![]()
|
|||||||
Digitalização: Dores Cunha 4 страницаCatherine entendeu e riu. mas parou subitamente, quando uma voz rude os interrompeu. — Está procurando por mim, Donovan? Jared veio vindo da direç ã o das quadras de té nis, com a calç a de linho molhada, o que mostrava que nã o se dera ao trabalho de se enxugar antes de se vestir. — Estava procurando a sra. Royal, senhor. Mas a srta. Fulton acabou de me dizer que ela foi à cidade. — Foi? — Os olhos castanhos de Jared passaram por Catherine com arrogâ ncia. — E o que você está contando a ela? Donovan nã o se perturbou. — Nã o sei o que quer dizer, senhor. — Nã o sabe? — Jared parou em frente deles, moreno e imponente. O que há de tã o engraç ado no fato de minha madrasta ir à cidade? Donovan mudou o peso de um pé para outro e Catherine sentiu-se ofendida. O que havia de mal em duas pessoas conversando? Qual o problema? — Toma conta de todas as conversas? — perguntou, insolente, e percebeu que Donovan nã o gostou nada de sua intervenç ã o. — Eu estava falando sobre Chartreuse, senhor. Jared continuou olhando para Catherine. — Donovan nã o tem tempo de ficar aqui, conversando com você. Se está chateada, o problema nã o é dele. — Nem seu! mas Jared já tinha desviado a atenç ã o. — É só, Donovan? — perguntou, autoritá rio. com um gesto de desculpas, o irlandê s foi saindo depressa. Quando desapareceu de vista, Catherine jogou-se na espreguiç adeira, colocou os ó culos escuros e ignorou o homem a seu lado. Esticou as pernas, expô s os braç os ao sol e fingiu um relaxamento que absolutamente nã o sentia. Esperava que Jared fosse embora, mas descobriu que tinha sido boba de pensar que ia escapar com tanta facilidade. — Nunca mais fale comigo assim na frente de meus empregados! ele explodiu. Catherine tirou os ó culos e disse: — Só quando estivermos à só s, certo? — E já que estamos nesse assunto, nunca interfira entre Laura e eu! Catherine sentou-se. — Está falando sobre ontem? — Estou. — Laura se queixou? Jared fuzilou-a com os olhos. — Estou dizendo para nã o meter o nariz onde nã o é chamada! — Elizabeth se mete em tudo... — É minha madrasta. — E eu estou sob sua tutela! Ou já se esqueceu? — Seria impossí vel esquecer uma coisa dessas, nã o? E agora, tenho que trabalhar. — Nã o estou atrapalhando você. — Nã o? — A palavra murmurada foi quase inaudí vel. Inesperadamente, ele pegou uma mecha dos cabelos dela. — É natural ou pintado? — É natural — conseguiu dizer, surpresa. Ele a olhou, fixamente. — E quantos homens já perguntaram isso? — Nã o tantos quanto imagina — murmurou, esperando que ele parasse de atormentá -la e a abraç asse. — Nã o? Seja como for, quero pintar você. Maternidade pagã. Gosta da idé ia? O desapontamento dela foi uma dor quase fí sica e sentiu-se até doente com o anticlí max. Disfarç ou, dizendo: — Nã o contou a ningué m, contou? — Nã o. Vã o descobrir, mais cedo ou mais tarde. Entã o, fica nua para mim? Catherine encarou-o, com ó dio em seu coraç ã o, que disparou ao ouvir suas palavras. O que ele faria, se tirasse a roupa agora? Achava que tinha tudo sob controle, e ela adoraria acabar com aquela seguranç a. Mas nã o teve coragem e disse, provocadora: — Até você pode tirar minha roupa, se quiser. Ele largou seus cabelos imediatamente e deu um passo atrá s, com os olhos fuzilando. — Nã o, obrigado. Nã o era o que eu tinha em mente. Catherine deu de ombros e, com muito autocontrole, deitou-se de novo na espreguiç adeira, puxando os ó culos para o nariz. — Nã o tem vergonha, nã o é? — explodiu ele. Por um instante, ela teve consciê ncia de que estava fazendo um jogo perigoso. Mas tinha ido muito longe para voltar atrá s. Ao invé s de responder, virou para o lado. Ouviu-o respirar fundo e depois se afastar.
