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CAPÍTULO VII



 

 

A lancha deslizou com seu pró prio impulso para o ancoradouro, com o motor desligado, e o conde Cesare pulou para a areia, amarrando-a. Foi andando pensativo, concentrado em seus pró prios pensamentos. Acendeu um cigarro e estava quase pisando sobre Emma, quando reparou no montinho embrulhado na toalha cor de laranja, na cabeç a apoiada no braç o dobrado. Estava adormecida, os olhos inchados de tanto chorar e ainda havia lá grimas em seu rosto.

Com uma exclamaç ã o abafada ele jogou fora o cigarro e ajoelhou-se ao lado dela. Ele tinha sido cruel e bruto, e devia ter previsto que partir sem avisá -la daquele jeito ia deixá -la perturbada; mas nã o esperava que fosse abalar tanto a garota. Ele tinha se tranquilizado pensando que, logicamente, ela nã o ia supor que ele a largaria na ilha.

— Emma — ele chamou baixinho, puxando um pouco a toalha. Cesare, acostumado a admirar as curvas de um corpo feminino, sentiu-se atraí do por Emma e nã o foi capaz de evitar o impulso de passar carinhosamente os dedos sobre a pele suave do braç o dela.

— Emma! — ele sussurrou de novo, sacudindo-a um pouco, sem querer assustá -la, até que os olhos verdes se abriram e olharam para ele sem entender nada por um momento.

— Cesare! — ela disse sonolenta. — Onde... Oh!... — Ela se sentou de repente, soltando-se das mã os dele. — Você voltou!

— Sim... estou aqui — ele disse baixinho. — Sinto muito se assustei você.

— Nã o. . . você nã o me assustou — ela respondeu, pretendendo sentir uma raiva que tinha desaparecido, agora que o via de novo.

— Nã o? Entã o por que está chorando?

— Eu. . . eu nã o estava chorando. Por Deus! Eu nã o sou uma crianç a. Ia chorar por quê?

— Nã o me parece muito velha. . . — ele disse, passando os dedos carinhosamente pelo rosto dela, enxugando o resto das lá grimas.

— Oh, pare com isso! — choramingou, afastando as mã os de Cesare e abaixando a cabeç a para evitar o olhar dele.

— Emma, me perdoe por ter feito o que fiz. Foi imperdoá vel, mas muito necessá rio.

Ela olhou para ele, com os olhos faiscando.

— Eu já disse. Esqueç a isso! Apenas me leve embora. Quero sair daqui imediatamente!

Cesare olhava para ela muito quieto e sé rio. A toalha laranja tinha escorregado de seus ombros, mostrando os seios desenhados pelo maio molhado.

— Emma... — ele tornou a dizer o nome dela carinhosamente e passou a mã o por baixo de seus cabelos, segurando-lhe a nuca e forç ando a cabeç a dela para trá s, até ela olhar em seus olhos. Depois, caiu de joelhos ao lado dela, roç ou-lhe os lá bios no pescoç o e depois deitou-a suavemente de costas na areia.

Emma fechou os olhos. A boca de Cesare abriu a dela em um beijo suave que ficou mais forte, intenso e profundo, quando ele começ ou a sentir a reaç ã o dela. Para Emma, os lá bios dele eram deliciosamente quentes e desejá veis.

Dio! — ele resmungou, sentindo a submissã o do corpo dela debaixo do seu. A boca de Emma movia-se sensualmente dentro da dele, com prazer, excitando-o.

Ele tinha desejado apenas confortá -la, desfazer a impressã o de seu comportamento, mas em vez disso a beijava com paixã o e a desejava ardentemente. Com um esforç o sobre-humano, ele a afastou, levantou-se e alisou os cabelos com as mã os trê mulas.

— Pelo amor de Deus, Emma! — ele disse com mais violê ncia do que pretendia, perturbado pelo desejo. — Levante daí e pare de agir como uma cortigiana!

Emma levantou depressa, enrolando a toalha no corpo.

— O que isso quer dizer? Nã o faz parte do nosso vocabulá rio.

— Procure no dicioná rio, ora. Agora, ande, vista-se e vamos embora! Sua madrasta estará imaginando onde diabos você se meteu! Mã es geralmente se preocupam com suas " filhinhas queridas" nã o é mesmo?

— Oh, Cesare! Como pode dizer isso?

Ele se virou envergonhado. Era insensí vel e egoí sta, sempre pensando em seu pró prio prazer. Mas é que ela era tã o deliciosamente doce, inocente e intocada... Teria sido tã o delicioso ensinar a ela a arte do amor! Era vinte anos mais velho, experiente, e... desgastado, desiludido, sem direito algum de estragar tanta inocê ncia.

