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Digitalização: Dores Cunha 1 страница



 

Amores Clandestinos

”Wild Enchantress”

Anne Mather

 

Quando Catherine chegou a Barbados para passar os pró ximos meses sob a tutela de Jared Royal, esperava apenas ter uma alegre temporada em uma ilha tropical. Mas Jared foi tã o desagradá vel, ao mostrar que a considerava uma maluquinha sem muita moral, que ela resolveu desafia-lo fazendo tudo para dar uma pé ssima impressã o. Se achava que era leviana, Catherine ia se comportar exata-mente assim e deixá -lo louco de ó dio. Só que, bem cedo, foi um outro tipo de loucura que começ ou a consumir os dois: a de uma paixã o desesperada. Fazia sentido se desejarem tanto, se nem gostavam um do outro? Nã o era arriscado ela se atirar nos braç os dele, se Jared estava noivo e prestes a casar?

 

 

Digitalizaç ã o: Dores Cunha

Revisã o: Fá tima Tomá s

 

                                    CAPÍ TULO I

 

 

Só escutava o trovã o de á gua que rugia, corria e explodia no recife, atrá s dele. À frente estava a praia, branca e rebrilhando ao sol, e, no meio, a á gua verde-escura tornada viva pelas ondas, que faziam de Flintlock uma das melhores praias para surfing de toda a ilha.

Uma grande onda se aproximava e ele se preparou, ”sentindo uma grande euforia. Ficou de pé na prancha e foi em diagonal até a praia. Era um teste de forç a conseguir equilibrar-se sobre aquela escorregadia tá bua de fibra de vidro, controlando-a com uma habilidade nascida de longa experiê ncia. Antes que a onda morresse, ele mergulhou e deixou que a correnteza o levasse até a areia quente. A prancha foi jogada a seu lado.

Ele rolou e deitou-se de costas, protegendo os olhos contra o brilho do sol que lhe dera desde a infâ ncia aquele bronzeado dourado e inteiro. Sentiu o bem-estar já tã o familiar. Fazia questã o de que os problemas do dia nã o perturbassem aqueles momentos de completo descanso e abandono.

— Sr. Royal! Sr. Royal!

Como de propó sito, para zombar de sua contemplaç ã o preguiç osa, a voz grossa de Sylvester veio na brisa que agitava suavemente os ciprestes da enseada. Apoiando-se em um cotovelo, Jared Royal olhou à volta e viu o velho criado negro, num uniforme de motorista que nã o combinava nada com a sua figura, chamando-o do alto da escada rochosa que dava acesso à praia.

Com uma expressã o de tolerâ ncia resignada no rosto moreno e magro, levantou-se, enxugou-se rapidamente e enfiou o short de sarja azul, desbotado. Pegou a prancha, pô s debaixo do braç o e foi andando pela areia em direç ã o a uma casa, tipo bangalô, na extremidade da praia. Sylvester tinha desaparecido, mas com certeza estaria sentado no carro, esperando por ele.

Jared subiu os degraus sem pressa. Uma varanda de telhas vã s, cobertas de trepadeiras, dava para um ú nico apartamento, tí pico de casa de praia, com metade do espaç o para dormir e metade para cozinhar. As paredes estavam cobertas de telas, uma encostada na outra, pincé is, tinta, e toda a paraferná lia de um pintor cobria o chã o. Apesar da bagunç a, Jared gostava de lá; servia muito bem para o que ele queria e era um esconderijo ideal, quando sua madrasta enchia a casa de gente.

Deixou a tá bua cair junto de vá rias outras no canto da sala e atravessou-a para pegar uma lata de cerveja de uma geladeira a gá s perto da pia. Todo o equipamento de cozinha e o que dependia de luz era alimentado pelo gá s de bujã o, mas havia á gua, canalizada há dez anos, quando a casa foi construí da.

Em pé, perto da janela, olhando para a areia, bebeu a cerveja... Limpou a boca com as costas da mã o, refletindo, sem entusiasmo, sobre a responsabilidade que tinha que enfrentar. Cuidar de uma jovem de vinte anos era um estorvo sem cabimento. Apesar de apreciar a confianç a que Jack Fulton depositara nele ao lhe confiar a filha, bem que podia ter escolhido outra pessoa.

