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Outra vez a paixão 2 страница



Fazia quatro anos que seu relacionamento com Nikolas Petronides terminara, e desde aquela é poca, ela decidira cuidar da pró pria vida. Sem muito sucesso, admitiu com amargura. Seu namoro com Martin Price era a prova disso. Mas ela nã o percebera que o jovem e simpá tico contador estava mais interessado em investir na pró pria carreira, e ao cortejar a filha de Parker Tennant, ele vislumbrava a possibilidade de tornar-se só cio da corretora de valores da famí lia.

Quando Parker Tennant morreu, deixando só dí vidas como heranç a, Martin tratou de mudar rapidamente seus planos. Nã o demorou muito para Lisa descobrir que seu noivado era tã o só lido quanto o saldo bancá rio do pai. Martin alegou que apaixonara-se por outra mulher, mas Lisa sabia qual era o verdadeiro motivo do rompimento do noivado.

Ela olhou tristemente pela janela. Por isso, ficara tã o mor­tificada ao saber que fora Martin quem arranjara o encontro dela com Nikolas Petronides. Ele nem tivera a gentileza de falar-lhe pessoalmente. A secretá ria telefonara, marcando o almoç o sem maiores explicaç õ es.

O trem parou na estaç ã o de Islington. Felizmente, a chuva parara. Lisa desceu e, com passos rá pidos, seguiu em direç ã o à Claremont Avenue.

Dez minutos depois, aliviada, avistou a casa de tia Ingrid. Entre surpresas e decepç õ es, aquele fora um dia e tanto. Lisa nã o via a hora de trocar o tailleur por jeans e camiseta, e passar algum tempo cuidando do jardim de tia Ingrid. Era do que ela precisava. Exercí cio fí sico para nã o pensar em mais nada, apenas nas unhas sujas de terra.

Antes mesmo de abrir o portã o, ouviu as vozes alteradas de Sophie e tia Ingrid. Alguns vizinhos, aproveitando a melhora do tempo, estavam nos jardins ou na calç ada, e també m ouviam os gritos.

O que foi desta vez? pensou agoniada. Verificou o reló gio de pulso. Quase trê s horas. Sophie deveria estar na escola. O que teria acontecido? Lisa suspirou enquanto abria a porta.

— Você é egoí sta e estú pida! — tia Ingrid esbravejou.

— E você é uma velha feia e recalcada! — Sophie respondeu, antes do som inconfundí vel de um tapa, seguido de outro.

Lisa correu pelo hall e entrou na sala de visitas a tempo de ver tia Ingrid caindo pesadamente na poltrona, com os olhos arregalados e a mã o no rosto.

— Pelo amor de Deus! — Lisa olhava para as duas, com incredulidade. — O que está acontecendo? Da esquina dá para ouvir os gritos!

Dando de ombros, Sophie fez menç ã o de sair da sala, mas Lisa segurou-a pelo braç o.

— Aonde você pensa que vai? — perguntou. — Eu perguntei o que está acontecendo aqui e você vai me contar. Você foi expulsa da escola? Ou o quê?

— Pergunte a ela — Sophie respondeu com petulâ ncia, apon­tando para a tia. — Tia Ingrid andou xeretando em minhas coisas.

Lisa continuou segurando firmemente o braç o da irmã.

— Eu perguntei a você. — Talvez Sophie até tivesse razã o em reclamar, mas Lisa jamais desautorizaria a tia. — Esta é a casa de tia Ingrid, nã o a sua.

— Pergunte-lhe o que ela escondia na gaveta de roupas í ntimas. — A voz de Ingrid soava dé bil e tremula.

Lisa conteve um sorriso. O que Sophie estaria escondendo? Um sutiã transparente? Uma calcinha sexy?

— Nã o é a primeira vez que esta mulher remexe a minha gaveta — gritou Sophie. — Bruxa maldita! Eu já disse mil vezes que nã o temos privacidade aqui...

— Ela é viciada em drogas, Lisa! — Ingrid interrompeu-a quase chorando. — Um drogada em minha casa! Nunca pensei que viveria para ver a filha da minha irmã...

— Do que tia Ingrid está falando? — Apesar dos frequentes exageros da tia, Lisa sentiu o impacto daquelas palavras. — Por que ela disse que você é viciada?

