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CAPITULO XI



CAPITULO XI

 

Caroline voltou a si com dificuldade, piscando ao clarão de uma lanterna suspensa em algum lugar perto do seu rosto. Percebeu mãos passarem rapidamente pelo seu corpo para ver se havia algo que­brado, depois passando pelos seus cabelos e limpando sua testa com algo fresco e úmido. Ouvia também uma voz. Uma voz estranhamente familiar e ainda assim estranha, murmurando seu nome sem parar num tom agoniado: — Caroline! Caroline, pelo amor de Deus, fale comigo!

Seus olhos se abriram e ela viu Gareth sem compreender nada. Ele estava ajoelhado no assento ao lado dela, o rosto pálido e preocupado, os olhos escuros e brilhantes.

— Gareth — conseguiu dizer atrapalhada. — O que foi que acon­teceu?

— Oh, Deus, Caroline! — falou baixo, obviamente aliviado. — Achei que não ia conseguir fazer você voltar a si.

Caroline moveu a cabeça devagar e imediatamente sentiu uma dor forte na têmpora. Colocou a mão na testa, e seus dedos ficaram man­chados de sangue. Ficou olhando para eles, sem perceber logo que era seu sangue. Gareth limpou novamente sua testa com um lenço.

O fato de sentir Gareth perto a deixava mais segura e, por alguns momentos, fechou os olhos tentando lembrar-se do que tinha acon­tecido. O que é que Gareth estava fazendo ali? Por que estava sendo tão gentil com ela? O que é que tinha acontecido para ele agir assim?

— Caroline! — Ele estava novamente falando com ela e seus olhos se abriram. — Como é que está se sentindo?

— Eu estou na perua — disse confusa. — Por que é que ela está tombada desse jeito?

— Você não se lembra?

E de repente ela lembrou-se! Lembrou-se de que David estava per­dido, perdido em algum lugar dessa mata moinada e que ela tinha estado tentando encontrá-lo.

— David... — começou, e viu os olhos de Gareth ficarem alivia­dos.

— David está ótimo — falou confiante. — Não estava perdido.

— Mas...

— Ele foi para Luanga com o pai e a mãe.

— Oh, graças a Deus! — Caroline se esforçou para sentar-se do melhor modo que pôde no assento inclinado. Depois disse: — E o que você está fazendo aqui? Como é que sabia onde eu estava?

— Eu estava procurando por você — respondeu seco. — Você acha que consegue se levantar um pouco para que a tire daí e a colo­que em meu carro? Você está fria e molhada, e quanto mais depressa eu a levar de volta para o bangalô, melhor.

— Cortei minha cabeça?

— É pouco mais que um arranhão — replicou ele, saindo da perua e indo pela valeta. — Ferimentos na cabeça sangram muito. De qual­quer modo já parou. Você deu uma pancada muito forte no volante. Foi uma sorte, pois poderia ter batido no pára-brisa e cortado a gar­ganta.

Caroline ameaçou sorrir.

— Teria poupado a você esse trabalho, não, Gareth? — tentou brincar, mas ele não achou graça.

Ela então lutou, agarrando a porta e fazendo força para passar para o assentou de trás. A porta do lado dela estava presa, apertada de encontro à valeta. Gareth esperou até que pudesse segurá-la com as duas mãos, depois tirou-a do carro e a carregou até a estrada, onde a colocou de pé. A chuva ainda caía aos borbotões e Caroline se sentia estonteada enquanto Gareth descia outra vez para trancar a perua. Fez isso o melhor que pôde, depois voltou para perto dela, a lanterna na mão.

— Você não podia ter entrado em meu carro? — perguntou áspero mostrando a silhueta do outro lado da estrada.

Caroline prendeu a respiração.

— Eu nem pensei — murmurou tremendo.

Gareth segurou em seu cotovelo e a ajudou a atravessar até sua perua, abrindo a porta e procurando algo.

— Aqui tem uma toalha disse. — Sugiro que você tire essa roupa molhada e se enrole nela. Eu olho para o outro lado — resmungou Gareth secamente e sentou-se à direção.

Caroline tirou toda a roupa. Depois deu um jeito de se enrolar na toalha e sentou-se cuidadosamente.

— Pronto, já fiz o que mandou — murmurou, começando a sentir um calor delicioso tomar conta de seu corpo.

