Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





CAPÍTULO VIII



 

 

André encostou-se no tronco de uma á rvore e abriu o vinho, muito à vontade.

— Desculpe, nã o temos copos. Você se incomoda? — disse ele, esfregando a mã o no gargalo da garrafa.

Harriet sacudiu a cabeç a, nã o querendo, com palavras, destruir a perfeiç ã o do momento. Comeu com avidez, lambendo o suco do pê ssego, que lhe sujava as mã os, feito uma crianç a.

— Será... será que sua bisavó nã o estará preocupada? — sugeriu e André baixou a garrafa que estava para levar à boca e olhou para Harriet.

— Louise? Talvez. Mas acho que ela pensa que estou trabalhando agora.

Harriet limpou a ú ltima gota do suco de sua boca com as costas da mã o.

— Você... trabalha? O que é que faz?

— Sou um fazendeiro. O que é que um fazendeiro faz?

— Mas... Você é o conde de Rochefort!

— Eu sou André Laroche. De que me servem os tí tulos vazios? Seguiu-se um breve silê ncio.

— Qual é o problema? É uma maneira honesta de ganhar a vida, nã o acha? — ele perguntou de repente.

— Claro.

— Entã o por que é que você parece tã o... chocada?

Harriet fez um movimento de desamparo. Como podia explicar que aquela nova imagem dele nã o cabia na imagem antiga, que sempre tinha tido durante anos? A de um homem que negava dizer-lhe sua ocupaç ã o, porque nã o tinha nenhuma.

— Eu... sinto muito que você nã o possa manter o castelo agora, como estava acostumado a mantê -lo — murmurou desajeitadamente.

— Talvez você ache que um fazendeiro pobre nã o seja suficientemente bom para repartir o almoç o com você? — sugeriu André severamente e voltou-se para ela, com olhar ferido.

— Nã o é verdade! É só que isso nã o cabia na... na imagem que eu tinha de você!

— E o que você pensa que sabe de mim?

— Ora, esqueç a! Está uma tarde muito bonita para brigar. André fechou os olhos para nã o vê -la e Harriet cerrou os punhos

fortemente. Ficou imaginando como teria sido a mulher dele e se a havia amado muito. Eles só tinham tido um filho, mas isso nã o significava nada. A mã e de Paul pode ter tido uma gravidez difí cil. Ou, talvez, ela nã o quisesse mais filhos. Será que ele queria? A mã o de Harriet passou pela planura de seu ventre. Que diferenç a faria, se ele soubesse?

Ainda estava olhando para ele quando André abriu os olhos outra vez e ela desviou imediatamente o olhar. Mas nã o antes que eles houvessem se encontrado e ela tivesse visto seu profundo interesse. Para distrair a atenç ã o dele, começ ou a arrumar os restos do piquenique. Ao pegar a rolha, procurou pela garrafa e viu que ainda estava nas mã os de André, e que nã o estava vazia.

— Você está com sede? — perguntou ele, mas ela sacudiu negativamente a cabeç a.

— Nã o, eu só estava procurando a garrafa. Sinto muito tê -lo perturbado — explicou com desconforto.

— Você sempre me perturba — disse ele, levantando-se do tronco onde estivera recostado, para descansar a seu lado, no lenç ol.

Por um momento Harriet pensou que ele fosse tocá -la e seus nervos se encresparam. Mas André nã o a tocou. Sentou-se e, levando a garrafa aos lá bios, tomou um outro gole.

Ela queria afastar-se dele. Seu braç o estava a alguns centí metros das coxas de André, mas afastar-se seria tornar evidente seu desconforto.

Afinal de contas, precisava ser capaz de sentar-se ao lado dele sem se sentir perturbada.

— Diga-me uma coisa: por que nunca se casou? — perguntou ele, subitamente.

— Ningué m me pediu. — Harriet ficou tensa.

— Essa é difí cil de acreditar! E o que aconteceu com todos aqueles jovens rapazes de sua cidade?

— Eu me mudei de Guildford. Moro em Londres, agora.

— E nã o há homens em Londres? Nã o acredito que você nã o tenha admiradores.

— Depois de você, quer dizer? Você acha que, porque eu fui para a cama com você, devia ir para a cama com todos os homens? — respondeu, chocada.