CAPÍ TULO V
O jantar foi servido à s oito, como de costume, para os Royal e mais uns doze convidados, mas vá rios casais chegaram tarde para a festa no pá tio à beira da piscina. Havia mesas, bufe, um barzinho improvisado e lâ mpadas coloridas enfeitando as á rvores. Foram colocados alto-falantes. e a mú sica se espalhava pelo jardim. Era a primeira festa grande que Elizabeth dava depois de Catherine chegar à ilha, e foi muito diferente do jantar de apresentaç ã o que organizara uma semana antes, apenas com a presenç a de Laura e seus pais, o juiz Ferris e a mulher e dois rapazes que tinham sido convidados para nã o terem um nú mero í mpar de pessoas. Esta noite era muito menos formal e a quantidade de gente nã o permitia conversas muito pessoais. A primeira semana de Catherine em Barbados passou depressa demais, e, apesar de quase nã o ter visto Jared, o tempo voara. Jared estava trabalhando, fechado no estú dio no ú ltimo andar da casa. Nã o falou mais no quadro que queria pintar dela; a evitava ao má ximo e ela duvidava que aprovasse sua amizade com a noiva. Laura aparecia todos os dias. Catherine nã o se deixava encanar pela idé ia de que vinha visitá -la, apesar de dizer que seu objetivo era esse. Sempre esperava encontrar Jared, mas, quando nã o acontecia, geralmente sugeria que ela e Catherine se divertissem juntas. Nadavam, jogavam um té nis leve nas quadras dos Royal e uma vez Laura a levou até Bridgetown. A capital da ilha estava quente demais para turismo e passaram a maior parte do tempo no porto, em Careenage, onde Catherine ficou com as escunas de altos mastros e os uniformes pitorescos da polí cia. Elizabeth aprovara a amizade delas, e tinha razõ es bem egoí stas para isso. Enquanto Catherine mantinha Laura longe do noivo, Elizabeth ficava com o enteado inteirinho para ela. Agora, sentada numa rede, Catherine balanç ava as pernas, escutando John Dexter descrever as delí cias do voo à vela. Nã o foi nenhuma surpresa descobrir que ele era um dos convidados, pois telefonara vá rias vezes durante a semana. Sua atenç ã o a agradava, mas sua conversa a deixava com sono. Andy David, outro rapaz que tinha encontrado no clube de té nis, já a havia convidado para danç ar, mas ela recusou, e, ao fazer isso, imaginou que John provavelmente ia pensar que preferia ficar com ele. A verdade era que nã o estava com nenhuma vontade de danç ar. Sentada na penumbra, ela observava sem ser observada e só via Jared à sua frente. Ele parecia à vontade e notava-se que era querido e popular. A maioria das moç as presentes arranjava uma desculpa para ficar perto... A seu lado, Laura estava orgulhosa e toda feliz com a alianç a no dedo. Elizabeth també m nunca saí a de perto do enteado. Num vestido comprido de chiffon coral, eclipsava o tom pastel da roupa de Laura, e, à distâ ncia, Catherine tinha que admitir que nã o parecia muito mais velha do que a outra. Jared resolveu tocar bateria e tirou o casaco por causa do calor. A seda fina da camisa grudava no corpo. Tinha afrouxado a gravata e desabotoado o colarinho. Ria de alguma coisa, e, ao vê -lo, Catherine sentiu uma pontada no coraç ã o. Por que a havia forç ado a vir para a ilha?, pensou. — Quer danç ar? O convite de John interrompeu seus pensamentos e ela concordou imediatamente, querendo escapar deles. O rapaz segurou-a nos braç os possessivamente. — Já lhe disse que gosto do seu vestido? — murmurou com o rosto junto ao dela. — Muitas vezes. — Sorriu, procurando, sem