Хелпикс

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Digitalização: Dores Cunha 2 страница



— Está na sala de visitas, sr. Royal. Disse para servir o chá logo que chegassem do aeroporto. Devo trazê -lo agora’?

— Para mim, traga uma cerveja. Preciso de uma bebida.

Foi a ú nica concessã o que fez em relaç ã o à tensã o entre os dois, mas Catherine sentiu-se mais que triunfante ao acompanhá -lo por frescos corredores até uma sala de pé -direito muito alto. Sua primeira impressã o foi de ladrilhos de má rmore que refletiam as cortinas de seda cor turquesa, movendo-se levemente nas janelas abertas, e sofá s na cor coral-escuro, cheios de almofadas coloridas em tons de azul, verde e turquesa. Uma mulher, reclinada num dos sofá s, levantou-se quando entraram. Era pequena e esguia, elegante num vestido comprido de chiffon.

Seria a madrasta de Jared? Catherine achou que sim. Mas devia ser muitos anos mais nova que o pai dela! Jared fez as apresentaç õ es chamando a madrasta de sra. Royal e Catherine de srta. Fulton. A mulher observou-a da cabeç a aos pé s; Catherine ficou intrigada.

— Acho que podemos deixar as formalidades de lado. Meu nome é Elizabeth.

Catherine nã o poude resistir e deu uma olhada para o rosto de Jared para ver sua reaç ã o, mas ele se virou ostensivamente.

— Fez boa viagem? — Elizabeth sentou-se de novo no sofá e bateu a mã o no lugar ao seu lado, mostrando que Catherine deveria sentar-se ali.

A moç a obedeceu, com o calor começ ando a lhe causar um certo desconforto.

— Nã o gosto de andar de aviã o — confessou, percebendo que Elizabeth nã o prestava muita atenç ã o, pois olhava para Jared.

— Querido, você pediu o chá? Eu disse a Lily... Jared deu meia-volta.

— Pedi. Talvez nossa hó spede prefira tomar chá no quarto. Catherine pô s a bolsa no chã o, com firmeza,

— Estou ó tima — afirmou, consciente da antipatia dele. Olhou em volta. — Mas que casa tã o bonita!

— Gosta? — Elizabeth escondeu, com sucesso, qualquer estranheza pelo comportamento do enteado. — Foi construí da há mais de cem anos.

— Adoro casas antigas. Moro em um apartamento muito funcional, mas quando papai estava vivo fiz muita forç a para que ele comprasse uma casa.

— Bem. dentro de seis meses, você compra uma — comentou Jared. ela fingiu nã o ouvi-lo.

— Mora aqui há muito tempo sra... quer dizer, Elizabeth?

— Doze anos. — Teria hesitado um pouco antes de responder? Casei com o pai de Jared há doze anos. Infelizmente, ele morreu há dois.

— Sinto muito.

Elizabeth fez uma cara triste e depois sacudiu a cabeç a.

— É claro que ele era muito mais velho do que eu.

— Entendo.

Catherine mordeu o lá bio inferior. Havia qualquer coisa em Elizabeth Royal que nã o a agradava nem um pouquinho, mas nã o sabia dizer o que era. A mulher estava sendo perfeitamente educada, mas preferia o antagonismo evidente de Jared à polidez forç ada da madrasta. Sentiu-se aliviada ao ouvir o ranger do carrinho de chá, mas nã o pô de deixar de pensar que os seis meses demorariam a passar.

O aparelho de chá era antigo e lindo. Enquanto bebiam e comiam docinhos aç ucarados demais para o gosto de Catherine, Elizabeth começ ou uma verdadeira inquisiç ã o. Catherine morava em Londres? Tinha morado sempre? Tinha seu pró prio apartamento? Muitos namoros?

A ú ltima pergunta foi feita com um olhar disfarç ado para Jared, que estava de pé, ” de costas para as janelas abertas, tomando cerveja diretamente da lata, apesar dos protestos da madrasta. Catherine ficou tentada a dar uma resposta bem maluca, mas, só de pensar na cara de má vontade dele, desistiu.

— Tenho... namorados e amigas, també m.

