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CAPÍTULO VI



 

Foi só no dia seguinte que Dionne compreendeu sua real situaç ã o. Durante toda a noite, ficou atordoada demais para conseguir pensar direito no que tinha acontecido. Apesar de ter dormido profundamente, seu sono foi agitado por sonhos torturantes. Sonhos em que Franç ois tirava Jonathan dela, escondendo a crianç a onde Dionne nunca mais poderia encontrar.

De manhã, sentou-se diante do espelho, com um olhar sombrio e deprimido, fitando aquela imagem triste e abatida.

Mas tudo que conseguia ver era o rosto de Franç ois, quando ele a encarou na porta da cabana, com uma amargura que foi bem pior de que qualquer acusaç ã o.

Por que ele a acusava de ter agido daquela maneira? Será que pensava que ela era o tipo de mulher que tentava um homem só para se negar a ele depois, sem o menor respeito por suas emoç õ es? Será que nã o percebeu que tinha sido tudo tã o terrí vel para ela como para ele? Nã o queria ter recuado; todos os seus sentidos reclamavam o prazer que há muito tempo nã o tinham.

Segurou o queixo entre as mã os, apoiando os cotovelos na madeira polida. Pensando no passado, percebeu como era crianç a e inexperiente na primeira vez em que tinha ido até Camargue, trê s anos atrá s.

Estava quase se formando como professora e agarrou, excitada, a chance de passar trê s meses na Franç a, a maior parte deles na Provenç a.

Passara um perí odo inicial em Paris e depois, num carro alugado, dirigiu-se para o sul. Ficou dez dias explorando os castelos do vale do Loire e continuou atravé s dos vinhedos até a Provenç a. Era maio e o tempo estava agradá vel: nã o bastante quente para trazer os mosquitos comuns na regiã o, nem frio suficiente para impedir que desse longos passeios ao ar livre.

A á rea ao redor de Aries e de Lê s Saintes Maries de la Mer estava repleta de ciganos e turistas, para a comemoraç ã o anual da chegada à Provenç a das trê s Marias que mais tarde dariam nome a Lê s Saintes Maries. Mas era para a criada das santas, para a escura Sara, que os ciganos prestavam homenagem; apesar de nã o ter sido canonizada, era considerada santa pelos ciganos. Havia muitas lendas sobre ela, como Dionne logo aprendeu, e achou tudo aquilo muito excitante.

Com uma má quina fotográ fica e um diá rio de viagem, tinha ido até Lê s Saintes Maries, numa manhã ensolarada, logo depois de chegar à regiã o, sem saber que ia de encontro ao seu destino.

O velho carro alugado nã o era de muita confianç a e, no meio do caminho, a direç ã o travou. Dionne foi parar dentro de um fosso, agradecida por ainda estar viva e perto de um acampamento cigano.

Um homem encantador ajudou-a a sair da vala e levou-a para conhecer sua avó, insistindo para que ela nã o recusasse o convite. Naturalmente esse homem era Franç ois e sua avó, Gemma. Só mais tarde, Dionne descobriu, por acaso, que Franç ois tinha apenas um quarto de sangue cigano e trê s quartos do da aristocracia provenç al.

Mas sentia-se tã o feliz ao lado dele, que nã o pensava em nada, alé m de sua felicidade. Cada dia era um novo deleite, encorajado por aquela formidá vel senhora, Gemma, com quem passavam a maioria dos dias Nã o sabia até entã o que os pais de Franç ois estavam fora e que er esse o motivo de sua estada entre os ciganos.

Mas, mesmo depois que monsieur e madame St. Salvador voltaram e que Dionne sentiu exatamente qual era a posiç ã o e o lugar dela, Franç ois nã o parou de vê -la, recusando-se a deixar que algué m interferisse em seu romance.

Dionne tinha conhecido os seus pais e a sua irmã de catorze anos Louise, e tinha ficado chocada com atitude indiferente e fria dos velhos em relaç ã o ao filho.

