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This side of paradise 5 страницаSentiu a mão de Ryan deslizar por suas costas e desamarrar o sutiã do biquíni. Ficou indefesa sob o olhar dele. Então, estremeceu ao toque leve de sua língua na pele sensível dos seios. Seu corpo inteiro pediu por ele. Ryan lhe acariciou as costas, e ela quase ficou sem fôlego. — Quero você... — murmurou. — Oh, Ryan, como eu desejo você! A resposta dele foi inesperada e ríspida: — Eu sei. É um inferno, não é? Ela continuou deitada, tensa, gelada, enquanto ele se afastava. Não compreendia o que lhe havia acontecido... não conseguia pensar em nada. Ele a desejava também, aquilo era mais do que evidente. Então, por que a mudança repentina? — Por quê? — Você despreza homens como eu, lembra? — ele lhe deu um olhar furioso, enquanto ela cruzava os braços, tentando se cobrir. — É tarde demais para isso. Agradeça por eu a ter deixado com o resto do biquíni. — Você planejou tudo isso — murmurou ela, quase sem acreditar. — Desde ontem à noite, você está planejando isso! — É verdade. Planejei mesmo — a voz dele era dura, cruel. — Estava colocando você em seu lugar... acho que você explicaria tudo assim. E que tal? Gostou? — Empurrou-a, quando tentou se levantar. — Não pense que vai sair correndo, antes de ouvir o que tenho para dizer. — Já não disse o suficiente? — a garganta dela doía tanto, que mal conseguia falar. Sentia os olhos queimarem e uma vontade louca de chorar. — Você conseguiu provar sua opinião. Sou uma garota fácil, não é isso? — É verdade que você não lutou muito. Bem, mas eu não pretendia deixá-la lutar. A vingança tem que ser imediata, se possível; mas eu lhe dei o benefício de vinte e quatro horas. — Isso piora as coisas! — Para você, talvez. Pessoalmente, adorei cada minuto. É como pescar um atum. Você joga a isca, ele pega e tenta fugir. Você solta um pouco a linha, depois puxa de volta e torna a soltar um pouquinho. Puxa de novo, até que, finalmente, ele chega perto e cai na rede. — Pare com isso! — Gina berrou, trêmula, vendo que ele não a deixava se levantar. Caiu deitada, olhando-o, cheia de ódio. — Você é um porco! Um porco calculista! — Com raiva, não se chega ao paraíso — ele brincou. — O seu consolo é que eu também não saí ileso. Houve um momento em que quase não consegui me controlar. Você tem um corpo lindo, querida. Gostaria de conhecer melhor estes lindos seios. Infelizmente, o único modo de fazê-la sofrer foi sofrendo também. Foi o preço que tive que pagar. — Não precisava ter ido tão longe — ela falou, rouca. — Se eu o magoei tanto, podia ter dito ontem o que pensava de mim. — Você não escuta as simples palavras, a não ser que venham acompanhadas de um pouco de ação. Ontem à noite, estava tão ocupada, cuspindo fogo, que não prestaria atenção no que eu tinha para dizer. Nem todos nós apreciamos uma boa conversa sobre sexo. Não tem nada a dizer? — Vá embora e me deixe sozinha — a voz dela terminou num soluço. — Já conseguiu o que queria. Agora, saia daqui! — Já lhe disse para tomar cuidado... — ele se levantou, dando uma última olhada no corpo dela e fingindo arrependimento. — Acho melhor eu sair agora, enquanto ainda tenho forças. Poderia ter sido mesmo muito bom! Foi até a porta e voltou-se: — Vamos sair amanhã de manhã, logo depois do café. Esteja pronta! Longos minutos se passaram, antes que Gina conseguisse dormir. Sentia-se doente e infeliz. Não importava que tivesse provocado tudo aquilo. O importante era o que tinha acontecido. Vinte e quatro horas, Ryan havia dito. Foi só do que precisou para colocá-la a seus pés. Chegaram na mesma praia de onde Gina tinha saído, há três dias. Ao descerem do barco, um homem os olhou, surpreso. — Você não é a moça que estava perdida? Há um avião de busca à procura do seu barco. — Os olhos dele pousaram em Ryan. — Contaram que estava sozinha, quando caiu a tempestade. —— Ela estava — Ryan disse, rápido. Depois, pegou Gina pelo braço, com força, impedindo-a de resistir, e falou baixinho e com raiva: — Tente agir como