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Sonhar de um estudante de engenharia, de vinte e seis anos, sem quaisquer sintomas específicos de psiconeurose, meramente “cheio de” problemas.



Eu sonhei que estava acima da terra, o suficiente para vê-la como um globo. Oconflito entre as grandes poténcias havia chegado a um ponto em que uma guerra atêmica era iminente Os nomes desses potências eram China, Estados Unidos, Rússia e Iiflterra, mas não havia seres vivos que as representassem, nenhum polftico ou general vivo, apenas blocos inanimados, pedras, peões de xadrez. Opior nunca chegou a acontecer. Mas uma bomba atômica caiu no oceano, e eu sabia que um grande peixe — ou a%o assim — tinha o poder de fazê-la explodir ali, mais ou menos depropósito. Eu senti que este era um pu%o adicionaL
Seguindo-se o relato do sonho, o paciente por suaprópria conta dirigiu duas perguntas ao Paseinsanalista:
a, “A terra no sonho significa toda a minha pessoa?”

b.“As grandes potências no sonho referem-se aos meus próprios poderes mentais, que estão em luta?” Do ponto de vista Daseinsanalítico, ambas as perguntas poderiam ser respondidas com umdecidido não. Nãohá nada na experiência dramática do sonhar em si quejustifique a premissa de quea terra sonhada era“na verdade” alguma outra coisa além daquilo que parecia ser.Igualmente insustentável éa hipótese de que as potências políticas carregassem algum significado além do significado óbvio de potências políticas. Não éapenas no sentido teórico que a tentativa do paciente de “reinterpretar” aquilo que percebeu aosonhar fracassa. Tal reinterpretação teria o efeitode distorcer a experiência onfrica para um exame terapêutico. O queo sonhador percebeu foi umconjunto de fatos, tendolugar na terra, que não o afetavam diretamente. Enquanto durou o seu sonhar, o paciente abandonou o seu planeta assumindo uma posição bem acima dele. A terra gira a quilômetros e quilômetros de distância abaixo dele. Naturalmente, a sua poalção “elevada” lhe permite ver tudo que acontece na terra. Porém, no final, ele tem urna relação distante com a terra, não muito diferente da de um astronauta. A sua percepção do que sucede no mundo terreno éparalelamente limitada àquilo que ele consegue enxergar com seus olhos a uma grande distância. Todavia, mesmo estando tão longe, ele fica preocupado com a catástrofe que está fermentando lá embaixo. Mas não adota qualquer outra atitude. Não lhe ocorre participar pessoalmente da. batalha abaixo de si; em vez disso ele se mantém meramente como um observador passivo. E a terranão está apenas a tantos quilômetros de distância do sonhador. sua relação com ela, e com tudo nela acha-se distante num sentido duplo, triplo, atémesmo quádruplo. Pois, de tudo que ele é capaz de registrar como observador distante, ahumanidade, a vida e o calor desapareceramcompletamente da face da terra. O que resta são meros blocos de pedra e figurasde madeira, com excessão de uma única criatura viva: o peixe. Mas até mesmo esta criatura o sonhador só consegue detectar nas mais escuras profundezas, encoberta pela tremenda massa de água do oceano, E ainda mais, a única criatura restante no mundo onírico do paciente é tão ameaçadora quanto as potências petrificadas, inanimadas..A únicadiferença éque o potencial do peixe para destruir o mundo detonando a bomba atômica foi deslocado para a distância temporai de um futuro Indeterminado, e para a distância espacial deum fundo deoceano fortemente obscurecido. Faz-se necessário grande cuidado aoaplicar insights fenonznológicos tais como estes em terapia. Naturalmente, o terapeuta é justificado a formular unia série de perguntas. Como dissemos antes, o paciente poderia ser indagado, na sua sessão deanálise seguinte, se era capaz de perceber mais quando desperto do que ao sonhar, Por exemplo, ao sonhar ele estivera preocupado

apenas com a destruição que poderia se seguira um conflito iminente entre blocos de poder que se encontravam espacial e pessoalmente distante dele. Entretanto, seria cedo demais perguntar se havia começado a sentir que ele, como existência humana, estava ameaçado com a irrupção de um conflito similar entre as suas próprias forças vitais hostis. Perguntar isto poderia acarreter conseqüências calamitosas, levando o paciente a retrair-se de medo para “alturas” ainda mais distantes, fazndo com que perdesse ainda mais o seu pé na terra. Pior ainda,formular estetipo de pergunta poderia detonar uma devastadora explosão existencial que levaria a identidade dopaciente a mergulhar no caos da psicose. Pois o fato de que o holocausto atômico visto em sonho poder ser postergado não oferece qualquer segurança de que erros em terapia não possam danificar a sua existência desperta.
Quando um pacienteS perdeu seu pé naterra da forma como este, é aconselhável queo terapeutalimite-se a oferecer sugestões cautelosas por algum tempo. Noinício,o sonhador deve ser auxiliado apenas a reconhecer sua distância onírica de tudo o que éterreno e vivo, “sua postura aérea” acima do globo, e a conversão de seres humanos em coisas de pedra e madeira.
Então poderia ter sido possível perguntar ao paciente se,agora queele estava desperto, percebia não só em sonho a grande distância que o separava de qualquer ente que não fosse parte de si próprio, mas, acima de tudo, a distância emocional e existencial que mantinhaem relação a tudo e a todos queencontrava. Só muito depois de opaciente ter assimilado o fato de quecompulsivamente se mantinha a grande “distância social” éque chegaria a hora de indagar a respeito do que o motivara a um auto-isolamento como aquele. Se o terapeuta for capaz de escolher a hora apropriada para sua pergunta, o paciente espontaneamente terá alguma idéia da medida em que sua impotência infantil, em face das “grandes potências” que seapresentam diante de toda pessoa, motivou sua “subida” existencial para as alturas distantes“subida” esta que pode ser percebida emsonho apenas pela sua distância fLsica acima da terra material. Precisamente quais as “grandes p0- tências” responsáveis por amedrontar o paciente é algo de que ele poderá se tomar seguramente cônscio apenas no decorrer de una Daseinsanálise prolongada.

