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This side of paradise 8 страница



Passou quase todo o dia seguinte fora do escritório, acompanhando um fotógrafo que retratava um grupo de cantores a serem promovidos pela sua empresa. Voltou às três e disse a Hugh Fisher que tudo estava indo bem.

— Ótimo — ele respondeu, distraído. — Seu amigo telefonou, enquanto você estava fora. Vai ligar para ele agora?

— Se está se referindo a Ryan Barras, a resposta é não.

— Problema seu. Mas acho que ele não desistirá facilmente.

— Você o conhece bem, Hugh?

— Não o tenho encontrado muito, ultimamente. Já tomamos alguns drinques juntos e, uma ou duas vezes, convidei-o para jantar em minha casa. Sheila e as crianças o adoram.

— Além de toda a população feminina do mundo.

— Se acredita em tudo que publicam — ele respondeu, rindo —, é mesmo muito inocente. Um homem pode ter trinta e quatro anos, ser solteiro e ter suas aventuras. Mas ele precisa ser, no mínimo, um super-homem, para merecer divulgação na imprensa. — O telefone tocou. — Acho que é ele outra vez. Quer atender?

— Não — Gina falou, categórica, sabendo que estava sendo ridícula.

Apesar disso, ficou por perto, observando Hugh.

— Sim — ele disse —, ela já voltou, mas não quer falar com você. — Ouviu durante um momento, parecendo furioso; depois, seu rosto se acalmou. — É, acho que está certo. — Colocou o fone no gancho e a olhou. — Ainda está aí?

— O que ele disse? — ela perguntou, impulsivamente.

— Que as mulheres são um inferno — Hugh falou, dando de ombros.

— Só isso?

— E que mais você queria? Ele não insistiu. Acho que resolveu aceitar suas negativas.

— Não é do temperamento dele fazer isso — disse, sabendo que Hugh concordava.

Ao sair do trabalho, a tarde ainda estava quente e, o céu, claro. Gina sentiu vontade de caminhar e respirar ar puro. Queria ir para qualquer lugar, menos para a solidão de seu apartamento, onde, sem dúvida, teria que conversar com a sra. Robinson.

Sentiu que alguém a segurava pelo braço. Sem se virar, soube que era ele.

— Você me deve uma explicação — Ryan disse, perto do ouvido dela. — Estou esperando há uma hora.

— Tive trabalho extra para fazer. Como podia saber que você estava aqui?

— Não é sobre isso que estou falando. Não entendi o recado que deixou para mim, ontem à noite.

Ela se virou e o encarou.

— Mudei de idéia. Arranje outra pessoa para fazer aquele trabalho.

— Agora não dá mais. Você disse que aceitava. Você concordou

— Eu disse que iria ontem à noite. Só isso.

— São detalhes — ele comentou, impaciente, em terminar o que começou!

— Por que você mesmo não faz o trabalho? Sabe bater a máquina e, melhor do que ninguém, pode colocar em ordem as anotações, — A voz dela endureceu. — Ou será que tem outras coisas a fazer?

Ele a olhou, durante um longo momento, com uma estranha expressão.

— Não podemos ficar discutindo aqui na rua. Vamos tomar um táxi.

— Terá muita sorte se achar um a esta hora. — Indicou o trânsito engarrafado. — Vê algum vazio?

— Está bem. Então, vamos caminhar. Park Lane não é longe.

— Tenho que ir para casa — protestou, mas percebeu que não falava com convicção suficiente. — Ryan, não quero fazer o trabalho para você!

— Por quê? — Segurou-a pela mão. — Vamos conversar sobre isso mais tarde. Venha.

Com muita sorte conseguiu um táxi, que os levou ao Hilton em poucos minutos, cortando caminho por ruas pouco movimentadas.

A suíte estava do mesmo jeito que ela havia deixado. Ryan tinha apenas mexido na pasta das anotações, ao lado da máquina de escrever,

— Tire o casaco — ele disse, oferecendo-se para ajudá-la. — Está com fome?