adulta, pelo menos urna vez na vida. Temos que mandar parar a busca. Para Gina, os quinze minutos seguintes foram muito confusos. Apesar disso, sentiu-se agradecida por ter Ryan a seu lado. Ele respondeu a diversas perguntas e pediu um telefone ao gerente do hotel. Percebeu que muitos duvidavam da história que ele contava; entretanto, Ryan não parecia se perturbar com isso. Marie apareceu. — Nós chegamos ontem — ela disse. — Eles tinham um transmissor na casa. Por isso, soubemos que você não havia chegado, antes da tempestade cair. Estávamos certos de que tinha afundado o barco. — Deu a Ryan um olhar de curiosidade. — Que sorte ela ter ido parar na sua ilha, não é? — É, muita sorte. — Os olhos cinzentos eram cínicos. — Pode me colocar em contato com os donos da lancha? Ela precisa de reparos, antes de ir para a água novamente. — Posso dar o número do telefone — disse, desviando o olhar para Gina. — Vai haver problemas por causa do barco: nunca devia ter saído nele. — Não haverá problema nenhum — Rayn respondeu, com segurança, e Gina se sentiu confortada, apesar de suas dúvidas. Ele a olhou, rapidamente: — Por que não vai trocar de roupa? Acerto tudo por aqui. — Não é responsabilidade sua — ela respondeu, arrogante, preocupada com Marie. — Eu devia... — Já disse que cuido de tudo. — Virou-se para o gerente. — Posso fazer algumas ligações? — Claro, sr. Barras. — Pelo jeito do homem, era claro que, se alguém ia sair culpado, ele preferia não saber de nada. — Providenciarei para que não seja perturbado. — Saiu e disse para Gina: — Acho que a polícia vai querer interrogá-la, srta. Tierson. Começaram as buscas ontem, quando o tempo melhorou. Como sabe, estas operações de resgate não são baratas. — Não pude evitar. Não havia jeito de avisar que eu estava a salvo. — Compreendo e tenho certeza de que as autoridades também compreenderão. São só formalidades como eu lhe disse. Felizmente, não avisamos sua família. Gina não se deu ao trabalho de informar que era sozinha no mundo. Agora, aquilo lhe parecia irrelevante. Cansada, acompanhou Marie até os elevadores, tentando ignorar os olhares dos outros hóspedes. Só esperava que ninguém lhe fizesse mais perguntas. Não conseguiria repetir aquela história mais uma vez! Entraram no quarto e, só depois de Marie fechar a -porta, começou a lhe perguntar sobre o acidente. — Imagine que sorte a sua! Encontrar outra vez com ele... e isolada numa ilha! É inacreditável! — É verdade — disse, sem emoções, sentando-se na cama. — Marie, o que aconteceu depois que eu saí? — Acordamos e vimos que o barco havia desaparecido. Por que você teve que fazer uma coisa maluca assim? Rafe ia nos trazer de volta à noite, como havia prometido, mas não conseguimos encontrá-la. — Sven tentou me violentar — aquelas palavras, agora, lhe pareciam profundamente ridículas. Marie deu a impressão de pensar o mesmo. — Ora, vamos. Ele deve ter tentado aproveitar alguma chance, mas acho que você levou as coisas muito a sério. — Você não estava lá — Gina gritou, procurando afastar as recordações. — Ele estava bêbado. Eu fugi e fiquei escondida atrás da casa, durante toda a noite. Não planejava levar o barco... foi idéia de momento. — Vai lhe custar caro. — Por causa daqueles dois? — Gina comentou, procurando aparentar mais confiança do que sentia. — Duvido que apresentem alguma queixa. Afinal, eu estava fugindo de Sven. — É a sua palavra contra a dele. Você foi até lá por sua livre e espontânea vontade. Depois, o barco não pertence a eles. Tinha sido alugado pelo homem para quem trabalham. É com ele que o seu amigo está falando, lá embaixo. E não é um tipo muito amigável. — Conhece o homem? — Sim — Marie disse, mudando de expressão. — Você também o conheceria, se não estivesse com tanta pressa em sair da festa. Ele nos trouxe de volta em seu próprio barco, ontem. — Rico? — Gina perguntou, recebendo um largo sorriso. — Muito. — Então, encontrou o que estava procurando. — Não, exatamente. Ele não é do tipo que casa. — Que pena! — Não é mesmo? — Marie deu de ombros. — Mas