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CAPITULO V



CAPITULO V

 

David e Miranda estavam cheios de entusiasmo por Sandra Macdonald, que tinha lido uma história para eles antes de dormirem e dito que se ficassem bonzinhos poderiam ir tomar chá com ela no dia seguinte.

— Ela disse que tem dois gêmeos que moram na casa pegada à dela — disse David, animado. — Têm só seis anos. Sandra disse que quando eles fizerem oito anos vão para a escola na Inglaterra, mas por enquanto ela é que está ensinando os dois.

— Verdade? — Caroline tentou parecer interessada, mas os com­primidos que tomara não estavam adiantando nada para sua dor de cabeça.

— Sim — respondeu Miranda. — Eles se chamam John e Joseph, e a mãe e o pai deles vieram da África do Sul.

— É mesmo? — Caroline forçou um sorriso, juntando os pratos do café para ajudar Thomas. Elizabeth ainda não tinha se levantado e Caroline não queria ir acordá-la. Charles tinha saído para a mina mais cedo, é claro.

Depois do café, David e Miranda perguntaram se podiam levar uma bola para o quintal dos fundos. Lá havia um pouco de mato e, depois de perguntar a Thomas, Caroline achou que podiam. Ela mesma tinha algumas roupas para lavar e o criado concordou em esquentar um pouco de água para ela.

Não era agradável trabalhar com dor de cabeça, e quando suas roupas e as das crianças estavam lavadas e penduradas no varal, começou a se sentir realmente mal. Estava na cozinha, pegando gelo para um refresco quando um carro parou lá fora. Enxugou as mãos e foi até a sala ao mesmo tempo em que o visitante chegava à porta de tela. Viu espantada que se tratava de Gareth. Ele abriu a porta e foi entrando, enquanto ela andava de costas para a cozinha, cons­ciente das calças velhas e da camiseta azul que estava usando.

— O que, em nome de Deus, você estava fazendo? — perguntou asperamente, tirando-lhe o copo da mão e dando um jeito nos cubos de gelo. — Onde está Thomas?

Caroline sacudiu a cabeça, passando as costas da mão pela testa.

— Não tenho certeza. Acho que está arrumando a sala.

Gareth olhou para o rosto dela.

— Onde estão as crianças?

— Estão brincando lá fora. Olhe, deixe que eu faça isso.

Gareth sacudiu a cabeça com impaciência e depois de alguns mo­mentos lhe estendeu o copo, com cubos de gelo, pronto para que ela colocasse o suco de limão.

— Quer um pouco? — ofereceu, preparada para dividir a bebida, mas ele recusou. Depois ela acrescentou: — Elizabeth ainda está dormindo, acho. Ficou cansada depois de ontem. Você quer falar com ela? — Não podia imaginar que ele quisesse vê-la, depois da noite passada, e do jeito que estava não tinha forças para lutar contra ele.

— O que é você para ela? — perguntou asperamente, percebendo a roupa estendida no varal. — Ela a paga para fazer essas tarefas?

Caroline sacudiu a cabeça, tentando não olhar para ele. A camisa aberta mostrava um peito queimado, com pêlos dourados, enquanto as calças de corte apertado deixavam perceber os músculos das coxas, fortes e rijos debaixo da fazenda fina. Depois da noite passada devia odiá-lo, sabia disso, mas seu mal-estar a enfraquecera. Agora desejava tocá-lo, chegar perto dele, se não fisicamente, pelo menos mental­mente.

Por fim conseguiu dizer: — O que você tem a ver com isso? Devo avisar Elizabeth que está aqui?

Gareth passou os dedos pelos cabelos, fazendo com que ela olhasse para seu rosto por um longo momento. Depois bateu com uma das mãos na outra e disse: — Está bem. Eu quero a permissão dela para levar as crianças até Nyshasa.

Os lábios de Caroline se abriram sem querer.

— Para Nyshasa? — suspirou. — Mas você mora em Nyshasa.

— É isso — Gareth assentiu de leve, mas o coração de Caroline estava disparado.

— É para lá que você vai levá-las? — perguntou com voz fraca.

— É verdade. Achei que elas gostariam de brincar no rio. Caroline apertou as palmas das mãos.