Gareth virou-se e olhou para ela pensativamente, acendendo a luz para ver melhor. Empurrou o cabelo dela para um lado e chegou mais perto para ver melhor o ferimento. Caroline fitou-o com olhos tristes.

— Eu... eu acho que tenho que agradecer a você novamente — suspirou. — Como... como é que sabia onde me encontrar?

— Eu não sabia. — Ele afastou-se logo. — Simplesmente eu era um dos que a estavam procurando.

— Procurando? — ecoou ela fraca. — Por mim?

— Claro. — Ele franziu a testa impaciente. — Não tem idéia de que horas são?

— Não. — Ela sacudiu a cabeça, olhando para o relógio que apa­recia por entre as dobras da toalha. — Meu relógio parou. Que horas são?

Gareth levantou o pulso para que ela visse e ela se assustou.

— Onze e meia! Não pode ser!

— Tenho certeza que é. Só me diga uma coisa: o que estava fa­zendo nesta estrada?

Agora foi a vez de Caroline franzir a testa.

— Imaginei que David tivesse ido a pé para Nyshasa.

— E você pensa que esta é a estrada para Nyshasa?

— E não é?

— Não. Você saiu da estrada principal há alguns quilômetros. Esta estrada não vai a parte alguma, só ao pântano.

— Ao pântano? — perguntou fraca. — Que pântano?

— Ele não tem nome. É o que os africanos chamam de água negra. Deus... — não conseguiu continuar por alguns momentos. — Você percebe que se tivesse continuado por esta estrada... — Cerrou os punhos, batendo na direção. — Bem — conseguiu se controlar —, isso não é importante agora; o que interessa é levar você rapidamente de volta aos Lacey. Sabe, há alguém esperando lá por você.

Caroline ficou olhando para o perfil dele.

— Esperando para me ver? Quem?

Gareth olhou de lado para ela.

— Ele disse que é seu noivo! É? Caroline apertou os dedos contra os lábios — Não... Jeremy!

— Jeremy Brent. É esse seu nome, se é que me lembro bem.

— Nossa Senhora! — Caroline não conseguia entender. — Mas o que é que ele está fazendo aqui?

Os olhos de Gareth estavam frios e calculistas. — Como eu já dis­se, ele falou que é seu noivo.

— Mas não é! — As palavras escaparam de seus lábios. — Nós éramos noivos, mas eu desmanchei o noivado com ele.

— E por quê?

Caroline olhou direto nos olhos dele. — Quer mesmo saber?

— Claro, senão não teria perguntado.

— Havia uma veia pulsando rápido no maxilar de Gareth.

— Bem... — baixou a cabeça. — Bem, porque eu descobri que você tinha se divorciado.

O braço de Gareth estava atrás do banco e seus dedos se enter­raram no estofamento.

— E por que isso importava para você?

— Você sabe!

— Eu só sei que você me deu o fora porque queria se casar com algum contador, de olho no futuro. Agora aí está sua oportunidade. Por que não a pega? Eu conheço o suficiente de Londres para saber o que é ser o diretor de uma escola como a de Brent!

Caroline segurou a toalha mais apertado, apesar de agora estar sentindo calor de dentro para fora.

— Se... se você não tivesse se casado com Sharon, nós poderíamos ter nos casado... — sussurrou.

— O que você quer dizer?

— Dentro de seis meses... eu... eu percebi meu erro e queria voltar para você. Mas você já estava casado com Sharon, e a muitos milhares de quilômetros longe de mim.

— Espera que eu acredite nisso? — A expressão de Gareth era amarga.

— É a verdade! — declarou apaixonadamente. — Como você disse, minha mãe me influenciou. Eu era jovem e tola. Demorou um pouco para descobrir como estava errada. Oh, Gareth, você nem ima­gina o que foi, para mim, pensar em você com outra mulher... — Parou de repente, e como se sua voz tivesse por fim penetrado no escudo que ele usara durante tantos anos, puxou-a para si, enterrando o rosto na curva suave de seu pescoço.

— Caroline, Caroline, Caroline — gemia outra e outra vez. — Está querendo me deixar louco?

Seus lábios procuraram os dela e seus braços a apertaram com força.

— E o que você está querendo dizer — falou baixo, os lábios contra a pele macia —, que você quer se casar comigo agora?

