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CAPÍTULO V



 

À sombra dos ciprestes, a casa da fazenda parecia acolhedora. Havia um pequeno jardim e uma horta na frente, cultivados por madame St. Salvador. Ela era uma jardineira habilidosa, pelo que Dionne podia se lembrar, apesar de que as lembranç as que tinha da mã e de Franç ois eram sempre pinceladas de amargura.

Nã o havia ningué m por perto, quando chegaram no pá tio, e Dionne olhou ao redor, com interesse.

Aquela construç ã o era tí pica da Camargue, compacta e baixa, mas bem maior do que a maioria. As janelas eram altas e estreitas, com travas para enfrentar o mistral.

Dionne observava Franç ois, que tinha levado os cavalos até um bebedouro e agora voltava até ela com passadas preguiç osas. Ele parou a seu lado, dando-lhe um olhar penetrante.

— Bem, está como você se lembrava?

Dionne concordou, sem ousar falar, e ele segurou seu braç o, guiando-a até a entrada da casa. Aquele toque era insuportá vel. libertou-se, rapidamente, mas Franç ois tornou a agarrá -la. Abriu uma porta à esquerda do hall e praticamente empurrou a moç a para dentro da cozinha enorme.

Dionne percebeu primeiro que o fogo ardia na estufa. Depois, notou que havia mais algué m lá. Uma mulher fatiava um presunto, ajudada por uma menina de uns quinze. Reconheceu imediatamente madame St. Salvador, apesar de ela estar bastante envelhecida.

O olhar da velha pousou sobre Dionne e depois foi até Franç ois. Disse, com impaciê ncia:

— Entã o, você a trouxe mesmo?

Falou em inglê s, para que Dionne entendesse que nã o era bem-vinda.

Franç ois fez um gesto de indiferenç a.

— Parece, nã o é?

Madame St. Salvador enxugou as mã os numa toalha e falou com a menina que a ajudava, despachando-a imediatamente dali. Depois, aproximou-se de Dionne, com desconfianç a no olhar.

— Por que veio? — perguntou, sem rodeios, chocando-a com a rapidez do ataque.

Franç ois ergueu a mã o, interrompendo.

— Você sabe por que ela está aqui, mamã e. Recebeu um olhar de escá rnio da velha.

— Oh, oui, eu sei por que ela está aqui na fazenda, mas gostaria de saber por que voltou a Camargue! Quero saber por que ela acha que, só porque foi sua amante, tem algum direito...

Sois silencieuse! — Franç ois gritou, e a mã e baixou os olhos, ressentida. — Maintenant, onde está Yvonne? — Olhou em volta. Está descansando?

A velha encarou-o, como se nã o fosse responder, mas o que viu nos olhos de seu filho fez com que mudasse de ideia.

— É claro que está descansando. Você sabe que ela sempre descansa depois do almoç o. Chegaram muito atrasados. Estou certa de que sabe disso.

Franç ois foi até a porta.

— Depois iremos ver Gemma — falou, olhando para o rosto pá lido de Dionne.

Madame St. Salvador encolheu os ombros ossudos. Sempre tinha sido uma mulher magra, e os cabelos, agora grisalhos, acentuavam suas feiç õ es macilentas.

— Como quiserem.

Dionne engoliu em seco: a mã e de Franç ois nã o mudara nem um pouco. Ainda a odiava tanto quanto antes. Cada minuto que passasse naquela casa seria um tormento.

Olhou para Franç ois, desesperada, à procura de algum apoio. Mas, fora um mú sculo mais tenso acima da linha do maxilar, ele parecia completamente indiferente à tensã o entre as duas.

— Venha! — Dionne acompanhou-o, feliz por escapar daquela presenç a constrangedora.

Lá fora, na passagem estreita, Franç ois dirigiu-se até outra porta mais adiante, mas Dionne agarrou sua manga, num impulso.

— Por favor... por favor... nã o me faç a entrar! Ele hesitou.

— Por quê? O que você esperava de maman? Boas-Vindas? Uma recepç ã o, talvez?

— Nã o, é claro que nã o! — Encarou-o. — Nã o vê como ela me odeia? Todo mundo aqui me detesta!

Franç ois nã o discutiu sua ú ltima observaç ã o, apesar de que Dionne esperava que ele o fizesse. Certamente, concordava com ela e, por isso mesmo, a obrigara a ir. Agonia e humilhaç õ es eram o preç o que teria que pagar pelo dinheiro.

