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Digitalização: Dores Cunha 8 страницаAs feiç õ es de Jared estavam duras e controladas. — Foi um arranjo meu — disse, inexpressivo. — Achei que ela estava sentindo falta do amigo. Catherine fuzilou-o com os olhos, tentando ver o que havia atrá s daquela fria má scara que adotava, mas nã o adiantou. Estava mais distante do que nunca. — Nã o foi uma ó tima idé ia dele? Foi Marion Prentiss quem falou, tirando a estola de peles, entregando a Susie e sorrindo para a filha e Jared. Em cetim cor de pê ssego, parecia ainda mais gordinha, e Laura, num vestido de tafetá cor de limã o, era um pá lido reflexo da mã e. Elizabeth apareceu atrá s do enteado, — Marion! Gerald e Laura! Entrem, entrem. Aqui está o nosso convidado de honra, o amigo de Catherine, Tony Bainbridge. Todos foram andando em direç ã o à biblioteca, com Catherine com Prentiss atrá s. Logo se fizeram as apresentaç õ es e Tony, bem humorado e confiante, conseguiu a simpatia imediata de todos. Menos de Jared, que continuou distante, misturando drinques e servindo-os, tomando o seu perto da lareira, silenciosamente, olhando a cena por sobre o copo. Apesar de Tony se esforç ar ao má ximo para envolvê -lo na conversa. Catherine percebia claramente a indiferenç a de Jared; assim mesmo, queria se aproximar dele. Laura parecia, pela primeira vez, menos obcecada com o noivo. Era ó bvio que nunca tinha encontrado algué m como Tony. Ningué m podia deixar de admirar o modo pelo qual ele esquecia seus problemas com um sacudir de cabeç a, garantindo a todos que se considerava feliz por estar vivo. Aos onze anos, viajava em um aviã o, que caiu nas montanhas da Amé rica do Sul, matando seus irmã os e deixando-o paralisado da cintura para baixo. Voavam para o Peru para encontrar os pais, que faziam uma pesquisa arqueoló gica. Só restaram sete sobreviventes, e, apesar de quase nã o tocar no assunto e parecer nã o se importar, Catherine sabia que em algumas ocasiõ es ele sofria terrí veis depressõ es. Queria ajudá -lo a nunca mais sentir nada disso. Foi por isso que tentou convencer o pai a financiar os planos de Tony para um centro de reabilitaç ã o de deficientes fí sicos. Mas Jack Fulton nã o tinha tempo para caridade. O jantar foi servido um pouco mais tarde do que o normal, e Catherine encontrou-se sentada entre Tony e o sr. Prentiss. Jared e Elizabeth ocupavam as cabeceiras da grande mesa de jantar, Jared com a noiva à direita e Manners, que foi forç ado a se juntar a eles para fazer nú mero par, sentado entre Laura e a mã e. Catherine tinha de olhar de lado para ver Jared, e como Elizabeth a colocava sempre como par de Tony, as ocasiõ es para conversar com ele eram poucas. Surpreendentemente, quando o jantar acabou e foram para a beira da piscina tomar café e licores, Laura atrapalhou os planos de Elizabeth ao pegar a cadeira de rodas de Tony e insistir em empurrá -la, apesar de ele ser perfeitamente capaz de manejá -la sozinho. Gerald Prentiss conversava com Elizabeth, a sra. Prentiss fazia perguntas a Manners sobre a reabilitaç ã o do patrã o depois do sé rio acidente e Catherine ficou de lado, com Jared. — Seu amigo está fazendo muito sucesso — disse, numa voz fria e dura. Catherine olhou-o, infeliz. Apesar de achar seu comportamento muito estranho, nã o podia deixar que ele escapasse sem tentar alcanç á -lo. — Jared — sussurrou, inclinando a cabeç a para que ningué m pudesse ler seus lá bios. — O que há com você? — Nã o entendo. Ela suspirou. — Nã