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CAPITULO VII



CAPITULO VII

 

Lucas Macdonald receitou uma série de injeções para Caroline e ela precisava ir à casa dele todas as tardes para tomá-las. Sentia-se muito embaraçada, pois achava que estava dando trabalho, o que era em parte confirmado pelo jeito de Sandra. Ela havia deixado bem claro que achava a atitude de Caroline de um desleixo quase crimi­noso, e tanto ela quanto o pai tinham elogiado a providência que Gareth tomara. Até Elizabeth, quando se recuperou do choque de receber ordens dentro de sua própria casa, teve que admitir que não saberiam o que fazer se não fosse a ajuda de Gareth.

Pelo menos o incidente serviu para que Caroline tomasse mais cuidado com ela e com as crianças.

Apesar de ela imaginar que Gareth voltaria para saber como ia passando, isso não aconteceu, deixando-a desapontada. Mas dois dias depois Nicolas apareceu. Veio à tarde, enquanto as crianças descan­savam e encontrou Caroline e Elizabeth lendo algumas revistas na varanda de trás da casa.

— Boa tarde, minhas senhoras! — cumprimentou-as com galanteria e evidente prazer. — E como está a inválida hoje?

— Se está se referindo a mim, não sou uma inválida — respondeu distante.

— Oh, mas fiquei sabendo que houve quase um pânico aqui, há alguns dias. Estive fora, mas quando voltei e soube do que tinha acon­tecido, tive que vir e verificar com meus próprios olhos.

Elizabeth mexeu os ombros com impaciência.

— Caroline foi mor­dida por um cachorro vira-lata na casa dos Barclay, foi só isso. Ga­reth lancetou o ferimento e impediu que houvesse envenenamento do sangue.

— Ah, sim, Gareth — Nicolas assentiu, olhando para Caroline. — Que sorte ele ter aparecido na hora certa, não?

— Nós nem chegamos a descobrir porque é que ele tinha vindo, não é mesmo, Caroline?

Caroline fez que sim com a cabeça, franzindo a testa, e Nicolas cutucou o pé dela.

— Mas agora já está nova em folha, não é, gatinha?

As sobrancelhas de Elizabeth se ergueram, e Caroline não pôde deixar de ficar embaraçada.

— Sim, já estou boa, obrigada.

— Mas eu soube que ainda está tomando injeções.

— Parece que você sabe de tudo — comentou secamente. Nicolas sorriu. — Esse é o meu trabalho, gatinha. — Agachou-se ao lado da cadeira onde Caroline estava reclinada. — Gostaria de saber se aceitaria jantar comigo esta noite.

Caroline olhou para Elizabeth que parecia ainda mais desconfiada.

— Acho que não — recusou baixo.

— E por que não?

— Acho que você sabe por quê.

— Quero falar com você, preciso explicar...

Caroline sacudiu a cabeça e olhou para o outro lado.

— Hoje não — insistiu com firmeza.

Nicolas deu um suspiro fundo e levantou-se, com os olhos em Elizabeth, como se pedisse que ela os deixasse a sós. Ela relutou por alguns instantes, mas acabou levantando-se.

— Vou arranjar um pouco de chá — anunciou e entrou no ban­galô.

Depois que ela saiu, Nicolas puxou uma cadeira para mais perto de Caroline e sentou-se.

— Agora — disse — podemos conversar.

— Não sei o que temos para conversar.

— Não sabe?

— Não. — Passou a mão pelos joelhos. — Você é casado e isso é tudo.

— Por que está sendo tão incompreensiva? Casamento não quer necessariamente dizer felicidade, você sabe.

— Oh, por favor! Não me venha com aquela história de "minha mulher não me compreende!" Não me interessa que tipo de relacio­namento você tem com sua esposa. O fato de que ela existe já é o bastante.

Nicolas tentou pegar na mão de Caroline, mas ela o impediu. Ele fez cara feia.

