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COLEÇÃO JARDIM DAS FLORES 5 5 страница



A expressã o nos olhos de Angelo era velada.

— Sem comentá rios.

Gwenna leu um ú nico significado naquela respos­ta. E sentiu como se tivesse sido golpeada diretamente no coraç ã o. Ele nem mesmo estava disposto a ser fiel a ela? Quã o mais baixo podia fazê -la descer?

— Entã o, suponho que o que acabamos de fazer é o equivalente a uma aventura de uma noite.

O semblante dele era amargo quando se recostou contra os travesseiros.

— Nã o tenho aventuras de uma ú nica noite.

— Talvez eu só possa pensar sobre este arranjo um dia de cada vez. — Gwenna já fora desprovida de todo o valor que possuí a. Tudo que ele dizia apenas aumentava a sensaç ã o aterrorizante de que ela nã o ti­nha mais controle de sua pró pria vida.

Subitamente, toda a raiva, sofrimento e má goa que estivera contendo foram liberados numa explosã o de palavras:

— Eu nem mesmo gosto de você, pelo amor de Deus! Você tirou minha casa, meu jardim, minha his­tó ria de vida, e me trouxe para uma cidade a qual nã o pertenç o. Até mesmo tirou Piglet de mim! — conde­nou ela furiosa, saindo da cama, entrando no banhei­ro e batendo a porta com forç a.

Angelo ouviu-a chorando e se levantou. Ultrajado, vestiu a cueca. Era melhor deixá -la chorar. Ela estava exausta. Eu nem mesmo gosto de você!

— Gwenna... — Sem pensar, ele alcanç ou a porta do banheiro e bateu uma vez. — Abra esta porta.

Com os olhos marejados, ela abriu as torneiras da banheira para mandá -lo embora. Angelo bateu novamente.

—Quero saber se você está bem. E quero saber agora.

Ignorando-o, porque nã o tinha mais nada para di­zer-lhe, Gwenna entrou na banheira. A lembranç a da dor í ntima entre as pernas a empalideceu e, pegando o sabonete, lavou-se com urgê ncia. Lá grimas escor­riam por suas faces. Por que estava chorando? Nun­ca, jamais chorava!

Angelo vestiu-se com pressa. Entã o, chutou a por­ta no ponto mais fraco abaixo da fechadura c abriu-a, batendo-a contra a parede. Ela estava dentro da ba­nheira, os enormes olhos azuis aterrorizados, os ca­chos loiros tocando a á gua.

—Desculpe-me se a assustei, mas você deveria ter aberto a porta — murmurou ele suavemente. — Fi­quei preocupado.

Tremendo, Gwenna o olhou, absorvendo a visã o da camisa aberta, revelando o peito bronzeado e pelu­do. Como ele podia invadir sua privacidade daquela maneira?

Quando ela desviou os olhos, mais tensa do que nunca, Angelo abaixou-se ao lado da banheira.

— Olhe para mim.

— Você precisa ser tã o intimidador? — perguntou ela, afundada na á gua até a altura do queixo.

— Estou tentando arduamente nã o ser. Pare de chorar... Você nã o precisa ter medo de mim.

Gwenna abaixou a cabeç a. Como poderia nã o ter medo?

— Eu nunca machucaria você.

Ela pensou sobre o tipo de machucado que tinha um efeito mais duradouro do que meros arranhõ es.

Angelo sentia-se frustrado. Ela nã o o estava ou­vindo. Ele tinha a impressã o de que Gwenna sempre lhe dava apenas parte de sua atenç ã o. " Poré m, nã o na cama", lembrou-se satisfeito. Mas durante o resto do tempo, parecia perdida em seu pró prio mundo pequeno.

— Quero entender por que o escâ ndalo sobre o re­ló gio.

Gwenna estudou o movimento da á gua ao redor de suas pernas.

— Papai sempre dava coisas assim para minha mã e.

Angelo franziu o cenho.

— E daí? Ele era o marido dela.

Gwenna ficou surpresa o bastante para erguer a ca­beç a e olhá -lo.

— Meu pai nã o era casado com minha mã e — ad­mitiu.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Eu nã o entendo.

— Mamã e teve um caso com papai que durou mui­tos anos. Ele estava casado com a primeira esposa na é poca.