— Não, ainda. — Tirou o casaco de lã verde que combinava com a saia e o colocou no encosto de uma cadeira. Ficou de pé, com um ar desafiador. — Também não estou com sede.

— Não lhe ofereci nada para beber.

— Quer dizer que a empregada temporária não tem direito a bebidas?

— Podemos mandar buscar vinho — ele sugeriu, irônico. — Que tal um branco-doce?

— Que bobagem! Eu estava imaginando quanto tempo você ia demorar para voltar a sua personalidade verdadeira.

— E agora já descobri. Por quê, Gina? Por quê mudou de idéia? Você parecia tão disposta ontem. Fez o trabalho com tanta dedicação! Será que a história a aborreceu tanto?

— Não. Claro que não me aborreceu.

— Então, deve ter sido outra coisa. Talvez o telefonema de Leila. Ela disse que você cortou a conversa.

— Eu estava ocupada. Foi só isso. Não tinha tempo para conversar. Dei o recado. O que mais ela queria?

— Estranho, tive a impressão de que gostou dela, na outra noite.

— Admirei o talento dela... e sua beleza. Acho que acontece o mesmo com a maioria das pessoas.

— Geralmente, as mulheres não são tão generosas. Ela sempre desperta um pouco de inveja.

— Então, procure não apresentá-la as suas futuras namoradas. — Gma já não se importava mais com o que falava; só queria magoá-lo. — Ou às que já arranjou agora.

Os olhos cinzentos pareceram se iluminar.

— Ah, então é isso! Você achou que ela ia me pedir para ajudá-la a se separar de Ronald. E isso a perturbou.

— Não foi assim — negou, furiosa. Mas percebeu que ele não acreditava. Ryan estava se aproximando, sorrindo. Esticou os braços, para afastá-lo. Foi recuando, passo a passo, até esbarrar na poltrona.

— Não, Ryan! Deixe-me em paz!

— De jeito nenhum. Pensei que ia ter que gastar toda uma semana para destruir os esquemas de proteção que você armou a sua volta.

Aproximou-se dela. Abraçou-a e seus lábios se encontraram. Agora, ela já não queria mais se afastar. Correspondeu, pressionando o corpo contra o dele, incapaz de resistir. Poderia se arrepender mais tarde, pensou. Mas, naquele momento, não importava. Ela o queria. Sempre o desejara. Sempre iria desejar.

Ele a carregou para o sofá, tirou sua blusa, e ela não protestou. Só estava preocupada em sentir aquelas mãos tocarem sua pele. Os olhos cinzentos de Ryan pareciam cheios de luzes. Sorriu, quando ela o puxou, abraçando-o, quase com agonia.

Gina murmurou o nome dele. De repente, sentiu todo o corpo ficar tenso, à lembrança dos acontecimentos da ilha. Em mais uns minutos ele se levantaria e ela ficaria ali, indefesa, à mercê do olhar crítico de Ryan. Só que, daquela vez, seria diferente. Ela é que o abandonaria. Teria, enfim, sua vingança!

Ela o surpreendeu completamente, quando o empurrou e se sentou. Foi tão rápida que já estava completamente vestida, quando ele a olhou.

— Por quê? — Ryan perguntou, com voz rouca.

— Porque lhe devo isso. É um inferno, não é?

O rosto dele se transformou numa máscara amedrontadora.

— Você, sua hipócrita miserável! Você planejou tudo isso!

— Estranho, não? A mesma atitude que você teve, partindo de uma mulher, lhe parece uma sujeira. Agora, sabe como eu me senti.

— Não, não ainda. Mas pretendo saber.

— Acho que não. Não numa suíte do Hilton. Precisa zelar pelo seu nome. Carícias são uma coisa, mas tentar violentar uma moça virgem é algo bem diferente. Pergunte ao Hugh... ele lhe dirá.

