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Outra vez a paixão 4 страница



Lisa sentiu-se aliviada por saber que ele precisava realmente dela, que, afinal, o emprego era verdadeiro, e nã o um pretexto.

— Será melhor para a sua saú de, se você ficar na ilha — afirmou Nikolas, servindo-se de café. — Você sabe muito bem que ainda está muito suscetí vel à s infecç õ es, Ariadne. Aqui, você terá chance de recuperar-se mais depressa.

Ariadne nã o aceitou as razõ es do padrinho.

— A Verdade é que você nã o quer me levar, nem me quer com você.

Nikolas soltou o ar pelas narinas, esforç ando-se para manter a calma.

— Nã o importa o que eu quero. Atenas nã o é o lugar ideal no verã o. É muito quente e cheia de turistas. De qualquer modo, você ficará melhor aqui.

— Mas eu quero ir com você...

— É impossí vel, Ariadne.

Nikolas bebeu metade do café de um só gole.

— Por que nã o? — insistiu ela. — Eu nã o o incomodarei, pro­meto. Você sabe que fico doente quando você nã o está por perto.

— Ftani pya! — Nikolas nã o percebeu que encerrava a dis­cussã o em seu pró prio idioma.

Ariadne nã o deixou passar esse detalhe.

— Por que está falando grego? Você nã o quer que a srta. Tennant saiba que somos... amigos í ntimos?

— Eu estou avisando, Ariadne...

Lisa levantou-se num salto. Nã o queria mais participar da­quela cena humilhante. Por menos que simpatizasse com a menina, era embaraç oso vê -la rebaixar-se tanto.

Certamente, Nikolas dera-lhe motivos para comportar-se da­quele modo, e agora, ele pagava o preç o.

— Se me derem licenç a, eu gostaria de subir para tomar um banho — murmurou ela, empurrando a cadeira. — Mais tarde, conversaremos sobre as minhas tarefas.

  Nikolas ergueu-se e encarou-a.

— Você nã o comeu nada.

— Realmente, estou precisando de um banho — disse ela com firmeza, dando a entender que nã o cederia, dessa vez. — Com licenç a.

Ele a deixou ir sem discutir, e, com passos rá pidos, Lisa atravessou o pá tio em direç ã o à casa. Quase na porta, deu de cara com Sophie.

— Hei, Lisa!

Sophie parecia bem-humorada, e Lisa nã o queria que a irmã percebesse sua contrariedade.

— Vejo-a depois, Sophie.

E sem maiores explicaç õ es, entrou em casa e correu para o quarto.

 

CAPÍ TULO V

Quando Lisa saiu do banheiro, havia uma ban­deja com café, pã es e frutas frescas na mesa da suí te. Sorriu agradecida. A dor de cabeç a desaparecera e estava faminta. Comeu uma maç ã enquanto secava os cabelos.

Depois de servir-se de café e pã o doce, vestiu um vestido simples de malha e alç as. Uma camada leve de sombra marrom nos olhos e um brilho abronzeado nos lá bios completou a toa­lete. Decidida a enfrentar sua pupila, saiu do quarto.

No té rreo, seguiu por um corredor em forma de arco, em direç ã o aos fundos da casa. Janelas imensas com venezianas pretas ofereciam uma vista magní fica da ilha, os barcos e iates no horizonte como uma pintura viva. Percebeu que havia al­gué m na piscina. Era Sophie que, ao vê -la, nadou até a lateral.

— Tudo bem? — perguntou Sophie, apoiando os cotovelos na borda da piscina.

— Tudo — Lisa respondeu olhando ao redor. — Onde está todo mundo?

— Seu chefe disse que tinha que trabalhar. — Sophie brin­cava com as trê s argolas que enfeitavam-lhe a orelha. — Quan­to à viú va negra... nã o sei onde ela está.

— Sophie! — Lisa repreendeu-a, depois sorriu. — Hoje você nã o pode chamá -la assim. Ela está toda de branco.

— Eu vi e continua ridí cula. Bem, ela sumiu tã o logo Petronides entrou por aquela porta. Certamente, ela saiu de cir­culaç ã o, com esperanç a de nos fazer ir embora daqui.

