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CAPÍTULO VII



 

Fazia calor dentro do carro e o biquí ni de Dionne estava aderente e desconfortá vel. Franç ois dirigia muito concentrado, o que era, até certo ponto, um alí vio. Nã o queria saber aonde ele a levava e muito menos queria responder à s suas perguntas. Mesmo assim, aquele silê ncio tenso dava em seus nervos. Mexeu-se no banco, nervosa.

— Sente-se quieta! Vai se sentir ainda pior, se continuar a se mexer assim!

Dionne olhou para ele, em silê ncio, começ ando a se arrepender de ter gostado tanto que Franç ois aparecesse na praia para livrá -la de Henri. Que direito tinha ele de interferir em sua vida, mesmo para salvá -la?

Naturalmente, depois do que acontecera na vé spera, nã o esperava vê -lo mais. Por que estaria ali? Por que tinha ido à sua procura? O que pretendia com ela agora?

— Aonde você está me levando? — perguntou, reunindo toda sua coragem.

Franç ois encarou-a por um momento.

— Ainda nã o parei para pensar no assunto. Imaginei que você talvez quisesse se livrar desse biquini molhado. Nã o quer?

— O que você quer dizer com isso?

— Pare de tirar conclusõ es apressadas de tudo o que digo, Dionne! Só porque você parece sempre pronta a cair nos braç os de qualquer homem, nã o quer dizer que...

— Como se atreve? Como ousa me dizer uma coisa dessas? Oh... eu detesto você, Franç ois!

Os dedos dele apertaram a direç ã o e, com uma manobra brusca, continuou levando o carro atravé s de um trecho de relva musguenta até a margem de um charco. Uma fileira de á rvores fazia sombra, deixando o interior do automó vel numa temperatura agradá vel e amena, mas Dionne abriu a porta assim que pararam, saltando e colocando uma distâ ncia segura entre ela e o rapaz.

Mas Franç ois nã o se mexeu, e ela sentiu-se um tanto ridí cula, no meio daquele pâ ntano. Estava muito quente, o sol forte batia em sua cabeç a; precisava ir para a sombra.

Foi procurar refú gio no meio das á rvores.

Só entã o Franç ois saiu do carro, com a cigarrilha por entre os dentes e uma toalha enorme nas mã os.

— Tome! — disse, jogando a toalha para ela. — Nã o é muito charmosa, mas pelo menos está limpa. Eu a deixo sempre no carro. Vamos, pegue! Nã o está contaminada!

Dionne apertou os lá bios e estendeu os braç os para apanhá -la.

— O que devo fazer? — perguntou, nervosa. — Tirar a roupa na sua frente?

Franç ois tirou a cigarrilha da boca.

— Quando eu quiser esse tipo de estí mulo, vou procurar uma profissional! — E voltou para o carro.

Dionne hesitou um instante. Depois, tirou as sandá lias, a calç a e a blusa. Mas continuou com o biquini. À esquerda, havia uma lagoa brilhante e tentadora. Num impulso, mergulhou. Era delicioso nadar naquela á gua gelada e cristalina. Todo o desconforto que sentia desapareceu.

Nadou por vá rios minutos, vendo o carro à distâ ncia. Franç ois parecia completamente indiferente, mas ela sabia que nã o podia demorar muito. Quando alcanç ou a margem, um ruí do assustou-a. Pensou que fosse ele e virou-se, zangada. O que viu gelou seu sangue. A poucos metros de distâ ncia, enormes chifres curvos a ameaç avam. Era um dos touros negros da Camargue.

Dionne ficou petrificada durante um instante, incapaz até mesmo de pensar no que deveria fazer. O touro estava sozinho, o que era estranho, e ela concluiu que se desgarrara da manada sem que o gardien notasse. Era um touro espanhol, grande e musculoso, criado para as corridas e, portanto, feroz. Dionne já se via caí da no chã o, ferida e mutilada, seu sangue manchando as á guas da lagoa. Uma terrí vel sensaç ã o do inevitá vel se apoderou dela.

Com as pernas tré mulas, afastou-se do animal, tentando nã o perturbá -lo com nenhum movimento brusco. O touro a observava com olhos brilhantes, bufando e arrastando uma pata. De repente, avanç ou na direç ã o da lagoa, balanç ando a cabeç a de um lado para outro, e entã o Dionne perdeu o controle.