Exemplo 15:

Sonhar de um jovem médico, sofrendo dedepressão crônica e extrema falta de contato com seu meio ambiente. Pouco após um exame médico, ele sonhou o seguinte:

Estou caminhando pela rua com o meuvelho colega deescola N. Nósvemos pequenos pacotinhos brancos colocados ao longo da calçada em intervalos regulares. Eles estão disfarçados detal maneira para que nlnguénijaiba.jaaiajs o que realmente são,
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mas nós sabemos que eles contêm explosives. Eu mando N. ir até a polícia, para informara nossa descoberta. Então eucomeço a ficar com medo porque osexplosivos estio muito perto dcmim; quero ir àpolícia eumeano e deixar N. aqui. De repente, N. se joga ao chio. Eulogo vejo o porquê. O terrorista oucombatente da liberdade quecolocou osexplosivos aparece vindo deum bosque nas imediações; ele vemverificar os pacotes.Ele aponta uma azuis para nós. Eutambém mejogo ao chio e acordo aterrorizado, sabendo que meuamigo e euchegamos ao fim.
No seu estado de sonho, o paciente existe como um campo aberto de perceptibilidade e compreensão no qual os seguintes entes são capazes de vir à luz eser:
a. Uma rua
b. O próprio sonhador
c. SeuantigocolegadeescolaN.
d. Um terrorista, ou combatente da liberdade
e. Pacotes de explosivos
f. A polícia de segurança
g. O perigo de ser morto pelo terrorista ou combatente da liberdade
Com referência a a: O fato de estar andando por uma rua conta que o Sonhador está a caminho,movendo.se para diante em oposição a estar parado.
Com referência a b : Sonhando ou acordado, o paciente tem consciência de si próprio como um resoluto, laborioso, geralmente calado, pilar da burguesia classe-média. Aparentemente, não se sente muito à vontade mesmo em nenhum dos dois estados, acordado ou sonhando.
Com referênciaa c:AfiguradoseuantlgocolegadeescolaN.revelaao paciente um tipo radicalmente diverso de natureza humana. Pois, conforme a plena percepção do paciente no seu sonho, N. tinha se tornado uma espécie dê“hippie” e drogado, isto é, uma pessoa que não se confonnava como ele próprio com as regas da sociedade seguidas pelo“establlshment”
Com referência a
d: A aparição um tanto distante do terrorista ou combatente da liberdade revela ao sonhador um tipo de natureza humana que se acha ainda mais veementemente oposta ao seu conformismo do que a existência boêmia passiva do seu ex-colega de escola. Com os seus explosivos, o terrorista ou combatente da liberdade representa uma ameaça muito mais violenta ao estilo de vida do próprio sonhador. No entanto, o que o. sonhador percebe em ambas as figuras, no “hippie” e no terrorista, é mais do que apenas una ameaça à ordem existente na qual ele tem vivido até agora. Ambos lhe permitem sentir a possibilidade de uma liberdade maior, que explica por
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que não consegue decidir se o homem que emerge dobosque éum terrorista ou um combatente da liberdade.Nem o “hippie” nem ooutro são repudiados totalmente: N. é invejado pelasua naturalidade, e oterrorista, como dissemos, não ésimplesmente um destruidor; ele tambémestá lutandoliberação de normas inflexíveis.
Com referência a e: De outro lado, no seu estado desonho o paciente não temnenhuma intenção dereconhecer ocomportamento do “hippie” e doterrorista como algo possível emsua própria vida, e tampouco adotar qualquer um deles para asua própria identidade.Aos seus olhos sonhadores, os tipos denatureza humana exemplificados pelo “hippie” epelo terrorista são inteiramentealheios a ele mesmo,perceptíveis apenas a partir e através de outros. Obviamente, a merapresença no sonhar de tais“outros” traz o sonhador para umaproximidade estreita com essespadrões de comportamentoalheios.
Com referência a f: Rapidamente,porém, a necessidade de manter-se tal como ele é e sempre foivem à tona.Ele prefere expor o tipo de comportamento representado pela figura do seu antigo colega N. a uma expIosãoiminente, optando por preservar para si próprio o comportamento que está habituado a praticar, e aoqual se refere todavez que diz “eu” nosonhar. Alterando seuintuito inicial nosonho, eleescolhe deixar seu amigo boêmio para trás com os explosivos, aopasso quese coloca sob a proteção da polícia, que é arepresentante da opiniãopública convencional.
Com referência a g: Oseu instinto deautopreservaçãó é ativado tarde demais. Tanto ele como o “hippie” passivo einofensivo caem vítimas da bomba. O terrorista, ou combatente da liberdade,permanece vivo, bem co-moa polícia, em algumlugar no plano de fundo.
Em
contraste com o procedimentoterapêutico utilizado com o sonhador número 14, aqui opaciente já desperto poderia ser diretamente confrontado comaquilo que se sabe que percebeu ao sonhar.Isto se dee ao fato de o pacienteter permanecidofirmemente arraigado ao solo enquanto sonhava, ao passoque o sonhador número 14pairava muitoacima dele. Nosonho número 15, o paciente se encontraandando por uma rua comum,terrena. Apenas o perigo de umaexplosão iminente interrompe a caminhada. Ainda assim, em terapia ele deveria ser forte à bastante paraenfrentar o perigo dos tipos contrastantes denatureza humana que definiram oseu sonhar, com acondição de queseja levado a tomarconsciência deles ao despertar. Não haveria nenhumrisco em lheperguntar se ele nãovia agora no seu estado desperto muito mais, emuito mais profundamente, doque fora capaz de

