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Um Amor Que Não Morreu. Dark Moonless Night. Digitalização: Rosana Gomes. Revisão: Projeto Revisoras. CAPITULO I



Um Amor Que Não Morreu

Dark Moonless Night

Anne Mather

 

 

 

Cedendo aos impulsos de seu temperamento apaixonado, Caroline não vacilou em agarrar-se àquela oportunidade de rever Gareth, mes­mo à custa de sacrifícios. Sete anos se passaram desde que se recusara a casar com ele, porque Gareth não podia oferecer-lhe a segurança de um lar convencional. Só agora percebia quão estúpido e egoísta fora seu ges­to. Caroline queria reparar seu erro, sem recuar um passo na busca do tempo perdido. Haveria ainda algu­ma chance de reavivar as chamas da­quela paixão adormecida? Alimen­tando essa secreta esperança, ela par­tiu para a África, mesmo correndo o risco de ser considerada uma mulher livre e de favores fáceis.

 

Digitalização: Rosana Gomes

Revisão: Projeto Revisoras


 

 

CAPITULO I

 

O avião aterrissou nas primeiras horas da madrugada, e quase nada se via, a não ser as luzes do aeroporto, que, até onde Caroline podia perceber, era bem parecido com os outros aeroportos que ela conhecia, com exceção, é claro, de um detalhe — todos os funcionários eram negros. Também estava frio, muito mais frio que se poderia imaginar em um lugar tão perto do equador. Tinha havido a rotina habitual, os atrasos comuns com o controle de passaportes e com a alfândega, mas por fim puderam pegar o carro da companhia e irem para o hotel.

David e Miranda estavam de mau humor, o que não era surpresa alguma. Qualquer criança pequena ficaria assim se precisasse acordar de um sono profundo, para enfrentar as formalidades irritantes de um aeroporto, e até mesmo Elizabeth reclamava um pouco. Caroline é que tinha se encarregado de mostrar ao chofer a bagagem e de segurar dois pares de mãozinhas, todas elas querendo sua inteira atenção.

Por fim puderam se acomodar no banco de trás da enorme limusine enviada pela Companhia de Cobre Freeleng para transportar a família de um dos seus executivos. Dirigiram-se a Ashenghi, capital de Tsaba, por uma ótima estrada pavimentada e instalaram-se num hotel de luxo bem no centro da cidade, onde uma confortável suíte tinha sido posta à disposição da família.

Elizabeth, alegando cansaço e forte dor de cabeça, havia se enfiado debaixo dos lençóis frescos de sua cama. Por isso, Caroline lavara as crianças e, tendo colocado o pijama nelas, pusera-as para dormir, no quarto pegado ao seu. E fora também Caroline quem tinha acor­dado por duas vezes durante a noite: a primeira quando uma mari­posa gigante invadira o quarto das crianças, e a segunda quando David acordou assustado, estranhando o ambiente.

Mas tudo isso tinha acontecido já há algumas horas, quando o calor do quarto acordou Caroline. Parecia que ninguém ainda tinha se levantado no apartamento. A claridade forte que atravessava as venezianas foi suficiente para que ela se recordasse com clareza onde estava. Além disso, ouvia-se um grande alarido do lado de fora do hotel.

Jogou longe o lençol de algodão que de repente ficara pesado demais sobre seu corpo e pulou da cama. Achou agradável o frio do chão de cerâmica ao caminhar descalça até a janela, mas quando abriu a veneziana, o calor fez com que recuasse para a sombra até seus olhos se acostumarem.

Seu quarto ficava na lateral do hotel e logo pôde identificar o baru­lho que tinha ouvido. Três andares abaixo estava a cozinha e era dali que vinha o ruído de pratos e panelas e os gritos de alguém que dava ordens. Ouvia-se o bater de tampas de latas quando garotos negros vestidos com camisas brancas e usando enormes aventais vinham esva­ziar o lixo, e um grupo de cães vira-latas disputava um quinhão.

