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Outra vez a paixão 3 страница



— Já disse, estou bem...

O protesto de Lisa foi interrompido pela voz de Sophie.

— Ela nã o comeu quase nada no aviã o.

Como se, de repente, lembrasse que havia uma terceira pes­soa no hall, Nikolas recuou automaticamente.

— Que imprudê ncia! — exclamou ele gentilmente, ainda observando o rosto embaraç ado de Lisa. — Foi assim tã o estressante? A viagem, quero dizer.

— Nã o. Claro que nã o.

Lisa preferia que Nikolas nã o tivesse voltado. Sophie nã o era tola, e se ele continuasse a agir como se o bem-estar dela fosse a coisa mais importante do mundo, a garota logo des­confiaria de alguma coisa.

Talvez fosse essa a intenç ã o dele. Ela nã o acreditava que Nikolas lhe oferecera o emprego por altruí smo. Homens como Nikolas Petronides nã o esquecem... nem perdoam. Nã o que ela tivesse sido tã o importante na vida dele. Ela sabia que nã o. Só que ela o deixara. E aos olhos dele, certamente, tal atitude era imperdoá vel.

— Kala — murmurou ele, inclinando a cabeç a em direç ã o a uma sala à esquerda dele. — Ariadne está nos esperando. Vamos, quero apresentá -las.

Lisa balanç ou a cabeç a, concordando. Olhou para Sophie e am­bas seguiram Nikolas até a elegante sala de visitas. Ela olhava para as pinturas e os objetos valiosos que decoravam o hall, ten­tando relaxar e parar de pensar que cometera um grande erro.

A sala de visitas era como Lisa se lembrava. Teto alto, paredes com tiras forradas de seda, janelas imensas, lareira de pedra, acima da qual pendia o retrato de uma mulher, que ela sabia ser da mã e de Nikolas.

Sofá s e poltronas de tecido verde e dourado, tapetes artesanais sobre o assoalho encerado. No meio, a mesa de má rmore e o vaso com flores do campo.

A cristaleira imensa exibia peç as delicadas de porcelana e cerâ mica, uma coleç ã o que o avô reunira durante toda vida e que o falecido pai de Nikolas dera continuidade.

Alé m dos quadros, havia també m os magní ficos í cones dou­rados. Luxuosa, ao mesmo tempo informal, confortá vel. Assim era a sala onde Ariadne Stephanopoulous as esperava.

Ariadne era completamente diferente de tudo o que Lisa imaginara. Alta, magra, cabelos pretos, cortados na altura dos ombros, nã o parecia ter apenas dezessete anos. O vestido longo preto realç ava-lhe a silhueta, fazendo-na aparentar o dobro da idade. Parecia muito mais esposa de Nikolas, do que afilhada.

Lisa prendeu a respiraç ã o, perguntando-se como deveria li­dar com ela.

Ariadne reagiu com arrogâ ncia ao vê -los entrar, o que, de certa forma, confirmava o pré -julgamento de Lisa.

— Nikolas! — exclamou ela, e ignorando as duas mulheres, caminhou ao encontro dele, de braç os abertos, praticamente obrigando-o a abraç á -la. — Ola entaksi?

— Em inglê s, Ariadne, por favor — Nikolas advertiu-a placidamente. — Nossas convidadas nã o estã o acostumadas com o nosso idioma. A propó sito, esta é uma das razõ es do meu convite à srta. Tennant. Ajudá -la a melhorar sua pronú ncia.

— Minha pronú ncia nã o precisa de melhora — Ariadne re­trucou de imediato, agora com um pouco menos de maturidade.

Lisa, poré m, reconhecia que a garota tinha razã o. Sua pro­nú ncia era realmente muito boa.

— Veremos... — Agora, o tom de voz era rí spido. Ele se voltou para Lisa. — Minha afilhada — disse simplesmente. — Espero que fiquem amigas.

— Eu també m espero — Lisa respondeu com firmeza, aper­tando a mã o que Ariadne lhe estendia. — Prazer em conhecê -la, srta. Stephanopoulous.

— O nome dela é Ariadne! — Nikolas estava impaciente. Depois, apontou para Sophie. — Esta é Sophie, irmã da srta. Tennant.

