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CAPITULO VIII



CAPITULO VIII

 

Houve um prolongado silêncio enquanto Caroline pensava no que acabara de ouvir, e depois disse devagar: — E o que devo res­ponder?

— Isso depende de você. Eu já disse o que queria dizer.

— Você absolveu sua consciência sobre o que aconteceu na semana passada, é isso?

Gareth acabou ficando um pouco vermelho.

— Estou com a cons­ciência limpa — disse claramente, mas Caroline percebeu que ele se esforçava para se controlar.

Virando-se, tocou os cabelos sem sentir. Seus pensamentos estavam num torvelinho. Isto era a última coisa que esperava dele, que ten­tasse manter um relacionamento quase anônimo com ela. Mas ele fizera isso, e abria um novo campo de possibilidades.

— Bem — disse, olhando de relance para ele —, já que está aqui, talvez queira beber alguma coisa. Prefere cerveja ou talvez um café?

Gareth hesitou.

— Pensei que quisesse secar o cabelo.

— Já está quase seco e não demora nada fazer o café. Diga se quer. Ela o tinha colocado em posição defensiva, por isso ele fez um gesto de concordância.

— Está bem.

Thomas logo arrumou uma bandeja e Caroline a levou para a sala. Gareth estava de pé, olhando para fora, mas, a seu convite, aceitou uma xícara sem comentários.

Caroline sentou-se na outra ponta do sofá e, enquanto tomava seu café, ficou olhando para Gareth. Então disse: — Por que é que veio a La Vache?

Gareth colocou a xícara na bandeja.

— Eu tinha que trazer alguns remédios que havia prometido ao Lucas.

— Oh, sei. — Caroline ofereceu mais café, mas ele recusou. — E agora vai voltar para Nyshasa agora?

— Vou.

— Leve-me com você!

— O quê? — Gareth levantou-se de repente.

— Leve-me com você. — Caroline olhou para ele com ar ino­cente. — Nunca vi um canteiro de obras e gostaria muito. Não tenho nada para fazer hoje.

Gareth soltou um suspiro.

— Um canteiro de obras não é lugar para mulher. Além disso, eu teria que trazer você de volta e não tenho tanto tempo para perder.

Caroline levantou as sobrancelhas.

— Então vou pedir ao Nicolas — replicou calmamente. — Tenho certeza que ele não reclamaria por me trazer de volta.

Viu o modo como as juntas dos dedos de Gareth ficaram brancas quando apertou as mãos com força. Era óbvio que a idéia dele de manter a paz entre os dois não implicava em outras coisas.

— Caroline, isso é ridículo, e você sabe!

— Por quê? — Ela levantou-se. — Que mal há nisso? Como você disse, eu logo vou voltar para a Inglaterra. É claro que me levar até o canteiro de obras não é tão difícil assim.

— Caroline, vim aqui com a única intenção de colocar as coisas em bons termos. Achei que continuar a agir como estávamos fazendo era bobagem. Mas isso não quer dizer que quero sua companhia mais do que antes!

Caroline se recusou a deixar que ele percebesse que a podia ma­goar. Se essa conversa se deteriorasse em briga como todas as outras, ela podia perder todas as esperanças de que ele a levasse a qualquer lugar, ou mesmo que quisesse vê-la outra vez. Tinha que permanecer calma e razoável, e não deixar que ele torcesse a situação para o lado dele.

— Mas, Gareth — falou, implorando —, não estou pedindo mui­to, esta é a primeira oportunidade que tenho de ir a algum lugar sem as crianças, desde que cheguei aqui. Não é como se eu pedisse a você para sair comigo, para jantarmos, ou qualquer coisa assim. Sou uma professora, estou interessada em conhecer a represa.

— Está mesmo? — Gareth mordeu o lábio inferior.

— Sim, além disso, se pudermos conversar normalmente, não tenho dúvidas que você estará interessado em saber que as coisas mudaram lá na Inglaterra. Oh, por favor, Gareth... Mostre que é capaz de fazer o que disse.

Gareth olhou para ela obviamente aborrecido.

— Está bem, Caro­line — concordou por fim. — Levo você ao canteiro de obras, mas tem que colocar um pouco mais de roupa. Não tenho a intenção de levar uma mulher meio nua comigo!

Caroline escondeu sua alegria.

