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COLEÇÃO JARDIM DAS FLORES 5 9 страница



Angelo tinha, sem nenhuma vergonha, conquista­do a afeiç ã o de Piglet com chocolate. É claro que, uma pessoa tã o competitiva como ele, nã o havia se contentado com mera tolerâ ncia da parte do animal de estimaç ã o. Piglet agora o adorava, e um de seus lugares favoritos era debaixo da mesa de Angelo.

Gwenna pensou no fato de que adorava Angelo tanto quanto seu cachorro. Estava muito feliz, mas ocasionalmente um arrepio de medo a percorria quando considerava o inevitá vel fim do caso. Sabia que nada durava para sempre. Ele certamente se cansaria dela. Gwenna nã o acreditava que tinha o que era necessá rio para prender-lhe a atenç ã o por muito mais tempo. Mas estava determinada a viver pelo momento...

E os momentos que cada novo dia traziam eram maravilhosos. Eles andavam de barco, faziam wind-surfe mergulhavam, sem mencionar as noites de dan­ç a em alguns clubes exclusivos e em um carnaval de rua muito menos exclusivo. Eles tinham assistido a uma corrida de cavalos e comido em restaurantes mi­nú sculos e charmosos de vilarejos, onde turistas ain­da eram raros. Ocasionalmente, poré m, ficavam ho­ras no quarto ou na praia, e Gwenna dormia nos bra­ç os fortes e acordava ainda ali, pois Angelo nã o dor­mia mais sozinho agora.

Ela sabia que Angelo estava se esforç ando verda­deiramente para agradá -la. Parecia nã o perceber que estar ao seu lado era tudo que Gwenna precisava para ser feliz. Ele lhe dava flores. Tinha comprado uma coleira de jó ia e brinquedos para Piglet. Pedia sempre a comida favorita dela. Havia dito que adoraria lhe dar diamantes de aniversá rio se isso nã o a ofendesse. Como ainda faltavam dois meses para seu aniversá ­rio, Gwenna ficou radiante pela evidê ncia de que ele pretendia continuar o relacionamento por mais um tempo.

Os jornais foram entregues à s nove horas, e quan­do Angelo leu a primeira manchete, foi inundado por sentimentos negativos. Reprimindo-os, colocou o jornal de lado e saiu para o jardim a fim de tomar um ar fresco. Usou binó culos para localizar Gwenna, olhando para os arbustos primeiro e percebendo, com um sorriso, que seus jardins estavam muito mais vi­vos depois da chegada dela.

Naquele momento, contudo, Gwenna estava na praia brincando com Piglet. Vestida de short curtinho e a parte de cima de um biquí ni, parecia deleitá vel. Angelo suspirou. Ela era especial. Honesta e gentil, e a primeira mulher que o valorizava por mais do que sua riqueza. É claro que havia Toby, mas Angelo ti­nha notado que Gwenna raramente falava do amigo agora. De qualquer forma, evitava pensar nisso por­que, da maneira que importava, Gwenna Massey Hamilton era sua. O sentimento de posse era algo que nã o podia abandonar.

Mas, à s vezes, como agora, quando uma preocupa­ç ã o o deixava num humor mais contemplativo, assus­tava-se pelo que tinha feito a Gwenna. Sabia que era imperdoá vel, assim como sabia que ela possuí a um coraç ã o maravilhoso. Infelizmente, també m estava consciente dos princí pios de Gwenna, da forma como ela via o mundo, de sua inocê ncia. Como poderia per­doar traiç ã o? Ou crueldade? Como entenderia um de­sejo de vinganç a que saí ra do controle?

Angelo nã o poderia contar-lhe a verdade. Nã o ti­nha culpa de que sua á rvore familiar era repleta de criminosos. Mas era culpa sua ter agido como um. No fundo, temia ter herdado o gene da crueldade.

Gwenna notou que Angelo estava estranhamente quieto durante o jantar. Parecia distante. Embora ra­ramente bebesse, levou um uí sque para a varanda sem convidá -la para juntar-se a ele. Estava agindo como humano, pensou ela, talvez precisando de um momento de solidã o. Quando Angelo foi para praia, Gwenna teve de controlar a vontade de segui-lo. Para ocupar-se, pegou o jornal que ele estivera lendo. Era um artigo sobre a vida de um mafioso que tinha mor­rido na Amé rica do Sul. Ela levou o jornal para cama e leu a maté ria inteira.