Lisa nã o comentou nada, mas desconfiava que Sophie tinha razã o. Ariadne nã o ia facilitar as coisas, e depois da partida de Nikolas, com certeza, a situaç ã o ficaria bem pior.

— Aproveite a folga e venha nadar comigo — convidou Sophie.

— Eu já tomei banho. — Lisa olhou em direç ã o à casa. — Será que a governanta sabe onde ela está?

— Esqueç a-a por algum tempo. — Com um movimento gra­cioso, Sophie mergulhou de costas, reaparecendo segundos de­pois. Enxugou os olhos com o dorso das mã os, antes de conti­nuar: — Vamos aproveitar enquanto podemos. Como se esti­vé ssemos em fé rias, entende? Algo me diz que aquela garota nã o permitirá que aproveitemos por muito tempo.

Apesar de concordar com a irmã, Lisa recusava-se a acre­ditar nisso.

— Por mais que tente dificultar meu trabalho, ela nã o pode nos impedir de ficar aqui.

Inclinando a cabeç a, Sophie olhou-a cheia de suspeitas.

— Você parece muito segura, Lisa. O que você sabe que eu nã o sei?

— Bem, nã o foi Ariadne quem me admitiu. Foi o tutor dela. Irei embora daqui quando ele me disser para ir, nã o antes.

Sophie apertou os olhos.

— Você gosta dele, nã o?

Lisa ergueu os ombros, tentando agir com naturalidade.

— Pelo pouco que sei a respeito dele, Nikolas Petronides parece ser uma pessoa correta e justa.

— Nã o foi isso que eu quis dizer, e você sabe disso — retrucou Sophie, rindo. — Nã o acredito. Depois do que você disse, aposto como está se apaixonando por ele.

— Nã o é verdade...

— Ora, Lisa, eu nã o nasci ontem!

— Nã o diga bobagem, Sophie! Só porque ele nã o é como você o imaginava, vai ficar fantasiando e envolvendo-me em suas fantasias malucas?

Sophie sorriu com malí cia.

— Ele é sexy.

— E você nã o é a primeira mulher a notar.

— Bem, pelo menos, você nã o nega. — Sophie circulou os lá bios com a lí ngua. — Como ele será na cama, hein?

— Pelo amor de Deus, Sophie! Algué m pode nos ouvir! — A ú ltima coisa que Lisa desejava, era que Nikolas ouvisse aquela conversa. — Vou me sentar um pouco. — Ela apontou para as espreguiç adeiras. — Depois, venha fazer-me companhia.

— Espere. — Sophie segurou-se de novo na borda da piscina.

— O que você andou fazendo logo cedo, hein? Por que, de repente, precisou de outro banho? Que eu saiba, você costuma banhar-se assim que sai da cama, e creio que hoje nã o foi diferente.

— É verdade. Nã o foi diferente. — Lisa sentia-se desconfortá vel com a explicaç ã o. — Eu fiz uma caminhada, foi isso. Fazia muito calor, transpirei demais e nã o via a hora de trocar de roupa.

— Uma caminhada? — Sophie ergueu as sobrancelhas in­terrogativamente. — Por onde você andou? Sozinha?

— Nã o, o sr. Petronides també m foi. — Nã o havia motivo para mentir, uma vez que o pró prio Nikolas poderia comentar sobre o passeio. — Caminhamos até o penhasco, e, de repente, me deu uma dor de cabeç a daquelas. Como eu disse, estava muito quente, e entã o, nó s voltamos logo.

— Entendo.

A expressã o de Sophie era provocante e Lisa perdeu a paciê ncia.

— Nã o me olhe assim — avisou-a. — Eu estava sozinha, mas ele apareceu e resolveu aproveitar a oportunidade para conversar sobre o emprego. Por isso, Sophie, nem pense em constranger-me para obrigar-me a mudar de idé ia. Aceitei este emprego e vou fazer o possí vel para desempenhá -lo a contento.

— Grande! — Sophie jogou os cabelos para trá s. — E o que devo fazer enquanto você trabalha?

— Acho que saberá muito bem como ocupar seu tempo. Aliá s, tive a impressã o de que estava se divertindo bastante, quando cheguei aqui — Lisa lembrou-a com um sorriso irô nico. — Olha, está muito quente para ficamos discutindo. Por que você nã o volta a nadar?

