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Sonhar de um estudante de engenharia, de vinte e seis anos, sem quaisquer sintomas específicos de psiconeurose, meramente “cheio de” problemas. 5 страница



primeiro amor. Todo seu ser acha-se envolvido nesta única relação onírica. Ele fica feliz em poder segurar a mio da garota. Uma existência humana está como um todo afinada com a felicidade quando écapaz, num dado momento, de levar a cabo uma de suas possibilidades internas essenciais. Para captar o sentido disso não devemos ter necessidade de qualquer artifício explicativo adicional, tal como, por exemplo, um “afeto” endopsíquico, cuja presença jamais pode ser demonstrada. O mundo do sonhador é suficientemente amplo para conceder ao seu primeiro amor uma presença muito íntinia, altamente sensível. Mas ela jamais poderia ter-lhe aparecido tifo subitamente — nem mesmo ao sonhar — não tivesse se mantido uma parte do seu mundo durante todos os dois anos em que ele, nas suas próprias palavras, “nunca pensou nela.” A resposta é, naturalmente, que a presença dela não era perceptível aos seus sentidos. Tampouco ela estava “af’ tematicamente em seus “pensamentos” ou “imaginação”. Em vez disso, persistiu em seu mundo apenas nos limites da sua visão, como uma presença periférica, não um ente com importância temática central.
Asúbita transformação desta presença periférica numa presença sensorial, tal como ocorreu no sonho, gerahnente é “explicada” por meio de um peculiar modelo imaginativo. Diz-se que um “código de engrama cerebral” foi ativado. Obviamente, este tipo de falatório pertence claramente ao campo da mitologia do cérebro contemporânea. Não quea biologia molecular não vá revelar em breve alguns resultados empíricos concernentes a como entes umavez percebidos são “relembrados”, ou melhor “retidos”, no campo aberto que compreende o nosso mundo humano. Mas a inter-relação nunca pode ser mais do que mera simultaneidade. Pois, se o primeiro amor do recruta não tivesse persistido, como a pessoa que é, no seulugar próprio dentro do campo aberto da percepção, se ela realmente não fosse nada mais do que um “engrama cerebral” material-energético durante dois anos, como poderia esse mero engrama ter conseguido o milagre de reconstituir a percepção da moçacomo o primeiro amor durante o sonhar?
Tudo ,que o nosso sonhador precisou para sua felicidade foi segurar a mão da garota. Se ele fosse um homem um pouco mais velho, e se não tivesse passado a juventude na Suíça central — uma região onde a aversão ao amor sensual é praticamente oficial - seu sonho poderia ter apontado para uma fixação neurótica eidglndo terapia. Nesse caso, o analista provavelmente teria comunicado seu espanto pelofato dea relação amorosa no sonho não ter ido adiante, não ter se expandido para tornar-se mais erótica. A surpresa do analista poderia ter feito o sujeito apercebera pela prinrira vez de queo comportamento limitado por ele aceito em sonho não era algo rotineiro. Isto provavelmente teria vindo comouni choque para o paciente, porque ele certamentejamais soubera que um comportamento mais livre em relação às mulheres era permissível, oumesmo possível. A simples nmnifes taçã