— Espere-me cinco minutos — afirmou, sua voz soando até meio desinteressada. — Tome mais uma xícara de café.

No quarto rebuscou em suas coisas e descobriu umas calças rosa e uma blusa mais escura, sem mangas. Tirou o short e vestiu as calças e a blusa por cima do biquíni. Depois escovou o cabelo vigo­rosamente, aliviada por ver que ele estava quase seco. Prendeu-o como rabo-de-cavalo com uma fita azul-marinho, e, depois de uma mirada no espelho, estava pronta.

Gareth olhou em silêncio para a figura atraente e depois indicou a porta.

— Avisei Thomas para onde você vai — comentou, enquanto saíam para o carro.

Apesar do fato de Gareth quase não falar, Caroline aproveitou a viagem a Nyshasa. Ele era um motorista muito mais eficiente que Charles ou Nicolas, e guiava o potente carro com toda a facilidade. Uma certa hora um veado cruzou a estrada e Caroline comentou ao ver o manso animal:

— Nunca se sabe o que vai se encontrar nessas estradas, não é? Você já encontrou um animal perigoso, um leopardo ou um leão ou mesmo um elefante? Imagino que os rinocerontes devem ser pe­rigosos!

— Você tem uma imaginação muito viva — comentou Gareth secamente. — Isto não é um parque de safáris, você sabe.

Caroline se recusou a aceitar que ele diminuísse seu entusiasmo.

— Mas existem animais selvagens por aqui, não é mesmo?

— Sim — concordou Gareth. — Mas os gatões gostam demais de sua própria pele, não se arriscam a ser atropelados, e não vemos mais muitos elefantes por aqui, ultimamente.

— Oh — Caroline encolheu os ombros.

Gareth sorriu.

— Você me lembra o David, acha que cada vez que sai, vai ser uma grande caçada!

— Não é isso — protestou Caroline, esquecendo as diferenças e falando impulsivamente. — Só pensei que precisássemos tomar cui­dado, só isso!

— Oh, mas precisamos mesmo! — exclamou Gareth, caçoando.

— Mas nenhum rinoceronte vai aparecer para dar-nos uma chifrada, ou algo tão dramático assim.

— E como é que você sabe?

— O rinoceronte não é tão mau como dizem. Ele enxerga muito mal e precisa confiar inteiramente no faro. Não estou dizendo que, se você interferir na vida dele, ele não seja capaz de atacar para se defender, mas é só isso. Ele não é maldoso.

— Alguma vez algum já atacou você?

— Não, nunca. — Gareth sacudiu a cabeça.

— Mas então nunca se defrontou com um animal perigoso?

— Uma vez tive um atrito com um elefante — comentou Gareth pensativo —, mas a África não é mais uma imensa reserva de caça. Existe gente demais querendo enriquecer depressa, para que as espé­cies valiosas possam sobreviver.

Caroline concordou.

— É uma vergonha. Por que é que as pessoas sempre querem o que não podem ter?

Gareth apertou com os dedos o volante, de direção.

— É uma boa pergunta — murmurou, e percebeu o duplo sentido.

O canteiro de obras ficava a alguma distância acima da cachoeira, onde o Kinzori se bifurcava. Havia muita atividade quando chega­ram. A gigantesca estrutura de concreto já atingia grande altura. Via-se uma rede de estrutura metálica e guindastes enormes. Além do ar grosso de poeira, havia o barulho constante das brocas e dos misturadores de concreto. Caroline não tinha idéia do número de homens que trabalhavam na obra, mas parecia haver centenas deles. A toda a volta a vegetação ia sendo destruída, dando a idéia de uma enorme clareira, feita pela mão do homem, que desafiava a mata ao redor. Havia algo de irreal em tal obra naquele lugar, a quilômetros de distância da civilização, e era muito difícil aceitar que sem a obra, sem a usina hidrelétrica que viria a seguir, não haveria progresso. Assim mesmo, era tão estranha a essa região da África como os traficantes ilegais, que destruíam a vida animal. Se uma usina funcionasse ali, se trouxesse a civilização, para onde iria a vida selvagem? Era um problema insolúvel.