Mais tarde, conheceu Yvonne Damaris, e madame St. Salvador deixou bem claro que Franç ois era o futuro marido de Yvonne. O casamento tinha sido combinado pelas famí lias desde que eram crianç as, e nada, nem ningué m, principalmente qualquer uma que tivesse vindo da Inglaterra, iria impedir.

Mas isso os pais de Franç ois haviam planejado sem considerar Gemma, e a velha nã o era algué m cuja forç a se pudesse subestimar.

Dionne passou aqueles dias de calor entre eles, na caravana, nos limites da propriedade St. Salvador, Os namorados viam-se sempre e nenhum dos dois se referia ao fato de que, mais cedo ou mais tarde, os ciganos teriam de seguir seu caminho.

Apesar de amar loucamente Franç ois, Dionne nã o podia tornar-se sua amante. E, curiosamente, mesmo sabendo que tinha a forç a e o poder de quebrar suas resistê ncias e defesas, ele nã o tentava forç á -la.

A moç a amava-o, talvez mais por isso: por sentir-se respeitada. Até sonhava que um dia Franç ois iria desafiar os pais e fugiriam juntos.

Gemma, naturalmente, com a sua astú cia inata, compreendeu a situaç ã o deles melhor do que ningué m. Tinha observado o envolvimento dos dois, sabendo exatamente o que aconteceria.

Em julho, quando o festival da corrida de touros estava sendo realizado em Aries, ela convidou os ciganos de sua tribo para uma reuniã o na Fazenda St. Salvador.

Foram dú zias deles, para desgosto dos pais de Franç ois, mas nã o podiam fazer nada para impedir. O avô de Franç ois tinha deixado a propriedade aos cuidados do filho, mas ela pertencia à sua esposa até que ela morresse.

Aquelas noites de festa, encantamento, vinho, danç a e mú sica despertaram os dois apaixonados.

Ele tinha sangue cigano nas veias, e o verã o bronzeara o corpo de Dionne, deixando-a dourada e tentadora. Ambos apaixonados, e aquele relacionamento chegara a um ponto crí tico.

Gemma nã o podia ter ficado mais feliz. Franç ois era o centro de seu mundo, o neto adorado, sangue do seu sangue, herdeiro dos St. Salvador, e ela se recusava a vê -lo casado com uma mulher fria e calculista como Yvonne Demaris.

Uma tarde, Franç ois levou Dionne para ver uma tourada na arena de Aries. Era uma tarde quente e abafada, e havia cheiro de morte no ar, misturado com o odor de transpiraç ã o. Uma dessas tardes em que a natureza desperta os sentidos e as necessidades do corpo, e Dionne estava bastante consciente de que seus dias na Provenç a chegavam ao fim.

Franç ois també m sabia disso e demonstrava um desâ nimo visí vel.

Quando os gritos da multidã o se transformaram em uivos e vaias de desprezo pela incapacidade de um dos matadores, Franç ois levantou-se e desceu até a arena para tomar seu lugar. Pegou a capa do toureiro, e Dionne observou, numa imobilidade aterrorizada, enquanto fazia passes que excitavam a multidã o até a histeria selvagem.

Franç ois nã o matou o touro; atingiu-o e lutou com a morte por alguns minutos, mas, quando deixou a arena, nã o havia sangue na areia: só um touro cansado e ofegante, tã o confuso como os espectadores.

Dionne correu ao encontro do rapaz, tré mula, censurando-o por assustá -la daquela maneira.

Voltaram para o acampamento, apesar dos protestos dela, e Franç ois contou a Gemma o que tinha feito. A Velha apenas sorriu e brincou com Dionne por ela ser tã o ingé nua e nã o imaginar que seu neto sabia exatamente o que fazia. O incidente, no entanto, serviu para lhe provar que a vida sem ele nã o tinha nenhum sentido.