— Não vou perguntar nada a Hugh. E não estava falando sobre tentativas de violentá-la.

— Oh, claro que não. Nunca precisou usar a violência com as mulheres, não é? É bom desistir. Provei que nada vai funcionar comigo.

— Você não provou nada..... a não ser que é teimosa feito uma mula. — A raiva dele tinha diminuído um pouco, mas nos olhos ainda havia uma ameaça. — Isso não era o que seu corpo sentia há poucos minutos. Seria interessante saber qual dos dois ganharia, se demorássemos mais: seu corpo ou sua mente vingativa. Gostaria de levá-la ao ponto de onde não há retorno. O que seria preciso?

— Não sei, — Seu desejo de magoá-lo já tinha desaparecido. De repente, sentia-se sem energias e desgostosa com a própria atitude. — Não sei mesmo. Deixe-me ir, Ryan. Quero ir embora.

—Tem certeza? — Estava calmo novamente. — Será que o noivo será capaz de satisfazê-la?

— Não sei — repetiu. — Não fomos assim tão longe. Mas há muito mais, no casamento, além de sexo.

— Diga-me quais são os outros ingredientes essenciais.

— Compreensão, por exemplo.

— Quando duas pessoas concordam em tudo — Ryan respondeu, secamente — acho que uma delas é uma grande mentirosa.

— Não foi isso que eu quis dizer. As pessoas podem concordar ou não, sem criarem um problema com isso.

— Algumas; mas duvido que você seja uma delas. — Abraçou-a, evitando que saísse. — O que mais?

— Segurança — disse, com desafio.

Algo estranho brilhou nos olhos dele.

— Devia ter colocado isso em primeiro lugar. É óbvio que, para você, representa muito.

— Não mais do que para a maioria das moças. Todas gostam de se sentir em segurança.

— Mesmo que seja aborrecido? Sabe que não mencionou a única coisa que devia ser importante. Só posso concluir que não está apaixonada por Chris.

 — Claro que eu o amo — corou, violentamente. — Achei que nem precisava falar nisso.

— Você é mentirosa! — O tom dele era definitivo, como o de alguém que não aceita ser contrariado. — Você encontrou um homem que pode lhe dar um estilo de vida agradável e, na falta de outras opções, decidiu ficar com ele. É a mesma atitude da sua amiga Marie. Se for adiante e se casar com esse seu noivo, não poderá achar que é melhor do que ela.

Gina sabia que ele estava certo. Não podia se casar com Chris, pois não o amava. Sem amor, o resto não adiantaria nada. Precisava admitir a verdade. Procurou responder, com voz alegre e inconseqüente:

— E o que sugere que eu faça?

— Venha comigo, na semana que vem — ele disse, calmamente, e ela pensou não ter ouvido direito.

Gina não saberia dizer quanto tempo ficou ali, imóvel, encarando-o.

— Isso só pode ser brincadeira — conseguiu dizer, finalmente.

— Não estou brincando. É uma proposta séria. Claro que não inclui nenhuma segurança, nem compatibilidade total. Mas poderemos nos divertir muito, durante um certo tempo. Você já sabe das minhas condições. Um ratinho durante o dia e uma mulher sensual à noite. Foi como explicou tão bem!

Gina não acreditava que ele estivesse mesmo falando sério. Aquelas coisas não aconteciam com garotas do tipo dela. Mas, há sete meses, coisas estranhas haviam começado a acontecer. Agora, a proposta de Ryan nem era assim tão fantástica, comparada com as experiências anteriores. Talvez também não fosse a primeira vez que propunha aquilo a uma mulher.

— A palavra é amante — ele explicou, lendo os pensamentos dela. — É um pouco antiquada, mas acho que descreve perfeitamente a situação. A não ser que você prefira algo mais bíblico, do tipo "viver em pecado".

— Pare com isso! — Sentia uma enorme raiva, queimando-a por dentro. — Você deve estar louco, se acha mesmo que eu desceria tão baixo!

