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This side of paradise 1 страница



 

UM BEIJO... DEPOIS O AMOR!

"This side of paradise"

Kay Thorpe

 

 

 

Um homem, uma mulher, uma ilha deserta... Cenário para um lindo sonho de amor, ou para um pesadelo? Como as Bahamas, o paraíso tão almejado por Gina se transformou num inferno? Envolvida com bandidos, sem nem saber como, ameaçada de ser violentada, para escapar precisou roubar um barco e remar para alto-mar. Naufragou numa tempestade e foi feita prisioneira na pequena ilha particular onde conseguiu abrigo. Prisioneira de Ryan Barras, aquele escritor milionário que não entendendo o desespero dela, homem cínico e vivido, a desafiou a repetir, como um jogo, as cenas eróticas que ele descrevia em seus livros. Gina teria forças para escapar ao fascínio daquele homem.

 

Copyright: KAY THORPE

 

Título original: "THIS SIDE OF PARADISE"

 

Publicado originalmente em 1979 pela

Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

 

Tradução: LUZIA ROXO PIMENTEL

 

Copyright para a língua portuguesa: 1981

EDITORA EDIBOLSO LTDA. — São Paulo

Uma empresa do GRUPO ABRIL

 

Composto e impresso nas oficinas da

ABRIL S.A. CULTURAL E INDUSTRIAL

 

Foto da capa: TRANSWORLD

 

CAPÍTULO I

 

A loira de biquíni amarelo chamou a atenção de um senhor gordo, vestindo bermudas. Ele lhe deu um sorriso convidativo. Sem se mexer da cadeira ou mudar a expressão, o homem levantou um dedo, chamando a moça e indicando o lugar vazio a seu lado. Ela fingiu não ver, e ele disfarçou, chamando o garçom.

Observando a cena, da sacada do seu quarto, no terceiro andar, Gina viu que Marie tinha acertado em cheio: aquele era mesmo o melhor lugar para uma garota bonita caçar um milionário. Primeiro, tinha achado que era brincadeira da amiga, quando esta lhe anunciou suas intenções para aquela viagem. Mas, agora, não estava tão certa. Não sabia nada sobre Marie Gregory, a não ser que era sozinha no mundo, como ela própria. Trabalhavam juntas, mas isso não tinha sido suficiente para se conhecerem bem. Talvez, Marie estivesse realmente decidida a encontrar um marido rico naquelas férias. Afinal, havia feito muita economia para chegar até lá.

Ela havia dito que passara dois longos anos, poupando todos os tostões, antes de ter o bastante para umas férias de três semanas. Gina sabia que nunca teria força de vontade para fazer nada parecido. Sua presença ali se devia unicamente a um computador amável, chamado Ernie.

Quando o computador lhe deu o prêmio, surgiram várias discussões e sugestões no escritório. Todos queriam ensiná-la a gastar o dinheiro. A de Marie foi a mais sedutora. Alguns acharam bobagem gastar tudo de uma só vez, mas a maioria a invejava. Não lhe tinha ocorrido a idéia de perguntar a Marie por que precisava de uma companheira.

Pelo menos, não até o momento em que entraram no avião. Aí era tarde demais para voltar.

Agora, ali de pé, quase oito horas depois, ela se lembrou do sorrisinho da outra.

— Preciso de cobertura — Marie disse, como se aquilo explicasse tudo.

Gina achou que, sendo loira, causaria um certo contraste com o tipo moreno e alegre da outra. Haviam atraído a atenção de muita gente desde o aeroporto. Não apenas pela diferença de tipo físico, mas também porque eram as únicas jovens em um lugar povoado de homens idosos e mulheres de cabelos azulados. O hotel não estava cheio: a estação de turismo mal começara.