experiencãar emsonho, embora dados de significação essendalmente igualestivessem presentes emambos os estados. Sonhando, elehavia tomadoconsciência da caminhadafísica ao longo de uma rua, do amigo “hippie” e doterrorista ou combatente da liberdade. Assim, o terapeutacontinuaria a perguntar aopaciente:
Agora que está acordado, você pode entender que está existencialmente a canil- alio, progredindo como um ser humano inteiro? Em que medida você já écapaz, quando desperto, de tomar consciência do fato de o tipo hippie e o tipo terrorista-combatente da liberdade serem formas de se relacionar com os outros seres humanos que também pertencem àsua própria existência? Ou você, também quando está acordado, ainda tem muito medo destas possibilidades existenciais, a ponto de não ousar reconhecê-las como algo pertencente a si mesmo? Será que elas, uma vez que você as tenha integrado voluntariamente àsua própria existência, poderio realmente explodir a estrutura burguesa bem ajustada das formas reconhecidas de conduta que você tem adotado exclusivamente agora?
Mas isto teria sido uma atitude totalmente irresponsável, do ponto de vista terapêutico, não tivesse o analista, muito antes deformular as perguntas acima, primeiramentecomeçado ressaltando a tendência defugir que o paciente demonstrou. Naverdade, o paciente ao sonhar foi ficando cada vez mais preocupado com a autopreservação, isto é,salvaguardar o caráter de natureza humanaque atéentio elereconhecera como seu.Para salvar isto, ele não hesita em sacrificar a figura “hippie”amigável, nem defugir doterrorista — ou combatente da liberdade— procurando a polícia.Uma vezque a polícia representa a opiniãopública corriqueira, àqual ele está acostumado, elaconstitui o asilo do paciente, protegendo-o contra todamudança liberadora. Trata-se de fatouniversalmente conhecidoque o que as pessoasneuroticamente perturbadas mais receiam em análise é penetrar numa liberdade mais ampla,até então nãopraticada.
Exemplo 16: Sonhar de um médico de vinte e oito anos, depressivo, com relacionamentosseriamente perturbados.
Na minha condição de médico, sou chamado numa emergência. Justamente quando começo a sair do carro com a minha maleta, vejo um menino pequeno, talvez de cinco anos, na frente da casa. Ele está deitado na borda de uma calçada levantada. Pense comigo mesmo: “Esse menino está muito doente.” O seu abdome está inchado e duro como uma pedra. No meu sonho eu me lembro de que a única vez além desta,que eu encontrei um abdome assustadoramente ruo, foi num caso irremediável de pan- acatite aguda. Depois de ter examinado e parclalmente despido o menino, eu tiro daminha maleta um tubo de teflon transparente, mais ou menos da grossura do meu polegar. Eu empurro o tubo para baixo através do esôfago do menino, lentamente, mas com uma força considerável. Mas mal eu começo a despejar uma solução de lavagem, o menino subitamente regurgita uma massa esbranquiçada cheia de caroços enormes.

cinco anoscom um caso potencialmente letalde retenção e restrição, ele o ex-

Logo em seguida, elefica alegre, senta e começa a falar. Ele me agradece pela minha ajuda,e então aponta para o estômagoe diz: “Olhe, está de novo macio e gostoso de sentir.” E éverdade, a sua região estomacal me dá a sensação de uma reentrinda mada. Mais abaixo no abdome, porém, ainda há uma área de resistência dura, O menino mediz que isso vai ter que sair, mas que não apresenta perto imediato. De repente, a calçada naqual o menino estava deitado transforma-se na arquibancada de um circo ou academia hípica e nós, o menino e eu, estamos assistindo a unia exibição de garanhões brancos treinados.
O jovem médico sonhou isto justamente dois dias depois de ter falado pela primeira vez com seu futuro analista, revelando urna quantidade de se. gredos anteriormente bem guardados. Todavia, esperou vários meses para relatar o sonho, dizendo ao analista depois de tê-lo feito:
Por alguma razão desconhecida, fui deixando de lado a tarefa de relatar o soalio. Eu devo confessar que a nossa primeira discussão me forçou a dizer uma porção de coisas que eu carregava dentro de mim como pedaços de carvão ardentes, experiências que eu tinha sido incapaz de assimilar. Quando eu saí daqui e estava indo de carro para casa, tive uma sensação de estar queimando, uma sensação forte àdoMa, não sé no meu peito, como tinha antes, mas em toda a extensão desde o pescoço até o abdome, Era como se eu tivesse engolido água fervente. Depois de eu acordar domeu sonho, imediatamente me ficou claríssimo que eu era exatamente o tipo de menino que tinha visto ao sonhar e que, num sentido figurativo éclaro, estava andando por aí com o mesmo tipo de inchaço no estômago. Mas então comecei a me perguntar de onde éque eu tinha tirado essas idéias, uma vez que nunca cheguei a me tornar o menino do sonho, atuando sempre como o iqédico que o tratou. Até mesmo na osna de circo subseqUente, o meninocontinuou sendo o menino, e eueta o médico que tinha acabado de tratá-lo. Durante todo otempo que durou o sonhar,nós nosconservamos como doisobservadores claramente distintos.
Este homem, um jovem medico finamente treinado num pensar científico estrito, emite uma série deobservações que mais uma vez questionam a psicologútica Interpretação dos sonhos a nível subjetivo”. Ele está no caminho certo, pois o menino que sofre no seu mundo de sonho não éem momento algum ele próprio,o médico. E tampouco o médico chega a experiendar o menino como uma parte de si mesmo. Mais umavez, poderíamos considerar a hipótese de uma “superpessoa” onisciente “dentro” ou “atrás do paciente” capaz de cindir a “configuração do ego”, criando urna imagem de um menino estranho de umlado, e então projetando a imagem para o mundo do sonho, onde ela écolocada como umespelho diante daoutra parte do “ego”. Entretando, osfatos argumentam em favor de algo bem distinto. Jamais épermitido aopaciente pie sonha verque ele encerradentro de si próo maneiras de viver bastante diferentes daquelas quesão concretizadas na sua existência de médico bem sucedido, ou de alguém assistindo à exibição de cavalos circenses treinados. Se ele existe também como um menino de