— O que há? Você está tão fria, tão distante! Não pode aceitar que um homem como eu aprecie a companhia femi­nina? Só porque sou casado não quer dizer que não ache você perturbadoramente atraente!

Caroline ficou zangada.

— Bem, o caso é que não me envolvo com homens casados.

— Posso lhe assegurar que minha mulher não iria se incomodar.

— Mas eu sim! — Caroline estava boquiaberta. — Não sei como tem a coragem de vir aqui e me falar uma coisa dessas! Se é isso que queria dizer quando falou em explicar-se, então, sinto muito, mas não aceito sua explicação.

Ele deu um soco na palma da mão.

— Mas por quê? Caroline, você só vai ficar aqui algumas semanas. Por que não podemos nos divertir um pouco juntos? É claro que uma mulher jovem como você não vai querer passar todas essas semanas só na companhia de crianças!

— Existem outras pessoas aqui — ela disse.

— Quem? Os Lacey? Os Holland? Os Macdonald? Não consigo imaginar você se divertindo com qualquer deles. Ainda há o Jonas, mas ele é um pouco jovem demais para você, eu acho.

— Não quero discutir minha vida social com você — declarou ela. — Como gasto meu tempo é um assunto só meu.

Nicolas suspirou forte.

— Você não acha que essa atitude é meio antiquada? Ora, até mesmo Sandra Macdonald não acha nada de mais em andar com Gareth.

Os nervos de Caroline deram sinal.

— Mas Gareth não é casado — desabafou.

— Não agora. Mas já foi.

Caroline sentiu algo apertando sua garganta.

— Bem... bem, o que Sandra faz não tem nada a ver comigo.

— Mas não vai nem jantar comigo? — implorou.

— Não.

— Nem que eu prometa que vai haver pelo menos mais meia dúzia de pessoas?

Caroline abriu a boca para recusar, depois hesitou.

— Eu... eu não sei — disse, de repente alerta.

Nicolas se encorajou com a indecisão de Caroline.

— Por favor, diga que vai. Posso mesmo convidar os Lacey para você ter certeza de voltar para casa a salvo.

Ela teve que sorrir diante disso, um sorriso trêmulo, que mostrava o estado de tensão em que se encontrava.

— E quando pretende dar esse jantar?

— Bem, como vou ter mais convidados, é melhor deixar para amanhã — disse ele relutante. — Mas você vai, não vai? Promete?

— Está bem — concordou, porque pensava na possibilidade de ver Gareth outra vez. Provavelmente ele seria convidado. Ficou mais alegre, embora se desprezasse por isso.

Mas Gareth não iria ao jantar.

Ficou combinado que David e Miranda dormiriam na casa dos Macdonald, para que Sandra não precisasse passar a noite sozinha na casa dos Lacey. Caroline, ao levar as crianças de tarde e apro­veitar para tomar a injeção, encontrou Gareth recostado num sofá da sala. Ficou chocada, mas a reação ficou parcialmente disfarçada pelo entusiasmo das crianças ao se encontrarem com ele.

— Você também vai dormir aqui? — perguntou David ansioso e Caroline baixou a cabeça para esconder o rubor. Por que tinha aceito ir ao jantar de Nicolas? Ela não queria ir. Não gostava de reuniões sociais. Tivera esperanças em ver Gareth. E agora ele estava ali...

Gareth levantou-se quando entraram, e Lucas, que tinha aberto a porta, disse: — Venha logo, Caroline. Vamos resolver logo a parte desagradável.

Caroline concordou e, sem olhar novamente para Gareth, acompa­nhou o médico até um quartinho que servia de consultório. Era o equivalente, na casa dos Lacey, ao quartinho que Caroline ocupava, mas os Macdonald só precisavam de dois dormitórios.

Ela nem sentiu a injeção. Estava meio tonta e Lucas olhou para ela apreensivo: — Está se sentindo bem? — perguntou. — Não sen­tiu reação ao tratamento, não é? Nem dor nem paralisia?

