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Kay Thorpe 1 страница



Kay Thorpe

Encontro Na Primavera

(Chance Meeting)

Digitalizaç ã o/Revisã o e Formataç ã o: Gisacb4

DE ONDE SHARON TIRARIA FORÇ AS PARA TENTAR SALVAR SEU CASAMENTO, SE LEE A QUERIA JUNTO DELE SÓ POR INTERESSE?

Quando a primavera coloriu com as primeiras flores os jardins de Londres, Sharon conheceu por acaso o homem que seria seu refú gio e sua perdiç ã o: Lee Brent, o milioná rio charmoso e cobiç ado por todas as mulheres da cidade. Mal acreditando em sua pró pria sorte, Sharon ouviu de Lee as palavras má gicas, pelas quais sua alma ansiava tanto: “Quer casar comigo, querida? ” Claro que ela queria! Nã o importava mais agora que ela fosse jovem e imatura, pobre e sozinha no mundo. Nada mais importava, pois Lee a amava. Entã o, no pró prio dia de seu casamento, Sharon descobriu que aquilo tudo nã o passava de um jogo sujo!

 

 

Capí tulo I

 

Abril na Inglaterra. Sharon olhava as duas crianç as que alimentavam os patos diante do lugar em que estava sentada, pensando que o poeta Browning tinha transmitido muito bem aquela sensaç ã o. Quando o sol resolvia brilhar sobre as á rvores cheias de brotos e sobre as primeiras flores de primavera, aquele oá sis bem no meio de Londres parecia um pequeno paraí so, capaz de animar até mesmo o mais depressivo dos espí ritos. Crescera numa cidade do norte, e desde que tinha se mudado para o sul, esta era a primeira vez que se sentia capaz de enfrentar o futuro com algum otimismo.

O inverno passado tinha sido difí cil e muito solitá rio. Inú meras vezes tinha se sentido tentada a engolir o orgulho e voltar para tudo aquilo que tinha abandonado sete meses antes, cheia de entusiasmo. Só mesmo a lembranç a daquela ú ltima conversa a tinha segurado. Lá no fundo, tinha tido sempre consciê ncia de que tia Dorothy nã o sentia nenhum afeto por ela, mas esse sentimento tinha levado dezesseis anos para vir à tona.

Ingratidã o tinha sido apenas uma das acusaç õ es atiradas contra o rosto dela. Analisando agora o passado era possí vel perceber melhor as emoç õ es daquela mulher, que havia escolhido voluntariamente nã o ser mã e e que, de repente, tinha se sentido moralmente obrigada a desistir de um bom emprego para cuidar da filha do irmã o falecido. A culpa disso tudo, poré m, nã o podia recair sobre a crianç a de apenas seis anos. Muitas mulheres conseguem criar filhos e trabalhar fora, mas no caso de tia Dorothy o sacrifí cio tinha sido total. Sharon compreendia agora que tio Brian també m tinha sofrido com a frustraç ã o da mulher. Era um homem paciente, tratava Sharon muito bem, sempre, e nunca reclamava, mas devia haver momentos em que ele lamentava a presenç a da sobrinha na casa.

Quando surgiu a oportunidade de passar um ano trabalhando no escritó rio, em Londres, da firma em que estava empregada, Sharon resolveu aceitar. E se tivesse tido alguma dú vida, a mera reaç ã o de tia Dorothy a teria forç ado a se resolver.

— Depois de todo o dinheiro que gastamos com você! — gritara ela. — Agora que você estava começ ando a nos pagar, resolve ir embora. Muito bem, vá! Vá logo! E boa sorte.

Sharon tinha ido mesmo, levando consigo a firme intenç ã o de mandar algum dinheiro mensalmente como pagamento à dí vida, mas logo descobriu, desanimada, que ia precisar de cada tostã o do seu salá rio, apenas para sobreviver. Ainda ressentida com as palavras de despedida, escreveu uma carta dizendo que recomeç aria os pagamentos assim que pudesse. Foi tio Brian quem respondeu, livrando-a da obrigaç ã o e revelando que a tia nã o tinha tido essa intenç ã o. Estava apenas nervosa. Mas nã o havia na carta nenhuma insinuaç ã o para que voltasse. No Natal mandaram um presentinho e um cartã o escrito com a caligrafia de tia Dorothy. Sharon tomou isso como indí cio de que ela talvez estivesse aberta a fazer as pazes, mas, por enquanto, nã o se sentia capaz de tentar uma reaproximaç ã o.