Na ú nica ocasiã o em que viu Catherine Fulton nã o gostou dela nem um pouco. Aos catorze anos, era uma adolescente precoce e mimada, já consciente de seu potencial e pronta a usar suas manhas num homem com o dobro de sua idade. Jared tinha adorado colocá -la no devido lugar e duvidava que ela o tivesse perdoado por aquilo. Se o pai da moç a nã o fosse um amigo í ntimo e nã o sofresse do coraç ã o, Jared nunca aceitaria aquele arranjo de emergê ncia, que acabou se tornando uma desagradá vel realidade, quando Jack morreu.

Até os vinte e um anos, Catherine nã o poderia tocar em um tostã o da considerá vel fortuna que o pai lhe deixara. Faltavam ainda seis meses, e Jared nã o teve muita escolha, a nã o ser sugerir que ela viesse para Barbados ficar com ele até que entrasse de posse da heranç a.

Podia nã o ter feito isso. Na realidade, sua vontade era deixar que ela

cuidasse da pró pria vida. Mas Jack lhe escrevera uma carta, falando de sua preocupaç ã o com as companhias da filha e de seu temor de que algué m casasse com ela só por causa do dinheiro.

Atravé s de seus advogados, Jared soube que a idé ia de ir para Barbados nã o agradou a srta. Fulton. Pelo jeito, estava levando uma vida muito divertida em Londres e nã o queria passar seis meses numa ilha, nem que fosse do Caribe, vegetando. Alé m disso, tinha tornado bem claro que havia um rapaz que ela nã o queria deixar para trá s. Jared ficou imaginando se nã o seria essa a má companhia com a qual o pai tanto se preocupava.

De qualquer jeito, resolveu nã o adiantar nenhum dinheiro para que Catherine ficasse na Inglaterra. Seria impossí vel controlá -la de tã o longe. Mas só pensar que chegaria a Seawell naquela tarde o irritava. Lembrando-se da crianç a insuportá vel que tinha sido, nã o estava muito contente com seus futuros deveres de tutor.

Acabou a cerveja, jogou a lata no lixo e saiu sem trancar a porta. A praia era particular e, alé m das telas, nã o havia nada de valor para se roubar.

Subiu os degraus até o topo do despenhadeiro e encontrou Sylvester cochilando atrá s do volante de um Mercedes creme, conversí vel, ú ltimo tipo. Um sexto sentido pareceu avisar o velho criado, que se endireitou ao sentir que o patrã o se aproximava.

— Pode ir, Sylvester. Eu sigo você.

— A sra. Elizabeth mandou dizer que já sã o mais de onze horas. Ela disse que aquela mocinha chega à s duas.

— Duas e meia — corrigiu Jared, encostando-se na capota do carro e sentindo o calor de brasa do metal. Pô s a mã o no bolso do short e tirou uma latinha de charutos. — Tem fogo?

Sylvester entregou a ele o isqueiro automá tico do painel.

— Nã o tem tempo de ficar por aqui fumando charutos, sr. Royal. A sra. Elizabeth mandou chamar o senhor há meia hora!

O patrã o ignorou o comentá rio e virou-se para observar o oceano de cima do despenhadeiro. Era uma vista magní fica da qual Jared nunca se cansava. Alé m dos recifes, o Atlâ ntico aparecia em seu esplendor inquieto com a fí mbria branca das ondas semelhante a um colar de pé rolas sem tini. Havia uma né voa verde-azulada no horizonte e nã o se podia distinguir com clareza onde começ ava o cé u e acabava o mar.

— Bom, já vou indo, sr. Royal.

Sylvester deu partida no motor e o patrã o olhou-o, sorrindo.

— Confia que eu o siga entã o?