— Oi. — Sophie cumprimentou Ariadne sem muito entu­siasmo e Lisa rezou para que a irmã nã o dissesse nada ofensivo.

— Creio que temos a mesma idade, nã o? Ariadne ergueu as sobrancelhas com ar de té dio.

— Será? — Depois, dando o braç o para Nikolas, fitou-o com olhos lâ nguidos. — Isos... podemos jantar agora?

— Depois que eu oferecer um aperitivo à s nossas convidadas.

— Delicadamente, Nikolas desvencilhou-se dela. — Lisa? — Com um gesto de mã o, ele convidou-a para ir até bar, a um canto da sala. — O que você quer beber?

Lisa hesitou. Depois de lanç ar um olhar de advertê ncia à Sophie, ela o acompanhou. Nã o lhe agradava a idé ia de deixar as duas garotas sozinhas, e, disfarç adamente, olhava-as por sobre o ombro, como se esperasse que alguma coisa terrí vel acontecesse a qualquer momento.

— Vinho? — perguntou Nikolas assim que ela se aproximou. — E relaxe. Será bom Ariadne conviver com algué m da idade dela, para variar.

Lisa respirou fundo.

— Pensei que você tivesse dito que ela ainda estava no colegial.

— Eu disse. — Ele tirou uma garrafa de vinho branco do refrigerador e mostrou-a a Lisa. Depois da aprovaç ã o dela, ele continuou: — Acontece que Ariadne só tem convivido com pes­soas mais velhas. Devido a alguns problemas de saú de, ela nã o frequentou a escola no ano passado. E eu tive que contratar um professor para dar-lhe aulas particulares.

— Entendo. — Lisa observou-o entornar o vinho no copo. — Ela parece muito... apegada a você.

— Você percebeu.

— Seria difí cil nã o perceber. — Ela pegou o copo que ele lhe oferecia, evitando cuidadosamente tocar nos dedos dele.

Olhando novamente por sobre o ombro, disse: — Bem... ela nã o foi muito discreta.

— Diferente de você — afirmou ele secamente, enquanto servia-se de uma generosa dose de uí sque. — Confesso que fiquei surpreso quando soube que você procurou Jamieson. Se tivesse imaginado que você mudaria de idé ia, eu mesmo a teria procurado. Por que mudou de idé ia?

Lisa deveria estar preparada para essa pergunta, mas nã o estava.

— Eu... eu achei que era uma oportunidade imperdí vel.

— É mesmo?

O olhar dele era intenso e malicioso, e ela apressou a explicaç ã o.

— Financeiramente, quero dizer. Se bem que para isso, Sophie precisou afastar-se da escola antes mesmo do té rmino das provas.

— Ah, sim, Sophie. — O olhar dele correu de Lisa para onde Sophie os esperava com expressã o ressentida. — Ela nã o é como você, nã o?

Lisa encolheu os ombros.

— É você quem está dizendo.

Os lá bios dele se curvaram num sorriso sensual.

— Você tem muitas vantagens sobre ela.    

— Sou mais velha, é isso?

Nikolas parecia divertir-se com a tensã o dela.

— Mais velha, claro. Mas a idade trá s compensaç õ es. Eu sei o que estou dizendo — ele acrescentou com voz suave. — Alé m disso... — A frase foi interrompida por uma imprecaç ã o vinda do outro lado da sala.

— Droga! Que diabos você pensa que é? — Era Sophie es­bravejando. — Você nã o pode falar comigo assim! Você nã o é a dona desta casa!

Antes que Ariadne tivesse tempo para responder, Nikolas deixou o copo de lado e, com passos largos, aproximou-se das duas garotas.

— Arketa! Arketa! Chega! — gritou ele, esquecido da ordem de só falarem inglê s. Depois, mais calmo: — Ariadne, quer explicar-me o que está acontecendo? O que você disse para ofender nossa hó spede?

Ariadne olhou-o indignada. Logo, poré m, percebendo que o padrinho nã o endossaria sua atitude, sorriu com ar inocente.

— Nã o foi nada, Nikolas. Eu apenas disse que kiria Papandreiu nã o gosta de atrasar o jantar.