periencia em sonho somente por intermédio de outra pessoa, e mesmo assim apenas na forma de uma constipação intestinal decididamente física. Ele atende a esse chamado com as medidas médicas, somáticas, apropriadas. liitroduz uma solução de lavagem no estômago do menino, provocando desta forma uma liberação física saudável da matéria acumulada e estagnada.
Ele também se deu conta, ao sonhar, que seus esforços terapêuticos,embora tivessem salvo a vida do menino, ainda precisavam ser completados. Não éde se admirar, portanto, que o sonhador e o menino tivessem sido ambos percebidos depoiscomo meros observadores, incapazes de enxergar cavalos em seu estado natural de liberdade, vendo em vez disso apenas garanhões treinados marchando ritmadamente dentro dos estreitos limites de umpicadeiro de circo ou arena hípica. E também, os cavalossão brancos como os lobos sentados numa árvore, num dos famosos relatos de sonhos de Freud,’4 Da mesma maneira que devemos rejeitar a arbitrariedade da interpretação de Freud, que viu acor branca dos lobos como um “símbolo” para os lençóis brancos da cama dos—‘ aqui devemos permitir que a cor brancaseja “meramente” a cor branca. Mas o branco tem, em si epor si só, muitas conotações- Em contraste comas cores mais fortes, ele conota pureza, inocência edistanciamento frio. Enquanto no estado desonho apercepção do paciente era relativamente limitada, no estado despertoque o antecedeu, nasua consciência do desconforto físico, ele pôde discernir que estava sofrendoemocionalmente devido amuitas experiências devida que não lhe eram familiares e comas quais não tinha lidado.Seguindo-se à primeira conversa com o analista, e antes de sonhar com asituação médico-circo, o paciente havia tido uma intensa sensação deestar queimando, comose estivesse cheio de água fervente de cimaabaixo. Asua autopercepção clara também retornou aele imediatamente após ter acordado do sonho.Se ao sonhar ele se viracomo o médico são e ativo, ao despertar percebeu rapidamente que não era menos criança do que o menino que tinhavisto existindo fora de si próprio. Sentiu tambémque estava sofrendo deum bloqueio muito mais abrangente do que aquele queafligia o menino no sonhar: ou seja,urna supressãoampla que afetava todasua existência.
Aindahá mais um detalheimportante no sonho, O menino doente “está deitadona borda deuma calçada levantada”. Agora, este não é umlugar dos mais relaxantes para se deitar,uma vezque aqualquer momento o meninopoderia cair para a rua, Opaciente estava tomadodesta perspectiva até mesmo em sonho. Ao se deparar com o menino, elereceou que a criança pudesse rolar para a rua e seratropelada porum carro. O pacienteainda se recordou deste pensamento temeroso depois de teracordado dosonhar, e nestemomento aprecária postura física do garotolhe trouxe àmente de formaespontânea oseu próprio sentimento constante deele próprio ter começado a

escorregar como existência humana, com a possibilidade de acabar sendo atropelado pelos seus semelhantes.
Se tudoisto tivesse ocorrido independentemente ao paciente já ãesperto, o terapeuta teria precisado ajudá-lo a ir adiante, perguntando-lhe se agora ele tinha pelõ menos uma idéia vaga de algum bloqueio pessoal, no sentido mais amplo, existencial, da palavra. A única outra tarefa do paciente desperto com sua autopercepção expandida seria confessar seus segredos pessoais com muito mais detalhes doque antes. Pois somente expressando essas coisas a outro ser humano desperto é que realmente fazemos frente a elas, reconhecendo-as como parte do nosso próprio Davein. Qualquer coisa que mantenhamos para nós mesmos, por outro lado, pode sempre passar por algo quenunca aconteceu, ou quenão existe. É por isso que a “auto-análise” silenciosa raramente é bem sucedida, ao passo que uma expressão verbal totalmente irrestrita na presença doanalista possui grande efeito terapêutico. Uma das realizações mais significativas de Freud foiter descoberto o valor terapêutico deste tipo de comunicação por parte do paciente, e de ter cunhado a partir disso a única regra básica da prática analítica. Foi o gênio trágico de Freud que sentiu ser seu dever escorar suas brilhantes descobertas numa teorização baseada nas ciências naturais, o queacabou por distorcer as descobertas emSL’5

Exemplo 17:

Sonhar de uma mulher de vinte e cinco anos, solteira, sofrendo de frigidez e timidezexagerada nas suas relaçôes comhomens.

Entre outros, ela relatou o seguinte sonho:

Eu estou andando no “Paro de Ia Solitude”, procurando castanhas-da-índia caídas no chão. Eu realmente gosto de castanhas, especialmente quando elas ainda têm uma cor marrom escura brilhante depois de saem tiradas das suas cascas verdes e espinhosas. De repente, eu Me lembro que fui convidada para o casamento de uma amiga e ainda não comprei o seu presente de casamento. Já são quase cinco horas, hora que as lojas fecham, então eu entro na loja de departamentos mais próxima. Compro vários artigos de casa para a minha amiga, um esfregão de banho, e outras coisas, e então peço um espelho vaginal. Mas a veadedora diz que isso eles não têm
A paciente foiexortada a fornecer um relato mais preciso do que havia experienciado ao sonhar,porém não mais doque isto. Em nenhuma parte doprn cesso de análise fenomenológica houvenecessidade de qualquer “associação livre” ou “amplificação”, no sentidojungiano deintroduzir mitos e lendas com conteúdo similar. A paciente simplesmente foisolicitada a ater -sestritamente aos fatos e entes quevisunli,nra eexperienciara deimediato