— Oh, acho que elas vão adorar — afirmou, imaginando as delícias de mergulhar seu corpo febril nas águas frescas da cachoeira. — Será que pode esperar uns minutos para nos aprontarmos? Elizabeth vai deixar tenho certeza.

A expressão de Gareth se endureceu.

— Sinto muito — disse num tom áspero. — Pensei que tivesse sido claro. O convite é só para as crianças.

Caroline sentiu o sangue fugir do rosto e encostou-se na geladeira. Olhando para ele como se não pudesse acreditar, murmurou: — O quê?...

— Você pode ficar de folga hoje — disse Gareth, seco. — Sandra está esperando no carro, ela pode tomar conta das crianças. Ela me telefonou de manhã e sugeriu o passeio.

Ele não poderia ter escolhido modo melhor para acabar com as esperanças de Caroline. Gareth devia ter imaginado que ela estava esperando que o convite também a incluísse e sua atitude foi mais um modo de feri-la.

Fez força para sair de perto da geladeira e disse: — Sei. Bem, espere um minuto e falarei com Elizabeth.

Elizabeth estava só meio acordada e perfeitamente de acordo em delegar responsabilidades para outra pessoa. Por sorte, estava tão tonta de sono que não percebeu o estado de Caroline. Depois de obter a permissão, a moça saiu do quarto depressa.

Assim mesmo, teve que reunir todas as suas forças para entrar novamente na cozinha, mas Gareth não se encontrava mais lá. Estava no quintal, falando com as crianças, e estas, quando viram Caroline perto da porta, vieram correndo para ela: — Podemos ir, Caroline, podemos?

— Sua mãe deixou. — Obrigou-se a olhar na direção de Gareth. — Quando você vai trazê-los de volta?

— Não sei ao certo. — Gareth enfiou as mãos nos bolsos das cal­ças. — Um pouco depois das cinco, acho. Está bem assim?

— Ótimo. — Caroline virou-se e eles a seguiram para dentro de casa. Por sorte as crianças não tinham ficado lá fora o tempo bastante para se sujarem e ela só teve que mandá-los buscar os maiôs no quarto. Enquanto faziam isso ela apanhou duas toalhas e Gareth atra­vessou a sala vagarosamente. Escutou-o falando com Thomas. Depois voltou para a sala e ficou quieto e sério perto da porta. Não que quisesse alguma coisa com ele, disse para si mesma ferozmente, mas, mesmo assim, ele a magoara demais! Desejou então que se apressassem para que se sentisse menos tensa.

Por fim as crianças voltaram, e Gareth apressou-as.

— Até logo, Caroline! — gritaram, e Caroline conseguiu sorrir para elas e abanar a mão. Mas, apesar de ela também abanar a mão para Sandra, não conseguiu ir até a perua e falar com ela como se nada estivesse erra­do. Ao contrário, sentia que podia arrancar os olhos da outra, tanto ciúme sentia, e entrou em casa batendo a porta, enquanto eles iam embora.

É claro que não precisava de uma bola de cristal para saber o que estava acontecendo com ela. Estava com ciúme, desesperadamente com ciúme. Ao olhar para o espelho gasto da penteadeira, sentiu uma onda de autopiedade. Não podia se desesperar. Não era vingativa por natu­reza, e estava deixando seus sentimentos por Gareth assumirem pro­porções exageradas. Na época em que estava casado, ela tivera que aceitar a situação, por que não agora?

A resposta era que, naquele tempo, Gareth estava a milhares de quilômetros de distância, fora de seu alcance. Seu casamento era uma relação irreal e impessoal. Mas agora que estava ali, que o tinha visto novamente e sentido aquele desesperado e triste desejo por ele, tudo tinha se tornado claro. E imaginá-lo atraído por Sandra Macdonald, pensar nele fazendo amor com ela, fazia com que toda a razão e toda a sensatez fugissem de sua mente...

No dia seguinte, Nicolas Freeleng apareceu quando terminavam o café. Entrou muito alegre pela sala, e Caroline reanimou-se.

— Bom dia, Caroline — disse. — Bom dia, crianças! Onde está a mamãe?

— Mamãe normalmente não se levanta para tomar café — infor­mou David imediatamente. — O que é isso debaixo de seu braço?

Apontou para uma arma pendurada ao ombro de Nicolas, que riu.

— Isto, meu rapaz, é um rifle. Nunca viu um rifle?