O empregado suspirou. Nã o era raro vir à quele lugar à procura do patrã o. Fazia isso há anos. antes que o velho sr. Royal morresse e o filho se tornasse o herdeiro. Tinha sido o maior desapontamento para o velho, quando o ú nico filho nã o mostrou nenhum interesse pelos negó cios que construí ra durante uma vida e preferiu ser pintor. O fato de Jared ter se tornado um grande sucesso diminuiu um pouco o golpe. Agora, era a viú va que tomava conta dos está bulos, ajudada por um administrador, cedendo seu poder ao enteado só em maté ria de finanç as.

— Acho que deveria ir de carro. sr. Royal — disse Sylvester, sacudindo a cabeç a e olhando para a moto encostada à sombra de umas palmeiras, do lado da estradinha. — Essas coisas sã o para vagabundos; nã o para um Royal de Amaryllis!

O patrã o escondeu seu divertimento, pô s o charuto entre os dentes e montou na moto, confortavelmente.

— O que pode ser mais agradá vel, num dia como hoje, do que andar pelo campo, com o vento refrescando o corpo?

— Ora, tem vento à vontade dentro desse carro aqui! — rebateu Sylvester. — Qual é a vantagem de ter trê s carros, se ningué m usa? Nã o vai encontrar a moç a, hoje de tarde, nessa geringonç a, vai?

Jared Royal deu uma risada, passou a mã o pelos cabelos compridos, que, junto com as roupas desleixadas, lhe davam um ar de pirata.

— Olhe que é uma boa idé ia. Sylvester!

— Nã o seria capaz!

— Nã o. Acho que ela nã o gostaria de viajar com a mala pendurada do lado — caç oou ele, e Sylvester gemeu.

— Seu pai viraria no tú mulo se o visse agora! Ainda sorrindo, Jared ligou a moto e saiu atrá s dele.

A distâ ncia entre a praia de Flintlock e a casa dos Royal era de uns cinco quiló metros, mas, de motocicleta, ele cortava caminho pela metade, atravessando os paddocks. Os cavalos estavam acostumados ao barulho. Só os empregados mais velhos é que desaprovavam o comportamento do patrã o. Mas o desculpavam, porque adoravam o rapaz que, desde menino, os tratava como iguais.

Jared chegou em casa cinco minutos antes de Sylvester, encostou a moto perto das garagens e atravessou o pá tio de trá s, entrando pelas portas de veneziana.

Seus pé s descalç os nã o fizeram barulho no chã o de ladrilhos, e ele chegou ao vestí bulo sem encontrar ningué m. Ao subir os primeiros degraus da escada de má rmore, escutou passos e uma voz de mulher.

Jared! Jared, o que andou fazendo? Sabe que já é mais de meio-dia?

Virou-se e viu a madrasta, em pé no saguã o. Elisabeth Royal era apenas dois anos mais velha do que o enteado e sua figura e o penteado juvenil faziam com que parecesse mais moç a ainda. Usava calç a comprida justa, sandá lias de salto alto, e seus cabelos ruivos pareciam chamas, acentuados pelo reflexo do sol que atravessava os painé is de vidro sobre as portas.

com um sorriso, Jared desceu de novo.

— Sabe muito bem onde andei — disse ele. — Ou achou que eu estava no Fó rum?

— Querido, você sabe que aquela menina vai chegar agora mesmo. Nã o acha que, pelo menos hoje, devia esquecer essa histó ria de sumir sem deixar rastro?

— Nã o. — Jared enfiou os polegares na cintura do short. —  Olhe, Liz. nã o quero que fique toda aflita por causa de Catherine Fulton. Droga! Ela já tem vinte anos! É bem crescidinha para errar sozinha!

Elizabeth concordava com a cabeç a enquanto ele falava, apertando as mã os e olhando-o o tempo todo. Pequenininha em tamanho, era, no entanto, uma astuta mulher de negó cios, e somente com Jared é que, de vez em quando, assumia um ar de frá gil feminilidade.

— Tem razã o, é claro, meu querido — murmurou. — Mas, como dona da casa até que você e Laura decidam casar, nã o posso falhar agora.