Gareth parou a perua e desceu sem uma palavra. Imediatamente dois homens convergiram em sua direção, cada um deles preocupado com algum problema que necessitava de sua atenção. Gareth ficou ouvindo o que eles diziam, de pé, à vontade, as mãos apoiadas na cintura. Usava uma camisa de brim creme e calças justas marrom, e estava muito atraente, tanto que Caroline resolveu sair do carro para parar de pensar nele. Ficou olhando o grupo, que estava de costas para ela, e sentiu-se demais, naquele mundo só de homens. A sensação pareceu aumentar quando Gareth, aparentemente esque­cido de sua presença, foi andando com os companheiros em direção a um barracão de madeira ao lado da obra. Caroline já havia visto construções parecidas na Inglaterra, eram usadas pelos engenheiros e encarregados para consultas a plantas e desenhos.

Caroline olhou à volta meio deslocada, consciente de diversos pares de olhos escuros fixos nela. Esticando a mão para dentro do carro, saiu com um enorme par de óculos escuros e colocou-os decidida. Eles serviram de anteparo entre ela e seus admiradores, mas bem que desejou que Gareth olhasse para trás e se lembrasse que tinha trazido uma visita.

Para seu desencanto, Gareth entrou no barracão e ela foi deixada sozinha para olhar os arredores. Ficou pensando se Gareth esperava que ela ficasse sentada dentro da perua esperando até que ele tivesse tempo para ela. Estava muito quente e abafado dentro do veículo e ela não tinha vindo até ali para ficar sentada em um carro.

Em vez disso, deu alguns passos em direção ao conjunto de homens e máquinas que flanqueavam o rio Kinzori e ficou olhando a imensa barreira que um dia iria segurar toda aquela água. Era fascinante olhar os homens andando com toda a facilidade em vigas de ferros da largura da mão de uma pessoa, lá no alto. Nem deu atenção quando ouviu um grito de raiva atrás de si. Foi somente quando uma mão firme a agarrou pelo braço, puxando com tanta violência que ela quase caiu. Percebeu então que era Gareth.

Ele sacudiu a cabeça para ela com impaciência.

— Será que não tem juízo? Andando numa construção sem proteção na cabeça! — exclamou e ela viu que ele estava usando um capacete de metal. — Por que não ficou no carro? Devia saber que eu não ia demorar!

Ele empurrou-a para a perua enquanto falava, mas ela protestou, olhando para trás desapontada.

— Eu não sabia — disse. — Será que não posso também colocar um capacete?

Gareth tirou o seu e atirou-o no banco de trás.

— Como eu disse antes, um canteiro de obras não é lugar para mulheres! — E sentou-se à direção.

— O que está fazendo? Eu ainda não vi nada!

— Já viu a obra — comentou calmamente. — Era isso que queria, não era? Além disso, não há mais muito o que ver. No momento, uns dois terços já estão prontos. Devemos terminar dentro de seis meses se não der nada errado. Nosso maior inimigo é a falta de maté­ria-prima, mas esse problema não é só nosso, existe em todos os lugares. Mesmo na Inglaterra. — Encostou o cotovelo na janela aberta a seu lado. — Pronto, isso dá a você uma boa idéia do como é que estão as coisas?

Caroline colocou as mãos na cintura.

— Quer dizer que me trouxe até aqui só para me levar de volta outra vez?

— Foi sua idéia, não minha — disse Gareth, seco.

— Oh... oh! Você... — Caroline tentava desesperadamente con­trolar a raiva. — Ainda não quero voltar! São só onze e meia!

Gareth relanceou os olhos pelo relógio.

— É verdade. — Seus olhos se apertaram. — Então o que quer fazer?

Caroline baixou a cabeça, passando a sandália pelo pó da terra.

— Você podia me mostrar onde mora — sugeriu. — Eu adoraria tomar um refresco.

Gareth bateu com os dedos no volante da direção.

— Caroline, tenho que trabalhar...

— Logo vai ser a hora do almoço — argumentou. — E não me venha dizer que não param para almoçar, porque eu não acredito!

Gareth olhou para ela por mais um momento, depois disse: — Entre no carro!

Caroline hesitou apenas um instante, antes de dar a volta e sentar-se ao lado dele obedientemente. Bateu a porta com força e ficou emburrada em seu canto. Não estava acostumada que falassem com ela daquele jeito, mas o rosto sério dele não permitia observações.