— Oh, não, não! — Caroline sacudiu a cabeça, forçando um sorriso. — Estou bem, sinceramente.

Lucas ficou pensativo.

— Sabe, acho que o calor está lhe fazendo mal — disse. — Você trabalha demais. Aquelas crianças deviam ficar mais tempo com os pais. Eu ouvi dizer que você até lava a roupa delas!

— E como é que sabe disso? — Caroline estava espantada. Lucas sorriu e, abrindo a porta, apagou a luz do quarto.

— Nós temos uma rede de mexericos muito eficiente — disse rindo. — Na verdade, Thomas, o criado de vocês contou para o nosso. Eles são primos, você sabe.

— Oh — Caroline assentiu, e se dirigiram para a sala. — Bem, eu preciso ir. Não precisa me acompanhar, doutor. Volto amanhã.

— Não seja tola. Eu nem sonharia em deixá-la ir sozinha — ex­clamou Lucas. — Além disso, Gareth está aqui. Venha tomar um aperitivo conosco.

— Oh, eu não sei... — começou, mas Lucas já tinha entrado na sala, onde Gareth, de joelhos, ajudava David a encher de fósforos um canhãozinho de brinquedo que havia trazido.

Quando entraram, Gareth disse: — Eu acompanho Caroline até a casa dela, Lucas. É bom fazer exercício.

— Bem, então primeiro tome um aperitivo — exclamou Lucas. — Onde está Sandra?

— Está preparando o jantar — disse Gareth, abotoando a camisa azul-marinho. — Quer que a chame?

— Não, é melhor não incomodá-la — murmurou Lucas, em dúvida.

— Olhe, já vou indo — disse Caroline. — Amanhã torno a vê-los. — Olhou para Gareth. — Não é necessário que você venha. É perto. Gareth, entretanto, encaminhou-se para a saída, enquanto ela se despedia das crianças. Abriu a porta de tela para que ela passasse. Lá fora, porém, Caroline começou a andar muito depressa. Gareth também apressou o passo para alcançá-la e acabou por segurá-la pelo braço. Era o braço machucado e ela se encolheu de dor.

— Desculpe-me — resmungou ele com impaciência, mas não a soltou. — Não quero machucar você, quero conversar, e se você continuar a correr desse jeito, não vai ser possível.

Caroline teve que diminuir o passo.

— Eu estou com um pouco de pressa. Ainda tenho que me arrumar para sair.

— Sei. É sobre isso que quero falar com você. — Gareth parou.

— Você vai à casa do Nick hoje à noite?

— E o que é que tem se eu for? — Parecia fria, mas por dentro era como um vulcão.

— Achei que teria mais juízo! — falou secamente.

— O que você quer dizer? — Tomou uma atitude de desafio. — Todo mundo precisa de um pouco de atenção de vez em quando e é bem agradável saber que um homem como Nicolas me acha tão atraente! Ora, até mesmo você, Gareth, precisa da companhia de uma mulher, não é mesmo? Em que tipo de reunião íntima você pretende passar esta noite? E você se esqueceu de responder à pergunta de David. Vai dormir lá esta noite?

— Ora, sua pequena insolente... — Engoliu o palavrão. — Estou com vontade de...

— O que é que quer fazer, Gareth? — provocou ela. — Diga! Estou morrendo de vontade de saber!

A tensão que ele sentia era evidente na força com que apertava o braço dela.

— Gostaria de colocá-la em meus joelhos e... — ele interrompeu, com raiva, o que ia dizer. — Talvez esse castigo a ensi­nasse a ter mais respeito. É certo que sua mãe não lhe ensinou isso, e é uma pena!

— Deixe minha mãe fora disto!

— E por quê? — Gareth estava zombando. — Ela é a culpada de muitas coisas.

Caroline acabou ficando com medo da violência que tinha descar­regado.

— Por favor, Gareth, solte-me. Sua namorada vai ficar ima­ginando por que está demorando tanto!

