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CAPÍTULO VI



 

 

Quando ela desceu novamente, a porta estava aberta e Susan havia desaparecido. Imaginando que tivesse ido conversar com Paul, Harriet engoliu rapidamente um café, já frio, e levou a xí cara suja até a pia. Deu uma olhada no reló gio. Nove horas! Ela tinha duas horas para encontrar uma desculpa para nã o sair com Paul.

Era uma manhã muito bonita para ser desperdiç ada dentro de casa; entã o saiu para o jardim, respirando profundamente, gozando do perfume das mimosas que cresciam em profusã o, embaixo das janelas. Paul estava a alguma distâ ncia, fazendo a foice danç ar ritmadamente. Mas nã o havia sinal de Susan.

Como de há bito, ao vê -la, Paul endireitou-se e falou:

— Daqui a uma hora estará tudo terminado.

— Você viu Susan? — perguntou Harriet, olhando em volta, um pouco ansiosa.

— Sim. Ela me disse que ia sair para um passeio —explicou ele e Harriet sentiu crescer sua impaciê ncia. Entã o ela tinha saí do! Bem, seriam dois a jogar aquele jogo.

Paul ainda olhava para Harriet e, num impulso, ela propô s: •— Quer beber alguma coisa agora?

Ele descansou a foice na relva, fincando-a com um golpe. Entã o enxugou as mã os em seus jeans e cruzou a grama na direç ã o de Harriet.

Ela entrou em casa, um pouco arrependida de sua oferta impulsiva, mas agora era muito tarde. Ele já estava entrando.

Apanhou uma lata do canto, derrubou-a e segurou-a com firmeza, assim que a apanhou novamente. Paul observava com interesse e veio ficar a seu lado, enquanto ela tentava inutilmente puxar o anel da abertura.

— Deixe-me fazer isso — ofereceu-se ele, mas Harriet negou com um gesto, puxando a alç a de metal defeituosa, até que ela se abriu inesperadamente, espirrando refrigerante no peito de Paul.

Ele levou um susto e a tensã o aliviou-se quando Harriet explodiu num riso. Riu até que lhe vieram lá grimas aos olhos. Paul pegou a lata e avanç ou ameaç adoramente para ela, tentando derramar o que restava de refrigerante em cima de sua cabeç a.

Ela estava atrá s dele, rindo ainda, quando de repente percebeu que alguma coisa estava obstruindo a luz que vinha da porta. Olhou por cima de Paul e entã o sentiu aquele aperto familiar dos sentidos, que sempre lhe ocorria quando via André. Paul sentiu a expressã o dela alterar-se e levou um momento para olhar em volta; entã o, renunciando ao jogo, descansou a lata em cima da mesa e encarou o pai.

André endireitou-se da sua posiç ã o de descanso e entrou na cozinha. Para seu espanto, Harriet percebeu que Susan estava exatamente atrá s dele.

— O que você está fazendo aqui, Paul? Louise me contou que você está trabalhando — disse ele.

— E estou.

Paul enfiou as mã os nos bolsos e, sentindo briga no ar, Harriet apressou-se em socorrê -lo.

— Seu filho tem sido muito gentil. Cortou a grama para nó s, do jardim e do quintal — afirmou friamente.

— É verdade? — André resmungou.

— Sim, é verdade. Algué m lhe contou outra coisa? — Paul tomou uma atitude agressiva, procurando olhar para Susan, que estava atrá s de André.

Os lá bios de Susan se crisparam, mas ela nã o disse palavra, e Harriet percebeu que Paul tinha descoberto o que acontecera.

— Oh, Susan! Você nã o fez isso! —exclamou ela, mas, pelo rubor que corou as faces da garota, teve certeza que sim.

— Sua sobrinha veio me dizer que André estava aqui. — As narinas de André arfavam ao dizer isso vagarosamente e Harriet se perguntava quanto ele estaria omitindo. E continuou: — Paul, sua bisavó está esperando que você a leve para um passeio. Talvez a srta. Ingram permita que você termine de cortar a grama algum outro dia.

