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CAPITULO II



CAPITULO II

 

O calor na perua, embora intenso, era o menor dos males, pois abaixar os vidros era pior em virtude do excesso de poeira. Assim mesmo, Caroline sentia como se cada centímetro do seu corpo esti­vesse encharcado de suor, e desejava que David parasse de se jogar de um lado para o outro, em sua determinação de não perder nada da viagem. Até mesmo Elizabeth, bem mais confortavelmente insta­lada no banco da frente, ao lado de Gareth, ficava o tempo todo se abanando com o lenço e não conseguia mais manter a conversa in­conseqüente como no começo. Estava sempre em seu melhor estilo quando na companhia de homens atraentes, e o fato de Gareth ape­nas responder com monossílabos não a incomodava de modo algum.

Já era quase noite e as sombras se alongavam na estrada de terra batida. Por todo o lado havia um cheiro forte de vegetação apodre­cida que vinha da mata fechada que ladeava a estrada, e de tempos em tempos podia se ouvir o grito agudo de algum animal selvagem cortando o ar da tarde. Miranda há muito tinha passado do estágio de excitação e agora estava encolhida em seu canto chupando o polegar, apesar da reprovação de Caroline e da caçoada de David.

A própria Caroline estava achando que seus sentidos mais agu­çados eram conseqüência da tensão entre ela e Gareth. Não que mais alguém parecesse estar notando. Pelo contrário, desde o momento que Elizabeth fora apresentada, que só queria chamar a atenção de Gareth sobre si.

Gareth havia acompanhado Caroline e as crianças até a suíte. Depois de ter feito aquela declaração no vestíbulo do hotel, ele tinha transferido a atenção para David e Miranda. E enquanto Caroline se consumia de humilhação e ressentimento, ele conversava calma­mente com as crianças sobre safáris que fizera na Tanzânia e a dra­mática reserva animal da cratera de Ngorongoro. Ao chegarem à suíte, David já estava completamente ganho, e Caroline nem teve que apresentar Elizabeth ao estranho alto e magro, David fez isso por ela.

A dor de cabeça de Elizabeth pareceu desaparecer milagrosamen­te. Imediata-mente saiu da cama, foi para o banheiro, para aparecer logo depois com uma aparência fresca e feminina, usando um vestido rosa, bem curto, que deixava à mostra suas pernas elegantes.

Caroline tinha passado o tempo que Elizabeth gastara para se aprontar em pé, perto da janela, olhando fixamente a cena lá em baixo, desejando que tudo tivesse sido apenas um pesadelo. Mas claro que não era. Gareth estava ali na sala com ela, aparentemente indiferente à sua presença, mostrando um interesse infantil pelos brinquedos que David e Miranda mostravam a ele.

Quando Elizabeth finalmente apareceu, a situação piorou. Caro­line teve que ouvir seus comentários sobre o que tinham falado a respeito dele e sobre a agradável surpresa pelo fato de ele estar trabalhando em Tsaba.

Gareth tinha respondido com cortesia, mas Caroline percebera seu desejo de ir embora. Aconselhou-as a almoçarem cedo, depois deitarem um pouco, e que ele as procuraria mais ou menos às quatro horas, quando o calor estivesse começando a diminuir. Conseguiu uma evasiva para o convite de Elizabeth para que almoçassem jun­tos, dizendo que tinha negócios a tratar em Ashenghi, e depois saiu com um sorriso atencioso e uma continência dirigida especialmente a David.

Logo em seguida, Caroline teve que enfrentar as perguntas de Eli­zabeth. Se ela sabia que ele estava trabalhando em Tsaba? Como ele tinha reagido ao vê-la tomando conta das crianças? O que exata­mente ele tinha feito?

Caroline se defendera da melhor maneira. Ainda bem que David não estava prestando atenção na conversa. Era sem interesse em comparação ao que o sr. Morgan contava, e assim Caroline não teve que suportar o comentário dele sobre a discussão entre ela e Gareth. Em vez disso, fez com que Elizabeth acreditasse que tinha ficado tão surpreendida quanto ela com o encontro, e que não tinha a menor idéia de que ele estivesse trabalhando ali. Tinha sido um subterfúgio ridículo, mas a última coisa que desejava era dar a Elizabeth motivo para suspeitar que sua vinda tinha outro motivo além de ajudar uma amiga necessitada. O que sobrava ainda de auto-respeito tinha que permanecer intacto, ou ela ficaria tentada a largar tudo e tomar o próximo vôo para Londres.