— Mas nã o há algué m em particular? Escolhendo as palavras com cuidado, respondeu:

— Há um rapaz de quem gosto muito. — Aventurou-se a olhar outra vez para Jared. mas ele observava um ponto no teto. — O nome dele é Tony Bainbridge. Nó s nos conhecemos há alguns anos.

— Ah!

Elizabeth pareceu aliviada, e a moç a nã o entendeu por quê. Teria medo de que a hó spede se interessasse pelo enteado? Afinal, era um rapaz atraente e bom partido, herdeiro daquela propriedade e um artista de sucesso. Sem dú vida, todas as senhoras da ilha, com filhas solteiras, deviam rondar sua porta. Que diferenç a fazia uma a mais? Certamente, Elizabeth nã o precisava se incomodar com isso, a nã o ser que tivesse algum outro motivo para querer que ele continuasse solteiro.

A essa altura, Catherine parou de especular. Nã o tinha, absolutamente, nenhuma base para imaginar tal coisa. Quaisquer que fossem seus defeitos, achava Jared Royal um homem honrado, e ter um caso com a viú va do pai nã o era coisa muito decente.

— Precisamos apresentá -la à noiva de Jared — comentou Elizabeth. É um pouco mais velha do que você, mas garanto que vai gostar da companhia dela. Podem nadar juntas na nossa piscina, ou ir à praia, ou jogar té nis.

— É melhor deixar que a srta. Fulton se acostume primeiro ao novo ambiente — interrompeu Jared, e Catherine percebeu, com remorso, que ele lhe estava facilitando as coisas. Ou, pelo menos, pensava que estava. Uma mulher grá vida podia nadar, mas jogar té nis já era mais complicado.

— Adoro nadar — respondeu, pousando a xí cara no pires. — Mas acho que Jared tem razã o; preciso me acomodar primeiro. — Olhou-o de esguelha. — Gostaria muito de conhecer a noiva dele.

E gostaria, mesmo. Estava curiosa para ver a garota capaz de pescar um peixe tã o imprevisí vel!

— Como quiser. Laura, a noiva de Jared, vem almoç ar aqui amanhã. Hoje, seremos só nó s trê s. Jared achou que você podia estar cansada depois da viagem.

O que ele teria pensado, realmente? Quais eram seus motivos para trazê -la? Só um sentimento de obrigaç ã o para com o pai dela? Ou teria, como a madrasta, outras razõ es?

Disfarç ando um bocejo, percebeu que estava cansada. Levantara muito cedo e o longo voo tinha sido um té dio. O aviã o nã o estava cheio e os lugares ao lado dela ficaram vazios. Apesar de se instalar confortavelmente, achou impossí vel descansar. As revistas oferecidas pela aeromoç a nã o conseguiram distraí -la. Estava impaciente para chegar. Mas agora, só via problemas à sua espera. Ainda mais, depois de se colocar numa posiç ã o inteiramente falsa!

Elizabeth notou seus esforç os para esconder o cansaç o e deu um sorriso simpá tico, antes de se levantar e tocar uma campainha. Apareceu uma

empregada mocinha, e a patroa deu instruç õ es para que acompanhasse a srta. Fulton até o quarto.

— Vai encontrar tudo de que precisa, Catherine. Se faltar alguma coisa, Susie dá um jeito — indicou a criada. — O jantar é à s oito horas. Eu descansaria um pouco, se fosse você.

— Obrigada. — Catherine virou-se e olhou os dois. Bem, agora Jared teria oportunidade de informar a madrasta sobre a situaç ã o dela, ou sobre o que pensava ser a situaç ã o dela. Gostaria de nã o ter sido tã o impulsiva.

— Muito agradecida por terem me convidado. Tenho certeza de que vou gostar muito.

Jared virou-se para olhar pela janela, e Catherine se arrepiou toda. Que sujeito mais arrogante!

Seguiu Susie. Uma escada de má rmore levava a uma galeria, mas a empregada virou à esquerda num corredor de lambris que dava acesso a outra ala da casa. Abriu uma porta pesada e deu lugar para que Catherine entrasse na frente.