— Eu nã o sabia disso. Paul, você devia ter me contado. — Harriet parecia embaraç ada, agora.

— Você nã o acredita nisso, acredita? — perguntou Paul com rancor, mas a mã o de seu pai desceu sobre seus ombros e, apesar de livrar-sedelas, murmurou: — Está bem, está bem, já vou indo!

Ele piscou para Harriet, lanç ou um olhar mortal para Susan e saiu da cozinha, colocando sua camiseta à medida que caminhava em direç ã o à estrada.

Susan olhava para ele e seus lá bios tremiam incontrolavelmente, poré m Harriet nã o conseguiu sentir a menor simpatia por ela. Na realidade, Susan tinha ido ao castelo e trazido André até ali com a ú nica intenç ã o de impedir que eles fossem nadar juntos.

— Acho melhor você subir, Susan — pediu ela e, com um gesto petulante, a garota correu para a escada, batendo a porta atrá s de si.

A só s com André, Harriet olhava para ele desconfortavelmente, nã o sabendo ao certo por que tinha ficado e perguntando-se se esperava que ela pedisse desculpas. Vestia jeans, mas, em vez de camisa, estava com uma camiseta sem mangas, que expunha os mú sculos fortes de seus braç os. Obviamente estivera trabalhando, porque havia manchas em seu rosto e suas mã os estavam sujas.

— Sinto muito... se Paul está negligenciando a famí lia... — disse ela com um suspiro profundo, vendo que ele nã o fazia nenhum movimento para retirar-se.

— Verdade? O que você está tentando fazer comigo, Harriet? Vindo para cá... vivendo na minha casa! Espera que eu nã o note a sua presenç a aqui, como se fosse uma estranha? Do que você pensa que eu sou feito? De pedra?! — explodiu ele, de raiva.

— Eu nã o o convidei! — Seu ataque foi tã o inesperado, que pegou Harriet de surpresa. Ela se sentia indignada, mas André nã o deu mostras de ouvi-la. Seus olhos a devoravam, sondando a cor quente das faces dela, vacilando nos lá bios trê mulos e no pescoç o delgado, para demorar-se na firmeza reveladora dos seios.

Harriet sentiu os mamilos endurecerem, denunciando sua perturbaç ã o diante da avaliaç ã o grosseira a que ele a submetia. Quando André desviou os olhos, ela afastou-se abruptamente, incapaz de suportar a sensualidade estudada de seu olhar; disse, em voz baixa:

— Acho melhor você ir embora.

— Por quê? Se meu filho é bem-vindo aqui, por que eu també m nã o seria? — perguntou e, quando falou, ela sentiu que ele tinha se\ aproximado e estava parado atrá s dela.

— Nã o... Seu protesto instintivo foi morrendo num arfar, à medida que André se aproximava. A parede estava atrá s e, quando tentou afastar-se dele, ficou de encontro ao estuque recé m-pintado. Era frio... frio em seus braç os, em suas pernas. Ê sua pele estava quente... quente e, no entanto, gelada, porque o pâ nico tinha colocado suor por todo o seu corpo. Ela podia sentir a umidade nas palmas das mã os, ao longo da espinha, entre as pernas.

Entã o os lá bios dele pressionaram os dela, forç ando sua cabeç a para trá s, contra a parede. Harriet sentiu-se fraca, incapaz de lutar contra ele, como achava que devia, consciente apenas daquele peito esmagando seus seios, machucando-os, os mú sculos fortes das coxas de André pressionando as suas. Todo o peso dele estava sobre ela, os corpos cabendo um no outro, como se tivessem sido feitos para isso, como se sempre tivessem sido...

— Harriet... — gemeu ele, desabotoando a blusa dela, sua boca procurando faminta a curva palpitante do seio de Harriet.

As pernas de Harriet tremeram. O cheiro do corpo dele, o calor e a forç a de André a estavam dominando rapidamente. Ele sempre tinha conseguido isso dela e a passagem dos anos só tinha servido para fazer seu corpo de mulher mais passivo à s necessidades do corpo dele. Nenhum outro homem a abraç ava daquela maneira, a tocava daquele jeito; o sangue de suas veias corria derretido, como fogo lí quido. Ela o desejava, compreendeu com desespero, como sempre tinha desejado...