Virando-se, ele bateu de leve na porta, e uma voz frá gil respondeu:

Entrez!

Franç ois abriu a porta e entrou, com uma expressã o completamente diferente daquela de segundos antes. Dionne ouviu uma voz familiar, apesar de enfraquecida, dizer:

Ah, Franç ois, c’est toi! Tu as apporté Dionne? Franç ois afastou-se para que ela entrasse.

Elle est lá. Voyons, Dionne.

A moç a passou, relutante, para dentro daquele quarto sombrio. Era um quarto grande, com revestimento de madeira nas paredes, onde havia quadros impressionistas da Camargue, feitos por Demetre, o artista cigano que Gemma tinha ajudado tanto. Tapetes enfeitavam o chã o de madeira polida, e a mobí lia era grande e pesada. A maioria muito antiga.

Uma cama de quatro colunas ocupava a maior parte do espaç o. Deitada entre vá rias almofadas, estava uma velha enrugada e miú da, com olhos escuros, tã o vivos e inquisidores como Dionne se lembrava.

Era Gemma, a avó cigana de Franç ois, de quem ele havia herdado o temperamento voluntarioso, assim como a pele e os cabelos escuros, e o brilho do olhar. De todos que tinha visto até aquele momento Gemma era a que menos mudara. Dionne imaginava o que a teria feito abandonar sua caravana e voltar mais uma vez para aquela casa que tanto desprezava.

Dionne parou na porta, enquanto aqueles olhos vivos se viravam em sua direç ã o. Depois, Gemma indicou para que se aproximasse e a moç a obedeceu.

— Alo, Gemma, como vai?

Durante alguns minutos a velha apenas a observou, deixando-a nervosa e sem jeito. Depois, virou-se para o neto, com aprovaç ã o.

— Ben, estou agradecida a você, Franç ois. Pode nos deixar a só s por um instante?

— Oh, mas... — Dionne começ ou, mas logo foi silenciada pelo olhar de Franç ois, que se dirigiu para a porta, com um aceno de adeus para a avó.

A moç a observou a pesada porta fechar-se atrá s dele, e enterrou as unhas na palma da mã o. Depois, olhou para a cama, onde aquela pequena mulher indomá vel parecia dominá -la. Gemma lhe dissera certa vez que tinha sangue de reis ciganos nas veias. Olhando para ela agora, Dionne nã o duvidava disso.

A velha fez um gesto de impaciê ncia.

— Ache um lugar para se sentar. Aqui... na cama... ao meu lado... Passou a mã o no rosto pá lido da moç a. — Entã o, você voltou para nó s.

— Por pouco tempo...

— Para ver Franç ois?

— Foi, sim — respondeu, baixinho, desviando o olhar.

— Por quê? — Gemma era como Franç ois; direta e objetiva. E como a mã e dele tinha sido, se bem que de um modo muito diferente.

— Preciso de dinheiro — Dionne disse a verdade. Nã o havia motivo para enganar Gemma. Mais cedo ou mais tarde, a velha senhora conseguiria saber o que ela queria. Dionne só tinha medo de nã o ter forç as para enfrentar outras perguntas mais diretas e pessoais.

— Entendo. — A velha recostou-se e seus olhos se estreitaram. — E por que vir até Franç ois? Depois do que aconteceu, pensei que ele seria a ú ltima pessoa a quem você pediria ajuda.

— Nã o havia mais ningué m a quem pedir.

— E você acha que pedir a ele é justo?

— Nã o sei.

— Por que precisa de dinheiro? Está em dificuldades? Em apuros?

— Nã o. Nã o... exatamente. — Dionne olhou para ela, sentindo-se ameaç ada. — Olhe, Gemma, isto é entre ele e eu... ningué m mais. Sinto muito, mas é assim que tem de ser. Se Franç ois acha que me trazendo até aqui... até você... ele pode...

Gemma interrompeu-a, com os olhos faiscantes.

— Eu pedi que trouxessem você. Quando Louise me disse que estava em Aries...

— Louise contou?

— Ló gico. Nã o acha que Franç ois... Nã o, Louise foi a responsá vel, com certeza, você o conhece melhor do que isso, Dionne. Pelo menos, deveria conhecer.

O rosto da moç a queimava. Levantou-se da cama e atravessou o quarto até a janela estreita.

— Você... você nã o me contou por que está morando aqui. Por que abandonou a caravana?