O que Emma precisava era de um homem jovem, muito mais jovem, com quem pudesse repartir seu ardor e suas experiê ncias. Alé m disso, ele estava vivendo uma existê ncia perigosa e nenhuma mulher merecia esse tipo de vida; nem mesmo Celeste. Ele precisava resolver este caso, antes que Celeste e seus milhõ es arruinassem tudo. Quando Emma já estava vestida, veio até ele, embrulhando seu maio e o dele na toalha.

— Estou pronta para ir — ela disse e ele concordou, jogando fora o cigarro.

Cesare subiu primeiro na lancha, dando a mã o a ela para ajudá -la. Emma tropeç ou na beirada e quase caiu, mas ele a amparou. Sentiu a rigidez daquele corpo má sculo e de novo sentiu-se invadida pelo desejo.

— Cesare, por favor! — implorou.

Ele apertou os dentes e empurrou-a para longe. Desatou a corda que prendia o barco e o colocou em movimento.

— Precisamos arranjar um namorado para você, Emma, com urgê ncia. Parece que está ficando ridiculamente obcecada pela idé ia de fazer amor. Talvez algum jovem de sua idade possa acalmar esse fogo.

Ficou furiosa, embora sua intuiç ã o lhe dissesse que ele nã o estava falando exatamente a verdade.

— Eu posso muito bem escolher meus namorados, obrigada. Nã o preciso de sua ajuda. E nã o creio que eu vá embaraç á -lo, signor conde. Nada neste mundo me levará à falar com você novamente a menos que isso seja absolutamente necessá rio.

— Muito bem, signorina. Isso me convé m, e muito. Nã o estou acostumado a lidar com adolescentes impulsivas que se atiram em cima de mim.

— Oh!... Eu... — Emma sentiu que as lá grimas brotavam de seus olhos novamente, e preferiu descer até a cabine. Ficou lá o resto da viagem até o palá cio.

Logo depois de tomar os dois comprimidos que Anna prestativamente levou com seu café da manhã, Celeste sentiu um alí vio tã o rá pido que resolveu levantar.

— Pode preparar meu banho, Anna. Me sinto bastante melhor. Acho que apesar de tudo vou acompanhar o conde ao piquenique que combinamos.

— Infelizmente o signor conde já saiu — Anna disse calmamente.

— Nã o compreendo! O senhor conde e eu combinamos um passeio para esta manhã! Certamente ele nã o foi sozinho!

Anna balanç ou a cabeç a.

— Nã o, madame! A signorina Emma foi com ele. Eles saí ram há mais de uma hora!

Os dedos de Celeste agarraram a coberta, mas ela controlou sua fú ria.

— Estou entendendo — disse baixinho. — Entã o, muito bem, Anna. Pode preparar meu banho assim mesmo. Nã o vou ficar aqui deitada o dia inteiro, pois quero ver o mais que puder de Veneza.

Anna levantou suas grossas sobrancelhas escuras.

Si, si, madame — respondeu, dirigindo-se ao banheiro.

Isso nã o fazia parte de seus deveres na casa, mas ela preferiu nã o contrariar Celeste. Encheu a banheira, jogando dentro os sais de banho que Celeste tinha recomendado.

— Isso é tudo, Anna, obrigada — Celeste falou com calma, sem demonstrar a imensa raiva que estava sentindo por Emma ter ido com Cesare passar o dia todo fora. Como ela se atrevia a isso, particularmente depois de seu aviso de alguns dias atrá s? E por que Cesare teria feito isso? Celeste confiava em sua pró pria beleza, embora madura, e estava certa de que, perto dela, Emma parecia insí pida e desengonç ada.

À s vezes, até mesmo Celeste tinha lampejos de bom senso e receava que quando ficasse mais velha e Emma atingisse o ponto alto de sua vitalidade e juventude, suas posiç õ es estariam invertidas. Mas estava decidida que, quando esse tempo chegasse, ela e Emma estariam afastadas para sempre. Durante a tarde, Celeste descansou e preparou-se para a volta de Cesare e sua enteada. Era muito importante que Cesare nã o suspeitasse que sua ausê ncia a deixara perturbada. Mas Emma ouviria o que ela iria dizer por sua desobediê ncia.