acho que, mesmo assim, serve. — Marie, acredita mesmo que este homem vai nos criar problemas? Sei que usei o barco sem permissão, mas não sabia que ia ser apanhada por uma tempestade. — Não tenho certeza sobre o que ele fará. Só sei que o seguro cobre roubo, mas não empréstimo a marinheiros incompetentes. Veja se entende: rico ou não, ele vai querer alguma compensação pelos estragos. — Talvez não tenha ficado tão estragado como parece — Gina disse, tentando se convencer —, e Ryan falou que pode cuidar de tudo. — Você mal o conhece. O que lhe dá a certeza de que ele cuidará de tudo? — Fez uma pausa. — A não ser que vocês dois tenham se tornado muito mais íntimos do que estão deixando transparecer. É espantoso o que um homem faz, quando lhe pedem no momento certo. Uma batida na porta impediu Gina de responder. Sentiu-se corar e viu que Marie tinha percebido. Mandou que entrasse, com uma voz que soou estridente demais. Era Ryan. Ele fechou a porta atrás de si e olhou Gina, aborrecido. — Pensei que já tivesse se vestido. — Ainda não... — ela se levantou, procurando disfarçar a emoção. — Falou... com alguém? — Sim. Slade quer ver você. — Vai criar problemas com o que aconteceu? — Não. Isto já está acertado. Só que quer vê-la. — Por quê? — Pergunte a ele. Eu disse que a levaria lá, para o almoço. — Você o conhece? — Ouvi falar dele, mas nunca o encontrei. Se pretende ir assim... — Pretendo não ir — respondeu, áspera. — Acha que é absolutamente necessário? — A não ser que prefira discutir com a polícia a diferença entre roubar e pegar emprestado. — Não vejo por quê... — teimou. — Que diferença faz eu ir lá? — Foi uma condição que ele impôs. — Bem, não vou — disse ela, erguendo a cabeça. — Você vai — Ryan falou em voz baixa, mas cheia de determinação. Gina viu que não ia adiantar. — Esta é a condição dele. Vista-se, vamos embora. Sentou-se numa poltrona, e Gina se sentiu desanimada. — Não vou trocar de roupa com você aqui no quarto. — O banheiro fica logo ali — Ryan apontou. — Tem quinze minutos. Temos que percorrer uma boa distância daqui até Point. Marie deu de ombros, quando Gina a olhou, pedindo ajuda. — Não me olhe. É melhor fazer o que o homem disse. Não tinha outra escolha. Em silêncio, juntou suas roupas e foi para o banheiro. Lá dentro, ouviu Marie falando e percebeu que não havia fechado completamente a porta. Aproximou-se e ouviu a resposta de Ryan: — Você não foi convidada. — Quer dizer que o meu nome nem foi mencionado? — Foi mencionado, mas não ligado ao caso. — Ele fez uma pausa breve e depois continuou, com voz cansada. — Sabe em que tipo de jogo está se envolvendo? Pode ser perigoso. — Não para mim. — O que a faz ser diferente? — Por que não pergunta a Slade? — Ele tem algum interesse pessoal? — Não sei por que isso o faz rir. — O tom de voz dela mudou, tornando-se mais suave. — Acha que eu não conseguiria conquistar um homem como Slade Harley? — Pelo contrário. Tenho certeza de que possui tudo que ele gosta. Você está cuidando dos seus interesses do modo certo? — E quais são os meus interesses? O seu amigo Neil? — Ela riu. — Dê-lhe lembranças minhas, quando o encontrar. — Fez uma pausa e mudou novamente o tom de voz. — E onde você se encaixa, nisso tudo? — Não me encaixo. Não é do meu interesse. — Vai levar Gina à casa dele? — Só por pouco tempo e porque não pude escapar. — Mas por quê? Por que Slade quer vê-la? — Parece que ele está curioso. As garotas que fogem de "um destino pior do que a morte" não são comuns por aqui. — Não são comuns em lugar nenhum. Tenho certeza de que ela é uma raridade. — Considerando as suas razões para vir aqui — Ryan disse, com calma — estou surpreso por desejar uma companheira. Ou achou que uma mulher sozinha pareceria fácil demais. — É, foi algo deste tipo — Marie conseguia enfrentá-lo, com muita classe. — Vocês dois devem ter tido conversinhas muito agradáveis, sozinhos, naquela ilha. Pelo menos, ela não tentou fugir com o seu barco. — Gato escaldado... Ela teve muita sorte de escapar com vida. — Então, você admite