Pouco além da área da cozinha, via-se um gramado amarelado, e depois a rua por onde tinham chegado a noite passada. Apesar de agora ser intenso o tráfego, era de natureza completamente diferente do que estava acostumada a ver da janela de seu apartamento em Londres. Havia carroças e bicicletas, carros de boi com frutas e verduras, charretes e automóveis completamente cobertos de poeira. A rua propriamente dita era pavimentada, mas não havia calçada de espécie alguma, apenas trilhas cobertas de lama por onde andava uma corrente contínua de mulheres e crianças. As mulheres carregavam cestos cheios de roupas e outras mercadorias na cabeça, e Caroline deduziu que só podiam estar se dirigindo ao mercado. Esse modo de vida pouco sofisticado não combinava em nada com os blocos de arranha-céus ocupados por hotéis, escritórios e firmas comerciais que formavam o núcleo dessa aparentemente rica capital africana.

Voltando-se para dentro, Caroline tentou evitar uma sensação de desapontamento. Além de tudo, fora ela quem decidira vir para Tsaba, ninguém a obrigara. Embora fosse muito diferente da clareira na floresta, isso não queria dizer que estava arrependida por ter vindo. Muito pelo contrário, o ambiente não tinha importância. Ela viera para trabalhar, e se por acaso encontrasse Gareth, bem...

Só havia um banheiro para a suíte toda, e como parecia que todos os outros ainda estavam dormindo, Caroline aproveitou. Tomou um banho de chuveiro, passou um creme bronzeador nos braços e nas pernas, e escovou o cabelo até que brilhasse. Seu cabelo era seu forte, achava. Pesado e lustroso, caía como uma cortina escura até os ombros, onde virava para dentro e encostava em duas curvas sob o queixo. Também percebia que seus olhos amarelados com pestanas compridas e a boca bem feita davam-lhe uma aparência muito atraente, embora nunca tivesse se considerado bonita. Achava-se muito alta. Garotas que tinham um metro e setenta descalças nunca podiam parecer fracas e desamparadas, e se ficava muito bem com roupas atre­vidas e de cores fortes, não podia usar roupas de babadinhos, muito femininas.

Depois do banho, vestiu uma calça justa em tom lilás e uma frente-única amarela. Ao voltar para o quarto, ouviu David e Miranda dis­cutindo e, ao chegar à porta do quarto deles, Miranda começou a chorar. Assim que viu Caroline correu para ela, abraçando-se às per­nas da moça.

Caroline soltou os braços da menina e agachou-se ao lado dela.

— O que está havendo aqui? — perguntou com delicadeza.

— Ela é um bebê — comentou David, com toda a ênfase de um menino de sete anos falando sobre uma menina de cinco. — Eu só disse que tem aranhas em La Vache!

— Oh! David! — Caroline olhou-o meio impaciente.

— Ele não disse só isso! — gaguejou Miranda, olhando lacrimosa para o rosto de Caroline. — Ele disse... disse que elas... que elas são enormes e que... e que iam vir para a minha cama de noite!

Caroline levantou-se e encarou o menino.

— Disse, não disse? Bem, que beleza, não, David? Assustando uma menina pequena. E não qualquer menina. Sua própria irmã!

David acabou ficando envergonhado.

— Eu só estava brincando! — resmungou para dentro da gola do pijama.

— Imagino que também era uma brincadeira, quando você acordou esta noite, com medo e chamando mamãe?

David encolheu os ombros.

— Aquilo foi diferente! — exclamou, ficando vermelho, quando viu que Miranda olhava para ele. — Eu... eu tive um pesadelo.

— E não acha que o que andou contando para Miranda é capaz de dar pesadelos?

— Acho que sim.

— Certo. Então não faça mais isso. — Caroline olhou para Mi­randa. — Tudo bem agora?

Miranda disse que sim com a cabeça.

— Mas existe mesmo aranhas em La Vache? — insistiu.

Caroline suspirou.

— Miranda, existem aranhas em todos os luga­res. Precisa ser assim. As aranhas são muito úteis.

— Como? Como é que podem ser úteis? — David saiu de sua cama e chegou perto delas.

Caroline sentou-se pacientemente na cama de Miranda e estava explicando o papel das aranhas às crianças, quando uma moça esbelta, vestida de camisola, entrou pela porta aberta.