Olhou a piscina lá embaixo e observou as cabanas na praia de areia muito branca. Ao longe, o mar se tornava opaco, à luz do entardecer. Amanhã, teriam tempo de nadar em águas mornas, muito diferentes das européias. Ficariam estendidas ao sol, sob um céu sem nuvens, sem fazer nada. Para hoje, o programa era o jantar no luxuoso restaurante. Entretanto, seu organismo lhe dizia que ainda estava na hora do almoço. Sem dúvida, levaria algum tempo para se adaptar às diferenças de horário. Uma boa noite de sono ajudaria muito.

— Não vai terminar de desarrumar a mala? — Marie chamou de dentro do quarto. — Preciso saber quanto espaço terei nestes armários.

— Pode usar o espaço que quiser. Não trouxe muita coisa — Gina respondeu, relutando em sair da sacada. Depois, entrou no quarto muito bem decorado e suspirou de prazer. — Não é fabuloso? Sinto-me uma milionária!

— Não é mau — Marie admitiu —, e nem podia ser, pelo preço que estamos pagando! Graças a Deus, conseguimos as passagens de avião mais baratas!

Gina concordou. Sabia que, se não fosse aquilo, seu prêmio de mil libras não seria suficiente. Mesmo assim, as diárias do hotel iriam fazer um grande rombo em seu orçamento. Só esperava ter cheques de viagem suficientes-até o fim das três semanas. Precisariam pagar as refeições e os divertimentos. Mas, naquela noite, não se preocuparia com dinheiro.

Marie tinha um corpo perfeito e vestia-se de modo a salientá-lo ainda mais. Gina admirava-a, sem inveja. Ela própria era magra. Não tinha aquele porte espetacular, nem a personalidade necessária para acompanhá-lo. Bem, pelo menos ninguém nunca a tomara por um rapaz, pensou bem-humorada, olhando-se no espelho.

— A que horas será o jantar?

— Vamos descer às nove — Marie disse.

— Gostaria que fosse agora. Estou faminta.

— Por sua própria culpa. Devia ter almoçado no avião.

— Mas tinha acabado de tomar o café da manhã!

Aquela discussão era uma bobagem. Dividir o quarto com Marie ia ser difícil, principalmente porque a conhecia muito pouco. A amizade entre as duas tinha começado exatamente há três semanas, quando a outra a convidara para acompanhá-la naquela viagem. Amizade? Talvez fosse melhor descrever a convivência como um relacionamento superficial. Marie não se esforçava para conhecer ninguém que não fosse de seu grande interesse.

Terminou de desarrumar a mala, deixando bastante espaço para as coisas da companheira. Depois, olhou os vestidos, indecisa.

— Usaremos vestidos longos ou curtos?

— Longos, claro. Este é o lugar certo para eles. — Marie escolheu um de crepe, com alcinhas de pedrarias. — Use este: combina com seus olhos. Pena que não fez uma rinsagem antes de viajarmos. Loiras platinadas ficam muito bonitas com a pele bronzeada. — O olhar dela dizia: você não liga muito para si mesma, não é?

— Não sou eu que estou atrás de um marido — Gina respondeu alegre, recusando-se a ficar ofendida.

Entretanto, havia ironia na voz da outra, quando disse:

— E você ficaria satisfeita com algum bancário e uma porção de filhos gritando em volta, não é?

— Você fala de um modo que faz parecer horrível — Gina sorriu. — Não precisa necessariamente ser assim.

— Será. Você é deste tipo.

Fez uma pausa e se afastou. Gina foi a primeira a falar, depois de um momento de silêncio:

— Marie, por que me convidou para vir com você?

— Porque uma mulher sozinha, num lugar como este, dá má impressão... atrai o tipo errado — respondeu, dando de ombros.

— Então, ficaremos juntas só na aparência, mas cada uma pode escolher o seu caminho, não?

— Claro. — Fez uma careta. — Certas pessoas, não dá mesmo para ajudar!