Ao ouvir o nome da noiva Jared teve uma sensaç ã o já familiar de impaciê ncia. Seu noivado com Laura Prentiss nã o tinha sido absolutamente uma decisã o pessoal e à s vezes sentia-se manobrado numa situaç ã o da qual era impossí vel escapar. Depois da morte do pai e dos mexericos que brotavam de todos os lados pelo fato de ele e Elizabeth continuarem morando juntos em Amaryllis, praticamente se viu forç ado a assumir um compromisso com Laura, que até entã o nã o passava de uma boa amiga. Agora, quase dois anos depois, ele sentia que algué m apertava os laç os quase que imperceptivelmente. Sabia que Laura queria casar e que Elizabeth també m se entusiasmava muito com a idé ia.

Praguejou intimamente e virou-se para a escada.

— Deixe por minha conta, Liz. — E subiu os degraus de trê s em trê s. Quando desceu de novo, Elizabeth esperava por ele na biblioteca, uma sala de teto alto, coberta de livros e com janelas de venezianas para filtrar a brilhante luz do sol. A madrasta se aproximou, sorrindo, oferecendo um copo de Martini.

— O almoç o fica pronto em cinco minutos — disse ela. — Tem tempo suficiente para ir até o aeroporto. A que horas chega o voo, mesmo?

— Duas e meia, se nã o houver acidentes.

— Ai, Jared. nã o diga uma coisa dessas!

— Por que nã o? — Deu de ombros. — Está bem, chega à s duas e meia, se Deus quiser.

Elizabeth sorriu.

— De que deus está falando, querido?

Jared nã o respondeu. Ficou de costas para ela, olhando para fora atravé s das venezianas. Nã o estava com vontade de conversar, já chateado com a idé ia da tarde que perderia.

— Tem certeza de que nã o gostaria de uma festinha hoje à noite... perguntou Elizabeth. — Nã o acha que facilitaria as coisas? Laura e os pais teriam muito prazer em vir, e o juiz Ferris...

— Nã o! — A resposta rude fez com que ela ficasse vermelha. — Já lhe disse, nada de festas especiais para Catherine Fulton.

— Mas, Jared, quer dizer que vamos parar de receber enquanto ela estiver aqui?

— É claro que nã o. — Virou-se e engoliu o resto da bebida. — Só nã o exagere, só isso. — Foi até o carrinho de bebidas e pô s o copo na bandeja. — Vamos almoç ar?

Mais tarde, guiando pela estrada arborizada em direç ã o ao aeroporto, Jared pensou no antagonismo que sentia em relaç ã o à filha do amigo.

Aos catorze anos, ela já tinha o instinto de uma gata, e agora, seis anos depois, ainda estava querendo dobrar a vontade dele. A escolha da palavra ”vegetar” em relaç ã o à vida da ilha em Barbados, irritou-o imensamente, pois, apesar de ter visitado a Inglaterra vá rias vezes, nunca tinha achado nada de especial em Londres. Muito barulhenta, suja, o ar poluí do de fumaç a. É claro que lá ela gostava da turma com que andava e Jack esperava que agora ele fizesse o papel de pai severo.

Ligou o rá dio do carro. Um conjunto americano tocava seu ú ltimo sucesso, um ritmo compassado que o relaxou. O que eram seis meses, afinal de contas? Cento e oitenta dias. E ainda podia pintar e nadar e fazer seu surf. Logo passaria.

Um aviã o roncava lá em cima e ele olhou, imaginando se o voo de Heathrow aterrissaria na hora. Sempre achava aquela viagem longa e tediosa e passava o tempo todo esboç ando algum perfil que prendesse sua atenç ã o.

À s vezes, no entanto, a situaç ã o ficava embaraç osa, se algué m o reconhecia. Publicidade era uma das coisas que mais o aborreciam.

Estacionou o conversí vel e foi andando em direç ã o ao aeroporto, que, nessa é poca do ano, sempre estava cheio de turistas chegando e partindo.

Nã o percebeu os olhares femininos que o seguiam. Aos trinta e quatro anos, já havia gozado bastante a vida e desde o noivado com Laura, evitava todo envolvimento sexual.