— Você está me pedindo? — suspirou ela, e ele fez que sim, continuando a beijá-la.

— Sim, eu estou pedindo, ou dizendo, ou concordando, com qual­quer coisa que você queira — disse, a voz rouca. — Não posso mais deixar você ir embora, não importa o que os outros digam e se você tentar me deixar outra vez, vou atrás de você e... bem, você sabe o que eu queria dizer.

Caroline estremeceu em êxtase, não havia jeito de ela querer largar Gareth outra vez. Ele era seu homem, o único homem que ela amara, os anos haviam provado isso.

— Temos que voltar. Temos que dizer a todo mundo que você está bem. Pessoalmente não posso pensar em nada mais agradável do que ficar aqui com você, mas a vontade pessoal tem que esperar, pelo menos por enquanto — acrescentou Gareth, os olhos perturbadores e sensuais pousados no rosto de Caroline.

Depois apagou a luz e deu a partida no motor. Caroline soltou um profundo suspiro e virou-se para ver melhor o perfil dele.

— Diga, diga que me ama! — murmurou.

— Amo você! — falou baixo, segurando o volante com esforço. — Caroline, por favor! Sou humano, e justo agora gostaria muito de... — Interrompeu-se. — E sobre Brent? O que vai dizer a ele?

— O que você quiser, amor — provocou ela. — Você diz a ele que vai se casar comigo.

— Eu tenho que fazer isso? — Gareth relanceou os olhos para ela. Suas palavras a fizeram pensar. É claro que não podia deixar

Gareth fazer isso. Era obrigação dela. Era ela quem deveria contar a Jeremy.

— Não — disse por fim. — Eu direi a ele. Pobre Jeremy! Que viagem perdida!

Encostou-se em Gareth e ele olhou fixo para ela, deixando transpa­recer todo o desejo que sentia por ela.

— Caroline, sabe o que está fazendo comigo? — indagou.

Ela corou e se afastou um pouquinho, e, ao fazer isso, algo lhe ocorreu.

— David, você disse que ele estava com Charles e Elizabeth?

— É verdade.

— Mas... mas como? Thomas disse que ele não linha voltado para casa.

— E ele não voltou.

— Mas...

— Eles o pegaram em casa de Sandra.

Caroline sentiu um frio no estômago. Até esse momento tinha se esquecido de Sandra. Mas como podia ter feito isso? Ela tinha dito que Gareth ia se casar com ela. Que eles estavam noivos! Oh, Deus, não podia ser verdade! Não agora.

Engolindo em seco, disse: — Em casa de Sandra? Mas... mas ela disse...

— Sim? O que é que ela disse?

Caroline sacudiu a cabeça. Oh, não, pensou. Não agora. Não po­diam ter uma discussão sobre Sandra justo agora.

— Nada — conseguiu dizer, meio trêmula. — Ainda está muito longe?

—- Não. — Gareth parecia impaciente. — Caroline, eu sei o que Sandra disse.

— Você sabe?

— De propósito, ela não disse a você onde o garoto estava.

— O quê? — Caroline o encarou. — Mas por quê?

— Acho que foi porque discutimos sobre você.

Caroline baixou a cabeça.

— Foi antes ou depois de você a ter pedido em casamento?

— Eu pedi a ela que se casasse comigo? — exclamou ele. — Quem é que disse isso?

— Ela.

— Quando?

— A bem da verdade, ontem.

— Oh, Caroline! — Então abraçou-a novamente. — E você acre­dita nela? Meu Deus, que mulher!

Caroline quase não podia resistir ao apelo masculino que sentia nele.

— Parecia razoável — murmurou contra seu peito.

— Acho que parecia mesmo. — Acariciou o rosto dela. — Há dois, não, há três dias eu disse a Sandra que você era a moça por quem eu estivera apaixonado... — Deu um sorriso. — Estivera? Deus, eu nunca parei de amar você! Eu contei a ela... bem, porque ela estava começando a se apoiar demais em nosso relacionamento, meu e dela, e eu tinha que mostrar que não tinha intenção de errar novamente, casando-me outra vez com uma mulher que não amava.

— Oh, Gareth!

— Achei até que ela aceitou bem. Talvez ela pensasse que eu mudaria de idéia. Você vê, eu também disse a ela que, com relação a você, tudo estava acabado há muito tempo — passou os dedos pelo rosto dela. — Deve ter descoberto que tínhamos passado o dia juntos em Nyshasa e decidiu mentir na esperança de que eu nunca descobrisse.