— Nã o, nã o acho nada disso. Mas nã o sou idiota. Eu acabei aceitando que nã o posso ter sido o ú nico homem na sua vida.

— Entã o, você acha que eu tive casos, é isso? Bem, talvez tenha tido. Você nunca saberá, nã o é mesmo? — Seu tom era amargo.

— Harriet!

A maneira comodisse seu nome provocou nela um arrepio de excitaç ã o. Quando ele o repetiu, com mais emoç ã o desta vez, todo o corpo dela doí a, á vido por responder à urgê ncia de sua voz.

— Harriet, você nã o sabe o que está fazendo comigo! — murmurou ele, passando os dedos ao longo das coxas dela.

Os jeans cobriam suas pernas, mas isso nã o impedia que a carí cia dos dedos dele queimasse sua pele, por baixo. Todo o seu corpo pareceu consumir-se em fogo e ela respirava profundamente, tentando manter a consciê ncia. Seus seios roliç os chamaram a atenç ã o dele e, sentado, André desabotoou cada botã o de sua blusa, devagar e sistematicamente.

— Por favor,... nã o! — ela pediu, tentando cobrir-se, vermelha de vergonha, mas ele afastou suas mã os e, inclinando a cabeç a em direç ã o aos seios, murmurou:

— Nã o fique com vergonha. Você é bonita... muito bonita.

— André...

Tentou libertar-se, mas nã o conseguiu. André parecia entorpecido pelo calor sensual do corpo de Harriet e era inú til negar que ela també m queria que ele a tocasse. André tirou sua blusa e acariciou a pele macia de seus ombros. Entã o a deitou sobre o lenç ol e procurou seus lá bios.

Sua boca era um assalto insistente aos sentidos. Ela sentia o peso dele e a aspereza de seus pê los contra os seios, mas negou-se a corresponder. Mantinha os, olhos abertos e olhava para o azul do cé u inalterá vel, procurando controlar-se.

Entã o, com um bocejo, ele se afastou rolando, deitando-se de costas e com ambas as mã os pressionando a testa. Deu um pequeno suspiro e disse, á spero:

Enfin, terminou! — E levantou-se. Pegou sua jaqueta com mã os, tateantes, e disse: — Venha, vamos embora.     

Harriet nã o tinha reparado que estava prendendo a respiraç ã o, até que começ ou a andar e percebeu uma forte pressã o na garganta.

O que está acontecendo comigo, perguntou-se, desamparada, sentando-se e abotoando a blusa. Tinha mostrado a André que já nã o era a menina impressioná vel que tinha sido, que ele nã o podia fazê -la de boba uma segunda vez. Por que, entã o, nã o se sentia feliz com a vitó ria?

Quando ela se levantou, André apanhou o lenç ol e o saco com o lixo. Harriet procurou a garrafa de vinho, que estava jogada na grama; o vinho que sobrara tinha caí do ao solo.

Que desperdí cio pensou, seguindo André até o portã o, mas isso valia para o relacionamento deles també m, e ela teve de conter as lá grimas.

Levou pouco tempo para que retornassem à estrada e cobrissem os quilô metros remanescentes até a casa. Quando chegaram, André, que tinha mantido silê ncio por toda a viagem, falou:

— Você vai voltar para Bel-sur-Baux amanhã de manhã? Harriet estava se preparando para descer, mas parou e olhou vivamente para ele.

— Bem... Na verdade, prometi voltar ainda hoje. Susan nã o estava contente quando a deixei e eu lhe disse que tentaria vê -la novamente, mais tarde.

— Bem... Você acha que está agindo bem?

— Por que nã o?

Ela estava sempre pronta a brigar, mas ele aquietou-a com as mã os.

— Como quiser — disse ele e, como nã o acrescentasse mais nada, Harriet nã o teve outra alternativa senã o descer do carro.

— Eu... eu lhe agradeç o, outra vez — murmurou timidamente, mas ele só balanç ou a cabeç a e se afastou.

A casa estava numa solidã o depressiva. Tentando espantá -la, Harriet pegou, com determinaç ã o, um balde de á gua e uns panos limpos, para tirar a mancha de sangue da cadeira de balanç o. Poré m, como trabalhasse com as mã os, a cabeç a ficou livre para pensar sobre o que André tinha lhe contado acerca da esposa.

