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COLEÇÃO JARDIM DAS FLORES 5 7 страницаGwenna sentiu-se paralisada pela surpresa e pelo calor que se instalou em seu baixo ventre. — O que está fazendo? Sua reuniã o... Angelo sentou-se na cama e alcanç ou-a com mã os confiantes. — Perder a reuniã o vai valer a pena — respondeu beijando-a com erotismo. Por volta de meio-dia, ele a acordou. Ela piscou-lhe, ainda sentindo-se exausta e sonolenta. Angelo, por outro lado, parecia revigorado. Os cabelos pretos ainda estavam molhados do banho, os olhos brilhando como diamantes e contrastando com a linda pele bronzeada. — Você perdeu seu trem. Um motorista está esperando-a para levá -la ao heliporto. Pode voar para ir ver sua famí lia. Nã o fique longe por muito tempo. Gwenna nunca despertou tã o rapidamente, excitada pela idé ia de voar para Somerset de helicó ptero. — Certo. Ele levou-lhe os dedos à boca e beijou-os. — Parabé ns, bellezza mia. Ela o fitou intrigada. — Pelo quê? — Finalmente senti que você me pertence. Gwenna empalideceu. — É assim que eu queria que fosse e assim que tem de ser. Eu nunca me contentaria com menos — continuou Angelo sedosamente. — O que determina o preç o de um amor verdadeiro agora? Você é mais minha do que jamais poderia ser dele. Angelo partiu assobiando. Sentindo-se subitamente humilhada, ela levantou-se, vestiu a camisola e o seguiu. — Angelo? Ele parou no corredor e virou-se para olhá -la. — Sim? —Em quem acha que penso quando estou com você? — questionou Gwenna, mesmo sabendo que estava mentindo, mas toda vez que ele a magoava, ela pegava-se reagindo de maneiras imprevisí veis. Angelo a olhou fixamente, as feiç õ es fortes sem expressã o. Entã o ela o viu empalidecer e soube que tivera sucesso em sua vinganç a. Todavia, ficou mais envergonhada do que feliz pelo seu sucesso. Sentiu uma sú bita tontura e tremeu, com medo e repleta de arrependimento. Voltando para o quarto, encostou-se contra a porta fechada e cobriu o rosto com as mã os. O que estava lhe acontecendo? Desde quando tinha se transformado numa mulher vingativa que dizia mentiras horrí veis? Desde quando pensava em Toby na presenç a de Angelo? Nem uma ú nica vez pensara em Toby. Aquela percepç ã o tardia a assustou.
CAPITULO OITO
— Você viaja com luxo. Um helicó ptero particular e uma limusine com chofer para trazê -la até a porta? — Donald Hamilton sorriu para Gwenna. — Obviamente, Angelo Riccardi gosta muito de você. — Nada sei sobre isso. Perdi meu trem. — Gwenna imaginou se Penelope nã o tinha exagerado quanto à crise familiar, porque seu pai nã o parecia nem um pouco abalado. — Penelope pareceu misteriosa em relaç ã o ao que estava acontecendo aqui. Fiquei preocupada. — Entã o ficará aliviada em saber que meu problema atual é pequeno comparado aos outros que ocorreram na Furnridge. — Donald suspirou. — Lá estava eu, endividado, e fiz o que a maioria das pessoas faria numa crise... peguei algum dinheiro emprestado de aqui para pagar lá. — Desculpe, nã o entendo. — Lamento que certas irregularidades no comitê dos jardins foram descobertas. É claro que se eu tivesse tempo, poderia resolver as coisas. — Ele deu de ombros. — Infelizmente, o pessoal do comitê está exigindo pagamento instantâ neo. — Você tirou dinheiro do fundo dos Jardins Massey, també m? — Ela ficou apavorada quando finalmente percebeu a gravidade daquilo. — O que estava pensando? — Nã o me importo com seu tom de crí tica, Gwenna. — Nã o posso acreditar que depois de todo aquele levantamento de fundos e discursos teve