Saíram da obra pela mesma estrada por onde haviam chegado, mas, ao chegar a uma encruzilhada, Gareth tomou a estrada da esquer­da, descendo por entre árvores e arbustos. O caminho tinha lama em alguns trechos, e o veículo derrapou por vários metros antes que Gareth conseguisse controlar a situação, passando sobre pedras e raí­zes, sem ligar para a suspensão do carro.

Caroline gostaria de perguntar para onde estavam indo, mas não queria interromper sua concentração, e apenas ficou olhando por onde passavam, imaginando até onde iriam.

Então escutou um ruído que pareceu delicioso a seus. ouvidos. Era o barulho de água caindo sobre pedras, um som fresco e convidativo no calor do meio-dia. De repente chegaram a uma espécie de clareira coberta de samambaias, no pé da cachoeira. Avistava-se lá em cima a ponte estreita por onde haviam passado, mas estavam quase no fundo da ravina.

Gareth parou o carro e olhou para ela meio exasperado.

— Bem — disse —, isto é mais de seu agrado?

— Oh, Gareth, você sabe que sim. É... é maravilhoso! Gareth tirou um charuto e colocou-o entre os dentes.

— Pelo jeito, Nicolas não trouxe você aqui — comentou, acendendo o charuto.

— Oh, não. Ficamos mais abaixo.

Caroline saiu impulsivamente do carro e foi até a margem, vendo alguns degraus de pedra que desciam até a água que espumava no sopé da cachoeira. Virou-se, pensando que Gareth a seguira, mas só os olhos dele é que a seguiram, olhando para ela de dentro do carro.

Sentindo-se meio embaraçada, ela voltou, tirando pedaços de samambaia que haviam grudado em sua roupa. Quando ia chegando perto Gareth saiu da perua, espreguiçando-se e chamando a atenção de Caroline sobre si, como sempre acontecia.

— Acho que podíamos almoçar aqui — comentou ele. — Gostaria?

— Almoçar? — Caroline espantou-se. — Mas... mas eu pen­sei...

A expressão de Gareth era levemente sardônica.

— Sim, tenho que admitir que não tinha a intenção de servir almoço para você e o que tenho aqui não se pode comparar com a fartura que Nicolas pro­videnciaria, mas pode se servir do que eu trouxe.

— Não estou entendendo.

— É muito fácil. Meu criado arruma um lanche para mim, quando espero passar todo o dia fora. Se acho algum lugar agradável, sento e como. Assim fica mais fácil.

— Sei. — Caroline fez um movimento sem jeito. — Olhe, não gostaria de tirar parte de seu almoço. Só algo para beber já é o sufi­ciente.

— Ora, é verdade? E o que eu devo fazer? Sentar e comer meu almoço enquanto você fica olhando com esses enormes olhos cas­tanhos?

O criado de Gareth tinha preparado um lanche mais do que sufi­ciente para uma pessoa. Havia meia galinha, batatas fritas, alface e tomates, diversos pãezinhos, e também uma garrafa com cerveja gelada. Como havia somente um copo, Gareth tomou na garrafa.

Apesar de Caroline ter afirmado que bastava uma bebida para satisfazê-la, viu-se comendo de tudo o que Gareth lhe oferecia. A galinha e a salada nunca tinham parecido tão boas. Mesmo a cerveja, que ela sempre evitava, estava fresca e saborosa, e muito mais agradável de se beber ao ar livre. Almoçaram sentados numa árvore caída e pres­tando atenção nas formigas e outros insetos que poderiam interrom­per a refeição. Uma ou duas vezes Caroline percebeu os olhos de Gareth sobre ela, com uma expressão indulgente, e seu coração bateu mais depressa quando pensou como ele era mais atraente quando ficava assim. Lembrou-se de outras ocasiões em que tinham comido ao ar livre e de uma vez em que ficaram presos em um barco no Tâmisa durante uma tempestade.

Quando terminaram, Gareth juntou as sobras e colocou tudo dentro de uma caixa no banco de trás da perua. Depois voltou para onde Caroline estava sentada e disse:

— Bem? E agora, o que quer fazer?

— Está perguntando para mim? — respondeu surpresa. Gareth distendeu os músculos. — Não vamos começar a discutir — avisou ele, segurando um bocejo. — Eu não trabalho durante as horas de muito calor. Sugiro que a gente entre no carro e descanse um pouco antes que eu a leve de volta.

Caroline levantou-se, batendo nos fundilhos das calças. — Mas como é que podemos descansar no carro?