Aquela tarde foi o clí max das festividades no acampamento, e a mú sica estava mais selvagem e excitante do que nunca.

Para Dionne, os violinos pareciam fazer vibrar cada fibra de seu corpo. As pessoas a observavam com estranheza, pegando em suas roupas e em seus cabelos, com murmú rios feitos numa lí ngua que era ao mesmo tempo instigante e musical.

À medida que o tempo ia passando, ela começ ou a perceber que aquela tarde era diferente das outras que passara no campo. A mú sica e a danç a, o ar de encantamento, tudo contribuí a para um clí max, e ela era parte dele. Mas, de que forma?

Logo descobriria. Quando as chamas do acampamento tornaram-se apenas sombras, Gemma apareceu nas vestes cerimoniais de phur dai, a matriarca da tribo e, em seu deslumbramento, Dionne sentiu que era por aquilo que tinham esperado. Franç ois estava ao seu lado Olhou-o, nervosa, implorando com os olhos por uma explicaç ã o.

O olhar dele foi suave e acariciante, e a luz da paixã o vibrou em seu corpo.

— Amo você. Confie em mim!

Os detalhes do que aconteceu a seguir nã o ficaram na memó ria de Dionne. Tantas coisas aconteceram ao mesmo tempo que, só quando ela e Franç ois trocaram pedaç os de pã o salgado, ela começ ou a perceber que aquilo era um ritual de casamento: uma cerimô nia cigana.

A princí pio, estava com medo, confusa de excitaç ã o e espanto, pela mú sica que recomeç ara e pelos ciganos reunidos à sua volta. Mas, quando ela e Franç ois beberam o delicioso Vinho tinto da mesma taç a e ele colocou aquela corrente de ouro com o medalhã o em seu pescoç o, sentiu-se feliz e relaxada. Ele era o homem que amava, seu marido agora, pelas leis ciganas...

A festa e a danç a continuariam por toda a noite, mas Dionne e Franç ois iriam embora muito antes.

Gemma tinha preparado sua carroç a para eles. Lembrando agora, Dionne percebeu que os dois tinham-se deixado levar pelo clima de entusiasmo e excitaç ã o.

Pareceu tudo tã o natural... A lembranç a da noite que passaram juntos fez seu sangue ferver. Mesmo nesse momento, sentia o vigor no corpo forte e rijo de Franç ois contra o seu, e a paixã o ardente da sua boca e das suas mã os entre as suaves cobertas de seda daquela cama...

Enterrou o rosto nas mã os. Se ao menos eu soubesse o que aconteceria depois, pensou, agoniada. Se ao menos percebesse que tudo nã o passara de uma encenaç ã o, criada para dar a Franç ois aquilo que ele mais queria, de uma maneira que parecesse direita e bonita.

Quando ele a deixou, na manhã seguinte, para voltar à fazenda, ela ainda estava dormindo. Foi a ú ltima vez que o viu.

Esperava que ele voltasse durante aquele dia para levá -la até sua casa. Mas Franç ois nã o voltou e, à noite, Dionne estava desvairada. Nã o tinha ningué m a quem recorrer.

Gemma, sua ú nica e possí vel aliada, tinha partido com o resto da tribo, cedinho, de manhã, deixando aparentemente a carroç a para eles, mas Dionne começ ava a ter dú vidas. E se tudo nã o tivesse passado de uma brincadeira? Se tivesse sido enganada? Gemma teria desaparecido para evitar as consequê ncias desagradá veis do que havia feito?

À s nove horas, Dionne convenceu-se de que fora apenas usada: um brinquedo para a satisfaç ã o de Franç ois. Gemma nã o tinha dito que faria qualquer coisa por ele? E nã o sabia que o neto queria Dionne desesperadamente? Era nojento e humilhante! Tirou a corrente de ouro que Franç ois colocara em seu pescoç o na noite anterior, olhando, chorosa, para o medalhã o de Sara. Nã o desejava nada que a lembrasse da tolice que havia cometido sem querer.

