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Sonhar de um estudante de engenharia, de vinte e seis anos, sem quaisquer sintomas específicos de psiconeurose, meramente “cheio de” problemas. 3 страница



ciações despertas eespontâneas da pessoa com o material onírico.Com intuito verdadeiramente fenomenológico,May condena expressamente ocostumeiro “interpretar” analítico. Isto, diz ele, inevitavelmentetraduzia o material dosonho para osnossos (psicanalíticos) símbolos, em vez depresar atenção àlinguagem das experiências oníricas em si. O efeitodisto é forçar omaterial onírico a seencaixar num jargão e emracionalizações deuma escolaparticular dapsiquiatria — a do analista. Sonhos assimtraduzidos expressam, na pior dashipóteses, a opinião doterapeuta em vez de seupróprio significado inerente, e na melhor, a opinião do paciente, colocada em termos ecategorias que lhe são dadas prontas pelo terapeuta?’
Por
estas razões May concordasinceramente comigo, escrevendo que futirosanalistas devem adotaruma abordagem puramente “fenomenológica” com os sonhos deseus pacientes,atendo-se estritamente aomaterial onírico conforme ele se apresenta. Oprogresso das suas investigações sobre sonhoslhe ensinaram, de fato, que eleprecisav4 adotar uma política fenomenológica ainda mais rigorosa doque inicialmente havia proposto. Pois descobriu que quase tudo contidonos estudossobre sonhos tradicionais— toda a discussão médico-paciente do conteúdo dos sonhos, edas associações do paciente com esses conteúdosachava-se muitodistante do material do sonho em si. Era portanto necessário expor osincontáveis estágios pelos quais a interpretaçãopsicanalítica tradicional se distanciava do material oní rico. Napesquisa de Maysobre um caso concreto, por exemplo, oseguinte podia serafirmado com certeza:primeiro, que a sonhadora, Susan,teve um sonho; segundo, que ela se recordou do sonho, e quesua memória já podia terparcial- mente distorcido omaterial onírico. A seguir ela relatou o sonho ao analista. Ao fazê-loela involuntariamenteacentua certos elementos, aomesmo tempo que omite ou mesmo falsifica parcialmenteoutros. Quarto, a paciente e o analista discutiram o material do sonho. Estadiscussão quase sempre introduztermos teóricos queconduzem a um afastamento ainda maior do própriosonho. Depois de escrever o seu estudo“fenomenológico” dos sonhos de Susan, May finalmente leu o queela havia dito ao seu analista sobre os sonhos: suas impressõesimediatamente após despertar, juntamentecom suas próprias interpretações. Como regra ela introduzia suas associações e Interpretações”com a frase “Achoque o sonho significaisto ou aquilo” e emquase toda ocasiãoestas associações e interpretações consistiam inteiramente em clichês ebanalidades psicanalíticos, que soavam lógicos, masque de fato não passavam de uma intelectualização que diluía seriamente o que o sonho em sitinha a dizer, particularmente em relação ao comportamento da paciente.Para sua grande surpresa, May descobriu nasdetalhadas narrativas das sessões psicanalíticasque tais “interpretações de sonhos”eram regular- mente seguidas de novos sonhos nosquais a paciente recebia a advertência fenomenológica, vinda de si mesma ou de outra parte: “Vamos chamar uma

