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CAPÍTULO X



 

 

Lorna corria a todo galope para longe! Fora fá cil sair furtivamente da tenda, como uma sombra, e apanhar um cavalo, qualquer um, porque todos os cavalos do acampamento eram resistentes e velozes. O animal, uma é gua marrom de patas brancas, mostrara-se assustado em princí pio, mas depois de alguns minutos cavalgava num ritmo perfeito, num galope longo e compassado.

O ar da madrugada inebriava como o vinho, misturava-se com a sensaç ã o de liberdade e fazia sua cabeç a girar. Atravessou a galope as pequenas colinas de areia, procurando afastar-se o mais rá pido possí vel do acampamento, na esperanç a de que o vento da manhã apagasse os rastros que o animal deixava.

A brisa fria batia contra seu rosto e fazia seus olhos arderem, pois já estavam irritados por causa da noite mal dormida.

Sorriu de alegria. Estava livre e nã o esquecera nada essencial. Tinha á gua no cantil, mantimentos na bolsa, uma capa de lã para abrigar-se do frio que fazia ao anoitecer e um lenç o comprido de musselina passado em volta da cabeç a, para se proteger dos inclementes raios do sol.

Sabia que estava indo na direç ã o certa, rumo à s montanhas de Yraa, que avistava como pontinhos brilhantes na distâ ncia. Nã o estava assustada. Galopava rapidamente para longe do homem que a aterrorizava, com sua fisionomia severa, mais do que toda a vastidã o de areia e de rochas que sumiam no horizonte. A luz que banhava o areal tinha uma tonalidade esverdeada, e Lorna acelerou o galope da é gua. Sua fuga logo seria descoberta. Zahra levaria o café no quarto e nã o a encontraria na cama. Daria o alarme, e Ahmed partiria a sua procura. Motivado pelo medo que tinha de Kasim, revistaria todas as pedras do caminho, seguiria todas as pegadas e examinaria cada moita com seus olhos de lince. Mataria o cavalo de tanto correr na determinaç ã o de encontrá -la.

O vento aç oitava a capa comprida e atirava areia sobre os rastros que o animal deixava atrá s de si. O vento era amigo. Estava cobrindo sua partida, e, na alegria do momento, ela nã o percebeu que ele soprava com mais forç a naquela manhã, e o sol tinha um tom estranho e ameaç ador.

A medida que as horas passavam, a vastidã o do deserto exercia um efeito hipnó tico sobre seus nervos. No momento em que fez uma breve parada, para beber um pouco de á gua e descansar o animal resfolegante, estava sentindo-se muito calma e descontraí da. Fumou um cigarro e nã o largou um só instante as ré deas... Dessa vez, o animal nã o fugiria, e ela nã o correria o risco de ser deixada sozinha no deserto!

Olhou em volta de si e percebeu que as dunas estavam escurecendo em certos lugares. Voltou a cabeç a para o cé u encoberto e notou que tudo estava muito calmo e parado, embora o assobio do vento sobre a areia tivesse se tornado mais alto nos ú ltimos minutos.

" Uma mulher é como o deserto", dissera Kasim, num dos passeios que deram juntos. " Muitos segredos moram no coraç ã o dos dois. Ambos dã o paz, mas a agitaç ã o nunca está muito distante... " Um lugar secreto, sem dú vida alguma. Uma pessoa poderia morar a vida inteira no deserto e nã o encontrar jamais seu coraç ã o. Segurando com firmeza as ré deas da é gua, Lorna olhou para a cordilheira que pretendia transpor antes do anoitecer. Estava azulada pela atmosfera do deserto, tã o pró xima e, ao mesmo tempo, tã o distante! Subiu na sela, e a é gua levantou as patas da frente, empinando como um animal de circo. Lorna puxou a ré dea levemente e murmurou algumas palavras que Kasim costumava usar para tranqü ilizar os animais fogosos. Apó s um resfolegar alto, a é gua colocou as patas no chã o e partiu a galope. Meia hora depois, as primeiras gotas de chuva caí ram sobre seu rosto. Alguns minutos mais tarde, estava chovendo torrencialmente, e, vez por outra, a trovoada murmurava ao longe, alé m das colinas de Yraa.

Uma tempestade no deserto seria terrí vel, mas preferia enfrentar qualquer coisa a ser apanhada e levada de volta para o acampamento. Tudo, menos enfrentar a fú ria de Kasim! Ele nã o gostava dela... Lorna era simplesmente um brinquedo de luxo para ele... Quando a novidade passasse ou quando os deveres o chamassem de volta para Sidi Kebir, Kasim se descartaria dela sem o menor escrú pulo.