David ficou impressionado, mas Miranda estremeceu dizendo: — E por que você trouxe ele aqui?

— Não se deve deixar uma arma abandonada no carro — res­pondeu Nicolas. Voltou-se então para Caroline: — Você está pare­cendo deprimida, menina. O que aconteceu? Pensou que eu tivesse me esquecido de você — gracejou.

Caroline levantou a tampa da cafeteira.

— Eu não pensei muito sobre o assunto — replicou honestamente. — Quer um pouco de café? Ainda está quente.

— Gostaria muito — aceitou Nicolas, largando o corpo em uma cadeira em frente a ela e pendurando a arma cuidadosamente no encosto. — Thomas! Traz mais uma xícara!

O criado aproximou-se sorrindo alegremente.

— Bom dia, sr. Free­leng. Quer comer alguma coisa?

— Não, obrigado, Thomas. Só o café basta! — Depois de o criado ter saído, serviu-se de café e disse: — Pensei que vocês todos gosta­riam de sair hoje comigo.

Caroline olhou surpreendida para ele, mas David anulou qualquer comentário que ela pudesse fazer, dizendo orgulhoso: — Ontem fomos passear em Nyshasa!

Nicolas lançou-lhe um olhar que faria calar qualquer criança.

— Estou sabendo. Mas Caroline não foi, não é?

— Ela não foi convidada. — David moveu os ombros meio na defensiva. — Não foi culpa minha.

— Ninguém está insinuando isso! — exclamou Caroline impaciente. Depois disse a Nicolas: — Mas como é que você soube?

— Fui até a casa de Gareth ontem à noite, tomar um drinque, e ele me contou.

— Oh, sim. — Caroline segurou o queixo com as mãos, sentindo que as faces queimavam. Ela havia pensado que Gareth tinha ido à noite para a casa dos Macdonald. Sandra tinha trazido as crianças às seis horas, mas tinha insinuado que Gareth ainda estava em sua casa. Ou será que não tinha? Caroline não conseguia lembrar-se di­reito. Talvez estivesse imaginando coisas.

— E então? — Nicolas acabou o café e tirou um cigarro. — O que resolvem? Ou a proposta de nadarem mais uma vez não os atrai, hein, crianças?

Os olhos de Miranda brilhavam.

— Eu quero ir! — gritou. — Eu queria que Caroline tivesse ido com a gente ontem.

Caroline olhou de lado para Nicolas, e os olhos dele faiscaram.

— Bem? — insistiu. — E você?

Caroline fez um gesto de resignação.

— Eu gostaria muito de ir e talvez Elizabeth também goste.

— Bem, acho que não — replicou Nicolas devagar. — Antes de vir para cá, dei folga hoje para Charles, e ele logo estará aqui. Foi ele quem aprovou o passeio com vocês três.

Caroline olhou espantada para ele, sem poder evitar a admiração por sua atitude atrevida.

— Nem imaginou que pudéssemos recu­sar, não é?

— Vamos admitir que sim — disse Nicolas persuasivo. — Eu achei que vocês não iam negar a companhia a um homem solitário, quando sabem que ele aprecia tanto essa companhia.

Caroline moveu a cabeça.

— Eu não sei o que dizer.

— Eu sei. Vão pegar os seus maiôs e me encontrem no carro.

— Vou ter que falar com Elizabeth.

— Está bem, mas ande depressa.

Elizabeth piscou, sem entender, quando Caroline explicou que Charles ia ter o dia livre. Mas não gostou muito de saber que Caroline e as crianças iam passar o dia com Nicolas Freeleng.

— Mas o que você sabe sobre ele? — perguntou, apoiando-se em um cotovelo.

Caroline suspirou.

— Ele é o chefe de Charles e dificilmente estaria planejando um seqüestro levando as crianças também, não é?

Elizabeth teve que concordar com isso e, como não podia alegar mais nada, deixou que eles fossem. Caroline correu para o quarto, tirou a roupa e enfiou um biquíni branco, depois colocou as calças e a camisa por cima, e apanhou uma toalha e os óculos escuros. A perspectiva de um passeio tinha feito desaparecer sua depressão, e ela se recusou a admitir que parte do seu entusiasmo era porque sabia que em Nyshasa talvez houvesse a possibilidade de ver Gareth.