— Não há problema. Você pode deitar-se no banco de trás.

— Mas e você?

— Eu uso o banco da frente. Não se preocupe, há bastante espaço.

— Mas você vai ficar confortável? Quero dizer, você é muito mais alto do que eu e existe o volante para atrapalhar.

— Eu não esqueci — caçoou Gareth. — Não se preocupe, dou um jeito.

— Mas, Gareth...

— Bem, então o que sugere? — perguntou, a irritação começando a aparecer. — Que dividamos o banco de trás? Acha que seria uma boa idéia? Porque eu não acho!

Caroline baixou a cabeça.

— Está bem.

Apesar de sentir-se um pouco culpada por ficar com o melhor lugar, Caroline sentiu os olhos pesados assim que sua cabeça se en­costou no banco de trás e só acordou com a gritaria de um bando de periquitos, percebendo onde estava.

Levantou o pulso para ver que horas eram e espantou-se ao per­ceber que já eram três horas e o calor estava começando a diminuir. Sentou-se e parou de repente. Gareth ainda dormia, esticado sobre os dois bancos da frente, as pernas em parte para fora do carro, os braços cruzados atrás da cabeça e a camisa desabotoada, deixando perceber seu peito queimado do sol.

Caroline ficou olhando para ele, os lábios se abrindo ternamente. Parecia tão mais jovem dormindo e era emocionante ficar olhando para ele sem que ele soubesse. Teve um desejo enorme de tocá-lo, de acordá-lo para que percebesse que ela estava ali.

Esticando o braço por sobre o encosto do banco, passou a mão pela abertura da camisa e acariciou-lhe o ombro. A pele era macia, os músculos firmes mesmo no sono. Uma louca vontade tomou conta dela tanto que, quando ele abriu os olhos, ela não retirou logo a mão. Mas Gareth percebeu imediatamente a situação e sentou-se de repente, obrigando Caroline a se afastar.

— Que diabos está fazendo? — gritou zangado, destruindo seu sonho num instante.

Ela ficou olhando para ele sem jeito, vermelha e embaraçada. De­pois, sentindo necessidade de fugir da raiva dele, abriu a porta do carro e saiu rápido. Correu pela clareira até os degraus de pedra, respirando com dificuldade, sem entender a violência do desejo que a tinha possuído. Nunca tinha compreendido o que era sentir necessi­dade de pertencer a um homem, como acontecera agora.

Olhou para trás, para a perua. Gareth continuava lá. Viu o clarão do isqueiro quando acendeu um charuto. Era só isso que significava para ele? Uma fonte de irritação?

E o que podia fazer? Havia tão pouco tempo. Uma coisa era certa: quando voltasse para a Inglaterra, não poderia mais se casar com Jeremy Brent. Nunca se sentira assim em relação a ele.

Olhou para cima, as águas da cachoeira convidavam seu corpo aquecido. Talvez fosse possível tomar banho ali. Não embaixo, onde as águas formavam um redemoinho, mas mais acima, onde as pedras formavam patamares.

Sem mesmo pensar no que estava fazendo, soltou o cinto, tirou as calças e puxou a blusa por cima da cabeça. Depois desceu os degraus de pedra e entrou na água até perto da cachoeira. Nessa distância um chuveiro gelado e delicioso batia nas suas pernas e braços.

Segurando um punhado de arbustos que crescia perto das rochas, ergueu-se até o primeiro patamar de pedra e estremeceu de alegria quando a água gelada a encharcou em segundos. No estado emocional em que se encontrava, a água gelada era duplamente fria, e ela nem esperou para tentar alcançar o segundo patamar. Talvez conseguisse chegar até no alto da cachoeira desse modo.

Mal tinha começado a subir, ouviu a voz furiosa de Gareth atrás de si gritando: — Pelo amor de Deus, Caroline, volte! Vai quebrar o pescoço se cair daí!

Caroline olhou à volta. Gareth estava sobre a pedra onde ela tinha largado suas roupas, olhando para ela zangado. Um tremor pelo que ele poderia fazer com ela se não obedecesse passou pelo seu corpo, mas recusou-se a ser tratada como criança.

— Está tudo bem, Gareth — respondeu, estremecendo, apesar de tudo. — Vá e fume seu charuto! Volto daqui a pouco!

— Volte já! — gritou. — Imediatamente!

