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COLEÇÃO JARDIM DAS FLORES 5 3 страница
CAPITULO TRÊ S
Donald Hamilton meneou a cabeç a lentamente. — Nada me restou, nem mesmo minha independê ncia. — As avaliaç õ es nã o sã o o que você esperava? Mesmo para o apartamento de Londres? — Gwenna questionou, ansiosa. — Eu diria que os nú meros nã o sã o generosos. Ela franziu o cenho. — É claro que o preç o das propriedades caiu em algumas á reas. Como foram avaliados os jardins e o viveiro? — A propriedade Massey está listada como patrimô nio histó rico e protegida por lei — Donald a relembrou. — Isso manté m seu valor baixo, porque o terreno nã o pode ser usado para fins lucrativos. O viveiro é um empreendimento pequeno. Você fez maravilhas lá, mas... — Nã o é um grande negó cio — completou Gwenna. — Mesmo assim, se a venda das propriedades me protege de um processo, como posso reclamar? — murmurou seu pai. — Quanto ao que me contou sobre você e o dono da Rialto, isso torna tudo ainda mais incrí vel. Incrí vel? Parecia uma estranha escolha de palavra. Gwenna enrubesceu. Ainda se perguntava se seu pai tinha entendido o que ela faria a fim de salvar-lhe a pele. Para disfarç ar o embaraç o, abaixou-se para acariciar Piglet, que estava deitado aos seus pé s. — Você é uma mulher linda. — Donald Hamilton olhou para a filha com orgulho. — Nã o me surpreende que um homem do calibre de Angelo Riccardi tenha notado você e esteja interessado. Talvez pudesse conversar com ele sobre os valores — continuou casualmente. — Nã o de imediato, mas talvez em uma ou duas semanas. Nervosa, Gwenna levantou a cabeç a. — Conversar com ele? — Você nã o pode ser tã o ingê nua — disse seu pai com uma risada. — Obviamente, tem influê ncia sobre o homem poderoso. — Nã o acho que se possa dizer isso... — Nã o é hora de falsa modé stia — interrompeu ele, meio irritado. — Escolha o momento para contar a Riccardi o quã o infeliz você em relaç ã o à sua famí lia. Tem idé ia de como vai ser minha vida sem um centavo, Gwenna? Dependendo de sua madrasta para tudo? Mas ela estava tanto perplexa quanto consternada pela suposiç ã o de que seria capaz de persuadir Angelo Riccardi a oferecer um melhor preç o pelas propriedades de seu pai. — Sinto muito, mas minha preocupaç ã o nã o chegou tã o longe. Tudo que tenho pensado é em mantê -lo longe da prisã o. Donald Hamilton recuou, como se estivesse se culpando por sua falta de tato. — Acho que esse risco já nã o existe mais, e a vida continua — declarou ele. — Será muito difí cil conseguir um outro emprego. — Suponho que sim. Mas como espera que eu o ajude, conversando com Angelo Riccardi? — perguntou Gwenna apreensiva. Seu pai sorriu. — Nã o seja ingê nua. Durante o tempo em que você tiver o interesse de Riccardi, o mundo será seu. Idealmente, eu gostaria de meu emprego de volta na Furnridge Leather. Gwenna estava chocada pela declaraç ã o. — Seu antigo emprego? — Sim. — Sem notar a incredulidade da filha, ele acrescentou: — Isso silenciaria os difamadores. E me ajudaria a erguer-me novamente. Ela engoliu em seco. — Honestamente, nã o acredito que eu possa fazer nada para ajudá -lo a recuperar seu emprego. — Bem, entã o, alguma coisa com um status equivalente em algum outro lugar. Por que está chocada? — perguntou ele. — Nã o seria nenhum problema para Riccardi lhe fazer um pequeno favor. Pela primeira vez Gwenna ficou aliviada com a chegada de Eva e das meias-irmã s. Nã o sabia como dizer ao pai que nã o tinha a influê ncia que ele imaginava, mas que sentia que suas esperanç as eram ilusó rias. Ao mesmo tempo, esforç ou-se para entender o comportamento