Sentada em seu banco no parque, pensava que a primavera era uma boa é poca para recomeç os. Talvez, se ela estendesse a mã o primeiro, pudesse equilibrar as relaç õ es familiares. Afinal, os tios eram os ú nicos parentes que tinha.

De repente, olhando o reló gio do parque, percebeu que já estava atrasada. Nã o tinha horá rio rí gido no escritó rio, mas isso à s vezes era mais um problema do que uma vantagem, pois a tentaç ã o de ficar na cama uns minutos a mais quando a manhã estava fria e ú mida fazia com que ela estivesse sempre devendo algumas horas de trabalho. Tinha acabado de repor as horas devidas e tinha resolvido que, este mê s, ia obedecer a um horá rio regular, nem que tivesse de morrer. Isso tinha sido há menos de uma semana e ali estava ela, já quebrando a promessa.

Levaria uns bons vinte minutos para chegar de volta ao escritó rio, se o ô nibus estivesse no horá rio. Enquanto corria para os portõ es do parque, pensou em tomar um tá xi, mas abandonou a idé ia imediatamente. Mesmo que conseguisse achar um tá xi livre à quela hora do dia, nã o podia se permitir essa extravagâ ncia só para ganhar alguns minutos. Já estava atrasada mesmo, porque nã o deixar completar uma hora? Se fosse preciso, podia repor aquele tempo hoje mesmo, depois do expediente.

Mas, apesar dessa resoluç ã o, seus pé s a fizeram correr assim que avistou o ô nibus chegando no ponto. Olhou melhor para ver se era mesmo o seu e viu que era; apesar de estar adiantado ao horá rio. Se corresse mais poderia reduzir o atraso para meia hora apenas. O ponto estava meio longe, poucas pessoas esperando. Se corresse bastante e se o chofer estivesse num bom dia, disposto a esperar um pouquinho, poderia conseguir.

Havia muitos transeuntes, a maioria indo na direç ã o oposta à dela. Ao desviar de um deles, Sharon sentiu o salto do sapato escorregar numa pedrinha e torceu o pé dolorosamente. Caiu de joelhos, amparando a queda com a mã o aberta. Vieram-lhe lá grimas aos olhos ao sentir o ardor da pele roç ando na calç ada á spera. Ainda no chã o, viu que o ô nibus tinha chegado no ponto e já estava fechando as portas para partir. Tentou levantar-se quando sentiu uma mã o forte apoiá -la pela axila.

— Tombo feio — disse uma voz masculina acima de sua cabeç a. Envergonhada e frustrada, alç ou o rosto para ver quem a ajudava. Viu

um belo par de olhos cinzentos, com uma expressã o entre preocupada e divertida. Os olhos cinzentos baixaram para ver o estado das meias dela, abaixo da barra da saia. O sangue escorria por uma das pernas, colando-se à poeira arenosa grudada à carne esfolada. Sharon começ ava a sentir os joelhos incharem, sem falar da mã o com que tinha aparado o tombo. Surpreendentemente, nã o tinha deixado cair a bolsa.

— Tudo bem — conseguiu gaguejar. — Muito obrigada por me...

— Tudo bem, nada — contrariou ele, sem soltar o braç o dela. — Esses arranhõ es precisam de cuidados.

— Vou tratar disso assim que voltar para o escritó rio — garantiu Sharon, querendo ver-se livre da mã o que segurava seu braç o e dos olhares curiosos das pessoas que passavam.

— Você nã o pode andar por aí assim — interrompeu ele. — Olhe, meu carro está parado ali. Posso, pelo menos, lhe dar uma carona.

— Nã o foi culpa sua — protestou, enquanto ele a arrastava para um Mercedes prateado, brilhando sobre as faixas amarelas do estacionamento proibido. — Nã o se sinta responsá vel só por ter me ajudado. Foi descuido meu.