Entrou num apartamento que cheirava a rosas, as quais estavam numa mesinha de cabeceira. As paredes eram forradas de damasco branco, e cortinas, cor-de-rosa e compridas, cobriam as portas que davam para a varanda. A mobí lia de cedro era leve e funcional, juntando seu aroma de madeira ao quarto já tã o perfumado.

Susie atravessou os tapetes brancos e fofos sobre o chã o de tá buas largas e foi até o banheiro, mas Catherine se dirigiu para o terraç o, perdendo o fô lego ao ver a paisagem à sua frente. Lá, à distâ ncia estava o mar. em verde e azul enevoados, cintilando no calor da tarde. Entre a casa e o oceano desdobravam-se alqueires de pasto e grupos de cavalos manchavam o verde do capim. Os jardins da casa ficavam logo abaixo das janelas dela. Canteiros, gramados, quadras de té nis escondidas por arbustos e, junto da casa, um pá tio de lajotas, com uma brilhante mobí lia de jardim que se refletia na piscina ovalada. A á gua azul parecia fresca e convidativa. Se nã o se sentisse exausta, Catherine teria tomado um banho antes do jantar.

— Posso ajudar em alguma coisa, srta. Fulton?

— Acho que nã o. É uma beleza.

A empregada sorriu e fez uma pequena cortesia. Olhou para as malas sobre um grande pufe aos pé s da cama.

— Quer que eu desfaç a sua bagagem? — Catherine sacudiu a cabeç a, garantindo que se arrumaria sozinha. — A campainha está ali, perto da porta — acrescentou Susie, com uma vozinha macia e cantada. — Se precisar de ajuda, é só tocar.

Ao ficar sozinha, Catherine deu um suspiro de alí vio e se recostou na porta, observando seus domí nios. Era tudo muito mais luxuoso do que pensava. Seu pai nunca falava muito sobre a vida de Jared, comentando mais seu talento artí stico e a briga que teve com o pai para sair de Oxford e frequentar a escola de arte. O pai dela dava aulas, na é poca, antes de desistir e concentrar toda a sua energia numa carreira polí tica. Mas agora nã o tinha a menor dú vida quanto à fortuna do anfitriã o e ficou imaginando se nã o era essa a razã o principal de seu pai escolhê -lo como tutor.

O banheiro pegado ao quarto era ladrilhado com o mesmo motivo de rosas. Grandes espelhos refletiam sua imagem de dezenas de â ngulos diferentes, e prateleiras de cristal sustentavam uma grande variedade de ó leos e loç õ es.

Catherine decidiu tomar um banho. Tirou a roupa e deixou-a cair, descuidada, muito cansada para dobrá -la ou abrir as malas. A á gua fria refrescou seu corpo quente e a deixou bem disposta. Enrolou-se num roupã o atoalhado que encontrou atrá s da porta do banheiro, voltou ao quarto e esticou-se no colchã o de molas, sem se importar com os cabelos molhados caí dos sobre os travesseiros.

 

 

                                   CAPÍ TULO III

 

 

Catherine acordou com o canto dos passarinhos nas á rvores que davam sombra ao pá tio em volta da piscina. Primeiro, sentiu dificuldade em identificar o ambiente, mas de repente, tudo voltou de uma vez: a morte do pai seis semanas atrá s, o convite, ou ordem, para-vir a Barbados e as boas-vindas estranhas que a esperavam.

Piscou, percebendo que nã o estava mais sobre a cama, e sim embaixo dos lenç ó is de seda que acariciavam suas pernas nuas. Ainda usava o roupã o, mas haviam desabotoado o cinto e ele se abrira.

A luz que entrava pelas venezianas a confundiu. Estendeu a mã o automaticamente para o reló gio que sempre deixava na mesinha de cabeceira. Ao fazer isso, notou alguma coisa diferente. Havia rosas do lado da cama antes de ir dormir. Agora, tinham desaparecido.

Seis e quinze! Tinha dormido só uma hora? Impossí vel! Estava completamente descansada. A nã o ser que...