que ela teve motivos para tentar escapar? — Se prefere colocar a coisa assim... Gina fechou a porta, fazendo um ruído que os outros dois ouviram. Tinha ouvido o suficiente... mais do que suficiente! Ele falara sobre ela, com cinismo, quando comentara sobre sua fuga de "um destino pior do que a morte". Sabia que não tinha os mesmos interesses de Marie. Mesmo assim, se referira a ela com cinismo. A partir daquele momento, estava morto para ela. Não seria capaz de lhe provocar mais nenhuma emoção. Nem mesmo ódio. Marie não estava no quarto, quando Gina saiu do banheiro. Ryan lia uma revista. Levantou-se, dando um olhar de aprovação ao vestido simples de algodão azul que usava. — Muito apropriado: este vestido vai convencê-lo, se ainda tiver dúvidas. — Convencer quem? — Slade Harley, o homem que estamos indo ver. — Oh, o seu amigo gangster. — Não se faça de boba — ele disse, ríspido. — Ele não é meu amigo e não tive outra escolha, senão concordar em levá-la. Como vítima, pode impor condições. — E o meu lado da história? Posso acusar os empregados dele. — Acusar de quê? Saiu com eles porque quis. — Não sabia que estávamos indo a uma orgia! — Era uma festa particular, numa ilha particular. Só você classifica como orgia o que aconteceu lá. — Está bem... — disse, cansada, enfrentando os olhos cínicos dele. — Então, agora farei a coisa certa. — Ótimo. — Foi até a porta. — Vamos? — Por que está se envolvendo nisto? — perguntou ela, sem sair do lugar. — Não me deve nada. — Chame isso de minha boa ação do mês. — Seus olhos brilhavam, perigosamente. — Por que não aceita o meu conselho, arruma suas coisas e volta para casa no próximo avião? — Não posso. Minha passagem não me permite mudar nada. É um vôo charter. — Então, pague o excesso. — Não posso. — Quando dinheiro ainda lhe sobrou? — Não é da sua conta. — Quero saber. — Mas não vai saber. Eu cheguei aqui e sairei daqui por minha própria conta, quando for a hora. Ryan não tentou se aproximar. Olhou-a por um minuto, com um ar misterioso. — Eu a fiz me detestar na noite passada, não? — Não. — Encarou-o, sem piscar. — Você me ensinou a não confiar nos meus instintos e julgar melhor as pessoas, no futuro. Acho que é um bom escritor, mas não é um bom ser humano. — Amém — ele disse, secamente. Depois, deu de ombros. — Bem, são águas passadas. Vamos. Gina pensava que iriam de carro, mas ele se dirigiu para o barco. Seguiram a costa, passando pela ilha de Balmoral, e chegaram em Delaport Point. Entraram numa propriedade de frente para o mar, em estilo colonial espanhol. Um homem os esperava no ancoradouro. Apesar do calor, vestia terno e gravata. — Venham por aqui — disse e virou-se para a casa. Os dois caminharam lado a lado. Gina preparou-se para agüentar o pior. A casa tinha um imenso terraço, dando para o mar. A mesa estava posta para três. O anfitrião se aproximou, para cumprimentá-los. Era bronzeado e tinha um sorriso encantador; seu corpo era grande e e forte. Tratava-se de um homem bonito, de mais ou menos quarenta e cinco anos, com cabelo escuro e crespo e olhos cor de âmbar. — Estou contente que tenham vindo — disse, como se lhes tivesse deixado outra escolha. Tinha uma voz profunda e agradável. Olhou Gina durante um momento, com aprovação. — Então, esta é a garota? — Lamento muito ter estragado o seu barco. — Sentia uma estranha vontade de desafiá-lo. — Mas não me arrependo de ter fugido com ele. De uma certa forma, você é o responsável. Eu estava tentando fugir dos seus empregados. — Compreendo. — Parecia mais divertido do que aborrecido. — Já passei uma descompostura nos dois por sua falta de... discernimento, podemos chamar assim? Mas, se prefere, eles poderão lhe apresentar suas desculpas, pessoalmente. — Não, assim está bem. — Gina não agüentaria ver Sven novamente. Tinha explicado seus motivos, e isso bastava para ela. — Acho que nunca devia ter saído com eles, em primeiro lugar. — Sim — ele concordou, em tom seco. Virou-se para Ryan, com outra expressão nos olhos. — Então, a lancha está encalhada na sua ilha, a