Que doenç a seria aquela, que durara tantos anos? Quã o destrutiva uma doenç a assim se torna para um casamento! Poré m, nã o há desculpas para o comportamento de André, disse para si mesma, com veemê ncia, esfregando mais que o necessá rio, até machucar a mã o. Porque sua mulher estava doente, uma invá lida, quem sabe, ele nã o tinha o direito de procurar diversã o em outro lugar. Mas, por outro lado, aquela era uma situaç ã o comum ali na Franç a e talvez a mulher de André nã o condenasse o comportamento dele.

Mas nã o, nã o. Se algué m ouvisse seus pensamentos, pensaria que estava tentando desculpar André. Ou será que estava tentando desculpar-se? Com que objetivo? O que é que tinha feito, para sentir-se tã o descontrolada? Ela nã o conseguia atinar com a resposta.

Forç ou-se a comer alguma coisa, antes de retornar ao hospital. Desta vez foi em seu carro e apanhou a bolsa, caprichando na aparê ncia. Queria que mademoiselle Dupois visse que ela nem sempre parecia uma adolescente desleixada, e ficou decepcionada quando viu que a jovem recepcionista já nã o estava trabalhando. Em vez dela, a mulher mais velha que ocupava a cadeira atrá s da mesa de recepç ã o olhou-a com expressã o de dú vida, quando Harriet pediu para ver a sobrinha.

Falando em francê s, ela perguntou se Harriet tinha permissã o do dr. Charron para visitar a sua paciente e, quando ela admitiu que nã o tinha, a senhora pediu desculpas e sacudiu a cabeç a.

— Sinto muito, mas o doutor foi chamado para atender um caso e eu nã o posso permitir sua visita, sem o consentimento dele.

— Mas minha sobrinha só cortou a perna. Só vai ficar uma noite — disse, com um suspiro.

— Sinto muito, — A mulher estava sacudindo a cabeç a novamente, quando uma porta se abriu, atrá s delas, e um jato de ar frio anunciou a entrada de algué m.

Harriet voltou-se e respirou aliviada, quando viu o dr. Charron. Ele nã o estava usando o jaleco, mas o ar de autoridade permanecia e, depois de um momento de hesitaç ã o, veio em direç ã o a ela, com a mã o estendida.

— Srta. Ingram, que bom vê -la de novo. Você veio visitar sua sobrinha? — exclamou ele.

— Eu me pergunto se poderia... se você concordar — disse ela, estendendo-lhe a mã o.

— Nenhuma objeç ã o, mademoiselle, mas temo que irá encontrá -la dormindo. Estava acordada um pouco mais cedo, quando seu amigo esteve aqui, mas agora...

— Meu amigo?

— Sim... Laroche... o conde de Rochefort. É seu amigo, nã o é?

— Ele voltou? — Seus dedos apertaram a alç a da bolsa.

— Sim, enquanto Susan estava jantando. Ela pareceu muito contente de vê -lo. Claro que, como responsá vel, você, por favor, me diga se agi errado, permitindo que ele a visitasse.

— Oh, nã o... nã o! — Harriet balanç ou a cabeç a agitadamente. Mas estava perturbada com o que tinha ouvido. E por que nã o? Por que André nã o poderia visitar Susan, se quisesse? A pró pria Susan nã o fazia nenhuma objeç ã o, por que devia ela fazer?

— Venha. Vamos ver se ela está acordada.

Mas Susan estava dormindo, respirando pausadamente, com boa cor e a sombra de um sorriso curvando-lhe a boca. O mé dico colocou os dedos no lado do pescoç o e marcou o tempo no reló gio, por um momento. Daí disse para Harriet:

— Ela está reagindo bem. Se a perna nã o mostrar sinal de infecç ã o, acho que poderá sair amanhã. Mas você tem de me prometer que a trará de volta aqui, se observar alguma descoloraç ã o.

— Claro — Harriet concordou e, seguindo o gesto da mã o dele, precedeu-o no corredor outra vez.

Enquanto caminhavam para a recepç ã o, no entanto, o dr. Charron fez-lhe outra sugestã o.

— Parece uma pena que você tenha feito a viagem por nada. Com a sua permissã o, talvez possamos jantar juntos hoje — disse ele.

— Estou certa de que deve estar muito ocupado, doutor — disse ela, olhando-o de esguelha.