o se faç a de bobo. Sabe o que quero dizer. Só nã o compreendo sua atitude, é isso. — — É uma pena. — Jared! Podia bem ter me contado. — — Por quê? Só de contar, eu deixaria de fazer o papel de bobo que fiz? — Nã o fez papel de bobo! — Ah, fiz. — Sua expressã o era de desprezo. — com a sua ajuda, é claro. — Eu lhe disse que nã o estava grá vida e você nã o acreditou. — Um pouco tarde, nã o acha? — Mas eu lhe contei naquela noite, na praia, e você nã o acreditou! — Que bobagem minha! — Jared, pare com isso. Hoje à tarde... — Nã o quero falar sobre hoje à tarde. — Por que nã o? — Ora, vamos, Catherine, nã o é assim tã o ingé nua. Você me fez de’ bobo o tempo todo. Como posso saber que nã o está grá vida? Há outros homens em Londres, nã o há? Homens com todas as... faculdades, nã o é? Se acha que eu posso acreditar em você depois disso... — Seu... seu... desgraç ado! — Palavra forte! — Jared olhou em volta para ver se ningué m os escutava. — Fale baixo. Eu preferia que a ilha toda nã o ficasse sabendo que uma das minhas convidadas nã o é uma mulher educada. — Você, você... Nã o acredito que seja normal e tenha os mesmos sentimentos que todo mundo. Está é desapontado porque seu orgulho foi ferido, só isso. Nã o se importou quando humilhou Laura; mas, quando afeta você, nã o gosta. — Acertou na mosca. — Que sujeito orgulhoso e egoí sta! — Tenho uma boa professora. — Eu? Como pode dizer isso? Nã o comecei nada, foi você! Insinuando que eu dormia por aí com qualquer um! Nã o era essa a preocupaç ã o de papai! — Nã o era? — Nã o’ — O desprezo dele tocou-a fundo. — Se quer saber, papai estava preocupado com Tony. Masnã o do modo que você pensa. Tony quer abrir um centro de reabilitaç ã o. Tem idé ias esplê ndidas. E há milhõ es de anos tento convencer papai. E, mas ele sabia que nã o estava bem de saú de. Havia uma possibilidade de... — Respirou fundo. Tinha medo que lhe acontecesse alguma coisa e eu desse a heranç a de presente. Ou a maior parte dela. Dinheiro nunca significou muito para mim. Posso trabalhar, se precisar. Jared deu uma risada. — Que emocionante! — Era ó bvio que nã o estava acreditando numa só palavra. — Mas é a verdade! Jared, eu nã o mentiria num caso desses. — Ah, nã o? Fitou-a longamente, severo. com um gesto impaciente, foi embora. Catherine ficou onde estava. Seus joelhos batiam um contra o outro e a fraqueza que tinha sentido voltou com toda forç a. Nã o adiantava conversar com Jared. Ele simplesmente escolhia a verdade que queria e se mantinha preso a ela, teimoso. Era cruel e egoí sta, e completamente amoral em relaç ã o à s suas pró prias necessidades. Gostaria de nunca mais vê -lo!
CAPÍ TULO X
— Manners e eu temos que começ ar a pensar em voltar para Londres — disse Tony, calmamente, apoiando-se nos cotovelos e observando o pá tio. — Ah, nã o! — Catherine virou-se de bruç os no colchã o de ar ao lado dele e, olhou-o, desolada. — Tony, você nã o pode ir! — Infelizmente, vou ter que ir, amor. Já percebeu que estou aqui há uma semana? Tenho coisas a fazer, a organizar. Nã o quer que eu largue o meu comité, quer? Catherine deu um suspiro. — Nã o aguento pensar como vã o ficar as coisas aqui, depois que você for embora. Tony fez uma careta. — Nunca fui tã o popular. — Estou falando a verdade. Nã o sei se aguentarei sem você. Tony esticou a mã o e apertou seu braç o. — Volte comigo, entã o. Catherine piscou. — Está falando sé rio? — Claro que sim. Você nã o é obrigada a ficar. Nã o é uma tutelada pela corte ou coisa semelhante. E, mesmo