do pai. Ele estava sob estresse e o relacionamento com a esposa nã o estava ajudando. — Vejo que continua usando sua jaqueta enlameada e seu jeans barato — Penelope falou para Gwenna. — Angelo Riccardi vai transformá -la numa mulher sensual? Ou será que lama o excita? Gwenna nã o queria considerar o que poderia excitar Angelo Riccardi. Desde aquele beijo arrasador, vinha tentando esquecê -lo. A descoberta de que ele poderia lhe provocar uma resposta fí sica tã o intensa nã o fora bem-vinda. — Você tem sorte — murmurou Wanda com inveja — Quando penso no esforç o que faç o para ficar bonita, é deprimente vê -la sair mal vestida e ainda atrair um bilioná rio. — Isso nã o vai durar cinco minutos — previu sua madrasta, Eva. — Essas coisas nunca duram. — É melhor eu ir. Tenho pedidos para enviar pelo correio — disse Gwenna, ansiosa para escapar do trio. — Nã o se esqueç a do que estou passando aqui. — Seu pai a acompanhou até a porta. — É claro que nã o vou esquecer. — Gwenna ficou tocada pelo abraç o afetuoso que ele lhe deu. — Veja se consegue alguma coisa para mim com Riccardi. Gwenna dirigiu o jipe lentamente de volta para o viveiro de plantas. Nã o havia mais nada que pudesse fazer por seu pai no momento, pensou com tristeza. Ele teria de aceitar o fato de sua vida nunca mais voltar a ser a mesma. A cabeç a dela estava latejando de tensã o. Era difí cil aceitar que, num espaç o de dez dias, tudo tinha virado de ponta-cabeç a, ameaç ando o futuro com o qual sempre contara. O vilarejo que vivia desde que nascera nã o seria mais o seu lar. O negó cio que lutara tanto para construir seria passado para as mã os de um estranho, e talvez nem mesmo sobrevivesse. Gwenna estava no estoque dos fundos, e tinha acabado de empacotar os pedidos que enviaria pelo correio, quando seu celular tocou. Era Toby. Sorrindo com prazer, ela foi para a loja a fim de conversar e ouvir as novidades. Ele lhe falou que estava na Alemanha. Arquiteto paisagista, Toby James já tinha uma carreira de sucesso e frequentemente trabalhava no exterior. Gwenna o conhecera na faculdade, e o via menos do que gostaria. — Eu soube da histó ria de seu pai atravé s de um amigo que leu no jornal — disse Toby. — Você deve estar arrasada com isso. Por que nã o me contou? — Nã o havia motivo para espalhar a notí cia ruim. — Quantas vezes chorei em seu ombro? — censurou ele. — Só uma vez — replicou ela, lembrando-se da noite em questã o. — Os viveiros e os jardins vã o ser vendidos. — Isso é um desastre! Nã o posso crer! Gwenna visualizou Toby passando uma das mã os impaciente pelos cabelos castanhos, os olhos verdes brilhando com preocupaç ã o por ela. Ele era bonito e muito divertido. Demorara bastante para ela entender que a amizade deles nã o poderia passar de amizade, porque, embora poucas pessoas apreciassem o fato, Toby era gay. No momento em que Gwenna havia descoberto, estava apaixonada por ele, e nunca mais encontrara um homem que pudesse fazê -la sentir o mesmo tipo de afeiç ã o. Enquanto Gwenna conversava com Toby, Angelo estava descendo da limusine parada diante da casa dela. Olhou as redondezas com desdé m. O viveiro de plantas nã o passava de um galpã o desorganizado e uma estufa antiquada. Ele foi em direç ã o à porta aberta da loja, e no momento em que sentiu o forte perfume no ar, viu Gwenna. Com pernas delgadas e longas coberta por um jeans justo e cabelos loiros menos num rabo-de-cavalo, ela estava encostada contra o balcã o, um sorriso glorioso iluminando o rosto adorá vel. Estava conversando, inconsciente de sua presenç a. Imediatamente, ele soube que nã o ficaria satisfeito enquanto ela