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CAPÍTULO III



 

 

Celeste só apareceu de madrugada, resmungando baixinho, embora bastante satisfeita com os acontecimentos da noite. Emma tinha ficado lendo até tarde, imaginando por onde andaria Celeste. A condessa, com certeza, nã o estava acordada até aquela hora. Emma saiu da cama e vestiu um penhoar acolchoado sobre seu corpo delgado. Entã o, devagarinho, abriu a porta de seu quarto e entrou na sala da suí te. Celeste tinha acendido um cigarro e estava em pé, fumando, com um sorriso maroto nos lá bios. Com a apariç ã o de Emma, ela exclamou: — Emma! O que em nome dos cé us está fazendo, rodando por aí a esta hora da madrugada?

Entrando na sala, respondeu sacudindo os ombros: — É que... eu nã o consegui dormir. — Fez uma pausa. — Celeste, estou pensando seriamente em voltar para casa amanhã. . . quero dizer, . . hoje cedo, se possí vel.

A expressã o de Celeste mudou imediatamente. — Casa? Quer dizer para a Inglaterra?

— Sim — disse Emma, nervosa. — Eu... eu nã o sei que mentiras está dizendo sobre suas relaç õ es comigo, mas decidi que nã o quero enganar aquela velhinha. Detesto mentiras.

— Aquela velhinha, como você a chama, menina, se importa mais com o meu dinheiro do que com minhas falhas — respondeu. — Sua ingê nua cabecinha teria conseguido imaginar que a razã o da minha presenç a aqui é cavar um tí tulo para mim, ao mesmo tempo que restauro as posses da famí lia Cesare?

— Cheguei a pensar nisso — admitiu devagar. — Mas isso nã o pode ser tã o simples, Celeste, ou você nã o teria se dado ao trabalho de me trazer junto com você, teria?

— Em parte, marcou um ponto, Emma. A condessa está acima de tudo interessada em dinheiro, mas como uma tí pica italiana, a famí lia significa muito para ela. Se eu chegasse aqui, sem a minha " querida" enteada, creio que ela ia ficar muito curiosa.

— Você poderia dizer a verdade. Que eu trabalho em Londres.

— Oh, nã o, queridinha! Com sua mentalidade simpló ria, sei que nã o lhe ocorreu imaginar exatamente quanto Clifford deixou para mim, mas posso garantir a você que a condessa sabe meu saldo bancá rio até o ú ltimo centavo.

— O que isso tem a ver? Montes de garotas cujas parentes tê m dinheiro trabalham atualmente. Por que eu nã o poderia fazer isso?

— Eu sei que poderia, mas com muitos milhõ es de dó lares em dinheiro e propriedades, creio que isso seria imprová vel, para nã o dizer impossí vel.

— Muitos milhõ es de dó lares? — Emma estava espantada.

— É claro! Você nã o imaginou que eu casei com o velho Clifford e aguentei suas patas em cima de mim por nada, nã o é?

— Celeste. . . — ela murmurou com voz quase inaudí vel, enojada com tudo aquilo.

— Entã o? Emma, seja sensata! Que mal pode fazer permitir que essa velhinha acredite que eu e você somos as maiores amigas, apenas para justificar suas. . . como direi. . . regras sociais?

Se era mesmo verdade que a condessa estava apenas interessada em seu dinheiro, entã o nã o seria razoá vel que Celeste tivesse a chance de adquirir o tí tulo, se isso era tã o importante para o orgulho dela? Alé m de tudo, Celeste era o tipo de pessoa que obtinha o que queria, a despeito de qualquer oposiç ã o.

Emma balanç ou a cabeç a desconsolada. — Tudo isso, chega a ser repugnante. Se é isso o que o dinheiro traz, estou satisfeita por nã o ter nenhum.

— Por que, querida? Nã o gostaria de ser uma condessa?

— Decididamente nã o. Preferia casar com um homem que eu amasse, do que com algum playboy de meia-idade, que esbanjou toda sua fortuna e agora deseja começ ar a gastar a dos outros.

Celeste deu uma sonora gargalhada. — Emma! Você nã o poderia estar mais enganada sobre o conde Vidal Cesare! Ele está longe de ser de meia-idade e é muito atraente, culto e elegante. Nã o que isso importe, como você bem deve ter adivinhado, mas é muito bom saber que o futuro pai dos meus filhos nã o precisa tomar afrodisí acos para estimular seus desejos naturais.