Já estava escuro quando chegaram a La Vache, e milhares de in­setos brilhavam à luz dos faróis, morrendo às centenas contra o pára-brisa. Uma enorme mariposa arrebentou-se contra o carro causando um barulho surdo e deixando um rastro de líquido no vidro. Caro­line sentiu náuseas. Na noite passada, indo para o hotel, estava cansada mas eufórica, ansiosa por experimentar as emoções primitivas da África. Mas hoje se sentia ferida e incerta, cada vez mais con­vencida de que ia se arrepender de ter vindo.

La Vache era um conjunto de casas, construídas para a população branca, ao lado de uma espécie de vila. À luz das janelas iluminadas, Caroline percebeu uma fogueira e um grupo de caras negras curiosas, olhando na direção deles antes que Gareth entrasse portão a dentro e parasse em frente a um bangalô com telhado de zinco. Antes mes­mo que o motor do carro parasse, a porta do bangalô se abriu e um homem vestido com camisa e short branco veio correndo degraus abaixo até eles. Gareth já tinha saído do carro antes de ele chegar, mas era claro que o recém-chegado só tinha olhos para Elizabeth. Caroline desceu entorpecida, tentando evitar o olhar lânguido com que Elizabeth respondia às recepção entusiástica de Charles, e ficou contente quando as crianças desceram gritando: — Papai! Papai! Estamos aqui!

Ignorando a mão que Gareth lhe estendia para ajudá-la a descer, Caroline ficou de pé na terra dura, flexionando os músculos entor­pecidos e olhando à volta com interesse relutante.

Sua primeira impressão era da proximidade das casas umas das outras e uma certa sensação de claustrofobia pela floresta ficar tão perto. Será que era essa a "sua" clareira da floresta? Será que era essa a romântica comunhão com a natureza que parecera tão interes­sante quando vista à distância? Tudo parecia tão diferente, tão primi­tivo e ainda assim tão estranho. E aquele cheiro de vegetação apodre­cida? Ninguém contava isso nos livros.

Gareth estava descarregando as malas da parte de trás da perua. Caroline sentiu que devia estar ajudando, afinal era para isso que viera, não era? Para ajudar! Mas nessa ocasião estava achando que quem precisava de ajuda era ela. Pela primeira vez desde que deixara a Inglaterra sentiu falta da camaradagem que tinha com Jeremy Brent e ficou imaginando se ele acabaria aceitando o rompimento do noi­vado, como ela tinha insistido que fizesse.

Então Charles deixou a família por um instante e deu-lhe um sor­riso amável.

— Que bom vê-la novamente, Caroline — disse. — Ainda bem que pôde vir. — Depois virou-se para Gareth: — Estou em débito com você, Morgan. Venha para dentro, vamos tomar uma bebida para celebrar.

— Obrigado, mas não posso agora, tenho que voltar para Nyshasa — respondeu Gareth.

— Oh, você precisa? — Era Elizabeth, e até mesmo as crianças ficaram desapontadas. Só Caroline não disse nada, não fez o menor esforço para que ele ficasse.

Gareth sacudiu a cabeça.

— Sinto muito, mas estou fora desde cedo. Talvez uma outra vez.

— Oh, sim. Você precisa vir jantar conosco um dia desses, não é, Charles? — propôs Elizabeth.

— Claro, claro. — Charles sorriu. — Depois falo com você, Morgan.

— Está bem.

Gareth assentiu e deu a volta na perua para sentar-se à direção. Teve que passar perto de Caroline e, por um instante, os penetrantes olhos azuis encararam os dela. Deliberadamente ela assumiu uma po­sição de desafio, devolvendo o olhar agressivo, recusando-se a deixar que ele percebesse que podia desconcertá-la. Ao se acomodar no carro, acenou dando adeus. Ligou o motor, engatou a marcha e saiu suavemente. Só então Caroline percebeu que estivera prendendo a respiração por quase um minuto.