Um par de olhos, em particular, insistiu mais do que os outros; Jared virou-se para encarar a dona com uma leve impaciê ncia. Viu uma moç a alta, de cabelos castanhos. Era magra, mas nã o demais, e a curva provocante dos seios aparecia no decote desabotoado do vestido de algodã o listrado. A roupa era larga, rodada,.. as listras azuis contra o fundo branco realç avam sua beleza. Ela sorriu, mostrando dentes muito brancos, e ele achou algo de familiar em seu rosto. Só entã o percebeu por quê.

Ao andar na direç ã o dela, todo seu corpo se endureceu, rí gido, formal..

— É a srta. Fulton. nã o?

Ela concordou. Há seis anos era mais baixa e gorda e usava tranç as, mas mesmo entã o já dava mostras do que ia ser. Agora, estava bem bonita, um quadro encantador de um desabrochar de mulher. E o que mais? Olhou-a dos pé s à cabeç a, até ser interrompido por ela.

— Catherine. Meu nome é Catherine. Mas pode me chamar de Cat. Todos os meus amigos me chamam assim.

Só muito raramente Jared ficava sem saber o que dizer, mas essa foi uma das vezes. A atitude dela era tã o inesperada! Tinha se preparado para raiva, ressentimento e até indiferenç a. Nunca essa amabilidade casual.

— Seu aviã o chegou cedo? — Olhou em volta, procurando a bagagem, e ela concordou de novo.

— Nã o sabia o que fazer, e como disse que viria me encontrar...

— Certo, certo. — Jared ficou amolado com a irritaç ã o que sentia. Sinto muito ter chegado atrasado.

— Atrasou? — Os olhos dela desafiaram os dele. — Ah. esqueç a! Cheguei há cinco minutos. — Indicou as duas maletas atrá s dela. — Sã o minhas. Foi tudo o que trouxe. Deixei o resto das minhas coisas no apartamento. Nã o tinha sentido devolvê -lo só por seis meses.

Jared olhou-a, azedo.

— Está muito segura de que vai voltar em seis meses — comentou, e depois ficou matutando o motivo de seu comentá rio. Afinal de contas, nã o queria saber da moç a ali...

— É, estou. É minha casa.

Jared chamou um carregador para levar as malas, vendo que ela o observava. O que estaria pensando? Ficou desapontado quando ouviu:

— Foi bondade sua me convidar para vir aqui. Nã o era preciso. Posso tomar conta de mim muito bem.

— Pode? Sinto muito, mas nã o havia outro jeito de eu cumprir a promessa que fiz a seu pai.

— Fiquei surpresa — disse ela, andando à sua frente. — Meu Deus, que calor! Estava chovendo quando saí de Londres.

O conversí vel esperava na sombra. Jared fez o carregador arrumar as malas atrá s e abriu a porta para Catherine entrar. Nã o pô de deixar de apreciar as pernas esbeltas e o perfume gostoso que usava. Bateu a porta, sentou-se a seu lado e pegou um charuto antes de dar a partida.

— Sua casa é muito longe, Jared?

— Nã o gostou nada de ela o chamar pelo primeiro nome com tanta sem-cerimô nia.

— Uns vinte quiló metros.

Ficaram em silê ncio por algum tempo, quebrado somente pelo barulho de um aviã o e o som de risos no estacionamento. Entã o, ela perguntou:

— Por que me trouxe aqui, Jared? É ó bvio que nã o me queria.

— Eu lhe dei essa impressã o?

— Sabe que deu. Nem disse alo, nem perguntou como foi minha viagem! Qual é o problema? Ainda nã o me perdoou por deixá -lo embaraç ado há tantos anos’?

— Nã o me embaraç ou em absoluto, srta. Fulton.

— Cat! E deixei-o encabulado, sim. Sinto muito. Mas foi o primeiro homem pelo qual me encantei. Sei que eu era uma pestinha precoce, mas cresci.

— Aquilo nã o teve importâ ncia nenhuma.

Entã o, por que está tã o esquentado?

Que idé ia! Está inventando coisas. Nem sei o que quer dizer com ”esquentado”.

Deve saber. Barbados nã o fica em outro planeta.

Nã o é mesmo o fim do mundo.

Ela o olhou de esguelha. Você acha que eu...