que Royal arranjasse uma tutela legal sobre você, já estaria longe. Catherine sentou-se, abraç ando os joelhos. — É uma tentaç ã o. — Ele nã o falou com você? — Depois que você chegou? Nã o. — Balanç ou a cabeç a, mal conseguindo esconder o tremor da voz. Tony praguejou baixinho, coisa nada costumeira, e ela o olhou agradecida. Uma semana de sol tinha feito pouco para a pele clara de Tony, mas passaram muitas horas ali, do lado da piscina, conversando. Ela sentiria falta de sua atenç ã o, de sua companhia e da barreira que representava contra a maldade de Elizabeth. Era quase certo que a mulher devia saber alguma coisa; ainda olhava para Catherine como para uma rival em potencial. Talvez inimiga fosse uma palavra melhor. Quaisquer que fossem os sentimentos de Jared ou a falta deles em relaç ã o à madrasta, Elizabeth ainda o considerava como sua propriedade pessoal, e só queria emprestá -lo para algué m como Laura, que jamais exigisse alguma coisa dele. Jared mantinha-se afastado. Quando nã o estava no estú dio, ia para a casa da praia, e só de vez em quando se juntava a eles, nas refeiç õ es. Ele e Tony nã o simpatizavam um com o outro, e, apesar de educado, via-se que sua polidez era forç ada. Laura continuou visitando os dois, e agora Catherine até gostava de vê -la. À s vezes, parecia ser a ú nica pessoa sã no meio de todo mundo. Passava horas discutindo com Tony os vá rios aspectos que tomavam os defeitos fí sicos, em todas as suas formas, e Laura tinha sugestõ es que surpreendiam Catherine por sua originalidade. — Você precisa ir a Londres e visitar o centro quando estiver pronto! — sugeriu Tony uma tarde. Apesar de Laura fazer cara de dú vida. Catherine achou que ela realmente gostaria de aceitar o convite. Mas, a essa altura, já estaria casada... — Bem, acho melhor você ir embora comigo — disse Tony. — Royal já me conhece. Já viu o pior. Deve ter percebido que nã o tem motivo para se alarmar. Catherine deu um suspiro abafado. — Ele nã o acredita em mim. — O quê? Sobre o centro? — Ela concordou e ele perguntou: Entã o, por que pensa que seu pai lhe escreveu? Catherine deu de ombros. — Ainda acha que vivo solta por aí. — com outros homens? — Acho que é. Tony ferveu de raiva. — Como se seu pai se importasse com isso! — murmurou. — Esse homem é um idiota! — Nã o diga isso. A culpa é toda minha. Nã o devia ter feito com que ele pensasse... ora, eu nã o sabia o que ia acontecer... — Nã o poderia lhe contar? — Contar o quê? Nã o tenho nada a dizer a Jared Royal! Eu... eu... desprezo. — Nã o é verdade. — Juro! Eu o desprezo. Desprezo tudo que ele significa. Tony suspirou. — E entã o? — Está bem, está bem. Volto para Londres. — Agora que a decisã o estava tomada, ela queria ir embora logo. — Quando vamos? Tony franziu a testa. — vou fazer com que Manners vá ao aeroporto hoje. com sorte, sairemos amanhã. — Amanhã? — É depressa demais? — Nã o... nã o. — Mas era. E a idé ia de nã o ver Jared nunca mais a enchia de desespero. Encontrou Tony na biblioteca antes do jantar. Tinham combinado encontrar-se lá um pouco mais cedo para poderem conversar antes que Elizabeth e Jared aparecessem. — Seis horas, amanhã — disse ele, sem preâ mbulos. — Chegaremos a Heathrow logo depois das seis. No dia seguinte, é claro. — Claro. Seis horas. Nã o havia nada mais cedo? Tony riu. — Que afobaç ã o! Alé m disso, é um voo direto e achei que ia preferir. — Prefiro. — Catherine mexeu-se inquieta. — Acho que... acho que vou ter que contar a Jared. — Nã o é preciso. Já