Gemma observou-a durante uns minutos.

— Caí... vá rios meses atrá s. Esses mé dicos... eles tê m tanto medo da morte, que teimam em proteger todo mundo. Insistiram que eu fosse trazida para cá e ficasse sob observaç ã o! — Fechou os punhos.

Sobre a maç aneta, Gemma abriu os olhos novamente, e ela poderia jurar que a outra nã o estava cansada, apenas fingia.

— Quero ver você novamente. Quando volta?

— Mas... mas eu tenho que voltar para a Inglaterra!

— Por quê? O que há de tã o urgente por lá? Um homem?

— Nã o! Nã o, eu tenho meu trabalho...

— Tolice! Você está apenas arranjando desculpas! Franç ois vai arrumar tudo. Mande-o aqui, depois que sair.

Os olhos de Gemma fecharam-se novamente, e Dionne saiu do quarto em silê ncio.

No corredor, hesitou; depois, ouviu vozes na cozinha e soube que tinha que ir até lá para achar Franç ois. Relutante, abriu a porta e entrou.

Apesar de ele e a mã e estarem lá, foi para a mulher na cadeira de rodas que Dionne olhou: Yvonne Demaris, a moç a com quem madame St. Salvador queria, tã o desesperadamente, que o filho casasse.

Yvonne, surpreendentemente, nã o tinha mudado muito, apesar do acidente.

Sempre foi muito atraente, com seus cabelos dourados — presos no momento num rabo-de-cavalo —, suas feiç õ es delicadas, rosto oval e doces olhos azulados. Mas naquele momento havia hostilidade neles, como ela també m percebera nos olhos de madame, e seus dedos, que alisavam nervosamente a manta que cobria suas pernas, traí ram a agitaç ã o da moç a.

Dionne admirou a forç a de cará ter de Gemma. Obviamente, nenhuma daquelas duas mulheres a queria ali, mas a opiniã o delas nã o tinha a menor importâ ncia para a velha autocrá tica, cuja palavra sempre prevalecera sobre a de qualquer um: exceto, talvez, a de Franç ois.

Por alguns segundos agoniantes ningué m falou. Até que Franç ois quebrou o silê ncio tenso.

— Ela mandou você embora? Dionne concordou.

— Acho que pode colocar a coisa nesses termos. — Olhou para a outra moç a: — Olá, Yvonne. Eu... eu sinto sobre o seu acidente. Mas você parece ó tima.

Yvonne levantou os olhos, rapidamente, para a mã e de Franç ois.

— Por que ficaria sentida, mademoiselle? Estou certa de que a notí cia sobre a minha desgraç a deleitou-a! — ela falou, com ironia e frieza.

Dionne ficou vermelha de indignaç ã o.

— Está inteiramente errada. Qualquer pessoa se sentiria angustiada ao ouvir tal coisa! — Depois, acrescentou: — No entanto, estou contente que nã o tenha perdido també m o fio de sua lí ngua, Yvonne! Continua afiada como sempre.

— Como se atreve a vir até aqui e falar comigo dessa maneira? Você...

Pour l’amour de Dieu! — Franç ois levantou os olhos para o teto. — Chega de palhaç ada! Nã o vou aguentar mais isto! — Olhou para Dionne. — Sente-se! Minha mã e fez café. Vamos tomar um pouco, antes de sair, oui?

Dionne foi sentar-se no banco de madeira perto do fogo. Apesar do calor do dia, lá fora, a cozinha estava bem fria, e sentiu-se melhor perto da estufa. Madame St. Salvador, relutante, foi até o fogã o, depois pegou xí caras e pires e colocou tudo numa bandeja. Yvonne segurou o braç o de Franç ois e falou baixinho com ele, usando um dialeto que Dionne nã o entendia, excluindo-a completamente da conversa. Franç ois ouvia atentamente, inclinado para ela.

Dionne pensava, intrigada. Por que será que eles nã o se casaram antes do acidente? Louise contara que o fato ocorrera há trê s anos, e a presenç a de Yvonne na casa mostrava que nada mudara desde entã o.

Quais seriam as chances de Yvonne se recuperar? Será que voltaria algum dia a levar uma vida normal? Uma vida como mulher casada? Será que seria capaz de dar a Franç ois um filho que continuasse a linhagem St. Salvador? Dionne suspirou. Alé m das dú vidas sobre contar a Franç ois a respeito de Jonathan, a situaç ã o agora a impediria. Yvonne sempre ficaria entre eles. Nã o importava o quã o desagradá vel a outra tinha sido para com ela no passado. Dionne nã o podia pensar em destruir suas esperanç as.