— ”Vegetando”! Foi isso que falou, nã o foi? Catherine riu.

— Nã o! Eu nã o! Foi Tony. Ele disse isso; nã o eu.

— Tony?

— Tony Bainbridge. Um... amigo.

— Namorado?

— Bem...

Jared amassou o resto do charuto no cinzeiro.

— A razã o pela qual você nã o queria vir para cá. imagino.

— Credo, como você é formal! Nunca pensei que fosse. Afinal, é um artista.

— Nã o sou um artista. Sou um pintor. Nã o me confunda com um excê ntrico de avental e paleta!

— Nunca faria isso.

Andaram vá rios quiló metros sem conversar. Ela parecia contente de ficar observando as cercas vivas bem tratadas da estrada sinuosa, as carrocinhas puxadas por burros cheias de bananas, grapefruits, mangas e abacates, a pele morena das pessoas, as plantaç õ es de cana. De vez em quando, surgia um moinho de vento pintado de branco. E casas com jardinzinhos cheios de lí rios, begô nias, rosas, hibiscos vermelhos e jasmins. Era uma paisagem excitante e colorida. Quando a estrada se ”estreitou em direç ã o à costa, viram e ouviram as ondas do Atlâ ntico espalhando-se por praias selvagens e lindas. Quanto mais se aproximavam do norte, mais espetacular se tornava a paisagem e Catherine comentou:

— Lembra a Bretanha. Passei umas fé rias lá quando tinha dezessete anos. Já esteve na Franç a, Jared?

— Nã o.

Ela estudou seu perfil sé rio.

— Essa visita nã o vai ser nada engraç ada, se você teimar em me tratar como um pá ria. Nã o dá nem para ser um pouco educado? Sei que meu pai gostaria que fosse assim.

Jared sentiu uma pontada de remorso. Olhou-a de lado e viu que seu rosto se anuviara de tristeza. Teve pena.

— Gostava de seu pai. Era um homem e tanto. Conheci-o no meu ú ltimo ano em Oxford. Sua mã e ainda estava viva.

— mamã e... — Catherine encostou-se no seu banco. — Eu nã o tive sorte com meus pais. Mamã e morrendo naquele acidente de carro, e agora papai...

— Entã o, é bom que saiba tomar conta de si, nã o é? Nã o queria ser iró nico, mas soou assim, e ela se zangou.

— É o tipo de comentá rio que você faria, nã o... Só porque uma vez adorou me humilhar, nã o aguenta a vontade de repetir a dose.

— Minha cara mocinha...

— Nã o sou sua cara mocinha! Ah, como queria que papai nã o tivesse escrito aquela carta. Nã o ’sei o que passou pela cabeç a dele. Nã o preciso ser tutelada por você. Estava muito feliz em Londres, me divertindo.

— com Tony. Ela o olhou, brava.

— É, com Tony. E por que nã o Tony ou qualquer outra pessoa? A expressã o de Jared, depois da explosã o, era de desprezo.

— Estou começ ando a entender por que seu pai se preocupava tanto com você.

— Ah, está? — Examinou o rosto dele. — Você tem olhos de gato, sabia? Parece um pirata. Que pena que seu cará ter nã o combine com a aparê ncia!

— Nã o está vamos falando sobre mim. Seu pai tinha medo de que algum homem...

— Me engravidasse? Casasse comigo por causa do dinheiro? Que antiquado, sr. Royal. Ainda nã o ouviu falar da pí lula? Alé m disso, nã o imagina que uma gravidez me forç asse a casar com algué m. Imagina?

Jared fechou a cara.

— É fá cil de dizer, srta. Fulton, quando as coisas ainda nã o aconteceram!.

— Como é que sabe? O que o deixa tã o seguro de que nã o estou grá vida?

Ele tirou os olhos da estrada para encará -la, incré dulo, lembrando-se do vestido largo e rodado. Franziu a testa, incomodado.

E você está? Catherine apertou os lá bios. — ’- Eu... eu... estou. E que providê ncia vai tomar?