durante operíodo do sonhar. Foipedido a ela que descrevessetais fatos e entes comprecisão ainda maior, e, ao faz6-lo, relatar exclusivamente as significações e contextosreferenciais dados a ela nos fenómenosoníricos em si.
Segundo o esboço simples que aprópria paciente fez do sonhar, como sonhadoraela havia se sentido tão à vontade caminhando pelo Parc de la Solitude como costumava sesentir ao fazer amesma coisa nasua vida desperta.Pois esse parque,percebia elaaté mesmo sonhando,correspondia inteiramente ao seu nome.Podia-se passear por ali sem serperturbado por outras pessoas, completamenteimerso nospróprios pensamentos. No seuestado de sonho, a paciente seenvolvera prazenteiramente na atividade de catar algumasdas castanhas-da-índia que seachavam espalhadas pelos caminhos do parque, exatamente amesma coisa que costumava fazer na vida desperta nospasseios de outono. No sonho ela se recordouvividamente dos muitos ou. tonosque apreciara a cormarrom brilhante e morna dafruta da castanha, lembrando-se dosmaravilhosos colares que fizera comelas quando criança.É por isso que ficou tão aborrecida, emsonho, quando a sua brincadeirasolitária com ascastanhas-da-índia foi subitamente interrompida pelo pensamento do casamento próximo da amiga. Este lembrete expulsou oestado de espírito feliz e tranquilo do seu prazersolitário. Ele provocou um estado deaflição epreocupação que podia ser atribuído ao fato de ela ser obrigada a comprar um presente noúltimo minuto. A paciente não sabepor que escolheu especificamenteartigos domésticos, umesfregão debanho e um espelho vaginal. No sonho, tudo issopareceu muito natural. Aliás, de fato ela nãosabia como era um espelho vaginal, nemsonhando nemacordada. Tudoque sabia era que se tratava de um instrumentoque permitia aosginecologistas ver oútero.
A descrição acima da experiênciaonírica revela imediatamente as seguintespeculiaridades daprópria paciente, do seu mundo de sonho e do seu comportamento ao sonhar:
a. A princípio a paciente sente-se
confortável nasua caminhadasolitária peloparque, cujo próprio nome é de fato “solitude”solidão.
Ela está feliz catando e brincando com ascastanhas-da-índia, uma atividade quefaz a sonhadorarecordar-se da suainfância. Inicialmente, portanto, todo o seuDasein está afinado compaz e conforto. Mas nenhuma existência éconfortável, a menos queocupe umlugar no mundopara o qual venham entes que lhe são familiares, e com os quais sejafácil lidar. Em outras palavras, umapessoa só pode se sentirconfortável num mundo onde ascoisas não a sobrecarreguem, mas ao contrário,lhe permitam levar a cabo livremente as possibilidades de se comportar emrelação a elas, que a pessoa tem a sua disposição, e que lhepermitam uma certa realização da sua existência.Uma

daspossibifidades existenciais capazes de serem realizadas pela nossa paciente que sonha foi um passeio através do Parc dela Solitude, o comportamento dc um caminhante solitário. Ela não precisa aí prestar atenção a qualquer outro ser humano. Está exposta somente ao inofensivo verde e ao marrom acolhedor do reino vegetal, com o qual ela aprendeu a brincar na infinda.
b. Logo, porém, outro ser humano irrompe dentro do mundo solitário e lúdico do seu sonhai. É a sua amiga. Naturalmente, a amiga não
aparece defonna física, ela só lhe “vem à mente”. Todavia, quando alguém apenas se lembra de alguma outra pessoa, esta outra pessoa não está menos presente. Trata-se simplesmente de uma presença de outro tipo, correspondendo àquilo que chamamos de “imaginar” ou “visualizar”. Aqui, mais unia vez, quando nós meramente “imaginamos” algo “em” nossas mentes, ainda assim nosachamos completamente na suapresença, no lugar que lhe pertence no mundo, pois a nossa inteira existência estáengajada num relacionamento pensante com essa coisa. A amiga que entra nomundo da sonhadora como uma presença visualizada fala com ela de algum lugar fora dos estreitos limites do reino vegetal; é o mundo onde dois adultos de sexos opostos podem estar casados.
Porém não é a própria sonhadora quem vai se casar, apenas uma amiga. A possibilidade existencial do casamento ainda é tão estranha à paciente que sónha que elasó consegue percebê-la em outra pessoa, embora esta outra pessoa seja uma amiga íntima. No entanto, até mesmo unia manifestação distante dessa possibilidade é suficiente para alterar o estado de espálto predominante no sonho,transformando-o instantaneanrnte de felicidade em desconforto. Este é o estado de espftito noqual ela dá início à sua procura,ftnshnente comprando os presentes decasamento numaloja de depena.mentos desconhecida. Quando vem à tona o assunto do .a»rntoaténtsmo o casamento de outra mulher—‘ o mundo onfrico da paciente se reduz de maneira drástica. Apenas artigos domésticos corriqueiros ainda têm lugar neste mundo, sendoque em primeiro planoestá um miserável esfregão de banho.Finalmente, ela se decide a adquirir um espelho vaginal. Agora, o objetivo deum esfregão de banho é limpar sujeira. Ofato de tal objeto parecerum presente de casamento apropriado para uma amiga, poderia levar o analista a perguntar àpaciente o que pensava a respeito disso e que nãohavia pensado enquanto sonhava. Seria possível que ela considerasse o casantnto,envolvendo a união física de homem e mulher, como rendo algo a ver com sujeira que precisava ser lavada?
A relação da sonhadora com o espelho vaginal é, a princípio, unia necessidaderemota que não pode ser satisfeita, — o espelho não pode ser encontrado em nenhuma parte da loja de departamentos. Mas por que haveria a sonhadora de querer dar à sua amiga especiflcamente um espelho vagi nal