Madame St. Salvador entregou-lhe uma xí cara de café espumante e aromá tico. Estava forte e bem preto, como ela precisava depois dosacontecimentos daquela tarde.

Franç ois acendeu uma cigarrilha e saiu de perto da cadeira de Yvonne, com um olhar de aprovaç ã o para Dionne. Só entã o, ela se lembrou do pedido de Gemma.

— Sua... sua avó quer vê -lo, antes de saí rmos. Eu tinha esquecido de dizer.

Franç ois hesitou. Depois, deixou a cozinha. Sozinha com Yvonne e madame St. Salvador, a moç a sentiu-se apreensiva.

A mã e de Franç ois deu café para Yvonne e depois olhou para Dionne.

— Quando vai embora?

— A senhora quer dizer quando volto para a Inglaterra?

— É claro.

— Nã o estou certa ainda. Dentro de poucos dias, acho.

Yvonne olhou para as mã os nuas de Dionne, depois para o maravilhoso solitá rio de brilhante em seu pró prio dedo.

— Você nã o está casada, entã o? Ou noiva?

— Nã o.

Madame St. Salvador foi até ela.

— Voltou para causar encrenca, mademoiselle?

Dionne foi apanhada de surpresa.

— Nã o... nã o, é claro que nã o. Eu nã o queria vir até a fazenda. Foi... foi Gemma quem quis. Estou certa de que você s sabem disso.

— Gemma! — A mã e de Franç ois disse, por entre os dentes. Aquela mulher tem sido a causa de todo o problema entre meu filho e a pró pria famí lia! Ela faz o que pode para arruinar a vida dele!

— Gemma é parte de sua famí lia també m — Dionne observou, calmamente.

A velha levantou a cabeç a, irritada.

— Ela nã o é da famí lia. É uma cigana, uma cigana preguiç osa que nã o serve para nada, a nã o ser para roubar cavalos! Uma mulher descuidada e irresponsá vel que pensa que pode governar nossas vidas! — Seus punhos se fecharam. — Mas está ficando velha. Velha, você ouviu? E vai morrer logo! Depois, estaremos livres dela... de suas feitiç arias e superstiç õ es, suas crenç as idiotas que trouxeram azar para esta casa.

Dionne afastou-se, com desprezo.

— Ela é velha, é verdade, mas nã o é irresponsá vel! A senhora sabe que era uma princesa em sua tribo e, se o avô de Franç ois nã o tivesse se apaixonado e trazido Gemma para morar aqui, ela teria casado com o chefe da tribo!

Allons, donc! — madame St. Salvador reclamou. — Qual foi o conto de fadas que ela contou a você? Ela casou com o meu sogro, mas o amor que tinha pela famí lia era tã o grande que, assim que o marido faleceu, ela abandonou tudo e voltou para sua vida nó made!

Dionne levantou-se.

— A senhora nã o entende que ela detestava ficar confinada? Detestava viver numa casa, tendo o mesmo cená rio nas janelas todos os dias, ano apó s ano? E quando o marido morreu, o filho já estava casado... com a senhora.

Madame St. Salvador chegou o rosto para perto do de Dionne.

— Meu marido ao menos conhecia sua posiç ã o, mademoiselle! Ele desprezava a mã e tanto quanto eu!

— Acha que nã o sei disso? — Dionne sentia-se ferver de raiva por aquelas crí ticas a uma mulher de quem gostava tanto. — A senhora fez da vida dela um inferno! Uma vida de regras e leis, cheia de planos para o futuro de Franç ois! Nunca se importou com a felicidade dele; só queria que satisfizesse suas ambiç õ es de poder!

— Como você ousa? — A mã e de Franç ois estava vermelha de raiva, e Yvonne, inclinada em sua cadeira, tinha um brilho iró nico nos olhos. — Você... você é uma criadora de caso, tentando seduzir meu filho com a sua conversa intelectual, quando tudo o que realmente queria era ir para a cama com ele! Usou aquela conversa fiada de que estava fazendo pesquisas sobre arte cigana. — Ela respirou fundo. E essa velha senil, encorajando você. Pobre tola! Você nã o percebeu que ela faria qualquer coisa para se vingar de mim? Até mesmo arranjar uma amante para meu filho!