À tarde chegou um rapaz ao palá cio. Celeste estava descansando nas arcadas e tinha assumido uma aparê ncia de relaxamento diante da condessa que estava ao seu lado, enquanto seus olhos e ouvidos estavam alertas ao menor ruí do. O jovem lhe foi apresentado como sendo Antô nio Vencare, primo de Cesare e filho da filha da condessa, Giuseppina. Ele nã o era tã o alto quanto Cesare, mas era muito bonito. Celeste calculou sua idade ao redor dos vinte e trê s anos, e imaginou que a velha senhora tinha pensado secretamente em colocá -lo em cena para fazer companhia a Emma. Afinal, a condessa, tanto quanto Celeste, nã o gostaria que nada atrapalhasse o casamento do conde com sua afilhada, e Emma vinha provando ser uma presenç a um tanto inconveniente para ambas.

Se era assim, e Celeste tinha certeza que era, entã o o plano parecia interessante e ela o aprovaria de todo coraç ã o. Assim sendo, cumprimentou efusivamente Antô nio, fazendo mil perguntas sobre ele e sua carreira. Antô nio ficou surpreso com uma recepç ã o tã o efusiva. E, evidentemente, se encantou com aquela mulher atraente e elegante em seu vestido verde-á gua, que mostrava com perfeiç ã o o corpo bem-feito.

— Minha mã e possui navios — ele disse, com um sorriso. — Possui vá rios e desde que deixei o colé gio, aprendo como administrá -los.

Seu inglê s nã o era tã o bom quanto o de Cesare, mas seu sotaque era gracioso. Celeste pensou com satisfaç ã o que ele seria bem capaz de encantar a desejeitada Emma. A condessa foi organizar o chá da tarde, deixando-os sozinhos por algum tempo, e a lancha chegou quase sem ser notada. Emma saiu do barco deixando Cesare sozinho e correu para dentro. Nã o sabia que o dia ao ar livre tomando sol a tinha deixado linda, realç ando o brilho de seus olhos verdes na pele bronzeada.

— Oh! — ela disse surpresa, tentando recuperar o fô lego, quando quase esbarrou em Celeste e Antô nio.

Os olhos de Celeste estavam gelados, mas seus lá bios exibiam um sorriso:

— Ah, já voltou, Emma querida! Veja, temos um visitante. Este é o primo do conde Cesare, Antô nio Vencare. Antô nio, esta é minha enteada, Emma Maxwell.

Antô nio, com seguranç a e cortesia, tomou galantemente a mã o de Emma e a beijou:

— Encantado em conhecê -la, signorina. Nã o é sempre que este velho palá cio é enfeitado com a presenç a de duas criaturas tã o encantadoras.

— Muito bem dito! — endossou o conde Cesare entrando no salã o.

Buon pomeriggio, Cesare! — disse Antô nio, sorrindo um pouco com a ironia de seu primo diante da cena. — Espero que tenha passado um bom dia.

Cesare apenas olhou para Celeste, ignorando o comentá rio gozador do primo.

— Ah, cara mia — murmurou. — Está melhor, espero? Celeste aproximou-se dele. tomando-lhe o braç o possessivamente.

— Muito, muito melhor, querido! — respondeu sorrindo docemente. — Mas senti saudades de você. Estou satisfeita por ter levado Emma. Teria sido aborrecido para ela ficar aqui sozinha o dia todo. — Ela olhou para Emma que estava de cabeç a baixa. — Muito embora aqui esteja Antô nio e talvez Emma nã o tivesse ficado sozinha, afinal.

— Eu teria tido o maior prazer em acompanhar a signorina Emma, aonde quer que ela quisesse ir — disse Antô nio.

— Nã o seja tã o precipitado primo! — Cesare interveio. — Dê à signorina tempo para conhecê -lo primeiro. Ela é inglesa, e você sabe, os ingleses precisam de tempo para estudar as coisas primeiro. Eles nã o sã o... como direi... impetuosos, como nó s italianos.

— Tenho certeza de que Emma ficaria muito grata por sua atenç ã o, nã o é Emma? — Celeste entrou na conversa. — Ela é mais moç a do que nó s, Vidal, e as coisas que sã o do nosso interesse dificilmente interessam a eles.

— Você s nã o precisam se preocupar tanto comigo! — Emma interrompeu com raiva.

— Nã o seja assim, Emma. Antô nio vai pensar que você é indelicada. — Celeste tentou conciliar.

Emma nunca tinha se sentido tã o desastrada e embaraç ada em toda sua vida e com um desanimado movimento de ombros, entrou em seu quarto, deixando Celeste pensando em seus planos diabó licos, fossem quais fossem. Naquele momento, nã o parecia ter importâ ncia alguma aquilo que Celeste pudesse fazer ou deixar de fazer. Ela queria ficar sozinha, alguns preciosos momentos, para colocar suas idé ias em ordem. Se é que, a essa altura, isso ainda era possí vel.



  

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