Naturalmente, o iminente casamento em si refere-se ao potencial para um amor completo entre homem e mulher. Mas a existência da sonhadora está atrofiada de maneira por demais neurótica para que ela confronte o sexo físico como componente de um amor adulto, sadio. Em vez disso, um espelho vaginal serve para mostrar adistância uma área física específipa da anatomia feminina adulta. Em virtude de ser uni produto sem vida da tecnologia, o espelho coloca a realidade do ato físico de amor a uma extrema distância emocional. Dentre toda a plenitude do amor feminino, oespelhovaginal é capaz de focalizar apenas um órgão físico Isolado, o útero inferior. Além disso, seulugar é nas mios de um ginecologista e, por implicação, pertenceao campo das enfermidades investigáveis. O fato de a paciente terpensado no sonho em comprar o presente no último minuto, justamente quando alojas estavam prestes a fechar, indicatambém a sua grande distânela temporal do casamento.
Toda a extensão da análise fenonienológica acima poderia ter sido co. municada seguramente à sonhadora em seu estado desperto. O valor terapêutico da análise depende, de fato, de como os insights são comunicados aopaciente. Como dehábito, é claro, melhor seria apresentar cadadescoberta na forma’ de uma pergunta, começando com algo do tipo:“Não lhe causa surpresa que...” Como já foi ressaltadoanteriormente, este tipo deintervenção permite à paciente muito mais liberdade do queela teria se lhe fossemapresentadas asserções apodíticas. De outro lado, asreferências à suafalta de liberdadeneurótica não perdem nemum pouco da sua clareza e impacto.
Exemplo 18:Sonho deum dentista de trinta e cinco anos, emtratamento para impotência.
Este paciente era muito depressivo, com sentimentos agudos de inferioridade.
Na noite passada eu sonhei que estava bem no norte com o meu amigo Erich, numa cabana de madeira. Erich queria plantar tomates em torno da casa, e ganhar a vida vendendo-os. Eu achei que ele estava maluco, unia vez que o clima não era adequado para verduras, mas não disse nada. Então, de repente eu estava com um caroço de pêssego na mio. Comecei a olharem volta, procurando um lugar para plantá-lo. Primeiro olhei num campo atrás do jardim, mas o solo era duro demais. De repente o jardim tinha sumido. Ele tinha vindo uma quadra detênis, e eutambém nãopude plantar o meu caroço depêssego ali.
Quando o paciente éuma pessoa muitotímida e depressiva, é melhor começar aplicando a abordagemfenomenológica terapeuticamente, ressal 108

tando os aspectos positivos do comportamento onfrico. O analistacomeçou, portanto, fazendo a seguinte pergunta aopaciente:
Vocênão acha reanimador o fato de estar preocupado em plantar algo novoem seu sonho? O seu amigo queria plantar tomates, você queria cultivar pêssegos, e vocês dois tinham em mente plantas ligadas ao calor e ao sol do sul.
O analista entio acrescentou:
Obviamente, a região em que o seu sonho ocorre não éexatamente apropriada para cultivar tais coisas. £ umaregião fria e chuvosa demais. E também, o solo onde você pretende plantar o seu caroço de pêssego acaba se revelando a superfície artificial de uma quadra de tênis, dura demais para o cultivo. Ainda uma outra coisa me chama a atenção a respeito do seu mundo de sonho, além dasua frita; ou seja, a solidão. Nio há uma única mulher, e, exceto você e o seu amigo, não há um único ser humano nesse mundo.
Às seguintes perguntas foram feitas ao paciente durante a terapia:
i Asua existência sonhada foi capaz de perceber a frieza e a dureza que são tio prejudiciais aos cultivos do sul, mas esta percepção se deu apenas através de coisas que estavam fora do seu ser e da sua responsabilidade: o clima hostil do norte da Noruega, e a superfície de uma quadra de tênis. E na sua vida desperta, quem sabe você já esteja com uma visão um pouco mais clara? Você está agora tomando consciência, pelo menos até certo ponto, da mesma significação que possuem a frieza e impenetrabilidade referindo-se s suas próprias relaçõesexistenciais com aquilo que encontra?
b. Depois desta pergunta ter alertado o paciente para o caráter sçco e distante doseu comportamento co-pessoal, uma segunda pergunta
foi tentada:
Você está cônscio de alguns dos fatos da sua vida que causaram este fechamento no seu mundo, que o fizeram congelar-se e fazer com que o
seu empecilho “emocional” lhe pareça uma segunda natureza?
Como de hábito, a segunda pergunta evocou toda uma imensa quantidade de lembranças de situações em que o paciente fora advertido pelos seus mentores de que a expressão de emoções calorosas era iaadequada. A nzsma pergunta também trouxe àtona situações em que a livre expressão da sua emoção parecia capaz de dissolvê-lo, permitindo que ele fosse absorvido dentro de alguma outra pessoa, ou coisa.
c. Uma terceira linha de questionamentoterapêutico poderia percorrer
a seguinte trilha:

É muitobom que nosúltimos meses você tenha ficado sabendo porintermédio denumerosas recordações,exatamente que comportamento porparte dos seusmentores prendeu você, há multotempo, noinício dasua vida, a umrelacionamento que secaracterizapela distância que mantém do mundo, e que você continua a manter até hoje. Após algum tempo, porém, pode se tornar ainda mais importante para você perguntar se quer continuar vivendo neste “cativem” para o resto dos seus dias, Talvez você possa descobrir coragem para usar cada encontro futuro, inclusive os encontros comigo, o seu analista, comoum campo de teste pan relacionamentos mais abertos,mais livres,
Em suma, as perguntas iniciais referentes aos motivos que provocaram a deterioração neurótica da existência do paciente são meras introduções terapêuticas. Como tal, elas têm o seu próprio uso e, naturalmente, são indispensáveis. Dissemos, em relação a exemplo de sonhos anteriores, que o simples reconhecimento das origens biográficas do comportamento perturbado foi suficiente para proporcionar ao paciente um relacionamento mais livre para com este comportamento. A conduta perturbada pode ser vista como algo que foi enxertado na sua vida; não éo resultado de uma relação inata como mundo, uma relação condenada e imutável. Todavia, se se deseja quea terapia seja realmente bem sucedida, o analista não pode estacionar emperguntas como “De onde?” e ‘Porquê?”. Ele precisa também perguntar ‘Por quend&” e este é (nu incentivopara experimentar padrões de comportamento mais livres, ainda não tiofamiliares. ‘Por que você não tenta uma vez rir alto e de coração quando ouvir uma piada?” Eis um exemplo desse tipo de pergunta.Umserhumanosóésadioousóestácuradoquando é capaz de tomar sua a capacidade de dispor livremente de todas suas possibilidades relacionais, e de escolher de forma responsável qual delas ele levará a cabo, de modo que ele e tudo aquilo que encontra no seu mundo evoluam até a plenitude do seu ser. Uma existência humana sadia possuirá uma gama de comportamento que abrange toda e qualquer nuance, desde um amor desprendidà por um encontro até uma luta sem trégua contra aquilo que é experienciado como ruim, bem como contra aquilo que ultrapassou o seu tempo e tem que dar lugar ao que é novo.
Exemplo 19: Sonhar de um homem de trinta e três anos, com depressão aguda, em Daseinsanálise por dois anos.
Meu sonho da noite passada foi que eu era um tapete extremamente gasto colocado no chão de uma sala estranha. Muitas pessoas, todos estranhos, ficavam andando em cima de mim. Eu não sentia nenhuma dor. Então, de repente, eu não era mais bidimensional. Eu tinha três dimensões, quase cinco centímetros de espessura. Agora, as pisadas das pessoas realmente me machucavam.