-— E se eu não quiser? — Olhou à volta, desafiando.

Gareth hesitou só mais um instante e depois também tirou a calça. Estava usando short azul-marinho e ela percebeu desanimada que ele poderia vir atrás dela se quisesse. No fundo era isso mesmo o que ela pretendia.

Ficou em pânico. Seus dedos tatearam procurando um apoio no patamar de cima, mas as pedras eram lisas e a força da água não permitia que se firmasse. Gareth estava logo abaixo dela agora, e ela olhou apreensiva para seu rosto determinado.

— Está bem, está bem — gritou. — Eu volto. Mas saia do ca­minho.

Gareth ficou de lado e ela virou-se e desceu sem elegância, quase escorregando. Mas seus dedos estavam molhados e se soltaram de onde se segurava. Deu um grito ao ser levada pelas águas.

Então mãos fortes a seguraram impedindo que ela fosse atirada nas rochas lá embaixo. Caroline agarrou-se a Gareth, com o coração na boca.

— Oh, desculpe... desculpe — sussurrou, as lágrimas se mistu­rando com a água que escorria pelo rosto. — Machuquei você?

Gareth não respondeu. Firmou-se no patamar e saltou junto com ela para a margem. Então soltou-a e ela caiu como um pequeno fardo a seus pés, consciente do que ele tinha evitado.

Gareth ficou olhando para ela de cara feia e Caroline encarou-o trêmula.

— Eu... eu já falei que sinto muito — disse sem fôlego.

— Que mais posso dizer?

— Não diga mais nada.

— Mas eu preciso! — segurou um soluço. — Não fique zangado comigo, Gareth, por favor!

Gareth olhou para seu short molhado, colado ao corpo.

— É melhor voltarmos — disse.

— Será que atrapalho tanto, Gareth? — implorou, passando a mão no cabelo molhado.

Os olhos de Gareth se turvaram e ele teria se afastado, se Caro­line impulsivamente não se agarrasse a uma de suas pernas, aprisionando-o e encostando o rosto na pele dele.

— Oh, Gareth — sussurrou ela. — Não seja tão cruel!

Gareth abaixou-se com a intenção de se soltar, mas não deu certo desse modo. Quando seu rosto estava bem perto do de Caroline, ela não resistiu e encostou seus lábios nos dele. Foi como se isso fosse a última gota do controle de Gareth, e ele baixou mais procurando a boca de Caroline com determinação sensual.

Comprimiu com seu corpo o de Caroline afastando qualquer pensa­mento. Segurou com as mãos o rosto da moça, beijando-a em deses­pero.

— Deus do céu — resmungou, boca contra boca. — Como a desejo, Caroline.

Os braços de Caroline passaram pelo pescoço dele, apertando-o mais contra si e gemendo baixinho, enquanto ele a beijava no pescoço, no rosto, nas orelhas. Depois procurou-lhe a boca novamente. — Você é linda, sempre foi. Mas agora é uma mulher, em todos os sentidos da palavra.

As mãos de Caroline acariciavam os cabelos e o pescoço de Gareth.

— Senti tanto a sua falta — sussurrou.

— Verdade? — Ela nem percebeu o tom de zombaria na voz dele.

— Também pensei em você. Acreditaria se eu dissesse que, quando fazia amor com Sharon, pensava em você?

Caroline segurou o fôlego.

— Sharon? Era sua mulher?

Caroline moveu a cabeça de um lado para o outro.

— Mas por que se casou com ela? Você a amava?

Gareth levantou-se um pouco para vê-la melhor. — O que você acha?

— Mas... mas... — Caroline procurava as palavras. — Foi tão... tão depressa...

— Depois do que aconteceu conosco, você quer dizer? — Gareth torceu os lábios. — Sim, bem, isso é fácil de explicar quando se considera os aspectos físicos de nosso relacionamento. Eu amava você, Caroline — respondeu zangado. — Queria me casar com você. Não pude agüentar quando você me deu o fora!

— Oh, Gareth! — Caroline estava se sentindo até doente. — Foi... foi por isso que seu casamento não deu certo?

— Pode dizer que sim. Depois... bem... depois que sua imagem foi esfriando meu entusiasmo também foi. Não pude culpá-la por ter procurado outras emoções.