Elizabeth Lacey, a patroa de Caroline, tinha quase trinta anos, mas parecia ter menos. De aparência pequena e vulnerável, pertencia àqueIa classe de mulheres que parecem incapazes de fazer até as tarefas mais fáceis, e Elizabeth se aproveitava disso. Caroline, que conhecia Elizabeth muitos anos antes de trabalhar para ela, sabia perfeitamente que, se ela quisesse, podia fazer qualquer coisa, mas como tinha um marido sensível a seus reprovadores olhos azuis e com um problema de culpa por seu trabalho mantê-lo sempre longe da família, Elizabeth evitava tudo o que pudesse aborrecê-la. Na Inglaterra, sua mãe fazia o papel de empregada, pensava Caroline, mas quando veio passar estas semanas na África, até mesmo a mãe tinha dito não. Por isso, Caroline viera.

Elizabeth mexeu o pescoço com um ar cansado, e disse: — Que horas são? Ainda não acertei meu relógio.

Caroline deu uma olhada em seu relógio de pulso.

— Passa um pouco das nove — respondeu. — Está com fome?

— Fome? — perguntou Elizabeth espantada. — Não...

— Eu estou!

— Eu estou!

Duas vozes aflitas cobriram a voz da mãe e Elizabeth olhou zan­gada para eles.

— Por favor! — disse, pondo a mão lânguida na testa. — Estou com dor de cabeça. Por favor, tentem se comportar como crianças educadas e não como moleques!

Caroline não podia imaginar duas crianças que menos se pareces­sem com moleques, mas tirou Miranda com firmeza do colo e levantou-se.

— Você não está se sentindo melhor, Elizabeth?

— Está tão quente, não acha? — Parecia querer se controlar. — Charles já ligou?

Caroline negou com a cabeça.

— Imagino que ele esteja dando tempo para você descansar primeiro.

Os olhos azuis de Elizabeth se endureceram.

— Acho que ele pelo menos podia ter feito um esforço para ir ao aeroporto na noite passada em vez de nos deixar nas mãos de estrangeiros!

Caroline olhou para as crianças, vendo que não estavam perdendo uma palavra do diálogo.

— Você sabe perfeitamente que era impos­sível para ele sair de La Vache ontem, Elizabeth — disse ela, levan­do-a para fora do quarto das crianças. — Vão lavar o rosto, vocês dois — acrescentou virando para trás. — Depois vamos comer algu­ma coisa.

Já em seu quarto, Elizabeth ficou feliz por se deitar novamente.

— Você é tão eficiente, Caroline — disse suspirando, recostada no travesseiro. — Fiquei muito feliz por poder ter vindo com a gente. Não sei como teria me arranjado com as crianças neste lugar horrível sem alguém para me ajudar.

— Agora descanse — aconselhou Caroline, arrumando a roupa da cama. — As crianças e eu vamos descer até o restaurante para tomar café. Quer que mande alguma coisa para você?

Elizabeth piscou.

— Bem, talvez um pouco de café — disse. — Será que neste lugar existe torrada?

— Vou ver. —- Caroline mordeu os lábios. — Descanse e deixe o resto comigo.

— Mas, e sobre Charles? Será que não era melhor você telefonar para ele?

— Charles vai dar um jeito de se comunicar com você assim que puder — replicou Caroline com firmeza. Foi andando para a porta. — Você está bem, não está?

— Acho que sim. Caroline, você acha que fiz bem em vir para cá? Quero dizer, como será que vai ser La Vache?

— Seu lugar é junto a seu marido, Elizabeth. E se ele precisa trabalhar em algum país da África central, então é ali que você deve estar.

— Oh, eu não conseguiria morar aqui! — Elizabeth estava horro­rizada.

— Ninguém está pedindo para você fazer isso — retrucou Caroline, calmamente. — É só passar algumas semanas com seu marido, já que ele não pôde ir para a Inglaterra para ficar com vocês.

— Acho que você tem razão — concordou Elizabeth. — Mas não parecia convencida.

— Agora olhe — disse Caroline — se meu marido passasse mais do que nove meses do ano longe de mim, eu na certa faria alguma coisa para pôr fim a isso.

— Faria? — Os olhos de Elizabeth se apertaram. — Como? Não se casaria, por exemplo?

— Não sei o que você quer dizer.

— Oh, sim, Caroline. Sabe sim! — Elizabeth não parecia tão frágil quando atacava. — Assim que você descobriu que Gareth Mor­gan não tinha a intenção de largar seu emprego no exterior para ficar trabalhando num escritório qualquer em Londres, você simplesmente largou dele!