— Agora nã o dá para discutir — disse, empurrando-a suavemente para o banco de passageiros. — Vem vindo um guarda de trâ nsito. Aperte o cinto que lá vamos nó s!

Em um segundo ele estava sentado à direç ã o, ligando o motor com um gesto firme e fazendo cantar os pneus ao penetrar no trá fego da tarde, com a determinaç ã o de algué m acostumado à vida agitada da cidade.

— Lá vai um guardinha frustrado — disse, rindo, olhando pelo espelhinho retrovisor. — Já estava com o bloco de multas na mã o.

Sharon nã o respondeu, mordendo o lá bio inferior e alisando a mã o ferida.

— Doendo um bocado agora, nã o é? — disse o rapaz, voltando-se para ela. — Olhe, acho melhor passarmos na minha casa primeiro para cuidar disso. E logo ali, virando a esquina.

Sharon nã o protestou. Sentiu que nã o ia adiantar nada recusar. Alé m disso, seus joelhos e a mã o doí am cada vez mais. Examinou o rapaz a seu lado. Perfil firme, cabelo castanho-claro cortado bem curto. As sobrancelhas eram densas, sem serem pesadas demais, nariz longo e fino, a boca decidida, com um toque de sensualidade. Queixo forte, pescoç o só lido. Por volta dos trinta anos, avaliou Sharon, e um rosto seguro, de algué m que tinha alto status social: o paletó bem cortado sobre os ombros largos era elegante e evidentemente caro.

0 apartamento ficava em Grosvenor Place. Ele estacionou o carro diante da entrada principal do pré dio e ajudou Sharon a subir os poucos degraus com o braç o em torno de sua cintura. Atravessaram a grande porta de vidro e entraram no vestí bulo acarpetado. O porteiro fardado saiu de sua mesa e veio rapidamente até eles, solí cito.

— As suas ordens, sr. Brent.

— Tudo bem — respondeu. -— Esta moç a levou um tombo feio na rua. Vamos tratar dos ferimentos.

— Quer que leve a caixa de primeiros socorros para o senhor? — perguntou o homem com um ligeiro sorriso, significativo. — Nã o demora nada.

— Nã o é preciso. Tenho uma lá no apartamento, obrigado. Conduziu Sharon ao elevador e apertou um botã o.

— Nã o vai desmaiar, nã o é? — perguntou, enquanto subiam silenciosamente.

— Nunca desmaiei — disse, forç ando um sorriso. — Você é muito gentil, sr. Brent.

— Lee. O nome é Lee.

— Sharon Tiler — apresentou-se. — Obrigada.

— Nada. . — A voz dele soava algo divertida, os olhos sorriam. — Para onde ia com tanta pressa?

— De volta para o trabalho. A esta hora já devem estar preocupados.

— Você pode telefonar e explicar, depois que cuidar do machucado.

As portas automá ticas se abriram e ele passou o braç o em torno dela outra vez num contato firme, suave e nada impessoal. Sharon controlou a reaç ã o ao toque dele. Era um homem inegavelmente atraente, mas parecia estar interessado apenas em ser um bom samaritano. Dentro de alguns minutos estariam saindo de novo, depois de praticada a boa aç ã o.

Logo de entrada, o apartamento a deixou sem fô lego. Nunca tinha visto nada tã o luxuoso em toda a sua vida, a nã o ser em fotos de revistas. Quilô metros de carpete branco e fofo, semeado de alguns mó veis e poltronas macias, numa mistura de cores e estilos que se harmonizavam. Nem moderna, nem tradicional, a grande sala tinha um toque extremamente pessoal, absolutamente adequado à personalidade do morador. As janelas panorâ micas abriam-se para o Green Park.

— Por aqui — disse ele, conduzindo-a atravé s de um quarto quase tã o grande quanto a sala, com uma grande cama oval, meio embutida numa pequena plataforma.