Gareth olhou para ela, a raiva transparecendo mesmo na obscuridade. A pouca luz que vinha da janela de uma casa perto de onde se encontravam mal iluminava a cena, mas ele a puxou dali para um lugar mais escuro. Então soltou seu braço, mas agarrou Caroline pelos ombros e a sacudiu com violência.

— O que é que você quer, Caroline? — inquiriu, com voz tor­turada. — O que é que a satisfaz? Parece que está tão desesperada para chamar a atenção masculina que talvez eu tenha que satisfazê-la! Acho que não sei como enfeitar o assunto. Eu pensei que você dese­jasse uma ligação mais permanente. Parece que eu estava errado, e como você é uma mulher atraente, não vejo razão alguma para desis­tir do que é oferecido de graça...

Caroline se engasgou, as palavras dele agindo como uma ducha gelada.

— Como... como se atreve? — Mas ele não estava escutan­do. Suas mãos tinham ido para o pescoço dela, os polegares contra a veia que pulsava. Por um momento, quando ele olhou dentro dos olhos dela, Caroline percebeu o despeito por trás da raiva, mas então os lábios dele se encontraram com os dela.

Caroline tentou resistir. Não era desse modo que tinha planejado que ele a desejasse. Não era para isso que tinha voado através de meio mundo. Era só uma cópia falsificada, e ela percebeu que havia se esquecido de que ele era experiente em matéria de amor. Talvez, se ele fosse violento ou tentasse alguma coisa com brutalidade, ela teria conseguido resistir, mas sua boca unira-se à dela com paixão crescente e suas mãos a seguravam firmemente junto dele.

De repente ela se sentiu fraca e soltou-se, as mãos presas contra o peito dele, mas nem sentia dor. Por que resistir, quando todas as forças do seu ser pediam a satisfação que somente ele podia lhe dar? Ela ouviu seus gemidos ao se apertar contra ele, mas de repente ele a empurrou para longe, deixando-a completamente tonta.

— Oh, Deus! — gritou Gareth desesperado, passando a mão com força pelos cabelos. — Que tipo de homem você pensa que eu sou? Quanto você imagina que eu possa agüentar? Queria que eu perdesse o controle completamente e fizesse amor com você aqui, onde todo mundo pudesse ver?

— Gareth...

— Não! Não, pelo amor de Deus, não diga nada — exigiu, com rugas de tensão ao redor da boca. — Vá para seu jantar! Parece que eu estava errado. Nick é mais bem preparado para lidar com você do que eu!

— O que é que você está dizendo?! — olhou para ele desanimada.

— Talvez você e ele sejam da mesma espécie — falou mais para si mesmo. — Cada um de vocês dois se interessa mais por si do que por qualquer outra pessoa.

— Isso não é verdade...

— Não é? — Gareth virou-se para o outro lado. — Vocês não se incomodam com o que fazem, a quem magoam, contanto que con­sigam o que querem. É uma triste qualidade que vocês dois possuem.

— Gareth, por favor... — Esfregava as mãos desesperada. — Não consegui me controlar, como você também não conseguiu. Acon­teceu. Sempre foi assim com a gente, não se lembra?

Gareth enfiou as mãos nos bolsos da calça.

— A casa dos Lacey é do outro lado da rua. Atravesse, que eu espero aqui até que você chegue lá em segurança.

— Oh, Gareth, você não pode fingir que não aconteceu! Eu não planejei nada, se é o que está pensando.

— Indiretamente foi isso que você fez.

— Como? De que modo?

— Se você não tivesse vindo aqui, se não tivesse vindo me pro­curar, nós nunca mais, com toda a probabilidade, nos encontraríamos.

— Você acha que não?

— Bem, poderia existir uma possibilidade remota. Poderíamos nos encontrar acidentalmente se algum dia eu voltasse a Inglaterra, para ver minha irmã. Mas seria somente um encontro casual.

— Você não pode negar que desejava me beijar agora mesmo.

— Não, não posso negar.

