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Outra vez a paixão 1 страница



Outra vez a paixã o

(ANNE MATHER)

 

 

Copyright © 2000 by Anne Mather

Originalmente publicado em 2000 pela Silhouette Books, divisã o da Harlequin Enterprises Limited.

Tí tulo original: The MillionahVs Virgin

Traduç ã o: Sí lvia Lú cia Sardo

Editor: Janice Florido Chefe de Arte: Ana Suely S. Dobó n Paginador: Nair Fernandes da Silva

Copyright para a lí ngua portuguesa: 2000 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

 

 

Digitalizaç ã o: Polyana

Revisã o: Andresa


 

 

RESUMO: Eles poderiam voltar a confiar um no outro?

No passado, Lisa Tennant abandonara Nikolas Petronides e fora injustamente acusada de usar sua beleza e inocê ncia para extorquir dinheiro dele. Agora ela estava de volta, disposta a nã o ceder à tentaç ã o de cair outra vez nos braç os daquele homem implacá vel e sedutor. Mas Lisa nã o contava com a insistê ncia dele... nem com a paixã o que ameaç ava romper todas as defesas que ela criara durante o tempo em que ficaram separados!

 

CAPÍ TULO I

O homem sentado à mesa nã o era Martin Price. Lisa lanç ou um olhar de dú vida ao maitre que a conduzia pelo restaurante. Alguma coisa estava errada. Os ombros de Martin nã o eram tã o largos, nem a pele tã o morena. Os cabelos crespos nã o tinham nada em comum com os lisos e pretos que cobriam o colarinho da camisa branca, visí vel sob o terno azul marinho.

Já ia protestar quando o homem se levantou e voltou-se para cumprimentá -la.

— Olá, Lisa. Que bom que você veio.

Lisa nã o sabia o que fazer. As pernas tremulas mal a susten­tavam em pé. També m nã o sabia o que dizer. Só podia ser um engano. Saí ra de casa para encontrar-se com o ex-noivo, mas estava claro que tratava-se de uma cilada para atraí -la ao restaurante.

Ela se voltou para o maitre, mas ele já se afastara. Por um instante, considerou a possibilidade de ir embora, mas o restaurante estava lotado e ela era covarde demais para provocar um cena.

— Sente-se — disse o homem, indicando a cadeira do outro lado da mesa. Os lá bios dele entreabriram-se num dé bil sorriso. — É bom vê -la de novo.

Lisa hesitou.

— Nã o sei o que você está fazendo aqui...

— Explicarei tudo — os olhos se estreitaram entre os cí lios absurdamente longos para um homem —, se me conceder al­guns minutos de seu tempo.

— Por que deveria? — Lisa estava em pâ nico.

— Oh, creio que você me deve consideravelmente muito mais do que isso. — O sorriso já desaparecera dos lá bios sensuais. — Por favor... — Era uma ordem. — Sente-se.

Lisa soltou a respiraç ã o. A menos que quisesse passar por um grande constrangimento, nã o tinha escolha. Com evidente relu­tâ ncia, ela sentou-se, cruzando as mã os sobre a bolsa em seu colo.

— Melhor assim. — Tendo conseguido seu intento, ele també m acomodou-se de frente para ela. Logo em seguida, um garç om se aproximou com a carta de vinhos. — O que você quer beber?

Lisa reparou que ele estava bebendo vinho. Vinho tinto que, refletindo as luzes dos lustres, brilhava como rubi. Sentiu-se tentada a acompanhá -lo na bebida. Adorava vinho, e ele sabia disso. Poré m, naquele momento, nã o pretendia colocá -lo em situaç ã o vantajosa, o que certamente aconteceria, pois o vinho subiria direto à sua cabeç a,

— Á gua, por favor — ela murmurou. Depois de uma leve reverê ncia, o garç om se afastou.

— Á gua?! — Nikolas Petronides ironizou, mas Lisa nã o se deixou intimidar.

— O que você quer, Nikolas? — perguntou ela, evitando o olhar sardô nico dele. Nã o pretendia encarar aquele par de olhos novamente. Nã o queria a inesperada onda de sensualidade que sentira ao revê -lo. — Onde está Martin?