Saiu correndo pelo pâ ntano, aos tropeç õ es.

Ouviu o barulho dos cascos e soube que o touro a seguia, mas nã o teve coragem de olhar para trá s.

Depois, viu que Franç ois corria para ela, com uma tora de madeira grossa na mã o. Passou por Dionne e gritou:

— Suba na traseira da caminhonete!

Com as pernas tré mulas, ela obedeceu, arrastando-se até o carro e entrando pela porta de trá s. A carroceria era de madeira á spera, estava cheia de cordas e ferramentas e tinha um forte cheiro dos cavalos.

O touro havia parado a alguma distâ ncia da caminhonete, bufando e batendo os cascos no chã o, zangado e nervoso. Dionne sabia que se preparava para atacar e nã o entendia por que Franç ois nã o corria també m para a seguranç a do carro. Desesperada, nã o tirava os olhos do rapaz, com a respiraç ã o suspensa.

Mas ele parecia quase relaxado agora, falando calmamente com o animal. O touro continuava a bufar; a cabeç a, no entanto, estava menos agressiva, e Dionne sentiu o suor frio escorrer por seu corpo.

Aos poucos Franç ois foi recuando na direç ã o do carro. A moç a escancarou a porta de trá s, assim que ele se aproximou. Tremia violentamente, e o rapaz olhou para seu rosto pá lido, antes de abraç á -la pelos ombros e apertá -la contra o corpo.

— Meu Deus, nunca mais faç a isso comigo! — ele murmurou, numa voz rouca, depois enterrou o rosto nos ombros de Dionne.

També m estava tré mulo, ela podia sentir, mas aquelas mã os que escorregaram até sua cintura estavam firmes, frias e quase cruelmente possessivas.

— De que você estava com medo? — sussurrou Franç ois contra o pescoç o dela, e depois sua boca procurou a da moç a, impedindo-a de responder.

Dionne nã o podia mais resistir. A agonia de ver Franç ois lá fora, à mercê daquele touro, tinha destruí do suas defesas, e agarrou-se a ele, faminta, desabotoando sua camisa e procurando o calor daquela pele que tinha um cheiro má sculo que ela ainda nã o conseguira esquecer.

Ele a deitou no chã o á spero, mas ela nem sequer notou o desconforto. Franç ois beijava-lhe, ansioso, as mã os, acariciando sua cintura e quadris, as pernas sobre as dela, fazendo-a sua prisioneira. Uma prisioneira dó cil, mais do que desejosa de se submeter à s suas menores vontades. Aquele era Franç ois, o homem que amava, o pai de seu filho, sua outra metade, e nã o importava o que ele tivesse feito no passado, ainda o amava.

Mas, dessa vez, foi Franç ois quem recuou, afastando-se dela para sentar-se com as pernas dobradas, os cotovelos sobre os joelhos, e a cabeç a inclinada.

— Oh, Deus! — falou, num tom torturado. — Dionne, eu quero você!

A moç a ficou onde ele a tinha deixado, os lá bios queimando pela paixã o de seus beijos, os cabelos, já secos, espalhados como uma nuvem dourada em volta do rosto.

— Franç ois... — ela murmurou.

Mas, com uma praga, ele abriu a porta da caminhonete e saiu, para tomar fô lego.

Depois, foi até onde estavam as roupas de Dionne, pegou-as junto com a toalha, que ela tinha deixado perto da lagoa, e jogou tudo na parte traseira do veí culo. Tornou a afastar-se e recostou-se numa á rvore, procurando pelas cigarrilhas no bolso. O touro tinha desaparecido há muito tempo, e estavam sozinhos naquela vasta solidã o desé rtica.

Dionne levantou-se sentindo as costas doloridas. Tinha estado deitada sobre uma corda e nem percebera.

Esfregou a toalha no corpo, tirou o biquini e vestiu suas calç as e a camisa. Sentia-se muito mais confortá vel agora. Saiu do carro.