— O que você está lendo?

Assustada, ela olhou para cima e focou na figura má scula delineada pela luz do abajur.

— Angelo. Onde você esteve?

— Você parece uma esposa — replicou ele fria­mente.

— Se eu fosse sua esposa, teria lhe telefonado e perguntado onde você estava e quando voltaria — admitiu ela, sem hesitaç ã o.

Ele jogou a cabeç a para trá s e riu.

— Gosto de sua franqueza, cara mia.

Vestido com uma camisa preta e jeans, a barba por fazer, ele parecia magní fico. O coraç ã o de Gwenna acelerou. Angelo sentou-se na cama ao seu lado e pe­gou o jornal que ela deixara de lado.

— Entã o, você está lendo sobre Carmelo Zanetti.

— Ele era tã o mau, mas nunca foi preso por seus crimes.

— Mas morreu em exí lio, sozinho, doente e des­prezado.

Gwenna piscou porque nã o estava acostumada a vê -lo demonstrar um lado mais sensí vel.

— Isso é verdade. — Olhando de novo para o ar­tigo, ela fez uma careta. — Ele era um homem mui­to bonito quando jovem. Sabia que ele nasceu na Sardenha?

Angelo pegou o jornal e jogou-o para fora da cama com raiva.

— O que foi? — questionou Gwenna.

Ele a puxou para si, beijando-a com desespero.

— Preciso de você — confidenciou em tom emo­cionado. — Preciso muito de você esta noite, bellezza mia.

Embora ele nã o estivesse totalmente só brio, havia alguma coisa naquele apelo e na maneira que a abra­ç ou que fez o coraç ã o de Gwenna comprimir-se.

— Eu nã o vou a lugar algum — sussurrou ela, aca­riciando-lhe o rosto com dedos gentis.

Eles fizeram amor apaixonadamente e, depois, Angelo aconchegou-a nos braç os com tanta ternura que levou lá grimas aos olhos de Gwenna.

— Mesmo embriagado, você é incrí vel — murmu­rou ela, pensando que gostaria de saber o que estava errado com ele.

— Nã o estou embriagado. — Apesar de a noite es­tar quente, ele a abraç ou apertado até dormir um sono inquieto.

Antes de amanhecer, Gwenna acordou e o viu saindo do banheiro, secando os cabelos com uma toa­lha. Acendendo a luz, o fitou preocupada.

— Você nã o consegue dormir?

O maxilar bonito contraiu-se visivelmente.

— Tenho uma coisa para lhe dizer — começ ou Angelo abruptamente. — Fiz algumas coisas que você nã o sabe.

Gwenna ficou tensa e de repente nã o queria mais saber o que estava errado. Temia que qualquer con­fissã o que ele lhe fizesse a perseguiria para sempre. Angelo estivera com outra mulher? Mas, no espaç o de um mê s, saí ra de seu lado apenas por trê s noites, e passara muito tempo ao telefone com ela nessas noites.

Angelo havia refletido muito. Estava convencido de que só sairia perdendo se arriscasse contar-lhe a verdade. Em vez disso, resolveu dizer-lhe o que aliviaria as preocupaç õ es de Gwenna, protegeria sua re­putaç ã o e a faria feliz.

— Paguei a quantia que seu pai tirou do fundo da restauraç ã o dos jardins.

Atô nita pela revelaç ã o, ela arregalou os olhos azuis.

— Isso nã o é possí vel. Pensei que ele estivesse sendo processado.

— Processá -lo seria uma boa idé ia. Seu pai con­fessou ter forjado o testamento de sua mã e. Fiz isso para proteger você. També m passei a propriedade Massey para seu nome. Dessa forma, o caso fica aba­fado e ningué m precisa saber o que houve. O comitê dos jardins ficou radiante...

— É claro, mas...

Angelo sentou-se na cama ao seu lado.

— Se seu pai for para a prisã o agora que a proprie­dade é sua, algumas pessoas vã o suspeitar que você estava envolvida nos roubos dele.

— Eu nã o tinha pensado nisso — disse ela. — Mas achei que ele deveria ser punido desta vez.