Aqui o sonhador percebe a si próprio apenas como uni objeto localizado em algum lugar. Porém, mesmo como um tapete surrado sobre o chão,ele ainda existe de modo humano, e de forma nenhuma como um tapete inaniniado. Em termos existenciais, ele ainda é umacriatura que mantém um campoaberto de percepção e receptividade pera uma imensidãode significados, os quais são reveladas pelos entes que vêm à luz a partir dos lugares que lhe são apropriados nesta abertura. Um simples tapete não pode fazer o suesmo; ele não tem olhos nem ouvidos com osquais possa perceber a existência de si próprio ou de outras coisasnuma abertura-de-mundo.
Reconhecidamente, a percepção do hosso tapete humano acha-se de isifcio limitada a um reconhecimento distante e nebuloso do fato de pessoas estarem caminhando sobre ele. Ele ainda não consegue vera possibilidade de estabelecer um contato íntimo, “emocional” com aquilo queo está pisando. Então, desúbito ele ganha um acesso inesperado a essapossibilidade, ao expandir.se fisicamente para adquirir três dimensões, Otapete, antes sem espessura, ganha agora uma nova dimensão espacial. Mas a verdadeira prova de queele se tomou existencialmente mais “espesso” e que se apropriou também de unia nova “dimensão” existencial é revelada pela sua nova sensibilidade, poisagora é capaz de sofrer sob os pés daquelesque o pisam, embora sua sensibilidade ainda esteja restrita apenas à sensação de dor. Sentir algo significa sempre terdeixado que esta coisa se aproximasse. Ésignificativo que tanto as pessoassobre ele, como a sala na qual seencontra sejam desconhecidas do sonhador, O cenário do sonho lhe éalheio sob todos os aspectos, sem qualquer laço de intimidade que o ligue a essas coisas e pessoas.
Emnenhuma outra ocasião anterior, em dois anosinteiros de análise, o pacientemostrara-se disposto a encarar o fato de que o seu Ser-no-mundo estava seriamente perturbado. Desta vez, uma experiência nosonhar deixou o seu eu desperto semdefesa, forçado-o a abrir os olhos para o fatode que, desde a sua infância, ele havia permitido que os outros o pisassem, o maltratassem, o jogassem de umlado a outro, não só fisicamente como no sonhar, mas em relação a toda sua vida emocional, E também lhe ocorreu, ao despertar, quedesde os oito anos de idade ele estivera tentando, com sucesso cada vez maior, bloquear toda e qualquer sensação, de modo que não tivesse mais que sofrer nas mãos dosoutros. Obviamente, seus esforços o haviam impedido decultivar amizades de qualquer um dos sexos. Na solidão que conhecera desde a puberdade,escreveu poesia. Seu poema mais longo levava o título “O Alheio a este Mundo”,
O analista deu a conhecer ao paciente que entendia plenamente como a brutalidade de um pai bêbado e o fracasso de uma mãe forte em oferecer proteção, haviam lhe causado sério dano existencial. Ao mesmo tempo, porém, o analista jamais se cansou de perguntar ao paciente se tal carga passada era razão suficiente para deixar que os outros o pisassem para toda a vida.

Por quenão tentava elepróprio pisar nos outros? Quando uma pessoa foi maltratada de forma tão atrofiadora que a sua identidade aparece em sonho como um ente sem espessura, a menção do amor teria sobre o paciente um efeito exatamente oposto ao de uma liberação. Aqui seria prematuroque o terapeuta introduzisse a possibilidade de alguma relação amorosa. Seria algo tão brutalmente restritivo como o comportamento execráveldo paido paciente, Qualquer pessoa que tenha sido esmagada a tal ponto precisa tomar a iniciativa de revidar sozinha. Portanto, o mesmo procedimento terapêutico que foi usado no Exemplo 12 deveria ser aplicado aqui)6 Só depois de ter sido propiciada a expansão agressiva por um período de tempo considerávelé queas manifestações genuínas de afeto começam ase aventurar.
Exemplo 20:
Sonhar de um homem de vinte e quatroanos que aindase comporta como se tivesse dezesseis.
Estudante de filósofla, elesofre de um medo de exames e deimpotência sexual. Depois de umano deterapia Daseinsanalítica intensiva, ele sonha oseguinte:
O semestre terminou, e eu estou regressando para casa, para acidadezinha em que os meus pais vivem. Ao me aproximar da casa, fico horrorizado em ver gigantescas dia- mas e nuvem de fumaça subindo dela. Toda a casa está envolta em chamas, e os meus pais certamente morrerão se eu não correr para ajudá-los. Sem pensar em mim mesmo, eu me lanço para dentro da casa em meio ao fogo, buscando meus pais. Eu os encontro no dormitório, mas já é tarde. As paredes em chamas ruem po cima de nós; não há meio de nenhum de nós fugir da morte. É aí que eu acordo gritando.
Na
sua sessão seguinte, o paciente estava muito perturbado, Ele perguntou ao analista se o sonho poderia ter sido profético, e como tal, trazer razões reaispara ter medo queseus pais morressem. Se isto acontecesse, declarou ele, nãohaveria sentido emcontinuar, pois eleseram tudo para ele, O
certo seria ele perecer
junto, tal como sucedeu no sonho, O analista replicou:
Longe de mim contestar a possibilidade do sonhar profético. Mas um sonho do tipo que você acabou de relatar ocorre com muita freqüência em pessoas que se acham envolvidas num processo de crescimento analítico, e cujos pais estão no melhor da sua saúde. Portanto, não há razão para que você se sinta inquietô. Tudo que aconteceu durante este últImo estado de sonho da sua existência foi que a sua percepção estava muito nebulosa e constrita. Esta foi a razão por que só uma queima dos corpos dos seus pais e da casa deles, causada por um fogo devartador, pôde entrar no “campo aberto da visão” como qual você existia ao sonhar tudo isso. Agora,desperto, você consegue tomar consciência deque poderia haver uma outra questão relativa aosignificado deser