O som de cascos de cavalo levou-a até a janela. Debruç ou-se, observando, anciosa, a silhueta ao luar.

Mas o cavaleiro solitá rio era uma mulher: madame St. Salvador, que pedia para entrar.

Dionne nã o podia fazer nada, a nã o ser concordar, embora a simples presenç a daquela mulher a fizesse pressentir um desastre.

A velha estudou o rosto choroso de Dionne e depois declarou que tinha vindo a pedido do filho.

Explicou que Franç ois ficara envergonhado com a tolice que cometera e que agora achava muito difí cil encontrar palavras que expressassem como se sentia. Aparentemente, tinha contado tudo aos pais. Como nã o podiam desfazer o que já estava feito, e o rapaz tinha ido até eles e pedido perdã o, isso mostrava que sabia claramente qual era seu dever.

Estava comprometido com Yvonne desde crianç a e aquele envolvimento casual com Dionne poderia ser perdoado e esquecido.

Certamente, disse madame, Dionne entendia que aqueles rituais de casamento nã o tinham valor algum e nã o deviam ser levados a sé rio.

A princí pio, a moç a ficou perturbada demais para pensar com coerê ncia, mas a verdade era que a mã e de Franç ois estava apenas falando em voz alta as dú vidas que ela pró pria sentira durante todo aquele dia, desde que se tornou claro e ó bvio que Franç ois nã o voltaria. Apesar de ter protestado, era um protesto de coraç ã o partido frá gil e inseguro.

A humilhaç ã o final, a ú ltima rejeiç ã o, foi o cheque que madame St. Salvador lhe entregou, preenchido pelo pró prio Franç ois, pagá vel num banco da Inglaterra. Deu uma satisfaç ã o enorme a Dionne rasgar aquele cheque em mil pedaç os na frente da mã e dele. Apesar de que sentiu que estava fazendo apenas o que a outra queria.

Depois daquilo, só pensou em ir embora. No dia seguinte, pegou um voo e saiu de Marselha. Estava abatida e sombria, mas nem a deserç ã o de Franç ois podia apagar as lembranç as da noite que passaram juntos.

Ele tinha sido um amante tã o maravilhoso, e saber que nã o o veria mais era agoniante.

Naturalmente, depois que chegou na Inglaterra e sua vaidade ferida começ ou a cicatrizar-se, esperou que ele fosse atrá s dela. Nã o seria difí cil conseguir seu endereç o em Londres. Imaginou que estaria arrependido por ter fugido daquela forma. Mas nã o aconteceu.

Foi como se aquele perí odo na Franç a nunca tivesse passado de um sonho, e tia Clarry nã o conseguia entender por que a sobrinha, que tinha escrito tã o entusiasticamente da Provenç a, tomasse tal aversã o sú bita pelo lugar.

Quando Dionne descobriu que estava grá vida, ficou desesperada.

Na sua mente perturbada, nã o podia ver futuro algum para ela nem para a crianç a. Se nã o fosse a intervenç ã o de Clarry, algo de terrí vel teria acontecido.

A tia conseguiu arrancar-lhe a verdade aos poucos e, finalmente, fez com que Dionne voltasse a pensar com lucidez. Ela era jovem e tinha a vida inteira diante de si, alé m de forç a e capacidade para recuperar-se. Alé m disso, o que lhe acontecera nã o tinha sido um desastre irrepará vel: ela nã o era a ú nica mulher no mundo a passar por aquilo.

Era claro que nã o contaria nada a Franç ois sobre isso, estava decidida. Por que deveria? Ele nã o tinha nenhum direito sobre a crianç a. Ele a abandonara como se ela nunca tivesse existido, e nã o queria nada dele.