— Eu nã o sabia que seu pai tinha sido casado duas vezes.

— Bem, por que você saberia? — replicou Gwenna. — Quando mamã e engravidou de mim, pensou que ele deixaria a esposa, que nã o podia ter filhos. Mas ele nã o fez isso. À s vezes, nã o ví amos papai por me­ses, e entã o, ele aparecia com presentes extravagan­tes. Minha mã e gostava desse tipo de coisa, mas... eu nã o.

— Mas seu pai criou você, até lhe deu seu sobrenome — apontou Angelo.

— Mamã e morreu quando eu tinha oito anos, e fui viver com papai, que me reconheceu como filha. A esposa dele nã o ficou feliz com isso, e eles se divor­ciaram.

— Eu nã o tinha idé ia. — Angelo ficou furioso que o relató rio confidencial que fizera sobre Hamilton ti­vesse omitido detalhes tã o relevantes. Estava atô nito nela realidade de que a mã e dela aparentemente tinha sido uma outra ví tima iludida pelo homem mais ve­lho Mas entã o, lembrou-se de que Gwenna ainda era a ú nica filha que tinha o sangue de Donald Hamilton nas veias.

Gwenna observou-o se levantar, as feiç õ es bonitas tornando-se mais reservadas e frias. Presumiu que a histó ria que acabara de lhe contar o fizera desprezá -la Muitas pessoas haviam desprezado a mã e dela por ter tido um caso com um homem casado e concebido um filho dele. Sempre ridicularizada na escola, Gwenna tivera poucos amigos. O povo local expres­sara sua desaprovaç ã o excluindo a amante e filha de Hamilton das atividades da comunidade.

No silê ncio desconfortá vel, Angelo reprimiu a vontade de fazer mais perguntas pessoais. Nã o exis­tia o lado pessoal em seus relacionamentos, pensou, indo para o quarto. Eu nem mesmo gosto de você. A frase se repetia em sua cabeç a, atormentando-o. Des­de quando se importava se era querido ou nã o? Mas entã o, as mulheres sempre se esforç avam para agra­dá -lo. Gwenna representava um desafio. Mas nã o era homem o bastante para lidar com o que podia ser a primeira mulher honesta que conhecia? No ú ltimo momento possí vel, Angelo parou à porta. Puxando uma toalha do suporte, estendeu-a para ela.

— Pare de se preocupar com as coisas.

— Nã o estou preocupada.

— Você está estressada — corrigiu ele.

Num movimento abrupto, ela levantou-se, á gua escorrendo pelas curvas esbeltas, e aceitou a toalha Sentia-se manipulada, controlada, fazendo exata-mente o que ele queria. Angelo a tirou da banheira

— Nã o! — exclamou ela, enrolando a toalha com firmeza ao redor do corpo.

Enquanto ele a estudava em silê ncio, Gwenna co­meç ou a sentir o rosto queimar. Angelo a beijou com paixã o. Ela ficou rí gida em rejeiç ã o, mas ainda as­sim, sensaç õ es traidoras percorreram-lhe o corpo excitando-a. Estava consciente e envergonhada de seus mamilos proeminentes e da umidade entre as pernas.

— Sabe, você pode nã o gostar de mim, passione mia — murmurou Angelo sedosamente —, mas tudo que tenho de fazer é carregá -la de volta para cama e você será toda minha.

Sentindo-se totalmente humilhada, Gwenna lutou contra o desejo puramente fí sico.

— Nã o sou sua e nunca serei, porque você nã o pode me tocar onde realmente importa — devolveu ela furiosa. — Nã o me importo com o que pensa de mim, ou com quantas mulheres dorme, porque há muito tempo dei meu coraç ã o para algué m que vale dez de você!

No momento que Gwenna deu-lhe as costas, Angelo segurou-lhe o ombro para girá -la de volta. — Você está apaixonada por outro homem? — pressionou ele em tom baixo.

Vagarosamente, ela assentiu, saboreando a raiva despertara e, ao mesmo tempo, perturbada pela pró pria crueldade. Ser vingativa e perversa nunca lhe fora natural até conhecê -lo. As reaç õ es que Angelo Riccardi incitavam eram tã o estranhas para Gwenna quanto os altos e baixo emocionais que vinha experi­mentando.