espada de espada”, ou “Este é o novelão no qual nos metemos.”
E
assim RoloMay decidiubasear seu estudo somente nomaterial onú’ico em si, permitindo que esteconversasse consigo omáximo possível. Nenhum empreendimento fenomenológicojamais teveuma prescrição melhorpara o seucaráter e base existenciais, O problema é que na execução prática desua intenção fenomenológica, Rolo Maynão conseguiu atingir a sua meta prescrita.
A forma como ele trata o material onírico de
maneira não fenomenológica, rendendo-se àquelatradução psicanalítica “desprezada”, é evidente quando seobserva qualquer umdos exemplos concretos que May emprega. Sempre que a pacienteSusan sonha com um homem, por exemplo,seja este um supervisor ou um estranho ôhaniado Scotch.May reinterpreta a figura dosonho como sendo o analista (a quem ele deu o pseudônimo de Caligor).3’ Se no sonho Susan cai deuma escada e chega ao chão de pé, May traduz osonho como um “sonho claro derealização dedeseJo.”38 Se Susan sonha que está entrando numa casa e percebealguns pedaços de cano no chão, May toma os canos como sendo “símbolos excretórios, sexuais, sempre presentes.” Nunca é dada qualquer justificativapara tal conclusão.
Não menos do que May, Detlev von
Uslar se afasta de uma execução decidida de suas intenções fenomenológicas. Nocapítulo W desta obra examino detalhadamente umcaso concreto da interpretação de sonhos de Uslar, quesegue ao pé da letra o velhoesquema de Freud. (Também apresento comparações entre as interpretaçõesfreudianas e uma avaliação estritamente fenomenológica.)39 Por enquanto devemos nossatisfazer com a própria admissão deUslar de que sua ontologia do sonho nada maisfaz para ampliar a nossa compreensão geral dossonhos ousua aplicação terapêutica.Ele faz estaconfissão enquantoadvoga que, mesmo he, asimplicações das teoriasfreudiana e jungiana devemdeterminar o curso da nossamaneira de lidar com os sonhos,4°
Olhando para o estado
atual da ciência dos sonhos, não podemos esconder o fato de que nenhuma teoria- psicológica profunda, estatística ou neurológica— está suficientementepróxima do início. Todas elas partem dapremissa inquestionada de que deve haver, numespaço preexistente, alguma“psique” enclausurada naqual ocorre o processo do sonho. Até mesmo pesquisadores que têm intenção de proceder “fenomenologicamente” acabam caindo nesta concepção, unia “psicologia do sonho” sendo,afmal, uma ciênciabaseada na noção de “psique”. Ainda assim, nenhum deles pode prover qualquerinformação acerca danatureza, operação oulocalização dessa coisa humanatão discutida chamada“psique”.

 

NOTAS
1. Uma retrospectiva histórica da flutuante valorização dos sonhos através dos tempos pode ser encontrada no meu primeiro livro de estudos sobre os sonhos: M. Boss 77w analysls of Dream,(traduzido pan o inglês por J.Pomerans). Nova York: PhilosophicalLibrary, 1975,p. 11ff.
2. 5. Freud. Gesammelte Werke. Vol. Xl.Londres: Imago Publishing Co., Ltda.,
1940,p. 239.
3. H.Ou.Daseinsanalyse und Theologie. In G. Condrau, cd., Medard Boiszuni
70. Gebursta.g.
Bern.Stuttgart: Hans Huber Verlag, 1973, p. 104ff.
4. bidwig Wittegenstein. Vorlemngen and Geiprache uberAsthetik, Psychologieand Religirnt.Goettingen: Vandenhoeck, 1968,p. 73 ff.
5. R. M.
Jones. 77re new psychology o! dreaming. Nova York e Londres: 1970, p. 187-188.
6. J. H. Massennan. (Ed.) Dream dynamics, scientific proceedings of the Anierican Academy of Psychoanalysis. Science and Analysis, 1971, Vol. XIX,Grune &Stratton, Nova York: &Londres, 174, 186ff.
7. Wittgenstein, op. cit. p. 49.
8. Ogzifoémeu.
9. Wittgenstein, op. cit. p. 54.
10. Wolfgang von Goethe,
Maximan und Reflexloneu, VoL 13. Ges. W. Inselverlag, Leipzig, l922,p. 595.
11. Masserman, op,
cit. p. 174 e 186.
12. Masserman, op.
cit. p. 174.
13. M. D. Zane,
Significance of Differing Responsesamong Psychoanalysts to the Sarne Dream. In J. H. Masserman, cd., op. cit. p. 174ff.
14.
Massennan,op. cit. p. 187.
15. M. Boss, 71w
Analysis ofDream, (traduzido para oinglês por J. Pomerans.) Nova Yorlc:l’hilosophical Library, 1975, p. 35 ff.
16. 1144., pp. 52-76.
17.
Comparar asdiscussões das inovações pós-freudianas e pÓsungianas nos métodos de interpretação de sonhos das psicologias profundas em: M. Boss.Der TraiAm and seineAuslegung (segunda ed.) Kindler-Verlag, Munchen, 1974, p. 68ff.
18. (a) E. Aserinsky e N. Kleitman. Regularly occuring perlods of eye motility and concomitant phenomena during sleep. Sclence, 1953,118, 273-274. (1,). W.Deanent. Dream Reall and eye movements during sleep ia schizophrenics and normais. J’oun,al ofNervous and Mental Dlwnlers, 1955,CXX, 263-269. (c) W.Dement and N. Kleitnian. The relation ofeye movements during sleep to dream activity. Ali objective method for the study of dreaming. Journal of Experimental Psychology, 1957,LIII, 339-346.