Seu rosto estava absolutamente sé rio, mas ele balanç ou a cabeç a.

— Vim à clí nica simplesmente para certificar-me com a enfermeira se tinha havido alguma emergê ncia. Como nã o há, estou com a noite livre — explicou ele e fez uma pausa, apreciando o jogo de emoç õ es no rosto expressivo de Harriet. — Por favor. Ficaria honrado, se aceitasse.

Harriet ainda hesitava. Ela gostava do dr. Charron. Achava-o um homem simpá tico e inteligente. Mas nã o estava disposta a envolver-se com nenhum homem, ainda menos com um que conhecia André.

— Nã o sei... nã o estou com tanta fome — murmurou, enquanto ele segurava a porta girató ria, para que ela passasse.

Ele sorriu e ela viu quanto mais jovem ficava, quando sorria.

— Entã o venha para me olhar comer — concluiu ele, com humor. Dando uma risada, ela capitulou.

— Está bem — disse, pensando em que ele era um homem atraente e a casa vazia nã o a atraí a. Talvez uma noite com uma pessoa que nã o conhecia nada a seu respeito pudesse afastar aquela nuvem de desâ nimo que tinha se abatido sobre ela.

Jantaram num restaurante de frente para a praç a. A fonte era iluminada à noite e a á gua caí a multicolorida. Embora fosse um restaurante pequeno, a comida era ó tima e Harriet aceitou um pouco de patê de trufas, famoso naquela regiã o, seguido de frango cozido em creme de leite e conhaque.

— Eu nã o pensei que estivesse com fome, dr. Charron — confessou ela um pouco mais tarde, levando a taç a de vinho aos lá bios e sorrindo para ele, atravé s da luz da vela que iluminava o centro da mesa.

— Eu imaginei que você nã o ia ser capaz de resistir à cozinha de Henri. E... meu nome é Mareei. Gostaria que você o usasse.

— Mareei — Harriet repetiu, experimentando a palavra. Entã o, colocando o copo de lado, acrescentou: — Você sabe o meu.

— Harriet. Nunca conheci uma Harriet antes.

Ele pronunciou seu nome como André o fazia, sem o " h" aspirado, e por um instante ela se lembrou dele. O que estaria fazendo naquela noite? Teria contado à sua avó e a seu filho sobre o acidente de Susan? Mareei era uma boa companhia e Harriet estava se divertindo. Contou-lhe de seu trabalho e de seu interesse pela cerâ mica, e ele insistiu para que fosse ver a porcelana e os trabalhos em esmalte de Limoges. Ela concordou que Limoges valia a pena ser visitada, mas que já estivera lá duas vezes, com Charles. Foi quando começ ou a interessar-se pela regiã o e Charles sugeriu-lhe que comprasse uma propriedade ali. Como Harriet tinha ido até Bel-sur-Baux em seu pró prio carro, Mareei nã o pô de acompanhá -la em casa, o que a deixou meio aliviada. Ele era um homem agradá vel e ela tinha se divertido em sua companhia, durante a noite, mas nã o queria correr o risco de ter de cortar os avanç os dele, neste ponto do relacionamento.

— Vejo-a amanhã, entã o. Tem certeza de que conhece o caminho?

— Claro. E obrigada por uma noite maravilhosa — disse ela, entrando rapidamente no carro, para evitar que ele a tocasse.

— O prazer foi todo meu — assegurou ele, galantemente, acenando enquanto o carro partia.

Estava escuro agora e a estrada parecia desconhecida. Harriet imaginava se nã o tinha confiado demais em si mesma, quando disse que conhecia o caminho de volta, e respirou aliviada quando enxergou os sinais, que apareciam à sua direita na entrada para sua casa. Entrou pela pequena estrada até a casa e estava para puxar o breque quando viu outro carro estacionado à sua frente. Era o Citroen de André. Seu coraç ã o batia em disparada, enquanto desligava o carro e descia. Olhou apreensivamente para a casa, mas nã o havia luzes; levou um susto quando ouviu a porta do carro abrir-se e André sair de dentro. Ela só pô de ver seu perfil no momento em que a luz de dentro do carro ficou acesa, enquanto ele abria a porta; depois, ficou tudo à s escuras novamente.