A vista do alto da ponte estreita sobre o rio Kinzori em Nyshasa era espetacular durante o dia. Abaixo da estrutura meio instável da ponte, uma quantidade enorme de água espumante mergulhava rocha abaixo para ser engolida por um redemoinho em sua base. Pedras cobertas de musgo e samambaias gigantes enfeitavam o lugar, como uma continuação do tapete verde que crescia nas margens da ravina. Havia muita umidade no ar e a algazarra de um bando de periquitos assustados por um macaco precedeu seu vôo gracioso. Ali se percebia bem a força da natureza em tudo e qualquer pessoa que se aventurasse fora da estrada logo se veria em dificuldades.

Passaram a manhã a alguma distância e Caroline sentia-se con­tente. Nicolas explicara que as obras da represa onde Gareth estava trabalhando ficava mais longe, rio acima, num lugar onde ele se bifurcava e por isso perdia velocidade. A represa estava sendo cons­truída para que toda aquela água do rio Kinzori fosse transformada em energia. Algum dia uma usina hidrelétrica seria construída perto da cachoeira.

Na hora do almoço, voltaram para a casa de Nicolas, onde a criadagem tinha preparado um almoço delicioso: melão gelado, salada de galinha, frutas frescas e café. David e Miranda obviamente estavam cansados depois do passeio da manhã e concordaram em dormir um pouquinho. Foram instalados num atraente quarto de camas gêmeas, no andar de cima.

Caroline não quis repousar, e Nicolas colocou alguns discos numa vitrola e sentou-se ao lado dela num sofá macio na varanda. A vista desse lugar era, como Caroline esperava, magnífica, um gramado verde descendo até as águas turbulentas do Kinzori. Não havia sinal de outros habitantes, apesar de Nicolas ter contado que havia uma vila africana mais para baixo. O ruído dos insetos e o grito de alguns animais dava a sensação de se estar sozinho nesse lugar verde e tranqüilo.

Um criado tinha deixado um carrinho com garrafas e copos e um balde de gelo perto do patrão, e Nicolas serviu um martini a Caroline, que aceitou com relutância, determinada a não exagerar dessa vez e tentando não parecer encabulada quando ele passou o braço por trás dela.

— Conte-me sobre você, Caroline — murmurou, passando a mão de leve pelos cabelos dela. — Como é que você ainda não foi agar­rada por algum machão? Tenho certeza que os homens ingleses acham você tão deliciosa quanto eu.

Caroline sorriu de leve a esse elogio, mas não respondeu. Passou o dedo pela beirada do copo antes de perguntar: — Onde é que mora Gareth Morgan?

Nicolas não esperava por essa. Franziu a testa.

— Por que pergun­ta? Quer fazer uma visita a ele?

Caroline encolheu os ombros.

— Apenas curiosidade.

— Sei. — Nicolas ergueu o copo aos lábios e tomou um gole. — Ele mora perto das obras, é claro. Onde o engenheiro responsável deveria morar?

Caroline olhou para ele pelo canto dos olhos.

— Claro. Não pen­sei nisso.

Nicolas acertou o vinco imaculado das calças.

— Tenho certeza que uma visita à construção poderia ser conseguida, se você estiver interessada. É enorme.

— Obrigada. — Caroline aceitou a sugestão meio relutante, pois ainda não estava certa se devia ir procurar Gareth. Apesar de não querer sofrer novas humilhações, não podia nem imaginar não vê-lo nunca mais.

— Vou dar um jeito — comentou Nicolas, seco, depois recomeçou a observar as faces rosadas da moça. — Quer dizer que não há ne­nhum homem esperando ansioso por você lá na Inglaterra?

Caroline soltou um suspiro.

— Talvez haja — replicou evasiva. — Quanto tempo faz que está em Tsaba, sr. Freeleng?

— Nicolas — insistiu ele. — Acho que já faz dez anos. Primeiro em Ashenghi e depois na mina.

— Mas seu verdadeiro lar não é aqui, não é?

— Não, minha família vive em Johannesburg — concordou impa­ciente. — Olhe, eu não quero falar sobre mim. Sou muito sem graça. Quero falar sobre você. Conte-me tudo sobre você, onde mora, do que gosta, de sua família.

— Não tenho família — respondeu baixinho.

— Está bem. Então conte-me onde mora. Gareth me disse que estava fazendo o curso de Letras.

