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This side of paradise 3 страницаEla não respondeu. — Vou procurar algumas roupas secas. — Ryan saiu da sala. Gina fez um esforço para se recompor. O que ele estava fazendo ali, naquela ilha, naquela casa e, aparentemente, sozinho? Tinha dito que precisava de solidão, quando escrevia. Então, devia estar escrevendo. Foi uma coincidência incrível, encalhar justamente na ilha que era o refúgio dele. Agora, teria que lhe dar uma porção de explicações. Entre outras coisas, precisaria admitir que era mesmo a tola que ele havia pensado. Deitou-se na banheira cheia de água quente. Ficou feliz ao sentir novamente os pés e as pernas. De repente, a porta se abriu e ele entrou, sem nenhum aviso. Sentou-se, apressada, tentando cobrir os seios com os braços. Olhou-o, com os olhos arregalados. — Estas roupas ficarão um pouquinho grandes — ele disse, atirando algumas peças sobre a cadeira —, mas é o melhor que posso fazer. — Com um ar cínico, sorriu. — Tudo bem! Já vi muitas mulheres nuas na minha vida... e mulheres com muito mais para esconder do que você. Enxugue-se e esfregue bem os braços e as pernas para restabelecer a circulação. Vou procurar alguma coisa para você comer. Só depois de alguns momentos, Gina conseguiu relaxar. Sentia o rosto queimar. Ele tinha feito aquilo de propósito, para mostrar que sua gentileza ia apenas até certo ponto. Imaginou o que diria, quando soubesse que seus avisos não tinham sido seguidos. Vestiu a camisa e o short, amarrando bem na cintura. Não tinha nada para calçar: perdera as sandálias no mar. Lavou o biquíni e pendurou-o no porta-toalhas. Depois, saiu em busca de seu anfitrião. Encontrou-o, entrando na sala com uma bandeja e algumas travessas. A sala tinha chão de madeira lixada, forrado por tapetes. No centro, havia uma imensa lareira de pedra, que estava acesa. Não viu sinal do cachorro. Ryan colocou a bandeja numa mesa, perto da lareira, e lhe indicou uma cadeira: — Sente-se e coma alguma coisa. Não está muito frio para um fogo, mas acho que a lareira acesa cria um clima aconchegante. Sente-se melhor? Gina estendeu a mão para as chamas. — Sim, mas, onde eu moro, as pessoas não costumam entrar em banheiros ocupados, sem antes bater na porta. Ele deu de ombros, sem mostrar a menor intenção de se desculpar. — Preferia que eu jogasse as roupas no chão? Estava molhado. Ou não se lembra? — Não importa — ela disse. — A casa é sua, e você faz o que quer. — É assim que pretende ver as coisas? Está bem. — Estendeu-lhe uma tigela de sopa e carne cozida. — Coma isso e me conte o que estava fazendo sozinha naquele barco. — Tudo ao mesmo tempo? — perguntou, olhando-o e examinando a sopa. — Sim. Não precisamos fazer cerimônia. Vá engolindo. Ela não sabia o que dizer. Tinha imaginado uma história que disfarçasse seus erros. Depois, preferiu ser honesta. Que importava que ele soubesse a verdade? Por que se incomodaria com ela? Ryan ouviu tudo sem comentários, sem revelar nenhuma simpatia ou censura. Só quando ela terminou, deixou claro o que pensava: — Ou você é a mulher mais imatura que já vi, ou a mais mentirosa. Ainda não me decidi. — Não sou mentirosa. — Então, é imatura. Claro que não ouviu meus avisos, na outra noite. — Ouvi, mas não tive muita escolha. A situação era... diferente. — Como? — Bem, no começo, pensei que eles só quisessem fazer amizade. — E por isso se meteu num barco, com dois rapazes que nunca tinha visto antes. Pessoalmente, só tenho a dizer que procurou todos esses problemas... e muitos mais! — Obrigada! Sendo