1972.

19. C. A.Meier. Pie Bedeutun,g der lYawnes.Olten e Freiburg: Walter - Verlag,

22.Comparar com Seção 3deste capítulo. 23. R. M.Jones, op. cli,, p. 33. 24. Ib&L,p.119. 25. Ibld.,p.118e142. 26. C. A. Meia, op. cit., p. 62. 27.C. A. Meier, op. cit, p. 64. 28. Comparar p. 15. 29. 5.Freud. Gesammelte Werke. VoL 11/111.Londres: Imago Publishing Co. Ltd,,Londres: 1942. p. 139. 30. Calvin 8.Hail e Rabat L Van de Castle. 71w content analysft of dreame. NovaYork.Appleton.Century Crofts, 1966. P. )C(introdução). 31. Idem. 32.Detkv voa Uslar. Der Traum ais Welt: Untersuchugen zur Ontologie und Phenomenologie dei Trau,n,. Pfullingen: Gunther Neske Vcrg, 1964. 33.Leopokl Calinges e Rolo Mar Man’s unconsciou, knsuage Nova York e Londres: Basic Boolcs, mc., 1968. 34.M. Boss: Der lYaum uMseine Audegung. 2 I%perback Authge, 19’/4, Xiiidia, Pubi. Munchen. pp. Tradução para o inglês: The Analysls of Dreams.Pomerans 1958, Nova York, Pbllosoplilcal Library. 35.Caflinger e RoDo May, op. ciL, p. 12. 36. Ibld., p. 8. 37. Jbld., p.91. 38. Ibld.,P.89. 39.Ver Capítulo III. 40.Uslar, op. clL,p. 307.

20.Richard M. Janes. The new pgychology ofdreamlng. Nova York e Londres:
Grune and Stratton, 1970;
21. Anual., de
Ps’ychoteraple, 1972,111(4).Les editions ESF,Paris

 

CAPÍTULO II
A COMPREENSÃO FENOMENOLÓGICA OU
DASEINSANALÍTICA DOS SONHOS

 


Introdução
Uma vezque o papel dosimbolismo tem sido tão expressivonas teorias dosonho até agora,retomaremos por um momento a umacrítica anterior do simbolismotradicional, com ointuito de estabelecer um novo começo na nossa análise do sonhar e dos elementos dossonho&’ Principiemos orientando-nos em tomo de um exemplo muito simples, um cio decarne eosso encontrando umser humanodesperto. Agora, por que niodeixamos que os cachorrosque habitam o nossomundo de sonhos sejam oscães de carne e osso queeles mostram ser? Porque não podem os cãesque encontramos emsonhos permanecer meros cães? “Meros” cães? você poderá indagar. Mas por quequestionar o “meros”? Qualquer cachorro, quer apessoa o perceba desperta ou dormindo, reúne um rico nexo designificados e contextos de referência. Todos elesapontam para o reino animal como um todo, em vez deapontar panoreino vegetal, oumineral.
Mas o que é estacriatura viva que chamamos de animal? Como é que a vida animal difere em essência, digamos, da“natureza” humana, ou doser deuma pedra sem vida? Talvez aúnica característica genuína dos animaisque nós seres humanos possamos sugerir seja uma “auteridadeindefmívefl( 9 Ou deveríamos dizer que os animais seencontram a meiocaminho entre osseres humanos e os objetosinanimados? Certos filósofos, profissionais eamadores, colocariam a natureza animal muitopróxima da dos objetosmateriais inanimados — nãouma rocha, talvez, mas umamáquina (igualmente sem vida) mais ou menos complexa. Estes filósofossustentam que os animais devemser radicalmente separados dosseres humanos porque não
(9 Nooriginal, otha’nns, termo que, cm psicologia existencial, expressa a propriedade deser o ozWo. Othenesz se opõe a selftsesr. (14. Tj