desurpresa por parte do terapeuta geralmentebasta para indicar a pacientes neuroticamente inibidos a possibilidade de umaexistência mais livre. Eles são encorajados aexperimentar quando o terapeutafica “pasmado” com sua “decência”. A reação doterapeuta éportanto umauxílio emterapia. Mas o nosso recruta considerava-se completamente normal e sadio. Isto éexatamente oque ele eradentro docírculo protetor deseus conterrâneos.Há boas razões para esperar queem poucosanos ele tenha aprendido um modo muito mais livre de comportar-se em relaçãoàs mulheres, sem a necessidade de uma intervenção terapêutica, trazendo este novo comportamento consigo para avida desperta. Exemplo 3 Eu comprei uma motocicleta nova, essa fantástica Honda CB 450. Quando a trouxepara casa, minha mie disse para eu e a moto irmos para o inferno, Ela estava fervendo deraiva porque eu tinha gasto tanto dinheiro na moto. Entio saí rodando pelo mundo, e em algum lugar encontrei uma garota. Eu me apaixonei por ehimediatamente. Ela estava louca pela minha máquina. Depois deum tempo eu a levei de volta comigo para casa, na motocicleta. Minha mie correu para mim e pôs os braços em volta de mim. Quando me virei, de repente aminha velha 8MW R 51/3 estava ali em lugar da Honda, e a garota tinha desaparecido. Foi um sonho engraçado. Agora, a Honda CB 450 não é um “símbolo” nosentido “psicológico profundo” do termo. Em vez disso, todos nós reconhecemos uma Honda CB 450 como a própria coisa queela é emsi: um mecanismo com considerável potência quenos permite uma locomoção extremamente rápida. Na realidade, o viajante está montado sobrea força de um motor ultrapotente, e torna-se fisicamente ligado aele.Nãoédeseadmirarqueuma BrigitteBardot adorepousar sobre motocicletas cantando versos sobrea emoção sensual dos seus tremores e vibrações. Tais impressões deforma nenhuma são meramente secundinas e subjetivas; nãosão significados “slmbólicos” provenientes da camada psíquica inconsciente do sujeito grudado auma subjacente “realidade pura” da Honda. Em vez disso, são fundamentais para a Honda, a significação que compreende a sua essência. Esta éjustamente a forma como a Honda se dirigiu ao recruta em sonho, revelando os seus traços essenciais. Mas sua mie nãoqueria saber de qualquer máquina que pudesse ser usada para fugir dela. Zangou-se quando o filho apareceu montado na moto, mandando-o para o inferno. Com extrema freqüência, pelo menos aosolhos dosfilhos, as mães parecem inclinadas a impedi4os de tomar decisões independentes. No início do sonho, o nossorecruta não presta muita atenção para as repreensões da mãe. Não ocorre aele abandonar a moto,retornar para casa, pan amãe, eapaziguar aira desta comdeclarações deremorso. Na

Exemplo 4

verdade, ele sai rugindo pelo mundo com sua moto, sem qualquer cuidado. Uma vez fora, ele ésurpreendido pela possibilidade de comportamento erótico em relação ad sexo oposto. livre de sua mãe, ele encontra alguém da sua idade para amar. Oexcitamento da moça com a poderosa máquina corresponde ao prazer de aventura do próprio rapaz. No entanto, a sua liberdade recém-adquirida ainda não éforte o suficiente para se manter. A mãe do rapaz rapidamente o afasta da moça e o traz para os seus próprios braços. Ela ainda étão poderosa que conseguebanir a moça bem como a Honda de vista de seu filho, com aqual ele vivia aquele momento.
No caso deste recruta, uma aplicação terapêutica cuidadosa da teoria fenomenológica dos sonhos seria apropriada. Ela teria que serestringir, p0- rém, a simplesmente eliciar os entes reais conforme estes apareceram ao sonhador, e a clarificar o comportamento deste em relação a eles. Seria preciso enfatizar a transfonnação queocorr e nas relações dosonhador com a namorada dosonho e com a sua própria mãe. Se o analista simplesmente narrasse outravez o sonho, istoprovavelmente bastaria para elucidar ao paciente as inconsistências em seu comportamento onírico. A sua reação imediata ao despertar, unia indiferença estudada relativa ao “sonho engraçado”, indicaria a necessidade de uma consideração meticulosa do seu relacionamento com a mãe navida desperta.
Isto por sua vezteria representado para o sujeito desperto, impelido como foi por este sonhoaltamente expressivo, um primeiro passo em direção a unia libertação dos seus laços com suamãe. Isto teriasido conseguido, diria eu; só que aqui o próprio paciente não buscou terapia. Elejamais sentiu a mais leve gota de sofrimento. Para umhomem da sua idade e passado, o sonho não erarealmente patológico. Alguém como ele sem düvida amadurecerá até ser capaz de conservar a sua Honda e sair realmente pelo mundo montado nela, seja em sonho seja na vida desperta.
Talveztambém teria sido sensato que o analista indicasse ao sonhador que este fizera uso de um dispositivo tecnológico, a motocicleta, em vez de deixar sua mãe a pé, ou no lombo de algum animal vivo, como um cavalo por exemplo. Osujeito poderia ter sido solicitado a estabelecer urna comparação entre sua relação desperta com máquinas e a relação mantida com seres humanos, inclusive ele próprio, e outras criaturas animadas. Há um bocado dejovens que pensamem motocicletas, tanto em sonhos quanto desper tos, como muito mais vivas e desejáveis do que, digamos,cavalos ou moças.Criaturas do asfalto que são, osjovens da cidade dificálmente são capazes de manter um relacionamento íntimo com a vida da natureza. Ou seo comeguem, éprovável que seja numa atitude defuga, ou agressão defensiva, conforme testemunha o exemplo a seguir.