querer, um par de ombros largos. — Mas é verdade. Nem toda mulher pode usar marrom. — Nã o é marrom — corrigiu. — É cor de canela. Mas, obrigada. Bem que tinha hesitado um pouco antes de usar o vestido de corpete sem alç as e saia solta, por causa da cor. Mas, ao invé s de ficar sem graç a, com seu cabelo e o tom moreno que começ ava a tomar, chamava a atenç ã o no meio das cores vivas com sua elegâ ncia comportada. — Vamos andar de barco um dia desses? — John afastou-se para olhar seu rosto. — Talvez — disse ela, e percebeu que Jared a olhava, rosto fechado e severo na penumbra da noite. Danç ava com Elizabeth. Num impulso, Catherine resolveu se comportar de maneira mais audaciosa. Saiu dos braç os de John e bateu no ombro de Elizabeth, — Tenha pena do pobre John. sra. Royal! Está morto de vontade de danç ar com a senhora. Antes que qualquer um deles pudesse protestar, ela se intrometeu entre Jared e a madrasta, que nã o puderam fazer nada. Contraindo os lá bios, Jared começ ou a danç ar, mantendo uma certa distâ ncia. Catherine chegou mais perto, lutando contra o esforç o dele para impedi-la. — Você me surpreende. É demais! — murmurou ele, rouco, com a respiraç ã o quente junto à sua testa. Tirando vantagem de sua fraqueza, ela se apertou contra ele. com um gemido, Jared a enlaç ou, segurando-a com toda forç a. Moviam-se languidamente seguindo o ritmo da mú sica. Catherine queria que a danç a continuasse para sempre. Nã o se importava com quem os olhava ou como interpretariam seu comportamento e achava que Jared també m nã o estava ligando a mí nima. De repente, a mú sica mudou, mas, em vez de largá -la, ele começ ou a danç ar num ritmo mais rá pido. Era uma sensaç ã o deliciosa e Catherine riu do seu rosto sé rio, trazendo um brilho de admiraç ã o relutante aos olhos dele. Vá rios convidados começ aram a bater palmas ao ritmo da mú sica, querendo ver o que parecia ser uma exibiç ã o de danç a. com o canto dos olhos, Catherine viu Elizabeth e John se juntarem ao grupo de espectadores. Mas, pela primeira vez na vida, Jared nã o se importava com os que o observavam. Catherine estava sem fô lego quando a mú sica acabou, e caiu sobre o parceiro depois de uma ú ltima rodada estonteante. Os braç os de Jared a apoiaram automaticamente, mas logo Laura apareceu a seu lado, resolvida a será primeira a cumprimentá -los, e ele foi obrigado a largar Catherine. — Foi genial, querido! — Comentou Laura, reduzindo imediatamente uma violenta experiê ncia emocional a algo medí ocre. Catherine saiu de perto deles, frustrada. Queria escapar daquela gente toda, mas John Dexter estava a seu lado, e sua reaç ã o nã o tinha nada de simpá tica. — Que idé ia foi aquela de me jogar em cima da madrasta de Jared? perguntou, segurando-a pelo braç o. Ela levantou a cabeç a, desafiando-o. — Eu fiz isso? — Sabe que fez. O que há com você? Jared é propriedade de Laura, nã o sabia? — E o que foi que eu fiz, pelo amor de Deus? — Nã o venha com essa! Sabe muito bem. — Nó s danç amos, foi só isso! Danç amos! — Danç aram! Posso arranjar outro nome mais adequado! — E o que lhe dá o direito de criticar o que eu faç o? — perguntou, zangada. John deu um pontapé no tronco de uma palmeira. — Nada. Nada, a nã o ser... que nã o queria vê -la magoada, Catherine. — Nã o sou nenhuma boba, John. — Está bem, eu estou com ciú me. A zanga de Catherine desapareceu na hora. — Quer danç ar mais? John olhou-a fixamente. — com você? — É, comigo. — Puxou-o para