Sem esperar resposta, Lisa afastou-se e escolheu uma das espreguiç adeiras sob o guarda-sol. Ao ouvir o som inconfundí vel de passos à s suas costas, voltou-se, imaginando que fosse Nikolas. Mas era Ariadne caminhando lentamente em sua direç ã o.

— Olá — Lisa cumprimentou-a, decidindo tentar uma apro­ximaç ã o. — Venha conversar conosco.

Ariadne hesitou, como se pretendesse girar nos calcanhares e voltar para casa. Mas nã o voltou. Apesar da má vontade para com Lisa, aparentemente, ela fora instruí da para tentar mostrar-se afá vel. Sentando-se numa espreguiç adeira, abriu o livro que trazia nas mã os.

Lisa apertou os lá bios. Realmente, seria difí cil derrubar a barreira que Ariadne erguera entre elas. Mesmo assim, tentou novamente.

— O que você está lendo?

Ariadne virou o livro de modo a Lisa verificar por si mesma. O olhar dela correu de Lisa para Sophie saindo da piscina. Sua indignaç ã o era evidente, e agravou-se ao ver o biquini minú sculo de Sophie. Lisa prendeu a respiraç ã o.

A atitude irritante de Sophie complicava ainda mais a si­tuaç ã o delas naquela casa. E ela sabia disso. Na beira da pis­cina, Sophie enxugava-se na toalha que tirara de uma pilha sobre uma mesa. Entã o, percebendo que estava sendo obser­vada, inclinou-se e pegou o short, també m minú sculo, vestin­do-o em movimentos lentos e provocantes.

Lisa tentou distrair Ariadne.

— Oh... você está lendo Jane Eyre. Gosto muito dos livros de Brontê. — Ela se calou, buscando inspiraç ã o. — O sr. Rochester é um heró i atraente, nã o?

Ariadne fitou-a com hostilidade.

— Nã o tanto quanto Nikolas — declarou com rispidez. — Você nã o acha Nikolas muito atraente, srta. Tennant? Alto, moreno e tã o poderoso!

Surpresa, Lisa nã o sabia o que dizer. Negar nã o era pro­priamente uma opç ã o, mas se concordasse, estaria dando aber­tura para discussõ es e zombarias. Ariadne já demonstrara cla­ramente sua prevenç ã o contra ela, e Lisa nã o pretendia fo­mentar ainda mais a animosidade da jovem grega.

— Nã o creio que seu padrinho aprovaria este tipo de con­versa — disse, por fim. — Hum... você já leu outras obras das irmã s Bronte?

— Você tem... namorado, srta. Tennant? — Ariadne estava determinada a desconcertá -la. — Como se sente por ter que passar tanto tempo longe de casa?

Lisa suspirou. Até que ponto uma dama de companhia teria que ir, para satisfazer as exigê ncias de suas funç õ es?

— Se eu tenho namorado ou nã o, nã o lhe diz respeito, Ariadne. — Lisa esforç ou-se para manter a voz calma e agradá vel. — Agora, talvez, possamos conversar sobre o que você costuma fazer quando está aqui na vila. Você nada? Mergulha? Cavalga?

— Por que evita falar a seu respeito, srta. Tennant? — Ariadne insistiu. — Estou começ ando a pensar que você tem alguma coisa a esconder.

Lisa respirou profunda e calmamente.

— Por que está tã o determinada a falar sobre mim? Nã o creio que minha histó ria seja do seu interesse.

— Pois enganou-se, srta. Tennant. — Ariadne deixou o livro de lado e contemplou Lisa maliciosamente. — Estou curiosa para saber por que Nikolas concordou em trazer você e sua irmã para Skiapolis, quando, decididamente, nã o preciso de uma dama de companhia, quanto mais de duas.

Lisa encolheu os ombros.

— Por que nã o pergunta a ele?

— Perguntar o quê, para quem? — Sophie aproximou-se das duas, enxugando os cabelos loiros. — Deixe-me adivinhar. Só pode ser Nikolas. Qual o problema? Ariadne está mostrando as garras de novo? — Ela riu com desprezo. — Oh, Deus! Ela é um cliché!