— Nã o se preocupe. Ele é um ladrã o incorrigí vel. Será pego roubando de novo e nã o vou intervir. — Angelo falou com uma confianç a que fez Gwenna ar­repiar-se. — Desta vez, poré m, eu estava pensando em você, que nã o merece sofrer mais pelos crimes de seu pai.

— Certo — murmurou ela ainda meio sonolenta. — Mas isso significa que você perdeu milhõ es.

— Escolha minha. — Ele deu de ombros. Gwenna suspirou.

— E quanto à Furnridge?

— A empresa nã o vai sofrer.

— Mas nã o é justo que você sofra uma perda por querer me proteger. — Ela passou as mã os pelos ca­belos embaraç ados.

— Sinto que é certo, bellezza mia. — Angelo a pu­xou para si, e ela descansou a cabeç a contra o ombro largo. — Volte a dormir.

— Você está de ressaca? — perguntou ela.

— Eu nã o estava bê bado, portanto, nã o poderia ter uma.

Gwenna virou a cabeç a de modo que seu rosto lhe tocasse a pele quente. Sentindo a fragrâ ncia de sabo­nete e o aroma que era unicamente dele, sorriu e adormeceu.

Acordou com o barulho de um helicó ptero aterrissando e um telefone tocando em algum lugar. Era quase hora do almoç o. Ficou surpresa ao perceber que Angelo nã o a acordara mais cedo. Podia ouvir vozes em italiano vindo da varanda. Parecia que An­gelo tinha recebido uma equipe para trabalhar. Apó s um banho, Gwenna vestiu uma roupa leve e desceu para procurá -lo. O andar de baixo estava a todo va­por. Pessoas passavam por ela, apressando-se de um cô modo para outro, enquanto telefones tocavam in­cessantemente.

— Precisamos minimizar os danos — algué m es­tava dizendo em inglê s. — Mas isso nã o prejudicará o chefe no mercado.

Angelo estava em seu escritó rio, fazendo algo que ela nunca o vira fazer desde que o conhecia: nada. Apesar da ó bvia crise, ele olhava para o teto, pá lido sob a pele bronzeada, os mú sculos faciais rí gidos.

Gwenna entrou e fechou a porta.

— Por favor, conte-me o que está errado — pres­sionou ela. — Algo estava errado ontem à noite tam­bé m, mas recusou-se a me contar o que era. Onde você esteve? Aconteceu alguma coisa?

Angelo se levantou.

— Tomei alguns drinques, depois fui à igreja acender uma vela para minha mã e. Fiquei conversan­do com o padre. Por isso demorei tanto.

— Eu poderia ter ido com você — murmurou ela, aliviada.

— Eu necessitava de algum tempo para pensar. Preciso lhe contar o que houve porque agora esta in­formaç ã o é de domí nio pú blico. Está nos jornais, nos noticiá rios de tevê, na Internet.

— Parece importante, mas tenho certeza de que nã o é tã o ruim quanto pensa. Você parece... chocado.

Olhos escuros pousaram nela.

— Estou furioso e aborrecido, mas nã o chocado. Agindo com diplomacia, Gwenna assentiu.

— E para explicar, preciso voltar alguns anos atrá s. Quando eu tinha 18 anos, um advogado me contatou e contou-me quem meus pais eram realmen­te. Minha mã e deixara instruç õ es sobre isso em seu testamento — começ ou Angelo. — Antes de morrer, já tinha me avisado que vinha de uma famí lia ruim, que meu pai era um homem perigoso, e que se eles descobrissem onde morá vamos, iriam tentar me tirar dela.

Gwenna pensou que tal conhecimento devia ter sido assustador para um garoto. Enfrentando segredo e medo numa idade tã o jovem, nã o era de se admirar que Angelo tivesse desenvolvido uma personalidade tã o reservada.

— Riccardi nã o é meu nome de nascimento — continuou ele. — Na verdade, minha mã e mudou nosso sobrenome algumas vezes, depois que veio para a Inglaterra, porque tinha medo de ser persegui­da. Ela estava fugindo de sua heranç a, e passei minha vida negando isso.

— Que heranç a?

— Minha mã e era filha de Carmelo Zanetti, e meu pai era filho de um outro criminoso.