— Venha, Caroline. — Charles levava a família pelo gramado seco que formava uma espécie de jardim em frente ao bangalô. — Thomas aprontou uma refeição para vocês.

Thomas era o criado de Charles. Tinha um rosto permanentemente risonho, e as crianças logo gostaram dele. Segundo Charles, era muito difícil alguém se zangar com ele. Era impossível ficar com raiva, por muito tempo, de alguém que tinha uma cara tão alegremente inocente.

Antes de jantarem, Charles sugeriu que dessem uma volta pela casa para se familiarizarem com ela, e como as crianças estavam querendo, Elizabeth concordou. O bangalô era dividido na metade por um corredor que ia da frente aos fundos. De um lado havia uma sala grande que servia como sala de jantar e estar, com um pequeno quarto nos fundos, onde Caroline iria dormir. Do outro lado havia dois quartos maiores, um para o casal e outro para as crianças. O banheiro, assim como a cozinha, ficavam em um anexo. Constava de uma pia lascada, um vaso primitivo e um chuveiro, que só podia ser usado caso se enchesse uma caixa acima dele.

As crianças acharam essa inspeção fascinante, e Miranda deixou de lado o ar desanimado da última parte da viagem. A visão dos mosquiteiros acima das camas fez com que se entusiasmassem com a idéia de dormir, e David afirmou que ia usar o chuveiro no dia seguinte.

Mas Caroline podia perceber a mudança na expressão de Eliza­beth ao começar a notar a falta de comodidade. O bangalô não tinha a menor semelhança com o conforto do hotel em Ashenghi, e talvez tivesse sido melhor se não tivessem passado a noite lá. O contraste não teria sido tão grande se tivessem vindo diretamente para La Vache. O mobiliário era apenas prático e sem o menor toque feminino. Não havia nem mesmo uma cortina mais alegre ou uma almofada de cor viva para alegrar os marrons e beges das cortinas e dos estofados.

Entretanto, a refeição que Thomas tinha providenciado estava espe­rando por eles e isso impediu qualquer discussão imediata sobre as instalações. Iniciando um assunto novo para distrair a atenção de Elizabeth, Caroline perguntou como era o sistema de educação das crianças africanas.

— Na verdade, até que é bom — replicou Charles, obviamente apreciando o bife duro que Thomas tinha servido junto com feijão e batata doce. — Há uma missão a dois quilômetros de Katwe Fork e a esposa do pastor, Helen, ensina as crianças menores. O próprio pastor ensina os mais velhos e se na época em que as crianças fazem onze ou doze anos alguma delas mostrar que tem capacidade, ele arranja uma transferência para a escola em Luanga.

De repente, Miranda engasgou e seu irmão bateu vigorosamente nas costas dela para que expelisse um pedaço de carne preso na gar­ganta. Os olhos da menina estavam cheios de lágrimas quando con­seguiu cuspir a carne, tanto com o susto de se engasgar, quanto com a força dos socos do irmão. Mas antes que Caroline pudesse dizer alguma coisa para consolá-la, Elizabeth virou-se para o marido:

— Meu Deus, Charles! — disse trêmula. — Espero que você esteja contente! Trazendo a gente para este lugar horrível e achando que vamos ficar por várias semanas! Ora, não dá nem para comermos esta comida, e você pouco se importa que a gente possa até morrer de desinteria nestas condições terríveis! — Atirou o guardanapo na mesa e levantou-se, ignorando os gritos de Miranda: — Mamãe! Mamãe! — Foi até a porta. — Vou para a cama, e não adianta tentar me impedir!

A não ser pelos soluços tristes de Miranda, houve um completo silêncio na sala durante vários minutos depois de Elizabeth sair. Charles estava estupefato, e Caroline ficou com muita pena dele. Obviamente, no entusiasmo da chegada, ele não tinha notado a rea­ção de Elizabeth, e o desabafo dela tinha sido completamente inespe­rado, pelo menos para ele.