homem, você, naturalmente, compreende o ponto de vista deles! — Por achar que as mulheres só existem para nosso divertimento? — Sacudiu a cabeça. — Depende da mulher. Tipos como você são muito raros e dificilmente aparecem por aqui. Acho que eles a julgaram pela aparência da sua amiga e a interpretaram mal, quando concordou em ir à festa. Gina esvaziou o prato e sentou-se, procurando aparentar muita dignidade. — Tenho vinte e três anos. Acho que não sou mais uma criança! — Não estou falando em idade. Algumas nunca amadurecem. Entretanto, acho que esta experiência deve ter lhe ensinado alguma coisa. — Oh, estou sempre aprendendo — ela respondeu, furiosa. — Mesmo quando sou beijada por um escritor famoso. Por pura gentileza, naturalmente. Ele a estudou, com calma. Os olhos cinzentos percorreram todo seu corpo, descendo pelas pernas nuas e voltando novamente ao rosto. — Podemos tentar novamente — ele disse. — Nunca fiz amor com uma náufraga. Ela procurou lhe devolver o olhar, sem piscar. — Duvido que eu possa acrescentar alguma coisa a sua lista de experiências. E não desperdice a palavra amor. Para mim, ela não significa isso de que está falando. — É mesmo? E como chama isso de que estamos falando? — Depravação — respondeu, rapidamente e com desprezo. — Os seus casos são muito conhecidos, sr. Barras. A última vez que eu soube, era com uma modelo norte-americana. Ou será que esta notícia já é velha? Os olhos cinzentos se estreitaram. — Não tem nenhum senso de discrição, não é? Já lhe ocorreu que podemos não estar sozinhos nesta casa? — Está me ameaçando? — perguntou, sentindo o coração bater mais depressa, mas aparentando muita calma. — Não tenho certeza. Continue agindo desse jeito, e logo descobriremos. — Pensei que você já estivesse acostumado com este tipo de comentário. — Não de menininhas que não sabem sobre o que estão falando. — Oh, tenho idade suficiente para saber o que acontece entre um homem e uma mulher. Principalmente, depois de ler os seus livros. As suas cenas de cama são muito minuciosas. Acho que usa o sexo para vender livros. Geralmente, é o que os autores fazem. Você pode perder uma porção de leitores, se esquecer esses detalhes. A expressão dele mudou, mas ela não conseguiu decifrá-la. — Conte-me mais: está ficando muito interessante. — Não há mais nada. Já disse tudo que penso. — Não acho que tenha dito. Quero saber o resto. Ela precisou de alguns momentos para recuperar as forças. Mas, se ele queria mais, teria. Já estava cansada daquelas férias horríveis. Tinha desperdiçado mil libras para ir até lá e tudo dava errado. — Está bem! Eu desprezo as pessoas como você! Pessoas que pensam que podem fazer o que querem, porque se consideram em uma posição superior. Eu faço as coisas porque não paro para pensar o suficiente. Você sabe exatamente o que está fazendo e por quê. Na outra noite, quis brincar comigo de conselheiro. Podia ter feito isso sem dar exemplos, como aquele beijo. Não era necessário. Mas você estava se divertindo, me colocando no meu lugar... como, sem dúvida, deve ter pensado. O rosto dele ficou tenso. — E onde você considera que seja o seu lugar? — perguntou ele, baixinho. — Em qualquer parte que eu deseje estar. — Muito bem. — Levantou e se espreguiçou. — Já comeu o suficiente? A mudança rápida de assunto deixou-a desconcertada. Olhou-o, começando a achar que tinha ido longe demais. Tinha dito a verdade, em parte; mas aquele homem a salvara, lhe dera abrigo, roupas secas e comida. Não precisava ser tão agressiva. Entretanto, estava surpresa com a