Gwenna demorou alguns segundos para absorver aquilo, e se estava atô nita, nã o era pelas razõ es que ele tinha esperado.

— Meu Deus, aquele homem que morreu esta se­mana era seu avô, e ainda assim, você nã o confiou em mim o bastante para contar-me. Nã o é de se admirar que estava aborrecido ontem.

— Per amor di Dio! Eu nã o estava aborrecido! — negou ele imediatamente. — Ele era um homem hor­rí vel e eu nã o o conhecia. Nó s nos encontramos ape­nas uma vez quando Carmelo já estava morrendo.

— Pode ter desprezado a pessoa que Carmelo Zanetti foi, mas ele ainda era um parente pró ximo e você ficou sozinho desde que sua mã e morreu — apontou ela gentilmente, e o teria tocado se nã o sou­besse que Angelo se irritaria com isso. — mesmo as­sim, nã o importa quem foram seus pais. O que você é por dentro é mais importante.

— E de onde você tirou essa sabedoria? De um biscoito de Natal? — zombou ele.

Gwenna manteve a calma.

— O que você faz com sua vida importa mais do que seus ancestrais.

Ele riu com ironia.

— Acredite ou nã o, eu queria ser advogado quan­do tinha 18 anos. Quando descobri que minha famí lia inteira, de ambos os lados, estava envolvida em cri­mes organizados, soube que nã o havia como ter essa profissã o.

Abalada pela amargura dele, Gwenna aproxi­mou-se.

— Isso deve ter sido sofrido.

— Isso é secundá rio. Eu tinha de saber quem era para me proteger. Precisei tomar cuidado em quem confiava, com quem fazia negó cios. Jurei que tudo que eu fizesse seria dentro da lei e honesto.

— É claro que sim — murmurou ela suavemente.

— Um dia a famí lia Zanetti aproximou-se de mim atravé s de um intermediá rio, com uma oferta de em­prego e uma Ferrari.

Gwenna estava pasma.

— Entã o, a famí lia de sua mã e sabia quem você era e onde encontrá -lo, apesar da troca de nomes?

— Rejeitei a oferta e certifiquei-me de manter dis­tâ ncia. Eu nunca deveria ter concordado em encon­trar Carmelo. Foi o maior erro que já cometi — admi­tiu ele.

— Naturalmente você estava curioso. — Gwenna fechou a mã o sobre a dele num gesto de apoio. — Nã o seja tã o duro consigo mesmo. Obviamente, sua mã e tentou construir uma vida nova para você s dois. Mas ter mantido esse segredo por tantos anos deve ter colocado você sob muito estresse també m.

Passando o braç o ao redor dela, Angelo olhou-a com fascinaç ã o.

— Você ainda nã o montou o quebra-cabeç a? Ou ainda está muito ocupada tentando fazer com que eu me sinta melhor?

— Ocupada tentando fazê -lo se sentir melhor. Mas ainda nã o entendi. Você está aborrecido porque sua conexã o com Carmelo Zanetti se tornou de conheci­mento pú blico? Como isso aconteceu?

— Carmelo decidiu dar a gargalhada final e acabar com a minha reputaç ã o — disse ele com pesar. — O conteú do do testamento dele vazou e fui informado de que deixou para mim todos os seus bens pessoais. Ao morrer, impossibilitou que nosso relacionamento continuasse sendo negado.

— Ele devia admirá -lo por ter alcanç ado o sucesso sem precisar se tornar um criminoso. Torná -lo seu herdeiro foi provavelmente uma maneira de mostrar que se orgulhava de você.

— També m descobri que nã o foi o antigo empre­gador de minha mã e que financiou meus estudos no colé gio interno — murmurou Angelo com amargura. — Foi Carmelo. Isso me faz sentir tolo!

— Nã o vejo por quê. Você era apenas uma crianç a e as pessoas mentiam para você — disse Gwenna suavemente. — Franco já sabia desse seu paren­tesco?

— Sim. Tive de tomar certas precauç õ es sobre como operar e quem empregar.

Gwenna recordou-se da preocupaç ã o de Franco quando falara que " outros interesses" poderiam in­terferir na decisã o mé dica, com Angelo inconsciente e incapaz de decidir. Ocorreu-lhe que Carmelo Zanetti, como parente de sangue, poderia ter desejado opinar nos procedimentos, e reprimiu um tremor.