— Sim, é verdade. — Caroline inclinou-se para colocar o copo na mesa. Não tinha tocado na bebida e Nicolas estranhou.

— O que há? Não gostou?

— Tudo bem, obrigada. É que não estou habituada a beber du­rante o dia.

— Um martini não é beber! — Nicolas protestou e ela teve que sorrir. Parecia desapontado com a recusa dela em aceitar sua hos­pitalidade.

— Este lugar é tão maravilhoso! — resolveu dizer, mas Nicolas baixou a cabeça e tocou com os lábios a pele de seu braço.

— Você é uma tentação, sabia disso? — exclamou, o braço à volta dela se fechando em um abraço. — Você está me provocando de propósito.

— Oh, não é verdade! — falou assustada, percebendo de repente o extremo isolamento em que se encontraram. Lutou para se livrar do abraço. — Esse não é um disco dos Beattles que está tocando? Adoro suas músicas, você não...

Mas Nicolas não desanimava facilmente e a apertava mais no círculo do seu braço, quando um carro chegou à entrada da casa.

— Droga! — falou com raiva, aborrecido com a interrupção, mas Caroline não poderia ter ficado mais aliviada. Mas seu alívio se trans­formou em algo diferente quando viu o rosto zangado do homem que estava descendo da perua.

Nicolas teve que soltá-la e levantando-se desceu os degraus da esca­daria para receber o visitante.

— Bem, bem, Gareth — disse. — Que surpresa!

Gareth olhou para Caroline e ela viu que ele percebia seu embaraço, pela expressão de seu rosto. Depois ele olhou para Nicolas.

— Estava passando e pensei em entrar para tomar uma bebida — explicou. — Entretanto, se eu soubesse que você estava acompanhado...

— ...teria vindo de qualquer modo — terminou Nicolas, com um sorriso torto. Fez um gesto na direção da escada. — É melhor entrar, já que está aqui. O que vai querer? Algum refrigerante ou pre­fere cerveja?

— Cerveja está ótimo — replicou Gareth se espreguiçando, todo ele perturbador, numa camisa e short cremes. — Olá, Caroline. — Imagine encontrar você aqui!

— Não se meta com a moça — falou Nicolas de bom humor. Seu aborrecimento inicial desaparecera, pois estimava o amigo. — Com licença, vou pegar a cerveja na geladeira.

— Não quer se sentar? — sugeriu Caroline, sem jeito, sentindo-se em desvantagem. — Está muito calor, não acha?

Para seu espanto, Gareth sentou-se a seu lado no sofá, estendendo as pernas queimadas do sol. Depois encarou-a e ela viu que seus olhos não estavam nada calmos como ele aparentava.

— Não me venha com conversa — avisou seco. — Que diabo está fazendo aqui?

Caroline esperava que ele fizesse algum comentário sobre sua presença na casa de Nicolas, mas não estava preparada para o tom raivoso de suas palavras. O que ele tinha a ver com a vida dela? Ela podia muito bem pensar que ele ficaria satisfeito por ver que ela estava interessada em outro homem. A não ser... a não ser que ele estivesse com ciúme! Ela saboreou a idéia. Seria possível? Olhou de lado para ele.

— Não pensei que você se incomodasse com o que eu fazia — murmurou, provocante.

— Tem razão — respondeu com frieza. — Só me preocupo por causa de Nicolas.

Caroline segurou o desejo de responder à altura. Ela não tinha, como ele, facilidade para um duelo verbal. Forçando um leve sorriso, disse: — Não acha que Nicolas já tem idade bastante para cuidar de si mesmo?

O sorriso de Gareth não foi agradável.

— Oh, sim, ele sabe se cuidar. Mas, por azar, ele às vezes precisa de um pouco de ajuda para permanecer fiel a sua esposa!

— Ele é casado? — perguntou, sem acreditar.

— E é claro que você não sabia.

— Não! — Caroline aprumou-se. — Como é que eu podia saber? Não sou vidente e posso lhe assegurar que ele não me disse nada.

Gareth observou o rosto indignado.

— E Lacey? Ele também não falou?

— Eu não estive falando de Nicolas com Charles, se é isso que quer dizer. Não houve necessidade. Até hoje duvido que Charles ti­vesse achado necessário me contar uma coisa como essa.