coragem de usar as doaç õ es de pessoas que confiaram em você — murmurou ela, envergonhada do pró prio pai. — Por que nã o mencionou isso no mê s passado? — Obviamente porque achei que poderia repor o dinheiro. Mas isso se provou impossí vel. Estou desempregado, e Eva e eu mal podemos sustentar esta casa. Dois membros do comitê dos jardins ligaram ontem. Estã o ameaç ando chamar a polí cia. — De quanto estamos falando? — perguntou Gwenna. Quando Donald mencionou o valor, ela tremeu. — Oh, meu Deus... o que vamos fazer? — Talvez você possa vender um colar de diamantes para nos salvar — soou uma voz feminina irô nica. Gwenna olhou para cima e viu sua madrasta e irmã s entrando na sala. — Ou você pode pedir para seu amante rico repor o dinheiro para libertar seu pai — continuou Penelope. — Nã o posso fazer isso — sussurrou Gwenna, sem saber como explicar que nã o se considerava dona de nenhuma jó ia que Angelo insistisse que ela usasse. — Você é a ú nica pessoa que pode me ajudar agora — disse seu pai. — Nã o temos dinheiro e nenhuma esperanç a de conseguir um empré stimo. E com tal comentá rio, Donald Hamilton deixou a sala. — Nã o posso fazer nada — repetiu Gwenna. — També m nã o tenho dinheiro. Eva falou pela primeira vez: — Se você nã o encontrar uma maneira de resolver isso, juro que vou me divorciar de seu pai, entã o ele nem mesmo terá onde morar. Basta. Já tolerei demais. Gwenna suspirou longamente. — Entendo como você se sente... — Nã o acho que entenda. Enquanto estamos passando por dificuldades, você está vivendo no luxo — interferiu Penelope. — Vejo suas fotos em todas as revistas e seu nome nas colunas sociais. Está morando com um bilioná rio famoso! — Seria indelicado apresentar a Angelo uma lista de exigê ncias na sua primeira semana — opinou Wanda —, mas está na hora de você parar de ser egoí sta e compartilhar a fortuna com sua famí lia. — Chega, garotas — murmurou Eva. — Acho que Gwenna já entendeu a mensagem. Chocada por aquele ataque verbal, Gwenna ficou ainda mais magoada por a considerarem egoí sta. — Nã o acredito que conseguir o dinheiro será problema para você — Penelope continuou. — Afinal, está exalando fortuna. Só essa sua bolsa deve valer mil e quinhentas libras. Gwenna olhou para baixo horrorizada. Bolsas podiam ser tã o caras? Nã o tinha idé ia do preç o das roupas e acessó rios, uma vez que nã o as comprara pessoalmente. Estava arrependida de ter se vestido com peç as de seu novo guarda-roupa para confrontar as irmã s. — Nã o tenho dinheiro meu, e nã o posso pedir a Angelo. — Como você pode ser tã o egoí sta? — perguntou Wanda. Irada com a acusaç ã o, Gwenna respondeu: — Nã o sou uma prostituta... Nã o pedirei dinheiro a ele. Sua madrasta torceu o nariz com desgosto. — Nã o vamos fazer drama, Gwenna. Pelo que vejo, Angelo Riccardi precisa de pouco encorajamento para mimá -la. Com lá grimas de frustraç ã o se acumulando nos olhos, Gwenna se levantou. — Parem de falar como se eu estivesse com Angelo por escolha! Ou como se isso fosse uma maravilha para mim. Eu estava apaixonada por uma outra pessoa! Angelo me ofereceu um acordo... se eu dormisse com ele, retiraria as acusaç õ es contra papai! Assim que confessou o que jamais confessaria se nã o estivesse tã o desesperada para se defender, um silê ncio se seguiu. As trê s mulheres agora estavam boquiabertas e ela se sentiu mortificada. — Eu nã o tinha idé ia — disse Eva finalmente. — Parece muito imoral, e espero que nã o esteja nos culpando por sua decisã o. — Angelo Riccardi precisou chantageá -la para