— Seu avô lhe deixou muita coisa?

— Milhõ es. Tudo limpo e legí timo, segundo o ad­vogado dele. Eu era seu ú nico parente vivo. Mas nã o quero aquele dinheiro sujo!

— Entã o, certifique-se de que o dinheiro seja gas­to em causas merecedoras. Pesquisas para a cura do câ ncer, programas contra a fome, coisas assim — su­geriu ela. — Um bem pode ser feito do mal e nin­gué m pode culpá -lo por isso.

Olhando para o rosto sereno de Gwenna, Angelo estava mais determinado do que nunca a levar para o tú mulo a histó ria da queda de Donald Hamilton. Nem por um momento, ela considerara ficar contra ele por causa de seus ancestrais.

Ele segurou-lhe o rosto, fitando-a com admiraç ã o.

— Você é uma mulher muito especial, bellezza mia.

— À s vezes, você leva as coisas muito a sé rio. Su­pere tudo isso — disse ela. — Lembre-se de que sua mã e rejeitou a famí lia para que pudesse dar-lhe uma vida digna, dentro da lei. Orgulhe-se por ter honrado isso.

— Si — murmurou Angelo. — Mas ainda fiz coi­sas das quais nã o me orgulho.

Algué m bateu à porta e Angelo abriu-a.

— Há um telefonema para você — ele traduziu o que a empregada falou em italiano.

Desgostosa pela interrupç ã o bem no momento em que Angelo parecia estar abrindo seu coraç ã o, ela saiu apressada.

— Volto em dois minutos. Nã o saia daqui. Enquanto seguia a empregada para a sala ao lado,

Gwenna pensou no quanto o amava. Embora nã o so­nhasse em lhe contar isso, amava-o mais ainda por saber que Angelo tinha um lado vulnerá vel.

O som da voz de seu pai ao telefone a deixou ner­vosa.

— O que foi?

— Angelo Riccardi é filho de Fiorella — anunciou Donald Hamilton.

Perplexa pela declaraç ã o, Gwenna perguntou:

— O que você está dizendo?

— Nã o leu o jornal hoje? Nã o ouviu o noticiá rio? Nã o percebeu que seu namorado é neto de Don Car­melo Zanetti?

— Sim, mas... esta Fiorella que você mencionou...

— Era filha de Zanetti, mas nã o usava o nome Riccardi quando eu a conheci. Vi Angelo poucas ve­zes quando ele era crianç a — continuou seu pai. — Recorda-se de que falei que Angelo me lembrava al­gué m naquele dia que ele a estava esperando encosta­do no carro?

— Sim. — Sentindo as pernas amolecerem, Gwenna se sentou na cadeira mais pró xima. Uma co­nexã o do passado entre a famí lia dela e a de Angelo? Como isso podia ser possí vel?

— Ele tem os olhos da mã e. Nã o entende o que isso significa?

O cé rebro dela parecia girar em confusã o.

— Que vivemos em um mundo pequeno?

— Você nã o pode ser tã o ingê nua. Obviamente Angelo se aproximou de nó s dois para uma vinganç a. Abandonei a mã e dele e fugi, e talvez a vida nã o te­nha sido tã o boa para Fiorella depois de ficar sem seu dinheiro e sem mim. Mas nã o foi culpa minha!

— Do que você está falando? — exclamou ela. — Como assim, uma vinganç a?

— Riccardi quer se vingar de mim e está usando você para isso. Está brincando conosco antes de dar o golpe final! — condenou Donald amargamente. — Minha má sorte recente nã o é coincidê ncia. Riccar­di compra Furnridge e de repente sou acusado de roubo...

— Você foi o culpado pelos roubos.

— Use o cé rebro. No minuto em que descobri quem ele era, soube que deveria avisá -la. O que Ric­cardi planeja fazer com você? Deixei a mã e dele em má situaç ã o, admito. Mas nã o tive escolha. Pelo me­nos, agora sei que a razã o de minha desgraç a atual se deve a Angelo Riccardi.

— Acho que as pessoas de quem você roubou de­vem ter uma opiniã o diferente sobre isso. Desculpe, mas nã o quero continuar esta conversa. — Gwenna desligou o telefone com mã os trê mulas.