— Ela está mentindo... — Nã o estou, nã o.

— Está — insistiu Ingrid num tom de desprezo.

— Ela nã o sabe o que está falando. — Ela riu. — Nã o sou drogada! Ela é louca. Duvido que reconheceria um drogado, se visse um pela frente!

— Eu conheç o o cheiro da maconha — retrucou a tia. — A sua geragã o nã o é a primeira a descobrir as drogas.

— Está vendo? Ela sabe mais do que eu.

— Eu nunca usei cocaí na — exclamou tia Ingrid à beira do desespero, e Lisa arregalou os olhos.

— Cocaí na? — repetiu ela num fio de voz, voltando-se para a irmã. — Oh, Sophie, é verdade? Você está usando cocaí na?

— Nã o.

— Entã o, por que estava na sua gaveta? — perguntou a tia.

— Isso mesmo. Por que estava na sua gaveta? — reforç ou Lisa.

— Ah, eu devia saber que você ficaria do lado dela. — Sophie esquivou-se da resposta direta. — O que quer que eu diga, você nã o acreditará em mim.

— Vamos ver.

— Lisa, se você for até o quarto, poderá constatar pessoal­mente. O cheiro da maconha é inconfundí vel. Doce e intoxicante. Só por isso, revistei a gaveta de Sophie. Imaginava en­contrar alguns cigarros de maconha.

Lisa meneou a cabeç a.

— Eu nã o reconheceria esse cheiro, tia. Posso parecer idiota, mas nunca experimentei drogas na minha vida. — Ela franziu o cenho. — Mas você disse que encontrou cocaí na na gaveta?

— Encontrei.                                                         

Sophie deu uma risada irô nica.

— Ela nã o tem o direito de criticar-me. Pelo que entendi, ela está bastante familiarizada com drogas, ou, entã o, nã o es­taria me acusando.

Lisa contou mentalmente até dez para conseguir acalmar-se.

— Entã o você admite que fuma maconha? — indagou ela horrorizada, e Sophie lanç ou-lhe um olhar desolado.

— Onde você viveu nos ú ltimos dez anos, Lisa? Nã o neste planeta, com certeza!

— Nã o se atreva a justificar seu comportamento — esbra­vejou tia Ingrid, mas Sophie nã o pareceu ouvi-la.

— Todo mundo usa drogas hoje em dia — argumentou, e Lisa olhou para a irmã com expressã o incré dula.

— Eu nã o uso — respondeu, mas isso nã o era suficiente. Uma sensaç ã o de pâ nico invadiu-a. O que faria agora? Quando assumira a responsabilidade de cuidar de Sophie, nã o esperara deparar-se com uma situaç ã o dessas.

Tia Ingrid remexeu-na na poltrona.

— Você nã o está esquecendo de nada, Lisa? — Ingrid tirou algo de dentro do bolso da calç a. — Isto.

" Isto" era um pacote pequeno de plá stico contendo um pó branco. Lisa pegou o pacote.

— Oh, Sophie! — Ela sentiu um aperto no estô mago. — Onde você conseguiu? Por que estava na sua gaveta?

Sophie balanç ou os ombros.

— Isto é assunto meu.

— Nã o, enquanto você estiver morando em minha casa, mo­cinha! — protestou tia Ingrid rispí damente.

Lisa quis gritar quando ouviu a resposta da irmã.

— Nã o ficaremos na sua casa por muito tempo. Lisa vai en­contrar um lugar decente para morarmos. Nã o é verdade, Lisa? Qualquer lugar será melhor do que esta espelunca, com uma velha louca matraqueando em nossos ouvidos como viver nossa vida!

— Sophie...

O protesto de Lisa foi inú til. Tia Ingrid nã o tinha obrigaç ã o de ouvir ofensas de uma menina rebelde e Sophie ultrapassara os limites da paciê ncia. Lisa sabia disso.

Ofegando, Ingrid levantou-se e apontou o dedo em riste para Sophie.

— É isso aí, mocinha. Eu já aguentei demais sua insolê ncia. Nã o quero saber o que Lisa vai fazer, mas quero você fora da minha casa ainda hoje!