contei. — O quê? — Ele estava sentado na varanda quando Manners voltou. catherine sentiu o estô mago embrulhar. — E o que foi que ele disse? Tony franziu a testa. — Primeiro, nã o falou muita coisa, com cara de quem nã o estava acreditando. Fiquei com raiva e expliquei tudo sobre o meu centro... — Oh, Tony! — E por que nã o? Nã o sei por que quer que ele continue achando que você é uma cabeç a de vento. Disse que podia verificar tudo, entrar em contato com o comité em Londres, mas acho que nã o fará isso. — Tony, nã o devia ter se metido... — Por quê? Queria que ele se sentisse mal. Por que fazer você passar por tanta humilhaç ã o à toa? — E entã o, o que foi que ele disse? Tony sacudiu os ombros. — Quase nada. Só fez algumas perguntas sobre o centro e sobre o que querí amos fazer e de quanto dinheiro precisá vamos. Catherine cruzou os braç os. Apesar de ser uma tarde quente, estava se sentindo gelada. Sua ú ltima noite em Barbados, pensou. Devia estar aliviada, e nã o desolada. — Entã o, está combinado. Já aliviei minha consciê ncia. Nã o podia ir embora sem contar a verdade a Royal. — Catherine! — Ela assustou-se, mas era só Elizabeth entrando na sala e estendendo a mã o. — Acabei de saber da novidade. Vai embora! Catherine virou-se para encarar a mulher, com relutâ ncia. Sabia que seus olhos estariam triunfantes e nã o se desapontou. — Foi Jared que lhe contou? — Jared? Ele está aqui? Nã o, nã o foi ele. Foi Susie. Diz que vai com Tony e o sr. Manners. Foi ele que contou aos empregados. Deveria ter me dito antes. Eu faria uma festinha de despedida. Para substituir a que Jared cancelou, pensou Catherine, amargamente. — Acho que Catherine nã o ia querer saber de festa. Mas foi uma idé ia gentil. Jared vem jantar? — interrompeu Tony. — Nã o sei. — Elizabeth pareceu se agitar. — Nã o o vi hoje. Pensei que estava na casa da praia. — Esteve aqui hoje cedo. — E estou aqui agora — interrompeu Jared. Posso preparar um drinque para todos? Enquanto ele misturava os drinques, Elizabeth ficou conversando superficialidades, mencionando o voo de volta para Londres e perguntando a Catherine quanto tempo demorava do aeroporto ao seu apartamento. — Garanto que está louca para ver os velhos amigos — observou ela com um resto de maldade. — Uma moç a como você deve ter montes de... amigos. — É claro que tem — garantiu Tony. — E nã o sã o todos aleijados. Elizabeth forç ou um sorriso. — Vejo que gosta muito dela, Tony. — Gosto. — Pegando a mã o de Catherine. — Eu casaria com ela amanhã, se fosse um homem inteiro. — Tony! Catherine ficou envergonhada, mas ele só fez apertar sua mã o com mais forç a. — Qual é o problema, amoreco? Só estou dizendo a verdade. Sabe que sempre fui seu escravo. — O jantar está servido, sr. Royal. O aviso de Lily nã o podia ter chegado na hora mais certa para Catherine, que soltou a mã o de Tony e foi para sua cadeira. Viu que Jared a olhava fixamente e virou o rosto, perturbada. A refeiç ã o parecia nã o ter fim. Catherine queria escapar para o quarto e arrumar as malas. Até a companhia de Tony nã o a agradava naquela noite, e logo que pô de pediu desculpas e saiu da sala. Escutou passos, e a voz de Jared, no saguã o, fez com que parasse. — Catherine! Quero falar com você. Virou-se, relutante. — Por quê? Nã o deu uma palavra a semana inteira! Ele franziu a testa, zangado. — Nã o imagina que vou deixá -la ir embora, nã o é? Catherine engoliu em seco. — Como? — Acho que devemos entrar na biblioteca. Podemos conversar lá, em particular. — Nã