Passaria muito bem sem aquele tipo de ajuda, Gina pensou. Não queria ficar triste por ter vindo. Era uma viagem que só se faz uma vez na vida e pretendia aproveitá-la ao máximo, do seu jeito. Que Marie fizesse o que quisesse, contanto que não a envolvesse.

Saíram juntas para jantar. Uma usando azul e a outra um tom alaranjado forte. Marie causou sensação, quando entrou no restaurante. Gina viu várias pessoas se virarem para olhá-la.

Não havia muita gente no salão. Todo o ambiente era rodeado de terraços que davam para o mar, prateado pela lua cheia. Numa das extremidades do restaurante, um conjunto tocava os últimos sucessos. Ali, a nota principal era o luxo, aparente desde as cortinas de seda, até as cadeiras forradas de veludo e os talheres de prata.

Sentaram-se longe da pista de dança. Gina sabia que seu vestido nem se comparava com as roupas caras das outras mulheres. Nem o de Marie. Mas a amiga parecia não se importar. Tinha suficiente confiança em si, para não se incomodar com os outros. Gina gostaria de ser menos tímida.

Havia mais alguns jovens, mas não do tipo que faz amizades fácil" mente. Todos pareciam entediados demais, como se aquela noite não lhes oferecesse nada de especial. Ela e Marie eram as únicas mulheres desacompanhadas, o que não as ajudava muito. Pela primeira vez, começou a achar que não deviam ter ido para aquele hotel e, sim, para um menor, mais informal.

Marie disse ao garçom que fariam o pedido mais tarde e pediu dois martinis.

— Pare de se preocupar — disse, quando Gina lhe contou seus temores. — Se fizer o jogo direito, não precisará pagar mais nenhum jantar.

— Quer dizer que encontraremos alguém que pague?

— Exatamente. À sua esquerda há um homem que não parou de olhar para você, desde que entramos.

Involuntariamente, Gina virou-se e deu com o mesmo senhor que havia visto na piscina, chamando a loira de biquíni amarelo. Pouco depois, a loira chegou e sentou-se ao lado dele, que pareceu não lhe prestar nenhuma atenção. Acendeu um enorme charuto, sem se importar com o fato de não terem ainda terminado a refeição. O terno a rigor dele só servia para lhe salientar ainda mais a gordura.

— Não, obrigada — ela disse, olhando depressa para o outro lado. — Ele já tem uma acompanhante.

— Ela já passou dos trinta. O sujeito não está dando a mínima. Acho que logo vai se livrar dela.

— Então, por que você não tenta lhe chamar a atenção? — Gina murmurou, furiosa, e viu a outra sorrir.

— Não é o meu tipo. Há dois homens no terraço que parecem muito melhores. Não sei se estão hospedados aqui, ou vieram apenas jantar.

— Vá lá e pergunte — Gina já estava aborrecida. Tudo parecia se transformar rapidamente em um grande fiasco. Se soubesse a verdade antes, jamais teria feito aquela viagem. Não poderia nunca imaginar a finalidade da amiga.

— Não há pressa — Marie afirmou. — Se não estiverem hospedados, não adianta nada conhecê-los. Bem, saberemos amanhã.

Gina ficou imaginando se Marie se divertia mesmo com aquela tarefa. De onde estava, não via os dois homens, nem pretendia olhá-los. Se estivessem hospedados ali, Marie daria um jeito de se insinuar. Só queria ficar afastada ao máximo daquilo tudo. Procuraria controlar melhor o dinheiro. Os banhos de mar e de sol eram grátis. Encontraria um lugar barato, onde comer.

Quando finalmente fizeram o pedido, ela escolheu os pratos mais baratos, percebendo que, mesmo assim, a conta seria imensa. Marie não fez economia e ainda quis uma garrafa de vinho.

— Deixe comigo — disse, quando Gina protestou. — Pare de ser tão pão-dura!

— Sinto muito, mas estou com o dinheiro contado para me sustentar. Não dá para gastar tanto assim.