— Nã o é verdade. — Sophie nã o media as palavras. — Ela disse que nã o somos bem-vindas, que ela nã o vê razã o para conviver com pessoas de quem nã o gosta.

Seguiu-se um silê ncio constrangedor. Lisa sentiu um cala­frio. Talvez a irmã nã o tivesse entendido direito as palavras de Ariadne. Mas, a julgar pela expressã o de Ariadne, alguma ofensa ela dissera realmente.

— É verdade, Ariadne? — Nikolas perguntou, por fim.

A arrogâ ncia da garota desapareceu, dando lugar a uma grande indignaç ã o.

— Claro que nã o! — exclamou ela. — Receio que ela nã o tenha entendido o que eu estava dizendo. Nikolas puxou pela respiraç ã o.

— Foi isso mesmo?

Imediatamente, Sophie protestou em defesa pró pria.

— Nã o, nã o foi. Eu jamais faria uma coisa dessas. Lisa, diga a ele. Nã o sou mentirosa. Ela é uma idiota ciumenta que pensa que só porque está usando o vestido da avó dela, tem o direito de...

— Cale a boca, Sophie! — Lisa ordenou, mesmo sem saber em quem acreditar. Até alguns dias antes, ela teria acreditado cegamente na irmã, mas depois do incidente com a cocaí na...

— Ok. — Com as mã os na cintura, Sophie olhava-a revol­tada. — Muito obrigada. Ela fala um monte de asneiras e eu pago o pato.

— Ningué m a está acusando de nada — Nikolas declarou num tom tolerante. — E gostaria que esse assunto se encerrasse aqui e agora. — Ele olhou para as duas garotas. — Seja lá o que foi dito aqui, nã o quero mais discussõ es, nem provocaç õ es. Se acontecer de novo, nã o serei mais tã o conciliador, nem tã o compreensivo. Esta é a minha decisã o. Estamos entendidos?

Lisa mordeu o lá bio, esperando que a irmã se rebelasse contra Nikolas, como costumava rebelar-se contra ela, nos ú ltimos seis meses. Mas Sophie nã o disse nada. Dando de ombros, ela acatou a ordem de Nikolas. O protesto ficou por conta de Ariadne.

— Mas eu nã o disse nada, Nikolas.

A expressã o ressentida de Ariadne nã o enganou Lisa, que teve o pressentimento de que Sophie falara a verdade.

— Eu repito que o assunto está encerrado — declarou ele num tom que nã o admitia contestaç õ es. — Agora, sugiro que ofereç a um refrigerante a Sophie, antes do jantar.

 

CAPÍ TULO IV

Naquela noite, Lisa nã o dormiu bem. Apesar do cansaç o, da cama confortá vel, do silê ncio, ela se revirou na cama a noite inteira.

Seu cé rebro fervilhava de tanto pensar. Aquela viagem nã o seria a soluç ã o para os problemas de Sophie. Alé m de nã o ser a menina tranquila que ela imaginara, Ariadne nã o as queria ali. E seu relacionamento com Nikolas nã o seria fá cil.

Sophie tinha razã o. Ariadne estava com ciú me, e certamente faria de tudo para tornar a estada de Lisa e Sophie em Skiapolis a mais desagradá vel possí vel.

Já era de madrugada quando Lisa, finalmente, conseguiu dormir, mas acordou assim que o dia amanheceu. Depois de um banho, escreveu algumas linhas para tia Ingrid, apenas para tranquilizá -la.

Eram apenas sete horas quando foi para o terraç o. A vista era simplesmente espetacular. A oeste da ilha viu o pequeno porto, a vila e as á rvores do declive que levava a uma praia particular. Abaixo do penhasco que escondia a praia, havia o quebra-mar onde ela e o pai tinham aportado, quatro anos antes. Um bote de borracha levara-os do iate de Nikolas, que ficara ancorado na baí a, até o quebra-mar.

Lisa lembrava-se da impressã o que tivera ao avistar a villa, ainda de dentro do bote. Ela nunca vira uma casa tã o bonita antes.

Desviando os olhos em direç ã o à villa, lisa suspirou. As cons­truç õ es brancas, as ruas de pedra, a cú pula alta da igreja, as velas do barcos, eram imagens das quais ela se lembrava com carinho.