nã o lhe sorrisse daquele jeito. — Parece que faz um sé culo que nã o o vejo. Estou com saudade. Parado à porta, Angelo escutou. Embora estivesse perto, ela nã o o viu, o que nunca acontecia a Angelo. As mulheres geralmente sentiam sua presenç a de longe. Ela parecia falar ao telefone com seu amor... os olhos brilhando, a voz rouca e sorridente, o jeito absolutamente feminino. — As coisas estã o incertas no momento — murmurou Gwenna, apó s contar a Toby apenas o que considerava estritamente necessá rio. — Vamos nos encontrar quando você voltar. Gwenna nã o sabia o que a fez olhar para cima, mas quando olhou, quase derrubou o telefone. Angelo Riccardi estava parado à porta, com um casaco preto de cashmere sobre o terno escuro, incrivelmente elegante e bonito. — Toby... preciso desligar... algué m chegou à loja — murmurou ela apressada. O sorriso tinha desaparecido do rosto. Angelo entrou. — Quem é Toby? — Um amigo. — Ela guardou o celular no bolso. — Em que posso ajudá -lo? — Vai me perguntar isso na cama? — disse ele. — Nã o sou um cliente. As faces de Gwenna coraram, os olhos azuis baixaram. Mesmo sem olhá -lo, podia sentir a energia sexual na atmosfera, o que fez seu coraç ã o disparar, a respiraç ã o tornar-se ofegante e até mesmo os mamilos enrijeceram. — Eu gostaria que você me mostrasse o lado externo da propriedade — disse Angelo. — Nã o há muito o que mostrar. — Tanto faz. Preciso de ar fresco. Mal posso respirar com o perfume daqui. — Ele gesticulou para os vasos de rosas e outras flores misturadas no canto. Sem comentá rios, ela abriu a porta do depó sito para libertar Piglet. O cachorrinho se dirigiu para Angelo, cheirou-o para reconhecimento, entã o saiu latindo, a fim de investigar os estranhos. Gwenna e Angelo també m foram para o lado de fora. A á rea de estacionamento estava repleta de carros e homens. — Quem sã o essas pessoas? — Gwenna franziu o cenho. — Seguranç as. Ela ficou tentada a dizer-lhe que nã o havia necessidade para tais precauç õ es em sua loja, mas decidiu que aquilo poderia deixá -lo de mau-humor. — Apenas uma pequena parte do jardim foi restaurada. Uso a parte velha para distribuir as plantas que crescem em seu habitat natural. — Eu nã o diria que este é o seu habitat natural. — Bem, nesse caso, você estaria errado. — Raramente estou errado sobre alguma coisa. Gwenna controlou a irritaç ã o com dificuldade. Ele parou diante dela. Em silê ncio, Angelo pegou-lhe a mã o e ela teve de reprimir a vontade de puxá -la. Longos dedos bronzeados circularam-lhe o pulso com total frieza, expondo a pele á spera das palmas e o estado deplorá vel das unhas. — Quando soube que você dirigia um viveiro, nã o pensei que precisasse trabalhar diretamente com a terra. Desequilibrada pelo contato fí sico, Gwenna respirou fundo. — É a parte de que mais gosto. — Você leva uma vida restrita. — Eu nã o acho. — E é muito teimosa. — Olhos escuros prenderam os seus, e o coraç ã o de Gwenna disparou violentamente no peito, até que nã o tinha consciê ncia de mais nada, exceto dele. Angelo levou-lhe os dedos à boca e pressionou os lá bios neles num gesto elegante. — Gosto disso. Num mundo de mulheres que só dizem sim, você brilha como uma estrela, gioia. Tremendo, ela removeu a mã o, mas ainda podia sentir o toque dos lá bios dele em sua pele, enquanto um estranho calor a percorria. Nada o intimidava. Ele era cruel e impiedoso. O fato de saber disso e ainda ser capaz de responder com excitaç ã o a envergonhava. Excitaç ã o? Ele beijava-lhe a mã o e a deixava naquele estado. O que isso dizia sobre Gwenna? Que havia passado muito tempo sonhando com um homem