— E... — Tinha que fazer a pergunta. — E Sandra? O rosto dele se suavizou. — Sandra é muito diferente. Caroline sentiu as primeiras pontadas de ansiedade. — Será... será... que sua mulher suspeitava que houvesse algo entre vocês?

Os olhos de Gareth se ensombrearam novamente.

— O que está querendo dizer? Você está imaginando se foi por causa de minhas relações com Sandra que meu casamento não deu certo? — pergun­tou enraivecido. — Não, não foi isso, sinto decepcioná-la, mas fui eu quem pediu o divórcio, e não ela.

Caroline fechou os olhos. O que estava acontecendo entre eles, perguntou-se desanimada. Ela havia pensado, quando ele a beijara ainda há pouco, que tudo estava bem entre os dois, mas não estava. Como podiam continuar abraçados, como estavam, e falarem coisas tão terríveis um ao outro? O que tinha dado errado?

Olhando para ele, exclamou: — Gareth, não vamos mais nos ma­goar um ao outro!

Gareth traçou com o dedo a linha do pescoço e do ombro de Caroline, baixando para acariciar a pele macia com os lábios.

— Eu acho que não poderei magoá-la, Caroline — falou. — Você tem bastante consciência de sua potencialidade para que isso aconteça. Mas eu quero amar você...

Caroline não se sentia mais à vontade. As palavras dele não tra­ziam segurança. De fato, estava desconfiada de que ele pretendia fazer amor com ela, quisesse ela ou não. O que pensava ele a seu respeito? Seria talvez pela liberdade de vida que ela levava, pudesse condicioná-lo a provocar alguma intimidade?

Mudou de lugar, perdendo o entusiasmo rapidamente. O que é que ele tinha dito? Quais tinham sido as palavras exatas? Que ele a "tinha amado". Era isso. O tempo passado do verbo amar, não o presente, que ela tanto desejava. Então por que estava agindo desse modo? Qual era seu objetivo?

— Gareth! — Tentou empurrá-lo. — Largue-me!

Gareth levantou a cabeça, uma ruga aparecendo entre as sobran­celhas.

— Oh, não, Caroline — murmurou rouco. — Não agora! Não me faça de tolo outra vez!

— Gareth, você não está entendendo...

— Entendo muito bem. Entendo que você é agora uma mulher, uma mulher experiente, uma mulher que sabe viver a liberdade. E acho que, mais que qualquer outro, eu mereço conhecer este seu mundo!

Essa determinação deixou-a apavorada. Pela primeira vez na vida se encontrava numa situação que não podia controlar. Sua luta contra ele parecia incitá-lo ainda mais. Mas o desespero encontrou armas próprias, e, se não conseguia escapar pela força física, somente as palavras poderiam ajudá-la.

— Parece que viver tanto tempo num lugar selvagem tirou de você a noção de decência, seu respeito próprio! — conseguiu falar entre golfadas de ar. — O que acha que Sandra dirá quando souber de um comportamento tão primitivo?

Durante um momento pareceu que não ia adiantar, pois Gareth continuou a beijá-la daquele modo que ela quase não conseguia resis­tir. Mas então, como se o nome de Sandra tivesse erguido uma bar­reira entre os dois, ele a empurrou violentamente e ficou deitado, um braço sobre os olhos.

— Então vai contar a Sandra, não é? — murmurou friamente. Caroline levantou-se, pegando a calça e a blusa. Enquanto ele ficasse ali deitado com os olhos cobertos, ela poderia estabelecer a necessária distância entre os dois. Não respondeu à pergunta. Tro­peçou nos degraus de pedra e correu como nunca até a perua.

Estava vestida e esperava sentada, meio trêmula, quando ele acabou subindo, andando vagarosamente até o carro. Mesmo depois de tudo o que tinha acontecido, ele ainda tinha o poder de fazer com que seu coração batesse mais depressa. Oh, por que ele não podia ver que ela não era vulgar, mas que apenas o amava, e que por isso agia daquele modo?

Gareth não disse uma palavra. Subiu no assento ao lado dela e pegou um charuto. Depois de acendê-lo, ligou o carro, fez a manobra para voltar e subir novamente a ravina. Foi uma viagem terrível, pior ainda que a vinda, mas Caroline teve que ficar sentada em silêncio, agar­rada à beirada do seu banco, rezando para que, se ela morresse, Gareth pelo menos soubesse a verdade sobre ela.

 



  

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