Caroline afastou-se dele.

— E se isso nunca tivesse acontecido? O acidente, e Jeremy vindo aqui, o que você teria feito? Deixaria que eu voltasse para a Inglaterra?

— Oh, Deus, eu não sei. Duvido que deixasse. Você deve ter notado que não posso ficar longe de você mesmo que queira.

— Naquele dia em casa de Nicolas e na ocasião em que meu braço inchou e você veio.

— Sim, aquela vez foi uma coisa, mesmo, não? — A expressão de Gareth ficou séria de repente. — Naquela ocasião tive que me defender de meus sentimentos por você. E quando você começou a me provocar... — Sacudiu a cabeça. — Eu poderia... bem... — Fez uma pausa. — É melhor irmos embora. Vamos ter muito tempo para falarmos sobre isso.

— Sim! Sandra chegou a falar por que não me disse onde David tinha ido?

— Acabou dizendo — disse Gareth secamente, engrenando o car­ro. — Aparentemente queria dar uma lição em você. Ela acha que como babá, você não tem muitas qualidades.

— É, percebi isso.

Caroline parecia tensa e Gareth olhou para ela. Depois virou-se decidido a se concentrar no volante. — Caroline, eu não posso dizer tudo o que quero agora, de jeito nenhum. Vamos voltar para casa e falaremos depois.

— Está bem.

Caroline estava se sentindo gelada. Gareth, quando falava assim, ainda tinha o poder de fazer com que se sentisse como uma estudante tola, e ele estava criando deliberadamente uma brecha entre eles. Por quê? Será que já estava se arrependendo de seu impulso? Será que tinha deixado a atração física passar à frente do bom senso? Ela não tinha meios de saber, mas desejava muito ver tudo resolvido e para que então pudessem ter tempo para conversar sobre tudo o que queriam.

Caroline acordou na manhã seguinte com seu quarto banhado de luz. O sol já estava alto e ela sentou-se na cama abruptamente, encolhendo-se quando a dor na cabeça a fez lembrar-se do acidente da véspera. Mas que horas eram? Ela tinha achado que não ia conseguir dormir, e ali estava agora, passando da hora, e ninguém tinha vindo acordá-la.

Saiu da cama, tinha tantas coisas para fazer, e a lembrança de que logo veria Gareth outra vez a encheu de alegria. Seria maravilhoso ficar com ele, tocá-lo, dividir tudo com ele e saber que ele também queria estar sempre junto dela.

Enquanto lavava o rosto, começou a pensar com relutância em Jeremy. Ainda tinha que enfrentá-lo. Na noite passada, com a emoção da sua volta, e com a preocupação de Elizabeth de que ela deveria tomar um chuveiro e ir direto para a cama, ela só tinha tido a opor­tunidade de cumprimentá-lo, e havia sentido a preocupação dele com o estado das coisas.

Ao enxugar o rosto, sentiu ansiedade. Esperava que Gareth voltas­se essa manhã, como havia dito. Também ele não tinha tido oportuni­dade de falar mais um pouco com ela, pois tinha saído logo a seguir. Ela não queria que ele fosse, tinha tentado dizer-lhe com os olhos que ficasse, que o preferia a todos os outros, mas ele deliberadamente os evitou. Depois de se despedir dos outros, voltou para Nyshasa.

Caroline suspirou. Quanto mais depressa se vestisse e fosse falar com Jeremy, melhor. Ela honestamente não entendia porque ele tivera todo esse trabalho de vir procurá-la, quando ela tinha explicado clara­mente que iam ficar fora durante seis semanas. Mas talvez um pouco do seu aborrecimento fosse porque a presença dele viera complicar as coisas.

Vestiu uma túnica curta amarela, que deixava à mostra boa parte de suas pernas queimadas de sol, e escovou com força os cabelos. Então saiu do quarto e dirigiu-se para a sala.

Ouviu vozes enquanto passava pelo corredor e quando chegou à porta encontrou Charles, Elizabeth e Jeremy juntos conversando.

— Caroline! — De um salto Jeremy ficou em pé quando a viu. — Querida! Como é que está hoje? Oh, estava esperando com tanta impaciência que você se levantasse. Sabe que já são mais de dez e meia?