 


podem falar. Se os animais existissem como pessoas num mundo como o mundo das pessoas, estes filósofos raciocinam, os animais também seriam capazes de usar palavras.
Há outros filósofos que acusariam estes primeiros de serem insensíveis e míopes em relação aos animais. Eles ressaltam que seres humanos e animais são ambos criaturas vivas e, como tais, estão intimamente ligados. É verdade,admitem osmembros deste grupo, que os animaisnão podem fonnar palavras que osseres humanos compreendam, mas não existempessoas que nascem mudas? Enão é verdade que osanimais mais desenvolvidos (os cães, por exemplo)possuem uma linguagem de sons e gestos extremamentediferendada, ci4a capacidade de comunicar um sentido não é muito menosdiferenciada doque a linguagem verbaldos humanos, e provavelmenteaté mais expressiva?
Entretanto, o que este segundo grupo de filósofos sabe a respeito da “essência”interior da matéria “sem vida” da qual o primeiro grupo procura derivar a natureza dos animais? A matéria sem vida comunica-se conosco muito menos pela linguagem do que os animais.
O debate entre estas imposições filosóficas, ambas indubitavelmente exageradas, jamais será resolvido satisfatoriamente. Em todo caso, a natureza em si dos animais pennanecerá flmdamentalmente fora do alcance da compreensão humana. Porque os animais sâó desprovidos de fala; eles não podem se expressar em palavras por nós entendidas. Jamais serão capazes de nos contar exatamente comoexperienciam aquilo queencontram no mim- do. Na verdade, é duvidosoaté mesmo falar da “experiência” de animais.
Ainda
que substituíssemos a palavra “animal”por “criatura”, e definíssemos esta criaturacomo o “mero” animal em contraste com o “animal racional” que é ohomem, estasvelhas distinções latinas não nos tomariammais conhecedores da natureza do “mero” animal. Na melhor dashipóteses, “criatura” éuma palavra que encerra umaproclamação de fé apoiandouma crença deque os animais foram criados, em particular por algum deus. E nós nãoganhamos nada negando racionalidadeaos animais, enquanto anatureza darazão, e portanto da não-razãotambém, permanece tão obscura conetem sido até agora.
A natureza dos objetos
inanimados, ao contrário, é estabelecida portraços característicos universalmente visíveis.Uma pedra, por exemplo, acha-sepresente numa posição específicanum espaçoconcebido como preexistente, vazio etridimensional. A pedra ocupa oespaço descritopelo seu próprio volume.Sua superfície a separa, pordentro e por fora, dequalquer outra coisa que aíexista. Finalmente,ela estáseparada destas outras coisas por distâncias mensuráveis.
Um animal vivo, ao
contrário, não termina na sua pele. Por exemplo, apercepção dos cães se estende muito além de seuslimites físicos, abrangendo