Naquele momento de calma, silê ncio, de equilí brio, ela de­cidiu que, o que quer que acontecesse naquela ilha, nã o se deixaria intimidar por nada, nem por ningué m. Nem por Ariad­ne, nem por Nikolas. Estava lá por causa do emprego, e cum­priria sua tarefa, por maiores que fossem as dificuldades.

Voltou ao quarto, decidida a agir da maneira mais profissional possí vel. Abriu a porta do closet. Hesitou ao escolher a roupa que usaria no primeiro dia como dama de companhia de Ariadne. Por fim, optou pelo tipo de traje que usaria se estivesse em viagem de turismo pela ilha, camiseta amarela e short branco. Se Nikolas nã o aprovasse seu traje, ele mesmo teria que falar-lhe. Ate prova em contrá rio, ela pretendia agradar somente a si mesma.

As sandá lias brancas de salto baixo quase nã o fizeram ruí do no assoalho encerado e ela chegou ao final do corredor sem nenhum incidente. Passou diante do quarto de Sophie, mas nã o entrou. Certamente, a irmã ainda dormia, e Lisa ansiava por alguns momentos a só s.

Uma das empregadas que estivera em serviç o na sala de jantar, na noite anterior, estava limpando os metais do corrimã o. — Kalimera kiria — cumprimentou-a a mulher com um sorriso.

— Kalimera — Instintivamente, Lisa respondeu també m em grego.

O jantar nã o fora servido na sala principal, mas numa sala que Nikolas descrevera como " í ntima", mas que era tã o luxuosa quanto a outra que Lisa conhecera no passado, apenas um pouco menor.

Lisa pensou no jantar e no silê ncio constrangedor que reinou, depois que Nikolas se retirou, devido a um telefonema urgente. Enquanto esteve presente, ele fez o possí vel para entretê -las, divertindo Sophie com histó rias engraç adas sobre pessoas famosas que visitaram Skiapolis. E Sophie nã o escondeu o desapontamento quando um empregado avisou-o sobre a urgê ncia da chamada. Lisa seria capaz de jurar que Nikolas inventara o telefone­ma, apenas para deixar as trê s mulheres sozinhas e, assim, terem oportunidade de chegar a um bom entendimento. Se Nikolas programara isso, cometera um grande erro.

Apesar dos esforç os de Lisa, Ariadne respondera com mo­nossí labos à s perguntas dela. Só demonstrava entusiasmo na hora de dar ordens aos empregados, como se fosse realmente a dona da casa. Exatamente com Sophie afirmara.

Nã o fora fá cil para Lisa suportar tanta arrogâ ncia. Mas era o primeiro dia. Estava cansada e nã o tinha energia para impor-se. Alé m do mais, nã o queria discutir com Ariadne. Nã o por um motivo tã o trivial.

Atravessando o hall, Lisa saiu para a varanda que acompanhava toda a extensã o da casa. Os degraus levavam ao jardim que cir­cundava toda a propriedade. O sol já estava forte e o cé u lí mpido.

Apesar das preocupaç õ es, Lisa sentiu seu estado de espí rito se elevando. Certamente, num lugar como aquele, as coisas nã o poderiam ser de todo má s.

Apoiando as mã os no parapeito da varanda, ela sentiu o calor do sol em sua pele. Respirou fundo, absorvendo toda a paz e energia daquele momento. Assustou-se com a voz grave à s suas costas.

— Já em pé, tã o cedo?

De tã o absorta que estava, nã o percebera a aproximaç ã o de Nikolas. Ele estava parado na porta, com o ombro apoiado no batente. De calç a branca de algodã o e camiseta azul-claro, os cabelos caindo na testa, ele parecia mais jovem e muito sensual. Estranhamente, Lisa nunca pensara nele como sendo bem mais velho do que ela.

— Ní kolas! — exclamou ela, e sem saber muito bem o que fazer com as mã os, colocou-as nos bolsos do short. — Bom dia.

— Bom dia. — Ele se aproximou. — Dormiu bem? — Sur­preendendo-a, ele tocou as olheiras no rosto dela. — Ah, nã o. Vejo que nã o dormiu bem. Pobre Lisa. Foi muito difí cil para você vir para cá, nã o?