Caroline conseguiu sorrir.

— Olá, Jeremy. — Depois olhou para os outros. — Bom dia!

Charles e Elizabeth responderam alegres, perguntando como é que estava se sentindo. Charles até se levantou para vir olhar o ferimento em sua cabeça.

— Oh, está tudo bem — brincou ele. — Você vai sobreviver! Caroline passou o dedo devagar pelo lugar. — Acho que tive muita sorte. Onde é que estão as crianças?

— Oh, estão lá no quintal — replicou Elizabeth, levantando-se também. — Você pode vê-los depois. Estão querendo acordar você desde as nove horas. — Agora... — relanceou os olhos para o marido. — Você quer um café?

— Gostaria muito — Charles concordou. — Vou ajudar você. Depois que eles saíram, Jeremy sorriu. — Eles tiveram bastante tato, não acha? — comentou. — Venha se sentar. Quero olhar para você. Quero beijá-la...

— Não, Jeremy — Caroline interrompeu-o, sentando-se em uma poltrona. — Não... não quero beijar você. Vou me casar com outra pessoa.

Jeremy pareceu espantado. Não se sentou, mas ficou de pé, olhando para ela como se não pudesse acreditar no que ouvira.

— Não pode estar falando sério!

— Você sabe que estou, Jeremy. Eu disse a você, antes de vir para cá, que...

— Eu sei o que me contou, Caroline. Quer dizer que está mesmo com intenção de se casar com esse homem, esse Gareth Morgan?

— É verdade.

— Suponho que seja por isso que ele trouxe você meio nua na noite passada! — gritou Jeremy, com raiva.

— Jeremy, eu sei que está magoado e triste, mas eu avisei. De qual­quer modo, o que está fazendo aqui?

Jeremy também soltou um suspiro.

— Vim contar que meu pai faleceu há dez dias.

— Oh, Jeremy! — Caroline levantou-se e ficou olhando para ele. — Oh, Jeremy! Sinto muito! Foi de repente?

— Foi o coração. — Jeremy enfiou as mãos nos bolsos da calça. — Você parece que não percebe o que isso significa.

— Por quê? Você agora vai ser lord Jeremy Brent.

— Você acha que é só isso?

— Não pensei nisso.

— Então é melhor pensar. Vou ter que largar de ensinar e tomar conta das coisas do meu pai. Vou ter responsabilidades muito grandes. Será que a idéia de ser lady Brent não atrai você?

Caroline apertava as mãos.

— Oh, Jeremy. Será que você pensou mesmo que iria fazer diferença?

Ela acabou ficando sem jeito.

— Não, acho que não. É claro que eu tinha esperanças.

— Bem, na verdade sinto muito pelo seu pai...

— Tenho certeza que sim. — Jeremy falou seco. Depois virou-se para ela, a expressão mostrando toda sua frustração. — Caroline, você não está mesmo querendo que eu acredite que vai continuar aqui neste fim de mundo, com aquele homem?

— Se é aqui que ele vai ficar, então vou — respondeu com simplicidade.

— Mas... mas você não pode!

— Pois acho que posso, sim!

Quando Charles e Elizabeth voltaram, a atmosfera da sala estava carregada e eles perceberam isso.

— Bem — disse Charles alegremente, tentando aliviar a tensão —, não foi uma ótima sur­presa encontrar Jeremy aqui, quando voltou, na noite passada, Caroline?

— Olhe, Charles, acho que devo contar a vocês: Jeremy e eu não estamos noivos. Estávamos, mas já terminamos. E a situação não vai se alterar, estou sendo clara?

Elizabeth ficou espantadíssima.

— E você já sabe das novidades que Jeremy trouxe?

— Que seu pai morreu, sim — Caroline concordou.

Elizabeth sacudiu a cabeça, perplexa e olhou para o marido.

— Sei — disse.

— Gostaria de dar um jeito de poder voltar para a Inglaterra imediatamente — disse Jeremy empertigado. — Posso voltar a Ashenghi hoje mesmo?

Charles trocou olhares com Caroline.

— Eu... bem... eu não vejo por que não. — Fez um gesto com a mão. — Tem certeza de que não quer ficar por mais alguns dias?

Suas palavras sugeriam algum tipo de reconciliação, mas depois de olhar o rosto decidido de Caroline, Jeremy sacudiu a cabeça.