total falta de reação dele. — Sim. Sim, obrigada. — Então, darei o resto ao cachorro. Pegou a bandeja e saiu. Ela não sabia por que o havia agredido com palavras. Bem, agora era tarde demais para se desculpar. Sem dúvida, ele nem iria se incomodar em ouvi-la. Tinha criado aquela tensão entre ambos; agora, teria que agüentá-la, o tempo todo que ficasse lá. Não ia conseguir sair dali naquele dia, pensou, ouvindo a chuva, que batia de encontro à janela. O vento estava mais forte do que nunca, uivando selvagem. Era difícil acreditar que se encontravam na mesma região onde, há vinte e quatro horas, só havia sol e calor. A mudança era aterradora. Ryan voltou, seguido pelo cachorro, que deu um longo olhar na direção de Gina, mas não se aproximou. — Pal se acostumará com você. Vai vê-la muito tempo por aqui. — Acha que vai demorar para conseguirmos ir até o hotel? — Depende do tempo. Este vento ainda deve durar algumas horas. Mesmo depois de passar, o mar estará muito bravo para nos arriscarmos com uma lancha. Acho que teremos de nos agüentar por mais vinte e quatro horas, no mínimo. — Já estou fora do hotel há um dia — disse, desanimada. — Será que não podemos informá-los onde encalhei? — Como? Não tenho um rádio. Nem sou tão famoso assim para ter um cabo-submarino telefônico só para mim. — Não tem rádio?! — Está pensando que esta ilha é um hotel? Estamos a mais de cinqüenta quilômetros a nordeste de Nassau. Sozinhos, até que o temporal acalme. Quanto mais cedo aceitar este fato, melhor. — Nordeste! — Gina ficou pálida. Sabia o que aquilo significava: se não tivesse encalhado naquela ilha, por pouco estaria perdida em pleno Atlântico. Pela primeira vez preocupou-se com Marie e os outros. Sem dúvida, já teriam chegado a salvo ao hotel, ou tentariam ir para Nassau. — A polícia não será chamada pelo hotel, se não chegarmos dentro de dois dias? — perguntou, preocupada. — Tenho certeza... — Talvez, depois de três ou quatro dias, eles comecem a se preocupar. — Deu de ombros, diante do espanto dela. — Isto aqui não é a Inglaterra. Não se preocuparão, se vocês estão ou não ocupando seus quartos. A única hora em que sentirão sua falta é no momento de pagar a conta... — Isso será daqui a quinze dias! — Bem, você já terá voltado, então. — Como? Não vi mais nenhum barco ancorado lá na praia. — Eu o guardo numa enseada protegida. Aceite a minha palavra: vou levá-la embora no minuto em que o vento permitir. Até lá, tente não se aborrecer muito. E não se preocupe: tenho outra cama além da minha. Gina mordeu o lábio. Ia ser daquele jeito, o tempo todo. Talvez, ele se tornasse insuportável. — Desculpe. Lamento o que disse. Estava aborrecida e falei sem pensar. — Esqueça — ele disse, depois de olhá-la durante um longo tempo. — Esquecerei, se você esquecer. — Eu já esqueci. Sentiu-se em dúvida sobre a sinceridade dele. Seria assim tão indiferente? Ou tinha um grande autocontrole? Não sabia. — Que tal um drinque? Posso lhe oferecer muitas coisas. Acho que tenho rum. — Importa-se se eu fizer um café? — Nem um pouco. Vou lhe mostrar a cozinha. Pode ficar à vontade. Saíram, deixando Pal se aquecendo ao fogo. Como o banheiro, a cozinha também era pequena, mas muito limpa e arrumadinha. — Não estou ouvindo o gerador — Gina comentou. — Sempre pensei que eles fossem muito barulhentos. — E são. Mas o meu está a uma boa distância da casa. — Você mesmo mandou construir isto aqui? — Não. Eu a comprei. Era um esconderijo de fim de semana. Ele lhe mostrou onde encontrar tudo de que precisava e voltou para a sala. Gina colocou a