dormir com você? — questionou Wanda. — Eu nã o teria hesitado. Qual é o seu problema? — Isso é tã o sexy. — Penelope nã o podia esconder sua inveja. — Você é doente, Gwenna. Nenhuma mulher normal estaria reclamando! Abalada por aquelas reaç õ es, Gwenna saiu da sala. Ficou atô nita ao encontrar Toby esperando no corredor. Logo percebeu que Toby, como um membro do comitê dos jardins, já fora informado que o pai dela havia retirado dinheiro do fundo de restauraç ã o. — Eu só descobri isso ontem. Queria lhe dar a notí cia pessoalmente, e pretendia chegar aqui antes de você, mas meu vô o atrasou — confidenciou Toby em tom de desculpa. — Gwenna — chamou Donald do fim do corredor. — Tire-me daqui — sussurrou Gwenna para seu amigo antes de voltar-se para o pai: — Nã o sei o que lhe dizer neste momento. Preciso pensar. Por favor, nã o espere um milagre de mim. Entrarei em contato. Ignorando os protestos do homem mais velho, Toby conduziu-a para fora e para seu carro. — Estou hospedado no Four Crowns por esta noite. Por que nã o vamos lá e conversamos? O celular dela estava tocando. Era Angelo. Ele ainda está falando comigo, pensou. Mas seu alí vio durou pouco quando pensou em contar-lhe sobre a ú ltima fraude de seu pai. Temendo o desafio, desligou o celular. Quando eles chegaram ao Four Crowns, Toby sugeriu que jantassem. Durante a refeiç ã o, nenhum dos dois mencionou o roubo. Depois, foram para o quarto confortá vel a fim de tomarem uma garrafa de vinho e conversarem. — O comitê está impaciente para chamar a polí cia, mas eu os persuadi a esperar mais um ou dois dias. Eles nã o querem um escâ ndalo pú blico, pois isso pode impedir novas doaç õ es ao fundo — explicou Toby. — Angelo estará disposto a ajudar seu pai? Gwenna engoliu em seco. — Duvido muito. — Mas ele parece gostar de você. Gwenna corou porque nã o queria dizer que o ú nico interesse de Angelo nela era fí sico. E depois da mentira que lhe contara mais cedo, talvez nem isso tivesse mais valor. — Nã o vou dizer o que penso sobre seu pai. — Obrigada. — Ela ficou tensa quando ouviu uma batida à porta. Toby foi abrir. Gwenna viu Angelo e seu coraç ã o disparou violentamente. Levantando-se, encarou os olhos irados. Entã o, quando se aproximou, Angelo deu um soco em Toby, que caiu no chã o ao lado da cama. — Você está louco? — gritou Gwenna. — Você estava deitada na cama dele! — exclamou Angelo. — Nã o se meta. Isso é entre mim e ele... — Nã o sou covarde, mas nunca vi sentido em discussõ es com gritos e socos — murmurou Toby, tentando recuperar o fô lego. Angelo o estudou com desgosto. — Ele nem mesmo vai lutar por você! — Por que ele lutaria por mim? Toby é gay — declarou Gwenna, abaixando-se ao lado do amigo para ver se ele estava bem. — Gay? — repetiu Angelo incré dulo. — Gay — confirmou Toby, olhando para Gwenna, entã o para ele. — Ela nã o lhe contou? — Nã o era da conta de Angelo — disse ela. Angelo se aproximou e imediatamente estendeu a mã o para ajudar Toby a erguer-se. — Desculpe-me. — Ele olhou para Gwenna. — Por que você nã o me contou? Gwenna nã o respondeu. Discutir com Angelo na frente de Toby a deixaria ainda mais constrangida. Já se sentia tola demais, alé m de culpada por Toby ter sido machucado. — Você vai voltar para o hotel comigo? — perguntou Angelo suavemente. — Como você pô de fazer isso? — acusou ela no minuto que estava a só s com Angelo. — Você é responsá vel por essa farsa estú pida — replicou ele, conduzindo-a para o estacionamento. — E como me achou aqui? — Você nã o atendeu o celular. Saiu da casa do