— Ele nã o virá. — Ele proferiu as palavras com frieza, sem desculpar-se. — Ah, aqui está sua á gua.

Lisa encarou-o, ignorando o garç om.

— Como nã o virá? Acho melhor explicar-me o que está acontecendo.

— É mesmo?! — O tom da voz dele ainda era irô nico. — Imagino que ele nã o lhe contou nada quando falou com você.

— Nã o.

Lisa estremeceu. Jamais confessaria que fora a secretá ria de Martin quem telefonara, marcando o encontro. Ela ficara tã o surpresa, que nem se preocupara em questionar os motivos do convite para almoç ar. Na verdade, por tratar-se do restau­rante predileto deles, Lisa imaginara que Martin tinha inten­ç õ es de reatar o noivado.

Como fora ingê nua!

— Entã o, você nã o tem idé ia da razã o do meu convite?

— Eu já disse que nã o. — Lisa nã o escondia a irritaç ã o.

— Diga-me — murmurou Nikolas, depois de um breve si­lê ncio, a voz baixa, grave, quase sem sotaque. — Quanto tempo você e Price... como posso dizer... ficaram juntos?

Lisa se contraiu.

— Este é um assunto que nã o lhe diz respeito.

— Bem... — Ele fez uma pausa. — Se tivermos algum tipo de ví nculo empregatí cio...

— O quê?!

Ela o interrompeu, fazendo menç ã o de levantar-se. Pressio­nando-lhe o braç o, Nikolas forç ou-a a sentar-se de novo.

Lanç ando-lhe um olhar furioso, Lisa friccionou o braç o. A forç a da sensualidade fora engolida por um sentimento de ul­traje que a enfurecia.

— Calma — ele a aconselhou num tom impessoal. — Você nã o está procurando emprego? Posso oferecer-lhe um.

— Nã o, obrigada.

Lisa desviou o olhar do rosto moreno, decepcionada com a atitude de Martin. Havia acreditado que ele a amava! Mas enganara-se. Como se enganara com tudo.

— Nã o seja tã o apressada! — Nikolas empurrou o copo de á gua na direç ã o dela. — Beba. Vai se sentir melhor depois de refrescar-se.

— Nã o quero nada. — Lisa percebeu que estava se com­portando como uma crianç a mimada, mas tudo estava acon­tecendo rá pido demais e ela nã o conseguia manter o equilí brio das pró prias emoç õ es. Endireitou o corpo. — Quero saber como Martin sabia que você... que você e eu...

— Fomos amantes? — ele completou num tom suave, indi­ferente ao rubor que cobriu o rosto dela.

— Já nos conhecí amos — corrigiu ela objetivamente. — Nun­ca fomos amantes.

— Nã o — ele concordou com um certo pesar. — Ou você nã o teria feito o que fez...

— Nã o fiz nada. Nada de errado, aliá s. — Percebendo que se continuasse aquele assunto iria ficar em desvantagem, ela repetiu: — Como Martin sabia que já nos conhecí amos?

— Ele nã o sabia. — A franqueza de Nikolas era contundente. — Seu... noivo acredita que estamos nos conhecendo hoje.

— Ele nã o é meu noivo. — Lisa apertou os lá bios para controlar o tremor do queixo. — Suponho que achou muito divertido enganá -lo assim.

— Nã o enganei ningué m. Seu Martin nã o é o mais perspicaz dos homens.

— Ele nã o é meu Martin.

— Nã o. — Nos olhos dele surgiu um brilho de satisfaç ã o. — Ele me disse isso també m.

— Disse?! — De novo, Martin a decepcionava. — Ele discutiu nosso relacionamento com você?

— Digamos que quando seu nome surgiu na conversa, eu o... induzi a confiar em mim — Nikolas declarou de maneira prepotente. — Posso ser muito persuasivo, como você bem deve se lembrar.

Lisa meneou a cabeç a, recusando-se a comentar aconteci­mentos passados.

— O que ele disse? Como você o conheceu?