Duas semanas depois, na janela do minú sculo quarto e cozinha, Lisa esperava pelo tá xi que as levaria ao aeroporto. Ela apertava nervosamente as mã os ú midas. Estavam quinze mi­nutos atrasadas. Se perdessem o vô o, perderiam també m o barco para Skiapolis.

Esticada na cama, e indifereate a tudo, Sophie olhava para o teto. Deixara para fazer suas malas na ú ltima hora, e mesmo assim com indolê ncia e evidente má vontade.

Lisa continha-se para nã o atirar no rosto da irmã que aquela situaç ã o devia-se ú nica e exclusivamente a ela. Depois do que acontecera em casa de tia Ingrid, Lisa nã o teve alternativa, a nã o ser aceitar a oferta de Nikolas e afastar-se de Londres, ainda que temporariamente.

Voltando-se, encontrou o olhar desafiante da irmã. Se Sophie fosse um pouco mais velha... Se Sophie nã o fosse tã o petulante... Tia Ingrid nã o era um monstro e, com um pouco de persuasã o e paciê ncia de Sophie, a tia teria voltado atrá s.

Poré m, sem outro emprego em vista e contas para pagar, Lisa fora obrigada a discar o nú mero que Nikolas Petronides lhe dera. Consolava-se pensando que, trabalhando para ele, poderia respirar por algum tempo. Se economizasse cada cen­tavo do salá rio, teria dinheiro suficiente para alugar um pe­queno apartamento, quando voltassem para Londres.

Felizmente, fora outra pessoa quem atendera o telefone. Donald Jamieson, aparentemente advogado de Nikolas, explicara que o sr. Petronides retornara à Gré cia, mas que deixara todas as instruç õ es, caso Lisa aceitasse o emprego, e que ele tomaria todas as providê ncias para a viagem.

Lisa ainda se perguntava se fizera bem em aceitar a proposta. Pelas instruç õ es que Nikolas deixara, ele pensara em tudo, até mesmo na possibilidade de Lisa mudar de idé ia. A verdade era que Nikolas Petronides era diabó lico e arrogante, e se nã o fosse por Sophie, ela faria tudo para nã o precisar da ajuda dele.

Pelo menos, seria só durante o verã o, e muitas coisas po­deriam mudar em trê s meses.

Tia Ingrid ficara espantada com a decisã o de Lisa. Na opi­niã o dela, a sobrinha estava pondo em risco seu pró prio futuro por causa de uma garota irresponsá vel e mal-agradecida. E porque o nome Petronides nã o significava nada mais do que um logotipo num navio petroleiro, Ingrid considerava a decisã o de Lisa extremamente imprudente.

Embora Sophie jurasse solenemente que, apesar da cocaí na em sua gaveta, ela nunca tocara em drogas pesadas, Lisa nã o confiava mais na irmã. Chocara-se ao saber que o contato de Sophie com a maconha nã o era recente. Segundo a garota, o uso da erva era comum no colé gio interno, mas essa explicaç ã o nã o tranquilizou Lisa. Se por um lado tinha dú vidas, por outro, estava convencida de que tomara a decisã o certa ao tirar Sophie de Londres.

Olhou de novo pela janela, esperando avistar o tá xi que chamara vinte minutos antes.

— Venha logo — resmungou ela, impaciente.

Ao ver a agitaç ã o da irmã, Sophie sentou-se na cama com expressã o satisfeita. Jogando para trá s os cabelos loiros com­pridos, crespos à custa de permanente, ela demonstrou um otimismo que nã o se via desde o momento em que Lisa comu­nicara que aceitara trabalhar na Gré cia.

— Quer dizer que vamos perder o aviã o? — ela perguntou com arrogâ ncia, e Lisa imaginou o que a tia sentira ao enfrentar o olhar insolente de Sophie.

— Nã o. Pegaremos outro. — Na verdade, ela nã o sabia o que fariam se perdessem o aviã o. Afinal, estavam em plena estaç ã o de fé rias e os vô os deveriam estar todos lotados. — Portanto, pode acostumar-se com a idé ia de que estamos indo para Skiapolis.