— E se as coisas tivessem sido diferentes, se estivéssemos em algum outro lugar, você teria... você teria...

— Eu teria o que, Caroline? — Seus olhos estavam duros e frios. — Feito amor com você? — Olhou de um modo desagradável para ela. — Está bem, não vou embaraçá-la, não duvido disso.

— Seu... seu porco! — Caroline não podia acreditar no que ouvia. Não podia acreditar que ele pudesse se transformar tão com­pletamente do amante apaixonado e sensual de pouco antes no ho­mem grosseiro e frio que estava fazendo com que ela se sentisse barata e suja. Seu braço estava começando a latejar pela pressão do aperto dele e a necessidade de fazer com que ele acreditasse nela estava sendo substituída por autocomiseração. Estava louca de von­tade de chorar, mas fazer isso em frente dele seria mais um convite ao sarcasmo. Ele já lhe dissera também o que pensava das lágrimas.

Depois de se armar do resto de seu controle, virou-se, olhando para um lado e para o outro do caminho. Só faltavam alguns metros para a casa dos Lacey. Claro que ela conseguiria chegar até lá sem se deixar levar pela emoção. Começou a andar, tremendo, e quase caiu quando o ouviu dizer: — Boa noite.

Boa noite! A palavra doía nos seus ouvidos. Como se ele pudesse fazer o que fizera com ela e depois esperar que ela respondesse como se não tivesse acontecido nada!

Não respondeu. Nem podia. Estava engasgada. E não podia nem pensar no jantar na casa de Nicolas...

Durante a semana seguinte, tanto David quanto Miranda passaram mal do estômago. Elizabeth, que deixou o trabalho de lavar todos os lençóis manchados para Caroline, ficou culpando a comida de Thomas, mas se pensou que Caroline também se encarregaria de cozi­nhar acabou desapontada e teve ela mesma que providenciar algumas refeições simples para a família.

Os dias se passaram absurdamente depressa. Já fazia quase três semanas que haviam chegado em Tsaba e Caroline não podia nem pensar que dentro de mais três semanas estaria de volta a Londres, e nunca mais veria Gareth.

Nicolas vinha freqüentemente visitá-los, apesar de Caroline não querer nada com ele. Trazia doces e presentes para as crianças, e uma vez uma caixa de bombons para Elizabeth, mas Caroline sabia que eram apenas pretextos para vê-la, e embora isso alimentasse seu ego, como ela havia dito a Gareth, também incomodava bastante. Não queria ver Nicolas, não queria sua admiração; e também nem se atrevia a imaginar o que Gareth pensaria se Nicolas contasse a ele quantas vezes ia a La Vache.

Seu braço já havia sarado, não doía mais, mas ela ainda conti­nuava com as injeções na casa de Lucas. Era a parte do dia de que menos gostava, pois às vezes via Sandra Macdonald e tinha que ouvir suas conversas sobre Gareth. Andava meio desconfiada de que a outra achava que ela estava interessada no engenheiro e deliberadamente falava sobre Gareth quando Caroline estava presente, para mostrar como eram íntimos. E provavelmente Sandra falava a verdade. Ga­reth ia muitas vezes à casa dos Macdonald e as famílias européias achavam que era somente uma questão de tempo para que eles se casassem.

De vez em quando Caroline ficava pensando em como seriam as relações entre os dois antes que a mulher de Gareth o deixasse. Pro­curava imaginar o que teria causado a separação, e a idéia de que Sandra talvez tivesse algo a ver com aquilo a deixava até meio doente. Caroline nunca tinha se encontrado com a mulher de Gareth, mas tinha ouvido sua mãe falar sobre ela. Sua mãe não tinha perdido tempo em aborrecer Caroline com o assunto, dizendo que ela é que tinha estado certa, que Gareth não era diferente dos outros homens, que não a tinha amado de verdade, senão não teria arranjado outra tão depressa. Na época tinha parecido uma opinião correta, e Caro­line tinha chorado noites e noites, pensando que agora não havia mais chance alguma de ela reconquistar Gareth.