que nã o poderia ter? Respirando fundo, começ ou a falar sobre o jardim, os planos de restauraç ã o e fundos que já existiam. Angelo ouviu sem interesse ou comentá rios. Nã o tinha intenç ã o de comprometer-se com um projeto que nã o oferecia perspectivas de lucro. Nã o estava interessado em espaç os verdes. Nunca tivera tempo ou paciê ncia para ficar parado, sentindo o aroma de rosas ou admirando uma vista. O amor e o entusiasmo dela pela natureza eram ó bvios. Mas a mente de Angelo estava ocupada com prazeres menos inocentes. Perguntava-se como ela podia parecer tã o maravilhosa quando estava vestida como mendiga. Estava á vido por vê -la toda enfeitada em trajes bem femininos. Irritava-o o fato de Gwenna parecer se afastar cada vez que ele se aproximava dela. — Pare com isso. — Parar com o quê? — exclamou Gwenna. Angelo fechou uma das mã os sobre as dela e puxou-a para seu lado. — Sr. Riccardi... E a maneira formal pela qual ela o chamou o deixou tã o insatisfeito que a beijou com todo o desejo que geralmente mantinha sob controle. Gwenna deixou escapar um gemido abafado antes que aquela boca bonita e sedenta a silenciasse. Ele roubou-lhe as palavras, o fô lego, a habilidade de raciocinar, e deixou-a com os joelhos bambos. Angelo a encostou contra uma parede de pedras, entã o, segurando-lhe as ná degas, ergueu-a do solo para que ela fizesse contato com sua ereç ã o. Uma sensaç ã o sedutora fez o corpo de Gwenna formigar. A paixã o de Angelo era crua e excitante, e completamente nova para ela. Subitamente, ergueu a cabeç a escura e praguejou em italiano antes de anunciar: — Seu cachorro está me mordendo. Momentaneamente sem fala, Gwenna focou na visã o de Piglet rosnando e puxando freneticamente a bainha da calç a de Angelo. — Oh, meu Deus, ele realmente nã o gosta de você. — Abaixando-se, tremendo por dentro e por fora, ela ficou grata pela desculpa de pegar o cachorro nos braç os. — Nã o vai nem perguntar se estou machucado? Sangrando? Precisando de uma injeç ã o antitetâ nica? — disse ele com sarcasmo. — Sinto muito. Você está bem? — Nã o acho que vou sangrar até morrer. E minhas vacinas estã o atualizadas. — Angelo notou como o cã o estava sendo acariciado gentilmente. Podia jurar que havia uma expressã o de triunfo nos olhos redondos do animal. Com as pernas trê mula, Gwenna agradeceu aos cé us pela intervenç ã o do cachorro e afastou-se. Colocando Piglet no chã o novamente, endireitou o corpo com relutâ ncia. Estava envergonhada de seu pró prio comportamento e nã o era hipó crita o bastante para repreender seu cã o. Nã o quando Piglet a salvara de perder sua virgindade. Pelo menos por enquanto. — Os jardins estã o em mau estado alé m do muro. Nã o há mais nada para lhe mostrar — murmurou ela. — E a mansã o? Minutos depois, Gwenna parou diante da grande casa onde sua mã e tinha nascido. A construç ã o arruinada havia amargurado Isabel Massey, que nunca superara a convicç ã o de que seu destino era muito cruel. Em comparaç ã o, Gwenna respeitava aquela parte de sua histó ria familiar com tristeza, pois, na verdade, seus ancestrais Massey nunca tinham sido capazes de manter o grande investimento que fizeram. — Como é o interior da casa? — Está em ruí nas. Teve de ser fechada com tá buas anos atrá s, por seguranç a. — Esta é apenas uma visita breve — murmurou Angelo enquanto andavam de volta para o viveiro. — Seu pai foi chamado para uma reuniã o esta tarde. Gwenna ficou tensa. — Posso perguntar do que se trata a reuniã o? — Ele nã o deu uma descriç ã o verdadeira de seus bens. O rosto dela esquentou, raiva a percorrendo. — Isso é mentira! Angelo a fitou