— Eu também não tenho muito — Marie respondeu, calmamente —, e não pretendo gastar mais do que já gastei. Se não bancar a boba, não terá que se preocupar também.

— Posso ser uma boba, mas não vou me vender por uma refeição!

— Nem eu — Marie parecia imperturbável. — Você sabe o que procuro. Mas, enquanto isso, tenho que viver.

— Nunca encontrará um marido aqui — Gina disse, com um olhar furioso. — Duvido que algum desses homens aqui pense em casamento.

— Pode ser que esteja certa. Mas casamento não é tudo — Marie viu a expressão de Gina mudando. Ela ergueu as sobrancelhas, espantada. — Já deve ter percebido que não pretendo voltar, a não ser que seja absolutamente necessário. Se não conseguir um marido que me sustente, como quero, vou me ajeitando com jó que aparecer. Só peço que ele seja rico.

Gina a olhava como se nunca a tivesse visto antes.

— Não está falando sério!

— Claro que estou. Não economizei, durante dois anos, para nada.

— E por que me trouxe junto?

— Já lhe disse. Achei que parecia bom, no começo.

— Aquela mulher lá, com o homem que me mostrou, não estava aborrecida por ter vindo sozinha. Ela o conheceu esta tarde, na piscina.

— Obviamente, ela está caçando. E não quero parecer com ela. Até" o momento, somos duas amigas passando as férias juntas. Claro que, quando lhe der um sinal, espero que desapareça e encontre outra companhia.

Gina sacudiu a cabeça, procurando ficar calma:

— A vida é sua e tem todo o direito de fazer com ela o que quiser. Mas não me peça que a ajude. Como já disse, cada uma seguirá o seu caminho.

— Você vai ficar muito sozinha — Marie disse, sorrindo.

Era verdade, e a idéia não lhe agradava. Entretanto, a outra alternativa também não lhe atraía. Gina disse a si mesma: estou nas Bahamas por causa do sol, do mar e da areia, e vou tratar de aproveitar tudo isso.

Não gostou da comida. Marie bebeu sozinha quase todo o vinho, 10

o que lhe deu um brilho maior aos olhos. Pediu creme de menta depois do café e ficou saboreando-o, enquanto acompanhava o ritmo da música com o pé.

— Acho que, no auge da estação de turismo, haverá três vezes mais hóspedes.

— Imagino que sim — Gina concordou, cansada. — Por que não esperou para vir na estação?

— Por que não poderia pagar os preços mais altos. — Marie olhou em direção ao terraço e mudou de expressão. — Lembra dos dois homens de que lhe falei? Um deles está vindo para cá. Não vá estragar tudo.

Gina sentiu-se tensa, quando o homem se inclinou sobre a mesa. Ele só tinha olhos para Marie. Era de estatura mediana, um pouco gordo, mas simpático. Parecia ter por volta de quarenta anos.

— Desculpe a intromissão. Meu amigo e eu gostaríamos de convidá-las para um drinque no terraço. Estamos nos sentindo solitários esta noite.

Marie lhe deu um sorriso provocante.

— É muito gentil, mas realmente não acho... —fingiu uma hesitação que estava longe de sentir.

— Por favor, venham — ele disse, sorrindo de um modo encantador. — Assim, conseguiremos melhorar a situação. Convidei meu amigo para jantar e ele detestou a comida. — Olhou para Gina e perguntou: — São inglesas?

— Como sabe? — ela disse, contra a própria vontade.

— A gente aprende a reconhecer os patrícios. Sou Neil Davids.

Marie fez as apresentações, ignorando o olhar de Gina, que lhe implorava para não levar aquilo mais longe.

— Chegamos agora à tarde e estamos sentindo a diferença de horário. Acho que não poderemos ficar muito tempo — ela disse, como se estivesse indecisa.

— Está bem. Fiquem o tempo que quiserem.