O banheiro era trê s vezes maior que todos os que ela já tinha visto na vida. O chã o ali era també m coberto de carpete, que ia até a borda dos dois degraus que subiam para a banheira embutida no chã o e que també m era oval. Duas das paredes eram cobertas por espelhos bronzeados, de alto a baixo. Sharon viu os reflexos dos dois: ele alto, moreno e má sculo, ela alguns centí metros mais baixa, o cabelo louro despenteado em torno de um rosto completamente despido do glamour adequado à quele ambiente.

— Hollywood, anos 50 — comentou ele, abrindo um armá rio embutido no espelho, sobre a pia dupla. — É o que dá ter permitido liberdade total a uma decoradora amiga minha. Eu estava fora do paí s e ela fez uma festa. Felizmente voltei antes de ela decorar o resto da casa. Agora é melhor tirar as meias — disse ele, com a caixa de remé dios na mã o.

Sharon hesitou um pouco, mas concluiu que nã o era hora de ser tí mida. As meias já estavam desfiadas mesmo. Nã o ia poder voltar ao escritó rio com aqueles trapos, apesar do tempo ainda estar um pouco frio para sair de pernas nuas. Aproveitou que ele estava de costas, baixou as meias e tirou-as, consciente da palidez do inverno em sua pele, contrastando com

0 verde-escuro da saia. Sentiu-se ainda mais vulnerá vel quando afundou os pé s descalç os no tapete macio.

O cheiro de anti-sé ptico era penetrante. Depois de lavar as mã os, Lee Brent pegou um grande chumaç o de algodã o e a fez sentar num banquinho. Ajoelhou-se diante dela e apanhou sua perna, endireitando-a pelo tornozelo com um gesto firme e quente.

Vai doer — avisou. — Levante mais um pouco a sua saia para nã o molhar.

Sharon obedeceu, contente dele achar que a tensã o dela era de medo e nã o uma reaç ã o à quele toque viril. Era algo enervante estar ali sentada

com um homem que, para todos os efeitos, nã o passava de um completo estranho. Atencioso, má s desconhecido.

O ardor do anti-sé ptico a fez morder o lá bio e controlar um gritinho de dor. Aumentando um pouco a tensã o dos dedos ele segurava com firmeza a perna dela, enquanto removia a terra grudada ao ferimento, usando sempre enormes pedaç os de algodã o. A á gua pingando sem parar no tapete a fez falar, finalmente.

— Vai ficar encharcado. Nã o era melhor pô r uma toalha, um pano qualquer?

— Seca sozinho — disse, despreocupado. — Fique quieta. Tem só mais uma sujeirinha... pronto! — Atirou no lixo o algodã o usado e pegou outro pedaç o grande, que entregou a ela. — Vá enxugando enquanto eu limpo o outro joelho. Depois cuidamos da mã o.

Cinco minutos depois, para alí vio de Sharon, ele se endireitou, examinando o serviç o com um toque de humor nos lá bios.

— Nã o é nenhuma obra-prima, mas é o melhor que se pode fazer.

— Está ó timo — garantiu Sharon, ansiosa para livrar-se daquela situaç ã o. — Nã o sei como lhe agradecer!

Lee pousou nela os olhos cinzentos, divertidos, e ela entã o percebeu que ele tinha tido plena consciê ncia de todas as reaç õ es dela durante o pequeno tratamento. Encarou-a durante um longo momento, depois baixou os olhos para a boca.

— Nã o precisa agradecer — disse, insinuante e brincalhã o. — A menos que sinta um impulso irresistí vel.

Surpresa consigo mesma, Sharon sentiu que estava tentada a aceitar o desafio, mas o momento passou.

— Tenho de ir — disse.

— Nã o quero detê -la — disse ele, pondo-se de pé, um sorriso ainda brincando nos lá bios. — Vou ver se encontro um par de meias para você. Minha irmã usa meu apartamento à s vezes, quando estou fora da cidade, e sempre esquece coisas espalhadas por aí. Fique quietinha, enquanto eu procuro.

Em um minuto ele estava de volta com um pacote de celofane ainda fechado.

— Eu sabia que tinha. Talvez nã o sejam da cor que você usa, mas sã o melhor que nada.

Melhor que nada? Eram melhor que qualquer coisa que jamais tinha usado, pensou Sharon, vendo a etiqueta da marca cara e sofisticada no pacote. Insegura, sacudiu a cabeç a.