Franç ois virou-se, quando a ouviu fechar a porta de trá s e foi vagarosamente até ela, esmagando a cigarrilha no chã o com o salto da bota. Seus olhos brilhavam intensamente, mas nã o a tocou. Abriu a porta e sentou-se ao volante. Dionne apertou os lá bios e depois entrou na caminhonete també m.

Franç ois nã o deu logo a partida. Ficou com os cotovelos apoiados na direç ã o, o olhar perdido no pâ ntano.

— Eu poderia ter matado você! — falou, sem nenhuma emoç ã o. Dionne pressionou as costas da mã o na boca, e ele olhou-a de lado, para ver sua reaç ã o.

— O que você esperava? — perguntou, provocando-a. — Voltando aqui, quando eu estava começ ando a aceitar o inevitá vel; destruindo toda e qualquer paz de espí rito que eu tinha conseguido!

— Sinto muito. Mas eu nã o imaginava que seria assim!

— Você nã o imaginava? Nã o desconfiava nem mesmo como eu iria reagir?

— Como é que eu poderia saber? — Dionne corou.

— Como você poderia saber? — Olhou para ela, zangado. Depois de tudo o que aconteceu antes! Nó s fomos amantes, Dionne. Acha que eu poderia esquecer o que foi... tê -la em meus braç os... fazer amor com você? — Passou a mã o pela nuca. — Acha que nã o fiquei acordado durante a noite, lembrando do calor e da maciez de sua pele, do perfume que você tem? E pensa que nã o a imaginei nos braç os de outro homem, permitindo que ele a tocasse da maneira que eu a toquei? Dionne ficou chocada.

— Ningué m... nenhum homem jamais me tocou! — gritou. Os olhos de Franç ois percorreram seu corpo com insolê ncia.

— Como posso acreditar numa coisa dessas, se encontrei você duas vezes com homens. Viveu os ú ltimos trê s anos num convento?

Dionne sacudiu a cabeç a. Morria de amor por ele e nã o queria contar-lhe o motivo pelo qual estava ali, mas aqueles eram momentos muito difí ceis e dolorosos, devia ficar atenta para nã o confessar algo que a destruiria. Depois, nã o importava o quanto ela o atraí a fisicamente — e nã o havia dú vida de que o atraí a -, ele ia casar com Yvonne e nã o havia lugar para Jonathan naquela casa, mesmo que a convencessem a deixar o menino lá.

— Por favor, leve-me de volta para o hotel. Eu... preciso fazer as malas. Vou embora de manhã.

— Você o quê? Mas nã o pode! Ainda nã o recebeu o dinheiro... e, alé m disso, Gemma quer ver você novamente.

— Bem, sinto muito, mas receio que ela vá ficar desapontada dessa vez; já reservei a passagem.

— Cancele! — Se ela nã o o conhecesse melhor, diria que havia agonia no fundo de seus olhos cinzentos.

— Nã o! Nã o, eu nã o posso!

— Dionne! — Segurou a nuca da moç a, apertando-a. — Dionne, nã o pode fazer isso comigo!

— Fazer o quê?

— Você sabe! Por favor, estou pedindo: nã o vá... ainda. Ela engoliu, em seco.

— Eu... tenho de ir.

— Por quê? Quem está esperando por você na Inglaterra? Existe algum homem? Você está mentindo para mim!

— Nã o estou, nã o. Está enganado. Nã o há nenhum homem. Seus olhos imploravam que ele acreditasse nela.

— Onde você mora entã o? Tinha me falado uma vez que morava com uma tia. Ainda mora com ela?

— Sim, ainda! — Dionne respirava com dificuldade e Franç ois a observava, em silê ncio, obviamente analisando se eram verdadeiras ou nã o suas palavras.

— E os quinhentos mil? Sã o para sua tia? Dionne afastou-se dele.

— Se pensar que sã o para minha tia faz você feliz, entã o tudo bem. Sã o para a minha tia!

— Dionne, como é que posso deixar você ir?

Ela virou o rosto para esconder sua expressã o: nã o queria que ele percebesse que acreditava ou queria acreditar que també m a amava. Mas havia Jonathan, e ela nã o podia arriscar seu futuro por um capricho.

— Diga-me uma coisa: — ela falou, calmamente, mas seus olhos estavam tristes — Por que você e Yvonne... esperaram tanto para casar?