— Skiapolis? — Sophie quase gritou, tamanha a indignaç ã o. — Ainda se fosse Atenas, Rhodes ou qualquer outro lugar que já ouvi falar. Mas Skiapolis! Você nã o pode fazer isso comigo. Se papai estivesse vivo...

Ela se calou e Lisa encarou-a.

— Continue — ela ordenou. — Se papai estivesse vivo... e daí? O que ele ia fazer? Você acha que ele ficaria feliz de saber que sua filha caç ula é... drogada?

— Nã o sou drogada.

— Isso é o que você diz. E o que você fez com tia Ingrid? Papai gostava muito dela. Acha que ele a aplaudiria por tê -la agredido?

— Ela me bateu primeiro. — Sophie nã o escondia a indig­naç ã o. — Ela me esbofeteou primeiro.

— Isso nã o justifica seu gesto. Você a agrediu nã o só fisi­camente, mas moralmente també m. Você a desrespeitou. E se ela tivesse um ataque? Como você se sentiria?

Sophie encolheu os ombros.

— Ela nã o tinha direito de vasculhar minhas coisas.

— E você nã o tinha o direito de cabular aulas — Lisa acu­sou-a rispidamente. — Aliá s, se você nã o tivesse culpa no car­tó rio, nã o estarí amos tendo esta conversa. — Ouvindo o in­confundí vel ruí do de um carro parando junto ao meio-fio, ela olhou pela janela. — Graç as a Deus! O tá xi chegou. Pegue suas malas e vamos embora.

Sophie levantou-se da cama.

— Jamais a perdoarei, Lisa. Nunca! Obrigando-me a ir para uma ilha miserá vel no meio do nada com algum velho decré pito, só porque ele conheceu o papai. Vou morrer de té dio!

— Melhor morrer de té dio do que por overdose. Agora, deixe de conversa e vamos andando. Já estamos atrasadas.

Elas chegaram em Atenas no final da tarde. O sol estava forte e o calor insuportá vel.

Depois de passarem pela alfâ ndega, pegaram em tá xi rumo a Piraeus, de onde o barco sairia à s sete horas da noite. Lisa esperava que tivessem tempo para uma refeiç ã o rá pida antes de embarcarem. Nã o sabia as comodidades que encontrariam no barco. Nas viagens à Gré cia com o pai, sempre ficara em Atenas. Naturalmente eles tinham visitado Skiapolis, mas como convidados no iate de Nikolas. Agora, poré m, a situaç ã o era completamente diferente, e ela nã o tinha ilusõ es quanto a posiç ã o que ocupava na vida dele.

Do porto de Piraeus, o maior e mais movimentado do paí s, partiam navios para quase todas as ilhas do arquipé lago grego.

Skiapolis, uma das menores ilhas da Gré cia, era pratica­mente propriedade de Nikolas. Ele era dono da maior parte, se nã o de toda ilha e nã o pretendia incentivar o turismo. Pelo menos, naquela é poca. Pelo que Lisa se lembrava, um barco levava a correspondê ncia e os suprimentos e nã o havia aco­modaç ã o para turistas. Felizmente, a viagem nã o era longa. Do contrá rio, teriam que dormir no porto.

Depois de descerem do tá xi, caminharam entre a multidã o, á procura do escritó rio da agê ncia de viagens recomendada, para pegarem as passagens de barco.

Sophie estava espantada com o calor, com o idioma estranho, com o cheiro. Apesar de admirada com o brilho e com a cor da á gua do mar, ela começ ava a achar o sol forte mais um castigo do que uma dá diva. Reclamava toda vez que algué m esbarrava nela, ou quando a alç a da mochila escorregava do ombro.

Finalmente, encontraram a agê ncia. Lisa identificou-se e a recepcionista anunciou-a pelo interfone. Segundos depois, apa­receu um rapaz de cabelos encaracolados, pele bronzeada, jeans e camiseta regata.

— Você é kiria Tennant, ohi? — E olhando para Sophie: — Thespinis Tennant? Meu nome é Pá ris e kirie Petronides man­dou-me encontrá -las aqui. — Ele sorriu, exibindo dentes alvos e perfeitos. — Kalostone, kiria. Bem-vindas à Gré cia.

— Kirie Petronides mandou-o nos esperar? — Lisa perguntou ainda nã o acreditando em tanta gentileza.