Sua tia foi formidá vel. Concordou que Dionne deveria ficar com o bebé, e quando Jonathan nasceu foi tã o mimado e amado como qualquer outra crianç a.

Dionne conseguiu um cargo de professora, e Clarry tomava conta do menino, enquanto ela trabalhava. Nã o foi tã o mal. As coisas foram se ajeitando. Nã o tinham muito dinheiro, mas nã o passavam necessidade.

Foi apenas quando Jonathan ficou doente que Dionne começ ou a perceber o que Franç ois poderia ter feito, caso soubesse da existê ncia do filho.

Depois, poucas semanas atrá s, o mé dico disse-lhe que a crianç a precisava sair daquele ú mido clima inglê s, e tia Clarry aconselhou-a gentil e insistentemente que pedisse ajuda a Franç ois: devia isso ao filho.

As lá grimas caí am de seus olhos sem parar e, pela primeira vez, deixava que caí ssem. Que belo fiasco tinha sido sua viagem de volta à Franç a! Um desperdí cio de dinheiro que faria falta mais tarde.

Deveria saber que era uma loucura ir até lá para pedir algo a Franç ois, depois do que acontecera. Mesmo assim, nã o sabia, até sua chegada, que ele tinha seus pró prios problemas; mas estes nã o eram nada, comparados à amargura que havia sofrido em suas mã os.

Dionne levantou-se, enxugando os olhos. O que faria? Nã o podia mais ficar ali. Nã o depois de ter jogado a oferta de dinheiro na cara de Franç ois.

Nada poderia mudar o curso das coisas e, depois do incidente na cabana, seria uma louca se ficasse.

Franç ois tinha provado que ainda era tã o capaz de destruir suas defesas como sempre fora. Como ele ia zombar, se ela permitisse que toda a histó ria se repetisse. Bateram na porta e seu coraç ã o disparou.

— Sim? O que é?

Lê té lé phone, mademoiselle! — a arrumadeira avisou. — Vai descer agora?

O coraç ã o traiç oeiro começ ou a acalmar-se. Naturalmente devia sei Henri. Ele disse que telefonaria. Era gratificante saber que tinha algué m tã o atencioso e que queria sua companhia. Eram apenas nove horas da manhã, e já estava telefonando. Ou será que seus motivos eram tã o calculistas como haviam sido os de Franç ois? De qualquer forma, nada importava. Nã o tinha intenç ã o alguma de se envolver com ele. Mesmo assim, nã o podia se recusar a atendê -lo, quando haviam passado uma tarde agradá vel juntos, dois dias atrá s. Seria muita ingratidã o nã o responder ao seu chamado.

— Vou descer dentro de um minuto. — Tirando seu robe rapidamente, vestiu calç as compridas e uma blusa.

A voz de Henri era suave e agradá vel.

— Dionne? Oh, é tã o bom ouvir você novamente. Como vai?

Dionne respondeu polidamente e Henri comentou:

— Parece tã o sombria, tristonha. Será que o meu telefonema causa esse efeito em você... como diria... essa depressã o?

— É claro que nã o, Henri. Foi gentil ligando, mas receio que terei de partir logo.

— O quê? Vai embora? Embora da Provenç a? — Ele parecia terrivelmente desapontado.

— Receio que sim. Eu... eu... tenho de voltar para a Inglaterra.

— Mas por quê? Você está aqui há menos de uma semana!

— Eu sei. Mas... bem, tenho de voltar.

— E quando vai embora?

— Eu... ainda nã o estou certa. Hoje... amanhã, talvez. Depende de quando possa conseguir um voo.

— Entã o, tem de ser amanhã. Pelo menos, me deixe passar mais um dia na sua companhia.

Dionne hesitou. Apesar da distâ ncia que queria colocar entre ela e os St. Salvador, seu coraç ã o era bastante fraco para sucumbir ante a perspectiva de ficar mais um dia perto de Franç ois. Era estú pido, talvez até irresponsá vel e infantil, mas a ideia de ir embora precipitadamente causava-lhe uma incrí vel dor no peito.