— Ah! — Nikolas relaxou na cadeira, lembrando um pre­dador indolente que, depois de subjugar a presa, preparava-se para divertir-se à custa dela. — Acontece que eu precisava de uma nova assessoria financeira, e, por conta da excelente re­putaç ã o, a Empresa Seton Ross me pareceu ser a mais indicada.

— Entã o você s se conheceram por acaso?

— De que outro modo seria?

Ela meneou negativamente a cabeç a, e afirmou.

— Nã o acredito.

— Por que nã o? — Ele assumiu um ar de falsa inocê ncia.

— Porque se Nikolas Petronides se aproximasse de uma empresa como a Seton Ross, jamais seria recebido por um só cio minoritá rio. Neville Ross ou Andrew Dawes o teriam atendido pessoalmente.

— Isso é verdade. — Nikolas sorriu. — Agrada-me saber que você acha que mereç o uma avaliaç ã o mais eficaz do que aquela que seu... amigo foi capaz de oferecer. Isso prova que você nã o foi totalmente enganada pelo aparente charme do rapaz. Agradeç a aos cé us por ele ter rompido o noivado, aghapita. Você encontrará algué m melhor, tenho certeza.

Lisa ficou furiosa.

— Nã o precisa ser tã o indulgente!

— Estou sendo? — Nikolas ergueu os ombros. — Desculpe-me. Lisa esperava que ele continuasse o assunto, mas ante o silê ncio dele, ela insistiu:

— Ainda nã o entendi como meu nome surgiu na conversa.

— Sim. — Ele nã o estava com pressa para satisfazer-lhe a curiosidade. — Bem, vejamos... como transcorreu a conversa? Creio que discutí amos a recente queda no mercado de aç õ es e que até mesmo as corretoras de valores mais conceituadas nã o estã o imu­nes aos colapsos. Naturalmente, o nome Tennant foi mencionado...

— Oh, claro...

— Afinal de contas, foi uma das quedas mais desastrosas da dé cada, nã o foi? E a morte prematura de seu pai foi uma verdadeira tragé dia... — Ele franziu as sobrancelhas e parecia sincero ao dizer: — Sinto muito pelo que aconteceu. Sinto muito mesmo, por você e por sua irmã.

— Nã o precisamos da sua piedade — retrucou Lisa seca­mente. Ela desviou o olhar. Apesar de já terem se passado alguns meses desde a derrocada da empresa e a consequente morte do pai, ela ainda nã o se refizera do golpe.

— Etsi ki alios, é sincero — Nikolas assegurou. — Apesar de nã o morrer de amores por seu pai, eu jamais teria desejado esse fim a ele, nem que fosse meu pior inimigo.

Lisa fulminou-o com o olhar.

— Por isso decidiu oferecer-me um emprego. — Ela sorriu com ironia. — Muita gentileza sua!

— Nã o seja amarga. Lisa. Nã o combina com você. Nã o é porque seu noivo a deixou que...

— Como se atreve?

De novo, Lisa fez menç ã o de levantar-se. Dessa vez, poré m, foi o garç om quem a frustrou. Imaginando que ela tentava levar a cadeira para mais perto da mesa, ele observou o mo­vimento dela, antes de entregar-lhe o cardá pio.

— Voltarei em seguida para anotar o pedido — disse ele polidamente, e Lisa foi obrigada a permanecer onde estava.

Assim que o garç om se afastou, encarou Nikolas com olhar furioso.

— Como se atreve? — repetiu. — Como se atreve a discutir minha vida particular com... com...

— Com o homem com quem você esperava partilhar o resto da sua vida? Talvez seja bom perguntar ao seu querido Martin por que ele anda espalhando a Deus e ao mundo que as irmã s Tennant estã o virtualmente sem um tostã o.

— É o que vou fazer.

— O quê? — Nikolas arqueou as sobrancelhas. — E dar a ele a satisfaç ã o de saber o quanto você está magoada? Pense bem, Lisa. Como eu disse antes, aquele homem nã o vale a pena.

— E você vale? — ela o desafiou.

— Digamos que eu tenha motivos para apreciar sua humi­lhaç ã o. Ele nã o.

Lisa sorriu com amargura.