Marie levantou-se, não deixando a Gina outra alternativa, a não ser segui-la. Não queria ir com eles, mas também não conseguiria atravessar sozinha aquele imenso restaurante.

As portas do terraço estavam próximas. Na mesa que os dois ocupavam, o outro homem parecia aborrecido. Tinha ombros largos e cabelos escuros. Seu olhar era de resignação. O rosto ossudo era familiar e lhe trouxe aos lábios, involuntariamente, o nome dele:

— Ryan Barras!

— A sua fama o persegue — disse o outro, olhando-a, admirado.

— É o que parece. — Ele tinha olhos cinzentos e frios. Levantou-se. — Estou encantado, senhorita...?

Não estava encantado coisa nenhuma. Pior: ele sabia que ela sabia disso.

— Tierson — falou, tensa. — Gina Tierson.

— E esta é Marie — Neil Davids apresentou, preocupado em não cometer gafes. — Elas chegaram há poucas horas. — Ofereceu-lhe cadeiras, colocando Gina perto do amigo, enquanto ficava de frente para Marie.

O garçom apareceu e pediram drinques.

— Lê muito, srta. Tierson? — Ryan Barras perguntou, sem tirar os olhos do rosto de Gina.

— Todos nós, britânicos, temos fama de grandes leitores — Neil interrompeu. — Vamos deixar de formalidades, sim?

— Está bem — disse o outro, dando de ombros. — Lê muito... Gina?

— Sim — disse e se forçou a encará-lo. — Acho que está cansado de pessoas lhe dizendo que gostam dos seus livros.

— Nem um pouco. Sou muito narcisista, quando se trata do meu trabalho. — A voz dele era irônica.

— A sua fotografia saiu nos últimos dois livros, e eu o vi na televisão, há alguns meses.

— É boa fisionomista.

Ele era difícil de esquecer, Gina pensou. Lembrou de como, com poucas palavras, havia colocado o entrevistador em seu devido lugar, recusando-se a responder perguntas de caráter pessoal, principalmente as que se referiam a sua acompanhante do momento. Era solteiro e parecia pretender continuar assim.

Os outros conversavam sobre assuntos gerais. Ela desejou estar a quilômetros dali, longe daquele homem cujo olhar era tão difícil de sustentar. Sentia-se embaraçada, como se fosse uma mulher vulgar. Ao mesmo tempo, sabia que merecia aquilo.

— Então? Não vai me dizer de qual dos meus livros gostou mais?

— "Os Caçadores".

Viu que ele franzia a testa.

— Não pensei que uma mulher fosse gostar desse.

— Escreve só para homens? — perguntou, em tom de desafio.

— Conscientemente, não; mas acho que alguns assuntos são orientados para o gosto masculino.

— Só na superfície. A maioria dos problemas atinge ambos os sexos.

— É verdade. — Agora, tinha um ar de interesse. — Importa-se em me dizer quantos anos tem?

— Vinte e três. Velha o bastante para entender o que você queria dizer com aquela novela.

— Há anos que "Os Caçadores" foi publicado — ele sorriu.

— Só o descobri há poucos meses — confessou. — Veio junto com outros livros que trouxe da biblioteca pública.

— Ah, e eu aqui, pensando que tinha encontrado uma compradora!

— Pelo preço que estão? — disse, e se arrependeu imediatamente. A falta de dinheiro não era assunto para se discutir em lugares como aquele. Sentiu-se corar.

— Ache um jeito de cortar as despesas da impressão e terá todos os editores aos seus pés — ele respondeu, secamente. — Meu próximo livro sairá quase pelo dobro do preço dos atuais.

— Quando?

— Na metade do mês que vem. Gostaria de receber uma cópia antecipada?

— Oh, não! — Corou mais ainda e mordeu os lábios. — Acho que seria maravilhoso demais, claro, mas não espero...