Na sexta-feira, no fim daquela semana, Charles tirou o dia de fol­ga. Sugeriu, apesar de as crianças ainda estarem meio pálidas, faze­rem um piquenique e visitar a reserva de caça de Kywari, a uns sessenta quilômetros. Elizabeth ficou animada e as crianças mais ainda, mas Caroline não quis ir. Tinha sido uma semana exaustiva e queria aproveitar o dia sozinha.

— Vão vocês, eu fico aqui — disse.

— Mas você vai ficar sem ver os elefantes! — exclamou David consternado. — O papai disse que talvez a gente veja um rico... rice... — Olhou apelando para o pai. — Como é o nome?

— Um rinoceronte — disse Charles.

— Está bem. — Virou-se para Caroline. — Talvez a gente veja um rinoceronte! — Seus olhos estavam bem abertos. — E papai disse que sempre há bandos de girafas e zebras. Você não vem mesmo?

Caroline sorriu feliz com a preocupação dele.

— Acho que não, David, obrigada.

— E por que não? — ajuntou Miranda. — Você sempre vai.

— Vocês deram muito trabalho a Caroline durante essa semana — disse Charles com firmeza. — Não sei o que sua mãe teria feito sem ela. Então deixem que ela tenha um dia sossegado, sem vocês dois a querer atenção o tempo todo.

Caroline olhou para Elizabeth.

— Você não se incomoda?

Elizabeth olhou para o marido, e percebendo sua expressão, sa­cudiu a cabeça.

— Não, é claro que não. Você quase não teve tempo livre desde que veio para cá, a não ser à noite, é claro. Nós damos um jeito, só espero que Charles saiba o que está fazendo, levando as crianças numa reserva de animais. Vocês têm que ficar dentro do carro. Sabe disso, David? Não pode sair pulando por ali como faz em casa.

— Eu sei, eu sei. Papai já me avisou.

Elizabeth deu um tapinha na cabeça do filho.

— Você sempre sabe de tudo, não é, danadinho? — perguntou de bom humor e David sorriu feliz.

Depois que eles saíram, o bangalô ficou quieto demais. Caroline percebeu que era a primeira vez que ficava sozinha desde que che­gara, e pela primeira vez pensou apenas nela. É claro que Thomas ainda estava mexendo por ali, mas ela decidiu mandá-lo embora depois do almoço, e preparar ela mesma uma refeição para os outros quando chegassem.

A manhã se espichava deliciosamente vazia de qualquer responsa­bilidade. Deu uns passos pela sala. O que ia fazer, era o problema imediato.

Jogou-se numa cadeira, pendurando uma das pernas sobre o braço da mesma, e descansou o queixo na mão. Por que a idéia de ter um dia de folga era tão atraente? E quando a ocasião se apresentava não sabia bem o que fazer? Não podia voltar para a cama, estava um dia lindo demais. Como é que poderia se enfiar entre os lençóis?

Suspirou. Se ao menos ela tivesse um carro, poderia ir dar uma volta. Seria uma bela aventura sozinha.

Levantou-se e atravessou a sala, dando uma olhada no espelho perto da porta. Estava mesmo um pouco pálida, não podia negar. Havia sinais de cansaço à volta de seus olhos e seu cabelo estava opaco.

Isso era porque estava precisando de uma boa lavada, decidiu, alegre por ter um objetivo agora. Iria lavar a cabeça e secar o cabelo ao sol. Seria uma coisa boa e nem um pouco cansativa.

Por sorte o cabelo de Caroline não precisava de cuidados especiais. Em casa, se ela queria que ele ficasse melhor ainda, colocava uns bobies nas pontas para ficar mais cheio, mas desde que viera para a lírica tinha somente lavado e deixado secar. Ainda assim ele se enrolava para baixo e era pesado e macio.