Ao fugir dessa forma, ela mantinha pelo menos o orgulho intacto. Ele nã o a humilhara moralmente, e ela poderia recomeç ar uma vida nova em algum lugar bem distante da beleza traiç oeira do deserto.

O temporal cessou repentinamente, mas o cé u continuou encoberto e a atmosfera estava muito pesada e opressiva. A areia começ ou a girar em volta dela em pequenos redemoinhos, e, na distâ ncia, uma né voa seca encobria as colinas de Yraa. Lorna sentiu uma contraç ã o nervosa no estô mago. Se uma tempestade de areia se iniciasse, tudo ficaria confuso em sua frente durante horas, talvez a noite inteira.

Nã o podia perder nem mais um minuto. Deitou a cabeç a sobre o pescoç o do animal e deixou que galopasse a toda velocidade.

A atmosfera tornou-se mais sufocante com o passar dos minutos, e Lorna sentia a cabeç a pesada. Ouviu o ruí do estranho da ventania que fustigava a vastidã o do deserto... um uivo assustador que gelou seu coraç ã o.

Seus instintos a advertiram de que o vendaval se iniciaria de um instante para o outro, e ela procurou com nervosismo um lugar para se abrigar do furacã o impiedoso, que arrastaria tudo em sua passagem.

Pouco adiante, avistou um morro de pedras e rumou naquela direç ã o. Lorna estava agradecendo sua sorte por ter encontrado um abrigo, quando um raio iluminou violentamente a paisagem, assustando terrivelmente a é gua e a amazona.

O animal, alarmado com o estrondo do trovã o que se seguiu, encolheu o corpo e empinou repentinamente as patas da frente. Lorna, apanhada de surpresa, foi jogada para longe, antes que pudesse se agarrar nas crinas da é gua. Tonta, ofegante e com a cabeç a latejando, ela viu o animal afastar-se a galope, em direç ã o à s nuvens de poeira que se levantaram no deserto.

Ergueu-se, cambaleante, e levou a mã o ao ombro dolorido. Gritou para a é gua, mas seus gritos se perderam no vento, e, logo depois, perdeu o animal de vista, que arrastava as ré deas no chã o e levava consigo a sacola preciosa onde estavam a á gua e os alimentos.

Refeita do susto, Lorna percebeu que deveria se abrigar rapidamente entre as pedras. Ali, pelo menos, estaria protegida da forç a impiedosa do vento, que começ ava a levantar nuvens de poeira que faziam seus olhos arderem.

Com o rosto contraí do pela dor que lhe causava o ombro deslocado, sob o clarã o intenso de um novo relâ mpago que cortou o cé u, ela se dirigiu com dificuldade para o abrigo no meio das rochas. Estava muito trê mula e muito abalada para chorar. De sú bito, a advertê ncia de Kasim surgiu em sua mente. " Você nã o sabe se defender sozinha num lugar vasto e perigoso como o deserto. "

As palavras sinistras misturavam-se aos sons aterrorizantes das trovoadas e do vento que soprava. A luz intensa dos relâ mpagos no cé u escuro, Lorna teve a impressã o de avistar de novo o brilho dos olhos castanhos, e, no momento em que entrou no abrigo, no rochedo, tudo começ ou a girar a sua volta, ela se sentia subitamente fraca e indefesa. Mergulhada na escuridã o total do abrigo, a ú ltima coisa que sentiu foi a areia aproximar-se de repente de seu rosto.

 

 

No primeiro instante, apó s abrir novamente os olhos, o ar pareceu-lhe coberto de uma poeira sufocante, e Lorna sentiu um gosto de cinza na boca. Um gosto horrí vel de coisa seca e queimada.

Lembrou-se vagamente de que caí ra quase sem sentidos na areia. Agora, poré m, estava apoiada contra uma pedra, e algué m estava ajoelhado a seu lado... O rosto do homem estava coberto por um lenç o de linho branco, e seus olhos tinham um brilho intenso.

Estava morta de sede, e o ombro machucado latejava terrivelmente. Parecia um pesadelo, mas o gargalo do cantil era bastante real. Bebeu sofregamente alguns goles de á gua e, quando voltou completamente a si, percebeu que o braç o do homem estava passado em volta de seu corpo. Afastou-se dele instintivamente, assustada.

— Que loucura! — murmurou o homem, retirando o lenç o do rosto. Ela reconheceu, assombrada, as feiç õ es familiares.