a pista. — Elizabeth ficou muito zangada? — Disfarç ou bem — respondeu ele, rindo. — Ou talvez quisesse mesmo danç ar comigo. Catherine sorriu. De repente, John se mostrava um sujeito agradá vel e ela percebeu que o problema com ele é que nenhuma de suas namoradas o tinha deixado tã o por baixo. Jared estava do outro lado do pá tio, com Laura e os pais, e Catherine fez forç a para nã o olhar para ele. O que estariam falando? Será que os velhos, como Laura, nã o viam as implicaç õ es mais profundas do que tinha acontecido na pista de danç a? Ela pró pria nã o conseguia se esquecer. Apesar de tudo que havia dito a John, sabia que as coisas nunca mais seriam as mesmas entre ela e Jared; apesar de nã o significar que iam melhorar. John estava certo, afinal de contas: ele era propriedade de laura. Mas por que nã o conseguia acreditar nisso? Suspirou, e John perguntou ansioso: — E agora, o que é? Ela sacudiu a cabeç a e tranqiiilizou-o com um sorriso. Nã o viu Elizabeth outra vez, até o ú ltimo convidado sair. Já eram mais de duas horas, e um sentimento de tristeza substituiu a euforia anterior. Queria ir para a cama, procurar o conforto dos lenç ó is e afundar no mundo da fantasia e do esquecimento. Jared tinha saí do uma hora atrá s para levar Laura para casa. Quando o ú ltimo carro desapareceu pelos portõ es, ela e Elizabeth ficaram sozinhas. No pá tio, dois dos empregados que iam ficar até mais tarde, pegavam os copos, enchiam bandejas de comida e jogavam guardanapos sujos na cesta de roupas para lavar. De manhã nada restaria da festa, e Catherine via uma certa semelhanç a entre aquele caos tangí vel e suas emoç õ es intangí veis. No saguã o, Elizabeth olhou-a friamente, e jogou a cabeç a para trá s, adotando uma arrogâ ncia que qualquer membro da realeza teria invejado. — Acho que nã o é hora de trazer o assunto à baila, mas tenho que lhe dizer que seu comportamento hoje me desgostou, Catherine. — Sinto muito. — Sente mesmo? — Passaram-se alguns segundos. — Nã o posso acreditar. Você fez tudo de propó sito e calculadamente, sabendo que magoaria Laura. — Nã o é verdade! — Como nã o é verdade? É claro que a magoou... — Nã o era minha intenç ã o. Essa histó ria de ser deliberado ou calculado nã o é verdade. Pode ter sido impulsivo, talvez. Mas foi só. — E como acha que o Jared se sentiu? no meio de todos os amigos? Uma hó spede nesta casa se comportando como uma... — Espere um pouco. — Espere um pouco você, Catherine. Nã o sei junto com que tipo de gente foi criada na Inglaterra, mas aqui temos um có digo de valores diferente. — Ah, tê m? — Temos. — Contraiu os lá bios. — Nã o nos jogamos em cima de homens que, obviamente, nos acham uma carga desagradá vel! — Uma carga desagradá vel? Nã o pode acreditar nisso! Elizabeth franziu a testa, — O que quer dizer? Catherine estava pá lida, mas decidida. — O que pensa que estou falando? — Arrebitou o nariz. — Nã o acha mesmo que Jared nã o gostou! — Que diabo está acontecendo aqui? A voz de Jared soou aguda e irritada no sú bito silê ncio. Estavam tã o ocupadas discutindo, que nã o escutaram o carro voltando, mas agora lá estava ele, zangado, com o casaco jogado nos ombros. — E entã o? Sabem que estã o falando tã o alto que dá para ouvir da praia? Pelo amor de Deus, se querem se morder, nã o faç am isso em pú blico! — Eu só estava mostrando a Catherine como se comportou mal hoje a noite, Jared. Se algué m estava mordendo, nã o era eu. — Acho que a ú nica pessoa que