A expressã o de Franç ois endureceu, como se a simples menç ã o do nome da noiva o trouxesse de volta à razã o. Pensou que ele nem se importaria em responder mas, só depois de alguns momentos, Franç ois falou:

— Yvonne está paralí tica. Ficou assim trê s meses depois que você foi embora. Fez vá rias operaç õ es, todas elas demoradas, vai fazer outra dentro de algumas semanas. Já há sinais de melhora, e os mé dicos acreditam que, com essa ú ltima operaç ã o, ela vai voltar a andar novamente; tem toda a chance de ter uma vida... cheia e ativa.

— Eu... entendo.

Yvonne poderia voltar a ser uma mulher normal; poderia casar e ter os filhos de que ele precisava para continuar a famí lia St. Salvador.

— Você entende? Será que realmente consegue ver alguma coisa alé m de seus objetivos egoí stas?

— Essa conversa nã o nos leva a nada, Franç ois. É melhor você me levar de volta para o hotel.

Sem uma palavra, ele levou-a para Aries. Nã o disseram nada durante o trajeto, cada um ocupado com os pró prios pensamentos. Quando ele parou na porta do hotel, foi muito doloroso para Dionne despedir-se.

— Obrigada e adeus.

Franç ois olhou-a, como se quisesse dizer algo, mas mudou de idé ia. Apenas abriu a porta para ela e partiu em disparada.

Dionne recebeu um telefonema de Henri naquela noite. Queria desculpar-se pelo comportamento daquela tarde. Se o arrependimento do rapaz era sincero ou se o fato de Franç ois St. Salvador estar envolvido o amedrontava, ela nunca ficaria sabendo. Mas garantiu que nã o estava zangada e depois voltou para o quarto, para acabar de arrumar as malas.

Mais ou menos à s nove e meia, bateram na porta. Dionne ficou surpresa e um pouco apreensiva. Nã o podia imaginar quem era e, fora Franç ois, nã o queria falar com mais ningué m. Mas nã o era Franç ois. Uma voz feminina chamou:

— Dionne? Dionne, posso entrar? Foi até a porta e abriu-a.

— Louise! O que está fazendo aqui, a esta hora da noite? Louise entregou-lhe um envelope.

— Vim numa missã o. Franç ois pediu para entregar isto. — Olhou em volta. — Posso entrar?

Dionne pegou o envelope com dedos tré mulos e tentou controlar-se.

— Oh, claro. Entre. Infelizmente nã o tenho nada para oferecer.

— Nã o faz mal. Quero só a chance de falar um pouco com você. Está fazendo as malas? Franç ois sabe que você vai embora?

— Sim para as duas perguntas. — Dionne respondeu, jogando o envelope no fundo do bolso, para ser aberto mais tarde. — Sente-se. Você veio sozinha?

— Já tenho idade para dirigir, você sabe, e Franç ois sempre cuida para que todos os carros estejam em excelente condiç ã o para nã o haver problemas na estrada. — Suspirou fundo. — Mas por que você vai tã o depressa? Nã o pode ficar só por mais uns dias? Eu sei que vovó está querendo vê -la novamente.

— Sim, eu sei disso també m, e sinto muito. Mas é impossí vel, tenho de voltar. — Dionne queria ter algo mais a dizer. — Nã o consigo me acostumar com a ideia de que você já é adulta agora. Parecia tã o crianç a antes. Louise sorriu, agradecida.

— Obrigada, Dionne. Mas, sinceramente, nã o vim até aqui para falar sobre mim. Quero falar sobre Franç ois.

— Nã o acho que deva.

— Por quê? Nã o está interessada? — Louise a observava atentamente.

— Pode até ser — respondeu, sem jeito.

— Ele contou por que ele e Yvonne ainda nã o estã o casados?

— Nã o.

— Ele foi atrá s de você, nã o foi?

— Atrá s de mim? O que quer dizer com isso?

— Esta tarde, eu vim até aqui para ver você. Entã o o gerente me disse que você tinha saí do com um rapaz e que tinha ouvido que iam até Lê s Saintes Maries. Quando voltei e contei para ele, Franç ois saiu feito um raio.

— Entendo. Eu imagino... que... É verdade, ele me encontrou.