“queimado”? Mas que não éesta queima de corpos físicos e casas materiaiscausada por um fogo sensorialmente perceptível, mas a “queima” dos seus pais como pais, isto é,como seres humanos existindo como relações paternal e maternal para você? E também devocê como filho pequeno e incapaz? E que esta “queima” éo efeito do “fogo da vida?” Se, acordado, você pudesse aprofundar o seu “campo de visão” de tal modo, não niais perceberia este “fogo da vida” como um fogo devastador. Você experlenciaria adissipação da velha ordem como algo que lhe estaria tomando possível amadurecer como existência independente, abrir o seu próprio mundo e trocar a sua subservi&ncia filial por uma relação de *ualdade adulta com seus pais.A maneira nebulosa como qual você estavaexistindo enquanto sonhava não lhe permitiu saberainda que seus pais podem existir como mais doque meros pais, e que você podeser mais do que apenas o filhinho deles. Sonhando, você também teve que aueditar que a sua existência como filhinho dependente deles é a sua existência inteira, e portanto, equacionou a morte em sonho como final de tudo. Você ainda estava cego para as centenas e centenas de possibilidades mais adultas de relacionamentos, que — como possibilidades — também vêm constituindo a sua existência.
Desta maneira, não houve em momento algum necessidade de o terapeuta acreditar na ficção ainda comum de que o holocausto no sonhar foi coturado como símbolo dos processos de vida do paciente, sendo isto feito de algum modo misterioso por um agente todo-poderoso e capaz de ver tudo, abrigado em alguma parte atrás dos olhos do próprio paciente.
Exemplo 21: Sonhar de uni homem de trinta e um anos, muito depressivo, solteiro e sofrendo de extrémos sentimentos de iiiferiolidade,
Este paciente era capaz de encarar os outros apenas com uma atitude de indiferença distante. Ele reconhecia, ainda nrsmo antes de começar a Daseinsanálise, que as pessoas no seu sonhar sempre permaneciam enrigecidas, como se fossem figuras de uma fotografia velha e empoeirada. Pouco tempo depois de iniciar a análise, ele relatou o seguinte sonho:
Numa noite dessas eu sonhei que um magnífico pavio subitamente voou na minha direção vindo do céu. Ele fez diversas voltas junto a mim, como se estivesse tentando me atrair para voar junto com ele, Então alçou vôo de novo para o céu. Eu era apenas um pássaro pendo e feio, que podia bater as asas mas que nunca saâ do cImo. Entristecido, — de tentar.
Oque émais surpreendente neste sonho éa naturalidade com que o sonhador parece ver o fato de o seu corpo ser um corpo deave. Naturalmente, ele étio pouco pássaro quanto o sonhador número 19era um tapete Inanimado. Enquanto durou o seu sonhar, o nosso paciente foi um pássarà com existência humana. A despefto da sua forma exterior, o sonhador tinha algoque nenhum “mero pássaro” possui: a habilidade deperceber, e dar expres sã

verbal a quaisquer signiflcações que se lhe deparassem no campoaberto que constituía o seumundo. Fie foi capaz de reconhecer, com todas as nuances de significado, que umpavio era umpavio, e que ele próprio era um pássaro feio e pesado. Posse ele ummero pássaro, o sonhador não poderiater desejado algo tão explícito quanto alçar vôo para o céu junto com opavio; e tampouco poderia ter reconhecido o seu fracasso, e ficar entristecido comele. Pelo menos a maioria de nós acredita que os animais não são dotadosda capacidade de pensar, porexemplo, no céu como céu, e assim por diante.
Arazão deste sonho ser um acréscimo tio importante para a nossa série de experiências oníricas neuroticamente perturbadas é que ele traz indícios pan uma melhor compreensão do intriganteproblema da natureza do corpo humano. Pois o sonhopermanece incompreensível enquanto a esfera corporal daexistência humana é tratada omo sempre o foi no mundo ocidental. Aqui no Ocidente, e somente aqui, o corpo évisto exclusivamente como umorganismo físico presente num ponto definidodentro de algum preconcebidocampo espacial to, eterminando noseu domínioftsico, na sua superfíciefísica, a pele. Este ponto de vista conduz inevitavelmente ao enig.me Insolúvel de como a“psique” conseguiu sercolocada dentro de tal organismo isolado, e como ambasas coisas,“psique” e organismo físico, desenvolvem urna relação recíproca, simbiótica.
Se concordamos em dispensar idéias tais como estas, e permitirmos
que a experiência do sonhar se conserve exatamente como se revelou,ela nos fala de um ser humano totalmente envolvidonum esforço de imitar um



  

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