— Nã o posso levar as meias de sua irmã, assim sem mais nem menos.

— Ela nã o vai nem notar. Alé m dessa aí, tem mais uma dú zia na gaveta — disse ele, atirando o pacote no colo dela. — Nã o insista, está 10 bem? Pegue logo e calce. Lá fora ainda está frio. Quer café? Ou algo mais forte?

Sharon hesitou um momento, percebendo uma ponta de impaciê ncia na voz dele e achou melhor nã o continuar resistindo.

— Café, obrigada.

— Bom. Vai demorar um pouquinho para fazer. Venha para a sala quando estiver pronta. -

Depois que ele saiu, Sharon abriu o pacote e pegou as meias finí ssimas, caras. Calç ou-as cuidadosamente sobre os curativos dos joelhos, sentindo uma dorzinha na mã o ferida que ele deixara exposta ao ar livre para cicatrizar mais depressa. Quando voltou-se, para olhar no espelho, descobriu chateada que seu rosto estava manchado de poeira. Estava toda desarrumada, o cabelo despenteado pelo vento e nem sombra de batom nos lá bios. Nã o era de admirar que Lee Brent tivesse achado graç a na idé ia de beijá -la assim. O tipo de mulheres que ele beijava devia ser muito diferente daquela pobre Sharon Tiler refletida no espelho!

Foi mais por orgulho que por vaidade que ela resolveu retocar a maquilagem depois de lavar o rosto e passar um pente no cabelo. De sapatos sentia-se um pouco mais segura, mas nã o o suficiente para evitar de enrubescer quando entrou na sala e deparou com Lee Brent já sentado, esperando com o café.

— Desculpe a demora — disse. — Nã o tinha percebido que estava tã o desarrumada.

Ele nem respondeu, limitando-se a indicar a poltrona a seu lado e servindo o café do bule de prata em xí caras de porcelana.

— Creme ou aç ú car?

— Aç ú car, que é o que uma simples mortal como eu está acostumada a (ornar — respondeu ela numa sú bita brincadeira, algo maldosa.

Os olhos cinzentos brilharam. Sem dizer uma só palavra, Lee Brent pousou o bule, levantou-se e veio até ela.

Sharon tentou resistir quando ele a levantou, mas foi inú til. Decidido, ele pressionou os lá bios contra os dela, forç ando-os a se abrirem, as mã os firmes nas costas dela. Só quando ela parou de resistir e relaxou entre os braç os dele é que o beijo tornou-se mais suave, fazendo-a corresponder involuntariamente. Por debaixo da camisa de seda, cor de creme, Sharon lentia a musculatura firme de Brent.

Quando o beijo terminou ele nã o a soltou, demonstrando claramente que queria mais.

— Como simples mortal — disse ele baixinho —, isso era o que eu queria fazer esse tempo todo. Você tem o par de pernas mais adorá vel que eu |á vi, mesmo sujas de sangue e de terra ou decoradas com esparadrapo!

Sharon afastou-se dele com um sú bito empurrã o, sentindo, envergonhada, que seu coraç ã o batia descompassado. Tinha conhecido esse homem há menos de uma hora e já tinha permitido que a beijasse. E nã o apenas permitido, como correspondido ao beijo! Nã o conseguia encará -lo.

— Tenho de ir — disse. — É... é tarde.

— Vinte para as trê s — disse ele, encarando-a, enigmá tico. — Ora, eu nã o a peguei de surpresa. Lá no banheiro você já sabia o que estava acontecendo tanto quanto eu.

Nã o tinha como negar e achou inú til explicar. Tinha pensado que a atraç ã o estava só de seu lado. Sem dú vida as mulheres que ele tinha conhecido antes dela teriam sido suficientemente experientes para perceber quando um homem sentia atraç ã o, sem que ele precisasse demonstrar isso. Achou melhor agir com desenvoltura.

— É? E o que acha que eu devo fazer agora? Atirar-me na sua cama?

— Eu nã o iria reclamar — disse ele, dando de ombros.

— Aposto que nã o!