De repente eu me encontro numa selva primitiva. PUa todo lugar que olho, vejo apenas árvores e um mato denso. Estou abrindo caminho pelo mato com uni facão. De repente ouço um farfalhar por perto. Sem pensar muito, continuo me embrenhando na selva. Mas é aí que erro. Uma cobra resvala em mim e me pica na barriga da perna. metintivamente, puxo a minha arma e começo a atirar. A cobra estrebucha uni pouco, e então morre. Eu abro a picada com o facão, e começo a chupar o ferimento, Começo a me sentir muito mal, mas sei que preciso continuar chupando ou senão em alguns momentos estarei modo. Mas então perco a consciência Quando acordo • estou num hospital na selva. Sentada ao lado da minha cama está uma enfermeira, toda vestida de branco e olhando para mim com um olhar amoroso de mie.
Talcomo a motocicleta no sonho anterior, aselva aqui não é umamera “imagem”. E não é um “símbolo” no sentidofreudiano de camuflar algobastante diferente, comotambém não nosentido jungiano deconstituir aI- guina expressãometafórica de umsignificado que o sujeito despertoainda não apreendeu. Não, há, por exemplo, qualquer evidênciaque indique ser a selva sonhada umamera simbolização de um“inconsciente coletivo”que sepresume existir nas profundezas de umapsique concreta. Mais uma vez devemosressaltar que todas as teorias de sonhosque subscrevem este ponto de vista carecem de qualquer prova da existência de um “gerador interno de simbolos”. Todavia, toda teoria simbólica do sonhai inevitavelmente postula justamente tal fabricante de símbolos,companheiro intemo do sonhador,alguém que sabe mais do que o sujeito que sonha ou está desperto, que reconhecesuas metas, e capacidades, e que podedisfarçar esteconhecimento envolvendo-o em simbolos, e então osprojeta para o exterior.
Mas se nos
mantemos afastados desta sorte de especulação, tudo quepodemos dizer éque o estadoexistencial dosonhador lhe permitiu unia percepção sensorialimediata de uma selva primitiva, um facão, um revólver, uma cobra, e nada mais. Para um observador não-tendencioso, a selva que se apresentou aos sentidos do sonhador não é nada mais do que uma selva, eentretanto tão ‘real” qumtoqualquer selva que possa ser percebida noseu estado desperto. Da mesma maneira, a cobra do sonho é “só” urna cobra; ela não “significa realmente” outra coisa que não ela própria, O facão, analogamente, é “apenas” um facão, e o revólver um “mero” revólver, enão algum “símbolo fálico”. Não se trata de“imagens” de alguma outra coisa, O ato de matar a cobra éexperienciado pelosonhador exatamentecomo tal. Ohospital noqual ele acorda é um hospital, e aenfermeira é uma mulher gentil ematernal em contrasteagudo com a presença destrutiva da cobra.
Qualquer selva, quer
apareça a umapessoa desperta ou sonhando, evoca umasuperabundância designificados sentidos equadros de referência.E por natureza uniaregião escura, intocada, rica devida animal e vegetal, e malpermitindo acesso. Em sonho, nosso recruta se embrenhou corajosamente