— Nã o gosto do modo que você faz eu me com­portar.

— Você nã o gosta? — questionou ele, entã o pra­guejou: — Dannazione! Quem é esse sujeito?

Ela inclinou o queixo.

— Você nã o tem o direito de me perguntar isso.

Ele cerrou os punhos. Nã o perdeu o controle. Nun­ca o perdia e se orgulhava disso. Mas uma raiva ar­dente crescia em seu interior. Mal era capaz de acre­ditar na resposta dela; andou em direç ã o ao quarto, mas entã o, virou-se para encará -la.

— Pelo contrá rio, tenho todos os direitos. Nã o es­tabeleci limites em nosso arranjo.

— Você queria meu corpo e o tem. Nã o pediu por mais nada, e certamente nã o terá mais nada! — ex­clamou Gwenna amargamente.

— O nome dele — Angelo exigiu saber. — Nã o é da sua conta.

— Espero obediê ncia. — Angelo ajeitou a gravata e pegou o paletó.

— O que penso e o que sinto é problema meu — insistiu Gwenna, trê mula.

— Sua atitude me ofende.

As unhas de Gwenna enterraram nas palmas.

— Idem.

Angelo ergueu uma sobrancelha.

— Non ci capisco niente. Eu nã o entendo.

— Sua atitude també m me ofende — disse ela, um sentimento de medo querendo dominá -la.

Angelo a olhou com o semblante frio.

— Temos um acordo, e você nã o pode me aban­donar até que eu escolha libertá -la. Nem pode me insultar.

— É isso que estou fazendo?

Angelo nã o respondeu. Saiu do quarto sem mais nenhuma palavra. Respirando profundamente, ela sentou-se na cama. Ele tinha partido e, em vez de es­tar radiante, Gwenna se sentia irritada, confusa e.. estranhamente abandonada. Ele saí ra para encontrar uma outra mulher? Ela cerrou os dentes. Fizera bem em lhe dizer que era apaixonada por um outro ho­mem. Aquilo o ofendera. Como Angelo ousava agir como se ela lhe pertencesse? Entretanto, sempre que a tocava, ela nã o podia rejeitá -lo, e ele sabia disso.

Rapidamente Gwenna racionalizou seus senti­mentos. A atraç ã o que sentia por ele era uma coisa hormonal, uma reaç ã o quí mica. Se tivesse ficado dei­tada lá como uma está tua, Angelo teria se sentindo muito menos entusiasmado. Olhando para baixo, percebeu que ainda estava usando o reló gio, e que o mer­gulhara na banheira. Culpada, examinou-o. O vidro estava embaç ado pela á gua. Ele tinha notado? E achado que Gwenna estragara a jó ia de propó sito?

O reló gio de diamante tinha mergulhado na banheira. Talvez ela o martelasse da pró xima vez, pensou Angelo, a boca bonita comprimida enquanto sua limusine atravessava a cidade. Gwenna nã o queria nada que ele lhe desse. Nã o gostava da casa, do jar­dim, das roupas, do fabuloso estilo de vida que ele lhe proporcionava. Contudo, quando ele havia feito tanto esforç o por uma mulher? Será que ele estava na verdade se punindo ao adquirir a filha de um ini­migo? Irritado, deu um gole no uí sque. Indiferente aoluxo que lhe era oferecido, ela preferia vestir-se como uma mendiga e cavucar o solo em qualquer cli­ma. Ele era o patife cruel que a levara para uma man­sã o e empregara pessoas para servi-la. E aquela atitu­de distante de Gwenna? Oh, sim, havia uma boa ra­zã o para tal distâ ncia. Embora ela estivesse dormin­do em sua cama, amava um outro homem. Isso o per­turbava muito mais do que gostaria.

Estava impressionado com o quã o amargo, afron­tado e traí do se sentia. Nenhuma mulher jamais lhe causara esse efeito. Mas nenhuma mulher o despre­zara antes. A vinganç a estava ameaç ando se voltar contra ele. Teria de abandoná -la, esquecê -la. Que ho­mem aceitaria o papel de segundo melhor na cama de uma mulher? Com uma raiva implacá vel, Angelo disse a seu chofer para se dirigir ao clube noturno. Havia muitas outras mulheres disponí veis.