O chã o do andar de cima estalou, à medida que Susan se movia sem descanso, e aquele som fez com que Harriet voltasse à realidade.

Em nome de Deus, pensou ela, horrorizada, já nã o sofri o bastante, nas mã os desse homem? Como posso deixá -lo se aproximar dessa maneira? Será que estou completamente louca? E, acima de tudo, Susan pode descer a qualquer momento...

— Nã o... — disse ela num meio-tom. Depois repetiu, mais forte: — Nã o!

Suas mã os, que alguns momentos antes abraç avam a carne ú mida das costas dele, se crisparam. Ela lutou para libertar-se, os dedos trê mulos fechando a blusa, os olhos agonizantes evitando os de André.

Obviamente, ele nã o estava acostumado a que suas mulheres o afastassem daquela maneira. Deixou-a ir sem muita resistê ncia, apoiando-se contra a parede onde ela tinha estado momentos antes. Olhou-a com os olhos ainda brilhando pelas fortes emoç õ es, mas os cantos de sua boca se crisparam.

— Por favor, quero que você vá embora. Agora! — disse Harriet, disfarç ando o tremor da voz, consciente do poder que André ainda exercia sobre ela.

— Por quê? É um pouco tarde para fingir que você nã o deseja isso tanto quanto eu, nã o é mesmo? — Suas pá lpebras se abriram, jocosas.

— Saia daqui!

Ele nã o fez nenhum movimento para sair, só endireitou-se, afastando-se da parede e deixando a mã o deslizar sobre os pê los escuros de seu peito.

— Um interlú dio muito... interessante, embora insatisfató rio. Eu me pergunto: o que é que você esperava de mim, Harriet? Você deve estar achando que eu nã o sou um... cavalheiro, nã o é mesmo? — disse ele, mas a zombaria em sua voz era gelada.

— É isso mesmo. Retire-se agora — gritou ela, amarga.

— Assim você pode consolar-me com o pensamento de que nã o sucumbiu por esta vez? — ele falou asperamente, parando em sua frente e fazendo com que ela recuasse outra vez, alarmada. — Ora, relaxe, Harriet! Já aprendi a minha liç ã o de hoje. Nunca diga que um Laroche nã o sabe quando desistir! Mas nã o fique imaginando que pode jogar esse tipo de jogo comigo. Você o deu por encerrado desta vez, mas só porque eu deixei..

— Eu... nã o sei como você se atreve a dizer essas coisas! Nunca... nunca mais quero vê -lo, entendeu? Nunca!

— Você é uma tola, Harriet. — Os olhos dele se escureceram pela raiva e, sem dizer mais nada, virou-se e saiu da casa.

Depois que ele se foi, Harriet começ ou a caminhar, sentindo que suas pernas estavam fracas. Ela nunca tinha vivido uma cena daquelas. Será que a maneira como se comportou tinha aniquilado o desejo latente entre eles? Acima de tudo, teria ela revelado a emoç ã o que André ainda podia despertar, a emoç ã o pungente, que já uma vez a atraiç oara? Com o corpo ainda pulsando pela pressã o exigente do corpo dele, cruzou os braç os sobre o peito desejando que as lembranç as traiç oeiras a abandonassem.

Um barulho na escada a fez virar-se; viu Susan, ocultando-se atrá s da porta entreaberta. Sentiu raiva, quando pensou que a garota tinha sido responsá vel pela cena que acabara deacontecer, mas substituiu-a pela impaciê ncia, frente à sua pró pria fraqueza. Como podia culpar Susan pelo que tinha acontecido? Era possí vel culpar algué m, alé m de si mesma?

— Vamos, entre! — disse ela, agora meio impaciente, e Susan parou na cozinha.

— Harriet? Harriet, eu... eu sinto muito.

Harriet perguntou-se do que ela estaria se desculpando: de ter trazido André para lá? Ou da cena que aconteceu depois de sua chegada?