— E essa proposta de emprego é para isso? Para humilhar-me?

— Nã o.

— Oh, por favor... — Ela o olhou com desconfianç a. — Pelo menos, tenha a decê ncia de contar-me a verdade.

— Contarei. Se você permitir. — Nikolas encolheu os ombros. — Almoce comigo. Foi para isso que você veio, afinal.

— Para almoç ar com Martin — ela o corrigiu. Logo, poré m, lembrando-se do que o ex-noivo fizera, percebeu que a afirma­ç ã o era paté tica. Ela hesitou. — Por que deveria?

— Porque você está aqui. Porque você está curiosa. — Os lá bios finos se curvaram. — Deixe-me contar por que recorri a Martin para promover este encontro.

Lisa puxou a cadeira, mas, de novo, o garç om decidiu por ela. Retornando para anotar o pedido, ele parou discretamente ao lado da mesa.

— Posso pedir pelos dois? — Nikolas perguntou e, como estava furiosa demais para discutir, ela concordou com um gesto de cabeç a. — Queremos musse de abacate e salmã o grelhado.

Lisa esquecera-se de como Nikolas era eficiente em qualquer situaç ã o. Ele era rá pido nas decisõ es e agia com objetividade, sem discussõ es. Decidira o que comer com maior rapidez com que Mar­tin abria o menu, e tinha uma aura de comando capaz de persuadir o mais intransigente dos maitres a atender seu pedido.

O garç om recolheu os cardá pios e afastou-se, deixando-os sozinhos de novo. Mas nã o por muito tempo. Outro garç om veio com a carta de vinhos, e mais uma vez, Nikolas sabia exatamente o que queria.

— Uma garrafa de Chardonnay 97 — pediu, dispensando a carta. — Por favor.

Lisa suspirou. Apesar da situaç ã o constrangedora, nã o podia negar uma certa euforia pelo inesperado dos acontecimentos. Havia muito tempo que nada lhe proporcionava aquele tipo de transtorno emocional que Nikolas lhe causava, ainda que involuntariamente.

Embora ainda ressentida pelo modo como Martin e ele ha­viam-na tratado, seus olhos eram atraí dos por aqueles dedos longos e morenos que brincavam com a haste do copo, sem falar do pê los negros que escapavam sob o punho imaculada­mente branco da camisa.

A sensualidade de Nikolas era tanta, e tã o intensa, que parecia quase concreta, e sua proximidade provocava uma sen­saç ã o de sufoco tã o grande que Lisa chegava a sentir dificuldade para respirar.                     

Nikolas era o ú nico homem que ela conhecera que conseguia desequilibrá -la com um simples olhar. Isto é, fora assim quando era mais jovem. Agora, estava mais velha... e mais esperta.

— E entã o? — Ele a arrancou das divagaç õ es. — Você gos­taria de saber sobre o emprego?

— Se é que esse emprego existe.

— Acha que eu estaria aqui, se nã o existisse?

Seria pretensã o demais pensar que o emprego era apenas um pretexto. Erguendo uma sobrancelha, ela respondeu:

— Talvez.

— Antes de tudo, estou certo em imaginar que você está procurando emprego? — Nikolas indagou com gentileza, e as faces pá lidas de Lisa tornaram-se rubras.

— Se foi Martin quem disse, entã o deve ser verdade. — Ela nã o escondia o ressentimento pela conversa. — Ele deve ter dito també m que nã o tenho qualificaç õ es.

— Você discutiu seus problemas com ele?

— Nã o. — Ela estava indignada. — Foi Sophie. Ela está desesperada para eu encontrar um emprego. Só assim teremos condiç õ es de procurar outro lugar para morarmos.

— Ah, Sophie... Sua irmã. Infelizmente, nã o a conheci. Lisa encolheu os ombros.

— Ela estava no colé gio quando... quando...

— Quando seu pai tentou encantar-me com a beleza da filha mais velha? — De novo, a ironia. — Sim, eu sei. Qual a idade dela?

— Dezesseis. — Lisa apertou os lá bios. Nã o ia permitir que Nikolas continuasse difamando a memó ria do pai dela. — A culpa nã o foi dele se nó s... se você traiu a confianç a dele.