— Talvez você esteja dizendo a verdade — comentou, fazendo com que Caroline ficasse com raiva. — E se está mesmo, foi bom que eu tivesse aparecido.

— Apenas apareceu? — A voz de Caroline era fria.

— Não. Eu sabia que você estava aqui.

— E como sabia disso?

— E isso importa? — Seus olhos nem piscaram. — Onde estão as crianças?

— Descansando. — Caroline baixou a cabeça, deixando à mostra o pescoço suave. — Como pode ver, não houve uma grande cena de sedução por aqui.

— Prontinho. Aqui está!

Nicolas voltou alegremente, trazendo diversas latas de cerveja e notando instantaneamente que Gareth estava sentado ao lado de Caro­line. Caroline imaginou que, para quem não soubesse de nada, eles davam a impressão de estar se dando muito bem, e ficou tentada a dar a entender justamente isso. Além de tudo Nicolas até que mere­cia um castigo depois de tê-la enganado deliberadamente. Talvez ele até tivesse filhos. Era humilhante.

Nicolas abriu uma das latas, servindo-a num copo gelado para Gareth.

— Acho que vai achar que está no ponto, meu amigo.

— Obrigado. — Gareth não fez menção de levantar-se e deixar que Nicolas se sentasse em seu lugar. Por isso, Nicolas teve que se sentar em outra cadeira.

A conversa ficou meio cortada, como se cada um estivesse imerso em seus próprios pensamentos, e Caroline achou que sabia quais seriam esses pensamentos. Nicolas devia estar imaginando se Gareth havia dito algo sobre seu casamento; Gareth estava, sem dúvida, desprezando toda a situação, enquanto ela se dava conta de que não podia mais confiar em Nicolas. O ambiente não estava muito agra­dável, e ela ficou até aliviada quando David e Miranda apareceram, corados e de olhos brilhantes, depois do sono. David ficou alegre ao ver Gareth e não perdeu tempo em perguntar quando é que ele iria levá-los a ver os hipopótamos como tinha prometido. Miranda fingiu também querer saber, mas Caroline percebeu que ela estava mais apreensiva do que entusiasmada.

Enquanto Gareth falava com as crianças, Caroline percebeu os olhos de Nicolas sobre ela, esperando que ela tomasse uma atitude que permitisse conversar a sós com ela. Mas recusou-se a encará-lo. Não podia perdoá-lo por tê-la colocado em uma posição tão desa­gradável.

Por fim Gareth levantou-se para ir embora e Nicolas também ficou de pé. Enfiou as mãos nos bolsos e disse: — Por acaso você não vai para os lados de La Vache?

Gareth virou-se para ele, os olhos apertados. — Vou sim, por quê?

— Pensei que talvez você pudesse levar as crianças para casa. Eu... bem... eu vou dar um jantar íntimo esta noite e pensei que talvez Caroline pudesse ficar...

— Não, obrigada. — Caroline falou antes que ele terminasse de dizer o que estava planejando. — Não posso ficar de jeito nenhum. E se Gareth vai para aquele lado, talvez ele não se incomode de nos levar. Assim evitaria que você tivesse que fazer essa viagem, Nicolas.

Nicolas pareceu ficar irritado com essa virada em seus planos.

— De jeito nenhum — falou secamente. — Eu trouxe vocês aqui, lógico que deveria levá-los de volta.

— Mas isso é ridículo, Nick — declarou Gareth, andando vaga­rosamente pela varanda e descendo os degraus. — Não há razão alguma para que você vá especialmente a La Vache, quando eu estou mesmo indo para aqueles lados.

Nicolas não pôde fazer mais nada. Sem o apoio de Caroline, ficou derrotado e ela percebeu a raiva em seus olhos. Mas o alívio de esca­par de uma situação desagradável foi tão grande que só no caminho começou a pensar se o que tinha feito poderia prejudicar Charles. Mas não era provável. Nicolas não poderia ser tão vingativo. Além disso, o que ela tinha feito, afinal? Sua ansiedade passou para Gareth e ele lançou-lhe um olhar rápido quando acabou de passar a ponte e ganhou velocidade.

— O que há de errado? — indagou caçoando. — Já está arrependida?

— Você bem que pensaria isso, não? — revidou ela, torcendo a alça da bolsa. — Na verdade, eu estava pensando que o fato de eu ter saído desse jeito fez com que Nicolas ficasse muito zangado. Zan­gado o bastante para querer se vingar.