— O que você está fazendo aqui? — explodiu ela impulsivamente, consciente do ridí culo sentimento de culpa ao lembrar-se de como tinha passado aquela noite. Mas ele dirigiu-se indolentemente para o portã o, dizendo:

— Vamos entrar?

Ela achou melhor nã o provocá -lo. Com um gesto impaciente, atravessou o portã o que ele abrira e caminhou em direç ã o à casa.

Abriu a, porta e André entrou antes, para acender o lampiã o, enquanto Harriet abria as cortinas. Entã o virou-se, para olhar para ele, consciente de sua aparê ncia e do que André poderia pensar dela. Ele estava atraente, vestindo uma calç a preta e uma camisa de seda, també m preta. A cor escura acentuava seu humor, evidentemente negro.

— Você esteve no hospital?

— Sim. Você també m?

— Susan contou?

— Nã o... Foi o dr. Charron.

— Você esteve com Charron? E o que é que ele disse?

— Ele disse que ela está se recuperando. — Outra pausa. E continuou: — Susan estava dormindo.

— É mesmo? Você ficou esperando que ela acordasse?

— Nã o, eu., . Na verdade, jantamos juntos — disse, depois de refletir que ele nã o tinha nada que saber como ela passava o seu tempo.

— Foi mesmo?

— Espero que você nã o faç a nenhuma objeç ã o. Sou uma mulher livre, você sabe. Posso escolher como... e com quem... passar as minhas noites.

— Será que eu sugeri outra coisa?

— Nã o, mas... Oh, nã o tem importâ ncia! — Ela balanç ou a cabeç a, frustrada, os pesados cabelos balanç ando sobre os ombros. — Você ainda nã o me disse por que veio.

— Vim a pedido de Louise, perguntar se você gostaria de jantar conosco. Evidé mment, já é muito tarde, mas fiquei preocupado, quando vi que você nã o voltava, e decidi esperá -la.

— Oh! — Harriet sentiu uma onda de vergonha. E, respirando com dificuldade e evitando olhar para ele, disse: — Sei... Sinto muito.

— Nã o importa! Você está aqui agora.

Mas importava. Harriet estava muito consciente de como tinha se comportado. E disse timidamente:

— Por favor, agradeç a muito à sua avó, pelo convite. Talvez... talvez possa aceitar, uma outra vez.

— Talvez. Paul me disse que você nã o voltará à nossa casa.

— Mas era diferente. Isso foi antes... antes... — O rosto de Harriet se enrubesceu.

—... Antes de saber que minha mulher estava morta?

— É.

— Nunca achei que isso fizesse alguma diferenç a para você.

— Bem, você se enganou!

— Eu me enganei? — Suas narinas arfavam e ela podia vê -lo controlando-se, com grande forç a de vontade. — Ainda esta tarde você me rejeitou, com todas as fibras do seu ser!

Harriet estava contente de saber que uma mesa os separava, contente por ter um suporte.

— Acho melhor você ir embora. Estou... um pouco cansada — declarou, trê mula. — Obrigada... outra Vez lhe agradeç o pelo que você fez hoje.

Ele fez um gesto de indiferenç a.

— Teria feito o mesmo por qualquer pessoa. En passant, tem mais uma coisa. Você precisa pedir que Charron a apresente à esposa dele qualquer hora dessas — André falou pausadamente.

Os lá bios de Harriet se apertaram diante do azedume que viu nos olhos dele. Sentiu o chã o faltar-lhe sob os pé s. —Ele... ele é... casado?

— Há muitos e muitos anos. Que falta de sorte você tem, na escolha de sua escolta!

— Você. . , você é um porco! Gostou de me contar isso, nã o foi? Que prazer você tem em me fazer sofrer? — Harriet falou com os lá bios trê mulos, acusando-o atrevidamente.

— Nã o seja tola! Preferia nã o saber de nada? O que faria se madame Charron viesse à sua porta, como já esteve em outras portas no passado, acusando-a de ser... bien, em termos polidos, uma mulher de vida fá cil?

— E você jura que ela o faria?

— É claro que a minha palavra nã o vale nada, nã o é? — Bem... você ficará bem sozinha?

— Acho que isto nã o lhe diz respeito!

— Você sabe que sim. Tudo o que você faz me importa, mas isso é uma coisa com a qual eu aprendi a conviver — retorquiu ele friamente.