Nikolas sorriu.

— Você acredita realmente nisso?

— Por que nã o? A proposta da Murchison parecia ser atraen­te e lucrativa. Meu pai tentou prestar-lhe um favor, oferecen­do-lhe a chance de investir...

— Em algo que quebrou apenas alguns meses depois — ele a lembrou com frieza. — Nessas alturas, eu já tinha perdido muito dinheiro.

Você teve condiç õ es de manter a empresa, ela pensou, mas nã o disse nada.

— Teria dado certo se você tivesse concordado com a aplicaç ã o.

— Seja honesta, Lisa. Theosí A linha de navegaç ã o marí tima já estava dando prejuí zo e tudo o que seu pai queria, era algué m com quem dividir o peso dos erros dele. Por que você acha que ele estragou nosso relacionamento? Assim que percebeu que perdia tempo comigo, ele escolheu outro... Qual é mesmo a palavra que você s usam? Otá rio? Sim, otá rio.

— Nã o é verdade.

— Claro que é verdade.

— Nã o.

— Sim.

— Musse de abacate, madame?

A chegada da comida colocou um fim na discussã o. Lisa recusava-se a deixar a ú ltima palavra com Nikolas Petronides. Ao mesmo tempo, olhando para aqueles olhos negros que a observavam intensamente, ela tinha a impressã o de que estava participando de um jogo perigoso.

— Talvez seja melhor eu explicar por que pedi a Price para convidá -la — ele declarou assim que o garç om se afastou. — Acredito que entenderá minhas razõ es. Se eu a tivesse contatado diretamente, tenho certeza de que você nã o se submeteria.

— Submeter? — Lisa serviu-se do musse. — Essa é uma palavra tí pica dos Petronides, nã o? Mas você tem razã o. Eu nã o teria vindo.

— Eu sabia. — Depois de uma breve pausa, Nikolas conti­nuou: — Como Price é seu amigo, decidi pedir-lhe para marcar este encontro.

Lisa observou o garç om colocando vinho no copo dela. Quan­do estavam novamente a só s, ela perguntou:

— Martin nã o tinha idé ia de que já nos conhecí amos?

— Creio que nã o. — Nikolas olhou-a por sobre a borda do copo. — Pobre Lisa. Os homens de sua vida parecem sempre ansiosos para jogá -la aos... lobos, nã o é mesmo?

Lisa ignorou a provocaç ã o.

— É um aviso, kirie Petronides? — perguntou ela num tom de zombaria, tendo a satisfaç ã o de perceber que os olhos dele escureciam ainda mais.

— Talvez — ele disse simplesmente, e Lisa sentiu todos os nervos de seu corpo retesarem-se ante a ameaç a velada na voz dele.

Nã o conversaram mais até o garç om trazer o salmã o gre­lhado. Lisa, entã o, sentiu-se compelida a quebrar o silê ncio constrangedor.

— Pensei que Yanis ainda cuidasse do recrutamento de pes­soal — murmurou ela, ciente de que mal tocara na musse, e fazendo um esforç o enorme para, pelo menos, provar o salmã o. — Ele ainda trabalha com você, nã o?

— Yanis ainda é meu assistente. Mas este é um caso... delicado.

— Por quê? — Apesar de tudo, Lisa estava curiosa. E in­trigada. Nã o acreditava que era ela o " caso delicado".

— Porque é um caso pessoal — explicou Nikolas, bebendo um gole de vinho. Ao ver que Lisa continuava a olhá -lo com expressã o interrogativa, acrescentou: — Esse emprego está re­lacionado com a minha afilhada. Nessas circunstâ ncias, nã o é apropriado deixar a decisã o nas mã os de Yanis.

— Afilhada? — Ela ficou surpresa. — Nã o sabia que você tinha uma afilhada.

— Bem, eu nã o tinha na é poca em que... nos conhecemos. — Ele sorveu outro gole de vinho. — Na verdade, afilhada é modo de dizer. Ela é minha tutelada. O pai de Ariadne e eu é ramos grandes amigos. Quando ele e a esposa morreram num acidente, há trê s anos, descobri que tinham me nomeado tutor da filha. Ela nã o tem outros parentes pró ximos, entendeu? Oriste, eu tenho uma afilhada.