— O que você esperava? — Ela se perturbara com o toque dos dedos dele. Nikolas estava brincando. Divertia-se com a desvantagem dela.

— O que eu esperava? — repetiu ele. — Nã o sei. Que você percebesse que eu só queria ajudá -la? Que devemos esquecer o passado?

— Como eu já lhe disse, Nikolas, nã o precisa ser tã o indulgente. Ele arqueou as sobrancelhas.

— Desculpe-me. Nã o falei por mal. Obviamente, terei de ser cuidadoso com as palavras, daqui para a frente.

— Nã o precisa exagerar. — Lisa respirou com impaciê ncia. — Estou aqui, nã o estou? Nã o teria aceito o emprego se nã o acreditasse que nó s... que eu daria conta.

— É, nã o teria.

A expressã o de Nikolas era indecifrá vel. Ele pousou a mã o no parapeito, bem ao lado dela.

Lisa sentiu que deveria ficar bem longe dele. Nã o queria, de novo, o clima de familiaridade, de intimidade entre ambos. Nã o queria sentir aquele mal-estar em relaç ã o a ele. Queria, sim, lembrar que ele a usara tanto quanto ela pensara tê -lo usado. A ú nica má goa era dele, justamente porque fora ela quem ter­minara o namoro, antes que Nikolas tivesse a chance de fazê -lo.

— Acho... que vou caminhar um pouco — disse ela, andando em direç ã o aos degraus da varanda. Já estava bem quente e ela nã o passara protetor solar, mas també m nã o pretendia ficar muito tempo fora.

— Se permitir, gostaria de acompanhá -la.

Lisa nã o tinha como escapar. Mas precisava tentar.

— Oh, por favor, nã o se preocupe comigo. Você deve ter outros compromissos. — Ela o desafiava com o olhar. — E sua afilhada poderá procurá -lo.

— Deixe-a procurar. — Ele a seguiu pelo jardim. — Este passeio é a oportunidade para discutirmos suas... Como posso dizer? Suas tarefas, ne? Como você observou com muito charme, aliá s, você está aqui para trabalhar.

Lisa encolheu os ombros.

— Você é quem sabe, Nikolas. Ou devo tratá -lo por kirie Petronides?

— Nikolas, por favor — respondeu ele secamente, as narinas inflando com impaciê ncia. Com a mã o, ele fez um gesto para que Lisa o seguisse. — Vamos por aqui.

Devido as circunstâ ncias, Lisa preferiu nã o discutir. Acom­panhou-o pelo pá tio que levava à parte lateral da casa. Um caramanchã o em forma de arco feito de roseiras levou-os até um terraç o, onde a á gua de uma piscina enorme brilhava ao sol. Adiante do terraç o, a vegetaç ã o verdejante cobria o declive que terminava no penhasco.

Eles andavam por entre os pessegueiros e laranjeiras, es­pantando os insetos e deliciando-se com o aroma das frutas. No chã o, flores silvestres e orquí deas em profusã o, e a grama ainda ú mida pelo orvalho.

Fazia muito calor. Gotas de suor brilhavam no rosto e na nuca de Lisa e ela passou o dorso da mã o pela fronte. Estava com sede, e talvez por isso, começ ava a sentir uma leve dor nas tê mporas. Nã o estava acostumada com calor tã o intenso à quela hora da manhã.

Eles pararam no alto da escada que conduzia à praia parrticular. Tinha um banco cravado no penhasco, que formava um pequeno oá sis de sombra. Lisa caminhou até lá, e erguendo os braç os, afastou os cabelos da nuca.

— Você está cansada — disse Nikolas, colocando o pé no banco, onde Lisa já estava sentada.

De repente, dando-se conta do gesto, ela cruzou os braç os. Ao levantar os braç os, os seios se comprimiram contra a camiseta de malha, e apesar do sutiã, percebeu que a marca dos mamilos estava visí vel.

A voz dele continuava impassí vel, mesmo assim, ela evitou olhá -lo.

— Apenas com calor — garantiu ela. Umedeceu os lá bios, olhando para as á guas azuis do mar. — Pensei que seu iate estivesse ancorado na baí a.