Empurrou as cobertas e se levantou. Ao abrir as portas do terraç o, suas suspeitas se confirmaram: eram seis e quinze da manhã. O sol nascia, espalhando seu brilho num cé u de rosa e turquesa, e uma né voa fina ainda pairava sobre o campo. Nã o se escutava barulho nenhum na casa, e ela teve certeza de que ningué m a veria ali, naquela hora. O terraç o era separado dos quartos por treliç as com trepadeiras que nã o serviriam de barreira para olhos espiõ es.

Amarrou o cinto com mais forç a e se espreguiç ou. Devia ter dormido doze horas e agora estava bem acordada e inquieta. A piscina continuava tã o convidativa como na tarde anterior, mas teve medo de ir nadar e acordar o pessoal da casa. O mar a chamava e ficou imaginando se chegaria lá atravé s dos paddocks que corriam junto aos está bulos. Mesmo à distâ ncia, podia ver a linha de espuma sobre os recifes.

Voltou para o quarto, abriu as malas e olhou, pensativa. As roupas que havia deixado jogadas com tanto descuido tinham desaparecido, e achou que algué m as levara para lavar. Era uma sensaç ã o estranha saber que estava em sono tã o profundo a ponto de nã o ouvir nada.

Procurou dentro de uma das maletas e tirou uma calç a jeans e uma bata larga, muito branca. Uma alç a de biquini apareceu no meio da desordem.

Tomou uma ducha, com cuidado para nã o molhar os cabelos, vestiu o biquini e depois o jeans e a bata. Escovou bem os cabelos até ficarem brilhantes e puxou-os para trá s das orelhas.

A porta do quarto nã o fez barulho quando a abriu e foi andando pelo corredor até o patamar da escada. Ainda bem que suas sandá lias nã o faziam barulho sobre o má rmore. Mas quando chegou ao saguã o, as portas estavam muito bem fechadas. Franzindo a testa, passou por baixo de um arco que levava à sala onde tomara chá com Elizabeth Royal. Portas francesas eram mais fá ceis de abrir.

Saiu junto de um roseiral e procurou o pá tio que ficava atrá s. com o canto dos olhos viu uma figura alta atrá s dos arbustos das quadras de té nis. Era Jared. Sem parar para pensar no que ia fazer, Catherine rodeou a piscina, abriu caminho entre as folhagens e se aproximou. Ele puxava uma motocicleta, sem ligar o motor para nã o acordar o pessoal da casa.

— Ei! Jared! Espere!

Ele se virou para olhá -la, nada amá vel.

— Alo! — disse ela. — Aonde é que vai?

Jared desmontou. Assentou a moto sobre o suporte e encarou Catherine.

— Posso perguntar a mesma coisa?

— Sinto muito nã o ter acordado para o jantar. Acho que estava mais cansada do que pensei. Mas a manhã está tã o bonita que nã o aguentei ficar no quarto nem mais um pouquinho.

— Deve estar com fome. Lily com certeza já se levantou. Se for até a sala de visitas e tocar a campainha, ela traz para você o que quiser.

Catherine apertou os lá bios.

Nã o estou com fome! Pelo menos, nã o muita. Quero é nadar!

— Use a piscina quando quiser. Catherine controlou-se com dificuldade.

— Nã o quero usar a piscina. Quero nadar no mar. É quente, nã o é? Nunca nadei no Caribe.

Jared deu uma olhada preguiç osa em direç ã o ao mar.

— Na realidade, é o Atlâ ntico. Ela fuzilou-o com o olhar.

— Sabe muito bem o que quero dizer.

— Será que pode nadar... no seu estado...

— É claro. Todas as mulheres nadam até sete ou oito meses. E minha gravidez é de semanas!

O rosto de Jared se anuviou.

— Entã o, sugiro que chame Sylvester, o motorista, e peç a que a leve à praia mais tarde.

Catherine olhou-o, frustrada.

— Ainda nã o me disse aonde vai.

— Nã o, nã o disse.

— Quero ir també m.

— O quê? — Agora, parecia que tinha conseguido irritá -lo. — Srta. Fulton, nã o sei o tipo de amigos que tinha na Inglaterra, mas aqui uma moç a espera ser convidada; nã o impõ e sua companhia a um homem.