Lisa remexeu-se na cadeira.

— É uma responsabilidade, e tanto. Quantos anos ela tem?

— Dezessete. Nã o acho que seja tanta responsabilidade assim. Lisa franziu as sobrancelhas.

— Entã o por que...

— Estou procurando uma mulher jovem, de boa famí lia para... para fazer-lhe companhia durante o verã o. Partilhar com ela todas aquelas confidê ncias e conversas femininas que ela nã o pode ter com a mã e.                                              

— E você está pensando que eu...

— Na ausê ncia de outras candidatas, sim. — De novo, a desconcertante objetividade dele.

Lisa respirou fundo.

— Nã o posso trabalhar para você.

— Nã o seja tã o precipitada, aghapita. — Nikolas a fitou com olhar penetrante. — O cargo oferece um salá rio generoso, alé m de todas as despesas pagas. O trabalho nã o será tã o á rduo.

— Nã o estou à venda, Nikolas.

— Nã o, mas está precisando de dinheiro. E você mesma disse que sua irmã está desesperada para encontrarem outra acomodaç ã o, ne?

Lisa pousou o garfo no prato.

— Eu nã o falo grego.

— Ariadne entende inglê s. Ela ainda está no colé gio, é ver­dade, mas sempre estudou em escolas de alto padrã o.

— Entã o ela é perfeitamente capaz de cuidar-se sozinha — afirmou Lisa, pensando na pró pria irmã. Sophie morreria se al­gué m sugerisse que ela precisava de uma dama de companhia.

— Alé m do mais, como você sabe, tenho uma irmã que... — Tornara-se problemá tica desde que a tirara do carí ssimo colé gio interno em que estudava. — Eu nã o poderia deixá -la sozinha.

Ou com tia Ingrid, pensou com tristeza.

Desde a morte do pai, Lisa e Sophie moravam na casa da irmã da mã e delas, em Islington. Apenas a presenç a de Lisa garantia a convivê ncia nos limites da tolerâ ncia entre Sophie e a tia Ingrid.

— Traga-a com você — Nikolas sugeriu sem preâ mbulos. — Ela entrará em fé rias també m, nã o? Prefiro que Ariadne passe o verã o em minha casa de Skiapolis. — Ele encolheu os ombros.

— A casa é enorme, cheia de quartos, e sua irmã pode fazer amizade com Ariadne. Elas sã o praticamente da mesma idade.

Eram, mas Lisa nã o conseguia imaginar a reaç ã o de Sophie. A garota estava revoltada com a situaç ã o em que eram obri­gadas a viver, e culpava o pai por nã o ter pensado no futuro.

Mesmo assim, talvez nã o concordasse em sair de Londres para passar as fé rias numa ilha pacata e nada sofisticada, no mar Egeu. Alé m disso, Sophie já fizera amigos em Islington, e apesar de Lisa nã o aprovar aquelas amizades, nã o queria aborrecer a irmã com outra imposiç ã o.

— Nã o sei, nã o — disse ela, lanç ando um sorriso amistoso para o garç om que aproximou-se para retirar o prato quase intocado. — Estava delicioso — ela assegurou, ante a expressã o preocupada do homem. Depois, olhou de novo para Nikolas. — Receio que tenha perdido seu tempo.

— Nunca perco meu tempo — respondeu ele com um brilho misterioso nos olhos. — Pelo menos, pense na minha oferta, Lisa. Ficarei em Londres por mais alguns dias ainda e você poderá me encontrar neste telefone. — Ele tirou um cartã o do bolso e rabiscou alguns nú meros no verso, antes de entregar-lhe. — Pegue.

Mesmo contrariada, Lisa pegou o cartã o. Nikolas, entã o, segurou-lhe a mã o, apertando-a. Ela ainda tentou desvenci­lhar-se, mas nã o podia competir com a forç a dele.

— Pense bem. Por favor — ele pediu suavemente, e Lisa foi envolvida pela sensualidade da voz má scula.