— Você enfrentou a tempestade para fugir de mim! Quando Ahmed me disse que você apanhara um cavalo e partira a galope, saí a sua procura do acampamento de meu amigo. Eu sabia que rumaria diretamente para as colinas de Yraa, pois estava hospedada em Ras Jusuf. E, na correria, eu teria passado direto daqui, se nã o visse seu vé u enroscado na moita de espinhos, do lado de fora do rochedo.

Ele a observou em silê ncio durante um longo momento. Os olhos dela estavam inchados e vermelhos.

— Sua maluquinha, pensou que eu iria deixá -la fugir? Que nã o partiria a seu encalç o?

— E impossí vel fugir de você — Lorna respondeu, com uma careta de dor. — Meu ombro está doendo terrivelmente. Um relâ mpago assustou a é gua, e fui jogada ao chã o...

Kasim segurou-a pelo braç o e apalpou atentamente o ombro machucado.

— O osso saiu do lugar — disse por fim, — Posso recolocá -lo, mas vai doer um pouco.

— Nã o faz mal — Lorna falou, como se nada mais tivesse importâ ncia. — Você já me machucou antes de saber...

Kasim tirou um cigarro do bolso e colocou-o entre os lá bios dela. Ele estava com o rosto impassí vel, como uma má scara de bronze. Riscou o fó sforo e acendeu-o.

— Fume o cigarro para se distrair... Está pronta?

Ela deu uma tragada e meneou a cabeç a afirmativamente. O gemido de dor perdeu-se em meio aos uivos do vento no instante em que Kasim colocou o osso no lugar, com um movimento há bil das mã os. Lorna estremeceu com a dor, e um suor frio escorreu por sua testa. Sentiu dormê ncia no braç o depois que a dor passou, mas Kasim explicou que era devido à pressã o sobre o nervo distendido. Depois, ele massageou o ombro até a circulaç ã o voltar ao normal.

— Procure flexionar o braç o — ele disse.

— Ainda está doendo um pouco, mas sinto que voltou para o lugar.

— Você foi corajosa — Kasim falou, limpando a areia grudada no rosto dela. — Logo a ventania vai transformar-se num furacã o, e podemos ser soterrados na areia. Você nã o tem medode morrer aqui? Nã o teme que estas rochas sejam nossa sepultura no deserto?

Lorna balanç ou a cabeç a afirmativamente e terminou de fumar o cigarro. O cavalo preto de Kasim estava preso e abrigado ali perto e abaixava a cabeç a para evitar a ventania forte que soprava. Kasim ajoelhou-se ao lado dela e amarrou o lenç o comprido em volta de seu rosto.

— Foi uma loucura você ter fugido hoje, logo hoje, correndo o risco de ser apanhada por uma tempestade de areia.

— Loucura maior foi achar que poderia escapar de você. — Ela levantou a cabeç a e ouviu o barulho do vento lá fora. — O deserto protege seus filhos, e você é tã o implacá vel quanto essa ventania que está soprando.

— Você feriu meu coraç ã o — disse Kasim, com um sorriso triste. — Eu a encontrei como um pedaç o de gelo no meio do inferno, e você nã o tem uma palavra de ternura para mim.

— E desde quando aprecia uma palavra de ternura? Desde quando está disposto a ceder em alguma coisa?

Kasim franziu a testa e desviou o olhar, seu perfil estava contornado sobre uma paisagem nevoenta.

— Nã o há ternura numa tempestade no deserto... Tudo é perigoso, e estamos indefesos no meio dela.

— Quanto tempo vai durar? — Lorna indagou.

— Quem pode saber? Somente o destino.

— E depois que terminar? — Ela apagou o cigarro na areia. — Um dia, terá de me libertar... Pretende me humilhar completamente antes disso?

Ela nã o ouviu a resposta, pois foi encoberta por um terrí vel rugido. No momento em que a areia rodopiou em volta deles, soprada furiosamente pelo vento, Kasim protegeu Lorna com sua capa.

Ela dominou o temor que sentia por ele e afundou o rosto no ombro largo, abraç ada a ele sob a sufocante nuvem de areia.

A ventania parecia um furacã o, e Lorna ouviu uivos furiosos que ensurdeciam e que lhe davam vontade de explodir no choro.

— Coragem! — Kasim falou, procurando confortá -la.

Ele mudava de posiç ã o constantemente, porque a areia se acumulava depressa em volta deles. Uma ú nica vez Lorna deu uma exclamaç ã o de angú stia, e Kasim estreitou-a nos braç os e beijou-a na testa como se ela fosse uma crianç a alarmada.