— Não, muito obrigado — afirmou baixo. — Vou esta tarde mesmo.

O resto da manhã Caroline ficou perambulando pela rasa, tentando não pensar no que estaria fazendo Gareth e brincando com as crian­ças, sem na verdade se interessar.

Jeremy saiu logo depois das duas horas. Deu adeus a Caroline de um modo meio pomposo, e ela achou que ele estava tentando esconder assim seus sentimentos. Ficou olhando o carro até sumir de vista, depois entrou em casa.

Elizabeth estava esticada no sofá.

— Ele já foi? — perguntou.

Caroline assentiu.

— Elizabeth, você viu Gareth no vilarejo hoje?

— Não, desde que ele saiu daqui, hoje cedo.

— Esta manhã? — Caroline encarou-a. — Ele esteve aqui hoje de manhã?

— Sim, logo depois das nove. Muito antes de você se levantar. Queria ver você. Jeremy disse que você ainda estava dormindo e ele foi embora.

— Jeremy falou com ele?

Na verdade ele estava na sala quando Gareth chegou. Eu ainda não tinha me vestido.

— O que mais foi dito?

— Como é que eu posso saber? — Elizabeth ficou olhando para ela. — E isso tem importância?

— Pode ter. — Caroline virou-se de costas. — Elizabeth, Gareth me pediu em casamento na noite passada.

— O quê? — Elizabeth ficou atônita. Colocou as pernas para baixo e sentou-se. — E... e você aceitou?

— Oh, sim, claro que aceitei.

— Oh, sua danadinha... — Parou, o rosto se abrindo em um sorriso. — Desconfio que foi por isso que você veio para cá.

Caroline ficou vermelha.

— Eu... eu queria mesmo vê-lo outra vez — admitiu.

— Ora! Imagine só! — Elizabeth estava achando mais graça do que aborrecimento. — Espere até que eu encontre o Gareth! Tenho umas coisas para dizer a ele! Todos nós pensávamos que ele estava interessado em Sandra.

— É verdade e ela também! — disse Caroline meio aflita. — Oh, Elizabeth, eu estou preocupada!

— Preocupada? Por quê?

— Bem, você não vê? Gareth disse que voltava hoje de manhã e veio mesmo. Mas falou com Jeremy... Jeremy, que ainda não sabia que eu não ia mesmo me casar mais com ele...

— Você quer dizer que acha que Jeremy pode ter convencido Gareth de que você ia voltar para a Inglaterra com ele?

— É possível. Oh, eu não sei, Elizabeth. Eu só queria que Gareth viesse.

Mas ele não apareceu, e a tarde virou noite, sem sinal dele. Charles que tinha ido à mina de tarde, voltou para encontrar Caroline andan­do de um lado para o outro, na sala, completamente desapontada. No fim foi Elizabeth quem sugeriu: — Acho que você devia levar Caroline até Nyshasa, Charles. Você sabe onde Gareth mora?

— É claro que eu sei — concordou Charles.

— Então vá! Senão esta garota vai acabar ficando com febre, de tanta preocupação!

Caroline olhou para Elizabeth.

— Você não se incomoda mesmo?

— Não, se você mandá-lo de volta bem depressa. Não quero que ele fique horas no carro, esperando por você.

Caroline conseguiu dar um sorriso, mas seus nervos estavam mais tensos do que nunca. Era possível que Jeremy tivesse dito algo, mas e se não tivesse falado nada? E se Gareth é quem tivesse pensado melhor?

A viagem para Nyshasa nunca pareceu tão longa e tão cansativa. As chuvas da noite anterior tinha deixado a estrada cheia de lama e muito escorregadia, e as rodas da perua derrapavam perigosamente nas curvas. Mas, por fim, passaram sobre a ponte da cachoeira e Charles virou em direção ao canteiro de obras da represa. Mas, bem antes de chegarem, Charles saiu da estrada, entrando num caminho orlado de árvores que dava para um conjunto de bangalôs virados para um pátio central.

— Chegamos! — declarou, apontando para uma das casas, onde brilhava uma luz. — É aquele o bangalô de Gareth. Quer que eu espere até que você acabe de falar com ele?

Caroline saiu, sacudindo a cabeça.

— Não... não, Charles. É me­lhor você ir. Se você não estiver aqui, ele não pode me mandar embora, não é?