— Muito bem — respondeu ao convite de Henri. — Está certo, vou tentar uma reserva num voo da manhã.

Ela se desprezava por tanta fraqueza, mas a coisa já estava feita, e Henri ficou encantado.

— O que você vai querer fazer? Estou livre o dia inteiro. Gostaria de fazer um tour? Até os vinhedos? Até Lê s Baux? Até Nimes talvez?

— Nã o... nã o... lá, nã o — falou, rapidamente. — Nó s nã o poderí amos... quero dizer... será que seria possí vel irmos apenas até Lê s Saintes Maries? Que tal almoç armos lá e mais tarde nadarmos?

Henri parecia entusiasmado.

— É claro. Se é o que quer, Dionne. Eu nã o conseguiria sugerir algo mais delicioso. Quando é que estará pronta?

Dionne olhou para o reló gio.

— Você me dá uma hora? Ainda nã o tomei café, e quero telefonar para o aeroporto.

Henri concordou e desligou. Dionne saiu da cabine, sentindo-se um pouco melhor. Já que sua partida tinha sido adiada por um dia, poderia relaxar mais um pouco. Tomou café no restaurante e depois subiu para se trocar e vestir algo mais adequado. Resolveu que usar calsas compridas seria a melhor soluç ã o, mas colocou o biquini verde por baixo, para evitar o problema da troca de roupa. Depois disso, aplicou uma maquilagem leve e desceu para telefonar para o aeroporto.

Tinha havido um cancelamento no voo do dia seguinte e ela reservou o lugar para si. Quando saiu da cabine, encontrou-se com o gerente amistoso e contou-lhe que deixaria o hotel na tarde seguinte

— Oh, mademoiselle, espero que nã o haja nada de errado. Espero que em casa tudo esteja bem; nã o está?

— Sim, está tudo bem. Apenas, tenho de voltar. Mas gostei muito da minha estada aqui e vou recomendar seu hotel para os meus amigos.

O gerente ficou deliciado com o elogio, e Dionne continuou seu caminho, sentindo a mesma sensaç ã o estranha que tinha quando pensava seriamente no que estava fazendo.

Henri chegou pouco depois das dez horas e foram até Lê s Sainte Maries.

Havia vá rios turistas na igreja do sé culo XII, onde as relí quias das santas eram guardadas. Dionne lamentou quando notou que a pequena cidade estava se tornando mais moderna e comercial.

O almoç o, num dos restaurantes locais, foi delicioso. Depois deixaram o carro e caminharam até a praia para desfrutar a tard ensolarada.

Encontraram um lugar calmo perto de algumas rochas, e Dionne estendeu sua toalha e deitou-se preguiç osamente, sem tirar a roupa. Henri tinha um sué ter nos ombros; colocou-o na areia e deitou-se ao lado dela, observando-a, ansioso.

— É absolutamente necessá rio que você volte para a Inglaterra amanhã? — perguntou, acariciando uma de suas mã os.

Dionne soltou-se, gentilmente, e virou-se de bruç os, apoiando-se nos cotovelos.

— Receio que seja.

Depois, olhou, atenta, um navio no horizonte.

— Por quê? Você está de fé rias. É claro que pode esperar mais alguns dias.

— Nã o é tã o simples assim. Tenho... bem... compromissos em casa.

— Que compromissos pode ter? Dionne pensou, antes de responder.

— Henri, você nã o sabe absolutamente nada sobre mim. Eu poderia ser casada, já pensou nisso?

— Você nã o usa alianç a.

— Isso nã o quer dizer nada. Nã o é uma garantia. Milhares de moç as na Inglaterra nã o usam alianç a. Nã o há lei que obrigue.

— E você é? Casada, quero dizer?

— Nã o.