— Verdade? — Fingiu um bocejo de té dio. — Bem, você me convidou para Barbados e acho que tem obrigaç ã o de me entreter, nã o?

Jared parecia furioso. Antes que ele se decidisse a montar na motocicleta e sair voando, Catherine montou atrá s, meio desequilibrada.

— Saia já daí! — rosnou ele, mas ela deu o melhor dos sorrisos. Nã o vai me dizer que mulheres grá vidas fazem isso até os oito meses!

— Nã o. Mas nã o vai me fazer mal, contanto que nã o pule demais. Jared sacudiu a cabeç a.

— Quer que eu a arranque daí?

— Faria isso? A uma mulher grá vida?

Ele ficava cada vez mais bravo, mas nã o fez nenhum movimento para tirá -la da moto. Catherine se divertia com isso. Era estimulante provocá -lo assim.

— Ora, Jared, nã o seja mau! Deixe eu ir com você!

— Nã o pode.

— Por que nã o?

— Porque vou para a praia...

— Sabia que ia! — exclamou, triunfante.

— Pelo mato! Ela franziu a testa.

—  Nã o entendi.

— Olhe. sã o cinco quiló metros pela estrada e menos da metade atravessando os paddocks e o pasto.

— Ah! — A idé ia de ir sacudindo por um caminho cheio de buracos numa motocicleta era divertida, mas nã o podia insistir pondo em risco a mentira de sua gravidez.

— Entã o? Vai sair da motocicleta?

Jared estava de cara fechada, mas ela nã o cedia com tanta facilidade.

— Nã o dá para irmos pela estrada? Pelo menos uma vez?

— Nã o. Eu... — Parou e deu um profundo suspiro. — Está bem, srta. Fulton. Ganhou. vou levá -la à praia, mas de carro.

— Ah, nã o! — Catherine estava louca para dar uma volta de moto. coisa que nã o fazia desde os dezesseis anos.

— Vamos! — Ele estava impaciente, com a mã o estendida para ajudá -la a descer, o que ela fez de má vontade. — Nã o se surpreenda se tiver acordado a casa inteira!

Por sorte, ela nã o tinha feito isso. Quando saí ram das garagens, só o velho Sylvester os viu. Era maravilhoso aquele ar frio batendo no rosto, e Catherine descobriu que estava até gostando de ficar sozinha com seu companheiro emburrado.

Jared estacionou num platô de onde se descortinava um pedaç o de praia selvagem e lindo, a areia branca faiscando ao sol e as ondas batendo nos penhascos. Ela ia saindo do carro, mas ele a impediu.

— Nã o pode nadar aqui. É Flintlock. onde venho fazer surf. Já ia ligar o motor de novo, quando ela o segurou pelo braç o.

— Espere! Já fiz surf. Nã o muito, mas um pouco. Em Cornwall. É bem no sul da Inglaterra.

— Sei onde é Cornwall.

— Ah, ó timo! Por que nã o experimentar de novo. ’ Eu quero. Jared olhou-a fixamente.

— Ah. quer?

— Claro. — Suspirou e ficou vermelha. — Já lhe disse que faltam meses e meses. Nã o vou fazer nenhuma loucura.

— Já fez — disse ele.

— Já? Você acha?

Jared abriu a porta e desceu, sem mais comentá rios.

Havia degraus para chegar até a praia e ele foi na frente, olhando para trá s de vez em quando, para ver se ela estava bem. Catherine até se emocionou com a preocupaç ã o dele, mas depois achou que faria a mesma coisa para qualquer um.

No meio do caminho, viram uma casinha baixa ao lado do despenhadeiro. Era construí da sobre pilares, a um metro da areia mais ou menos. Ao descerem os ú ltimos degraus, Jared disse:

— É minha. Trabalho aqui, à s vezes. E é um retiro muito ú til! Olhou-a de soslaio.

Catherine jogou os cabelos para trá s. tirou as sandá lias e foi andando pela areia. Subiu os degraus até a varanda e olhou para dentro atravé s das janelas sujas de areia.

Jared hesitou.

— A porta nã o está trancada. Pode entrar, se quiser.