 

na mata, abrindo caminho para si próprio destruindo plantas com seu facão afiado. Em pouco tempo, contudo, foi obstruído pela cobra venenosa, que investiu sobre ele saindo da escuridão selvagem.
Agora, uma cobra sonhada não ésimplesmente mii emblema para o membro masculino, e tampouco um “símbolo” dos processos de vida própria autônoma do sonhador. Ela existe por si só, tal como é experiendadaimediatamente no sonhar, sem a ajuda de um inconsciente psíquico. Se se pensa numa cobra, unia das peculiaridades que a distingue do ser humano éo sangue frio. Além disso, as cobras estão presas ao chão, não têm pernas para sesustentar. Poucos seres humanos estão familiarizados com os hábitos das cobras. Uma coisa, porém, écerta: elas podem ser extremamente perigosas para seres humanos desprotegidos. Elas saem de um buraco na terra sem aviso algum, buscando capturar sua presa; e o seu movimento sinuoso é imprevisível, e portanto assustador. Em sonho, o nosso recruta experienda todos estes traços dacobra e daselva, abrangendo anatureza intrínseca de cada uma.Ele percebe que existe, noseu setor do mundo abertopara aexistência onírica, um domínio escuro, não familiar, de fenómenos vivos. Sua curiosidade, sua sede de saber, o induzem a abrir caminho para penetrar nessa região. Sendo ingênuo, porém, ele se expõe ao perigo letal: a cobra investindo subitamentesobre ele o faz enxergar a vida não domesticada da selva comouma força hostil. E tão poderosa é esta força que,na verdade, ela o deixa inconsciente e poderia terfacilmente tirado a sua vida humana, nãofosse a sua presença de espírito logo após o ataque e a possibffidade de matar a cobra com o revólver, O sujeito então “acorda” no seu sonho, nãomais numa selva ameaçadora, mas no ambiente protetor de um quarto de hospital. Nenhuma cobra tem acesso a este abrigo, somente uma enfermeira carinhosa e maternal vestida imaculadaniente de branco.
Esta éa estória da experiência do recruta ao sonhar. Ela não esconde qualquer sentido “símbolico” além dosseus elementos imediatamente per. ceptíveis. Além disso, estes elementos impressionam o sonhador somente com o significado que sempre tiveram para ele. Nem ele próprio, nem qualquer criatura milagrosa supostanznte existente dentro dele — isto é, “o inconsciente”— sabe algo mais, Poisapenas entes que se revelam diretamente com os mesmos significados quepossuem no ambiente desperto do sujeito, podem ganhar acesso ao seu modo de existência onírico.
No entanto, também pode ser verdade queesta mesma pessoa esteja mais aguçada, mais perceptiva após o despertas do que estava durante a sua experiência de sonhar. Não podemos menosprezar a possibilidade de que a sua existência desperta possa estar aberta e receptiva a um mundo de fenómenosmuito mais rico e diversificado. Isto éespecialmente provável se o analista encoraja o pacientea começar a pensar na possibilidade de unia relação entre o sonhar e avida desperta; por exemplo, agora que ele es-

