta e no sábado. Seria melhor deixar tudo como estava, até ser capaz de tomar uma atitude concreta.



  

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