Nikolas tirou o pé de cima do banco e olhou na mesma direç ã o que ela.

— O que a fez pensar isso? — indagou ele. Costumo deixá -lo em Pirineus, você sabe.

— Bem, eu pensei... — Lisa encolheu os ombros. — Como você chegou aqui?

— Ah! Você nã o ouviu o helicó ptero.

— Nã o.

— É muito mais prá tico e rá pido vir do continente pelo ar. E antes que você pergunte, nã o sabia se daria para eu voltar ontem à noite. Do contrá rio, teria trazido você e Sophie comigo.

Lisa remexeu-se no banco.

— Eu nã o tive intenç ã o de...

— Ningué m disse isso. — Na voz má scula, uma ponta de irritaç ã o. Apó s uma ligeira pausa, Nikolas sentou-se ao lado dela. — E entã o? — perguntou. — Vai me contar por que mudou de idé í a?

Lisa respirou fundo. A proximidade dele era perturbadora. A fragrâ ncia da colô nia que ele usava, misturada ao cheiro do corpo era, no mí nimo, estonteante. Ela nã o conseguia pensar em mais nada. Só na vontade quase incontrolá vel de tocá -lo.

— Eu já disse. — A tensã o dava à voz dela um tom rí spido, e Nikolas fulminou-a com um olhar incré dulo.

— Você també m disse que jamais trabalharia para mim. Sua situaç ã o era desesperadora antes de sair daquele restaurante, ape­sar de sua insistê ncia em dizer que nã o estava... qual foi mesmo a expressã o que você usou?... Ah, sim. Você nã o estava à venda.

Lisa mordeu o lá bio. Cé us, o que ela poderia dizer? Se con­tasse que aceitara o emprego porque descobrira que Sophie estava envolvida com drogas, como Nikolas reagiria? Talvez, até mesmo mudasse de idé ia, achando que pagaria um preç o alto demais por sua vinganç a.

— Importa o motivo? — A dor de cabeç a que começ ara quan­do saí ra da vila tornara-se mais insistente.

Fora tolice permitir que o orgulho superasse a razã o. In­ventando o passeio para impedir que Nikolas a acompanhasse no café da manhã, só complicara a situaç ã o.

— Acho que sim. — Ele se voltou para olhá -la. — Você nã o está bem, Lisa. — Com o dedo no pescoç o dela, ele tentava medir-lhe as pulsaç õ es. — O sol é um inimigo perigoso. Vamos voltar para casa.

— Nã o há necessidade...

— Há sim, e muita — ele a interrompeu bruscamente, e segurando-a pelo queixo, obrigou-a a encará -lo. — Continua­remos nossa conversa em outra ocasiã o, — A mã o dele desceu para o ombro, depois para o braç o dela. Sorriu ao sentir que ela estremecia. — Nã o minta para mim, aghapita. Nó s nos conhecemos bem demais para isso.

O caminho de volta pareceu incrivelmente longo. Talvez adi­vinhando as intenç õ es dela, Nikolas segurava-lhe firmemente o braç o. Sim, porque, apesar da forte indisposiç ã o, ela queria manter-se bem distante dele.

Lisa nã o conseguia ignorar a pressã o dos dedos dele em sua pele, ou negar aquela forç a estranha que atraí a e repelia, na mesma medida.

De jeito nenhum, deveria demonstrar o poder que ele exercia sobre suas emoç õ es. Soltou um suspiro resignado quando, de­pois de atravessarem por entre as á rvores avistou Ariadne tomando o café no terraç o.

A mesa estava protegida por um guarda-sol. Em contraste com a noite anterior, Ariadne estava toda de branco. Tú nica sem mangas sobre leggings, que realç avam suas formas delgadas.

Assim que pisaram no terraç o, Nikolas soltou o braç o de Lisa; apesar de continuarem lado a lado. Ao vê -los, Ariadne correu ao encontro dele. — Kalimera, Nikolas — Ariadne cumprimentou calorosa­mente o padrinho, e na ponta dos pé s, beijou-o no rosto. Evidentemente, ela aprendera a liç ã o, pois, toda sorridente, acrescentou: — Bom dia, srta. Tennant. Você está suada! Creio que nosso clima nã o está lhe fazendo bem. Lisa forç ou um sorriso.