 

Na manhã seguinte, Angelo participou de uma reu­niã o de negó cios. Tinha dormido muito pouco. Em­briagara-se na noite anterior, algo que nã o fazia des­de que era adolescente. Apó s descobrir que seu pai tivera um problema com á lcool, passara a ser muito cuidadoso com seu consumo, e agora se sentia pertur­bado por sua falta de disciplina.

Gwenna estava no jardim quando Angelo a cha­mou ao meio-dia.

O timbre profundo da voz vibrou na coluna dela e o estô mago revolveu-se. Imagens sensuais ameaç a­ram consumi-la, deixando-a nervosa. Independente­mente de quanto se policiava, ele continuava inva­dindo-lhe os pensamentos.

— Sim?

— Quero levá -la em algum lugar especial esta noite.

Os olhos azuis se arregalaram em horror.

— Mas nã o posso vê -lo esta noite.

— Por que nã o?

Gwenna nã o tinha intenç ã o de cancelar sua noite com Toby.

— Vou sair. Combinei ontem.

— Cancele. — Com dificuldade, Angelo contro­lou seu temperamento. — Quero sair com você esta noite.

— Mas nã o posso cancelar meu compromisso. A pessoa com quem vou sair nã o estará disponí vel numa outra hora.

— De que sexo é esta pessoa? Ela suspirou.

— Nã o tenho de responder isso...

— Você acabou de responder.

—- Ele é um amigo, certo? — Gwenna sentiu uma culpa vindo do nada e lutou contra isso. Quanta ho­nestidade realmente devia a Angelo Riccardi?

— Vou encontrar você s, entã o. Dê -me o horá rio e o local.

Ela ficou perplexa com a sugestã o.

— De jeito nenhum! Lamento, mas eu nã o sabia que você pretendia me ver esta noite. Nã o pode espe­rar que eu esteja disponí vel 24 horas por dia!

— Eu espero.

— Vamos começ ar de amanhã... Por favor, seja ra­zoá vel.

Infelizmente, Angelo nã o estava num humor ra­zoá vel. Nã o estava acostumado com recusas. Ligou para Franco e instruiu-o para que Gwenna fosse ob­servada de uma distâ ncia discreta. Achou que deveria saber onde ela estava, o que estava fazendo, e com quem. Gwenna tinha sido virgem, o que sugeria que a pessoa que dizia amar era, por alguma razã o, inatin­gí vel. Com base nisso, ele decidiu que nã o havia mo­tivo para preocupaç õ es.

O problema era que ainda queria Gwenna Hamil­ton. Mesmo aborrecido com ela, dormira desejando-a e acordara num estado ainda pior. Nã o gostava disso. Po­ré m, quanto mais ela se recusava a jogar conforme as regras, mais determinado a conquistá -la ele se tornava. Estaria sofrendo de alguma reaç ã o instintiva ao desafio que Gwenna lhe lanç ava? De qualquer forma, ansiava pelo momento em que a razã o fosse recuperada e a con­siderasse mais cansativa do que desejá vel.

 

 

CAPITULO SEIS

 

— Fiz uma pesquisa sobre seu namorado — confi­denciou Toby, meneando a cabeç a em desaprovaç ã o

— Você está seriamente fora de seu mundo. Gwenna deu um gole de seu drinque.

— Por que pensa assim?

— Angelo Riccardi tem uma má reputaç ã o. — Toby mudou de posiç ã o no banco do bar onde estava sentado.

Uma inesperada onda de irritaç ã o a assolou em resposta à crí tica sobre Angelo.

— De que maneira?

— De todas as maneiras. Ele é um explorador nos negó cios e trata as mulheres como se fossem objetos Quero dizer, o que está fazendo? Você é tã o suave..

— Talvez Angelo desperte um outro lado meu. Mas nã o sei por que estamos falando sobre isso.

— E quanto ao fato de ele ser bilioná rio? Você só o conheceu algumas semanas atrá s. Ele é um preda­dor urbano e você é uma ratinha do campo. Nã o tê m nada em comum. E claro que estou preocupado.