chaleira com água para ferver. Dali, ouvia o som do mar, batendo no barco danificado. Bem, tinha procurado aquela confusão. Talvez, no futuro, se tornasse mais cuidadosa com suas amizades. Ryan estava sentado perto da lareira, segurando um copo de uísque. Ela se surpreendeu, ao ver suas sandálias diante do fogo. Pensava que as tinha perdido. Seguindo seu olhar, ele comentou: — Não posso ajudá-la, quanto aos sapatos. Acho que não calçamos o mesmo número! Gina sorriu e agradeceu. — Ainda bem que você não é gordo. Senão, nunca conseguiria vestir sua roupa. Tem uma idéia de quanto tempo o clima vai continuar assim? Já deve ter visto este tipo de tempestade antes. — Sim, mas são sempre imprevisíveis. Quando o vento pára, o mar continua agitado ainda durante algum tempo. Não vou me arriscar a bater nos recifes. Só sairei quando o tempo estiver realmente bom. Normalmente, vou a Nassau uma vez por semana, para comprar mantimentos. Posso viver com enlatados o tempo que for preciso. — E o que aconteceria, se você ficasse doente, ou sofresse um acidente? Não tem como entrar em contato com ninguém. Poderia... — Morrer? — ele terminou. Parecia imperturbável diante daquela possibilidade. — Se não comparecer ao meu encontro semanal com Neil, ele suspeitará de algo errado e virá aqui. — Seria mais simples ter um rádio. — Não necessariamente. Se eu estiver caído, inconsciente em algum lugar da ilha, não poderei usar o transmissor, nem dirigir um barco. Prefiro continuar isolado, quando tenho que trabalhar. Então, sinto a inspiração de que preciso e sei que ninguém vai me interromper. — Tentarei ficar fora do seu caminho, enquanto estiver aqui — Gina disse, pouco à vontade. — Isso agora não é muito importante. Já terminei. Estou só fazendo uma revisão no livro. Ela imediatamente se interessou. — Posso saber qual é o enredo? — Não. Detesto comentar o que escrevo. As palavras escritas são diferentes das faladas. — Estudou-a, com uma expressão misteriosa. — Os escritores são cheios de manias, sabe? Como os pintores e os músicos... Nós também temos as nossas neuroses. — Fez uma ligeira pausa e mudou o tom de voz. — Você parece estar precisando de uma boa cama. Ela o olhou, mas não viu nenhuma insinuação no rosto dele. Na verdade, estava ouvindo coisas onde não existia nada. — Sinto-me um pouco cansada. Parece que se passou um mês, desde hoje de manhã. — E não deve ter dormido bem, ontem — ele comentou, colocando o copo no chão. — Vou lhe dar alguns lençóis e pode ficar à vontade no quarto de hóspedes. Aparentemente, ele se comportava de uma maneira muito natural. Entretanto, havia algo... Talvez fosse imaginação dela. Por que não o aceitava como era, em vez de ficar procurando interromper tudo que dizia? Estava tentando ser amigável e tinha boa vontade. Afinal, teriam que passar várias horas juntos. Quem sabe, dias. O cachorro ergueu a cabeça e a olhou. O coração de Gina bateu mais depressa, com medo. Procurou não demonstrar e falou suavemente com ele: — Tudo bem, Pal! Não vou fazer nada para aborrecer o seu dono nem você. Sei que sou uma intrusa, mas não pude evitar. Irei embora, logo que puder. Pal abanou o rabo, levantou-se e se aproximou dela, grunhindo, amigável. — Ora, você é um bichinho macio, não é mesmo? — Gina sorriu, acariciando a grande cabeça. — E pensar que, há um minuto, senti medo! — Pal nunca resiste a uma voz feminina — Ryan comentou, irônico. — Há quanto tempo você o tem? Ele não é muito velho. — Tem dois anos. Eu o ganhei quando era recém-nascido. — E o deixa aqui, sozinho, quando vai embora? — Não. Neil