Dionne arquejava, puxando o colarinho da blusa com dedos tré mulos.

— A senhora é uma mentirosa maliciosa! — gritou, e depois recuou, ató nita, quando a mã o de madame St. Salvador estalou em seu rosto.

— Deus do cé u! O que está acontecendo por aqui?

Franç ois entrou na cozinha, raivoso, olhando de uma para a outra. Dionne estava parada, estatelada, com a mã o no lugar atingido pela bofetada, a velha agarrava a ponta da mesa de madeira, num esforç o para manter-se em pé.

— Tire essa mulher da minha casa! — ela gritou ferozmente. Ela me disse as coisas mais vis e infames! Como é que você pode trazê -la aqui, sabendo o que ela sente sobre... mim... e sobre todos aqui!

— Isso nã o é verdade!

A resposta indignada de Dionne perdeu-se, abafada pelos soluç os histé ricos de madame St. Salvador. Yvonne começ ou a falar usando dialeto com Franç ois, enquanto dirigia olhares desaprovadores em direç ã o de Dionne. Empurrou a cadeira até aquela que ia ser sua sogra e passou o braç o à sua volta, de uma maneira confortadora ostensivamente amiga.

Dionne olhou para os trê s: madame, soluç ando; Yvonne tentando sem sucesso, consolá -la, e Franç ois com uma expressã o exasperada procurando, obviamente, decidir quem estava com a verdade. Num impulso, Dionne correu para fora dali, para o pá tio.

Ficou lá fora, tentando se reanimar com o ar fresco e acalmar as batidas rá pidas e instá veis de seu coraç ã o. Nunca havia sido tã o humilhada. Nem mesmo naquela ocasiã o, trê s anos atrá s, quando madame St. Salvador lhe disse muito claramente qual era o dever de Franç ois. Agora, sentia-se desolada, sem nada que pudesse consolá -la.

Caminhou pelo pá tio e foi se debruç ar na cerca de um curral, ond vá rios cavalos brancos daquela propriedade ficavam presos depois do trabalho da manhã.

Montes de feno tinham sido jogados no curral, e os animais comiam placidamente, sem dar atenç ã o ao que se passava à volta deles.

Dionne invejou-os. Como era simples a vida para eles! Tudo que se esperava dos animais era um dia de trabalho produtivo em troca de abrigo e comida e, quando necessá rio, que se reproduzissem.

Passou a mã o no rosto, enxugando as lá grimas que teimavam em cair. Nunca deveria ter voltado para ali novamente, tornou a pensar, como pensara inú meras vezes antes daquele momento. Nunca deveria ter deixado Clarry interferir e convencê -la de que Jonathan nã o podia ser privado da sua ú nica chance de cura, simplesmente porque ela era orgulhosa demais. Nã o fazia sentido o menino continuar sofrendo, quando o pai tinha uma fortuna incalculá vel.

Há coisas que valem muito mais do que dinheiro. Ao pensar nisso, estremeceu, imaginando como se sentiria, se a mã e de Franç ois alguma vez tomasse a seu cargo a educaç ã o de Jonathan. E isso poderia acontecer!

Estava tã o absorta com sua infelicidade, que nã o percebeu que algué m havia parado atrá s dela. Assustou-se, quando Franç ois falou:

— Dionne! — O tom era completamente diferente daquele que tinha usado na casa.

Afastou-se, mas ele insistiu:

— Dionne, pelo amor de Deus! Pare de olhar para mim como se eu estivesse no ponto de agredi-la. Nã o pretendo bater em você. Estou... apenas muito sentido por você ter passado... pelo... que passou!

— Isso é uma desculpa pelo que aconteceu?

— Eu nã o me desculpo por ningué m. Estou apenas dizendo o que sinto.

Dionne fez um meneio de cabeç a.

— Você s... você s St. Salvador! Quem é que pensam que sã o? Lutou com um soluç o que lhe subia à garganta. — Quem, exatamente, você s pensam que sã o? Eu nã o queria vir até aqui, e nã o queria o tipo de confrontaç ã o que tive com a sua mã e. Mas você estava ansioso demais para me castigar, nã o é? Bem, conseguiu o que queria.

— Acha que fiz isso?

— Fez! Claro que sim. Você tem me tratado como... como um... fantoche... desde que cheguei, fazendo com que eu dance ao som da sua mú sica, porque é mais forte. Pois agora chega! Estou farta de todo este negó cio! Pode guardar seu maldito dinheiro! Nã o preciso dele.