— Isso não é descida nenhuma. Nós dois estaremos na mesma posição. Passaremos os fins de semana em Nassau, fazendo coisas que você sempre desejou. E, durante a semana, enquanto eu trabalhar, você poderá se bronzear ao sol. À noite... — Fez uma pausa, sorrindo. — Bem, vamos deixar isso para a nossa criatividade.

Ela não compreendia bem o sorriso dele. Não era nada espontâneo.

— Isso tudo não foi pensado agora. Você já sabia o que ia me dizer!

— É verdade. Vim para a Inglaterra para tentar encontrá-la novamente. Fiquei um pouco perturbado, quando anunciou que ia se casar, mas logo achei que poderia fazê-la mudar de idéia.

— Por quê eu? Há dúzias de mulheres que aceitariam esta proposta, pulando de contentamento.

— Mas foi você que eu escolhi. Passei sete meses tentando esquecer a loirinha que encalhou na minha praia. Não consegui. Este é o único jeito de tirá-la da cabeça.

— Oh, não. Não vou aceitar.

— Prefere se casar com Chris?

— O que eu prefiro não é da sua conta. Por favor, deixe-me sair.

— Não, sem antes reforçar a minha proposta.

Gina lutou, quando ele a fez cair novamente no sofá. Mas Ryan era forte demais. Ela não tinha defesas, a não ser a indiferença.

— Eu o odeio.

— Eu sei. Mas me deseja. Tanto quanto eu a desejo. E é só isso que quero provar, no momento adequado. Não aqui, assim. Posso ter sexo, casualmente, na hora em que quiser. Mas quero você na ilha, comigo, Gina!

— Por quanto tempo? — perguntou ela em tom de desafio.

— Enquanto for bom — respondeu Ryan calmamente.

Sabia o que ele queria dizer. Quem podia marcar um prazo para um relacionamento? Podia ser bom durante uma semana, um mês ou até mais. Entretanto, chegaria ao fim, porque nada mais forte os uniria.

— A resposta ainda é não, Ryan! Não!

— Pense no assunto. Tem até terça-feira que vem. — Ele se levantou, alto, arrogante e completamente no controle da situação. — Vou telefonar, chamando um táxi.

— E sobre o trabalho que queria que eu fizesse?

 — Quer dizer que decidiu fazê-lo? — Sacudiu a cabeça, com um sorriso irônico. — Esqueça. Foi só uma desculpa fiada traze-la até aqui. Sempre trabalhei com minhas anotações manuscritas.

— Então, eu devia tê-las queimado.

— Se tivesse feito isso, a esta hora eu estaria na cadeia, por matá-la. Devia se sentir orgulhosa por ter se aproximado delas. Se não soubesse que tem um certo respeito pela palavra escrita, teria arranjado outro jeito de atraí-la até aqui.

Ele discou um número e falou, rapidamente, no telefone.

— Haverá um táxi a sua espera, lá embaixo. Não se importa se eu não a acompanhar?

— Não — Gina respondeu, abotoando o casaco. Depois, pegou a bolsa e forçou-se a olhá-lo. — Adeus, Ryan.

— Ainda nos veremos, Gina.

— A resposta continuará a mesma.

— É algo que só precisa decidir quando chegar a hora.

Não discutiu com ele; não valia a pena. Se, pelo menos, o amasse... Mas, como podia amar um homem que lhe fazia uma proposta daquelas?

CAPÍTULO IX

Durante a semana seguinte, Gina repetiu aquela pergunta para si mesma, muitas vezes. A carta de Chris chegou na sexta, e não ajudou em nada.

Ele continuava se divertindo muito no cruzeiro. De Pireu, tinham ido para Messina, na Sicília; depois, até Nápoles, onde pegaram novos passageiros, para um outro roteiro. O navio só voltaria à Inglaterra no fim do verão. Chris viria de avião, para passar seu mês de férias em casa. Trabalhava três meses e tinha um de férias: era esse o esquema que o havia atraído tanto.