tá acordado, não sentiria outras forças escuras e não familiares além da selva soberba presente no seu sonhar. Ele poderia ser indagado se agora — no estado desperto — percebe que não ésomente a natureza, mas a sua própria existência que contém um domínio selvagem repleto de possibilidades de vida indomadas, que só lhe aparece agora, no seu estado atual de desenvolvimento existencial, comoconsistindo emforças perigosas e ameaçadoras. Seria então sensato, emseguida a estas perguntas, lembrar ao paciente que a destt-uiçãodessas forças também lhe roubaria a sua influência vitalizante. Aquestão seria outra, é claro,se ele, o paciente, fosse capaz de reconhecer queo comportamento “escuro”, do tipoanimal, também pertence às suas próprias possibilidades existenciais. Então ele poderá aprender a suportá-lo e orientá-lo responsavelmente. O sonhador desperto também pode ser dirigido para o momento do sonho quando se viu conto um ser impotente, infantil, sob os cuidados de uma protetoramaternal. Poderia o paciente contar ao analista algo mais agora que está acordado? Reconheceu agora qualquer ligação infantil persistente com a sua mãe, algo que se assemelhasse àsua relação onírica com a enfenueira do hospital?
Oanalista tem o direito de formular estas perguntas, como dissemos antes, porque as existências em sonho e desperta, embora possam parecer possuir “mundos” e “realidades” diferentes, na realidade são inerentes ao mesmo e único Daseia
Da mesma maneira, as questões que acabam deser recomendadas ao analista não constituem uma “interpretação do sonho” no sentido usual. Elasnão são“interpretação de sonho”nem a nível “subjetivo” nem a nível “objetivo”. Em primeiro lugar, a nossa abordagem jamais postula algo como subjetividade; não existe sujeito interior, no sentido cartesiano de uma “substância pensante”, e tampouco existe uma “psique” ou “cápsula de consciência subjetiv&’ portadora de Imagens endopsíquicas. Nenhuma “teoria da cognição” jamais poderia explicar a formapela qual tal “sujeito interio?’ dentro da cápsula seria capaz de transcender asi próprio e alcançar os objetos do “mundo exterior”, Nós examinaremos isto mais de perto no capítulo final do livro.
Exemplo 5
De repente eu vejo umgigante horrível a cerca detrezentos metros atrás de mim. Eleestá correndo atrás demim, e eufujo deleo mais depressa que posso, mas a distin’ da entre nós continua diminuindo. Em pouco tempo ele está tio perto quepoderá mc alcançar nopróximo passo. Ele reaimente pisa em cima dcmim com um de seus pés gigantescos, de modo que eu acabo preso no meio dos seus artelhos.£ apenas uma

questão de segundospara ele me esmagar totalmente.Ele solta um riso de escárnio.É ai que eu acordo.
Podemos chegar rapidamente ao coração deste sonho aplicando o que aprendemos do nosso terceiro exemplo, o sonho da motocicleta: aqui mais uma vez procederemos de modo estritamente científico; isto significa ater -s apenas àqulio que pode ser realmente observado no comportamento existencial do sonhador com respeito aos entes que lhe aparecèm no seu sonhar. Em qualquer exame fenomenológico, ou Daseinsanalítico, da atividade humana — pertença ela á existéncia desperta ou onírica da pessoa — o melhor é Principiar esclarecendo precisa e sucintamente a afinação da pessoa que prevalece em vários momentos dados. Sempre é importante considerar o estado de ânimo com o qual a sua existência como um todo está momentaneamente afinada, pois é esteestado de ânimo. que determina as características,estreiteza ou amplidão, do campo perceptivo que a existência é capaz de manter aberto e como qual “existe” naquele dado momento. Este nosso recruta acha-se afinado, ao sonhar, em uma ansiedade pavorosa de morte. Tal afinação reduz o mundo do sonho de forma tio drástica que, entre todos os seres humanos concebíveis, o sonhador é capaz de perceber apenas um terrível gigante que o persegue com intuito de matar. A única coisa no mundo do sonho além do gigante, éo próprio Dasein do sonhador, que agora aparece impotente e ridiculamente minúsculo, mal chegando ao tamanho de um dos artelhos do gigante, tendo que engar-se numa tentativa inútil de escapar de ser pisado e esmagadosob o pé do gigante. Mas no mundo onírico deste sujeito, não há nenhum salvador nem resgate bem sucedido. Assim que o seu medo de morrer atinge oauge deintensidade, o sonhador é acordadopelo riso de escánlo do gigantezombando dos seus apuros.
Este riso é
tão intensamente real que é percebido num volume tão alto, que lança toda aexistência do sonhador pan fora do sonhar,trazendo-o para a vida desperta.O mesmo efeitopoderia ter sido obtido com um estímulo “externo” de igualintensidade, quepudesse ser ouvidopor outrapessoa desperta que estivesse nomesmo recinto que o sieito.Não haveria sentido em rotular o risosonhado de “irreal” e o outro de “real”.Esta distinção não leva a nada, a menos queffissemos capazes deespecificar o queentendemos por “realidade”.
Isto
é tudo queos fenómenos do sonhar do recruta noscontam, nada mais. Com uma descrição precisa do que foi percebido durante o sonhar, a‘interpretação do sonho” está terminada. Qualquer coisa mais está fora do sonhar real e nada acrescenta à nossa compreensão da existência do sonhador naquele dado momento. Acima de tudo, não há meio justificável de alegar que o estranho gigante não é “realmente” o gigante que aparenta ser, porém algo muito diferente, embora oculto por ele, o gigante. Não existe evidência para sustentar a transformação interpretativa comum por meio da