— Vou me acostumar — garantiu, nã o admitindo ser tratada novamente com indulgê ncia.

— A culpa foi minha — Nikolas interveio, solí cito. — Con­videi a srta. Tennant para um passeio. — Ele se voltou para Lisa com os olhos apertados, como que desafiando-a a contra dizê -lo. — Você tem algum creme para passar na pele?

— É o que estou pensando em fazer... — Era a chance que Lisa esperava. Poré m, antes que pudesse completar a frase, sentiu a mã o dele em suas costas, conduzindo-a até a mesa de café.

— Venha — disse ele. — Tomaremos café com Ariadne. Vou pedir à kiria Papandreiu uma aspirina para sua dor de cabeç a.

— Oh, realmente, eu... — ela queria recusar, mas já estavam diante da mesa e Nikolas serviu-lhe um copo de laranjada.

— Beba. Você vai se sentir melhor.

Lisa precisava era de calma e um quarto escuro. Mas, de novo, preferiu nã o discutir. De fato, ela sentiu-se um pouco melhor depois da bebida refrescante, e até conseguiu olhar para a cesta de pã o e bolachas sem enjoar.

Kiria Papandreiu apareceu para atendê -los. Nikolas pediu café para os ambos e aspirina para Lisa.

— A srta. Tennant está com enxaqueca? — Ariadne per­guntou mal conseguindo disfarç ar a satisfaç ã o. — Talvez, seja melhor ela ir deitar-se um pouco.

— Nã o, é apenas uma leve indisposiç ã o. — Lisa surpreen­deu-se com a pró pria resposta. Depois, olhou para Nikolas meio na defensiva. — Já estou melhor. — Ela se reclinou na cadeira. — O calor nunca me afetou antes.

Ariadne nã o acreditou.

— Está acostumada com o calor, srta. Tennant? — A ironia dela era evidente. — Você costuma passar suas... como se diz? ... duas semanas de fé rias ao sol?

— Nó s sempre passamos os trê s meses de verã o no sul da Franç a — Lisa corrigiu-a, contendo-se para nã o contar sobre Nikolas. Ela podia imaginar a raiva da garota se soubesse do relacionamento deles, ou dos dias que ela e eu pai tinham passado a bordo do iate de Nikolas.

Mas isso seria infantilidade, e ela nã o tinha a menor intenç ã o de iniciar uma guerra com Ariadne. Ou continuar, uma vez que, desde o iní cio, a garota procurava confusã o.

A governanta voltou com café, mais laranjada e pã es frescos. Depois que a mulher se afastou, Ariadne voltou ao assunto.

— O que fazia no sul da Franç a, srta. Tennant? Trabalhava em algum hotel?

Lisa quase engasgou-se com os comprimidos.

— Nã o. Eu nã o trabalhava naquela é poca. Só estudava.

— Entã o faz muito tempo, nã o é mesmo? — A expressã o de Ariadne era de inocê ncia e Nikolas advertiu-a com um olhar severo.

— Isso nã o é da sua conta — disse ele. — A vida particular da srta. Tennant é problema dela. E o que ela fez antes de vir para cá, nã o nos interessa.

— Oh, mas Nikolas... —Ariadne assumiu a postura lâ nguida da noite anterior. — Eu só queria saber, aghapitos. Se vamos ser amigas, nã o deve haver segredos entre nó s.

— Amigos nã o fazem perguntas pessoais — argumentou Nikolas, servindo uma xí cara de café para Lisa, oferecendo-lhe, depois, a cesta de pã o. — Ainda nã o conversamos sobre suas tarefas aqui, srta. Tennant.

— Nã o preciso de uma babá, Nikolas — interveio Ariadne com afetaç ã o.

Nikolas puxou pela respiraç ã o, controlando a impaciê ncia.

— Nã o, mas precisa de companhia. Algué m que lhe faç a companhia quando eu voltar à Atenas.

— Eu quero voltar para Atenas també m — protestou Ariad­ne, e Lisa adivinhou qual era o ponto crucial do problema.

Nikolas era responsá vel pela menina, mas achava difí cil cuidar dela e dos negó cios, que nã o eram poucos, ao mesmo tempo.



  

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