nordeste daqui? Acha que os danos podem ser reparados lá mesmo? — Penso que sim. Está estragada no casco, mas não houve danos internos. — Veremos. — Fez um gesto de quem queria esquecer aquilo. — Um drinque, antes do almoço? Gina teve que admitir que o almoço parecia mais uma comemoração. Foi servido por um empregado eficiente e silencioso. Os vinhos eram especiais, e o anfitrião conduziu a conversa de modo muito agradável. Tinha lido diversos livros de Ryan e fez comentários muito inteligentes, Ela entendeu por que Marie o achava tão atraente. Mesmo que não se tratasse de um homem rico, parecia o sonho de muitas mulheres.. — Ainda não escreveu um livro sobre esta parte do mundo — o homem comentou, em determinado momento. — Por quê? Há tanto material a sua volta. — Muitos escritores já escreveram sobre estas ilhas — Ryan respondeu, dando de ombros. — Prefiro outros cenários. — Se mudar de idéia posso colocá-lo em contato com pessoas que lhe fornecerão dúzias de enredos. A refeição já estava terminando, quando mencionaram Marie. Ryan fez de propósito, para provocar uma reação no outro. — Ah, a outra! — disse Slade. — Ela não precisa de protetor. Sabe escolher seu próprio caminho. — Também acho — Ryan respondeu, sem emoção. — Ficou desapontada por não ter sido convidada. — Vou tentar corrigir esse esquecimento. — Os dois homens se entreolharam e Slade afastou a cadeira, com um sorriso. — Desculpem, mas tenho um compromisso urgente em Nassau. Esqueçam os problemas do barco... mandarei buscá-lo. Não precisam se apressar. Podem ficar e terminar a refeição. Saiu, antes que Ryan ou Gina encontrassem algo para responder. Depois de algum tempo, ela disse: — Foi muito mal-educado, não acha? — O horário de educação dele terminou rápido — Ryan falou, com uma calma irritante. — Teve que voltar logo aos negócios. Se você já terminou, podemos ir embora. O mesmo homem de terno, que os recebera, acompanhou-os até o ancoradouro. Não disse nada o tempo todo, mas ficou observando, até que os dois se afastassem. — Será que ele é um guarda-costas? — Gina perguntou, quando tomaram a direção leste. — Chegou a me causar arrepios. — Esqueça. Não vai vê-lo mais. — Não perderei nada. — Fez uma pausa, esperando que ele falasse, mas Ryan continuou em silêncio. Então, disse, intrigada: — Ainda não entendi o que Slade queria. — Queria conhecê-la. Avaliá-la ele próprio, para saber se os empregados tinham mesmo cometido um grande erro de julgamento. Você causou a impressão adequada, com este vestido. Ele a deixa completamente inocente. — Não sou mais tão inocente... agora. Você estragou isso. — Não estraguei nada. Você está perfeita. E, pelo amor de Deus, pare de falar nisso. — Está com a consciência pesada? Pensei que já tivesse ultrapassado esta fraqueza. — Não ultrapassei nada. Agora... — parou e sacudiu a cabeça. — Gina, você me faria um favor? — O que é? — É pelo seu próprio bem. — Oh, que gentil! O que é? — Deixe-me colocá-la no primeiro avião. Há um vôo para Londres estas noite. Podemos trocar a sua passagem. — Acho que você já fez o suficiente por mim — respondeu, numa vozinha fraca, mas decidida. — Não, obrigada. — Você vai ficar sozinha — ele avisou, ignorando a ironia do agradecimento dela. — A sua amiga, Marie, tem outros planos. — Ela irá cuidar deles. Posso me ajeitar sozinha. — Sentia-se magoada — Volte para a sua solidão e não me aborreça, sim? — Está bem, se é isso que você quer. Não vou pedir desculpas pelo que aconteceu ontem à noite. Você provocou tudo, Gina. — Então, continue me dizendo isso. Talvez consiga se convencer de que é verdade. Gina só queria se esconder dele e de si mesma. E chorar. CAPÍTULO VI Marie deixou o hotel dois dias depois. Gina não tentou fazê-la mudar de idéia. Se queria Slade Harley, que fosse procurá-lo. Esperava que tivesse sorte. Seu estoque de cheques de viagem diminuía cada vez mais, apesar dos esforços para poupá-los. As refeições eram terrivelmente caras no hotel, e ela não tinha jeito de se afastar dali. Começou a desejar ficar sozinha. Passou a