 

 

                                 CAPÍ TULO II

 

 

Por que havia dito isso, meu Deus!, ela pensou,

Catherine nem acreditava que tinha dito mesmo aquelas palavras. O que ganharia com uma notí cia daquelas? QUe bobagem deixar que ele a irritasse a ponto...

Apesar de tudo, nã o poude deixar de rir do perfil severo de Jared que tentava se concentrar no trá fego, depois de sua afirmaç ã o incrí vel. Ela deixou escapar um pequeno suspiro, ao lembrar-se de como queria vê -lo outra vez. A imagem de Jared nunca lhe saí ra da cabeç a, acompanhada pela lembranç a incó moda da reaç ã o dele aos seus esforç os amadores para atrair sua atenç ã o.

Tinha sido há seis anos, e nunca mais o viu. Quando soube da carta do pai nã o se opô s completamente a ir para Barbados e encontrá -lo. Ele com certeza já teria se esquecido do incidente de que ela lembrava tã o bem. Mas parecia que nã o era o que havia acontecido. E ainda julgava seu comportamento atual por causa de um simples ato impensado de crianç a. Endireitou os ombros. Bem. agora Jared tinha alguma coisa para justificar a opiniã o que fazia dela.

Estava tã o absorta em seus pensamentos que nem percebeu quando atravessaram os portais de pedra cinzenta. O caminho sacolejante de pedregulhos fez com que acordasse para o fato de que se aproximavam da casa. Olhou para Jared, frustrada. Nã o ia dizer nada? Interessava-se tã o

pouco por sua vida que mesmo a notí cia de que estava esperando um bebé nã o o fazia reagir?

Deu de ombros. E o resto da famí lia? O que diria a eles? Sabia que ele tinha uma madrasta. Já podia imaginar as reaç õ es, quando soubesse do estado de sua hó spede. Nunca deveria ter dito aquilo! Mas já era tarde. Alé m disso, queria que ele acreditasse. Teria o maior prazer de acabar com sua famosa autoconfianç a.

— Chegamos?

— Chegamos. — Havia orgulho na afirmativa dele. — Amaryllis. Fizeram uma curva por entre arbustos de hortê nsias e ela viu Amaryllis.

Uma grande casa colonial, com janelas brancas e um terraç o cercando todo o segundo andar. No té rreo, cadeiras de vime na sombra, entre pilares brancos por onde subiam flores azuis e brancas, em trepadeiras.

— Que beleza! Tã o limpa e pitoresca! A casa de fazenda dos sonhos de todo mundo. — Virou-se para ele, quase se esquecendo de tudo que haviam conversado. — Acho que você deve adorar isso aqui.

Jared olhou para ela, gelado.

— É minha casa — respondeu, sem expressã o.

— Mas nã o é a minha — explodiu, zangada. — É isso que quer dizer? Ele deu de ombros, concentrou a atenç ã o em passar o carro por sob um arco, parando-o do lado de umas portas abertas para o ar da tarde.

— Eu a convidei para vir a Amaryllis, srta. Fulton. Espero que nã o tenha se esquecido.

Mal o carro parou, apareceu uma mulher. Catherine imaginou que fosse a madrasta dele. Mas percebeu que tinha pele muito morena, e usava um avental de algodã o estampado. Os cabelos estavam ficando grisalhos e o rosto enrugado. Catherine achou que ia gostar dela.

Jared tirou as malas do carro e virou-se para a mulher, com um sorriso

que fez com que a moç a desejasse que ele tivesse usado todo aquele charme com ela.

— Lily, essa é srta. Fulton, que veio morar conosco por algum tempo. Peç a a Henry para levar a bagagem dela para cima.

— Pois nã o. sr. Royal. Bem-vinda a Barbados, senhorita.

— Muito obrigada. Lily. — Catherine olhou com ironia para Jared. Tinha sido preciso uma empregada dizer as palavras que ele devia ter

dito. — Tenho certeza de que vou gostar daqui. — Isso, só para mostrar

que nã o se deixava intimidar por ele.

— Onde está minha madrasta?

Lily levou-os para o saguã o fresco, forrado de madeira, com um arco, à esquerda.



  

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