— Celeste! — exclamou. — Que coisa horrí vel de dizer!

— Você é sensí vel demais, querida. Se continuar comigo mais um pouco, logo vai perder essas sutilezas e aprender muita coisa. Cresç a, queridinha, e logo vai entender que a razã o pela qual a condessa prefere a mim e nã o alguma velha rica para seu neto, é porque sou capaz de produzir o herdeiro que ela tã o ardentemente deseja para o nome da famí lia Cesare. Percebe?

— Bem, torna as coisas compreensí veis, mas se nã o se incomoda, prefiro ficar de fora. Vou voltar para casa e você continua sua vida sem mim. Tem se arranjado muito bem até agora na vida e nã o vá pensar que precisa sentir nenhuma responsabilidade por mim. Como você, posso sobreviver sozinha no meu pró prio mundo.

— Você vai ficar! — Celeste disse secamente.

— Penso que nã o — Emma estava decidida.

— Entã o pense de novo, Emma. A condessa gostou muito de você e nã o tenho a mí nima intenç ã o de permitir que retorne, me deixando com uma infinidade de detalhes que nã o gosto de resolver, você sabe! Nã o, queridinha, você fica. E se ainda tem vontade de fazer mais algum discurso, eu nã o! Você pode até nã o acreditar nisso neste momento, mas sou capaz de tornar a vida bem desagradá vel para você, caso insista em se afastar de mim. Estou sendo forç ada a isso!

— Nã o me ameace, Celeste. Posso muito bem me manter sem sua ajuda, você sabe. Nã o preciso de nenhum auxí lio de sua parte!

— Nã o, pode ser que nã o! Mas esse hospital onde está trabalhando, em Londres, sem dú vida se utiliza de fundos de caridade e se você me abandonar agora, vou achar algué m na direç ã o capaz de fazer qualquer coisa por um bom dinheiro de doaç ã o, entendeu?

— Você deve estar brincando, Celeste!

— Nunca falei mais sé rio em minha vida, querida!

— Bem... existem outros hospitais, ora!

— Sou capaz de descobrir você, esteja onde estiver. Tenho dinheiro, menina, e acredite, sei que dinheiro pode comprar tudo. Tudo!

— Acredito piamente que você pode me caç ar. Por que, Celeste? Por quê? O que foi que eu fiz a você?

— Nada. Nada tem a ver com isto, Emma. Quero-a aqui, porque é do meu interesse, e se você se afastar de mim, sua vida vai se tornar um inferno. Vai se arrepender e desejar nunca ter me desafiado. — Ela deu um suspiro e mudou o tom de voz, de novo. — Querida, afinal o que estou pedindo de mais? Seis semanas de seu tempo, durante as quais você poderá visitar uma das mais excitantes cidades do mundo. Isso é pedir muito, é?

Emma apenas sacudiu a cabeç a, chocada demais para falar. Entã o, sem dizer uma palavra voltou a seu quarto. Tinha dezenove anos, nenhuma experiê ncia e ningué m no mundo para quem pudesse se voltar, fora alguns parentes distantes na Inglaterra, que na verdade pouco se importavam com o que pudesse acontecer a ela. Nã o lhe restava outra alternativa senã o ficar com Celeste, porque no momento estava impotente até para se defender dela. Na manhã seguinte, a cena da noite anterior parecia nunca ter acontecido. Celeste tinha reassumido sua atitude protetora e contou a Emma que tinha finalmente conhecido o conde Vidal Cesare na noite anterior.

— Ele chegou depois do jantar, porque tinha compromissos inadiá veis, mas ficou muito tempo depois que a condessa se retirou. Fomos até fazer um româ ntico passeio de gô ndola. Emma, ele é maravilhoso! Precisamos arranjar um acompanhante para você, enquanto estamos aqui, porque ningué m pode aproveitar as delí cias de Veneza à noite, sem um homem do lado!

— Obrigada, mas nã o será necessá rio — Emma disse baixinho.

— Você nã o vai embora! — Era uma afirmaç ã o e nã o uma pergunta.

— Nã o, Celeste, nã o vou. Mas nã o pretendo me deixar manobrar por você a ponto de aceitar a companhia de um tipo qualquer das relaç õ es desse conde.