Lavou-o na pia do banheiro com uma água morna que Thomas linha arranjado e depois o esfregou com a toalha até ficar quase seco, e foi procurar o pente e a escova. Estava na sala, prendendo a toalha em volta da cabeça, quando a silhueta de um homem apareceu na porta de tela e seu coração deu um pulo.

Era Gareth e, depois de dar uma batida, simplesmente foi entrando.

Caroline assustou-se. Desejava desesperadamente que ele não a visse daquele jeito, a cabeça enrolada na toalha, os olhos vermelhos do xampu. Mas ela não o podia evitar, só se fugisse para seu quarto como um coelhinho assustado, por isso ficou parada, esperando o que desse e viesse. Gareth tirou os óculos escuros que estava usando, e ela deu alguns passos à frente.

— O que você quer? — perguntou, e depois corou sob o olhar dele. Sentiu-se embaraçada, e cruzou os braços sobre os seios, pouco escondidos pelo biquíni branco que usava.

— Onde está o pessoal? — perguntou, rindo da atitude de defesa de Caroline.

— Charles e Elizabeth levaram as crianças para a reserva de Kywari.

— Verdade? — Gareth olhou pela sala. — Então você está so­zinha?

— Thomas está na cozinha — ela declarou, e Gareth deu um sorrisinho.

— Está mesmo? — comentou. — E por que você não foi também para a reserva?

— Eu... eu estava cansada. As crianças estiveram doentes. Foi uma semana muito difícil.

— É. — Gareth inclinou a cabeça, murmurando pensativo. — Você está pálida mesmo. Nick disse que você anda trabalhando como uma escrava; bem, foi o que ele disse, não eu.

Caroline ficou vermelha.

— Isso é tudo?

Gareth ergueu as sobrancelhas escuras e foi entrando pela sala.

— Será que não está sendo pouco atenciosa? — perguntou, sentando-se confortavelmente em uma poltrona.

Caroline estava sem jeito, ora num pé ora no outro, parada perto da porta.

— O que está fazendo? — perguntou aflita. — Acabei de lavar meu cabelo...

— Já tinha notado.

— ...e tenho que secá-lo!

— E é só isso que a está incomodando? — perguntou Gareth, olhando para ela com ar irônico. Caroline ficou quieta.

— Olhe, Gareth — disse, o rosto queimando. — Não estou perce­bendo seu jogo, mas gostaria que saísse, agora!

— Não seja tão pouco amiga, Caroline. Pelo que sei, certos outros convidados, que não vou citar pelo nome, são tratados de um modo bem diferente.

— Se está se referindo a Nicolas Freeleng, não sou eu quem o convida para vir aqui.

— Mas você também não o desencoraja.

— E o que eu posso fazer? Afinal ele é o patrão de Charles, você sabe.

Gareth levantou-se.

— Está bem, está bem. Não vou passar o dia todo discutindo sobre Nicolas Freeleng, afinal não foi para isso que vim até aqui.

— Por que veio? — Caroline fez um gesto com a mão. — Você não pareceu surpreso quando eu disse que os Lacey não estavam.

— E não fiquei mesmo.

— Quer dizer que sabia que eles tinham ido passar o dia fora?

— Na verdade, sabia. Passei por eles na estrada. Charles gritou que iam para a reserva.

— Então por que veio aqui, fingindo que não sabia?

Gareth passou a mão pelo pescoço.

— Será que pode acreditar? Para ver você.

Caroline teve que se apoiar no batente da porta.

— O quê?

— Bem, e por que não? Fiquei pensando que dentro de algumas semanas você estará de volta à Inglaterra, e achei que continuar com essa briga é bobagem. Quero dizer, não gosto de ser tão odiado.

Caroline, nervosa, puxou a toalha que segurava os cabelos, deixan­do que caíssem.

— Sei — conseguiu dizer por fim. — Então veio pedir desculpas.

Gareth suspirou.

— Não, não vim pedir desculpas — falou meio impaciente. — Só vim fazer as pazes com você.

 



  

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