seu pai com o homem que diz amar. Entã o jantou sozinha com ele e o acompanhou para um quarto de hotel. O que eu deveria pensar? — Que nem todos sã o viciados em sexo como você. — Ela deu de ombros. — Mas ainda nã o respondeu como soube onde eu estava hoje. Angelo enviou-lhe um olhar sarcá stico. — Sempre sei onde você está. Toda vez que sai, algué m da equipe de Franco a observa. Sou famoso. Tenho inimigos. Mesmo que a ú nica ameaç a seja dos paparazzi, você precisa de proteç ã o. Gwenna irritou-se. — É como estar sob vigilâ ncia da polí cia. Por que nã o me contou isso? — Sua seguranç a é minha preocupaç ã o. Entã o, conte-me a histó ria de Toby — convidou Angelo, determinado a satisfazer sua curiosidade. — Como conseguiu se apaixonar por um gay? Gwenna mordeu o lá bio antes de responder: — Era segredo, e eu nã o sabia quando o conheci. No momento que descobri, era tarde demais. — Como tarde demais? Descobrir isso deveria ter sido suficiente para desencantá -la. — Nã o é tã o simples assim. — Se eu estivesse no seu lugar, teria achado muito simples. Gwenna inclinou o queixo. — Quando foi a ú ltima vez que você se apaixonou? Angelo nã o respondeu. Nã o se apaixonava. Nã o acreditava no amor. Amor era uma palavra de quatro letras que nã o saí a de seus lá bios desde a infâ ncia, e nã o estava preparado para conversar sobre isso. Seu jeito reservado era bem conhecido. Pessoas nã o lhe faziam perguntas pessoais. Nã o queriam irritá -lo. — Por que você pode me questionar e nã o posso questioná -lo? — insistiu ela quando o silê ncio se estendeu. — Dio mio. Eu nã o me apaixono, certo? Gwenna fixou os olhos azuis nele. — Nunca? — E daí? — Angelo estava furioso pelo olhar de compaixã o dela, que implicava que ele tinha algum problema emocional grave. Gwenna sentia-se terrivelmente triste por ele e apressou-se em quebrar o silê ncio. — Minha avó dizia que é preciso muitos tipos de pessoas para fazer o mundo — continuou ela. — Suponho que se eu tivesse conhecido algué m realmente especial, teria superado meu sentimento por Toby. Mas é tã o difí cil encontrar um homem que se compare a Toby. Ele é criativo... projeta parques e jardins. Temos muita coisa em comum. — Solo... plantas — zombou Angelo. — Posso imaginar. — Toby é realmente especial — defendeu ela. — Amá vel e carinhoso. Algué m especial. Apesar de nã o estar procurando por amor, Angelo se sentiu afrontado. Toby era amá vel, carinhoso e criativo. Provavelmente, Toby era quase um santo. Angelo decidiu que tinha muita dignidade para continuar o assunto. Era quase meia-noite quando chegaram ao hotel Peveril House. Um elevador particular os levou para uma suí te sofisticada que englobava vá rios cô modos. Quando Gwenna entrou, Piglet foi alegremente cumprimentá -la. — Meu Deus, você o trouxe! — exclamou ela feliz. — Obrigada. Angelo perguntou-se como poderia ter deixado um cachorro que fazia greve de fome na ausê ncia da dona. Na manhã seguinte, Gwenna acordou à s nove horas. Apesar de tudo, tivera uma noite excelente de sono, e Angelo nem mesmo a procurara para sexo. Talvez tivesse percebido o quanto estava exausta. Ele també m nã o perguntara sobre a crise familiar dela. Mas entã o, por que estaria interessado? Entretanto, se nã o estava interessado, por que a seguira até Somerset? Ela nã o podia mais evitar a decisã o desagradá vel que tinha de tomar. Pediria ou nã o a ajuda de Angelo para ajudar seu pai? Embora Hamilton tivesse tratado a questã o com muito tato, Gwenna ainda sentia que deveria fazer o possí vel para tentar ajudá -lo. Quando foi para a saleta da suí te tomar o café da manhã, Angelo a cumprimentou com um gesto de cabeç a, enquanto falava ao celular em italiano, obviamente sobre negó cios. Gwenna serviu-se de cereais e se sentou à mesa. Ele desligou o celular e se aproximou. — Dormiu bem? — Sim, obrigada. — Eu nã o. — Com o semblante sé rio, Angelo apoiou-se contra a extremidade da mesa. Entã o, observou-a com uma intensidade que falava mais alto do que quaisquer palavras. — Venha aqui. Sem entender por que, ela se levantou. Ele passou uma das mã os sobre sua cintura e a olhou de cima a baixo com apreciaç ã o. — Escolhi este vestido para você em Nova York. Ela estava surpresa. — Eu nã o sabia que você escolhia alguma coisa. Angelo estava encantado com a figura dela. O vestido marcava as curvas com perfeiç ã o, e o tom de azul era exatamente o mesmo que Gwenna usara no dia que tinham se conhecido. — Apenas alguns itens que me chamam a atenç ã o. Decidi que precisamos de umas fé rias, bellezza mia. Vamos para a Sardenha no fim de semana. — Você está falando sé rio? — Tenho uma casa lá... com um jardim enorme — disse ele. — Você vai adorar, e eu també m. Como suas plantas, preciso de muito sol e de atenç ã o para ter sucesso. Gwenna o estudou, incerta. — Você nã o quer saber por que precisei ver minha famí lia ontem? Angelo suspirou. — Sei o motivo. Ela franziu o cenho. — Como? Quero dizer... você nã o comentou nada. — Tenho um pessoal trabalhando na Furnridge, e os rumores sobre o roubo do fundo dos jardins chegaram lá alguns dias atrá s — confidenciou ele com precisã o. — Entã o fiz outras investigaç õ es, motivo pelo qual estou aqui. — Nã o sã o apenas rumores. Ele a olhou fixamente. — Nã o pensei que fossem. Gwenna umedeceu os lá bios. — Meu pai pegou o dinheiro e usou-o para tentar devolver o que tinha tirado da Furnridge. Angelo ergueu a mã o e colocou um dedo sobre os lá bios dela. — Esqueç a isso. Sua vida mudou agora. Ela piscou em confusã o. — Nã o se pode abandonar uma famí lia. As feiç õ es bonitas de Angelo estavam só brias. — Você poderia se surpreender. Sem questionar por que ele dissera aquilo, Gwenna o acusou: — Você sabia sobre isso e nã o mencionou ontem à noite? Como consegue viver assim? — Sou um homem prá tico. — Mas simplesmente ignorar a questã o... Ele deu de ombros. Gwenna pô de sentir a atmosfera esfriando. També m notou que Angelo nã o a estava mais tocando. — Angelo... — Nã o peç a, bellezza mia — avisou ele. — Você nã o pode saber o que eu ia dizer! — Nã o posso? — Você está dificultando as coisas. Acha que é fá cil para mim lhe pedir dinheiro? — Você se arrumou bastante para o desafio. Sem jeans ou camiseta — apontou ele. Gwenna o fitou em choque. — Realmente acha que é por isso que estou vestida com essa roupa? Para lhe fazer um pedido? Nã o sou assim. — També m pensei que você nã o fosse assim. Infelizmente, agora parece que está prestes a me provar o contrá rio. — Nã o entende que nã o posso deixar de pedir? — Nã o, nã o entendo. Honestamente acredita que seu pai merece isso? Acredita que ele é um pecador arrependido, e que vale a pena ajudá -lo? — Ele é meu pai e eu o amo. No momento, estou envergonhada por ele, també m — admitiu ela num sussurro. — Ele é fraco, violou a lei e destruiu a confianç a de muitas pessoas, mas ainda é meu parente vivo mais pró ximo... e nã o posso me esquecer do que ele fez por mim quando eu era crianç a. Angelo deu uma risada seca. — E se ele nã o tivesse feito as coisas no passado da maneira que você imagina? Gwenna arqueou a