— Se quer saber, meu irmã o estava com tanto ciú me... — Louise começ ou, mas Dionne virou-se, fingindo arrumar a mala. A jovem calou-se, embaraç ada.

— Hoje fez muito calor — Dionne tentou desfazer o mal-estar entre as duas.

— É verdade. — Louise foi até a ponta da cama e inclinou-se para ela. — Diga-me uma coisa: Franç ois contou como Yvonne sofreu o acidente?

— Oh, Louise, por favor! Isso nã o tem nada a ver comigo.

— Sabe que nã o é verdade. — Os olhos da garota estavam nublados. — De qualquer maneira, vou contar. Entã o, ouç a, por favor. Bem, isso foi quando Franç ois estava de pé e recuperado novamente...

— De pé e recuperado? De pé e recuperado... de quê?

— Do acidente, claro. Oh, eu devia ter percebido. Você nã o podia saber... naquelas circunstâ ncias... — Suspirou profundamente. — Bem, Franç ois foi jogado do cavalo. Quebrou a perna, estava sofrendo muito e, naturalmente, ficou confinado na fazenda por algum tempo.

Dionne olhou para Louise, agora muito interessada.

— Continue. O que aconteceu depois?

— Está curiosa, hein? — Louise brincou, mas mudou de atitude, ao perceber a preocupaç ã o da outra. — Sinto muito. É claro que vou continuar. Bem, como dizia, foi depois que Franç ois se recuperou, eles tiveram uma briga terrí vel sobre algo, nunca descobri o motivo, mas, como resultado, Yvonne se dirigiu até o curral com um chicote.

— Oh, nã o!

— Foi, sim. Yvonne pode ser muito má, quando quer. Infelizmente, os touros presos no curral, à espera dos compradores que iriam buscá -los naquela tarde, estavam todos irrequietos, e dois deles escaparam. Você nã o pode imaginar os gritos dela! Os berros dos touros! Franç ois... salvou a vida de Yvonne. Mas ela nã o merecia tal risco pela sua vida.

— Louise!

— Bem, é verdade. Se você tivesse visto as chicotadas que Yvonne deu no lombo daqueles pobres animais...

Dionne sentiu-se doente. Foi pior do que tinha imaginado. Passou o braç o ao redor dos ombros da garota, tré mula, e disse:

— Acabou agora, Louise, e Yvonne certamente pagou pelo que fez.

— Você acha? Acha mesmo que ela pagou pelo que fez?

— Você nã o?

— Nã o. Nã o, eu nã o acho. Ela teve o que quis. Está lá em casa. As coisas nã o poderiam ter sido mais convenientes para ela.

— O que quer dizer?

— Bem, a mã e dela morreu pouco depois de papai. O pai nã o podia cuidar dela, sem ajuda, e mamã e ficou contente em ter sua companhia, para que a distraí sse. Mas ningué m perguntou a Franç ois o que ”ele” queria! Ningué m sequer mencionou que, agora que Yvonne estava paralí tica, o noivado deles é um absurdo!

— De qualquer forma, nã o acredito que Franç ois a abandonasse por causa disso.

— Nem eu. Mas era o que devia fazer. Dionne, você nã o percebe? Franç ois nã o pode casar com Yvonne. Ela é má. Você nã o vê que ela fará com ele o que fez com aqueles animais? E nã o com um chicote, é claro; ela é bem mais sutil do que isso. Mas a comparaç ã o é boa, no final. Você nã o sabe que ela o culpa pelo que aconteceu? Yvonne acha que se eles nã o tivessem tido aquela briga, ela nã o teria ficado paralí tica. Dionne — segurou as mã os da moç a — Dionne, nã o vá embora! Fique e lute por Franç ois. Esqueç a o passado, pense apenas no futuro!

Dionne retirou a mã o.

— Louise, você está dramatizando demais a coisa.

— Estou? Nã o acho.

— Foi gentil da sua parte ter me contado isso. Nã o pense que nã o apreciei saber o que você acabou de me contar.

Louise suspirou. Depois, teve uma ideia.

— Já lhe disse que Franç ois quer me mandar para a Suí ç a? Bem, que tal se eu pedisse a ele para me mandar para a Inglaterra? Nã o para morar com você... eu nã o seria tã o presunç osa, nem tã o metida, mas só para estarmos perto...