— Elizabeth, eu tinha só dezessete anos...

— Isso não tem importância. Você tinha cabeça bastante para não se ligar a um engenheiro que gostava de se aventurar em países distantes.

— Não foi bem assim...

— Não foi? — Elizabeth parecia cética. — Por onde será que ele anda agora? Gareth, quero dizer. Onde ele está? Da última vez, soube que estava trabalhando em uma hidrelétrica em Zâmbia.

— Vou providenciar seu café. — Caroline se recusou a continuar o assunto.

Elizabeth imediatamente pareceu arrependida.

— Oh, Caroline, não a ofendi, não é? — perguntou em tom ansioso.

— Não, é claro que não me ofendeu — respondeu Caroline meio seca, saindo e fechando a porta.

Só que não foi tão fácil fechar a porta de seus pensamentos. Apesar de tudo, havia uma dose de verdade no que Elizabeth dissera, apesar do tempo ter apagado alguns dos aspectos menos agradáveis dos epi­sódios de sete anos atrás. Chegou até a sentir um pouco de culpa por não ter contado a Elizabeth que sabia que Gareth Morgan estava trabalhando em Tsaba, na construção de uma represa no rio Kinzori, a apenas alguns quilômetros de La Vache. Mas como é que poderia contar, se não tinha a menor idéia de qual seria a reação de Gareth à sua presença em Tsaba? Ele não tinha a menor idéia de que ela pudesse estar lá.

Deixando de lado as dificuldades que provavelmente acabariam por aparecer, Caroline foi procurar as crianças. Miranda estava obe­dientemente colocando o vestido de algodão com que viajara. Caroline iria arranjar uma roupa mais fresca para ela, logo depois do café. David, ao que parecia, ainda não tinha saído do banheiro, e quando Caroline foi ver o que estava acontecendo, encontrou-o debaixo do chuveiro, o chão todo inundado.

— Oh, David! — exclamou, chutando as sandálias e atravessando as poças d'água para fechar o chuveiro. — Vá se vestir imediatamente antes que eu faça você me obedecer de outro jeito!

David deu um risinho e, agarrando a toalha, escapuliu do banheiro, deixando Caroline sozinha enxugando o chão. Ela o fez depressa, a tempo de evitar que as crianças entrassem no quarto da mãe.

— Mamãe está descansando — explicou baixinho. — Nós vamos para o restaurante tomar café, e mais tarde imagino que o papai vá telefonar para combinar como iremos para La Vache.

Miranda puxava seus cachos curtinhos, tão parecidos com os da mãe.

— Vai ser hoje? — perguntou ansiosa. — Vamos ver papai hoje?

— Provavelmente. — Caroline não queria dar-lhes muitas espe­ranças. — La Vache fica a cento e vinte quilômetros daqui, e as estra­das não são como as da Inglaterra. E são só caminhos de terra depois que sairmos da cidade.

— Como é que você sabe? — perguntou David, sempre prático. Seus cabelos ainda estavam molhados, mas Caroline achou que com o calor que estava fazendo, não demorariam a secar. Só com o pequeno exercício que fizera, secando o chão do banheiro, já se sentia suada, e estava imaginando o que Elizabeth faria se precisasse realizar algum esforço físico.

— Eu li nos livros. E também me lembro do que seu pai contou para nós quando esteve de férias. Além disso, se você soubesse alguma coisa sobre os climas, iria perceber que as coisas aqui não são como lá em casa.

Viu que Miranda não estava entendendo, e enquanto desciam o cor­redor até os elevadores, tentou explicar como a vegetação podia cres­cer quase da noite para o dia, destruindo grande parte de um trabalho. Na verdade, ela mesma achava difícil acreditar nisso. Nunca tinha visto a ação destruidora dos cipós gigantes, estrangulando a vida das plantas novas, emaranhando as árvores umas nas outras, formando uma massa compacta que só se abria a poder de machados. Mas isso acontecia mesmo, e as crianças ouviam fascinadas essas revelações.

Embaixo, uma grande sala, com um enorme ventilador no centro, se abria para as outras dependências públicas do hotel. Vasos com plantas-trepadeiras, que subiam por treliças, e urnas de pedra cheias de flores enfeitavam a sala de piso de mármore. Era óbvio que nenhu­ma despesa fora poupada para tornar o Hotel Ashengi tão atraente para os hóspedes quanto fosse possível num clima tão próximo do insuportável.