Por fim, foi David quem quebrou o silêncio, dizendo: — O que está acontecendo com a mamãe? O que é que ela está falando? Nós não vamos morrer, não é, papai?

Charles mexia com a boca, nervoso.

— Não, não, é claro que você não vai morrer, filho! — e colocou uma mão trêmula na cabeça do menino. — Eu... bem, acho que é toda essa viagem. Mamãe está cansada, só isso, como ela disse. Amanhã ela vai estar melhor, não é, Caroline?

Caroline percebeu que, ao olhar para ela do outro lado da mesa. Charles também estava procurando apoio, como David estivera. Pobre Charles, não tinha a menor idéia de como lidar com alguém como Elizabeth. O problema era que ele tinha sido sempre muito mole com ela, muito gentil e muito delicado. Morando longe a maior parte do ano como acontecia, tinha a tendência de fazer tudo o que ela queria, quando estava em casa, e Elizabeth nunca soubera o que era ser controlada. O que ela precisava mesmo era de alguém que tivesse a mão mais firme e fosse menos compreensivo, e que desse a ela o tratamento que ela dava aos outros. Mas Caroline duvidava que Char­les conseguisse fazer isso. Então disse:

— Acho que todos nós estamos cansados, Charles. E acho que não devia ligar para o que Elizabeth disse. É que tudo é muito dife­rente e a gente demora para se acostumar.

Charles empurrou o prato para um lado, o apetite perdido.

— Eu não reparei em você criando problema algum — comentou, tomando um gole da cerveja que Thomas tinha arranjado.

Caroline deu um sorriso de lado.

— Eu não tenho ninguém com quem me preocupar — replicou alegremente. — Agora, Miranda e David, quem vai experimentar este pudim que Thomas fez para nós?

Charles tentou comer a sobremesa que, até mesmo Caroline teve que concordar, não era muito gostosa. Feito com leite em pó, o pudim estava muito seco, e até as crianças se recusaram a terminar o que restava no prato. Mas quando Thomas trouxe o café, Charles levan­tou-se.

— Olhe, Caroline — exclamou meio sem jeito —, será que pode me dar licença? Quero dizer... bem, acho que devo ir ver se Eliza­beth está bem...

— Está bem, Charles. Vá, então. Eu e as crianças damos um jeito. Charles soltou um suspiro de alívio, deu um sorriso para os filhos e saiu depressa.

— Por que não podemos ir com o papai? — perguntou Miranda, ainda meio chorosa.

David tocou-a com o cotovelo.

— Não seja boba, menina. Eles querem se beijar e se abraçar e esse tipo de coisa, não é, Caroline?

Caroline escondeu um sorriso.

— Se você acha, David — respon­deu ela calmamente, servindo-se de mais uma xícara de café.

Mais tarde Caroline aprontou as crianças para dormir enquanto Thomas tirava a mesa, e depois, com a ajuda dele, enfiou David e Miranda debaixo dos mosquiteiros. Por sorte, Thomas falava um inglês muito bom, só que não colocava as palavras na ordem certa, e ela ficou grata por sua ajuda. Ficou preocupada em pensar o que aconteceria se alguma das crianças quisesse se levantar durante a noite para ir ao banheiro. E como conseguiriam entrar novamente debaixo daquilo tudo? Sacudiu a cabeça. Oh, bem! Esse problema teria que ser resolvido só quando aparecesse.

Nem Charles nem Elizabeth apareceram novamente, e Caroline achou que isso era um bom sinal. Pelo menos, Elizabeth não tinha feito outra cena e o expulsado do quarto.

Depois disso o bangalô ficou muito quieto. Thomas tinha vindo dizer boa noite e depois saíra, e Caroline ficou sentada na sala ima­ginando o que se poderia fazer à noite naquele lugar. Eram só nove horas, e ir para a cama parecia a única opção.