O rosto de Ariadne escureceu de raiva.

— O quê? Do que você me chamou?

— Eu disse que você é um cliché — repetiu Sophie, antes de ser interrompida por Lisa. — Isso mesmo. Você é um caso perdido. Você precisa crescer, isso sim.

Ariadne arregalou os olhos.

— Eu... já estou crescida.

— Sim, certo. — Jogando-se em outra espreguiç adeira, So­phie começ ou a enxugar as pernas. — Isto é... — Ela riu de novo. — Onde você arrumou essas roupas? Eu, hein?!

— Nã o há nada de errado com as minhas roupas — começ ou Ariadne furiosa, mas Sophie ignorou o protesto dela.

— Leggings! Como se estivesse na moda ainda! E com este calor! — Olhou para a grega com menosprezo. — Mude seu estilo, Ariadne! Comece a viver, garota!

— Sophie!

Lisa achou que a irmã extrapolara, mas Ariadne estava agitada demais para notar.

— Se você pensa que eu vou vestir roupas iguais à s suas... — Os lá bios dela tremeram e ela se calou, evidentemente, contendo as lá grimas.

Sophie, poré m, nã o se impressionou. Nos ú ltimos seis meses, ela enfrentara situaç õ es piores para deixar-se intimidar pela raiva de uma garota mimada e egoí sta.

— Nem pode usar, mesmo. — Levantando uma perna no ar, examinou-a com visí vel satisfaç ã o. — Você nã o tem corpo para isso.

— O que há de errado com meu corpo?

— Que corpo? Aposto que repete isso tantas vezes, que vai acabar acreditando.

— Você é insolente! — esbravejou Ariadne.

— Sim. Engraç ado, nã o? — Sophie deitou-se na espregui­ç adeira e cruzou as pernas. Depois, virou-se para Lisa. — Você viu? Já estou me acostumando com esses elogios.

— Sua... sua...

Ariadne ergueu-se num salto, procurando uma palavra que descrevesse o que pensava da garota inglesa. Desistindo, in­sultou-a no pró prio idioma. O rosto estava vermelho de raiva e as mã os tremulas gesticulavam nervosamente.

Por um momento, Lisa temeu que Ariadne agredisse Sophie fisicamente e que as duas acabassem rolando pelo chã o. Tinha que fazer alguma coisa para acalmá -las.

— Ariadne...

Tarde demais. Com uma ú ltima imprecaç ã o, a garota correu em direç ã o à casa, arrastando o salto das sandá lias.

Seguiu-se um silê ncio ensurdecedor. E preocupante, Lisa pensou com tristeza. Só Deus sabia o que Ariadne contaria ao padrinho sobre o incidente. Era verdade que nã o podia ser responsabilizada pelo comportamento da irmã, mas era verdade també m, que nã o fizera nada para contê -la.

Sophie, poré m, nã o tinha esse tipo de preocupaç ã o.

— Foi melhor assim — disse ela. — Este lugar torna-se um pouco mais tolerá vel quando ela nã o está por perto. Cé us, essa garota é um té dio! E age como se tivesse setenta anos em vez de dezessete!

— Mesmo assim, você nã o tinha o direito de falar com ela desse modo. Ela se veste como quiser, nó s nã o temos nada a ver com isso.

— E daí? — Sophie deu de ombros. — Algué m precisava dizer-lhe umas verdades. Essa pirralha pensa que pode dizer o que bem entender e que ningué m vai contrariá -la. Onde se viu perguntar se você tem namorado, e porque o amiguinho dela nos convidou a vir aqui. Isso nã o é assunto dela.

— Nikolas nã o é o amiguinho dela — Lisa corrigiu-a auto­maticamente. De repente, deu-se conta do que Sophie dissera. — Como sabe do que está vamos falando?

— Eu tenho ouvidos, Lisa. O som corre ao redor da piscina. Esqueceu, mana? Aliá s, você deveria agradecer por tudo que falei. Você é tã o ingê nua! Ser educada demais com bruxas iguais a essa, nã o leva a lugar nenhum. Eu sei. Eu lido com gente desse tipo todos os dias.

Lisa emitiu um som de incredulidade.