o quero ir para a biblioteca. — Mas vai assim mesmo. — Antes que ela pudesse resistir, ele a pegou pelo braç o, corredor afora, e entrou pelas portas abertas. Enquanto fechava as duas, deixou-a lá, esfregando o braç o dolorido. — Agora eu digo: você nã o vai embora! De repente, Catherine ficou muito calma. Tony tinha razã o: Jared nã o podia forç á -la a ficar. — Nã o pode me impedir. — Catherine. pelo amor de Deus! — vou embora, Jared. Nunca devia ter vindo. Você nã o queria minha presenç a. Só lhe dei trabalho. Devia ficar contente de me ver pelas costas. — Catherine! Muito bem, muito bem, talvez eu a tenha castigado durante a semana. — Castigado? — Olhou-o, incré dula. — É, castigado. — Passou a mã o pela nuca, desmanchando os cabelos. — Se isso a diverte, saiba que me puni també m. Catherine nã o queria escutar. Tinha resolvido: ia embora no dia seguinte à tarde. Jared ia casar com Laura e, dissesse o que dissesse, ficar só prolongaria sua agonia. — Está perdendo seu tempo, Jared. — Ficou boba de ver como sua voz soava calma. — Agora, se é tudo que tem a dizer... — Catherine! — Segurou-a pelos ombros, seus dedos machucando-a, olhos cegos de impaciê ncia. — Acho que nã o está entendendo. — É você que nã o compreende nada, Jared. — Admito. Quando descobri que estava me enganando, fiquei louco! Pode me culpar? Talvez nó s dois tenhamos culpa. Talvez eu a tenha julgado mal. — Talvez? — Mas sou um homem ciumento! Nunca pensei que pudesse desejar qualquer mulher que nã o fosse... — Interrompeu-se, frustrado. — O que estou tentando dizer é que, se tiver que escolher, prefiro você como é a nã o tê -la junto a mim. Catherine nã o acreditava em seus ouvidos. — Uma mulher da vida, é isso que quer dizer? — Nã o fale assim. Catherine. Meu Deus. estou me expressando mal... — Está, sim. — Repeliu-o e ficou ofegando na frente dele. — Você... você... E espero nã o vê -lo nunca mais. — Nã o fala de coraç ã o! — Nã o? — Eu a amo, Catherine. — Amor! — Quase riu na cara dele. — Nã o sabe o significado da palavra! Saiu da sala. Sentia-se gelada, adormecida, completamente exaurida de emoç õ es. Essas semanas em Barbados tinham sido uma experiê ncia de que nunca se esqueceria. Laura veio almoç ar no dia seguinte. Catherine nã o tinha visto sinal de Jared depois da cena da biblioteca e a julgar pela expressã o de Elizabeth, ela també m nã o o vira. Mas Laura era outro assunto. — Mas foi tã o sú bito, nã o? — perguntou, olhando ingenuamente de Catherine para Tony. — Nenhum dos dois falou que ia embora tã o depressa. — Eu tenho trabalho, mocinha — disse Tony, descontraí do. — Nã o sou como você s, preguiç osas. Tenho que ganhar a vida. Laura fez um gesto impaciente. — Mas Jared me disse que ia ficar pelo menos seis meses, Catherine. Catherine inclinou a cabeç a. Na posiç ã o de Laura, duvidava que agisse assim. Laura era uma boa moç a, esse é que era o problema. Parecia pedir para ser magoada. E Jared a magoaria. — É que quero voltar a trabalhar com Tony. — Trabalhar? — Elizabeth entrou na conversa pela primeira vez. — O que você faz? — Muito, na verdade — interpô s Tony rapidamente, detectando o tom maldoso de Elizabeth. — Catherine dirige. Tem seu pró prio carro. Nossa organizaç ã o tem membros saudá veis, sem defeitos. Ela levantou fundos atravé s de bazares e rifas, pà ra comprar um minionibus que conduz nossos deficientes. — É mesmo? — Elizabeth nã o se impressionou. — Que maravilha! — Laura falou, com inveja. — Gostaria de fazer qualquer coisa dessa espé cie. É tã