— Se é assim que quer...

— Muito obrigada por me trazer.

— Não há de quê.

Depois de ele ter ido, Caroline ficou parada por um momento, juntando toda sua coragem para bater à porta de Gareth. E se ele não estivesse sozinho? E se Sandra estivesse ali? O que ela deveria fazer?

Arrependeu-se por não ter pedido a Charles para esperar, mas agora era tarde demais. Já que estava metida nisso, era melhor ir até o fim.

Um ronco surdo escapou da floresta atrás dela e com um grito abafado correu pelo pátio até a casa de Gareth, batendo na porta com toda a força. O ruído inesperado a tinha assustado e ela imagi­nou algum predador saindo da mata para atacá-la.

Escutou passos pelo lado de dentro, depois ouviu o som da porta interna se abrindo, e aí a porta externa se abriu também quase a derrubando do degrau. Caroline deu um passo atrás.

— Olá, Gareth — conseguiu dizer. — Surpresa!

Gareth olhou para ela como se não pudesse acreditar no que via. Então o ronco veio da mata novamente e ela deu um passo à frente, olhando apavorada para trás.

— Posso entrar?

Gareth hesitou um instante, depois saiu do caminho, para que ela entrasse na sala. A porta externa foi fechada e depois a de tela, deixando os dois num mundo seguro de conforto e claridade.

Caroline foi andando na frente dele apreciando a sala, que era muito mais atraente que a dos Lacey. Os móveis eram estofados em cores alegres, tapetes coloridos cobriam o chão, e as prateleiras que ladeavam a lareira vazia estavam cobertas de livros e revistas. O con­junto todo tinha um ar confortável e da cozinha vinha um aroma delicioso de café. Controlando seus movimentos, ela virou-se para ele.

— Que bela sala — disse acanhada. — Não estou interrompendo nada? Estava trabalhando? — apontou para alguns desenhos sobre a mesa da sala de jantar.

— Eu só estava conferindo uma coisa — replicou Gareth depres­sa. — Você não veio até aqui sozinha, espero.

— Não. Charles me trouxe.

— E onde é que ele está?

— Voltou para casa. — Caroline tentou falar com calma, mas não conseguiu, começando a gaguejar. — Eu... eu pensei... pensei que você vinha me ver hoje.

Gareth enfiou as mãos nos bolsos das calças de brim.

— Eu fui, hoje cedo — replicou — mas você não estava por lá.

— Eu estava dormindo!

— Como eu disse, você não estava por lá.

— Não podia ter esperado?

— Para quê? — Gareth olhou para seus pés vestidos só de meias. — Eu falei com Jeremy Brent.

— E o que é que ele disse?

— Foi o que ele "não" disse é que era importante! — exclamou ele, seco. — Pensei que você fosse dizer a ele que não podia se casar com ele!

— Mas eu disse, eu disse! Esta manhã! — Caroline olhou para ele consternada. — Gareth, ninguém me deixou falar com ele na noite passada.

— Ele contou a você que o pai tinha morrido e que havia herdado as terras e o título?

— Oh, Gareth! — Caroline sentiu as lágrimas quentes rolando pelo rosto. — Na verdade, você não imagina que isso valha alguma coisa para mim! — Virou-se, à procura de um lenço. — Que opinião você tem de mim!

Então ele se aproximou, abraçando-a pelas costas, puxando-a contra si, fazendo com que percebesse como precisava dela.

— Oh, Caroline — gemeu rouco. — Me desculpe, me desculpe. Mas ando vivendo sozinho há tanto tempo que acho difícil aceitar o paraíso quando ele aparece a minha frente. Acho sempre que tem alguma coisa que vai dar errado e levar você embora outra vez. As notícias que Brent trouxe me pareceram exatamente isso. Deus! Eu queria dizer a ele que você não ia mais se casar com ele, que eu acabaria matando você antes que isso acontecesse. Mas não pude! Não podia forçar você a ficar comigo. Tinha que ser sua própria decisão. — Suas mãos a acariciavam apaixonadamente. — Durante toda a tarde, fiquei imagi­nando o que você faria; tive visões de você voltando para a Inglater­ra com ele, sem me ver nunca mais!

— Oh, Gareth! — Ela virou-se nos braços dele para poder olhá-lo no rosto. — E eu pensei que você tivesse pensado melhor e preferido Sandra!