— Nã o acredito, Sophie. Alé m do mais, nã o somos hó spedes aqui. Somos funcioná rias. Eu, pelo menos. E funcioná rios nã o saem por aí, medindo forç as com os patrõ es. Posso ser ingê nua, mas conheç o minhas limitaç õ es.

— Mas você disse que Ariadne nã o é sua patroa — Sophie lembrou-a num tom irô nico. — Calma, Lisa. Ela nã o vai abrir a boca, por mais furiosa que esteja.

— Eu nã o tenho tanta certeza.

— Acredite em mim. Vamos continuar aqui até o fim, acon­teç a o que acontecer. — Sophie espantou uma mosca que pou­sara em sua perna. Depois, sorriu. — E mais... Acho que as coisas vã o ficar bem mais interessantes. Estou morrendo de curiosidade para saber o que essa garota vai fazer, quando descobrir que tem uma concorrente.

— Isso é ridí culo! — resmungou Lisa.

— Nã o é, nã o senhora. Eu vi o modo como ele olha para você. O rosto de Lisa ficou vermelho e Sophie riu triunfantemente.

— Está vendo? Lisa levantou-se.

— Vou procurar Ariadne.

— Por quê? Porque você nã o suporta o calor? — Sophie ergueu uma sobrancelha com sarcasmo.

— Nã o. Porque nã o pretendo continuar ouvindo suas bobagens. .

— Ok. — A garota encolheu os ombros. — Como quiser, — Ela olhou ao redor, — Importa-se de puxar aquele guarda-sol para cá? Nã o quero virar um camarã o!

Lisa apertou os lá bios, mas antes que pudesse responder, Sophie exclamou:

— Hei! Olhe quem está aí! Estou tendo uma alucinaç ã o ou nã o? Lisa olhou para trá s, certa de que, dessa vez, tratava-se de Nikolas. De novo, era Ariadne. Atravessando lentamente o pá tio, ela vestia um top com listras azuis e brancas, minissaia branca que expunha as pernas compridas e bem torneadas, e sandá lias baixas, de tiras. Parecia mais jovem e mais bonita, e muito di­ferente da garota que entrara na casa, quinze minutos antes. Aparentemente, poré m, suas atitudes continuavam as mesmas. Ignorando as duas inglesas, Ariadne sentou-se na mesma cadeira de antes e, recostando-se nas almofadas, retomou a leitura. Certa de que sua presenç a nã o seria necessá ria, Lisa decidiu voltar ao quarto.

— Vejo-a depois — disse à irmã. — Se você encontrar o sr. Petronides, avise-o de que fui acabar de desfazer minhas malas.

Sophie chamou-a para mais perto e sentando-se, apontou o dedo em direç ã o à Ariadne.

— O que faç o com ela? — perguntou num fio de voz.

— Seja civilizada — respondeu Lisa num tom desolado, sa­bendo que isso seria quase impossí vel. — Nã o demorarei.

 

CAPÍ TULO VI

Naquele dia, Lisa nã o viu Nikolas. Ele nã o apa­receu para o almoç o, que foi servido no pá tio.

Assim que terminou de almoç ar, Ariadne subiu para des­cansar. E sem saber muito bem o que fazer, Lisa decidiu passar a tarde na piscina com Sophie. E até aproveitou para nadar no final da tarde, quando o sol já nã o estava tã o quente.

Tomou um banho antes de vestir-se para o jantar, sufocando uma desconfortá vel sensaç ã o de ansiedade, pela perspectiva de tornar a encontrar Nikolas.

Nem precisava ter se preocupado. Nikolas nã o jantou em casa.

— Then ineh etho! Oh... ele está fora! — A sra. Papandrieu esforç ou-se para explicar que kirie Petronides jantaria fora na­quela noite.

Lisa e Sophie trocaram olhares significativos. Sem Nikolas, certamente o clima ficaria pesado. Ariadne atrasou-se, e quando entrou na sala, tinha a mesma expressã o de poucos amigos que exibira pela manhã.

Mas Lisa decidira nã o permitir que a garota assumisse o controle da situaç ã o. Ela ainda nã o sabia exatamente qual seria sua funç ã o dentro daquela casa, mas uma coisa era certa: nã o suportaria a insolê ncia de Ariadne.