Procurou agir com naturalidade. Colocou os cabelos sedosos para trá s das orelhas, e disse rapidamente:

— Já passou. Está acabado agora e, pelo menos... pelo menos, nã o tive de ir nadar.

— Você quer... você quer ir agora?

— Acho que nã o. É melhor irmos cuidar do jardim, nã o acha? Trabalhar com a foice era uma boa terapia. Susan juntou-se a ela

para cortar a grama e foi juntando-a num monte, no quintal, enquanto Harriet a cortava. Mas aquele era um trabalho duro e ambas desistiram para ir tomar banho no rio, permitindo que a á gua fria e cristalina as refrescasse. Tinha sido uma longa manhã, e a tarde també m prometia ser comprida.

— Você se machucou — observou Susan à noite, quando sua tia se despia para dormir.

Harriet sabia que tinha vá rios machucados e nã o queria discutir a origem deles com Susan.

Uma vez embaixo dos lenç ó is e protegida pelo escuro, seus dedos procuraram as á reas doloridas, em volta dos seios e nos braç os. Quase podia sentir de novo a rudez das mã os de André sobre sua pele, a forç a dos dedos dele apertando-lhe as carnes. Vieram-lhe à mente cada um dos detalhes do que tinha acontecido aquela manhã e, para sua vergonha, seu corpo reagia novamente ao lembrar-se da masculinidade dele...

Durante os dias que se seguiram, Harriet pensou muito sobre sua relaç ã o com André e concluiu que o pior já tinha passado. Sim, André e ela tinham tido um confronto. Mas, no momento em que o encontrou, sabia que esse confronto viria; agora, dependia dela continuar sua vida e colocar de lado qualquer pensamento em relaç ã o aos Laroche. Poré m, nos momentos de descanso, os Laroche voltavam aos seus pensamentos. Nessas noites, o sono demorava a chegar.

Susan estava desejosa de chegar a um bom termo com a tia.

Estava arrependida do quê fizera e, embora nã o tivesse conhecimento do ninho de vespas em que tinha colocado a mã o, era perceptiva o suficiente para saber que a cena que motivara tivera repercussõ es jamais sonhadas. Algumas vezes Harriet se perguntava se Susan chegou a suspeitar do que estava realmente acontecendo lá embaixo, entre ela e André, ou se simplesmente pensava que os dois tivessem brigado o tempo todo.

Se ao menos tivé ssemos estado, pensou amargamente, teria sido muito mais fá cil de esquecer.

Mas elas tinham vindo a Dordogne para conhecer a regiã o e, determinada, Harriet se propô s a fazer exatamente isso. Visitaram Rocamadour, chegando até acima do vale de Alzou; visitaram Sarlat, de paredes amarelas e telhados brancos, tã o originais; Perigueux, capital de Perigord, com sua catedral e suas lindas construç õ es antigas; e, finalmente, Bergerac, onde passearam pelos vinhedos e experimentaram alguns dos vinhos que tornaram a cidade famosa.

A viagem mais memorá vel, segundo Harriet, tinha sido à s cavernas de Peche-Merle. Mergulhando dentro dos rochedos, por mais de trê s quilô metros, as galerias e os grandes espaç os eram um sonho, contendo desenhos de animais que andaram sobre a terra quarenta mil anos antes. Tudo aquilo era muito perturbador e Harriet saiu dali com a sensaç ã o aumentada da pró pria mortalidade.

Se ao menos se pudessem aplicar as liç õ es aprendidas na pró pria vida, pensou ela, compreendendo quã o sem importâ ncia eram os seus problemas pessoais, vistos daquela perspectiva.

Depois de uma semana do encontro desastroso com André, Harriet estava fazendo compras em Rochelac, uma manhã, quando quase colidiu com Paul. Estava saindo da padaria, com o sol batendo em seus olhos, e buscava os ó culos escuros quando uma figura alta veio a seu encontro.

— Alô, Harriet.

— Paul! Que surpresa — disse ela, colocando os ó culos no nariz.

— Nã o é mesmo? Você está sozinha?