cuida dele para mim. — E ele não sente a sua falta? — Claro. Mas não posso levá-lo comigo. A maior parte dos lugares onde vou deixa os animais em quarentena. — Ficou observando o cão e a moça. Em poucos minutos, Pal se afastou de Gina e foi para o lado do dono. — Ainda bem que sabe quem lhe dá a comida, não é, menino? — Acariciou o animal. — Acho que se sentiria bem sozinho, aqui, sem ele — Gina comentou, sorrindo. — Ele é o companheiro ideal. Se eu conseguisse lhe ensinar as tarefas domésticas, não pediria mais nada. — Mas você tem se saído bem: mantém este lugar muito limpo — ela olhou em volta. — Considerando que sou solteiro? Talvez mude de idéia, quando vir o ambiente à luz do dia. Não estou aqui para fazer trabalho de casa. — Notou que ela tentava disfarçar um bocejo. — Vou buscar os lençóis. Acha que um cobertor está bem? — Deve achar isto aqui o lugar mais frio do mundo! — disse, rindo. — Mas, para mim, é um forno! Qual é o meu quarto? — Vou lhe mostrar. Ambos os quartos ficavam nos fundos da casa. O dela tinha uma cama de solteiro, penteadeira e um grande armário. O chão estava coberto por um tapete bem grosso, e na janela havia uma cortina branca. — Vai gostar da cama — Ryan disse, da porta. — Sempre viro os colchões. Para não mofarem. Minha mãe me ensinou. Sente-se bem, mesmo? Passou por uma experiência terrível! — Estou bem. Acho que tudo passará, depois de uma boa noite de sono. — Hesitou alguns momentos. — Lamento ter dito tantas bobagens e estar incomodando tanto. — Depois eu lhe mando a conta — ele falou, brincalhão. — Durma bem, querida. Depois que ele fechou a porta, Gina ainda ficou olhando. Não gostava que estranhos a chamassem de querida. Era uma palavra sem significado nenhum. Claro que ele parecia usá-la sempre, com todas as mulheres. Entretanto, aquilo provava que não guardava rancores pelo que tinha se passado entre os dois. Ryan Barras era mesmo um homem esquisito. Apesar do cansaço, ficou acordada durante algum tempo, ouvindo o barulho do vento e da chuva. A tempestade não a apavorava mais. E, bem no fundo, sentia-se feliz por ter naufragado naquela ilha... CAPÍTULO IV De manhã, a chuva havia parado, mas o céu ainda estava escuro. Gina sentiu cheiro de bacon frito. Levantou-se, vestiu-se e, ao sair do quarto, tropeçou em Pal, deitado na porta. Encontrou Ryan na cozinha. Ele vestia uma camisa branca de algodão e short. Suas emas, ela notou, eram fortes, bem feitas e bronzeadas como o rosto. Tinha um físico magnífico, todo músculos, sem uma gordurinha. — Quer presunto com ovos? — ele perguntou, sem desviar os olhos do fogão. — Sim, por favor. — Gina percebeu que estava com fome. Depois de hesitar um instante, perguntou: — Quer que eu ajude? Não. Prefiro preparar tudo sozinho. — O tom dele era brincalhão, mas ela percebeu que a frase devia ser levada a sério. — Acho não poderemos sair daqui ainda hoje. Parece que ainda vai cair aais água. — Percebi isso — ela procurou não demonstrar aborrecimento. — Realmente, lamento muito toda esta confusão e o trabalho que estou dando. — Sabe que você é bonita? O sol parece brilhar no seu cabelo... É esta a cor natural? — Claro. — Não sei não. A cor do cabelo de uma mulher pode mudar do dia para a noite. Um homem vai para a cama com uma morena e acorda com uma deslumbrante ruiva. — Já aconteceu isso com você? — Gina perguntou, rindo. — Não. Mas é porque prefiro as loiras. E você é a primeira que parece bonita, logo de manhã. — Bem... obrigada — sentiu-se contente, orgulhosa. — Não se importa muito com elogios, não é? Isso