Apagou as luzes e acabou indo mesmo para seu quartinho. Thomas tinha deixado sua mala perto do pé da cama e ela colocou-a sobre uma cômoda. O único outro móvel do quarto, sem ser a cama de ferro, era um guarda-roupa muito alto. Ao abri-lo, sentiu um cheiro forte de desinfetante, tão forte que ela preferiu não pendurar nada lá dentro. Havia também uma espécie de penteadeira com tampo de mármore sobre o qual estava uma bacia e um jarro contendo uma água meio esverdeada onde boiavam diversas mariposas mortas. O chão era coberto por um linóleo, mas ao lado da cama havia um tapete trançado. Não era um quarto muito aconchegante, mas pelo menos a cama era confortável pensou Caroline quando se jogou nela.

Catando a maior parte dos insetos, conseguiu lavar o rosto e as mãos antes de tirar a roupa e colocar a camisola. Com toda a honestidade, desejou ter trazido pijama. Havia algo de vulnerável em dor­mir de camisola, pois não sabia se a cama iria ficar cheia de insetos durante a noite.

Empurrando para longe esses pensamentos inquietadores, apagou a luz e deitou. Imaginou que Elizabeth devia estar grata por haver luz elétrica, produzida por um gerador. Podiam muito bem ter encon­trado apenas lâmpadas a óleo e não ter nenhum tipo de geladeira.

Deitada ali, no escuro, Caroline começou a pensar em seu encontro daquela manhã com Gareth Morgan. Ela bem que sabia que isso iria acontecer. Cedo ou tarde, porém teria que aceitar o fato de que o que ele sentira por ela era passado, agora apenas a desprezava. Além disso, qualquer esperança de reconciliação deveria ser esquecida.

Mas assim mesmo as razões de sua vinda não tinham mudado. Tinha sido uma pena que não tivesse podido vir antes. Agora, qual­quer coisa que ela dissesse, ele obviamente não acreditaria, mesmo que estivesse preparado para ouvir, embora não o estivesse nem um pouco. Por que só se dá valor a alguma coisa quando essa já está fora do alcance?

Virou-se de bruços, enterrando o rosto no travesseiro. Será que nunca seria perdoada pelo seu comportamento de sete anos atrás?

Afinal de contas, só tinha dezessete anos, enquanto Gareth já tinha trinta. Talvez fosse por isso que ele desistira tão depressa. Talvez tivesse se considerado velho demais para ela. Mas não tinha sido isso. Fora sua própria crença que, sem um lastro sólido, sem dinheiro, nenhum amor podia ter esperança de sobreviver. Desde cedo, sua mãe tinha enfiado em sua cabeça o velho provérbio: "Quando a miséria bate à porta, o amor voa pela janela". E ela tinha acredi­tado, acreditado cegamente. Então seu próprio pai não tinha largado sua mãe por esse mesmo motivo? Não tinha fugido com uma moça que tinha emprego e não iria sobrecarregá-lo com um lar e uma fa­mília para sustentar? Então não conhecia casamentos em que os dois tinham que viver economizando e que desabafavam suas frustrações em brigas constantes? E ela tinha resolvido não se casar por dinheiro em vez de amor, mas sim por amor onde houvesse dinheiro.

O tempo tinha passado, mudaram-se as coisas e as idéias de Caroline, revelando-lhe exatamente o que tinha perdido. Mas então era tarde demais para voltar. Gareth tinha ficado fora do seu alcance, e ela continuou vivendo sozinha.

Fora bem-sucedida apesar disso. Freqüentara a faculdade e tor­nara-se uma eficiente professora, obtendo depois de formada uma ótima colocação em uma conceituada escola. Era benquista entre os outros professores e popular com os alunos. Após a morte da mãe, há dois anos, tinha comprado um pequeno apartamento e se tornado independente.

De vez em quando tinha notícias de Gareth. Ele tinha uma irmã casada que morava em Hampstead, não muito longe de onde mora­vam Caroline e a mãe. Sempre que Caroline ia visitá-los ouvia falar de Gareth.

De algum modo, o que Caroline tanto queria aconteceu. Pela dire­tora da escola, conheceu Jeremy Brent, o diretor de uma conhecida escola para meninos, em Kensington. Ele era tudo o que uma vez desejara para marido: rico e atraente, de ótima família, e o que era melhor, algum dia iria herdar o título de barão. Ele ficou imediata­mente atraído por ela e não perdeu tempo em convidá-la para sair e mostrar que seu interesse era sério. Caroline deveria ter ficado contentíssima e orgulhosa de um homem como Jeremy a desejar como esposa, mas havia alguma coisa que a impedia de se apaixonar por ele. Sabia que em parte era em virtude de seu amor, ainda vivo, por Gareth. Costumava dizer para si mesma que era uma tola, que se não tomasse cuidado iria acabar como sua mãe, uma mulher amarga e solitária. Apesar de tudo tinha ficado noiva de Jeremy, embora sempre adiasse o casamento.