— Ne — ele disse, pegando à mala de Lisa e a mochila de Sophie. — Por favor, queiram acompanhar-me.

Com um sorriso, Lisa despediu-se da recepcionista e seguiu Pá ris. Depois de atravessarem de novo pela multidã o, o rapaz conduziu-as até um cais estreito, onde iates particulares e bar­cos a motor balanç avam ao sabor das á guas.

Sophie nã o conteve uma exclamaç ã o de surpresa, mas Lisa repreendeu-a porque considerava o linguajar da irmã inconve­niente demais.

— Você está assistindo muita televisã o! — advertiu-a.

— Bem, parece que daqui para frente, nã o assistirei mais — Sophie retrucou de imediato e Lisa nã o sabia se isso era bom ou ruim.

Quando decidira ir para Skiapolis, ela nã o considerara a hipó tese de Sophie ter outro tipo de distraç ã o, e a julgar pelos olhares trocados entre a garota e Pá ris, teria que começ ar a pensar seriamente nisso.

Mas nã o queria preocupar-se antes da hora.

O barco que os esperava nã o era um iate, mas era grande e tinha uma parte coberta. Pelo menos, poderiam proteger-se do sol forte.

Pá ris colocou as malas a bordo e estendeu a mã o para Sophie subir. Depois, fez o mesmo com Lisa, lanç ando um olhar ava­liador para as pernas dela quando o vento ergueu-lhe a saia.

Ele sorriu ao notar sua indignaç ã o, e apesar de querer mos­trar-se ofendida, Lisa pegou-se sorrindo. Pá ris era apenas um garoto. Provavelmente morava e trabalhava na ilha, e com certeza ela e Sophie nunca mais o veriam.

 

CAPÍ TULO III

Lisa mirou-se nas portas espelhadas do closet. Nã o precisava preocupar-se tanto com a apa­rê ncia. Nã o que quisesse impressionar algué m, mas estava nervosa, ansiosa por conhecer Ariadne.

Imaginara que a garota també m estaria curiosa para co­nhecê -la. Entretanto, ela e Sophie tinham sido recebidas pela governanta, kiria Papandreiu.

A viagem de duas horas entre o porto até a ilha fora agra­dá vel. Uma vez a bordo, Pá ris servira-lhes lanche e refresco. Sob o olhar vigilante de Lisa, Sophie sentara-se ao lado de Pá ris, nos controles do barco.

Já era noite quando chegaram ao pequeno porto de Á gios Petros. No cais, Pá ris conduziu-as até um carro, e depois de trocar algumas palavras em grego com o rapaz, o motorista ligou o motor e pô s o carro em movimento. Minutos depois, chegavam à casa de Nikolas Petronides, onde a governanta os esperava na porta.

Assim que desceram do carro, a sra. Papandreiu explicou num inglê s trô pego, mas compreensí vel, que kirie Petronides viajara. Ela nã o disse onde ele estava, nem quando voltaria. Lisa tampouco perguntou.

A governanta nã o deu mostras de reconhecer Lisa. Como po­deria imaginar que a nova funcioná ria do sr. Petronides era a mesma hó spede tã o festejada de anos atrá s? Naquela é poca, Ni­kolas desdobrara-se para que Lisa e seu pai se sentissem à vontade. E Parker Tennant nã o sabia o que realmente estava acontecendo...

Lisa alisou a saia do vestido de crepe azul-turquê sa. Hesitara antes de decidir-se pelo traje informal, mas até saber exatamente o que esperavam dela, achou melhor optar pelo estilo discreto elegante.

Escovou os cabelos castanho-dourados. Quando conhecera Nikolas, seus cabelos eram compridos, e costumava prendê -los numa tranç a. Isso fora nos á ureos tempos, quando tinha con­diç õ es de frequentar o cabeleireiro uma vez por semana. Agora, usava-os cortados na altura dos ombros.

Suspirou, segurando a escova com dedos tremulos. Nã o era bonita. Nã o como Sopbie, que era muito parecida com a mã e delas. Os olhos verdes eram expressivos e a boca, generosa, mas suas feiç õ es nã o eram propriamente marcantes e memo­rá veis. Por isso, sempre se perguntara se os homens se apro­ximavam dela, por ela mesma, ou pelo dinheiro do pai.