o chato ficar só de festa em festa! — Você vai casar logo — lembrou Elizabeth, docemente. — Nã o terá tempo de sentir té dio. E depois que vierem os filhos... — É... — Mas Laura nã o parecia convencida. Continuou olhando Catherine e Tony. pensativa, e era ó bvio que pela primeira vez nã o prestava atenç ã o na futura sogra. Apesar de dizer a si mesma que estava feliz por ele nã o aparecer, Catherine surpreendeu-se quando Jared nã o voltou antes que eles saí ssem para o aeroporto. Sylvester os conduziu, e foi difí cil dizer adeus a Elizabeth. No aeroporto, tiveram que esperar um pouco depois de se apresentarem, mas Tony manteve a conversa fluente e, apesar de Catherine saber por que ele falava tanto, a terapia funcionou assim mesmo. Foi quando estavam entrando no aviã o, que ela viu Jared, mas disse a si mesma que devia estar imaginando coisas. Havia qualquer coisa de familiar naquele homem sentado numa motocicleta na beira da pista, e quem mais, senã o um Royal, teria conseguido acesso à quele lugar... ’?
CAPÍ TULO XI
Londres ainda estava fria, mais fria ainda, depois do calor de Barbados, mas a primavera vinha chegando. Havia tulipas e narcisos por todos os cantos e as á rvores nos parques brotavam com nova vida. Era bom voltar ao apartamento. Gostoso estar entre coisas e pessoas conhecidas e, principalmente, ser dona do pró prio nariz. Durante os primeiros dias, tudo foi mais fá cil. A sra. Forrester, diarista, tinha tomado conta de tudo com muito capricho, mas faltava o toque de personalidade da dona da casa. Catherine comprou livros e revistas, deu-se ao luxo de uns cosmé ticos novos e encheu os vasos com flores da primavera. Mas recusava-se a admitir que, por mais que cobrisse a casa de botõ es, faltavam os perfumes e cores de Amaryllis. Foi a seus advogados e explicou que estava de volta a Londres. Eles se surpreenderam um pouco e ela imaginou que tivessem achado que voltara por saudades. A vida começ ou a entrar nos eixos. Agarrou os fios deixados para trá s sem muitas dificuldades e encontrou uma fuga no trabalho com Tony. Mas nã o podia controlar os sonhos e acordava exausta. O quartel-general de Tony ficava no andar té rreo de uma casa velha que ele tinha em Ewling. Os dois andares superiores ao porã o nã o serviam para nada, pois o pessoal vivia em cadeira de rodas, mas eram alugados para vá rias organizaç õ es como local de reuniõ es e escritó rios, e o dinheiro revertia para os fundos da associaç ã o. De lá, Tony dirigia toda a operaç ã o. Apesar de a pintura e o papel de parede já mostrarem o sinal do tempo, havia tanto calor e entusiasmo no lugar, que Catherine adorava sentir-se parte daquilo. Ela se envolvera, indiretamente, no ú ltimo ano de escola, quando alguns alunos mais velhos organizaram uma frente de trabalho para ajudar velhos e excepcionais. Depois que conheceu Tony, nã o olhou mais para trá s. compartilhava seu sonho de um centro equipado e moderno, um lugar que combinasse facilidades de trabalho com oportunidades de lazer. Nas semanas seguintes, Catherine tentou livrar-se da depressã o passando muitas horas no centro ou pedindo objetos para um leilã o de caridade que estava planejando. Caí a na cama, à noite, muito cansada para pensar em outra coisa que nã o fosse dormir, mas a inquietaç ã o desses perí odos de inconsciê ncia a deixava abatida, com olheiras escuras. Tony estava ficando muito preocupado com ela, que tentava enganá -lo, usando uma maquilagem mais pesada. Uma manhã, chegou ao centro e encontrou a maior