com o semblante impassí vel. — Nã o gosto de pessoas que me fazem perder tempo. — Mas papai nã o o fez perder tempo nem mentiu para você. — Com os olhos azuis faiscando, Gwenna cerrou os punhos na lateral do corpo. — Nã o pode presumir que ele o está enganando somente porque cometeu o erro de pegar um dinheiro emprestado da Furnridge Leather. — Nã o estou presumindo. Foi pedido que seu pai fizesse uma revelaç ã o completa de seus bens. — E ele fez isso. — Enquanto cuidadosamente omitiu detalhes do outro apartamento que possui em Londres. — Ele só tem um, pelo amor de Deus! — Ele possui um segundo, que ainda nã o acabou de pagar. Gwenna suspirou longamente. — Você entendeu errado. — Lamento que nã o. Minhas informaç õ es sobre essa segunda propriedade vê m de fontes seguras. — Angelo observou-lhe o olhar subitamente incerto e assustado. Ela nã o podia esconder o sofrimento. Ele podia ter lhe dito que sua lealdade e afeiç ã o estavam sendo desperdiç adas por uma causa nã o merecedora. Donald Hamilton era mentiroso, trapaceiro e ladrã o. Mordendo o lá bio, Gwenna virou a cabeç a, porque seus olhos estavam queimando pelas lá grimas. Gostasse daquilo ou nã o, havia algo muito convincente na confianç a suprema de Angelo. — Se você estiver certo, realmente nã o sei o que dizer. — Nosso acordo nã o será rompido por isso. Seu pai vai vender os bens mencionados antes, e vamos esquecer essa questã o. Gwenna engoliu em seco. — Sob as atuais circunstâ ncias, isso é muita generosidade sua. Angelo sorriu. Tudo estava acontecendo exata-mente conforme o plano. Sabia que Hamilton cometera pelo menos mais uma ofensa, que apareceria mais cedo ou mais tarde. Quando isso acontecesse um processo e uma sentenç a de prisã o seriam certos E no momento em que Angelo tivesse terminado, já teria perdido o interesse em Gwenna. — Meu pai nã o é um homem ruim, é apenas tolo Nã o sei o que deu nele... talvez seja alguma crise de meia-idade — disse ela desesperada. — Honestamente, nã o posso explicar por que ele fez essas coisas. Mas posso lhe dizer que foi um pai maravilhoso para mim. Fez muitos trabalhos para a comunidade, també m. Angelo pegou-se focando os olhos ú midos que revelavam pura sinceridade. Sentia-se fascinado pelos sentimentos que ela era incapaz de esconder. Suas parceiras de cama sempre possuí am uma concha protetora que combinava com a pró pria contenç ã o de Angelo. Cheia de idé ias e otimismo, Gwenna era ridiculamente vulnerá vel. Em alguns meses, se tornaria mais triste e mais sá bia. Uma fraca onda de arrependimento o assolou. Perturbado pela aparente sensibilidade, reprimiu o sentimento. — Arranjei acomodaç ã o para você. Gwenna tremeu com a notí cia. — Que tipo de acomodaç ã o e onde? — Uma cobertura em Londres. Gosto de ambientes altos. — Eu nã o... Há um jardim lá? Piglet vai precisar de um jardim — murmurou ela insegura. — Piglet? — Meu cachorro. — Pago a conta para que ele fique num hotel de cachorros — replicou ele friamente. — Nã o. Ele tem de ficar comigo. Piglet fica deprimido e se recusa a comer quando nã o estou por perto — começ ou ela, sem tentar esconder a ansiedade. — Sei que parece tolice para algué m que nã o é sentimental com os animais, poré m, ele é um cã o muito emotivo. Angelo olhou para o pequeno cachorro atrá s dela. O animal abanava o rabo alegremente. De maneira alguma Angelo iria compartilhar um lugar, mesmo que por perí odos breves de tempo, com aquele cã o. — Ele vai para o hotel. Meu staff vai escolher o melhor disponí vel. — Mas se eu nã o estiver lá, ele nã o vai comer... — Bobagem. — Nã o é bobagem. — Nã o gosto de animais em locais fechados — finalizou Angelo com firmeza. Gwenna suspirou enquanto lembrava-se de que, dois anos atrá s, Piglet tinha feito greve de fome quando ela saí ra de fé rias. Agora podia sentir os olhos marejados com a perspectiva de viver sem Piglet, e preferia morrer a demonstrar sua fraqueza. Angelo Riccardi ficaria cansado dela dentro de uma semana, confortou a si mesma. Teria de entediá -lo. — Tenho direito a um pedido? — perguntou ela sem rodeios. Angelo considerou aquilo. Se tivesse uma corrente atada ao tornozelo dela, teria removido as argolas para restringir-lhe a liberdade ainda mais. Era uma atitude estranha para um homem acostumado a conquistar com facilidade, e aquilo o irritava. — É sobre sua acomodaç ã o? Gwenna assentiu. — Quero morar em algum lugar com um jardim. Vou enlouquecer se ficar na cidade, trancada entre paredes. — Há uma piscina com um telhado que abre e fecha. — Eu quero um jardim. Até mesmo um homem condenado tem direito a um ú ltimo pedido. — Você nã o está enfrentando um pelotã o de fuzilamento — murmurou Angelo. Um jardim? Por que ela queria tanto um jardim? Nã o era um pedido razoá vel. Aquilo levaria mais tempo para reorganizar, e esperar por Gwenna o estava matando. Desde a primeira vez que a vira, imagens eró ticas vinham perturbando sua concentraç ã o. Estava cansado daquela invasã o mental e perdendo a paciê ncia. — Em quanto tempo você virá para mim? — questionou ele. Nervosa pela pergunta ousada, Gwenna cometeu o erro de fitá -lo diretamente. Encontrou olhos dourados sexualmente ardentes, e seu rosto esquentou. — Nã o finja que nã o sabe o que quero dizer — soou a voz profunda e rouca de Angelo. — Quando eu for obrigada a fazer isso. Quando eu nã o tiver escolha. — Tí pica resposta de uma virgem virtuosa enfrentando violaç ã o no sé culo passado. — Ele sorriu com ironia. — Esse nã o é seu caso. — Você acha que sabe de tudo, nã o acha? — devolveu ela furiosa. — Mas nã o sabe. Na verdade, este é meu caso. Os olhos de Angelo se estreitaram, os cí lios pretos baixaram para intensificar o exame detalhado. Ele a estudou em silê ncio, e Gwenna desviou o olhar, envergonhada e com raiva ao mesmo tempo. — Nã o ouse fazer nenhum comentá rio depreciativo— ela o avisou. A surpresa de Angelo de repente se transformou em uma onda poderosa de satisfaç ã o. Era aquela inocê ncia dela que o atraí a? Ele havia sentido, de alguma maneira, a sutil diferenç a entre Gwenna e as outras mulheres que conhecia? Uma virgem. Pedir-lhe que o acompanhasse até Londres para preencher o tempo que ele tinha antes de voar para Nova York agora parecia muito impró prio. Rude. Por um segundo, o cená rio inteiro pareceu rude, mas quando ele a fitou, bloqueou o pensamento. Nunca tinha sentido um desejo tã o urgente por uma mulher, e agora que entendia que a fonte da relutâ ncia dela era a inexperiê ncia, a necessidade de possuí -la tornou-se ainda mais forte. Gwenna nã o era indiferente a ele. Era apenas tí mida, e Angelo tinha de admitir que nã o estava acostumado com mulheres tí midas. Um longo silê ncio se instalou. O fato de Angelo nã o fazer nenhum comentá rio subitamente a enfureceu e a fez se sentir tola. Desejava agora que nã o tivesse contato um de seus maiores segredos. — Ouç a, tenho muito trabalho a fazer — murmurou ela. — Quando espera que eu vá para Londres? — Na pró xima semana. Você será informada dos arranjos. — Angelo tirou um cartã o do bolso. — Se quiser falar comigo, aqui está meu nú mero particular. Poderá me encontrar em qualquer lugar. Gwenna aceitou o cartã o, incapaz de imaginar que sentiria vontade de contatá -lo. Seus pensamentos estavam concentrados