Sobressaltou-se com a leve batida na porta. Era Sophie, que entrou sem esperar pela resposta. Ela també m trocara de rou­pa. O vestido amarelo, de tã o curto, mal cobria-lhe o derriè re, e as sandá lias de salto altí ssimo arrastavam-se pelo tapete.

— Você já está pronta? — Lisa avaliou a irmã com olhos crí ticos. Torcendo o nariz, Sophie passou por Lisa e foi para o terraç o.

— Quero ver como é a vista, deste lado.

Depois de alguns minutos de contemplaç ã o, virando-se para Lisa, disse:

— Você disse que já esteve aqui antes, nã o é? Ainda nã o deu para ver nada da ilha, mas a casa parece ser muito grande.

— É muito grande, sim. — Lisa respirou fundo, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Você vai jantar com este vestido?

— Eu nã o vou me trocar de novo — retrucou Sophie. Dando uma volta diante do espelho, perguntou: — O que há de errado com meu vestido?

Lisa hesitou.

— Nada. Acho que...

— Só porque você gosta de andar fora de moda nã o significa que eu també m tenha que andar. — Sophie ergueu o queixo num gesto de desafio. — Aposto como Pá ris vai aprovar.

Lisa encolheu os ombros.

— Aposto que sim, se ele pudesse vê -la. Poré m, antes de sabermos qual é exatamente nossa posiç ã o aqui...

— Pensei que soubé ssemos — Sophie interrompeu-a, fran­zindo o cenho. — Tudo bem, nó s vamos cuidar da afilhada de um velho. Mas daí eu me vestir feito uma babá... Você até pode, mas eu nã o! Tenho coisas melhores para fazer.

Lisa meneou a cabeç a. De nada adiantaria discutir com So­phie. Ainda nã o, pensou. Decidiu mudar de assunto.

— Já guardou suas roupas no armá rio?

— Só uma parte. O resto faç o amanhã cedo. — De repente, girando nos calcanhares, ela exclamou: — Hei! Seu quarto é maior que o meu! Nã o é justo.

Lisa olhou ao redor. Na verdade, ela nem prestara atenç ã o na suí te que lhe fora destinada. Só reparara na cama imensa com a cabeceira de madeira maciç a e na colcha de seda bordada à mã o. Mas nem notara os mó veis de carvalho ricamente entalhados, nem no teto arredondado. Só entã o, via as cortinas em tom de bege e os tapetes valiosos cobrindo o assoalho de madeira encerada.

Em outras circunstâ ncias, teria se encantado com a dis­creta elegâ ncia da decoraç ã o, e podia até compreender a reaç ã o de Sophie.

— Quer trocar? — perguntou ela.

— Nã o. Eu estava apenas admirando. — Sophie foi até o banheiro. — Acho que o meu banheiro é maior do que este.

— Que bom.

Lisa olhou no reló gio. Já estava na hora de descerem. Apesar de apreensiva, nã o queria atrasar-se para o jantar, logo no primeiro dia. Deu uma ú ltima olhada no espelho e ajeitou uma mecha de cabelos atrá s da orelha. Verificou se as argolas de ouro que usava nas orelhas estavam bem fechadas e virou-se em direç ã o à porta.

— Esse... Nikolas Petronides deve ser muito rico, nã o? — perguntou Sophie. — Pá ris me contou que ele é dono de uma frota de petroleiros.

Lisa parou e respirou fundo. A ú ltima coisa que precisava, era Sophie alimentando idé ias mirabolantes com relaç ã o a Ni­kolas. E ela ainda nem o vira! Sophie pensava que ele era velho, mas Nikolas devia estar beirando os quarenta anos. E era um homem muito atraente.

— Esse assunto nã o nos interessa — Lisa declarou num tom de reprovaç ã o, como se nã o se importasse em falar sobre Nikolas. Como se nã o a incomodasse lembrar-se do dia em que seu pai o apresentara, ou de como se sentira seduzida pelos ardentes olhos negros, logo à primeira vista.

— Ora, Lisa. Eu nã o me incomodaria de casar-me com um velho, desde que tivesse montanhas de dinheiro — declarou Sophie com um sorriso. — Como ele se sentiria com uma noiva-crianç a?