O feitiç o virou contra o feiticeiro, pensou Sharon, vendo os lá bios dele se apertarem. Devia estar acostumado a ter mulheres em sua cama e ela nada tinha feito para demonstrar que nã o era desse tipo.

— Nã o se sinta obrigada a isso — disse ele. — Eu nã o teria me aproximado, se você nã o tivesse incentivado.

— Eu incentivei?

— Isso mesmo. Se você nã o quisesse, teria recusado o café e ido embora na hora.

Sharon calou, sem saber direito o que fazer. Depois de um momento fez um esforç o, apanhou a bolsa que estava na poltrona e atravessou a sala agarrada a ela como a um escudo. Na porta voltou-se, revirou a bolsa apressada, apanhou trê s notas de uma libra e atirou-as sobre uma mesinha.

— Isso é pelas meias.

No fundo, esperava que Brent viesse atrá s dela, mas ele nã o veio. Tentou controlar as pernas, que tremiam enquanto esperava o elevador. Reaç ã o nervosa, disse a si mesma quando as portas automá ticas se abriram. E sensaç ã o de culpa, acrescentou sua consciê ncia. Havia muita verdade no que Lee Brent havia dito: ela sabia perfeitamente o que podia ter acontecido se ficasse. E ficou porque quis.

O olhar que o porteiro lanç ou a ela quando saiu do elevador fez Sharon pensar na quantidade de mulheres que ele já devia ter visto sair daquele apartamento.

— Se. o sr. Brent nã o vai levá -la para casa — disse ele —, posso chamar um tá xi.

Sharon fez que nã o com a cabeç a. Sabia bem demais que nã o podia mais se permitir gastar nada num tá xi depois daquele gesto grandiloqü ente de pagar as meias tã o caras! Ia ter de ir ao banco outra vez e ainda era apenas quarta-feira. O salá rio mensal, que ela dividia em cotas semanais, geralmente bastava para ir até o fim do mê s, mas nã o permitia nenhuma extravagâ ncia. Se tivesse mais algum gasto extra essa semana, já ia ter de entrar na cota da semana seguinte. Poré m, nã o lamentava o gesto impulsivo. A cara que Lee Brent tinha feito valeu a pena!

Já nã o havia por que voltar ao escritó rio agora. Era muito tarde. Amanhã de manhã inventaria uma desculpa. Tomou o metrô até Kennington e depois o ô nibus até Blexley Road.

Ao chegar a seu pequeno quarto nã o pô de deixar de sorrir. Que contras­te com aquela decoraç ã o luxuosa!

A senhoria era do tipo que se empenha em tornar o lugar agradá vel para os inquilinos e o quarto era jeitoso. Havia dois outros moradores no pré ­dio, alé m de Sharon. Um no mesmo andar e outro no andar de cima. Liam rapazes, jovens estudantes da Polité cnica. O fato de ter de repartir o banheiro tinha sido meio estranho no começ o, mas Sharon conseguiu esta­belecer um sistema rotativo que tornou as coisas mais fá ceis para ela e pa­ra os outros dois.

O rapaz que morava no mesmo andar apareceu por volta das sete horas, chegando das aulas. Greg Calvin tinha vinte anos, dois menos que ela, e era alegre e extrovertido. A companhia dele tinha sido perfeita para Sha­ron nos ú ltimos meses, pois tanto ele quanto ela sentiam falta de uma liga­ç ã o familiar. Ela sempre pensava que, se tivesse um irmã o, gostaria que fosse como Greg.

Ao vê -lo vestido em seus jeans e blusã o, Sharon nã o conseguiu evitar de compará -lo com o homem que havia encontrado aquela tarde. Sentiu que isso nã o era justo. Se Greg tivesse tido as mesmas oportunidades, cer­tamente teria també m melhor aspecto. E, de qualquer forma, o há bito nã o faz o monge, pensou.

Ele ficou só o tempo suficiente para devorar o jantar que Sharon nã o ti­nha a menor vontade de comer e logo depois foi para seu quarto.

Os arranhõ es ainda estavam bem sensí veis quando Sharon foi para a ca­ma, à s dez horas. Durante mais de uma hora ficou de olhos abertos no es­curo, tentando evitar de pensar no que tinha acontecido à tarde e, final­mente, dormiu.