Naquele fim de semana, Gina tomou uma decisão: não ia esperar três meses, até Chris voltar para casa, para lhe dar a notícia. Procuraria também outro lugar para morar.

A proposta de Ryan continuava martelando em sua mente. Mesmo agora, não tinha certeza se ele falara sério. Não queria pensar no que aconteceria, quando, finalmente, ele se cansasse dela. Homens como Ryan não eram feitos para romances duradouros. Precisavam manter sempre a liberdade. Só queriam alguém que amenizasse suas horas de solidão!

Demorou muito para escrever uma carta a Chris. Não queria magoá-lo, mas também não desejava lhe dar mais falsas esperanças.

Na segunda-feira Ryan telefonou para o escritório. Ela estava plenamente convencida de que tudo aquilo era apenas uma brincadeira de mau gosto dele,

— Eu lhe disse que nós nos encontraríamos — Ryan falou. — Não precisa me dar a resposta agora. Venha jantar comigo esta noite, e então me responderá.

— Esta noite ou agora, a resposta é a mesma — disse, procurando ignorar a emoção que sentia. — Não quero ver você outra vez, Ryan.

— Tem medo de que sua decisão enfraqueça?

— Se prefere encarar as coisas assim... — Não adiantava querer negar. — A sua oferta só é vantajosa para você.

— Então, apesar de tudo, vai se casar com Chris?

— Sim. — Era uma mentira que a livrava das longas Explicações. — Não me deseja felicidades?

— O que eu lhe desejo não pode ser dito pelo telefone. — Fez uma pausa. — Se mudar de idéia, haverá uma passagem de avião a sua espera, na agência de turismo próxima do escritório. Só precisará dar o seu nome, e lhe entregarão a passagem.

— Será que você não aceita um não como resposta? — perguntou, aborrecida.

— Parece que não. Parece também que estive lutando por uma causa perdida. Adeus, Gina.

Desligou, antes que ela pudesse responder. Queria desesperadamente estar naquele avião com ele. Só que não tinha coragem suficiente para se arriscar.

Passou o resto da semana pensando apenas no trabalho. Conseguiu evitar os Robinson, ficando o maior tempo possível no escritório e fingindo estar sempre apressada pela manhã, quando saía. Já deviam saber da sua decisão, por intermédio de Chris. Ele que contasse a história que lhe fosse mais conveniente.

Na manhã de quinta-feira, atendeu um telefonema, totalmente inesperado, de Leila Conley.

— Gostaria de vê-la — a cantora disse. — Podemos nos encontrar depois que você sair do trabalho?

— Para falar sobre o quê?

— Ryan. Acho que houve um mal-entendido entre nós, a respeito do meu relacionamento com ele.

— Se houve, já não tem mais importância. Ele partiu.

— Mas eu continuo aqui. E isso é importante para mim. Venha ao Speakers' Corner, às seis. Poderemos ir até Victoria Gate e conversar no caminho. Agora, tenho que desligar. Estou ensaiando.

Gina passou o dia nervosa. Às vezes, decidia não ir; no minuto seguinte, mudava de idéia. Ainda não tinha chegado a uma conclusão, quando saiu do escritório, às cinco e meia. Não apareceu nenhum táxi e ela resolveu ir ao encontro.

Leila já tinha chegado. O cabelo vermelho estava escondido sob um chapéu elegante, que combinava com o vestido, no estilo dos anos vinte. À luz do dia, dava para ver as rugas nos cantos dos olhos dela, apesar da maquilagem impecável. Era mais velha do que Ryan. Talvez uns cinco ou seis anos. Não que isso significasse algo especial. Muitos homens preferem mulheres mais velhas.

— Vamos andar um pouco — Leila sugeriu.

Andaram lado a lado, até que Gina decidiu quebrar o silêncio.

— O que queria me dizer?