— Bem, sim. Susan está tomando banho de sol. O tempo tem estado tã o... maravilhoso — disse Harriet, mudando a sacola de um braç o para o outro.

— É mesmo. — Ele colocou as mã os nos bolsos, aparentemente muito feliz, enquanto a metade da populaç ã o de Rochelac bisbilhotava a respeito deles.

Claro, Harriet pensou com desconforto, essas pessoas sabem quem ele é.

—Bem, foi bom encontrá -lo outra vez, Paul... — disse, forç ando um sorriso.

— Venha tomar um refrigerante comigo. Ou um café, se preferir. •— Eu... acho melhor nã o...

— Por que nã o? Você me deve algo, lembra-se?

— Paul, você sabe que essa nã o é uma boa idé ia...

— Por causa de meu pai, eu sei. Ele me contou.

— Contou? Contou o quê? — Harriet estava horrorizada.

— Que você s se conheceram alguns anos atrá s... e que você nã o gosta dele.

Harriet sentiu-se fraquejar. O que André tinha contado ao filho? O mesmo que contou à esposa?

— Bem, entã o... — começ ou ela, mas ele a interrompeu novamente.

— Meu pai nã o está aqui. Ele nã o precisa saber. E, se souber... — Ele deu de ombros, com indiferenç a.

— Paul imagino que deve haver garotas que estarã o simplesmente morrendo de vontade de sair com você. — Harriet ainda hesitava.

— Como Susan, por exemplo. — Sua expressã o ficou sombria, mostrando a irritaç ã o.

— Está bem, está bem. Vamos tomar um café.

Bien! — A irritaç ã o dele desapareceu e eles entraram no café de monsieur Macon.

— Entã o... como vai você? — perguntou ele.

— Eu vou bem, obrigada. E você?

Algumas mesas tinham sido colocadas fora, aproveitando o sol brilhante, e Paul escolheu uma delas, pedindo as bebidas a uma jovem garç onete, que deu mostras de reconhecê -lo.

— Algué m que você conhece? — perguntou Harriet, maldosa, com os cotovelos apoiados na mesa.

Paul ficou embaraç ado por um momento.

— Lise? Ela nã o é muito boa da cabeç a. Agora, você...

— Esqueç a-se de mim. Diga-me, você levou sua bisavó a passear?

— Louise? Sim, levei-a. — Paul pronunciou o nome com afeiç ã o.

— Louise? É esse o nome de sua bisavó? — Harriet nã o pô de deixar de perguntar.

— Louise Marie-Thé rè seLaroche. É o nome da avó do meu pai. Você quer conhecê -la?

— Oh, nã o! Quer dizer... eu nã o sonharia em... em...

—... Visitar a casa de meu pai?

— Algo assim. Ora, aí está o café. Hum, que cheiro bom.

A interrupç ã o da garç onete forç ou uma pausa e Harriet assumiu um interesse intenso pelo conteú do de sua xí cara.

— Papai me disse que você mora em Londres — comentou Paul de repente e ela foi forç ada a olhar para cima.

— Contou? Sim, é verdade. — Deu de ombros.

— Acho que você encontra um monte de pessoas interessantes no seu trabalho — disse Paul, descansando os braç os sobre a mesa.

— Algumas. Por quê? Está interessado em antigü idades? — Harriet admirou-se, sentindo-se agora em terra firme.

— Nã o. Mas eu gostaria de viver em Londres — disse Paul, balanç ando a cabeç a.

— Você nã o gostaria — assegurou Harriet com firmeza, olhando para a xí cara de café outra vez.

— Como você pode dizer isso? Londres é o lugar para ir se algué m quer ser famoso. — Ele parecia indignado agora.

— Existe muita gente em Londres que nã o é.

— Talvez eles nã o sejam ambiciosos.

— Você é?

— Claro.

— O que você gostaria de fazer, em Londres?

— Arrumar um emprego... tocar guitarra.

— Ah, já sei. Você toca guitarra. Bem, deixe-me dizer-lhe, Paul, existem milhares de rapazes em Londres exatamente como você...