qual um gigante se tomanão um gigante “realmente”, e sim uma projeção simbólica, velada, das imagens interiores que o sonhador tem do pai perverso, ou do seu oficial no exército, ou — quando o sonhador é um paciente em terapia. — do analista, ou de alguma amálgama de todas as três figuras de autoridade. Igualmente sem fundamento é a afirmação de que a figura sonhada é a expressão pictórica do chamado “animus” ou de algum gigante “arquetípico”. O simples fato de tais gigantes teremaparecido no sonhar dos mais diversos povos, ao redor de todo globo, e em todos os tempos, não constitui prova, nem teórica nem empírica, da existência fatual de arquétipos endopsíquicos pertencentes a um inconsciente coletivo. Que tais gigantes tenham se mostrado de modo tão universal é um fato “empírico” incontroverso, mas isto não garante a interpretação de que nas profundezas de toda “psique” humana residiria um “arquétipo” pan-humano. A noção de “arquétipo” representa apenas uma das muitas conclusões lógicas abstratas possíveis. que podem ser tiradas com base em fatos realmente experienciados. Como tal, essa noção tem apenas uma chance mínima de corresponder a algo que exista de fato. Por que não poderia ser que os gigantes tenham aparecido de maneira similar como presenças perceptíveis de forma diretamente sensorial a toda sorte de gente desde a pré-história? — pois existem coisas como gigantes, embora nunca tenham existido nos modosde presença acessíveis a investigações dasciências naturais. Emtodo caso, os gigantes não existem como imagem oupadrões de força dentro deuma alegada “psique”; precisamos rever a nossa concepção e enxergá-los aparecendo independentemente, a partir docampo aberto daexistência humana, isto é, envolvido nasrelações desonhar, imaginar oualucinar aquilo que éencontrado. Mas onde,então, originam-se os gigantes se não no interior da“psique” humana e se nãosão produzidos poresta “psique” presumida? Resposta: originam-se a partir doser como tal, isto é, da grande escuridão (Verborgenheit) que rege tudoque é, céu e terra, Deus e homem, e daqual todas as coisas“vem à luz”. Comparadas com a grandeza desta escuridão, todas as noções de um“incõnsciente” endopsíquico”, sejaindividual ou coletivo,parecem distorções grosseiras de um reducionismo subjetivo,que não consegue sequerclarificar asua própria base subjetiva?
Ainda outroacréscimo arbitrário aos fenômenos oníricos reais seria dia- mar oaterrorizado covarde nosonho depersonificação figurativa do “ego” do sonhador. Agora, o “ego” é umtermo constantemente discutido hoje em dia pelos psicólogos; entretanto, ele não tembase emqualquer fenômenodemonstrável da existência humana. Coisas tais como “egos” existem apenas comoabstrações objetificadas de certas maneiras de viverhumanas. Como homemnão versado empsicologia, nossorecruta jamais teria dito: “Meuego fugiu do gigante.” Oque ele disse, em vez disso, foi simplesmente: “Eu corri o maisdepressa que eu pude.” Quando uma pessoa diz “eu” de manei 56



  

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