— Por favor, nã o me diga essas coisas! Nó s dois sabemos que nã o é verdade e eu nã o quero repetir os mesmos erros.

— Você é tã o dura, Harriet. Mas talvez esteja certa. Talvez seja mesmo muito tarde. Eu nã o queria acreditar nisso, mas... — disse André, suspirando e movendo a cabeç a.

Harriet olhou para ele.

— O que você quer de mim, André? O que quer que eu diga? Que eu o esqueci? Que esqueci a maneira monstruosa como me tratou?

— disse Harriet, lanç ando um olhar torturado em sua direç ã o.

— Acho que você exagera. Trê s biencreio que ter permitido que você viesse a Paris, naquela ocasiã o, me condenou a seus olhos, mas preciso lembrá -la de que você queria vir, você implorou para vir! — ele disse severamente.

— Ah, que bonito! Lanç ando a culpa em mim!

— Culpa? — Ele olhou para cima por um momento, como se buscasse inspiraç ã o, e entã o caminhou na direç ã o dela, ignorando seus protestos e segurando-a firmemente pelos ombros. — Por quê, em nome de Deus, eu deveria sentir alguma culpa?

Ele estava muito perto e ela se sentia muito perturbada. Tinha sido um dia estafante. Sentia os dedos de André em seus ombros, via uma veia no pescoç o dele, que pulsava rapidamente à medida que ele falava com ela.

A pequena palpitaç ã o era hipnotizante. O intenso desejo de sucumbir começ ava à agigantar-se dentro dela, que lutava para controlar-se. Mas, que doce vinganç a seria, se lhe correspondesse, rompesse seu controle e entã o o repudiasse, no momento em que ele estivesse achando que ela lhe pertencia.

Era como brincar com fogo. Era isso mesmo o que ela queria? Ou só estava procurando desculpas para que ele fizesse amor com ela, porque isto estava se tornando uma obsessã o?

— Como você acha que eu me senti, quando recebi a sua carta?

— perguntou, trê mula, forç ando-se a olhar para ele. — Foi tã o inesperada.

— Como acha que eu me senti, ao escrevê -la? Nã o foi fá cil para mim, acredite. — Seus lá bios tremiam.

— Por que escreveu, entã o? — gritou, desesperada, e os olhos dele se apertaram.

— O que quer dizer... por que escrevi a carta?

— Por que deixou que eu me. apaixonasse por você?

— Era mú tuo. Nã o dava para controlar.

—Você nunca devia ter vindo falar conosco, no leilã o!

— E você devia ter ouvido o conselho de Charles, nã o? Harriet, eu realmente tentei. Parei de me encontrar com você. Mas você queria me ver. Eu nã o podia recusar. — O quê?... O que pensa que aconteceu, depois que escreveu a carta? — disse ela, afastando-se dele.

— Procurei nã o pensar. Procurei nã o imaginar você com outro homem, partilhando com ele as mesmas intimidades que partilhamos juntos!

— Mas nã o lhe ocorreu... nã o lhe ocorreu perguntar-se se... — falou ela com um suspiro. Depois, fazendo uma pausa, tentou novamente: — Você nunca pensou que poderia haver algum... alguma... conseqü ê ncia por aquela noite que passamos juntos?

— O quê? O que é que você está dizendo?

— O que... o que acha que estou dizendo? — Ela tremia.

— Você está me contando que estava... — Ele olhava para ela sem acreditar, e entã o, vendo que Harriet começ ava a ficar angustiada, acrescentou com delicadeza: — Você estava grá vida!

Ela levantou a cabeç a, meio arrependida pelo impulso que teve de contar-lhe.

— Talvez.

— Harriet! Pelo amor de Deus, diga-me a verdade!

— Está bem, eu conto. Sim, sim, eu estava grá vida — falou incerta, tentando libertar-se das mã os dele.

Non! Oh, non! — André falava, sem convicç ã o. Soltou entã o os braç os dela e colocou as mã os no rosto, pressionando fortemente a pele, por um momento, antes de deslizar os dedos distraidamente pelos cabelos. Entã o voltou a segurá -la e o coraç ã o de Harriet doeu, pelo tormento que ele estava sentindo.

— A crianç a. Onde está a crianç a? — perguntou ele.