— Isso é o que meu pai diz. Mas ele nã o entende. Eu sou bom! Sei que sou. Se eu pudesse ir para Londres... arrumar lugar numa banda... — Por que nã o Paris?

— Eu quero ir é para Londres.

— Preciso ir agora, realmente — disse ela, acabando o café e pegando a bolsa.

— Eu pago — disse ele, e ela nã o fez nenhum protesto.

A pequena praç a estava mais cheia do que nunca e Harriet lhe explicou que tinha estacionado o carro nas imediaç õ es da vila.

— Obrigada pelo café — disse num tom maternal, mas Paul nã o se deixava descartar com tanta facilidade.

— Eu a acompanho — ele insistiu e ela nã o teve outra alternativa senã o aceitar.

O sol estava muito quente e ela começ ou a sentir que suas roupas se tornavam grudentas, mas ficou calada, num esforç o para mostrar ao rapaz que nã o desejava demorar-se. Qual seria a reaç ã o de Charles, se ele pudesse vê -la agora... andando por Rochelac, com o filho de André?

Logo alcanç aram o carro e ela abriu-o rapidamente, colocando a sacola no banco de trá s. Paul colocou as mã os nos bolsos e ficou esperando. Harriet acrescentou um outro sorriso. — Bem... Vamos nos despedir — disse ela, num tom encorajador.

— Meu pai está trabalhando. Por que você nã o vem comigo, para conhecer Louise?

— Eu... nã o posso. — O coraç ã o de Harriet comprimiu-se.

— Você nã o vai encontrar meu pai, prometo. É a é poca da colheita de frutas e ele fica fora o dia todo.

— Por que você nã o o está ajudando? — Harriet procurou uma desculpa.

— Este é o meu dia de descanso. Alé m disso, trabalhar no campo nã o é bom para as minhas mã os — disse Paul, fazendo uma careta.

Harriet entrou no carro com determinaç ã o.

— Sinto muito, Paul, mas preciso voltar. Susan ficará preocupada com o meu atraso. Adeus — disse ela, fechando a porta e abaixando o vidro, porque a atmosfera dentro estava abafada.

Paul ficou de pé a seu lado e levantou a mã o em saudaç ã o. Com um sentimento de alí vio, ela partiu. Mas o rosto do rapaz, refletido no espelho retrovisor, era pensativo e Harriet ficou imaginando, incomodada, que eles ainda teriam o que conversar.

A curiosidade a envolvia, à medida que guiava. Paul nunca mencionara sua mã e, ou a possibilidade de ter irmã os ou irmã s, ou ambos. A ú nica pessoa, exceto seu pai, que ele havia mencionado era sua bisavó, e ela devia ser muito velha. Devia ter, pelo menos, oitenta anos, e, no entanto parecia ser uma pessoa importante na casa.

É claro que as famí lias francesas nã o sã o como as inglesas. Aqui, os velhos sã o reverenciados e respeitados, e suas opiniõ es, ouvidas e ponderadas, nã o ridicularizadas como se nã o tivessem valor. A experiê ncia significa muito aqui e isso deve pesar na afeiç ã o evidente de Paul por sua bisavó. Mas, e sua mã e? Embora pesarosa Harriettinha de admitir que estava curiosa...

Nã o viu sinal de Susan quando chegou em casa, e seus nervos tiniam. Ela tinha estado fora só por uma hora e nada de extraordiná rio podia ter acontecido nesse í nterim. Susan costumava sair para recebê -la, o que nã o tinha acontecido daquela vez. Caminhou rapidamente para dentro da casa, chamando:

— Susan! Susan, onde está você? Estavaidentificando algumas manchas horrí veis nas pedras do chã o da cozinha, como sendo de sangue, quando ouviu um gemido. Vinha do salone Harriet atravessou o cô modo com pernas trê mulas, sufocando de ansiedade. Parou à porta da pequena sala, quase desmaiando. Susan estava deitada no sofá, com o rosto branco feito papel, enquanto uma mancha vermelha, pingando de uma bandagem mal-feita, embaixo do joelho, coloria rapidamente o veludo cor-de-rosa.