— Eu estava imaginando como começaria — Leila confessou, insegura. — Acho que começarei dizendo que Ryan e eu não temos nenhum caso. Quando lhe telefonei, na outra noite, precisava da opinião dele, e nada mais. Sabe? Durante todos estes anos, pensei em deixar Ronald e tentar fazer carreira fora do clube. Era uma espécie de obsessão. Agora ou nunca. Quando uma mulher chega aos quarenta anos, começa a se sentir em dúvida quanto à vida que leva, em geral... começa a pensar nas coisas que podia ter feito e não fez. — Deu um olhar de inveja na direção de Gina. — Na sua idade tem toda a vida pela frente. Não a desperdice.

Gina não encontrou nada para responder. Acreditava naquela mulher. Ela parecia sincera. Talvez, no passado, tivesse havido algo mais do que simples amizade entre ela e Ryan, mas seria algo que jamais saberia com certeza.

— E o que Ryan aconselhou?

— Ele foi rápido e direto. Disse que era tarde demais, que deixei passar muito tempo, que, agora, era melhor ficar onde estava.

— Tarde demais? — Gina perguntou, indignada. — Mas a sua voz é maravilhosa! E você não parece ter nem perto de quarenta anos.

— Obrigada. Ele disse que era tarde demais para começar a construir uma carreira. Você trabalha com promoções, sabe o que estaria a minha espera. Há dez anos, talvez, eu tivesse conseguido. Agora, tenho uma boa reputação e devo ficar satisfeita com isso.

— Deve amar muito o seu marido.

— Sim, amei... e ainda amo, agora que o pânico passou. Houve épocas em que desejei nunca tê-lo conhecido e acho que elas surgirão novamente, no futuro. Mas, na essência, temos um bom casamento. — Fez uma pausa, olhando em volta. — Isso a ajuda?

— Não, nem um pouco. Ryan pediu que você falasse comigo?

— Não. Foi minha idéia. Ele me disse que a pediu em casamento, mas você recusou.

— Casamento? — Foi a vez de Gina rir. — Ou ele estava mentindo ou você entendeu mal. Ele me pediu que fosse viver na ilha. Casamento nunca foi mencionado. Ele me queria como amante.

— Oh! — O rosto de Leila assumiu uma expressão de surpresa. Finalmente, disse: — É tarde demais para aceitar a oferta?

— Não. Tenho um mês para me decidir. Ele deixou uma passagem de avião para mim, caso decida ir.

— E você não vai?

— Não. — Hesitou, antes de continuar, olhando a outra. — E você iria?

— Não sei. Ele deve desejar muito a sua presença lá.

— Deseja, mas do jeito dele.

— Bem é um começo. Os grandes carvalhos não se curvam com facilidade. E, certamente, você não vai conseguir que ele se apaixone, ficando aqui, a centenas de quilômetros de distância.

— Não sei se conseguiria, de qualquer forma.

— Precisa se arriscar e aproveitar as chances... Isto é, se está apaixonada por ele. — Leila lhe estendeu a mão. — Não estou dando conselhos. É problema seu. Só queria ter certeza de que o meu telefonema não foi mal compreendido. Consegui?

— Sim, Leila, conseguiu.

— Ótimo. O resto é com você. — Deu uma olhada no relógio. — Tenho que voltar voando.

— Então, vá. Vou andar mais um pouco. E obrigada por tentar me esclarecer, mesmo tendo interpretado mal os meus motivos.

— Está bem. Eu devia isso a Ryan. — Leila sorriu e acenou. — Lembre-se do que eu disse: não desperdice sua vida!

Aquilo podia ter dois sentidos diferentes, Gina pensou enquanto a outra se afastava. Poderia desperdiçar meses de sua vida com Ryan e acabar infeliz, quando ele decidisse mandá-la embora... Ou será que era digno da tentativa? Não seria melhor passar alguns meses no paraíso do que nenhum?