confusã o. Jerry Ilan, um dos saté lites de Tony, trombou com ela no vestí bulo. Era um tetraplé gico que passara a vida inteira numa cadeira de rodas, mas hoje estava quase pulando fora dela. — Espere até Ver Tony! — disse, rindo. — Só espere! Catherine encarou-o, perplexa. — Por quê? O que foi que aconteceu? Jerry sacudiu a cabeç a. — Bem, nã o... nã o vou dizer. Nã o seria justo. Sã o notí cias de Tony.;.; Ele mesmo vai contar. — Contar o quê? — Entre, entre que vai descobrir. com um suspiro, Catherine abriu a porta do escritó rio de Tony. A sala istava cheia de gente e ela olhou-o por sobre suas cabeç as. — O que está acontecendo? Algué m ganhou na loteria? — Melhor do que isso, Cat — gritou ele sobre a algazarra. Ganhamos um donativo para o novo centro. Espere só! Cem mil libras! Catherine apoiou-se no batente da porta. — Cem mil libras? Mas quem... quem? — Nó s nã o sabemos. — Tony abanou o cheque, excitado. — Um donativo anó nimo! Mas é vá lido. Já liguei para o banco e verificaram que o cheque tem fundos. As pernas de Catherine bambearam e ela foi sentar-se ao lado de sua escrivaninha. — Mas o banco nã o disse a você quem foi? — É claro que nã o. Segredo. Informaç ã o particular. Foi tudo feito atravé s de advogados. Sabe como sã o essas coisas... Mas por que se preocupar? Temos o dinheiro, e o resto nã o importa. Você sabe o que significa, é claro. Podemos começ ar a procurar um terreno para o novo centro. — Nã o está emocionada? — perguntou Bá rbara Collins, a secretá ria de Tony, lá de sua mesa. — Acho que o choque foi demais para ela — comentou o dr. Johnson, um dos membros mais velhos do grupo, com defeitos provenientes de ferimentos da ú ltima guerra. — Mas me parece muito pá lida — concordou Tony, ansioso. — O que foi, amoreco? Nã o está se sentindo bem? — Estou ó tima — protestou Catherine, mais do que depressa, mas nã o estava mesmo se sentindo nada bem. Esse dinheiro, com os milhares que já tinham no banco, permitiria a Tony começ ar a realizar seu sonho, e sua doaç ã o, à qual o pai tanto se opunha, já nã o era muito necessá ria. E havia mais. O novo centro nunca se fizera tã o real para ela, um objetivo de trabalho. Agora, realizava-se o projeto, e seus esforç os perdiam a razã o de ser. Tony mandou todo mundo embora do escritó rio logo depois e disse, calmamente: — Nã o precisa fingir comigo, Cat. Sei o que está errado. Vem se matando de trabalhar nas ú ltimas semanas e agora viu que se esforç ou à toa. — Nã o! Tony, nã o sou egoí sta a ponto de nã o querer que seus desejos se realizem! — Nã o, mas nã o me enganou, meu amor. Desde que voltou de Barbados, esse lugar aqui tem sido seu apoio. Nã o sei por que pensa que tem que se matar de trabalhar, mas, mais cedo ou mais tarde, vai precisar viver sozinha outra vez, sem gastar tanta energia. Catherine levantou-se, atravessou a sala e ficou olhando pela janela para as velhas casas maltratadas. — Eu só queria trabalhar. Só isso. — Nã o é verdade. Está se desgastando. Porquê? — Está imaginando coisas, Tony. — Nã o, nã o estou. Já quis dizer isso há muito tempo, Catherine. Se continuar nessa corrida, vai ter uma crise nervosa. — Suspirou. — Eu nunca devia ter sugerido que voltasse. — Eu teria voltado de qualquer jeito. Nã o podia ficar lá. — Porque Jared Royal ia casar com Laura. Só por essa razã o. Catherine apertou os punhos. — Você nã o sabe de nada. — Entã o, diga o que a está roendo por dentro. — Nada. Tenho dormido mal, é só.
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