Ao parar para estudar o ambiente, Caroline viu o chefe dos gar­çons parado na entrada do restaurante, observando o trabalho dos seus subordinados. Fez uma mesura quando ela chegou perto e pediu uma mesa. Seu inglês era bom e Caroline agradeceu, depois de ele lhes ter indicado um lugar perto de uma das janelas, dizendo:

— A sra. Lacey, a mãe das crianças, não está se sentindo bem. Gostaria de tomar o café no quarto. Será que o senhor poderia providenciar?

O chefe dos garçons sorriu, os dentes brancos sobressaindo no rosto negro.

— É claro, madame. Vou eu mesmo providenciar. E agora, o que a senhora e as crianças vão querer?

Caroline pediu café, mas David e Miranda preferiram suco de frutas. Todos, porém, comeram pãezinhos quentes com bastante geléia.

A manteiga vinha em um recipiente com pedras de gelo, e eles não apreciaram. David, com sua franqueza habitual, disse bem alto que ela estava rançosa. Claro que não estava, mas até mesmo Caroline preferiu não comê-la. Havia também um prato com frutas, mangas e bananas, mamões e laranjas, mas Caroline recomendou às crianças que esperassem um pouco antes de comer frutas tão pouco familiares. De qualquer modo, foi uma refeição agradável. Os ventiladores, entremeados pela sala, produziam uma fresca brisa. O ar condicionado mantinha a temperatura mais baixa, e os ventiladores ajudavam a dis­persar as moscas.

A julgar pelo número de mesas usadas, parecia que a essa hora da manhã a maioria dos hóspedes do hotel já tinha tomado café, e Caroline e as crianças foram os últimos a sair. Estavam indo para os elevadores quando um homem que estava falando com a recepcio­nista se virou e olhou para eles. Era alto e magro, mas musculoso, vestido com calça bem justa marrom e camisa clara, mas o que atraiu a atenção de Caroline foi seu cabelo. Era loiro, mas possuía mechas mais claras, como se o sol o tivesse queimado, e fazia um estranho contraste com o tom queimado da pele. Ela só tinha conhecido um homem com o cabelo daquele jeito, um homem cujos olhos azuis fica­vam verdes quando emocionado, um homem que um dia a pedira em casamento, e ela tinha negado, depois de ter afirmado infantil­mente que não tinha a intenção de se casar com um engenheiro pobre-tão e ir morar em algum país longínquo, horrível e subdesenvolvido. Como tinha sido tola então, como tinha sido descuidada com a coisa mais importante de sua vida...

O homem estava parado, imóvel, olhando para ela, e Caroline se sentiu pouco à vontade sob tamanho exame. Mas por um momento ela também tinha ficado tão espantada quanto ele. Que estaria pen­sando? Que espécie de coincidência imaginaria que estivesse acon­tecendo?

Percebendo que a iniciativa devia partir dela, deu uns passos na direção dele e disse: — Olá, Gareth. Que surpresa, não?

Gareth Morgan se recuperara admiravelmente do choque. De fato, ele nem parecia chocado. Caroline é que estava enfrentando um tremor pelo encontro, sentindo as palmas úmidas e suor escorrendo pelas costas. Não tinha percebido até então como tinha desejado vê-lo novamente, e estava sentindo um ridículo impulso de correr para ele, abraçá-lo e pedir perdão pelo que tinha acontecido há sete anos.

Mas só o fato de tudo ter ocorrido há sete anos já impedia qualquer demonstração de emoção. Sete anos era um tempo muito longo, e muita coisa tinha acontecido para ambos. Por que então tinha espe­rado tanto tempo antes de tentar encontrá-lo? Mesmo agora, frente a ele, o tempo parecia maior ainda, aumentado pelo olhar distante e frio de Gareth.

— Então você veio mesmo, Caroline — comentou por fim. — Não acreditei que viesse.

Não fez a menor tentativa de apertar a mão que ela lhe estendia, e ela, sem jeito, deixou o braço pender ao longo do corpo. Estava consciente do interesse de Miranda e da curiosidade de David, e ar­mando-se de todo seu controle, disse: — Não sei o que está queren­do dizer.

— Não? Não tem importância. — Gareth pareceu cético.