— Está morta — disse ela, baixando a cabeç a, incapaz de impedir o tremor de. sua voz. — Nasceu morta. Eu... eu tive de continuar trabalhando para me manter e caí de uma escada, algumas semanas antes do tempo esperado que a crianç a nascesse. Era... era uma menina. Uma menininha perfeita! — terminou, engasgando com o bolo que se formara em sua garganta.

Com um gemido, André foi para junto dela e, nesse momento, Harriet nã o protestou. Ele a abraç ou e ela pressionou o rosto de encontro a abertura da camisa, mergulhando na onda escura de pelos que enchia seu nariz e sua boca. Suspirou algumas vezes, mas nã o se afastou, e André nã o fez nenhum movimento para libertá -la. Ao contrá rio, abraç ou-a mais apertado, moldando o seu corpo ao dela, fazendo com que sentisse, com insistê ncia, como estava excitado.

Harriet sabia que tinha de afastar-se agora. Só porque tinha contado a ele, nã o mudava nada a situaç ã o. A culpa dele nã o terminava com a confissã o e ela nã o queria nem a simpatia nem a compaixã o de André.

Mas era tã o bom ficar assim junto dele, os lá bios se movendo contra aquele peito viril, sem que ela conseguisse dominar-se. Ele arrepiou-se e Harriet sentiu que as mã os de André deslizavam por sua nuca, levantando o seu rosto. Os olhos dele eram piscinas escuras, onde ela teria voluntariamente mergulhado, e seus lá bios se moveram sensualmente, quando perceberam a vulnerabilidade dos lá bios de Harriet.

— Harriet? Nã o me mande embora — ele murmurou.

Ela sentiu todo o seu corpo ser consumido pelo fogo, mas pouco podia fazer contra a onda de sentimentos que estava mandando embora qualquer remanescente de consciê ncia. Era André, diziam-lhe os seus sentidos, o homem que j amais havia esquecido, o homem a quem tinha entregado tudo, inclusive o coraç ã o... O cheiro dele a estonteava, um cheiro masculino, derretendo a sua resistê ncia, evidenciando a necessidade que tinha dele, preenchendo as razõ es de sua existê ncia.

Rendeu-se a André, enlaç ando-lhe o pescoç o, apertando os seios firmes de encontro a ele, abrindo a boca avidamente. Foi possuí da por uma espé cie de loucura e, quando os lá bios dele se desprenderam dos seus, para ir buscar a pele que aparecia no decote desabotoado do vestido, ela enlaç ou o pescoç o de André com os dedos, arqueando o corpo sinuosamente de encontro à urgê ncia contida do dele.

— Harriet... Harriet... — André murmurava.

A casa estava tã o quieta... Eles sozinhos ali podiam ser os ú ltimos sobreviventes no mundo — e era tudo o que ela queria naquele momento. Mas logo viu que nã o havia volta...

MonDieu!

Nã o era a voz de André. Para Harriet, foi como uma ducha de á gua fria, mas foi pior para André. Paul estava parado, imó vel, perto da porta aberta, olhando para eles como se nunca os tivesse visto antes. Entã o voltou-se e saiu aos soluç os, sumindo na escuridã o.

Harriet se sentiu mal.

— Harriet! Harriettenho que ir atrá s dele. — André olhava para ela, desesperado.

— Claro — Seu tom era sem expressã o e ela estava concentrada no chã o a seus pé s.

— Harriet, nã o deixe isso acontecer de novo conosco...

— Conosco? O que há entre nó s, André, exceto sexo e luxú ria? — disse, levantando a cabeç a.

— Nã o é verdade! Harriet, por favor... deixe-me voltar...

— Nã o. Vá embora, André. Vá encontrar seu filho. Será que você nã o percebe que eu quero ficar sozinha?

— Você está exausta...

— Nã o. Eu agora estou boa de novo. Agradeç a a Paul por mim. Nã o fosse a intervenç ã o dele, eu teria perdido todo o auto-respeito.

Os ombros de André se curvaram. Ele parecia tã o frá gil que, por um momento, as emoç õ es dela se abrandaram. Mas entã o lembrou-se da esposa dele e do quanto ela devia ter sofrido, sabendo que o marido tinha uma amante. Nada podia alterar o que tinha se passado antes. Aquilo estaria para sempre entre eles. E, se antes nã o confiava nele, por que iria confiar agora?

 

 



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.