Sophie riu, e Lisa conteve o quase irresistí vel impulso de esbofeteá -la.

A irreverente garota continuou:

— Quem sabe se ele nã o tem um filho? O que você acha?

— Eu acho que você está sendo irritante e inconveniente — respondeu Lisa, ciente de que estava exagerando. Mas era impossí vel nã o pensar em Nikolas sem lembrar-se do passado. Aquela era a casa dele. Havia tantas recordaç õ es... mesmo sem nunca terem feito amor ali.

— Por quê? O que tem demais querer casar com um milioná rio? — Sophie tornou a rir. — Ou querer saber se ele tem um filho?

— Ele nã o tem filhos.

Lisa foi rí spida e Sophie arregalou os olhos.

— Claro. Você já o conheceu. Eu tinha me esquecido desse detalhe. Conte-me tudo sobre ele. Como ele é?

— Agora nã o. — Lisa nã o pretendia aprofundar-se no as­sunto. — Vamos descer. Já estamos atrasadas.

— E daí? Petronides nã o está aqui. Você nã o ouviu o que aquela velha bruxa disse quando chegamos? Nã o estou nem um pouco preocupada em deixar a pirralha grega nos esperando.

Lisa sorriu e dando de ombros, saiu do quarto, esperando a irmã sair para fechar a porta.

Seguiram pelo corredor até a escada de má rmore italiano. O corrimã o de ferro escuro acompanhava a curva dos degraus.

— Uau! — Sophie exclamou impressionada. No alto da es­cada, ela parou, admirando o magní fico lustre de cristal que iluminava o hall no andar inferior. — Que pena nã o termos pú blico! — brincou. — Farí amos uma entrada triunfal.

— Ainda bem que nã o... — Lisa calou-se quando uma sombra saiu do escuro para a claridade.

— Parakalo — disse Nikolas, de camisa de seda preta e calç a da mesma cor, que acentuavam a pele bronzeada. — Por favor... Sophie, nã o é? Fique à vontade para descer como quiser.

Surpresa, Sophie parou e Lisa desejou que o chã o se abrisse sob seu pé s. Nikolas retornara, e sem saber, ela o fizera esperar.

— É ele? — Sophie murmurou e Lisa lanç ou-lhe um olhar exasperado.

— Desç a — ordenou ela.

— Eu só perguntei! — resmungou a garota, descendo os degraus.

Nikolas recuou alguns passos enquanto elas desciam a es­cada, mas quando chegaram ao hall, ele se aproximou nova­mente, sem demonstrar se ouvira ou nã o as palavras de Sophie.

— Kalispera — disse ele, a voz grave abalando os já tensos nervos de Lisa. — Kalos orissate sto Skiapolis.

Sophie piscou, evidentemente sem entender nada. Nikolas segurou a mã o dela e disse calmamente:

— Bem-vindas a Skiapolis. Fizeram boa viagem?

— Oh... sim. Obrigada. — O rosto de Sophie ficou vermelho. — Desculpe... pelo que eu disse. É que sua casa é... fantá stica.

— Que bom que você gostou.

Lisa fechou os olhos, temendo o que sua irmã poderia falar em seguida. Sobressaltou-se quando Nikolas falou com ela.

— Lisa? — A voz dele soou preocupada. — Você está bem? Sorrindo, ela apertou a mã o que ele lhe estendia. Os dedos formigaram, a palma ú mida deslizou contra a firmeza da mã o dele.

— Sim, estou bem — ela conseguiu responder, puxando a mã o rapidamente.

Ele estava perto demais e, imediatamente, ela sentiu o im­pacto da proximidade dele, do corpo forte, dos ombros largos. E tanta perturbaç ã o, decididamente, nã o era um bom pressá gio.

— Desculpe-nos por fazê -lo esperar. A governanta disse que você estava fora.

— Estava, mas voltei. — Nikolas continuava fitando-a preocupado.

Lisa baixou os olhos e, como que atraí do, seu olhar deteve-se nos pê los escuros da base do pescoç o, revelados pelo colarinho aberto.

— Você está corada, agaphita. Nã o está se sentindo bem?



  

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