é pouco comum. Suas sandálias secaram, pode calçá-las. Já estava se acostumando com a mudança rápida de assunto. Saiu, procurando disfarçar o rubor que o elogio dele havia provocado. Será que estava sendo sincero? Ou apenas gentil? — Sabe — disse a Pal, que a seguira —, vou acabar me apaixonando pelo seu dono, se não tomar cuidado. — Curvou-se e o acariciou atrás da orelha. Imaginou como se sentiria, se fosse beijada por Ryan. Não aquele beijo em que ele apenas pretendeu lhe dar uma lição, mas um beijo de verdade, com sentimento. Pensando novamente naquilo, reconheceu que havia merecido tudo o que lhe acontecera. Toda sua atitude tinha sido errada. Ele lhe oferecera conselhos, reconhecendo sua inexperiência. Não procurara tirar vantagens dela. Se encontrasse o momento certo, pediria desculpas. Tomaram o café na sala, sentados a uma mesa presa à parede. À luz da manhã, viu que, realmente, os móveis estavam empoeirados. Os homens não se importavam com aquele detalhe. Se pudesse, faria uma limpeza ali, sem que ele percebesse. Tinha que deixar que ele se concentrasse no trabalho, revisando o livro. — Vai trabalhar esta manhã? — perguntou, quando acabaram de comer. — Depois de dar uma olhada naquele seu barco. Vou ver o meu também. Deve estar perfeito, mas nunca se sabe. Se estiver danificado, não sei quantos dias levaremos para sair daqui. Neil só volta no fim da semana. — Eu sei. Marie me disse. — Observou o rosto dele, cautelosa, e depois continuou: — Você estava certo. Ela está procurando alguém como Neil. Acho que ele é muito rico. — Muito. — É casado? — Viúvo. Há dez anos. — Fez uma pausa breve e confidenciou: — Duvido que Neil se case outra vez. E certamente não se casaria com alguém como Marie, Gina pensou. Mas a outra tinha dito que aceitaria outras coisas, além de casamento. Bem, Neil Davids era bem crescidinho para decidir sozinho o que queria. — Conte-me sobre você — Ryan pediu, inesperadamente. — O que faz para viver? — Trabalho numa empresa de relações públicas. — Gina sorriu, tímida, quando o viu erguer as sobrancelhas. — Sou apenas uma secretária. Na verdade, é a mesma firma que cuida da sua publicidade pessoal. — Que mundo pequeno! Então, foi por isso que me reconheceu logo. Não tenho um rosto tão marcante. Por que precisa pedir os livros emprestados na biblioteca? — Ah, eu comecei a trabalhar nesta empresa há poucos meses. Ganhei um exemplar do seu último livro, mas só deste. — Gosta do seu trabalho? — É bem interessante. Tenho coisas diferentes para fazer todos os dias. Agora, estamos promovendo uma campanha para uma cooperativa de produtores de leite. — Trabalha com o sublime e com o ridículo — ele a estudou, durante um momento. Seus olhos cinzentos eram difíceis de decifrar. — Não pensei que seu salário desse para passar férias nas Bahamas. — Não dá. Eu ganhei um prêmio. — E Marie? Como a conheceu? — Ela trabalha na mesma firma. — Aparentemente, ganha mais do que você. — Igual. Mas ela economizou durante muito tempo. — Só com a idéia de vir para cá. Ela acertou: Nassau é o tipo de lugar adequado para uma mulher com o corpo dela. Não entendo por que você veio junto. — Ela precisava de uma cobertura... foi o que disse.,. mas só quando já estávamos no avião. — Compreendo. — Pelo tom de voz dele, parecia compreender mesmo. — E você achou que Nassau era o lugar certo para gastar o seu prêmio. — Parecia muito longe e excitante. Não imaginei como seria nos dias chuvosos. — Os dias chuvosos são ruins em qualquer lugar. Acho que poderia ter escolhido melhor sua companheira. — Concordo