— Nã o seja tã o exagerada, querida! Ningué m vai forç ar você a fazer nada que nã o queira... — Ela se levantou com elegâ ncia. — Agora vou me vestir e você pode acabar de arrumar as malas, por favor. A gô ndola dos Cesare virá nos buscar à s onze horas. Giulio, um homem que trabalha para a condessa, vai nos levar. Imagine, eu, Celeste Bernard, hospedada em um verdadeiro palá cio veneziano!

Para Emma, o palá cio representava muitas coisas. Certamente era antigo e supunha que devia ser lindo, mas ela só estaria animada com essa visita se as circunstâ ncias fossem outras. Quando cruzavam o gelado e ú mido hall do palá cio, Emma estremeceu. Subiram as escadas sob o olhar de Giulio, que carregava duas das enormes malas de Celeste. Emma carregava uma pequena e uma valise, que acomodava a maior parte de suas coisas. No hall ainda tinha ficado o grande baú com roupas de noite, sapatos e bolsas da " futura condessa". — Precisamos instalar um elevador neste lugar — disse Celeste baixinho para Emma. — Ningué m mais sobe escadas nos Estados Unidos.

A condessa esperava por elas no grande salã o e Celeste ficou aliviada em notar que os apartamentos tinham aquecimento central e que a mobí lia era razoavelmente moderna e confortá vel. Pensava quanto iria gastar na reforma do palá cio, tã o logo ela se tomasse a condessa. A empregada, Anna, estava esperando para servir café e biscoitos e depois de vá rias xí caras e alguns cigarros, Celeste e Emma foram para seus respectivos quartos. O quarto de Celeste era enorme, com uma maciç a cama com cortinas de veludo ao redor. Estavam presas agora, mas quando soltas, encobririam completamente os ocupantes da cama. O piso era quase completamente coberto por tapetes macios e a mobí lia era de madeira escura.

— Cé us! — exclamou Celeste divertida. — Isto parece um auditó rio e nã o um quarto!

— Talvez fosse usado para isso nos velhos tempos — respondeu Emma, esquecendo por um momento seus problemas com a madrasta. — Talvez as contessas anteriores o usassem para dar audiê ncias em seu quarto, como faziam reis e rainhas em tempos remotos.

— Isso é verdade? Bem, se a cama for confortá vel creio que até vou gostar, embora eu imagine como esses drapeados de veludo devem ser sufocantes em noites quentes.

— Neste lugar? — Emma sacudiu a cabeç a. — Nem posso imaginar isto ficando abafado. Os palá cios sã o construí dos de pedra, você sabe. E pedras levam muito tempo para aquecer.

Celeste suspirou, olhando ao redor. — Onde será o banheiro? Será que o encanamento é moderno? Tomara que seja!

O banheiro era enorme, majestoso, todo em má rmore e a banheira daria para conter uma dú zia de adultos de uma só vez. Para alí vio de Celeste, o encanamento era moderno e a á gua quente. Como Anna tinha se oferecido para desfazer as malas de Celeste, Emma resolveu conhecer o resto do palá cio.

Seu quarto era bem menos imponente que o de Celeste, mas ainda assim bastante grande. Ficou um pouco desapontada com a cama, que era moderna. Ela, muito mais do que Celeste, teria gostado da atmosfera genuí na de coisas antigas. Arrumou suas coisas e saiu. O salã o onde tinham estado, agora estava deserto, mas ouviu sons vindos de uma porta de passagem à esquerda, que parecia levar para a á rea da cozinha. Imaginou que a condessa estivesse lá supervisionando os preparativos para o almoç o. Voltou pela longa galeria que corria da frente até o fundo e ficou por um momento na balaustrada olhando para baixo, para o hall deserto e um tanto escuro. Podia imaginar o que o palá cio devia ter sido nos dias quando aquele hall era usado para recepç õ es, iluminado e cheio de lindas mulheres vestidas de sedas, cetins e brocados, adornadas por jó ias fabulosas como Emma nunca tinha visto, enquanto homens elegantemente vestidos curvavam-se diante das damas para danç ar o minueto, ao som dos violinos que flutuavam pelo ar até em cima, onde os jovens da famí lia espiavam secretamente desse mesmo balcã o onde ela estava.

Estava perdida em seus pensamentos, quando a porta externa se abriu embaixo e uma ré stia de luz momentaneamente clareou o chã o, revelando a presenç a de um homem que entrava, carregando uma caixa de guitarra. Completamente inconsciente da presenç a dela lá em cima, ele foi silenciosamente pelo hall até uma antessala, abriu a porta e desapareceu lá dentro. Emma ficou intrigada. Havia algo de estranho na entrada furtiva do homem lá embaixo. Era ó bvio que ele nã o queria chamar a atenç ã o. Quem seria ele e o que estaria fazendo ali?