— Susan Oh, meu Deus! — Harriet reprimiu a ná usea que a invadia, quando viu tanto sangue. Suas pernas fraquejaram e ela agarrou-se no batente, para nã o cair. Por um momento, o quarto rodou à sua volta.

— Harry... Oh, Harry, estou tã o contente de você ter voltado. Estava tã o... tã o apavorada! — Susan engoliu em seco e caiu em prantos.

Harriet correu até ela, confortando-a o melhor que pô de, enquanto seus olhos procuravam avaliar a gravidade do corte. Como é que tinha acontecido? Era ó bvio que, de alguma maneira, Susan tinha ferido a perna.

— Diga-me, querida, o que foi que aconteceu? Susan engoliu em seco outra vez e fungou. Harriet estendeu-lhe um lenç o para que ela assoasse o nariz, compreendendo que precisava fazer alguma coisa o mais rá pido possí vel. Susan estava perdendo muito sangue.

— Foi... foi a foice. Eu... eu estava tentando acabar de cortar a grama. Sabe... a grama que Paul deixou... — disse Susan finalmente, horrorizada.

Harriet podia sentir o pâ nico se apoderando dela. A foice! Qualquer acidente já era ruim por si mesmo, ainda mais ali, a quilô metros de um hospital, sem mé dicos. Precisava fazer alguma coisa rapidamente, mas o quê?

Pense, falou ela para si mesma, pense! Fique calma! Nã o deixe que Susan perceba que você está caindo aos pedaç os!

Pressionando as mã os trê mulas, ajoelhou-se no chã o e, dando a Susan o que ela imaginou fosse um sorriso encorajador, desfez a bandagem e expô s o ferimento. Era pior do que qualquer coisa que já tivesse visto ou imaginado. A carne ferida expunha o branco do osso. Seria necessá rio levar pontos e as chances de infecç ã o, por ser um instrumento de jardinagem, eram muitas.

— Vou ter de aplicar um torniquete, Sue. Tenho de fazer parar o sangue imediatamente e aí vamos procurar um mé dico, está bem? — disse ela, numa voz um pouco mais alta que o normal.

Estava tentando parecer confiante e competente, mas suas palavras lhe saí am com pouca convicç ã o. Nunca tinha necessitado lidar com algo semelhante antes, jamais tinha feito um torniquete em algué m. Alé m disso, nã o tinham nem uma caixa de primeiros socorros na casa; nada, alé m de aspirinas, que aliviasse a dor que a garota devia estar sentindo.

— Está bem. — A voz de Susan era confiante, mas Harriet se sentia cada vez mais apavorada. Nã o tinha lido, em algum lugar, que o sangue só podia ser estancado, de uma parte do corpo, por um certo perí odo de tempo, antes de gangrenar? Gangrena! Ela tremia. Se Susan perdesse uma perna por causa disso, ela nunca se perdoaria.

Um par de meias de ná ilon funcionou como um torniquete e foi com algum alí vio que Harriet viu o sangue começ ar a se estancar. Mas Susan ainda estava terrivelmente pá lida.

— Sinto ter estragado seu sofá — disse ela, fracamente, olhando para o veludo manchado, mas Harriet sossegou-a.

— O sofá nã o é importante. Você é. Agora, vamos para o carro.

— Aonde vamos?

— Encontrar um mé dico — disse Harriet rapidamente, embora duvidasse disso. Tinha de ter um mé dico em Rochelac! Tinha de ter!

Susan era pesada. Depois de algumas tentativas frustradas, Harriet estava fraca e sem respiraç ã o, e Susan, obviamente, em pâ nico.

— Eu... eu tenho de andar — disse ela, tentando ser prá tica, mas seu rosto perdeu qualquer sinal de animaç ã o, quando tentou se levantar do sofá.

— Fique onde está! Eu... eu vou buscar ajuda. — Harriet respirou profundamente, enquanto Susan a olhava, ansiosa.

— Quem? — disse Susan, voltando a recostar-se no sofá.

— Paul. — Harriet fez um gesto de derrota.

 



  

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