Nã o podia acreditar no que tinha ouvido. Angelo poderia tê -la usado, pretendendo magoá -la desde o princí pio? Antes que pudesse perder o controle, vol­tou para o escritó rio dele.

— Sua mã e se chamava Fiorella? — perguntou diretamente.

Angelo congelou como se tivesse sido baleado.

— Sí.

O estô mago de Gwenna revolveu-se.

— Você sabia que ela teve um caso com meu pai?

— Santo Cielo, era ele ao telefone, nã o era? — Angelo podia ver a mudanç a nela. Os olhos normal­mente doces emitiam faí scas de fú ria. Ele sentiu-se paralisado. Nã o podia pensar em uma ú nica linha de defesa. Podia ouvir a voz de Carmelo dizendo: " Nã o faç a nenhuma bobagem. " Sabia que o que tinha feito era muito pior que bobagem. Magoara-a, e nã o podia reverter a situaç ã o.

Gwenna deu um suspiro profundo.

— Um mê s atrá s, papai me contou sobre Fiorella pela primeira vez. Achei que era uma histó ria tola e melodramá tica, e nã o acreditei em uma palavra. Que­ro dizer... gâ ngsteres ameaç ando matá -lo, pegando o dinheiro dele e de sua mã e...

— Que histó ria? — interrompeu Angelo. Gwenna repetiu tã o bem quanto podia se lembrar.

Angelo empalideceu, e a fitava com expressã o de pura perplexidade.

— Se eles tiraram o dinheiro de minha mã e, nã o foi uma trama deliberada a fim de forç á -la a voltar para o marido. Se essa for a histó ria verdadeira...

— Papai nã o sabia quem você era quando me con­tou. Nã o percebeu que era filho de Fiorella até que os jornais o identificassem. Acho que, dessa vez, ele nã o estava mentindo, mas... questione-o você mes­mo. — Gwenna falou com voz trê mula, a dor e a rai­va consumindo-a. — Você foi tã o cuidadoso para nã o se aproximar dele até que as coisas ficassem muito complicadas...

Angelo ergueu as mã os.

— Acalme-se.

— Você planejou destruir meu pai?

— Essa é uma pergunta difí cil de responder. Ela enterrou as unhas nas palmas.

— Mereç o uma resposta honesta.

Com os olhos tempestuosos, ele foi para a va­randa.

Gwenna o seguiu.

— Angelo, por favor, nã o minta.

— Nã o faç a isso ou irá destruir o nosso relaciona­mento.

— Você já está me destruindo agora — disse ela chocada.

Respirando profundamente, Angelo virou-se para encará -la.

— Acreditei que seu pai tinha roubado o dinheiro de minha mã e e a deixado pobre...

— Essa nã o é a questã o aqui. Nã o tente dar descul­pas. Você queria vinganç a?

— Sim. Mandei investigar seu pai e ficou ó bvio que ele estava gastando muito mais do que ganhava. Comprei a Furnridge e enviei auditores. Isso foi sufi­ciente para descobrir a fraude.

Ela engoliu em seco.

— E quanto a mim?

— Você — ecoou Angelo com voz rouca. — Nã o posso explicar. Eu a vi e fiquei encantado de imedia­to. Teria feito qualquer coisa para torná -la minha. Juro que nã o soube que era filha dele até que veio ao meu escritó rio, suplicar pelo seu pai...

— Isso lhe deu prazer, nã o deu? — questionou Gwenna com tristeza. — Quando você percebeu que nã o era a ele que estava ferindo, e sim a mim?

— Acha que tenho orgulho disso? Acha que sou tã o estú pido que nã o percebi que a estava prejudican­do? — disse Angelo furioso. — Mas já era tarde quando entendi isso, entã o pensei que pudesse con­sertar as coisas. Eu simplesmente nã o queria que você saí sse da minha vida.

— Eu era sua amante — acusou ela. — Foi tudo que sempre fui.

— Nã o, você passou desse ponto há muito tempo. Primeiro me fez sofrer, tentando me dispensar. De­pois, veio para a Sardenha comigo de livre e espontâ ­nea vontade.