Naturalmente Jeremy ficou impaciente. Não havia razão alguma para que não se casassem imediatamente. Ele tinha um apartamento na cidade, a escola e uma casa pequena em Sevenoaks, que serviria perfeitamente para morarem quando viessem os filhos. Ofereceu-lhe um cruzeiro nas Antilhas de lua-de-mel e um crédito sem limite no Harrod's para comprar o enxoval. Ainda assim Caroline hesitava.

No começo do ano, soubera que a mulher de Gareth o havia abandonado e que eles estavam se divorciando. Descobriu então que era por isso que estivera adiando o casamento com Jeremy.

Tinha esperança de que Gareth voltasse para a Inglaterra. Ela sabia que os pais dele estavam mortos, mas havia a irmã mais velha, em Hampstead, que não o via há anos. Mas Gareth não voltou, e, com o passar das semanas, Caroline ficou agitada e impaciente. Então, quando apareceu a oportunidade de acompanhar Elizabeth Lacey e as crianças a Tsaba, não hesitou. Tinha dito a verdade a Jeremy — que ela amava outra pessoa — e que antes de acertar com ele, queria ter certeza.

Jeremy pareceu não ficar surpreso. Tinha percebido há semanas que algo não ia bem com ela, mas quando foi para aceitar de volta o anel de noivado, não quis nem saber. Insistiu em dizer que era apenas uma fase que ela estava atravessando, e que quando chegasse à África e visse o tal homem outra vez, iria se dar conta de que estava sendo tola e que a emoção que sentira quando estudante não iria sobreviver à mulher adulta que era agora.

Entretanto, Caroline também sabia ser teimosa quando queria, e obrigou-o a aceitar de volta o anel.

— Quem é que sabe? — tinha comentado —, se, nas seis semanas em que eu estiver ausente, você não encontrará alguém muito mais merecedora de seu amor do que eu!

— Não brinque com isso! — protestara Jeremy, abraçando-a e beijando-a com ardor. — Não vou deixar você ir assim. Não vou deixar você sair do país sem o anel no dedo.

— Mas você não é meu dono — replicara Caroline calmamente.

— Talvez eu devesse ter forçado! — exclamou furioso. — Se você já fosse minha, esse sujeito não ia mais querer você. Ou você já foi dele?

Caroline dera-lhe uma bofetada. Não conseguira se controlar, e Jeremy acabou ficando envergonhado.

— Desculpe-me, desculpe-me, Caroline — dissera-lhe sem jeito —, mas será que não vê? Não con­sigo aceitar sua ida!

Mas no fim tinha vindo mesmo, apesar de ele ter ameaçado que se ela não estivesse de volta dentro de seis semanas como prometera, ele iria a Tsaba e a traria de volta à força.

Caroline virou de costas novamente e encarou o teto sem ver. De vez em quando podia ouvir uns barulhos do lado de fora da casa e estremecia em pensar no que poderia ser. Mas eram os sons noturnos habituais: o arranhar incessante dos insetos, o coaxar das rãs e o grito assustado de algum animal alcançado por um predador.

O que estava fazendo ali?, perguntou a si mesma com honestidade. O que a estava mantendo ali, talvez o risco de novas humilhações? E se afinal Jeremy fosse o amor de sua vida e acabasse se cansando de esperar por ela? O que faria então?

A resposta era simples mas crua. Estava ali porque, apesar de tudo, ainda se sentia atraída por um homem que mostrara a ela que seus sentimentos tinham mudado. E se Jeremy encontrasse outra mu­lher em sua ausência, esperava que fosse feliz. Ela mesma duvidava muito de sua capacidade de ser, quanto mais de fazer alguém feliz...

 



  

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