Os lá bios dele estavam quentes e á speros por causa da areia, e, quando ela fechou os olhos, sentiu uma fraqueza que nã o tinha nada a ver com a tempestade. Deixou-se estar nos braç os dele, abandonada, enlaç ada, sufocada, com o coraç ã o explodindo de alegria. A areia podia enterrar os dois juntos. Podiam permanecer abraç ados para sempre... como os amantes da lenda.

— Lorna? — murmurou Kasim, em seu ouvido. — Está respirando... está bem?

— Ah, tive uma sensaç ã o tã o estranha... Parecia um sonho!

— Você nã o pode dormir agora! — Sacudiu-a pelos braç os, e a areia escorreu sobre os dois.

Lufadas furiosas de vento sopravam, quentes e sufocantes como uma fornalha.

Lorna forç ou-se a abrir os olhos e encontrou o rosto dele colado ao seu.

— Você nã o pode dormir agora — ele repetiu.

— Kasim... quanto tempo isso vai durar?

— Vai passar logo. Seja corajosa.

Ela estava abraç ada contra seu peito e podia ouvir o coraç ã o dele batendo.

— Estou tentando.

— Sei disso. Tem o costume de levantar a cabeç a e encarar os homens nos olhos. Ah, meu Deus, que ventania! Que tempestade maldita!

— Coitado de seu cavalo!

— Espero que ele nã o enlouqueç a com a tempestade e arrebente o cabresto.

— Ficarí amos perdidos aqui.

— Para sempre. — Ela sentiu um arrepio quando as mã os dele apalparam seu corpo por baixo da capa. — Nã o sou um monstro egoí sta, como deve estar pensando. Estou apenas soltando os botõ es de sua blusa para você respirar mais à vontade...

Ela nã o podia falar. Estava dominada pelas sensaç õ es confusas que a assaltavam. Entendeu, naquele momento, que respondia a seu contato porque pertencia a ele. 0 coraç ã o, a alma, o corpo, tudo pertencia a esse homem do deserto, e nã o era dele que fugira, mas do amor que sentia por ele.

Acabara apaixonando-se por Kasim! Ele invadira seu coraç ã o e a cativara com a perí cia de um domador.

Amava-o... odiava-o por fazer dela o que queria, como um domador brincava com o filhote de tigre. Em vã o, lutou com a fascinaç ã o que a dominava.

No momento seguinte, sentiu o aperto de seus braç os e percebeu confusamente que ele a estava protegendo de uma grande lufada de areia que avanç ava sobre ambos, cegando-os completamente. Estavam mudos e surdos pela violê ncia da tempestade. Durante segundos... minutos... horas... continuaram mergulhados no furacã o de areia. Depois, lentamente, ouviram o silê ncio pesado em volta, uma tranqü ilidade ameaç adora, mais terrí vel que o rugido do vento, e Lorna sentiu o pâ nico dominá -la com a repentina Falta de ar.

Kasim conseguiu levantar-se com um esforç o sobre-humano e remover a areia que os cobria. Gotas de suor brotavam na testa dele e rolavam por seu rosto. Ela procurou ajudá -lo, com a respiraç ã o ofegante, até que conseguiram romper a barreira de areia que se formara em volta deles e respiraram de novo o ar puro. Kasim abriu mais espaç o com o braç o, e saí ram finalmente.

Permaneceram um instante parados, respirando com dificuldade, com areia nos olhos, na boca, no nariz, descendo pela garganta. Ao redor, reinava uma tranqü ilidade estranha... um silê ncio assustador depois da fú ria da tempestade. Lorna sentiu um tremor percorrer-lhe o corpo, e, em seguida, lá grimas rolaram livremente por seu rosto, formando pequenos sulcos na areia grudada em sua pele.

Kasim caminhou em direç ã o ao cavalo. Falou em voz baixa com o animal assustado e escovou a areia que estava grudada no focinho.

— Graç as a Deus, ainda temos o cavalo. Já imaginou ficarmos perdidos no deserto, com um cantil de á gua para nó s dois?

— ele perguntou.

Lorna enxugou as lá grimas sem prestar atenç ã o no significado de suas palavras. Pela vastidã o do deserto, soprava o vento frio da noite. O cé u continuava escuro como antes, e, do alto de uma duna, veio o uivo prolongado de um chacal.

Kasim inclinou-se sobre ela com o cantil na mã o. A á gua lavou a areia dos dentes e aliviou o ardor que Lorna sentia na garganta. Em seguida, ele també m tomou um pouco de á gua enquanto a observava de soslaio.