— Mas quando nos falamos ontem, você pareceu aprovar — Gwenna o relembrou. — Disse que eu precisava de paixã o na minha vida.

— Onde você estava ontem à noite?

— Por quê?

Toby suspirou.

— Eu nã o queria ter de lhe contar, mas, de acordo com o jornal que li esta manhã, Angelo Riccardi esta­va festejando publicamente com trê s modelos ontem à noite.

Em choque, Gwenna ficou imó vel. Queria argu­mentar que Angelo estivera com ela na noite anterior, mas ele tinha partido cedo. No humor em que se en­contrava, era muito prová vel que procurasse o tipo de mulheres que o bajulariam e desmaiariam com um reló gio de diamantes. Enquanto ela havia se trancado no banheiro, chorado e lhe dito vá rias verdades dolo­rosas. Sem nenhuma compaixã o.

— Você nã o lê os jornais? — perguntou Toby.

Foi necessá rio um esforç o, mas ela se recuperou.

— Nã o do tipo que devota espaç o para fofocas como essa.

— Nã o acho que seja fofoca, Gwenna.

Ela esforç ou-se para bloquear o que Toby acabara de lhe contar. Por que a notí cia a feria tanto? E por que estava chocada, se Angelo nunca lhe prometera fidelidade? També m nã o podia entender sua vontade quase desesperadora de confrontá -lo. Na verdade, suas reaç õ es incompreensí veis a apavoravam.

— Você é uma pessoa honesta e leal e merece mais do que ele — declarou Toby.

— Nã o é importante. Acha que nã o sei que meu re­lacionamento com Angelo vai durar? — Gwenna for­ç ou um sorriso brilhante, poré m seus mú sculos fa­ciais estavam rí gidos. — Mas tenho 26 anos e decidi que era hora de correr alguns riscos.

Contudo, o encanto da noite acabou naquele pon­to. Adorava conversar com Toby e achou que se en­volveria num diá logo interessante sobre o trabalho dele, apenas para descobrir que nã o conseguia parar de pensar em Angelo por mais de cinco minutos. Sua imaginaç ã o continuava criando imagens de Angelo se divertindo com mulheres incrí veis.

— Sempre estarei do seu lado — prometeu Toby, segurando-lhe a mã o. — Mesmo se eu estiver no ex­terior, você pode me ligar a qualquer momento.

Do outro lado de Londres, Angelo estava traba­lhando até mais tarde. Nã o podia se concentrar, toda­via. Andava de um lado para o outro em seu escritó ­rio, e finalmente ligou para Franco a fim de descobrir onde Gwenna estava com o tal amigo. Uma hora de­pois, entrou no mesmo bar e a viu no balcã o com um homem alto e magro de cabelos castanhos. Com seus cachos loiros caindo sobre as costas, Gwenna vestia jeans e uma blusa simples. Angelo sentiu um misto de satisfaç ã o e irritaç ã o. Satisfaç ã o porque ela nã o se arrumara para encontrar o amigo, e irritaç ã o porque tinha ignorado totalmente sua vasta coleç ã o de rou­pas de grife.

Forç ando um sorriso, foi em direç ã o a Gwenna e seu companheiro, enquanto Franco aguardava a uma distâ ncia discreta. Angelo observou o casal conver­sando por um momento. A expressã o afetuosa nos olhos de Gwenna era indiscutí vel. Ele ficou tenso, sentindo a raiva dominá -lo. Era como se alguma coi­sa vital estivesse se rompendo em seu interior.

Gwenna só percebeu que Angelo tinha chega­do quando ele fechou um braç o ao seu redor e murmurou:

— Hora de você se despedir.

Ela virou-se, encontrou os olhos escuros e seu co­raç ã o disparou imediatamente. Sensaç õ es de ressen­timento e excitaç ã o se misturaram de forma indis­tinta.

— Como você soube onde eu estava?

Angelo a girou para um lado e gesticulou para Franco, que estava esperando instruç õ es.

— Franco irá levá -la para a limusine. Quero falar com seu... amigo em particular, bellezza mia.

Gwenna notou a hesitaç ã o deliberada em referê n­cia a Toby, assim como sentiu a agressividade primi­tiva que Angelo exalava.