Henri relaxou e inclinou-se sobre ela.

— Entã o, você nã o poderia ficar apenas para me agradar?

— Nã o, nã o posso. — Dionne sacudiu a cabeç a firmemente, e depois levantou-se. — Vamos nadar?

A rapidez da mudanç a de assunto surpreendeu Henri, mas, um tanto relutante, ele concordou. Dionne despiu-se, e Henri ficou observando-a admirado.

— Linda! — ele murmurou.

Ela correu para a á gua e mergulhou. Henri ficou olhando por um instante; depois, desapareceu atrá s das rochas. Quando apareceu novamente, estava usando um calç ã o branco que acentuava seu bronzeado. Juntou-se a Dionne na á gua e, por uma meia hora, nadaram e mergulharam, felizes e despreocupados.

Quando voltaram à areia, Dionne enxugou-se, antes de deitar-se novamente ao sol.

Henri sentou-se ao lado dela, fitando intensamente seu rosto corado.

— Dionne — ele murmurou.

Diante do perigo, ela endireitou-se para evitar aquele olhar apaixonado.

— Por favor, Henri! Nã o estrague tudo.

— Por que estaria estragando tudo? Pensei que gostasse de mim.

— E gosto. — Dionne abraç ou os joelhos. — Gosto de você, Henri, mas nã o quero me envolver de forma alguma. Sinto, se nã o foi isso que fiz você pensar... sinto se dei essa impressã o errada.

— O que quer de mim, entã o? — Sua voz, jovem e petulante, fez com que Dionne percebesse que Henri nã o era tã o maduro como ela pensara que fosse. — Você aceita um convite para almoç ar... viemos até aqui, onde estarí amos sozinhos... e depois diz que nã o quer se envolver! O que pensa que eu sou?

Dionne fitou-o, muito infeliz, com um arrepio de apreensã o percorrendo sua espinha.

— Henri, por favor... — começ ou a explicar, mas ele ignorou puxando-a inesperadamente e fazendo com que perdesse o equilí brio e caí sse em seus braç os. Seus lá bios procuraram os dela, e Dionne virou a cabeç a, tentando evitar o beijo, lutando, empurrando-o.

Mas sua resistê ncia parecia excitá -lo ainda mais, e ele a segurou mais perto, á vido, com a respiraç ã o entrecortada pelo desejo.

Dionne começ ava a se sentir realmente zangada, quando, de repente, Henri foi arrastado para longe dela, e um soco no estô mago e outro no queixo o atiraram na areia, com um gemido.

Dionne levantou-se, encontrando o olhar frio, penetrante e cheio de censura de Franç ois St. Salvador.

— Vista-se. Ponha alguma roupa! — ele ordenou, antes de ajudar Henri a levantar-se.

O rapaz estava se recuperando, reclamando e esfregando o estô mago atingido. Seus olhos ficaram turvos de espanto, quando reconheceu Franç ois.

Franç ois? C’est mó i, Henri! A quoi pensez-vous?

— Agora nã o, Henri. Nã o estou com humor para brincadeira!

C’est é vident! — disse, massageando o maxilar. — Nã o entendo você, Franç ois! O que fiz de errado? Conhece mademoiselle King?

Oui! Conheç o mademoiselle King?

Henri ficou perplexo e olhou curiosamente para Dionne. Mas ela estava muito ocupada, vestindo as calç as compridas sobre o biquini ú mido.

Quando acabou de vestir-se, Franç ois agarrou seu braç o e, com um cumprimento seco a Henri, levou-a pela areia até onde estava a caminhonete empoeirada. Abriu bem a porta e empurrou Dionne para dentro. Depois, entrou e deu a partida. O carro pesado fez um semicí rculo e partiu aos solavancos pela superfí cie desigual da praia, até a estrada. Dionne estava sentada, paralisada e surpresa, sem entender como e por que ele estava ali naquele momento.

 



  

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