com você. — Intimamente, acrescentou: só que, então, não o teria conhecido. Olhou-o e percebeu que estava procurando problemas. Estavam juntos por pura obra do acaso. Na verdade, não era o tipo dele. Devia gostar de mulheres sofisticadas, famosas, cheias de confiança em si mesmas e capazes de circular com desenvoltura naquele mundo. — Agora resolveu ser discreta? O que aconteceu com a garota impulsiva de ontem? — Desculpe. Lamento muito aquilo — disse, mordendo o lábio. — Ah, então lamenta... Ainda acha que as minhas cenas de amor são muito explícitas?, — Não, acho que não — ela corou. — Você já foi para a cama com um homem? — perguntou, com um olhar intrigado. Foi como se lhe tivesse dado um soco no estômago. — E isso é da sua conta? — Não, mas acho interessante. Nunca encontrei uma virgem de vinte e três anos. — É que não procurou nos lugares certos — Gina disse, afastando a cadeira e provocando um ruído que lhe causou arrepio. — Concordo — ele sorriu, cínico. — Não vá se ofender. Não estava tentando criticá-la. Estava certa sobre sexo: faz vender o livro. Pelo menos, a maior parte das cenas. O público de hoje é ávido por detalhes. — E você dá aos leitores o que eles querem. — Exatamente. No meio da grande maioria, há uma minoria que entende o que estou tentando transmitir, sem se importar que o herói tenha sempre uma mulher ao lado. Acho que encontrei uma leitora deste tipo. — Encontrou — a raiva dela havia desaparecido. — Se não houvesse um tema profundo, eu não teria os seus livros. É um bom escritor, Ryan... acho que um dos melhores. — Obrigado — ele sorriu satisfeito, levantando-se. — Vou dar uma olhada nos barcos. Como preparei o café, você lava a louça, está bem? Saiu logo em seguida, acompanhado por Pal. Gina colocou a louça de molho dentro da pia e foi até o quarto, arrumar a cama. Olhou-se no espelho. Estava radiante. Ele havia colocado um brilho novo em seu olhar. Nunca encontrara alguém como Ryan e, provavelmente, não encontraria outra vez. Sentiu-se desconsolada. Como poderia voltar para sua vida rotineira, depois de todas aquelas experiências? Tinha sido feliz, enquanto ignorara o prazer de umas férias. Por que não tinha ficado em casa e economizado o prêmio para os dias de velhice? A cama de Ryan já estava arrumada. Não havia nada de pessoal no quarto. Nenhuma fotografia. Viu um livro na mesa de cabeceira. Talvez lhe desse uma idéia sobre a personalidade dele. Pegou-o, e dentro caiu um envelope. Estava endereçado a uma caixa postal em Nassau, numa escrita fina e cheia de floreios, sem dúvida, feminina. Mas não havia nenhuma carta. Sentiu-se culpada em olhar, mas a tentação foi mais forte. Procurou se convencer de que não teria lido a carta, se a encontrasse. Não acreditou em si mesma. Quando se tratava de Ryan, parecia agir só por instinto. Ele voltou minutos depois e a encontrou na cozinha, arrumando a louça. — O céu está começando a clarear — anunciou. — Acho que, com sorte, o mar se acalmará à noite. — Então, voltarei ao hotel ainda hoje? — Não. Já será muito tarde, quando as ondas se acalmarem. Pensou no que vai acontecer, quando voltar? — Está falando sobre o barco? — Sim. Teremos que avisar a polícia. — Acha que eu serei louca em dar parte dos proprietários? — perguntou, espantada. — Acho que estaria perdendo tempo. Subiu a bordo por vontade própria. Ninguém a coagiu. As autoridades pensarão que é bastante adulta para saber o que faz. Entretanto, há um outro problema: roubar e quase destruir um barco caríssimo.
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