Nã o precisou dar nenhuma desculpa quando chegou no escritó rio na manhã seguinte, apesar de insinuarem que devia ter dado ao menos um telefo­nema. Uma das outras moç as estava justamente naquele ô nibus que ela ti­nha tentado pegar e havia visto tudo.

— Que bonitã o aquele que ajudou você a se levantar — comentou a ga­rota, durante a pausa do café. — Mas ele parece do tipo que tem sempre mulheres a seus pé s! Que aconteceu depois? A ú ltima coisa que eu vi foi ele levando você com um braç o na sua cintura. Tem gente que tem uma sorte!

— Ele me deixou na estaç ã o do metrô — inventou Sharon rapidamen­te, sem saber se Maureen a teria visto entrando no carro. — Naquela hora a ú nica coisa que eu conseguia pensar era em voltar para casa.

— Pena — lamentou a outra. — Você devia ter fingido um desmaio ou algo assim. Ele podia ter feito uma respiraç ã o boca a boca.

— Boa idé ia! — disse Sharon, sentindo o sangue afluir ao rosto e rin­do para disfarç ar a mentira.

— E, a gente nã o pode deixar passar essas oportunidades. Nã o é todo dia que aparecem — disse Maureen. — Você mora sozinha, nã o é, Sha­ron?

— Moro, sim — respondeu Sharon, estranhando a pergunta. — Moro num quarto em Camberwell. Por quê?

— Joan Barlow, do departamento do Exterior, está procurando algué m para repartir o apartamento. A amiga que morava com ela casou e mudou-se. Achei que você podia estar interessada.

— Bom, muito obrigada. Acho que vou falar com ela — respondeu, cautelosa.

Ela mal conhecia a garota e tinha suas dú vidas. Sabia que muitas pes­soas que moravam longe da famí lia costumavam repartir apartamentos, pa­ra poder morar melhor por preç o mais baixo, mas nã o era assim tã o sim­ples.

No fim das contas nã o procurou a mpç a, porque achou que nã o era con­veniente. Queria ter um quarto só para si, mesmo que tivesse de morar e cozinhar no mesmo lugar. Veio-lhe à mente o apartamento de Lee Brent e sorriu. Uma coisa era certa, ela nunca aspiraria a um lugar como aquele, a nã o ser em sonhos.

Passou-se mais uma semana e chegou uma nova segunda-feira, extrema­mente quente para aquela é poca do ano. Movida por um impulso que nã o sabia explicar, Sharon resolveu caprichar sua aparê ncia naquela manhã. Escolheu um conjunto de saia e casaquinho bem leves, num tom de ouro-escuro que realç ava seus cabelos. Desde que chegara a Londres tinha com­prado pouquí ssimas roupas, limitando-se ao essencial para complementar o que tinha trazido de casa. Aquele conjunto, ela tinha comprado poucas semanas antes de sair de Bolton e ainda nã o o tinha usado em Londres. Tinha resolvido guardá -lo para alguma ocasiã o especial, mas nã o tinha surgi­do nenhuma. Havia saí do com um ou outro colega do escritó rio, mas os encontros nã o haviam progredido alé m do simples passeio, porque ela nã o sentira vontade de construir uma relaç ã o.

Ao passar pela sala dela, pouco antes do almoç o, um dos rapazes parou, admirando o conjunto amarelo-escuro.

— Parece um girassol — observou ele. — Primaveril. O que é que você vai fazer hoje à noite?

Sharon pensou antes de responder, nã o muito certa se estava com vontade de. sair com Martin Dunn. Mas, se nã o aceitasse, o que iria fazer? Mais uma noite solitá ria com um livro em seu quarto? Martin nã o era lá grande coisa, mas era agradá vel. Resolveu aceitar.

— Nada — respondeu, sorrindo.

— Tem um filme ó timo no Odeon. Já viu? — sugeriu ele, sorrindo. Sharon acenou com a cabeç a. O cinema era o ú ltimo programa no qual ela pensaria numa noite quente, mas afinal era esse o convite.

— Ó timo, a gente come alguma coisa antes. Até a noite.



  

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