— Culpa de seu charme fatal. Obviamente nã o fui inteligente o bastante para ver que eu era apenas par­te de uma vinganç a — murmurou ela, tremendo. — Você nã o ia confessar, ia?

— Eu nã o queria perder você.

— Você nunca teve de me perder — mentiu Gwenna, determinada a nã o mostrar seu sofrimento. — Mas agora posso ver que armou tudo para que eu lhe pertencesse. Repondo o fundo dos jardins, me de­volvendo a propriedade. De que mais se tratava tudo isso?

— Você tinha tã o pouco na vida... Eu só queria agradá -la, acabar com suas preocupaç õ es, fazê -la fe­liz, bellezza mia.

Gwenna meneou a cabeç a veementemente. Tinha colocado todas as suas esperanç as de um futuro feliz atrá s de uma porta trancada. Nã o queria se enganar. Nã o queria ser convencida por nada que ele dissesse. Sabia que o amava muito e teria de ser forte para en­frentar uma separaç ã o.

Entã o, subitamente, estava obrigando-se a olhar para aquele relacionamento com realismo. Por que se recusara a ver que ainda era amante de Angelo? A ú nica promessa que pedira fora a de fidelidade, e, em retorno, tinha um homem que realmente gostava dela. O que nã o era o mesmo que amar. Por que se contentara com tã o pouco? Sentindo-se humilhada, abaixou-se para pegar Piglet debaixo da mesa de Angelo.

— Vou voltar para minha casa — anunciou ela.

— A imprensa irá comê -la viva se você sair desta casa agora — avisou ele.

Gwenna abraç ou Piglet com forç a.

— Posso sobreviver a isso. Posso sobreviver a qualquer coisa.

Angelo observou-a partir e nã o sabia o que fazer. Sentia-se como se estivesse sendo torturado. Podia lidar com qualquer coisa, mas, por alguma razã o, nã o podia lidar com o que estava acontecendo com ela.

 

Gwenna arrancou ervas daninhas do solo com toda sua forç a. Endireitando o corpo, deu um suspiro trê mulo e afastou os cabelos da testa ú mida. Piglet esta­va sentado ali perto, parecendo ansioso. Ainda abala­da pelas emoç õ es turbulentas, ela reprimiu as lá gri­mas e respirou fundo.

Fazia só uma semana que nã o via Angelo, sete dias de puro sofrimento. Repetidamente, revivia tudo que tinha acontecido e tudo que ele lhe dissera. Angelo nã o negara sua culpa, o que era bom. Mas també m nã o havia lutado por ela, havia?

Nã o fizera nada para impedir que ela partisse. Nã o tentara levá -la para cama a fim de fazê -la mudar de idé ia, ou pelo menos para dar-lhe uma chance de pen­sar no que estava fazendo.

Vinte e quatro horas e o espaç o para refletir sobre o que ocorrera teria feito uma diferenç a da atitude de Gwenna, refletiu infeliz. Havia começ ado a pensar em como o relacionamento deles mudara e se fortale­cera. Mais importante, tinha apreciado o fato de An­gelo abandonar todos seus pensamentos de vinganç a quando escolhera repor o dinheiro do fundo dos jar­dins e sustentara a perda de valor da propriedade Massey sem reclamaç õ es. Nã o se importara que o re­sultado de sua generosidade tivesse libertado Donald Hamilton novamente. Nã o, dessa vez, Angelo a colo­cara em primeiro lugar, mostrando que se preocupa­va com a felicidade dela. Mas o que importava isso agora? E por que nã o podia pensar em outra coisa? Recusando-se em aceitar que Angelo tinha decidido deixá -la partir, estava enlouquecendo!

Piglet começ ou a abanar o rabo e saiu em dispara­da pelo jardim cercado. Quando Gwenna o chamou, ele a ignorou. Ela deu de ombros e arrancou mais um punhado de ervas daninhas com sua pá.

O latido insistente de Piglet a fez olhar para cima. Seu cachorro estava saltando alegremente ao redor dos pé s de um homem alto e moreno, vindo na direç ã o de Gwenna. Angelo, poderoso e má sculo, vestido de terno sob uma capa de chuva sofisticada. Como sempre, estava de tirar o fô lego. Com o coraç ã o dis­parado, ela largou a pá, e foi para o caminho pavi­mentado.



  

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