Celeste tinha contado que apenas os apartamentos do primeiro andar eram usados pela condessa e seu neto. Se era assim, por que algué m entrava pela ante-sala do andar de baixo com um violã o na mã o? Parecia ridí culo e ela se virou para sair dali. O que quer que estivesse acontecendo, nã o era da sua conta, e ela mal conhecia a condessa para ir contar a ela que algué m estava em um dos quartos de baixo. Andando pelo corredor, passou por vá rias portas pesadas e entalhadas e sentia um quase irresistí vel desejo de abrir todas para ver os misté rios que escondiam.

O pequeno incidente que acabava de testemunhar, poderia ser perfeitamente inocente, mas lhe tinha dado uma estranha sensaç ã o de nervosismo e ela decidiu que seria melhor voltar sem demora ao salã o, antes que deixasse sua imaginaç ã o vagar para mais longe. Levou um susto enorme e quase deu um grito, quando uma voz grave disse perto dela: — Aonde você pensa que vai?

Virou-se depressa com a mã o na boca para suprimir um grito.

— Você! . — Era o homem em quem tinha esbarrado no saguã o do hotel Danieli.

Ele pareceu surpreso e ergueu as sobrancelhas. — Por que você está aqui? —- Seu tom de voz era cortante e estava zangado com alguma coisa que ela nã o podia entender.

— Eu... bem... a condessa Cesare convidou minha madrasta e eu para passarmos uns dias aqui com ela. Mas. . . quem é você?

— Entã o você é a enteada de Celeste Vaughan?

— Sim, mas você nã o respondeu minha pergunta! — Ela deu uma sú bita exclamaç ã o. — Meu Deus! Entã o você é o conde!

— À s suas ordens. — Ele se inclinou ligeiramente.

— Entã o. . . — murmurou. — Mas de onde você veio. .. quero dizer... eu nã o o ouvi chegar. Isto é. . . entã o era você lá embaixo no hall?

O rosto dele se fechou numa expressã o sombria. - Você estava aí no corredor? Ou ouviu alguma coisa e veio investigar?

— Receio que estava aqui sonhando acordada, admirando p palá cio. Peç o que me desculpe. Devo dizer. . . signor ou signor conde. — Ela corou intensamente. — Creio que estou um pouco atrapalhada. Você me assustou tanto!

— Isso nã o tem importâ ncia. Você disse que estava sonhando acordada?

— Sim... eu. .. eu vi uma pessoa entrar lá embaixo, com uma caixa de violã o e ir para dentro da antessala, é tudo. Achei um pouco estranho, pois a condessa disse que os quartos de baixo nunca sã o usados. É claro que se eu soubesse que era você...!

O conde franziu a testa e passou a mã o impacientemente pelos cabelos negros. Ele pensou um pouco e disse: — Eu à s vezes uso a parte de baixo para guardar minhas coisas. É só.

Entã o, este era o conde com quem Celeste pretendia se casar, pensou Emma. Este homem que na noite anterior tinha lhe dado uma gloriosa sensaç ã o de autoconfianç a, mostrando com seus olhos que a achava atraente. Este homem que até a tinha convidado para tomar um drinque com ele... Isso era incrí vel, inaceitá vel! Como esse homem podia permitir ser vendido dessa forma, mesmo que fosse para a restauraç ã o da fortuna da famí lia Cesare? Isso chegava a ser repugnante. Percebeu que ele a examinava e lembrou com desgosto que estava usando uma velha calç a jeans e uma camiseta azul nada especial. Tinha prometido comprar roupas novas e esqueceu.

Ele sorriu estranhamente e disse: — Eu entendi que a enteada de Celeste era quase uma crianç a, nada mais do que uma adolescente...

— Tenho dezenove anos — ela disse na defensiva. — Vou fazer vinte daqui a alguns meses.

— É mesmo?

— É mesmo. Bem... vamos entrar?

— Se quer assim...

Ele tinha o ar de convencimento e seguranç a de um homem que sabe de seu poder sobre uma mulher. Emma ficou com raiva por ter-se sentido atraí da por ele, um homem com fama de jogador, mulherengo e aproveitador, um homem que nã o tinha o menor escrú pulo em casar com uma mulher apenas por sua fortuna.

 



  

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