— Tomou sol, srta. Tennant? — Ariadne observou assim que tomou seu lugar à mesa. — É desaconselhá vel passar o dia inteiro na piscina.

— Foi muito agradá vel — afirmou Lisa, servindo-se de azei­tonas e esforç ando-se para nã o irritar-se com o sarcasmo da garota. — Você está melhor? — acrescentou, fazendo o jogo dela. — Você estava tã o pá lida quando subiu para descansar!

Ariadne comprimiu os lá bios.

— Estou muito bem.

Lisa balanç ou a cabeç a com ar de dú vida.

— Está? Seu padrinho me disse que você esteve doente. Por isso ele quer que você passe o verã o aqui, na ilha.

— Nã o é esse o motivo — garantiu Ariadne.

— Nã o? — Lisa perguntou e Sophie entrou na conversa.

— Eu acho que Ariadne tem razã o. Seria muito mais di­vertido em Atenas. A ilha é interessante, mas é sossegada demais. Nã o acontece nada!

— O que você sabe? — Ariadne indagou impaciente.

— Muito mais do que você — começ ou Sophie, sempre com uma resposta na ponta da lí ngua, mas Lisa interrompeu-a, temendo novo confronto.

— Isso nã o tem a menor importâ ncia. Olhem, já que vamos passar o verã o aqui, por que nã o tentamos torná -lo o melhor possí vel? Este lugar é muito bonito.

— Como o Jardim do É den — provocou Sophie. — Nã o falta nem a serpente!

— Você está insinuando...

— Onde você morava antes da morte de seus pais? — Lisa interveio rapidamente.

Aflita para desviar a atenç ã o de Ariadne, nã o refletira que aquele nã o era um assunto muito agradá vel.

— Em Atenas, claro. — Felizmente, a garota encarou-o com naturalidade. — Meu pai tinha uma vila bem pró xima à casa de Nikolas. Por isso, eu o conheç o tã o bem.

— Você estuda lá mesmo?

— Que importa? — Ariadne já estava impaciente; — Logo vou sair do colé gio. Tenho quase dezoito anos, você sabe.

Lisa fez um gesto afirmativo com a cabeç a. Era muito difí cil conversar com algué m tã o determinado a ser desagradá vel. Tudo que a jovem grega dizia, era para provocá -la, mas Lisa nã o se deixaria vencer.

E ela teve oportunidade de demonstrar isso, quando Ariadne destratou as jovens copeiras que serviram à mesa.

— Se você nã o quiser comer, nã o coma, Ariadne — Lisa a repreendeu com firmeza. — Nã o descarregue sua raiva em pessoas inocentes, só porque você está de mal com o mundo.

Ariadne arregalou os olhos.

— Nã o sei do que você está falando.

— Você sabe, sim. Você está com esta cara emburrada desde que chegamos aqui. Muito bem. Estou cansada de tentar con­quistar sua amizade, de esforç ar-me para ser simpá tica. De onde eu venho, as pessoas costumam tratar-se com respeito. Sugiro que você faç a o mesmo.

Ariadne nã o conseguiu esconder sua raiva.

— Você nã o pode falar assim comigo.

— Mas falei.

— Vou contar a Nikolas,

— Pode contar. Duvido que ele aprovará sua atitude.

— Você nã o sabe nada sobre Nikolas — Ariadne esbravejou e Lisa estava indignada demais para pensar em discriç ã o.

— Sei muito mais do que você imagina — rebateu de pronto, para lembrar-se tardiamente que Sophie assistia à cena. — Agora, vamos terminar nosso jantar. — Lanç ou um olhar de censura à irmã. — Sem mais comentá rios, ok?

Por alguns segundos, Ariadne encarou-a com expressã o in­cré dula. Depois, levantou-se abruptamente.

— Nã o preciso ouvir isso. Vou pedir à kiria Papandreiu que sirva meu jantar no quarto.

— Nã o, você nã o vai pedir nada. — Uma vez comprometida, Lisa nã o tinha como fugir da briga. — Se você sair desta mesa, nã o jantará mais. Entendeu? Agora, pare de comportar-se como crianç a e sente-se.