tinha o direito de se ofender era Laura — respondeu Jared, friamente. — Ah, Laura! — falou Elizabeth, cheia de desprezo. A expressã o dele endureceu. — E. Laura — repetiu. — Você nã o é e nunca foi minha tutora, Liz. Elizabeth olhou na direç ã o de Catherine. — Está me dizendo que aprova a exibiç ã o que ela deu hoje à noite? Catherine ficou pensando o que faria, se Jared escolhesse aquele momento para revelar o que sabia de sua condiç ã o fí sica. Que arma na mã o da madrasta! Nunca o perdoaria se fizesse isto! Ele sacudiu a cabeç a e jogou o casaco sobre uma cadeira perto da escada. — Acho que, quanto menos falarmos sobre o assunto, melhor. — ’Foi até o arco que delimitava a ala esquerda da casa. — E você s duas, já para a cama! Mas é claro que, quando chegou ao quarto, Catherine nã o conseguiu dormir. A exaustã o que sentia ao se despedir dos convidados tinha desaparecido depois da cena com Elizabeth, e agora sua mente estava alerta. Vestiu a camisola e ficou andando de um lado para outro. Abriu as portas da varanda e olhou o pá tio, no exato momento em que as luzes se fecharam. Agora, os criados iriam para a cama e a casa se prepararia para dormir. Suspirou, debruç ando-se na grade da varanda. Estava quente e a brisa trazia o murmú rio do oceano. Se fosse mais perto, iria nadar. A ú nica vez que tinha nadado à noite foi durante um churrasco, na Itá lia, com muita gente em volta, e nã o no isolamento silencioso que procurava hoje. Mas de todo jeito nã o adiantava querer. A praia estava longe demais. Mesmo assim... De repente, na escuridã o, bem debaixo de sua janela, viu o brilho de um cigarro e percebeu que Jared estava lá. Franziu a testa procurando saber onde estava. Deu um passo atrá s, mas a voz dele soou macia no ar da noite: — É muito tarde. Sei que você está aí. Catherine hesitou um instante e voltou para a grade. — O que está fazendo? Seus olhos se acostumaram à escuridã o e viu qUe ele dava de ombros. — Só dando um passeio, antes de... — Interrompeu-se e levantou a cabeç a, com o rosto anuviado e enigmá tico. — Nã o consegue dormir? Ela nã o sabia dizer se ele se importava ou nã o, mas sacudiu a cabeç a. — Nã o. — Nã o está preocupada com o que Liz falou, nã o é? — Nã o muito. — Foi o que achei. — Seu tom era seco. — Nã o vai acontecer outra vez. — Nã o vai? — Nã o! — Sabe o que eu estava pensando? Ele nã o respondeu, e ela continuou: — Como seria gostoso nadar à noite! O silê ncio foi tã o demorado, que ela achou que Jared tinha ido embora. Afinal, ele disse, numa voz á spera: — Já pensou no escâ ndalo, se descobrissem você fazendo uma coisa dessas? Catherine prendeu a respiraç ã o. — É um convite. Jared? Ele praguejou baixinho. — Nã o, nã o é! — Mas se eu convidasse você... — Nã o. Catherine! Era a primeira vez que o ouvia dizer seu nome e gostou do som. Seria tã o bom ouvi-lo dizendo ”Catherine” ao fazer amor... — Jared? — Você é louca, sabe disso? — Posso me vestir — Quer dizer se despir? Por favor, Catherine! Tenho que trabalhar amanhã. Sabe que horas sã o? — Hum, hum. Mais ou menos trê s horas. — Trê s e doze, para ser bem preciso — murmurou ele, olhando o reló gio de pulso. — E daí? — Ora, desç a. vou pegar a moto. Nã o tenho a menor intenç ã o de sair de carro hoje. Pode andar na motocicleta? — Claro! — Ela sorriu, morrendo de alegria. — Nã o demorou nem cinco minutos. Ele nã o respondeu: entrou na casa e desapareceu. Ela custou a amarrar as tiras do biquini, pois as mã os tremiam, mas