— Dionne! — ele falou, furioso, mas ela virou-se, correndo até Melodie.

Ignorou sua ordem de deixar o animal e montou na é gua, fazendo com que ela se apressasse em sair dali, antes que Franç ois tivesse chance de impedi-la. Viu que ele pulava na sela de Consuelo e sentiu-se tré mula de apreensã o. Sabia que nã o podia brincar com ele: era perigoso demais.

Apesar disso, nã o parou para considerar as consequê ncias: agarrou-se à crina de Melodie e galopou pelo gramado diante da propriedade.

A é gua branca correu pelo campo, mas, dessa vez, Dionne nã o teve medo. O vento em seus cabelos era delicioso e revigorante, depois da atmosfera de ó dio e suspeita daquela casa.

Sentiu que o vento soltava seus cabelos, espalhando-os pelas costas, mas nã o se importou. Era maravilhoso sentir-se livre novamente.

Mas, quando chegou aos pâ ntanos, a é gua de Franç ois ganhou velocidade e, logo em seguida, ele a ultrapassou e parou na sua frente. Dionne desviou-se, quase derrubando-o, mas Melodie se assustou e empinou, jogando Dionne fora da sela. Caiu sentada na lama. Nã o sentiu dor, nem humilhaç ã o, mas ó dio, ao ver suas calç as e sua blusa tã o fina estragadas.

Ficou lá, no chã o, por vá rios momentos, aborrecida demais para levantar-se. Pouco depois, Franç ois estava ao seu lado, desmontando da é gua e inclinando-se para ela, ansioso.

— Dionne, você está bem? Machuquei você?

Ela olhou para cima, pasma com seu tom preocupado. Apoiou-se nos cotovelos, e a blusa abriu, revelando a curva dos seus seios.

— Estou suja, é só. — O antagonismo desapareceu, diante da preocupaç ã o nos olhos de Franç ois. Sacudiu a cabeç a. — Acho que foi loucura fazer isso. Sinto muito, Franç ois.

— Dionne! — Ele ficou de pé, passando a mã o em seus cabelos. — Pelo amor de Deus, tente levantar-se.

A moç a olhou-o, vencida por sua forç a, sua personalidade perturbadora e a desesperada necessidade que tinha dele.

Deliberadamente ela falou: — Ajude-me. A nã o ser que nã o queira se sujar.

Franç ois estendeu-lhe a mã o, aparentemente controlado, e Dionne segurou-a sentindo aquele contato queimar sua pele. Ele ergueu-a com facilidade; depois, soltou-a, virando-se para segurar as ré deas de Consuelo.

Dionne sentiu um nó na garganta. Teve uma vontade enorme de abraç á -lo e apertar o corpo contra o dele. Mas logo se controlou, ao pensar em Jonathan e nos riscos que correria, deixando-se levar por esses sentimentos. Por alguns minutos, esteve à beira de fazer com que Franç ois a desprezasse mais do que já desprezava. E por quê? Um capricho! Uma loucura! Um impulso do qual sabia que se arrependeria amargamente.

Controlando-se, Franç ois virou-se para ela novamente; dessa vez, com olhos ameaç adores e zangados.

— Está pronta? — Ela concordou com a cabeç a. — bom, entã o vamos para a fazenda?

— Para a fazenda? — Dionne ficou horrorizada. — Nã o quero voltar para lá!

— Você pretende voltar para a cidade nesse estado? — Sua voz estava indiferente.

Dionne relanceou as suas roupas cobertas de lama e suspirou.

— Eu... eu terei... que voltar, nã o é? Franç ois hesitou um momento. Depois, decidiu:

— Iremos até a cabana.

— Está bem.

Bien, allons!

Montou e segurou as ré deas de Melodie para que Dionne també m montasse. Depois, sem mais palavras, conduziu as duas é guas pelo charco.

Nã o demorou muito tempo para que alcanç assem a cabana. Dionne lavou-se na á gua do poç o, enquanto Franç ois entrou para tomar um copo de vinho.

A lama logo saiu dos braç os e das mã os, mas ela gostaria de poder tirar sua blusa e lavar os ombros e pescoç o. Claro que nã o podia fazer isso. Contentou-se em desabotoar a blusa para jogar á gua no pescoç o, a fim de que escorresse por seu corpo quente.,

Estava com o olhar perdido no espaç o, alheia no turbilhã o de seus pensamentos, quando Franç ois saiu da cabana e foi até ela. Imediatamente puxou a blusa, tentando fechá -la, num silê ncio embaraç ado. Ele a olhava intensamente.