O coraç ã o de Dionne pareceu parar.

— Eu... eu nã o acho que seja uma boa ideia, Louise. Nã o... nã o agora.

A garota ficou desapontada.

— Mas por quê?

— Eu... bem, eu estarei trabalhando...

— Mas nã o o tempo todo, nã o é? Quero dizer, vamos ter oportunidades de nos ver. Talvez nos fins de semana. Oh, eu sei que já tem os seus amigos, mas adoraria passear com você de vez em quando...

— Oh, Louise! Eu... nã o acho que isso seja possí vel.

A outra deu de ombros, sentida.

— Pensei que gostasse de mim.

— Eu gosto, honestamente eu gosto. Nã o é nada do que possa parecer. É que... bem, quando eu for embora daqui... nã o quero mais ter nenhuma ligaç ã o com a sua famí lia...

— Com Franç ois, você quer dizer.

— Muito bem, com Franç ois. Louise levantou-se.

— Nã o vejo por quê. Alé m disso, eu nã o falaria sobre ele, se você nã o quisesse ouvir.

Dionne sentia-se terrivelmente culpada. Recusando a proposta tã o espontâ nea de Louise, de uma sincera amizade, sabia estar destruindo algo de muito precioso e verdadeiro. Mas como é que poderia ver Louise na Inglaterra? Cedo ou tarde, a garota descobriria que ela tinha um filho, um sobrinho.

Louise foi até a porta.

— Acho melhor ir embora. Está ficando tarde.

— É verdade — Dionne concordou, muito pouco à vontade.

— Sinto muito se deixei você mal.

— Você nã o me deixou mal. — Segurou as mã os de Louise. Eu... eu sinto muito.

A outra encolheu-se, com um gesto de pouco caso.

Pá s du tout. Au revoir, Dionne.

Au revoir. — Sorriu, mas, depois que Louise se foi, as lá grimas desceram, incontrolá veis, por seu rosto.

Só quando voltou a arrumar as malas lembrou do envelope. Abriu-o com mã os tré mulas e um pedaç o de papel caiu no chã o. Era um cheque no valor que ela precisava, para ser descontado num banco da Inglaterra.

Dionne tinha combinado com a empresa de carros de aluguel que dirigiria o Citroen até Marignane e o deixaria lá. Isso lhe poupava o trabalho de procurar algum outro transporte até o aeroporto.

Estava carregando a bagagem até o carro, na manhã seguinte, quando o telefone do hall tocou. O gerente atendeu e depois chamou-a.

— É para a senhorita. Da Inglaterra.

— Inglaterra? — Um frio percorreu sua espinha. Quase arrancou o fone das mã os do gerente. Falou, quase sem fô lego: — Sim? Sim, aqui é Dionne. Quem é?

— Dionne? Aqui é a sra. Reynolds.

A sra. Reynolds era uma vizinha, e Dionne sentiu que sua ansiedade começ ava a se transformar em pâ nico.

— Sim, sra. Reynolds, o que há de errado? Aconteceu alguma coisa?

— Nã o se apavore, minha querida. Nã o é nada sé rio. Sua tia caiu no jardim e quebrou a perna. Nã o está no hospital nem nada, mas, naturalmente, nã o tem condiç õ es de tomar conta do menininho...

Era terrí vel o que tinha acontecido com a tia Clarry, mas Dionne sentiu-se mais aliviada;

— É claro que nã o. Está bem, sra. Reynolds, pode dizer a ela que estou indo para casa hoje à tarde. Já estou de saí da. Posso tomar conta de Jonathan quando chegar.

— Oh, ela vai ficar tã o aliviada, meu bem. Vou desligar entã o. Até a volta.

— Sim, é claro. E obrigada por ter ligado.

— Tudo bem, Dionne. Adeus.

— Adeus, sra. Reynolds.

Dionne desligou e só entã o percebeu que havia algué m parado na porta da cabine. Algué m que agarrou seu braç o, arrastando-a à forç a para fora.

Engasgou, quando Franç ois enfrentou-a, com o rosto colado ao dela.

— Quem, afinal, é Jonathan, sua mentirosa?

 



  

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