afinal conseguiu e enfiou a calç a jeans por cima e um leve sué ter de lã. Amarrou os cabelos com um elá stico e saiu do quarto, levando as sandá lias na mã o. A casa estava à s escuras. Enquanto hesitava no saguã o, Jared apareceu e fez sinal para que o seguisse. Saí ram por uma porta lateral que Catherine nunca tinha visto. Andaram até a frente da casa e ela viu o brilho do metal, indicando que a moto estava na entrada. Foram andando até os portõ es, antes que Jared montasse. Agarrou-se a ele e partiram. O ar da noite estava fresco, mas nã o frio. Catherine encostou o rosto nas costas de Jared. Ele ainda estava de dinner-jacket, e ela achou que nã o havia nada mais esquisito do que andar de motocicleta em roupa a rigor. Viraram para o sul, na direç ã o oposta a Flintlock, mas ela nã o fez perguntas. Jared sabia para onde ia, e, honestamente, adoraria andar com ele a noite inteira. Afinal, parou do lado de uma encosta de grama que levava à s dunas onde o barulho do mar era muito mais suave do que em Flintlock. Desligou a moto. — Você está bem? — perguntou ele, ajudando-a a desmontar. Ela concordou, — Só dolorida. Há anos nã o ando de moto. Ele encarou-a por alguns segundos e depois deu de ombros, pesmontou, tirou o casaco, colocou-o no guidã o e apontou as dunas. — Vá na frente. Uma lua pá lida iluminava a praia selvagem e deserta e para Catherine, incrivelmente linda. Palmeiras se erguiam no meio das dunas e uma cama de haste longa e escura contrastava com a areia. Ela deixou as sandá lias no chã o, adorando sentir os corais minú sculos entre os dedos. Logo adiante, o mar se debruava numa linha branca sobre a praia, e Catherine estava louca para sentir a carí cia suave no corpo quente. Virou-se para trá s. Jared a seguia e ainda estava completamente vestido. Ela puxou a ponta do sué ter indecisa. — Você nã o vai entrar? — Depois de você — disse ele. — Depois de mim? — Na ú ltima vez que veio à praia comigo, você nã o se molhou. Catherine suspirou. — Foi... diferente. — Por quê? — Nã o queria me trazer — disse ela, suavemente. — E agora? — Trouxe porque quis. Ele tirou a roupa, ficando de cueca. — Vamos nadar. — E andou na direç ã o da á gua. Catherine hesitou um instante. Depois, numa ansiedade que nã o conseguiu disfarç ar, livrou-se do jeans e do sué tar e correu para as ondas. A á gua estava deliciosa. Nadou em largas braç adas preguiç osas. Viu a cabeç a morena de Jared já a alguma distâ ncia, mas ficou perto da praia. Virou-se de costas, boiou um pouco, tentando distinguir as estrelas do cé u. mas sempre consciente de que Jared estava com ela. O que faria Elizabeth, se desse pela falta do enteado... Iria ver se ela estava no quarto? Pensaria que podiam estar juntos? E se descobrisse que os dois estavam sumidos? Catherine começ ou a nadar de novo. Nã o queria pensar em Elizabeth, pois isso a fazia lembrar de Laura. Por que estava traindo a outra desse jeito? Nã o era uma mulher egoí sta Mas, quando via Jared tudo e todos desapareciam, insignificantes. Ao sair da á gua, lembrou-se de que nã o tinha trazido toalha. Passou as mã os pelos braç os tirando o excesso de umidade, e quase morreu de susto quando foi agarrada pelo tornozelo. Nã o tinha visto Jared deitado na areia. — Eu... eu nã o trouxe toalha. — Nem eu — respondeu ele, olhando-a com intensidade. — Vem cá que eu enxugo você. — Co... como? — Já lhe mostro. — Subiu a mã o até seu joelho. — Vem cá... Ela hesitou. — Nã o. vou pegar minha roupa... — Por