Nã o notando nenhuma ameaç a oculta em sua expressã o, ela virou a maç aneta. Lá dentro, sentiu um cheiro forte de tinta a ó leo. Havia um aquecedor num canto para esquentar em dias frios, um par de cadeiras de couro meio velhas, uma mesa baixa, um armá rio, um fogareiro, uma pia e uma geladeira. No resto do espaç o disponí vel só se viam telas jogadas por todos os lados e um cavalete torto inclinado sobre uma das cadeiras.

Ficou perto da porta, olhando à sua volta.

— E entã o? — perguntou Jared. — Horrorizada com a bagunç a?

— E por que estaria? Acho que deve trabalhar muito bem, aqui. Ele franziu a testa.

— Por que diz isso?

— Nã o sei. Pô r causa da desordem, suponho. Já li em algum lugar, nã o sei bem onde... acho que numa dessas revistas femininas... que a ordem nã o tem inspiraç ã o. Que a criaç ã o, qualquer que seja, principalmente a artí stica, num ambiente disciplinado é como procurar diamantes numa caixa de veludo.

Jared endireitou-se, rindo.

— Que interessante! E que boa memó ria, a sua!

Catherine suspirou.

— Algumas vezes, esses artigos sã o pura bobagem. Mas achei que esse tinha algum fundamento.

— E tinha mesmo. — Passou por ela e atravessou a sala, empurrando com o pé um tubo de tinta aberto. Mostrou um sofá num canto, meio escondido pelo resto da paraferná lia. — As vezes, durmo aqui. É calmo e nã o me importo com o barulho do mar. Como você diz. adoro o caos.

Olhou para ela e Catherine sentiu uma sensaç ã o de alerta. Quando ele nã o estava usando o sarcasmo, era incrivelmente atraente e os sentimentos de menina que a excitaram tantos anos atrá s nã o estavam de todo esquecidos.

Como se percebesse que por alguns momentos se esquecera da antipatia para com ela, Jared desviou o olhar e pegou algumas pranchas de surf que estavam atrá s da porta.

— Tem certeza de que quer experimentar? Ela concordou depressa.

— Claro. Essa é minha? — Apontou para a prancha menor. — Hum, que cheirinho de mar!

Desceram os degraus até a praia e olharam para o oceano. O sol danç ava e brilhava sobre a á gua, ofuscando os olhos. A areia já começ ava a queimar os pé s.

Catherine inclinou-se para abrir o zí per da calç a e Jared olhou-a, zangado.

— O que está fazendo’?

— Nã o costumo nadar de jeans. — respondeu, inocentemente. Ele respirou fundo.

— Pode mudar de roupa na casa.

— Mas nã o tenho que mudar. — Já vim preparada.

Puxou o jeans dos quadris, deixando ver o biquini

Sorriu. — E você?

Jared disse uma palavra que ela nã o gostaria de repetir e també m tirou a calç a. Seu calç ã o era preto e justo. Catherine nã o pô de deixar de admirar o corpo musculoso, mas ele nã o gostou nada de ser olhado. Pegou uma tá bua e foi andando para a á gua, enquanto ela dobrava a roupa e o observava.

Jared levou a tá bua até onde a á gua batia na sua cintura, deitando-se sobre ela; remou com as mã os na direç ã o dos recifes.

Catherine nem percebeu que estava dobrando també m o jeans dele e

que o apertava contra o peito, esperando que a onda pegasse Jared. Ele agora se ajoelhava sobre a tá bua, que foi levantada bem alto. De repente, ele ficou de pé, equilibrando-se com uma habilidade que ela até invejou, e veio vindo para a praia no que parecia uma velocidade incrí vel. Se perdesse o equilí brio, se caí sse...

Catherine fechou os olhos. Quando os abriu outra vez, ele tinha desaparecido. Deu alguns passos involuntá rios para a frente com o coraç ã o batendo tã o forte que podia escutá -lo. Foi quando viu a tá bua jogando nas ondas, e aí o coraç ã o quase parou. Correu para a beira da á gua. O sol batia em seus olhos desprotegidos, cegando-a exatamente quando precisava enxergar direito.

Suspirou de alí vio, quando Jared apareceu à sua esquerda e foi jogado na areia. Correu para ele, que já se levantava, com uma expressã o nada encorajadora.