— O que estava tentando fazer? — ele perguntou, com o olhar fixo em seu decote aberto.

— Só queria me refrescar um pouco. Franç ois observou seu rosto corado.

— Estamos em campo aberto. Isto aqui nã o é um banheiro. Qualquer pessoa poderia vê -la e vir até aqui! O que faria, se isso acontecesse?

Os dedos tré mulos de Dionne lutavam com os botõ es da blusa.

— Ora, você está exagerando! Nada de mal poderia me acontecer — disse, mas sem muita seguranç a. — Bem, você veio até aqui. E daí? O que pretende fazer?

— O que quer que eu faç a?

Os dedos de Dionne, que ainda tentavam fechar a blusa, ficaram paralisados pelo olhar dele. Sabia que tinha ido longe demais dessa vez; tinha dado o passo fatal em direç ã o ao desconhecido.

Tentando quebrar a tensã o, virou-se lentamente e deu a volta, de modo que o poç o ficasse entre eles. Mas Franç ois foi mais rá pido, segurando-a pelo braç o, puxando-a contra ele e abraç ando-a, com forç a, pela cintura.

Dionne lutou, mas foi inú til. Quanto mais se debatia mais ele a apertava. Sentia cada mú sculo tenso de seu peito, braç os e coxas. Aquilo era uma tortura. Depois, ele curvou-se, afastou os cabelos de seu rosto, e sua boca procurou a maciez do pescoç o, queimando a pele e provocando aquele mesmo ê xtase de trê s anos atrá s.

— Nã o, Franç ois! Por favor, nã o faç a isso! — implorou, virando a cabeç a de um lado para o outro.

Os lá bios quentes continuavam a explorar seu pescoç o.

— Por quê? Por que eu nã o deveria pegar o que é meu? E você é minha. Sabe disso tã o bem como eu!

Lentamente virou-lhe o rosto e suas bocas se encontraram, apaixonada e intensamente. Aquilo era uma loucura! Ela nã o devia corresponder, mas praticamente o tinha convidado a beijá -la.

Franç ois ficou impaciente com a resistê ncia e forç ou-a a entreabrir Os lá bios. Dionne ardia de desejo e parou de lutar. Agarrou-se a ele, dominada pela paixã o, acariciando seu peito. Mas, quando as mã os dele escorregaram por baixo da blusa e tocaram a sua pele nua, ela percebeu que estava a um passo de perder a cabeç a. Sozinhos, ali, a quiló metros de distâ ncia de qualquer casa, seria impossí vel parar aquela... se nã o tomasse a iniciativa de imediato. Tinha de lutar, por ela e por Jonathan.

Com um esforç o sobre-humano, e aproveitando que Franç ois se sentia confiante, a ponto de nã o segurá -la mais com tanta forç a, empurrou-o para longe. Endireitando a blusa, voltou rapidamente para a cabana, lutando para recuperar um pouco do controle.

Quando se virou para olhá -lo, ele ainda estava no mesmo lugar. Depois, Dionne viu Franç ois ir até o poç o e lavar o rosto e o pescoç o. Umedeceu os cabelos e a nuca, antes de voltar até onde ela estava, parada na porta da cabana.

Sua expressã o era assustadora. Havia tanta amargura e solidã o no rosto dele...

Sem dirigir-lhe uma palavra, o rapaz foi até a é gua e montou. Olhou para Dionne, agora com impaciê ncia.

— Monte! — ordenou asperamente e a moç a obedeceu, hesitante. Sem dizer mais nada, Franç ois saiu a galope, deixando-a para trá s.

Cavalgou vá rios metros na frente até os arredores de Aries e a fez desmontar a uma certa distâ ncia do hotel. Ela nã o entendeu e olhou-o, curiosa.

— Nã o quero entrar na cidade — ele explicou, com frieza. Alé m do mais, estou certo de que você nã o vai ter dificuldade para achar o caminho de volta para o hotel. Se nã o achar, pode perguntar para algué m. Qualquer homem ficaria feliz em ajudá -la, garanto!

Sem esperar resposta, afastou-se, deixando Dionne sentindo-se pior do que nunca.

 



  

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