— Sandra? — Seus lábios procuraram os dela avidamente. — Não desejo Sandra, só você!

Depois de um longo silêncio, Gareth afastou-se dela com relutância.

— Você quer um pouco de café? — perguntou, e ela assentiu, seguindo-a até a cozinha, pois não podia ficar mais longe dele por um instante sequer.

— Nós vamos morar aqui?

— Você acha que pode agüentar? — Gareth colocou a chaleira no fogo e abraçou-a mais uma vez.

— Na verdade, não me importo com o lugar onde vou morar — murmurou honestamente — contanto que fiquemos juntos.

Gareth enterrou o rosto no cabelo dela.

— Ah! Você tem um per­fume tão delicioso — murmurou, desabotoando a gola da blusa para passar os lábios pela garganta macia. — Como é que vou deixar você ir embora!

Caroline afastou-se para olhar para ele, a expressão ansiosa.

— Ir embora? Não estou entendendo...

Um sorriso satisfeito surgiu nos lábios dele.

— Oh, Caroline — sussurrou — Laurie pode nos casar assim que tratarmos dos papéis, mas não vai ser esta noite, não é?

— Não me leve de volta para La Vache esta noite — implorou.

— A estrada está cheia de lama. Não poderia pensar em você depois ter que voltar sozinho.

Gareth ficou olhando para ela atentamente.

— E o que quer que eu faça?

Caroline moveu os ombros num gesto eloqüente.

— Você não tem dois dormitórios?

— Três, na verdade...

— E então! — Caroline sorriu. — Vou ficar aqui, se você quiser.

— E você tem tanta confiança assim em mim? — Gareth ficou olhando para ela. — Você não tem medo das minhas investidas? Será que o meu desejo de posse possa provocar o nosso casamento?

Um sorriso aflorou nos lábios de Caroline.

— Não, não tenho medo.

— Está bem, está bem — murmurou rouco. — Pode ficar aqui. Deus sabe que eu não quero mandar você embora. Mas sou humano, Caroline, e espero que não se passem muitas noites antes que eu possa compartilhar também uma cama com você, além da casa!

— Imagino o que é que Nicolas vai dizer quando descobrir que nos casamos.

Gareth colocou a palma das mãos no rosto dela e um olhar impa­ciente apareceu em seu rosto.

— Oh, sim — disse. — É mesmo. Você fez aquilo de propósito, não foi? Sair com ele! Só para me deixar furioso!

Caroline teve que sorrir.

— Não saí com ele. Fiquei sozinha com ele uma única vez, quando você apareceu. Mas admito, tentei fazer com que você ficasse com ciúme.

— E conseguiu com sucesso. — As mãos de Gareth se apertaram.

— Havia ocasiões em que... — Sacudiu a cabeça. — Bem, não tem importância, não vai acontecer mais — tocou seus lábios nos dela. — Amo você. — Empurrou-a com firmeza para longe de si. — Agora fique longe e me deixe passar o café, antes que perca o sabor.

Caroline ficou perto da porta, olhando para ele.

— Sei de alguém que vai ficar contente — murmurou.

— Quem?

— Helen.

— Helen Barclay? — Gareth ficou pensando no que ela dissera. — Sim, acho que tem razão. Ela estava muito seca comigo, quando fui ontem até a missão. O que você sabe sobre isso? — indagou mais próximo.

Caroline deu um passo atrás, fingindo susto.

— Só o que eu contei a Helen sobre nós dois, há alguns dias.

Gareth segurou-lhe os pulsos atrás de suas próprias costas, fazendo com que ela ficasse colada a ele.

— Verdade! — perguntou, olhando para ela, que não podia se mover, com ar divertido. — E o que ela disse?

Os olhos de Caroline estavam na altura do pescoço dele e, como sua boca estivesse próxima, roçou os lábios em seu peito cabeludo.

— Não é capaz de adivinhar? — perguntou, contra ele, que soltou seus pulsos para poder abraçá-la.

— Acho que aprovou você como minha esposa — replicou, os lábios quentes e apaixonados contra o pescoço dela.

— É isso mesmo, foi isso que ela disse.

— Então está tudo bem, não é? — perguntou Gareth, brincando com ela. — Porque eu também aprovo...

 

FIM

 


 

 

 



  

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