— Angelo, pelo amor de Deus.

— Vá com Franco.

— Nã o ouse tocar em Toby! — disse ela em pâ ni­co, colocando-se na frente do amigo, como se quises­se defendê -lo.

A raiva de Angelo aumentou. Ela estava se opondo a ele e se colocando em risco para proteger um outro homem. Mas a visã o do semblante apreensivo de Gwenna o fez se controlar.

— Venha comigo, entã o — disse ele.

— Nã o vou a lugar algum com você. — Todavia, Gwenna nã o podia tirar os olhos de Angelo. Havia uma luz naqueles olhos dourados que prendiam os seus com mais forç a do que qualquer corrente. Lentamente, observou-o como um todo. Com um terno preto impecá vel e uma camisa listrada aberta no co­larinho, estava absolutamente maravilhoso.

— Eu sou Toby James... caso algué m esteja inte­ressado em saber.

— Eu nã o estou — replicou Angelo sem olhá -lo.

— Você é tã o rude... tã o sem educaç ã o! — excla­mou Gwenna.

— Uma modelo é infidelidade, duas modelos é ga­nâ ncia, trê s é decadê ncia — disse Toby, como se ex­plicando a atitude da amiga.

Totalmente pá lida, Gwenna recusou-se a olhar na direç ã o de Angelo.

— Vamos danç ar, Toby.

— Acho que você deveria conversar com Angelo — sugeriu Toby num sussurro.

Ainda ignorando-o, Angelo aproximou-se e fe­chou a mã o sobre o pulso de Gwenna.

— Vamos embora.

Ela enrubesceu de raiva. Se nã o estivessem num lugar pú blico, teria gritado com Angelo. Mas partiria e diria o que precisava ser dito com dignidade. Er­guendo o queixo, despediu-se de Toby e prometeu te­lefonar-lhe.

— Você falou que sairia com um amigo — disse Angelo enquanto a conduzia para fora. — Acreditei em você.

— Eu saí com um amigo.

— Como achou que poderia me enganar? — Ele lhe lanç ou um olhar frio. — Agora sei que nã o posso confiar em você.

— Como ousa falar uma coisa dessas? Simples­mente ignorou o que Toby disse sobre as modelos de ontem à noite.

— Nã o tenho nada a dizer sobre isso.

— Mas eu tenho muito a dizer. — Gwenna parou na calç ada do lado de fora. — Nã o vou entrar na sua limusine. Nã o preciso de uma carona.

Angelo a fitou, pura fú ria nos olhos.

— Nã o vou tolerar uma cena.

— Bem, farei com que seja breve e amena. — Ela endireitou os ombros. — Apenas uma pequena pala­vra... acabou.

O semblante de Angelo era cé tico.

— Do que você está falando? O que acabou?

— Angelo Riccardi... você foi dispensado! — ex­clamou Gwenna claramente. — Quer esta declaraç ã o por escrito?

Vendo um homem se aproximando com uma câ mera, Angelo segurou-a com forç a e a colocou no banco traseiro da limusine. Entã o, sentou-se ao seu lado.

— Vamos discutir isso em particular.

— Pensei que você nã o tivesse mais nada a dizer sobre o assunto — ela o relembrou enquanto o carro partia.

Ele estendeu um dos braç os e entrelaç ou a mã o nos cachos loiros. Ofegante, ela o fitou em surpresa um segundo antes de Angelo inclinar-se e beijá -la com ardor. A cabeç a de Gwenna pareceu girar e o corpo esquentou. Tremeu violentamente dentro dos braç os dele.

— Odeio você — sussurrou.

Olhos ardentes prenderam os seus.

— E daí? Isso está longe de acabar.

Gwenna passou os dedos trê mulos pelos cabelos e moveu-se para o canto do assento.

— Nã o tenho tempo para isso, e nã o temos nada a discutir. Preciso arrumar as malas e pegar Piglet.

Angelo queria deitá -la no banco e terminar o que tinha começ ado. Estava excitado e furioso, e a ú ltima coisa que queria era conversar. Fazer as malas? Nã o podia acreditar que ela ainda estava lutando contra ele. Homens temiam sua fú ria, seu poder, sua oposi­ç ã o. Mulheres, todavia, adoravam seu poder, sua ar­rogâ ncia e sua forç a. Por que ela nã o gostava?