— Está tudo bem. Preciso cultivar minhas fãs. — Pegou uma caneta de ouro e uma maleta, de onde tirou um bloco. — Para onde devo mandar?

Deu o endereço, relutante.

— Estará em casa, mês que vem?

— Sim.

— Então, veio aqui só passar umas férias?

— É — respondeu, sem jeito. Sabia que Marie estava ouvindo e que não gostava do rumo daquela conversa. Mas não podia fazer nada.

Ryan observou-a.

— É um lugar muito distante para se vir passar só duas semanas.

— Três — ela corrigiu e imediatamente sentiu-se ridícula. — Sim, acho que é, mas vale a pena. É uma linda parte do mundo. Também veio passear?

— Não. Eu moro aqui. Pelo menos, durante três meses no ano.

— Enquanto escreve?

— Sim. Preciso de sossego e isolamento.

— Pensei que fosse difícil encontrar isso em Nassau — ela disse forçando um sorriso.

— Não fico em Nassau.

Ele não procurou explicar mais; recostou-se na cadeira, observando o garçom que chegava com os drinques.

— Ao que brindaremos? — Neil perguntou, e Marie riu.

— Já que somos todos ingleses, que tal brindarmos à rainha e à Inglaterra?

— Muito distantes. Que acha de brindarmos às amizades... velhas e novas?

Ela ergueu o copo dizendo:

— Eu o acompanho..

Ryan não tocou em seu cálice. Gina também não. Um cheiro de charuto Havana misturado com perfume francês pairava sobre eles. A noite estava linda, iluminada por uma imensa hia e estrelas. Nenhuma poluição ofuscava seu brilho. Há uma semana, ela apenas sonhava com aquilo. Seria real?

— Quer dar um passeio pela praia? — Ryan perguntou, num tom casual. — Acho que não temos tempo para ir muito longe.

Outros casais passeavam na areia. Gina concordou: qualquer coisa era melhor do que ficar assistindo às encenações de Marie.

— Sim, gostaria muito.

— E vocês dois? — ele falou, virando-se para Neil e Marie.

— Nós vamos dançar. — Ryan puxou a cadeira de Gina e piscou para o amigo:

— Voltamos logo.

Desceram os degraus que levavam à praia. Ele era alto, atlético, de ombros largos e quadris estreitos. Sentiu-se tensa, como se ele lhe perturbasse os nervos... Talvez fosse a atração que ele emanava. Bem, tinha certeza de que não era a primeira, nem seria a última mulher a achá-lo atraente. Sem saber por quê, aquele pensamento a deixou deprimida.

Ryan não fez nenhuma tentativa para continuar a conversa. Parecia contente em andar pela areia, com as mãos nos bolsos.

— Devia ter trazido um xale — ele disse, depois de alguns mi-, nutos.

Gina riu.

— Não numa noite como esta!

— Está frio para Nassau. Estamos no inverno, sabia?

— Sei. A estação dos furacões, de acordo com os folhetos que li.

— Não podia vir mais tarde?

— Seria caro demais. Eu tenho... — parou de repente, percebendo ter falado demais. Afinal, que importava? Não tinha nenhum sentido querer aparentar o que não era.

Dirigiram-se a um caminho entre as palmeiras. Pareciam estar sozinhos.

— Você está fazendo um jogo perigoso — ele disse, ríspido. — Atrevo-me até a afirmar que sabe disso.

— Eu... não sei o que quer dizer...

— Não pense que sou bobo. Você está passando férias num lugar que não pode pagar. O único jeito é conseguir alguém que lhe pague a conta.

— Não é verdade! — Parou de caminhar e virou-se para ele, furiosa. — Você não...

— Eu compreendo... e muito bem..Acontece o tempo todo. Não estou dizendo que não vai dar certo. Você é jovem, atraente... e inteligente — ele riu.— Inteligente demais, eu diria, para se envolver em algo deste tipo. Como conheceu aquela outra?