numa questã o muito mais importante e, finalmente, reuniu coragem e perguntou: — O que você planeja fazer com este lugar? Ele deu de ombros, a expressã o ilegí vel. A indiferenç a dele em relaç ã o ao futuro do viveiro ou dos jardins histó ricos deprimiu Gwenna profundamente, e tirou-lhe qualquer resquí cio de esperanç a. Angelo provavelmente era o ú ltimo homem do mundo que investiria num negó cio que se esforç ava para sobreviver fora da estaç ã o turí stica. Antes de entrar na limusine, Angelo olhou novamente na direç ã o dela. Gwenna nã o devolveu o cumprimento. Pegando o cachorro no colo, entrou apressadamente na loja. O maxilar dele se contraiu.
CAPÍ TULO QUATRO
Quatro dias depois, Gwenna estava em Londres. Na manhã apó s sua chegada, foi recebida por uma elegante morena com cerca de 3O anos. Coordenadora a serviç o de Angelo Riccardi, Delphine Harper telefonara para Gwenna e combinara de encontrá -la. — É meu trabalho garantir que você tenha uma transiç ã o suave para a vida da cidade. Seu dia está programado com diversos compromissos. — Delphine deu um sorriso educado. — A primeira coisa é ver a propriedade que o sr. Riccardi selecionou para você. Uma transiç ã o suave? Gwenna podia ter chorado com aquela frase. Somente agora que haviam lhe tirado tudo, tinha idé ia de como era com suas plantas. No mesmo dia em que Angelo a visitara, seu pai vendera-lhe todas as propriedades que possuí a. Dentro de 24 horas, um empregado da Rialto tinha aparecido para assumir o viveiro de plantas. A velocidade da tomada de posse impressionara Gwenna, que teve dificuldade em entregar o controle do negó cio e dos jardins que amava. També m tivera de esvaziar seu apartamento em cima da loja apressadamente. O novo gerente precisava de acomodaç ã o, o que a forç ou a mudar-se temporariamente para Old Rectory, onde todos, exceto seu pai, a fizeram sentir-se uma intrusa indesejada. Pressionado pela referê ncia da filha sobre o segundo apartamento que possuí a em Londres, Donald Hamilton suspirou. — Tive boas razõ es para fazer segredo disso. Eva teria desejado que eu o vendesse e comprasse uma casa maior para a famí lia, e eu queria guardá -lo para nossa aposentadoria. Meus motivos nã o eram inteiramente egoí stas. O inquilino atual é uma senhora idosa com um aluguel que seria renovado. Fiquei preocupado que a mudanç a de dono a forç asse a sair. — Mas você nã o mencionou o apartamento quando tinha prometido declarar todos os seus bens. Isso deve ter causado uma má impressã o no pessoal da Rialto — apontou Gwenna. — Se eu nã o cuidar de meus pró prios interesses, que vai cuidar? — replicou seu pai sem remorso. — É claro, estou esperando que, quando você tiver uma chance, fará o melhor possí vel para amenizar nossos problemas aqui. Recordando-se daquela conversa, Gwenna sentiu seu ní vel de estresse aumentar. A falta de preocupaç ã o de seu pai sobre a desonestidade a enervara. O roubo na Furnridge nã o demonstrava apenas o caso de um homem levado ao desespero devido a problemas financeiros. Os problemas dele eram mais profundos do que isso. Havia uma fraqueza no cará ter de seu pai, reconheceu ela com tristeza. Isso podia explicar o fato de ter sido mulherengo quando mais jovem, e talvez Gwenna o tivesse perdoado muito rapidamente. —Chegamos — anunciou Delphine alegremente, tirando-a dos pensamentos. Saindo do carro, Gwenna olhou atô nita para a propriedade substancial diante de si. Delphine balanç ou as chaves com um ar de importâ ncia e abriu a porta imponente. — Este deve ser um dos melhores endereç os de Londres.
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