Somente quando Gwenna saiu do carro, percebeu que nã o estava onde deveria estar. Rodeou Angelo.

— De quem é esta casa? Para onde você me trouxe?

— Para minha casa. — Ele dispensou seu staff com um gesto de cabeç a e certificou-se de trancar a porta assim que eles entraram. — Isso é uma honra para você. Minha casa é um lugar muito privado.

Recusando-se a ficar impressionada por aquela declaraç ã o, Gwenna inclinou a cabeç a para trá s.

— Você está perdendo seu tempo. É um patife imoral. Recuso-me a continuar tendo alguma coisa com você.

— E onde estava a sua moral esta noite? — per­guntou ele, aproximando-se, o que teve o efeito ime­diato de fazê -la se afastar. — Você marcou um en­contro com o homem que ama pelas minhas costas!

Gwenna empalideceu. Como ele tinha adivi­nhado?

— Quando você concordou em ficar comigo, nun­ca o mencionou — continuou ele em tom de acusaç ã o.

— Você estava sendo verdadeira?

— Nã o achei que estivesse interessado.

— Che ideal. Esse é o tipo de informaç ã o que to­dos os homens querem. — Olhos acusadores a enca­raram. — E quando você fugiu para encontrá -lo esta noite...

— Eu nã o fugi! — interrompeu ela com raiva.

— Sim, você fugiu. Foi muito mais do que uma noite inocente com um amigo. Será que você teve um comportamento honrado?

— De acordo com alguns jornais, você estava com trê s mulheres ontem à noite, entã o, qual é o proble­ma? Nã o pode esperar que eu seja honesta quando você está brincando com um bando de prostitutas! — Gwenna replicou em tom alto.

— Você está ficando histé rica.

— Nã o, estou lhe dizendo a verdade que você pe­diu, e acho que nã o gostou muito.

— Nosso acordo nã o lhe dá o direito de questionar minhas aç õ es, ou de criar novas regras.

— Tudo bem. Eu nã o me importo. — Ela passou por ele, sentindo os olhos arderem com lá grimas. — Mas nã o vou ficar aqui nem mais um minuto. Ne­nhum argumento é capaz de me forç ar a compartilhar uma cama com um homem que dorme com outras mulheres por aí...

— Dio mio... eu nã o durmo com outras mulheres por aí.

— Nã o adianta discutir comigo. Minha mã e pode ter aceitado um relacionamento desse tipo...

— Accidenti... Como ousa me comparar ao seu pai? — questionou ele incré dulo.

— Tudo que estou dizendo é que nã o permitirei que nenhum homem me faç a de tola dessa forma. Sou eu e somente eu, ou você nã o pode me ter de maneira alguma, e nem todo o dinheiro do mundo vai mudar isso — declarou Gwenna tremendo. — Entã o, abra esta porta e me deixe sair.

Angelo praguejou em italiano.

— Você me seqü estrou. Nã o concordei em vir para cá — disse ela agitada. — Manter-me aqui con­tra a minha vontade nã o vai adiantar nada, Angelo.

Com o semblante sé rio, Angelo a estudou intensa­mente. Um silê ncio se seguiu. Entã o, respirou fundo e murmurou:

— Nada aconteceu ontem à noite.

Gwenna o encarou. Uma onda de alí vio a percor­reu, deixando-a mais confusa do que nunca. Nã o era apenas seu orgulho que tinha sido ofendido pela apa­rente infidelidade dele, percebeu apavorada. Sentira-se atormentada pela idé ia de Angelo com uma outra mulher. Havia sentido ciú me e ficado furiosa.

— Eu nã o as toquei — continuou ele. — As mode­los... foram apenas companhias. Nada mais.

— As companhias ficaram vestidas?

— Si — respondeu Angelo, como se estivesse sen­do torturado, e era assim que se sentia. Por que nã o a mandava embora de sua casa e de sua vida? Poré m, quanto mais ela se aproximava da porta, maior era seu desejo de trazê -la de volta. Era desejo, racionali­zou. Detestava a idé ia de nã o estar mais totalmente no controle, mas o desejo o estava dominando.



  

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