— Que diabo está fazendo? — perguntou, e ela só soube piscar, atarantada. — Qual é o problema? Por que está me olhando assim’? E o que está fazendo com minha calç a?

Arrancou o jeans de sua mã o.

— Eu... eu... você desapareceu. Pensei... pensei...

— Pensou que eu tinha me afogado?

— E. Fiquei aflita.

Jared jogou o jeans na areia.

— Eu mergulhei antes de chegar no raso — disse, impaciente. Sinto muito que tenha se alarmado, mas nã o sabia que estava me observando.

Catherine recuperava aos poucos a compostura, e o ressentimento forneceu-lhe uma barreira contra as emoç õ es que acabava de experimentar.

— Sabia muito bem que eu estava observando.

— Por quê? E por que nã o entrou na á gua?

— Nã o sou nenhuma estrela de surf, feito você.

— Muito obrigado. — O tom era iró nico. — Entã o, por que se preocupou tanto?

Ela o encarou, zangada.

— Nã o sei! — E saiu andando pela praia.

Tinha perdido a vontade de nadar. Seus olhos ainda ardiam por causa do brilho do sol e a á gua misturados. E o estô mago doí a. Afinal, nã o tinha comido desde a tarde anterior. Sentou-se na areia ao lado da outra tá bua, dobrando as pernas, abraç ando-as e descansando o queixo nos joelhos. Nem percebeu que Jared se aproximava, até que se sentou a seu lado.

— Sinto muito que tenha ficado preocupada — disse ele calmamente. E, ridí culo dos ridí culos, o pedido de desculpas trouxe lá grimas aos olhos dela.

— Nã o tem importâ ncia — murmurou, de cabeç a baixa.

Ele percebeu o tremor de sua voz, pois resmungou qualquer coisa e ficou quieto por uns segundos, olhando-a, até que ela o olhasse també m. Estava muito pró ximo, a pele ú mida cheirando a sal. Tinha pê los nos braç os e pernas, pê los macios e escuros. Catherine sentiu vontade de tocá -lo, sentir a pele morena. Mas nã o conseguiu se mover. Jared se levantou.

— Quer nadar... — perguntou, rude.

Ela enfiou ainda mais o queixo nos joelhos, antes de responder. Nã o. Nã o quero atrapalhar você.

— Está bem.

Sem mais uma palavra, começ ou a vestir a calç a sobre o calç ã o molhado.

— Nã o devia tirar o calç ã o? Ele a encarou, ousado.

— Aposto que até me ajudaria! Nã o seria novidade para você, nã o é ’? Ela ficou vermelha, levantou-se de um salto e saiu andando, depressa e zangada.

Eram só nove horas quando chegaram em casa. Jared estacionou na subidinha em frente à s portas abertas, deixando que Catherine saltasse sozinha, enquanto ele entrava em casa, de cara fechada. Quando a moç a o seguiu, viu que tinha encontrado a madrasta no hall e ela o estava repreendendo gentilmente por ter desaparecido tã o cedo.

Elizabeth Royal vestia uma blusa de seda creme, calç a de montaria muito bem cortada e botas pretas. Aparentemente, Jared nã o lhe contara ainda que nã o estava sozinho, pois quando Catherine apareceu, Elizabeth arregalou os olhos, em total incredulidade. Catherine ficou esperando o comentá rio inevitá vel sobre seu estado, o que nã o veio. Em vez disso, Elizabeth a ignorou e virou-se para o enteado.

— Nã o entendo, Jared. Achei que tinha ido à praia.

— E fui. Ela... a srta. Fulton foi comigo.

Era ridí culo que continuasse chamando-a de srta. Fulton e a insultasse sempre que tinha chance. Elizabeth, no entanto, nã o parecia achar estranho. Talvez preferisse que eles continuassem formais.

Agora, nã o podendo mais ignorar a presenç a de Catherine, deu-lhe um sorriso, mas disse, com cara de poucos amigos:

— Que sorte nã o ter molhado os cabelos. — Olhou para o enteado e tocou a cabeç a dele — Você está ensopado, querido.



  

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