tomar os banhos de sol na sacada, para não ter que enfrentar as "cantadas" na praia. Marie estava enganada, pensou: marido era um artigo difícil de encontrar ali. Uma noite, Neil Davids apareceu de surpresa e deu com ela na entrada do hotel. Gina tentava imaginar como conseguiria jantar naquela noite. — Demorei mais tempo do que tinha imaginado — ele disse, depois de cumprimentá-la. — Acho que Marie cansou de esperar. Gina olhou-o, um momento, antes de responder. Pensava que Marie teria feito melhor se o tivesse esperado. — Viu Ryan? — perguntou ela. — Não. Acabei de chegar. — Ele parecia surpreso. — Ryan esteve aqui? — Sim. — Não via razão para lhe contar a história toda. Que Ryan contasse, se quisesse. Sem dúvida, a colocaria num livro. — Marie já não está mais aqui. — Ah... Onde ela foi? — Conhece um homem chamado Slade Harley? — Ela não... — uma sombra passou pelo rosto de Neil. — Temo que sim. — Mas, que maluca! Ela vai... — parou, de repente, e sentou-se. Depois, deu de ombros. — Bem, é problema dela. Sabe o que está fazendo. — Seus olhos voltaram a Gina. — Como você a conheceu e veio com ela? — É uma longa história — disse, mas preferiu não entrar em detalhes. — Então, conte-me durante o jantar. — Não... obrigada., Ele a estudou, por alguns instantes, e riu: — Gina, um jantar sem compromisso. Há mulheres e mulheres. Algumas você usa; de outras, você gosta. Preciso da companhia de alguém inteligente... e bonita, de preferência. Já jantou? — Não. — Então, por favor, aceite o meu convite. Aceitou, pelo único motivo de que não havia comido nada, desde o café da manhã, e não gostava de jantar sanduíches. Sentou-se diante de Neil e lembrou-se da primeira noite que passara naquele hotel. Seu coração parecia ficar pequenino. Fora há tanto tempo... em uma outra vida, talvez. Que tola tinha sido! — Você está diferente, sabe? — Neil disse, de repente, após fazer o pedido. — Há algumas noites, parecia ter estrelas nos olhos. Hoje... — Fez uma pausa e sacudiu a cabeça. — Não sei o que é, mas perdeu algo. — As ilusões. Percebi que as coisas nem sempre são o que parecem. — É verdade. Mas é uma pena que tenha aprendido isso. Tenho certeza de que não conhecia Marie muito bem. — Não — respondeu, deixando-o acreditar que se sentia desiludida com o comportamento da amiga. — Só a conhecia superficialmente. — Não há jeito de remediarmos isso. Você disse que Ryan esteve aqui? — Sim, esteve. — Veio vê-la? — Eu não diria isso — Gina falou, tentando rir. — Então, o que diria? Ou esta é outra longa história? — Sim, e não acho que queira contar. Você se importa? Pode saber tudo através de Ryan, quando o encontrar novamente. — Quer apostar que não? Aquele homem é uma ostra, quando não quer contar algo. Será que ele vai querer me contar isso? — Pode ser. — Por falar em ostras — Neil suspirou —, você também é uma pessoa muito fechada. Está bem, vamos esquecer o assunto. O que quer que tenha acontecido entre vocês dois, não é da minha conta. Imaginou se Neil conheceria bem o temperamento do amigo. Será que daria razão a ela? Não, os homens sempre se apoiam uns aos outros. — Estão se divertindo? — perguntou uma voz muito familiar. Gina sentiu que caía num abismo profundo. Ryan estava ali, de pé, como na primeira noite, vestindo terno e gravata, sorrindo, com ar aborrecido. — Fui até a sua casa — ele disse a Neil — e me disseram que tinha vindo para cá. Procurando Marie? — Bem, sim. — O outro parecia sem jeito, como humilhado pelo seu tom de voz. — Sente-se, Ryan. O que o trouxe aqui, no meio da semana? — Coloquei o meu último livro no correio esta tarde. — Sentou-se ao lado de Gina. Seu olhar era irônico. — Vão jantar? — Gina concordou em jantar comigo — Neil disse, antes que ela respondesse. — Tive que insistir muito. Ela já me contou, o que aconteceu com Marie. — O que aconteceu com Marie? — Eu disse a Neil para onde ela foi e com quem — Gina respondeu, calma. — Ele aceitou tudo, com muita classe, como o cavalheiro que é. Neil riu.
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