— Contra quem? Contra você? Duvido muito.

— Não. Na verdade contra Charles.

— Charles. — Os lábios dele se torceram num sorriso desagradá­vel. — Ah, essa vai ser a desculpa? Você só iria aceitar o convite de Nicolas para proteger Charles! Ora, como é que não pensei nisso?

Caroline agüentou a zombaria em silêncio, odiando o modo como ele aproveitava todas as oportunidades para fazê-la de boba. Por que nunca conseguiam conversar normalmente? Se ele a desprezava tanto, por que a tratava com tanta crueldade, em vez de simples indiferença? Ou será que sentia prazer em vê-la sofrer? Querendo destruir o frio sarcasmo dele, disse: — E o que você faria, Gareth, se eu me decidisse a continuar encontrando Nicolas?

— Acho que do jeito como você saiu correndo hoje, isso não teria grandes possibilidades de acontecer — replicou.

— Não mesmo? — Caroline assumiu uma despreocupação que não sentia, mas a necessidade de contra-atacar a fez responder: — Bem, talvez você esteja encarando todo esse episódio com uma seriedade grande demais. Só porque o que você me contou me pegou desprevenida, não quer dizer que eu não continue achando Nicolas um homem muito atraente. Porque ele é, e muito. Atraente, quero dizer.

Ela viu que os dedos dele se fecharam com força na roda da direção e uma onda de prazer a envolveu. Por fim tinha conseguido irritá-lo. Era uma vitória pequena, mas talvez servisse para mostrar a ele que as coisas não seriam tão fáceis dali para frente.

— Acho que qualquer homem viril, casado ou não, ache esta vida isolada muito difícil de suportar — comentou Caroline com natu­ralidade, lançando um olhar para as crianças, que estavam distraídas com um jogo de contar que David tinha inventado. — Mas não é toda esposa que quer compartilhar de um modo de vida tão primitivo, não é? E, pelo que andei observando, os homens que trazem suas mulheres para cá, acabam levando a pior. Foi isso que aconteceu com o seu casamento, Gareth?

Os dedos dele de repente apertaram o joelho dela com força e ele disse tenso: — Agora basta, Caroline!

Ela ficou olhando para a mão dele em seu joelho e um arrepio per­correu seu corpo. Então era verdade, pensou espantada, aceitando o fato que nunca fora importante para ela: o ódio é irmão do amor, e apesar dele a estar machucando, era muito melhor do que quando estava caçoando dela. De fato, havia um certo prazer masoquista em aceitar a violência, que combinava bem com seu estado de espírito atual.

— O que foi? — indagou ela. — Será que quase acertei no alvo?

— Caroline, estou avisando...

— Oh, sim? — Olhou de lado para ele. — Sobre o que está me avisando? Posso falar ou fazer o que quiser, que você não tem auto­ridade sobre mim, certo?

— Caroline! — Falou por entre os dentes cerrados, e ela deu um leve sorriso.

— Não fique tão zangado, Gareth — provocou. — E por favor tire a mão de mim.

Gareth tirou rápido a mão para trocar de marcha, pois um bando de macacos atravessava a estrada. Durante alguns minutos ficou ocu­pado dispersando o grupo e respondendo às perguntas excitadas das crianças, mas quando o carro ganhou velocidade novamente e as crian­ças ficaram olhando pelo vidro de trás, ele disse: — Acho que sei o que está tentando fazer, Caroline, mas não vai conseguir nada.

Ela ficou gelada. O intervalo tinha dado tempo a ele para se contro­lar, e segurar os impulsos que ela havia despertado nele. Caroline olhou impaciente para trás, para o grupo de macacos. Se eles não tivessem aparecido num momento tão inoportuno!

Olhou para suas mãos. É claro que existiam outros meios de ga­nhá-lo. Havia o modo mais antigo do mundo, que era o de atraí-lo fisicamente, mas ela duvidava que conseguisse se atrever a tanto. E, de qualquer modo, David e Miranda tinham perdido de vista os macacos e como o jogo tinha sido interrompido queriam agora atenção.

O resto da viagem foi feito no mais absoluto silêncio. E Caroline sentiu-se contente quando chegaram em casa.

 

 



  

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