— Se está falando de Marie, por favor, não se refira a ela desse modo.

— Ela está caçando um homem rico. É tão claro como a luz do sol.

— O seu amigo não parece pensar assim.

Ele riu, um riso curto, sem alegria.

— Neil conhece uma pechincha de longe. Já está preparado para isso. Tem muita prática. Ela pode conseguir ficar aqui de graça, as três semanas, se fizer o jogo certo.

Gina estava furiosa. Ergueu a mão para atingir o rosto dele. Seu punho foi agarrado com força e ela deu um grito.

— Não pense que vou virar a outra face — ele disse. — Não será a primeira vez que bato numa mulher.

— Isto não me surpreende! — ela arrancou a mão e esfregou o pulso machucado. — O que lhe dá direito de julgar os outros?

— Não estou julgando. Estou só avisando. O que a sua amiga quer é só da conta dela. Acho que é capaz de cuidar de si mesma.

— E acha que não sou?

— Tenho certeza disso. Você vai se colocar numa situação sem saída. — Fez uma pausa. — A não ser que pague seu próprio jantar e esteja acostumada a dormir em uma cama estranha. Talvez, eu esteja pregando por uma causa perdida.

— Porco! — Lágrimas de humilhação surgiram em seus olhos. Virou-se para voltar. Tropeçou e ia cair, quando ele a segurou. — Não me toque! Não preciso da sua ajuda! — gritou.

— Você precisa de alguma coisa — ele disse, aborrecido —, mas não sei o que é. — Encarou-a, e sua expressão suavizou-se. — Talvez isso a ensine.

Ela ficou tensa e ele a puxou. Gina sentiu aquele corpo forte de encontro ao seu. Seus lábios se uniram. Os dele eram rudes, fortes, separando os dela; suas mãos a acariciavam. Nunca tinha sido beijada com tanta brutalidade. Quando ele a soltou, não conseguiu olhá-lo. Esfregou os lábios machucados.

— Isto é só um exemplo — ele disse. — Vai ficar tudo muito pior, se tentar brincar com as pessoas sem caráter, que geralmente se encontram em lugares como este. Acha que conseguirá se sair bem?

— Eu nunca disse que me sairia bem. — Estava trêmula, os lábios queimando, o corpo todo parecendo vibrar com o toque dos dedos dele. — Você não tinha nenhum direito de fazer isso!

— Você precisava disso. Se tem algum bom-senso, vai desistir dessa loucura. Quanto dinheiro ainda tem?

— O suficiente para provar que você está errado!

— Espero que sim.

— E por que deveria se incomodar? — perguntou, sentindo uma enorme vontade de chorar. — Nem ao menos me conhece.

— Talvez, porque eu seja um cavalheiro à antiga. Está pronta para voltar?

— Voltarei sozinha.

— Não. Tenho de ir lá pegar um táxi.

— E o seu amigo? Pensei que tivessem vindo juntos.

— Viemos. Mas isso não significa que vá interrompê-lo. Sei lá o que ele já conseguiu. Não vou levá-lo de volta à cidade.

— Eu lhe disse...

— Já sei o que me disse. Mas não me convenceu. Já vi muitas do tipo dela e não costumo me enganar.

Gina engoliu o insulto. Não se arriscaria a repetir a cena dos últimos minutos. A atração que sentira por Ryan tinha desaparecido. Agora, ela o detestava. O modo como a beijara... como a tocara... não precisava ter feito aquilo. Ele a havia degradado, tratando-a como uma prostituta.

Chegaram ao terraço em silêncio. Não havia sinal dos outros. Ryan pegou a bolsa de Gina e lhe estendeu. Caminharam em direção à entrada do hotel. Se Marie e Neil estavam dançando, ela não viu. Não se atreveu a procurar, pois sentia sobre ela o pesado olhar de Ryan.



  

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