Um calor abrasivo começ ava a subir pelo braç o, penetrando em cada poro da pele de Lisa. Por mais que tentasse raciona­lizar essa reaç ã o, ela sabia que seu corpo nã o esquecera nada sobre aquele homem. O corpo lembrava, sua pele també m. E isso era algo totalmente inesperado. Ela rezava para Nikolas nã o perceber seu estado emocional.

Mesmo contra vontade, acabou aceitando um café, em vez da sobremesa. Tentava convencer-se de que havia muitas ra­zõ es para nã o aceitar a proposta dele. Mesmo que fosse a ú nica oferta de emprego que recebesse, ela nã o devia trabalhar para Nikolas. Independente de qualquer outra coisa, Lisa nã o queria sofrer novamente, e Nikolas Petronides nã o teria escrú pulos em recuperar o que julgava seu...

 

CAPÍ TULO II

Lisa pegou o trem para Islington. Naquela hora, os vagõ es nã o estavam cheios, por isso nã o demorou a encontrar um lugar para sentar-se. Sorriu ao constar a rapidez com que acostumara-se a usar os transportes coletivos, em vez de tá xis.

Chovia quando saí ra do restaurante, e tivera que insistir muito para Nikolas nã o chamar-lhe um tá xi.

Apesar de estarem em junho, ainda fazia frio, e o tailleur Channel creme que escolhera para impressionar Martin, estava molhado de chuva.

Esperava nã o sujá -lo. Ela e Sophie tinham que conservar as roupas, pois nã o podiam nem pensar em gastar dinheiro. Já fora muito difí cil comprar o uniforme da nova escola para a irmã.

Lisa suspirou. Se ao menos o pai estivesse vivo! Mas Parker Tennant morrera como sempre vivera: sem fazer a mí nima provisã o para o futuro. Deixara as filhas com dí vidas até o pescoç o, e a ingrata tarefa de tentarem salvar o pouco que sobrara de suas posses. Nã o que fossem muitas. A bela e con­fortá vel casa que tinham em Surrey tinha sido hipotecada duas vezes, e até mesmo as jó ias da mã e delas tinham sido vendidas para saldarem as dí vidas.

Lisa pensou na mã e. Ela nã o vivera o suficiente para assistir a tanta tragé dia. Annabel Tennant morrera de um tipo desco­nhecido de câ ncer quando Lisa tinha dezessete anos e Sophie, dez. Muitas vezes, Lisa se perguntava se nã o fora nessa é poca que o pai começ ara a aplicar o dinheiro dos clientes em especu­laç õ es arriscadas. Era como se a morte da esposa o convencesse de que nã o fazia sentido planejar um futuro que nunca chegaria. Sem dú vida, a perda da esposa o afetara profundamente.

Ao ver o desespero do pai, Lisa nã o hesitara em abandonar a escola sem terminar o curso, autoproclamando-se sua protetora. Dedicara-se inteiramente a ele, dando-lhe apoio, carinho, ajudando-o a superar os primeiros meses sem Annabel.

Ela també m ficara abalada, mas nunca levou em conside­raç ã o o pró prio sofrimento. Era feliz fazendo-o feliz, e até ser apresentada a Nikolas Petronides, nunca se preocupara com o fato de que os homens com quem saí a, eram homens com quem o pai mantinha negó cios.

Claro, ele aprovara o relacionamento dela com Nikolas. Pelo menos no começ o. Só quando descobrira que o grego nã o tinha intenç ã o de investir na Corretora Tennant, ele se opusera. E Lisa nã o tivera dú vidas de onde depositar sua lealdade...

Por isso, nã o tinha como aceitar a proposta de Nikolas. In­dependente do fato de terem se conhecido bem demais, ela nã o queria nada dele. A seu modo, Nikolas era igual a Martin. Ele se aproveitava da situaç ã o para humilhá -la, e por mais ten­tadora que fosse a perspectiva de passar o verã o na Gré cia, sem mencionar o generoso salá rio com o qual ele tentara su­borná -la, ela precisava de um emprego com algué m que nã o estivesse pensando em vinganç a.



  

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