— Então sabia que eu vinha para cá? — disse Caroline.

— Sabia? Claro que eu sabia. Acho que a idéia era essa, não? Só não consigo imaginar por que foi se incomodar.

— Acho que você está enganado se pensa que eu mandei alguém avisá-lo de que vinha para cá... — respondeu zangada.

— Estou, é? — O tom de voz era de zombaria. — Não imaginava que fôssemos nos encontrar?

Caroline baixou a cabeça para as crianças.

— Olhem! — disse. — Há um macaco se escondendo naquela ár­vore logo ali perto da janela. Por que vocês não vão dar uma espiada?

David olhou para Caroline, depois para o homem alto.

— Você só está querendo se ver livre da gente, não é? — falou cla­ramente. — Por quê? Quem é esse homem? Ele trabalha para o papai?

Caroline endireitou-se, o rosto queimando. Não era esse absoluta­mente o modo que imaginara para seu primeiro encontro com Gareth Morgan. Tinha esperado surpreendê-lo, e se tinha esperado alguma reação da parte dele, certamente não era esse „desprezo e essa mal disfarçada zombaria.

— São os filhos de Lacey? — perguntou ele, e David disse:

— Eu sou David Lacey e esta é minha irmã Miranda. Quem é o senhor?

— Sou Gareth Morgan — replicou Gareth, sua expressão ficando mais suave ao se abaixar ao lado das crianças. — Acho que podem me considerar um amigo do seu pai.

— Você também mora em La Vache? — perguntou Miranda.

— Não, moro num lugar chamado Nyshasa, perto de La Vache. Fica perto do rio.

— Tem crocodilos no rio? Minha professora disse que tem croco­dilos na África. — Os olhos de David estavam arregalados.

— Oh, mas há. Mas eles preferem águas mais calmas do que onde eu moro. Mas temos hipopótamos, e eles são muito interessantes também.

— Que bacana! — David estava entusiasmado. — Você acha que meu pai me leva para vê-los?

— Eu também! — pediu Miranda, e Caroline os interrompeu.

— Agora não, crianças — afirmou, percebendo que o tom irritado de sua voz tinha menos a ver com as crianças do que com o homem que conversava com elas. — Tenho... tenho certeza que o sr. Mor­gan tem coisas mais importantes a fazer do que ficar conversando conosco.

Gareth levantou-se, flexionando os músculos e chamando a atenção de Caroline para a largura do peito. Estava mais magro do que ela se lembrava, mas não menos atraente por causa, disso.

— Pelo contrá­rio — ele falava calmamente. — Eu vim aqui para encontrá-los e levá-los para La Vache.

— O quê? — gaguejou Caroline, depois tentou depressa esconder o espanto. — Mas... mas eu não estou entendendo...

— Nicolas Freeleng e eu somos velhos amigos. Lacey contou para ele que uma velha amiga minha vinha para cá para ajudar a esposa dele com as crianças. Depois, quando apareceu um problema na mina, e ia ser difícil para Lacey sair, ele me pediu se eu podia fazer o favor, já que éramos velhos amigos.

— Sei... sei. — Caroline engoliu isso com dificuldade. — Bem, sinto muito se estamos atrapalhando sua vida.

— E quem disse isso?

— Ninguém, mas...

— Mas o quê? — Os olhos de Gareth se apertaram como duas lâminas azuis. — Não era esse o modo como pretendia que nos encon­trássemos? O que esperava fazer, Caroline? Me desarmar com a sur­presa e me seduzir com algo mais?

Caroline ficou chocada com o tom amargo da voz dele.

— É claro que não — negou com veemência. — Certamente depois de todos esses anos podemos nos encontrar como amigos.

— Amigos! — Agora havia puro desprezo na voz dele. — Caro­line, nunca poderemos ser amigos, e você sabe disso. Agora, eu não sei o que você pretendia quando resolveu vir para cá. Pensei que você a essa altura já estivesse bem casada com um homem de negócios. Essa era a sua intenção, não era? — Mordeu os lábios. — Eu estaria prestando até um desserviço a você em suspeitar que pudesse estar incluído em seus planos. Mas estou fazendo um aviso, se você está pretendendo reacender velhas fogueiras para se divertir enquanto está aqui, vai simplesmente perder seu tempo!

 

 



  

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