tudoque seus sentidos de visão, audição, paladar, tato e olfato podem apreender. Comohaveriam oscachorros de notar alguma coisa se não fosse assim, embora naausência depalavras faladas o modo de suarelação sensorial com aquiloque de alguma forma osàfeta seja totalmente obscuro. No entanto, se os animais não fossem, assim como os seres humanos, suficientementereceptivos para ao menos distinguir umacoisa que percebem da outra,nunca veríamos cãessaltando e latindo para seus donos, e rosnando ou latindo muito mais forte, demaneira totalmente diferente,para algum gato acuado. Se os cães podem entenderseus donos como seres humanos, e os gatos como gatos, damesma forma que nós, isto já é outromistério. Em todo caso,os cães, assim como as pessoas,são atraidospara as coisas à sua volta, euma característica do seu modo de se relacionar com aquiloque percebem se destaca claramente. Ao contrário dosdiversos tipos de relações livrementeacessíveis aos seres humanos, os animais parecem ser limitados, totalmente ou quase totalmente, a uma únicamaneira potencial de se relacionar, que se apresenta como um laço fixo, não livre, “instintivo”,que compele o animal a oferecer sempre a mesma “resposta” ao mesmo fenômenosob as mesmas circunstâncias. Esta únicamaneira potencial de se relacionarpareceria corresponder de perto a uma entremuitas relaçõeshumanas possíveis e mais livres, aqual é caracterizada como adicção ou submissão “compulsiva”, “escravizada” a algumacoisa. Algo — e éalgo do sonhar— argumenta em favor deste fato. Pois se não houvesse alguma afinidade congênere entre pessoas e animais, pelo menos com referência aeste modo único de relacionamento, como poderia ocorrer com tanta freqüência que um ser humano que sonha, inesperadamente se vê transformado numcachorro, correndo de quatro,para reverter com a mesma rapidez à forma e comportamento humanos? De que outro modo poderiam as ações de animais encontrados emsonhos gerar, na mentemais clara dosonhador quando este é despertado, compreensõesimediatas de relaçõesescravizadas que atormentam asua própria existência? Voltaremos aisto daqui a pouco, másfaçamos um comentário de passagem. Se tudoisto é verdade, então a natureza animal deve ser compreendida como uma formaprimitiva de existência humana. Neste caso, todas as tentativas de entender o comportamento humano combase no animalacham- -se condenadas desde o início, por estarembaseadas num antropomorfismo. Seria cientificamente mais consistente então, caminhar nadireção contitia, tentando entender os animais combase no comportamentohumano, encarando-oscomo formasprimitivas deexistência humana. Agora, detodos os animais oscães são os que se comunicamconosco mais expressivamente, em sonhos ou na vida desperta, sendo tão domesticados quanto gatos e pássaros, mas muito mais dependentes de nós. Eles nos confrotam com uma enorme diversidade,cada umdistinto de todos os outros em forma e comportamento, e possuindo um caráterparticular imutável. Qualquer cachorro, quer o encontremos desperto ou sonhando, é ainda muitomais expressivo. Assuas quatro patas relacionam-se com a terra sobre

a qual elepisa ecorre àluz do dia ou naescuridão da noite. Os ventos e chuvas docéu otocam. A sua obediência ao dono liga-o à espécie humana. Seu nascimento de um outrocachorro fala do princípiodivino ou da antiga “physis” que geraseres vivos do “ventre da natureza”. Neste sentido,então, umcachorro (comoqualquer outracoisa nosonho ou na vigília)refere-se, pela sua próprianatureza, demaneira quádrupla aosseres humanos, ao divino criativo transcendendo tudoque há, à expansãoilimitada aocéu e à terra. Se umcão pode comunicar tanta coisa, apessoa precisa ter umacorrespondente agudeza devisão e audição— a pessoa que sonha e o“intérprete do sonho” também. Mas éprecisamente esta habilidade de observar e escutar que se tomou tio difícilpara a gente de hce. A nossa“visão” tomou-se restrita a percebersomente a parte dos fenômenos encontrados que é quantitativamente mensurável quando são tomados comoobjetos Isolados. Mima de tudo,nós perdemos em grande medida a nossa capacidade de ver oque équalitativamente essencial nesses fenômenos,inclusive todas as suas referências qualitativamente significativas em relação ao resto do mundo. Apenas com exercício longo epaciente podemosrecobrar este pré-requisitopara uma apreciação genuína do sonhar. Pormais tosco quetenha sido o nosso esboço danatureza dos cães, ele abrangetambém a natureza dos cães sonhados,que são comoquaisquer outros cães que encontremos, nemmais nem menos.Como, então, podem os“intérpretes de sonhos” justificar a aflnnação de quecachorros sonhados, juntamente comsua natureza observável, representam a “personificação” dos próprios traços animais do sonhador? Onde pergunto, receberia o cachorro sonhado tal significação “simbólica” — a menos, éclaro, que est4a- mosassuniindo desde o princípio que o próprio sonhador tenha criado o cão sonhado dentro de si e dado à sua criaçãoum significado ainda maior que qualquer deus estaria em posição de fazer. Todavia, não existe evidência para a existência de tal fabricante de cães oculto, endopsíquico. Todas as nossas formas de experiênciar aquilo que encontramos em sonho coincidem exatamente — enquanto dura o estado de sonhar — com as maneiras que vemos os entes em nossa vida desperta. Também no sonhar, os cães vêm ao nosso encontro, saindo de seus cantos para o nosso mundo aberto, como fazem quando estamos acordados. Na ausência de provas fatuais,qualquer alegada significação “subjetiva” adicional atribuída aos cachorros em sonho, junto com o agente “intrapsíquico” produtor desta significação (que necessariamente precisa serpressuposto), deve ser rotulada deelaboração mental do “intérprete do sonho”.Tais elaborações nada têm a ver com arealidade da experiência onirica em si. É sóquando deixamos um cachorro sonhado sersimplesmente um cachorro que ele começa aestimular o nossopensamento: O próprio fato de o sonhador humano perceber um cão em vez de, digamos, um leão feroz ou