Lisa duvidava que daria certo. E nã o deu. Com gesto in­dignado, Ariadne jogou o guardanapo sobre a mesa e, empur­rando a copeira, saiu da sala.

— Ponto para você, Lisa! — Sophie exclamou extasiada. Lisa, poré m, nã o achou graç a nenhuma. À abordagem direta nã o dera resultado, e ela se perguntava como seria depois que Nikolas voltasse para Atenas. Ela nã o tinha muitas esperanç as. O caso de Ariadne era sé rio, e a tendê ncia era agravar-se com a partida do padrinho.

Na manhã seguinte, Lisa tinha em mente uma estraté gia de aç ã o. Tinha que funcionar. De alguma forma, teria que conquistar a confianç a de Ariadne. O primeiro passo era con­versar com Nikolas. Imaginando que ele e a afilhada estivessem tomando o café da manhã, ela foi para o pá tio.

Apesar da mesa estar arrumada para quatro, nã o havia ningué m por perto. Com as mã os na cintura, Lisa olhou ao redor, decidindo o que fazer.

— Thathelateh prono, kiria?

Sobressaltou-se com a voz da sra. Papandreiu perguntan­do-lhe o que ela queria para o desjejum. Recorrendo aos es­cassos conhecimentos do idioma grego, Lisa respondeu:

— Hura... kati elafro, efharisto... Algo bem leve, por favor.

— Ne, kiria.

Assentindo, a governanta voltou para dentro da casa. Con­tente por ter conseguido comunicar-se, Lisa sentou-se à mesa, olhando para a linha do horizonte. Seria outro dia bonito, e ela esperava que fosse mais produtivo que o anterior.

A copeira trouxe pã es, suco de laranja e um bule com café. Lisa estava com fome e, depois de deliciar-se com pã es quentes, gelé ia de frutas e duas xí caras de café, levantou-se da mesa.

— Quando kirie Petronides descer, por favor, avise-o de que fui fazer uma caminhada — Lisa pediu à sra. Papandreiu.

Ela precisava falar com Nikolas, poré m, como era muito cedo ainda, nã o ia ficar sentada esperando por ele.

Pretendia ir até o penhasco, mas a praia estava tã o convi­dativa que, nã o resistiu. Desceu os degraus de pedra, pensando em Nikolas. Nã o tinha a menor idé ia da hora que ele chegara em casa, na noite anterior.

Nã o que isso fosse de sua conta, mas teria preferido con­versar com ele antes de  Ariadne contar sua versã o do episó dio. Lisa queria saber quanta autoridade, ou nenhuma, exerceria naquela funç ã o.

Estava mais fresco na praia. Tirando as sandá lias, caminhou na areia sentindo os grã os entre os dedos. De repente, teve a sensaç ã o de estar na Inglaterra, caminhando nas areias de Bournemouth.

Quando ela era crianç a, o pai costumava levar toda a famí lia para Bournemouth, onde passavam duas semanas do mê s de agosto. Ela e Sophie, ainda bem pequena, ficavam fazendo castelos de areia.

Naquela é poca, a mã e ainda vivia e o pai nã o estava tã o obcecado com a corretora de valores. Todos eram muito felizes, entã o. Foi só depois da morte da esposa que Parker Tennant concentrara todas as suas energias em incansá veis esquemas para ganhar mais e mais dinheiro.

Durante os dois primeiros anos, Lisa vivera só para o pai. Era feliz ajudando-o, de alguma forma, a superar a perda da esposa. Fazia tudo o que o pai pedia. Até mesmo desmanchar-se em atenç õ es com homens de negó cios que precisavam de estí ­mulo para aplicar o dinheiro na firma do pai. Até ele apresentá -la a Nikolas Petronides.

Estavam numa festa em Monte Carlo. O pai dela participava de um seminá rio organizado por investidores europeus, e en­carara o magnata grego como um desafio irresistí vel.

Durante algum tempo, Parker Tennant tentou negociar as aç õ es de uma linha de navios mercantes que, Lisa descobriu mais tarde, enfrentava dificuldades financeiras. Ele fizera um investimento enorme na empresa, com dinheiro dos clientes, e procurava por algué m disposto a injetar o pró prio dinheiro numa tentativa de recuperar a companhia.



  

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