sobrancelha, confusa. — O que você quer dizer? — Esqueç a. Eu estava pensando em uma outra coisa. Angelo baixou os olhos para velar a expressã o. Ela teria de lidar com a verdade em algum momento. Mas agora já estava chateada demais. Ele lhe contaria na Sardenha, e a descoberta a libertaria. Como todos os vigaristas, Hamilton era um mentiroso e sua vida tinha segredos só rdidos. Uma vez que Gwenna enfrentasse a realidade, iria repensar sobre seus laç os sentimentais com a famí lia. Gwenna uniu as mã os e inclinou os ombros para trá s. — Quero muito dar a meu pai a chance de começ ar uma vida nova. Angelo ergueu as mã os num gesto de escá rnio e foi para a janela, dando-lhe as costas. — Oh, por favor — disse ele de maneira incisiva. — Meu pai nunca fará isso se ningué m acreditar nele. Irá para a prisã o se for acusado pelo comitê dos jardins. E que escolha eles tê m? Pessoas muito influentes fizeram doaç õ es para o fundo. Por favor, considere repor o dinheiro — suplicou ela, tremendo. — Como um empré stimo. — Dio mio. Um empré stimo com essa garantia? — Angelo virou-se para olhá -la. — Você quase me convenceu de que era diferente. Uma moç a com princí pios. Até agora, valorizei-a por ter sido a ú nica mulher que nã o me pediu dinheiro. Nem jó ias ou coisas de valor. O sangue pareceu drenar do rosto dela. Envergonhada demais, nã o podia sustentar-lhe o olhar. A linha que dividia o certo do errado nã o era mais tã o definida quanto um dia acreditara ser. Mesmo enquanto se sentia no dever de proteger o pai, estava horrorizada com sua pró pria atitude. — Você també m me disse que nã o poderia ser comprada — ele a relembrou. — Mas acabou de dar seu preç o. Os olhos de Gwenna se encheram de lá grimas. — Angelo... eu realmente nã o queria fazer isso... — Sim, queria. Se eu quisesse jogar, poderia lhe perguntar o que ganho ajudando seu pai. Mas nã o tenho intenç ã o de lhe dar uma resposta positiva. Eu me importo com o que vai acontecer a seu pai? Nã o. Quero agradar você a esse ponto? Lamento, mas nã o — finalizou ele com frieza. A ú ltima declaraç ã o doeu mais do que um tapa no rosto. Uma coisa era dizer a si mesma que Angelo só a queria sexualmente, outra era ouvir a confirmaç ã o verbal do fato. Na verdade, Angelo era tã o frio, tã o distante emocionalmente que a assustava. Era como se o ú ltimo mê s nã o tivesse acontecido, e ele voltara a ser um estranho rude. Gwenna endireitou os ombros. — Sinto se cometi o erro de acreditar que você pudesse ter alguma compaixã o. — Reservo compaixã o para causas que valem a pena, e seu pai nunca vai se encaixar nessa categoria. — No entanto, você pode gastar uma fortuna em roupas extravagantes para mim. Alé m de colares e brincos de diamantes! — protestou ela, furiosa. — Enquanto zomba de mim por me preocupar com o que aconteç a ao meu pai. — Seu pai está tentando usá -la novamente. Onde está seu bom senso? Um homem decente deixaria a filha usar o corpo para pagar por sua liberdade? — explodiu Angelo irritado. Gwenna engoliu em seco. — Isso nã o é justo. Papai pensa que estamos realmente envolvidos. — Nó s estamos realmente envolvidos. — Sabe o que quero dizer. Ele pensa que nó s nos gostamos — disse ela. — E já que você mencionou, um homem decente pede para uma mulher pagar a liberdade do pai com o seu corpo? Os olhos de Angelo emitiram faí scas de raiva. — Nã o ouse me comparar a seu pai! Se as pessoas ainda pudessem ser compradas e vendidas como mercadorias, ele seria o primeiro a vender você para mim, somente para obter um bom lucro! — Isso é