um peixe,uma criatura domesticada de sangue quente em vez deuma planta ou pedra,conta a nós, sonhadores despertos, algo essencial. Permite-nos reconhecer que, pelo menos durante o sonhar,algo na natureza de um cachorro está afetando profundamente o sonhador. A mera presença do cão diz que aexistência do sonhador está suficientementeaberta para admitir o fenômeno “cão” dentro dasua percepção onírica. Mas também podemos descobrir mais unia coisa importante. O sonhador pode nosinfonnar como ele, um ser perceptivo, responde àquiloque percebeu, como se relaciona com o cão. Osonhador pode se aproximar do cão alegremente, reagir com indiferença, ou fugir de pavor.
Podemos aprender muita coisaacerca do sonhadorhumano atentando paraestas duascircunstâncias. Devemos primeiro considerar exatamente para que fenômenos a existência dosonhador está aberta a ponto de terem penetrado no sonho e se manifestado àluz dasua compreensão. Isto por suavez, nos contaquais os fenômenos quenão são acessíveis àpercepção no estado de sonhar, ou, em outras palavras,para a entrada de que fenômenos a existência do sonhador aindaestá fechada. Como segundo passo, precisamos determinar como o sonhador seconduz em relação aoque lhe é revelado noseu mundo onírico,particularmente a afinação que determinaessa forma de secomportar. Se estas duas coisas puderem seracuradamente descritas, chegaremos a umacompreensão total da existência do sonhador durante o período desonho. Qualquer comentário adicional redunda emacréscimos arbitrários,pois a existência humana é pornatureza uma série de contatos e respostasespecíficas àpresençi significativa dos fenômenos que se revelam no mundo dapessoa. Uma existência humanaobviamente envolvemuito mais maneiras potenciais deperceber e agir do que qualquer momento de sonho ou vigília apresenta, eestas possibilidades são tddas muito importantes para a pessoa emquestão. Mas quando elas não se acham envolvidas com o Ser.nomundot dosonhador conforme existe em seu sonhar, pouco contribuem para a compreensão dosfenômenos oníricos como tais.
A abordagem fenomenológica para a existência onírica não éapenas cientificamente viável como pode ser também uma fonte de grande valor em terapia. No entanto, a aplicaçdo terrspíutica tido deve ser confundida com a compreensio fenomenológica dos elementos onfricos na totalidade da sua significaçifo. Uma coisa écompreender este modo particular do Ser-no-num- do humano ocorrendo durante o sonhar, e relatado depois; outra coisa inteiramentediferente éaplicar esta compreensão de forma terapêutica ao sonha-
* A nosso ver,a tradução mais apropriada para being-in-the world seria “sendo -n mundo”, uma vezque o gerúndio ressalta o sentido do processo vivenda! da existência, bem come a manifestação deste processo nomomento presente. Optamos por “Seriro-inundo” apenas porque já se trata deuma expressão consagrada. (H. T.)



  

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