quê? — com um movimento rá pido, ficou de pé ao lado dela. — Eu só teria o trabalho de tirá -las de novo. — Jared... — Hein? — Jared... — Respirou fundo. Ele estava tã o perto que suas pernas tocavam as dela. — Você tem certeza? Sacudiu a cabeç a e abraç ou-a pelos quadris, apertando seu corpo maleá vel contra o dele. — Nã o tenho certeza de mais nada. Mas é bom, nã o é? Diga que é gostoso. — É... gostoso... — murmurou, segurando o rosto dele com as duas mã os e aproximando a boca. Nem ela estava preparada para a emoç ã o violenta que os envolveu, quando seus lá bios se encontraram. Tinha esperado a noite inteira por isso. Enquanto danç avam, possuindo-se de todas as formas, menos fisicamente, Catherine antecipava esse momento e do jeito como Jared a segurava, ele també m. Seus lá bios se abriram sob os dele, e sentiu que Jared acariciava suas costas e soltava o elá stico que lhe prendia os cabelos. Ainda abraç ados, deitaram-se na areia. — Meu Deus, como eu a quero! — ele falou, com o rosto entre seus seios, e ela sentiu o sutiã do biquini cedendo à pressã o dele. A boca procurou os bicos rosados, e Catherine foi dominada por um prazer que só ele podia lhe dar. — Você é tã o linda — murmurou, rouco, e a boca esfomeada procurou a dela outra vez. A pele de Catherine tinha secado depressa, mas uma fina camada de areia grudara nas costas nuas, queimando-a. O amor de Jared també m tinha alguma coisa selvagem e primitiva que queimava. A boca devoradora e possessiva acordava-a para a consciê ncia da pró pria vulnerabilidade em relaç ã o à quele homem. Foi Jared que interrompeu o louco abraç o, rolando pela areia, apertando a testa com as duas mã os. Estava lí vido pelo esforç o de controlar as emoç õ es. — Pelo amor de Deus, o que eu estou fazendo? — a pergunta era um tormento e uma acusaç ã o. — Jared, começ ou Catherine, carinhosa, mas ele se levantou, tentando alcanç ar sua calç a. — Cubra-se! — ordenou rí spido. Virou-se de costas para ela, que começ ou a amarrar o sutiã com dedos tré mulos. — O. que foi que aconteceu? — Olhou para ele, desconsolada. — Qual é o problema? O riso dele foi sarcá stico. — Meu Deus! Você bem sabe o que está errado. Eu me esqueci, acredita? Eu me esqueci mesmo de que nã o era o primeiro homem a... Interrompeu-se, com um rí ctus de desprezo. — Ah, nã o, Catherine! Nã o vai me usar para colocar dú vidas sobre a paternidade da crianç a que está gerando... — Mas eu nã o estou... Jared nã o prestou a mí nima atenç ã o. — Esqueç a! Nã o quero me envolver nisso! — Abotoou a camisa com mã os nada firmes. — Você tomou conta de mim por um minuto murmurou, zangado com ele e com ela. — Ora, vista-se! Vamos voltar já. Só espero que ningué m tenha percebido nossa ausê ncia. — Como Elizabeth, por exemplo? Estava gelada de frio e de decepç ã o e nã o se importava a mí nima com o que dizia. Jared franziu a testa. — Por que falar em Elizabeth? — E por que nã o? — Enfiou o sué ter pela cabeç a. — Achei que era a Pessoa mais pró xima... - Que diabo está insinuando? Catherine deu de ombros, vestindo a calç a jeans. — Sinto muito. — Mas seu tom desmentia as desculpas. — Pensei que ela podia ter ido ver se o bebé estava nanando! Sentiu imediatamente que tinha ido muito longe. Jared tentou alcanç á -la, furioso, mas conseguiu fugir dele. com o coraç ã o batendo nos ouvidos e um soluç o histé rico preso na garganta, saiu correndo pela praia e atravessou as dunas até onde estava a motocicleta.
|
|||||||
|