mentira! Meu pai me ama... — Ele é vigarista e trapaceiro — exclamou Angelo, interrompendo-a. — Tenho uma pergunta ainda melhor para fazê -la pensar. Que tipo de homem rouba a heranç a da filha de oito anos de idade? — O que você está dizendo? Que heranç a? Angelo praguejou. Nã o pretendera revelar aquela informaç ã o ainda. — Donald Hamilton forjou o testamento de sua mã e. Gwenna sentiu uma tontura. — Forjou? Nã o entendi? — Há muitas evidê ncias só lidas. Especialistas em grafologia foram consultados. O testamento nem mesmo é uma boa falsificaç ã o. Uma testemunha e o advogado envolvidos na é poca morreram — explicou Angelo. — A segunda testemunha, entretanto, foi encontrada no exterior e está preparada para jurar que o testamento nã o é o documento que ele originalmente assinou na presenç a de sua mã e. Seu pai forjou um outro testamento e nomeou a si mesmo como o beneficiá rio principal. Queria a mansã o Massey e aproveitou a morte de sua mã e para roubar de você. Gwenna estava meneando a cabeç a de um lado para o outro. — Isso é ridí culo. Nã o faz o menor sentido... — E quando seu pai lhe ofereceu um lar e a reconheceu, todos ficaram surpresos, poré m nã o desconfiados. Ningué m questionou por que uma mulher que o odiava tinha lhe deixado todo o dinheiro que possuí a. — Angelo... isso é maldade, o que você está tentando insinuar, o que está dizendo... — Gwenna gaguejou enquanto tentava, sem sucesso, mascarar seu choque. — Sinto muito. E a verdade. — Nã o... nã o pode ser. — Ela pegou a bolsa da cadeira e seu celular. — Para quem você vai ligar? — Para Toby. Angelo tirou-lhe o telefone da mã o. — O que precisa dele? — Dê -me esse celular — gritou ela. — Pense bem no que vai fazer. Pode contar a Toby James uma coisa dessas? — Angelo pô s o telefone sobre a mesa entre os dois como se fosse uma arma perigosa. — Ele está naquele comitê dos jardins, nã o está? Gwenna pegou seu celular, mas nã o fez a ligaç ã o. Queria bater em Angelo por fazê -la pensar duas vezes sobre contatar seu melhor amigo para apoio. Sentia um nó na garganta e queria chorar. — Papai nã o forjou o testamento de mamã e, e essa questã o toda nã o tem nada a ver com você. — Ele me vendeu a propriedade para pagar o dé bito na Furnridge. Se nã o possuir a propriedade legalmente, cometeu uma outra fraude. Talvez você prefira que a polí cia investigue o assunto. Um calafrio percorreu o corpo de Gwenna. Sentia-se presa em um pesadelo do qual nã o havia escapató ria Angelo colocou uma das mã os em suas costas. Ela afastou-se num movimento violento de rejeiç ã o. —Você precisava saber em algum momento, bellezza mia. Ela lhe lanç ou um olhar de desafio. — Pretendo discutir suas alegaç õ es insanas com meu pai. — Você deve ver as evidê ncias antes. — Ele pegou uma pasta da gaveta da mesa e estendeu-lhe. — Vá embora — disse Gwenna. Angelo foi para o hall onde Piglet estava preso. Propositadamente abriu a porta e assistiu ao cachorro ir ao encontro da dona com uma explosã o de latidos. Pegando Piglet no colo, Gwenna sentou-se à mesa e abriu o envelope. Havia cartas legais, amostras da assinatura de sua mã e, opiniõ es de especialistas. Mas quando chegou ao depoimento escrito do homem que presenciara o testamento de sua mã e, seu estô mago se revolveu. A testemunha estava disposta a jurar diante da Corte que Isabel Massey havia deixado sua propriedade para a filha. No momento que Angelo reapareceu, meia hora mais tarde, Gwenna estava composta novamente. Ela se levantou.
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