— Acho melhor passarmos a noite aqui e partirmos amanhã cedo para o acampamento.

— Para o acampamento? — ela indagou.

— Exatamente. Vou levá -la de volta para lá. Ela retirou o pano do rosto, e a brisa noturna agitou os cabelos soltos e refrescou seu rosto e os olhos vermelhos.

— Por que me levará de volta? Só dei trabalho... Estraguei sua caç ada na casa de Kaid... Sou apenas uma mulher, facilmente substituí vel.

— Sim, você é apenas uma mulher, mas nã o estou preparado para deixá -la partir... nem um pouco, meu pedacinho de neve. Ainda nã o tive o prazer de derreter seu gelo. Até lá, vamos ficar juntos... com a graç a de Deus.

— Deus nã o tem nada a ver com isso! Você só faz o que tem vontade...

— Fala como se fosse minha escrava. Por que nã o me chama pelo nome, como antes?

— Porque a tempestade passou. Se eu disse seu nome, foi por medo.

— Diga-o de novo... agora que a brisa esta soprando e que nã o corremos mais o risco de sermos enterrados na areia.

— Kasim...

— Ele soa estranho com sua pronú ncia inglesa.

Sorriu e passou os braç os em volta da cintura de Lorna. Ela estava tensa, procurando controlar o prazer que sentia. Homem impiedoso! Nã o fazia sentido o coraç ã o dela disparar ao menor toque de seus dedos.

— Vamos descansar algumas horas — Kasim informou. — Nã o precisa tirar a capa. Nosso clima no deserto é muito estranho... Um calor insuportá vel num minuto e um frio medonho no instante seguinte... exatamente como uma mulher. O há lito quente soprou no rosto de Lorna.

— Nã o... por favor — ela pediu, com receio da reaç ã o que poderia ter com o beijo.

— Um dia, minha querida, vou ouvir um pedido diferente de você. As mulheres tê m o coraç ã o mole... acabam gostandode seus inimigos.

— Amando inimigos? Como ousa mencionar um sentimentoque nã o tem nenhum significado para você?

— Se eu a amasse, meu anjo, você morreria de medo. Nã o faz idé ia do que é o amor violento entre o homem e a mulher...

— Como pode saber? Nunca amou ningué m!

— Só o deserto, nã o é mesmo?

Soltou-a com uma risada e foi recolher alguns galhos que foram partidos pela tempestade. Instantes depois, chamas crepitavam alegremente. Feito isso, tirou o arreio do cavalo e lhe deu a metade da á gua que levava no cantil. Em seguida, voltou para junto da fogueira e sentou-se. Lorna virou a cabeç a, nervosa, quando ouviu novamente o uivo do chacal, mais pró ximo dessa vez.

— Nã o tenha medo. Os chacais nã o se aproximam do fogo.

— Eles devem estar famintos — disse Lorna, apertando a capa de lã contra o corpo. — O deserto é tã o escuro à noite...

— As nuvens de pó encobriram as estrelas. Deite junto de mim e procure dormir um pouco. Vamos levantar cedo amanhã.

Ela estava muito cansada, com as pá lpebras pesadas e os olhos ardendo. Seria bom dormir algumas horas junto da fogueira. Apó s uma rá pida hesitaç ã o, encostou a cabeç a nos joelhos dele e deitou-se. Estava com sono e, ao mesmo tempo, consciente da solidã o total que os cercava. As folhas de tamarindo, sendo queimadas, exalavam um cheiro forte... O calor do corpo de Kasim começ ou a aquecer o dela lentamente.

Em dado momento, ele abaixou a cabeç a e surpreendeu seus olhos sonolentos.

— Nã o parece estranho? Poderí amos ser as ú nicas pessoas vivas no mundo hoje. Como Adã o e Eva no paraí so. O deserto foi chamado o Jardim de Alá... e há algo de Eva na maior parte das mulheres.

— A tentaç ã o... — Lorna acrescentou.

— Hummm... Se você nã o dormir logo, vou achar que está me provocando... que está querendo meus beijos.

Ela prendeu a respiraç ã o e afastou rapidamente a cabeç a, como se quisesse evitar o contato de seus lá bios. Ele deu uma risada.

Kasim estava com as costas apoiadas numa pedra, e sua capa cobria Lorna. Sonolenta, ela avistou os galhos secos que crepitavam no fogo e, logo depois, adormeceu ao lado do homem de quem fugira... para encontrar-se novamente em seus braç os.

 




  

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