Chegou em casa às sete. A sra. Robinson devia tê-la ouvido entrar, mas não a procurou. Gina preferia assim. Seu comportamento nas últimas semanas tinha sido, simplesmente, terrível.

Encontrou uma carta de Chris. Tirou o casaco e fez um café, antes de abri-la.

Teve que ler duas vezes, antes de saber o que sentia. Estava chocada, mas não sofria. Na verdade, sentia-se aliviada. No fundo, Chris lhe dizia as mesmas coisas que ela lhe havia escrito, há poucos dias. O mais estranho era que as duas cartas tinham sido colocadas no correio no mesmo dia. Talvez tivesse sido telepatia. Era coincidência demais. Chris escrevera:

Não me culpe, fui eu quem começou tudo e agora desejo me afastar. Ainda sinto muita amizade por você, Gina. Será sempre uma pessoa muito especial. Só que preciso de mais alguns anos de liberdade, antes que finalmente decida me casar. Espero que compreenda.

Oh, sim, ela compreendia. Muito mais do que ele imaginava. Ele queria aproveitar suas chances e não desperdiçar á vida. Bem, por que não? Pelo menos, estaya sendo sincero consigo mesmo... e com ela.

Provavelmente, naquele dia, estaria recebendo a carta dela. Imaginou o que sentiria. Não importava mais. Estavam ambos livres... para fazer tudo o que desejassem.

A sra. Robinson bateu na porta e entrou. Tinha um ar infeliz.

— Posso entrar?

— Sim, claro — Gina convidou, indicando uma cadeira. — Acabei de fazer café. Quer uma xícara?

— Sim, obrigada. — Olhou para a carta. — Não sei o que dizer sobre esse meu filho. Ele devia ser morto, por fazer uma coisa dessas!

Então, ele tinha escrito para a mãe, contando tudo. Talvez aquela senhora precisasse de mais conforto do que imaginara.

— Sabe que não está falando sério — Gina disse. — Chris não fez nada errado. Todos podem mudar de idéia.

— Você não parece nem um pouco aborrecida — a outra comentou, espantada.

— Talvez porque a carta de Chris tenha tirado um peso da minha consciência. — Deu-lhe uma xícara de café. — Sabe?, nós dois descobrimos que estávamos cometendo um erro. Eu escrevi este mesmo tipo de carta para Chris e a coloquei no correio, no mesmo dia em que seu filho colocou a dele.

Passaram-se alguns momentos, antes que a mulher respondesse. Parecia confusa, aliviada e um pouco indignada. Gina procurou esconder um sorriso. Tinha sido difícil para a sra. Robinson aceitar que Chris quebrasse uma promessa; mas o filho adorado ser rejeitado era algo próximo a um insulto grave.

— Bem, acho que vocês dois combinam muito — comentou, finalmente. — Entretanto, talvez tenha sido melhor descobrirem agora que estavam enganados do que depois do casamento..

— Muito melhor. — Hesitou, antes de continuar. — A senhora compreenderá, se eu disser que estou procurando um lugar para morar? Não importa que nós dois tenhamos concordado, mas me sinto pouco à vontade para continuar morando aqui.

— Ele não voltará para casa durante uma boa parte do ano, e depois do Natal vai fazer um cruzeiro pela América do Sul e Ilhas Canárias.

— Eu sei. Mas acho que seria melhor me mudar.

— Bem, resolva como quiser. Sentirei a sua falta, mas você sabe o que é melhor para você.

Sabia? Gina não tinha tanta certeza.

Sozinha novamente, seus pensamentos voaram para Ryan. Procurou controlá-los, mas não conseguiu. Lembrou-se dos dias que tinham passado juntos, da beleza da enseada e do conforto daquela casinha.

Então, sem poder mais evitar, lembrou-se de como havia se sentido nos braços dele. Ele podia ter uma personalidade muito estranha, mas ela o amava. Sim, amava, Até então, não se atrevera a admitir.



  

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